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1.
Esse livro deveria ter tido muito mais
impacto do que teve até agora. É um livro REVISTAAMALGAMA.COM.BR
2.
Entre os textos reunidos no livro estão
cinco perfis (Euclides, Paulo Prado, Sérgio
Buarque, Caio Prado, Celso Furtado)
escritos em 1978 para a antiga revista
Senhor Vogue, que publicou uma série
sobre “Livros Indispensáveis à Construção
do Presente”: em cada edição vinha o
resuminho de um livro famoso (Sertões,
Raízes, Formação etc.) com uma
introdução de FHC.
4.
É fácil, e plausível, ver nos textos sobre
Nabuco a reflexão do FHC sobre
Fernando Henrique Cardoso, Presidente
da República. Vejam lá a discussão sobre o
conflito, em Nabuco, entre o pendor
intelectual e o jogo prático da política; ou
os dois momentos de elogio da política e
do realismo político: no prefácio a
Balmaceda, por exemplo, temos a
afirmação de que os presidentes deveriam
ser julgados pelo contraste entre o país
que receberam e o país que entregaram; e
no texto apresentado na ABL, a lembrança
de que Nabuco era um defensor da
política, que acreditava que a abolição
viria pelo parlamento.
5.
Não me parece plausível que FHC tenha
feito uma grande autocrítica com relação a
Gilberto Freyre, como faz crer o posfácio
de José Murilo de Carvalho. O tom dos
textos de FHC sobre Freyre nos anos 90 é
mais moderado, mas a essência da crítica
da Escola da USP ao Freyre (ele romantiza
a sociedade patriarcal e escravocrata)
permanece, e ainda bem que permanece,
porque é na mosca. O reconhecimento de
que Freyre, independente de qualquer
coisa (e já ninguém mais discordando que
era um gigante, que, aliás, só escrevia pior
do que quantos dos nossos romancistas?
Quinze? Cinco?), teve a força do mito, a
projeção do que o Brasil gostaria de ser, e
que nisso permaneceria atual, já estava no
artiguinho da Senhor Vogue, de 1978.
6.
Ninguém discute que Os Donos do Poder,
de Raymundo Faoro, merece estar em
uma lista de livros fundamentais para a
compreensão do Brasil. É um livro de
leitura bem difícil, o que torna o trabalho
de apresentação de FHC especialmente
louvável. A tese central, que Faoro às vezes
força sobre os fatos (e FHC o corrige com
competência), é que há um estamento
burocrático que controla a sociedade
brasileira desde a colônia. O estamento
burocrático tem uma relação complexa
com o poder econômico, o que dá
margem a, pelo menos, duas
interpretações possíveis: a primeira é que
o problema do Brasil sempre foi excesso
de Estado (inclusive em períodos e locais
em que isso é bastante implausível, como
na economia escravista e na Velha
República). A segunda é que o poder
econômico no Brasil sempre se utilizou do
Estado (o que me parece mais plausível,
mas, enfim, é só o que eu acho). Uma
interpretação enfatizaria o peso da
burocracia, a outra a falta de participação
popular (e, portanto, a captura do Estado
por interesses particulares) que
caracterizou grande parte da história
brasileira. O texto de FHC se equilibra
entre as duas tendências: o artigo se
chama “Um Crítico do Estado”, mas ele
reconhece, e até enfatiza, as relações que o
Estado brasileiro sempre teve com o poder
econômico.
7.
FHC certamente é um dos sujeitos que
mais entendem de Florestan Fernandes, de
quem foi aluno, orientando, colega,
vizinho, companheiro de viagem quando
Florestan deu uma banana para o Council
of the Americas (p. 184), e herdeiro
intelectual. José Murilo de Carvalho deve
estar certo quando sugere que Florestan,
com sua abertura para diversos métodos e
teorias (o que já lhe rendeu a
caracterização de “ecletismo”), foi
importante para evitar que FHC se
tornasse um marxista ortodoxo.
_____
PS
PS: A resenha ficou longa. Pelo plano
inicial, teria pelo menos o dobro do
tamanho.
PSTU
PSTU: Eu queria ter colocado como
epígrafe da resenha a frase “Se quiser ser
um rei-filósofo, comece como rei”, de
Nassim Taleb. No final achei que não
cabia, e, aliás, não sei se é verdade.
PSTUdoB
PSTUdoB: Não deixem de consultar o
site do Instituto FHC. Digitalizaram tudo,
livro, artigo, entrevista, verdadeiras
preciosidades.
Celso Barros
Mestre em Sociologia pela
Unicamp e doutor por Oxford.
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