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Expediente / Índice

imprensa@sieeesp.com.br

DIRETORIA

Presidente
Benjamin Ribeiro da Silva
Colégio Albert Einstein
4 Matéria de Capa

1º Vice-presidente
Os Rumos da Educação Brasileira:
José Augusto de Mattos Lourenço
Colégio São João Gualberto
Ensino Médio
2º Vice-presidente
Waldman Biolcati
Curso Cidade de Araçatuba

1º Tesoureiro
José Antonio Figueiredo Antiório
Colégio Padre Anchieta
14 Motivação
34 Crise e Gestão
2º Tesoureiro
Antonio Batista Grosso Missão New Horizons – Crise educadora
Colégio Átomo
Que nos sirva de
1º Secretário
exemplo
Itamar Heráclio Góes Silva
Educ Empreendimentos Educacionais
36 Regionais - Interior
2º Secretário
Sieeesp promove
Antonio Francisco dos Santos
Colégio Novo Acadêmico
18 Brincar
Jornada de Palestras
Diretores de regionais Brincar de corpo pelo interior de SP
ABCDMR
Oswana M. F. Fameli - (11) 4437-1008
inteiro é substituir a
televisão, o videogame
Araçatuba
Waldman Biolcati - (18) 3623-1168 e o computador 40 Vício
Bauru Carta de uma mãe
Gerson Trevizani - (14) 3227-8503
sobre o alcoolismo
Campinas
Antonio F. dos Santos - (19) 3236-6333 20 Informática
O espaço, o lugar e a
42
Guarulhos
Wilson José Lourenço Júnior - (11) 4963-6842 Tecnologia
Marília
geometria aplicada
Luiz Carlos Lopes - (14) 3413-2437 Caminhos da adoção
tecnológica
24
Ribeirão Preto
João A. A. Velloso - (16) 3610-0217 Comportamento
Osasco
O poder da mídia na
44
José Antonio F. Antiório - (11) 3681-4327
Música
Presidente Prudente formação de crianças
Antonio Batista Grosso - (18) 3223-2510
e jovens Educação musical –
Santos
Ermenegildo P. Miranda - (13) 3234-4349 Utopia ou realidade?

26
São José dos Campos
Maria Helena Baeza - (12) 3931-0086 Idiomas
São José do Rio Preto
Cenira Blanco Fernandes Lujan - (17) 3222-6545 Por que o brasileiro 48 Digital
Sorocaba não fala inglês Percepções docentes
Edgar Delbem - (15) 3231-8459
sobre o paraíso digital
no cotidiano das
30
AGOSTO DE 2015
Editor
Educação Digital crianças na Educação
Adhemar Oricchio - MTB 8.171
Repórteres Escola e sociedade Infantil
Gisele Carmona
Ygor Jegorow digital: um diálogo
Assessoria de Imprensa e
Produção Editorial
Editor-chefe: Adhemar Oricchio
possível?
52
Editor gráfico: Balduino Ferreira Leite Obrigações
32
Site: Gisele Carmona
Redes Sociais: Ygor Jegorow Motricidade
Impressão: Companygraf
Colaboradores Desenvolvimento
54
• Ana Paula Saab • Antonio Higa
• Carlos Alberto Nonino
• Clemente de Sousa Lemes
humano
• Ivaci de Oliveira • Jocelin de Oliveira
• José Maria Tomazela • José Rodrigues
• Ulisses de Souza
Cursos
www.sieeesp.org.br
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2 Escola Particular • Agosto de 2015


Editorial

Benjamin

Os planos municipais
Ribeiro da Silva
Presidente do Sieeesp
benjamin@einstein24h.com.br

de Educação
Como é possível
E ncerrado o prazo fixado
pelo Plano Nacional de
Educação (PNE) para a conclusão
os prazos, porém os gestores
de Estados e Municípios onde
for notada a falta de esforço
estabelecer o
Pátria Educadora
dos planos locais de educação, para avançar no processo
apenas quatro estados e 2.295, podem ser acusados de ceifando as verbas
ou seja, 41% dos 5.570 municípios
brasileiros já sancionaram os
improbidade administrativa.
Alguns municípios limitam-se
necessárias para
documentos que estabelecem a reproduzir o texto do plano o segmento? É
metas e estratégias para o nacional, sem conseguir avançar
segmento educacional nos no debate de assuntos locais e uma das sérias
próximos dez anos. Para
gestores e especialistas,
acabam não ouvindo as pessoas
e a participação popular é
contradições do
dificuldades técnicas e de essencial para levantar questões governo
planejamento, além do tempo relativas ao ensino.
curto, foram os obstáculos para Muitas vezes as discussões
a conclusão dos planos. são levadas para o plano
Não podemos esquecer que ideológico e quem poderia dar
em seu discurso de posse, a subsídios para a melhoria do
presidente Dilma Rousseff criou ensino fica alijado do processo.
o slogan “Pátria Educadora” É o caso do sistema particular e exemplos que poderiam
como tema para seu segundo de ensino, que dificilmente é gerar bons frutos aos planos
mandato, afirmando que a ouvido nessas discussões. É educacionais brasileiros.
educação seria a prioridade permitida até a participação As autoridades do país
das prioridades. Reafirmou o de representantes das escolas deveriam ter maior apreço
compromisso de buscar, em particulares nos encontros, mas pelas coisas da Educação, o
todas as ações do governo, um suas ideias nunca são levadas que não acontece, pois o PNE
sentido formador, uma prática em conta para a elaboração estabelece 20 metas a serem
cidadã, um compromisso de ética dos planos de educação. E cumpridas até 2024, que
e um sentimento republicano. nós, como representantes do incluem, entre outras coisas, a
Mas, passados poucos meses, a ensino privado, temos muito valorização dos professores e
realidade é outra, pois os cortes a oferecer. Por exemplo, o o aumento dos investimentos
feitos no orçamento da União Sindicato que dirijo, o Sieeesp, na área educacional, ao
mostram a falta de prioridade da acaba de promover uma viagem contrário, as verbas foram
educação. O corte na pasta foi de de estudos para Cingapura cortadas e nem a Lei de
R$ 9,42 bilhões, o terceiro maior e Coreia do Sul, países que Responsabilidade Educacional,
do governo. Como é possível lideram o ranking da OCDE que deverá assegurar o padrão
estabelecer o Pátria Educadora (Organização para a Cooperação de qualidade da educação
ceifando as verbas necessárias e Desenvolvimento Econômico) básica, foi aprovada. Como se
para o segmento? É uma das como exemplo no sistema de vê, estamos longe de alcançar
sérias contradições do governo. ensino. Foram 55 educadores uma Pátria Educadora. O
O PNE, sancionado em que puderam conhecer e avalizar caos político e moral acaba
2014, não prevê punições a o trabalho por lá. Aliás, esta interferindo no projeto de
governadores, prefeitos e foi a 18ª viagem de estudos educação, tão importante para o
secretários que não cumprem ao exterior, uma iniciativa desenvolvimento do Brasil.

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A rede pública falha
completamente em levar os
alunos para as universidades, já
que o ensino é muito fraco, sem
professores qualificados e com
número crescente de faltas
dos educadores

Mauro Aguiar

Gisele Carmona

A tualmente nosso país ocupa o 58º


lugar no ranking internacional de
ensino. Infelizmente, dos 65 países avalia-
outros estados estão longe, tanto em
quantidade quanto em qualidade”.
Segundo o diretor, é justamente no en-
algumas semanas”. Para Mauro, isso não
resolve o problema em questão, já que
não há uma formação real desse cidadão,
dos pelo Pisa (Programa Internacional sino médio que começam as desistências. apenas um papel com um certificado.
de Avaliação de Alunos), o desempenho “Falando em Brasil, temos uma grande Ele acredita que se mais gente tivesse
brasileiro está abaixo do de outras nações perda no caminho. Aqueles que chegam ao acesso às escolas particulares, mais profis-
como Chile, México, Uruguai e Costa Rica. ensino médio, ou resolvem não cursar, ou sionais qualificados teríamos no mercado
Mauro Aguiar é diretor-presidente do começam a cursar e desistem. E isso é muito e, consequentemente, mais alunos interes-
Colégio Bandeirantes, uma das melho- ruim. O pior é que esse aluno que desiste sados em entrar em boas universidades.
res escolas privadas do Estado de São não está errado. Ele percebe que aquela “Para isso teríamos que ter bolsas de
Paulo, e nos revelou sua opinião sobre a escola não visa inseri-lo rapidamente no estudos, como o Prouni ou o Fies, dire-
atual situação do ensino médio na edu- mercado de trabalho”. cionadas para o ensino médio. A escola
cação brasileira. Até que ponto devemos Existem as escolas voltadas à área particular possui algumas características
nos preocupar? Será que ainda é possível tecnológica, como, por exemplo, o Senai, importantes, entre elas, dar aulas. Você
reverter os desvios? Senac, as ETECs ou o Instituto Federal de não pode ter a falta do professor. E isso
Para ele, os dois maiores problemas Educação, que tentam fazer esse papel, vale para todas as escolas, desde o Colégio
que a educação brasileira enfrenta nesse no entanto, eles atendem uma fatia muito Bandeirantes até uma escola particular
momento estão exatamente nas duas pon- pequena da população e não são acadêmi- pequena de periferia”.
tas do ensino básico: a educação infantil e cas. “A rede pública falha completamente Em algumas áreas de São Paulo, uma
o ensino médio. Nesse quesito, a sociedade em levar os alunos para as universidades, escola pública muito melhor instalada,
brasileira chegou atrasada e só começou a já que o ensino é muito fraco, sem profes- em um prédio projetado especificamente
andar a partir da década de 90. sores qualificados e com número crescente para isso, feito por bons arquitetos, perde
“O Brasil está longe de alcançar a uni- de faltas dos educadores. E o aluno percebe alunos para a escola particular que está ao
versalização do ensino médio. São Paulo, que aquilo é uma enorme perda de tempo lado, muitas vezes mal instalada e em um
que é o que está mais próximo disso, tem para ele. Só mais tarde ele vai sentir que prédio adaptado. E por que isso acontece?
um ensino médio público de baixa quali- o crescimento dentro do mercado de tra- Porque é nessas escolas particulares que
dade. Claro, existem algumas exceções, balho exige o diploma do ensino médio”. os professores estão ensinando. E muitas
como escolas de tempo integral do gover- Essa corrida atrás do tempo, em que vezes são os próprios professores da rede
no do Estado de São Paulo, que tem um muitas pessoas se encontram, cria uma pública. “Eles faltam na rede pública e
trabalho interessante, mas que ainda é estrutura mafiosa que vende diplomas. dão aula na escola particular. Isso é um
pequeno diante do tamanho da rede. Os Coisas como, “tenha seu ensino médio em absurdo”.

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Mauro alerta que isso não é uma situa- se completar o ensino médio, para os cur-
ção exclusiva desse governo, ou dos gover- sos noturnos nas universidades privadas.
nos dos últimos 20 anos. É algo que vem de “Essa é imensa crueldade. Você per-
muito antes do que isso. A um acordo que cebe que se inverteu completamente a
perdura há muito tempo e, segundo ele, pirâmide social. O aluno do Bandeirantes,
funciona com o “você finge que me paga e do Santa Cruz, da Mobile, de escolas que
eu finjo que trabalho”. Segundo o estatuto cobram R$ 3.000 por mês de mensalidade,
do professor do Estado de São Paulo, as em média, que vai ocupar as vagas nas me-
possibilidades de faltar sem se justificar lhores universidades e institutos públicos”.
são enormes. O que deveria ser analisado e Por esse motivo, o diretor não vê nas
resolvido, não tem preocupações por parte cotas universitárias a solução para esse
de ninguém. “Os formadores de opinião problema. “Quem acaba entrando por
não estão em escolas públicas. Logo, isso essas bonificações, que segundo eles são
não se torna uma questão a ser debatida de escolas públicas, na verdade são os
na mídia”. alunos das Etecs ou do Instituto Federal
Com as poucas aulas oferecidas, esse de Educação (IFSP), que já passaram por
aluno não tem a menor competitividade vestibulinhos, ou das escolas militares, É importante também que não se
para entrar em um vestibular concor- que também são públicas, mas são ex- esqueçam da base, que é extremamente
rido como o da Universidade de São Paulo tremamente exigentes com o aluno que importante nesse processo. Pesquisas já
(USP), da Universidade de Campinas (Uni- estuda lá. Para você ter uma ideia, entrar provaram que a escola representa 30% no
camp) ou da Universidade Estadual Paulista em uma escola preparatória de cadetes processo de educação de uma pessoa, mas
(Unesp). Ele acaba sendo empurrado, isso de Campinas, por exemplo, é mais difícil os demais 70% representam a família, o
do que você entrar em muitos cursos de ambiente social, o famoso dialogo na hora
carreira da USP”. das refeições. “O ambiente que a criança
O especialista em educação explica está vivendo, as oportunidades que ela vai
que, para entrar no Colégio Naval de tendo, tudo isso cria uma situação para
Angra dos Reis, as provas de geometria cima ou para baixo. A escola pública, prin-
e matemática são tão complexas que ne- cipalmente com as pessoas menos favore-
nhum fundamental do Brasil dá esse nível cidas, tem um papel muito mais importante
de conhecimento. Ou seja, esse é um aluno do que uma escola particular, já que ela tem
que, para entrar, precisa fazer cursinhos es- que compensar muita coisa que não foi
pecializados – o pai paga a escola particular dada, daí a questão da educação infantil,
e mais o cursinho. que no mundo ocidental já se perdeu. Você
“E aí esse aluno entra nas universi- pega um país como o EUA, capitalista e
dades públicas como aluno de cotas e ten- com sua economia bem estruturada, que
tam me convencer que este também é um recebe um milhão de imigrantes legais por
aluno da escola pública. Na verdade, é tudo ano, sem problemas demográficos, mas
uma grande cortina de fumaça para que com sérios problemas nas escolas públicas,
não se vá ao verdadeiro ponto. O Ensino com populações extremamente desfavo-
Médio público no Brasil está fracassado, recidas, que precisam ter um apoio. Eles
ele não cumpre seus objetivos sociais e não já perceberam que a educação infantil é a
tem um currículo adequado. Ele precisa ter chave da questão. Quando você não tem o
um currículo mínimo de física, matemática, apoio em casa, com pai e mãe trabalhando,
química, português e inglês. Não que as vindo de origem muito humilde, você pre-
demais matérias não sejam importantes, cisa trabalhar muito a educação infantil”.
mas elas não podem impedir o aluno de Para ele, no Brasil isso também deveria
ter um amplo conhecimento nessas que ser muito claro. É preciso uma educação
eu citei. Matemática, português e uma infantil equilibrada, onde a criança aprenda
língua estrangeira são essenciais para a de forma lúdica.
formação de um aluno, senão ele não tem “A área da educação se desenvolveu
competitividade”. mais após a revolução francesa, ou seja,

Pesquisas já provaram que a escola


representa 30% no processo de
educação de uma pessoa, mas os
demais 70% representam a família,
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o ambiente social, o famoso dialogo


na hora das refeições

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Hoje, para quem


quer fazer direito,
eu aconselho o
curso da FGV.
Em minha
opinião, é a
melhor faculdade
nessa área
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estamos falando de século XVIII e XIX. É “Provavelmente, ou esses alunos perou completamente e a FAAP (Fundação
muito recente na história da humanidade entram e saem, porque eles não vão en- Armando Álvares Penteado), que é muito
você querer educar a população e não tender nada, tudo aquilo vai virar grego bem organizada e com uma tecnologia
apenas os filhos dos nobres. Esse tipo de para eles, ou a universidade vai ter que de ponta. Por outro lado, esse aluno será
processo acontece muito bem em popu- virar uma espécie de ensino médio e extremamente exigido.
lações homogêneas. Todos os países com tentar ensinar àqueles alunos o básico, “Hoje, para quem quer fazer direito, eu
população heterogênea apresentam essas dispensando assim a qualidade. Esse não aconselho o curso da FGV. Em minha opi-
dificuldades. Esse não é um mérito do Bra- é o papel da universidade”. nião, é a melhor faculdade nessa área. Muito
sil. Você vai para a Inglaterra, na região das Para ele, uma Universidade que superior ao da USP. Ela é extremamente
grandes cidades britânicas eles possuem quer estar entre as maiores do mundo, moderna, e isso é muito importante em
sérios problemas nas escolas. Na França, como é a pretensão da Universidade cursos universitários hoje em dia. Aqui no
que é o berço da educação pública, encon- de São Paulo, não pode ter esse papel Bandeirantes, por exemplo, separamos os
tramos problemas nas grandes cidades. de refazer o ensino médio dos alunos. alunos do ensino médio por desempenho
Há muitos imigrantes e todos eles estão Esse papel é do ensino médio público. acadêmico, baseados em uma régua, a
estudando em escolas públicas”. “É tudo uma grande falácia, um grande régua da FUVEST. Aquele grupo de alunos
Voltando ao nosso país, e aos estu- vício de raciocínio, um jogo de engana, que determina que quer fazer direito na
dantes que tentam se formar em uma car- para dizer que estão alavancando alguma Getulio Vargas, no terceiro ano incluímos
reira na USP, Mauro menciona que a FEA coisa. Baixando o nível do conhecimento em seus currículos diversos cursos extras
(Faculdade de Economia, Administração dessa forma, ninguém vai contratar esse para ajudá-los nisso. Por exemplo, um curso
e Contabilidade da Universidade de São formando no futuro, então, não haverá a de artes. Aí as pessoas perguntam, o que
Paulo) fornece umas das aulas mais avan- ascensão social que ele está esperando, isso tem a ver com direito? A FGV definiu,
çadas de São Paulo, com base totalmente que é justamente o que está acontecendo assim como as universidades americanas
em modelos matemáticos. Ou seja, se você ultimamente”. já vem fazendo, que tipo de aluno eles
não tem uma noção mínima das fórmulas O diretor alerta que o aparecimento querem lá dentro. O padrão é um aluno com
usadas, não consegue seguir adiante. de escolas privadas de elite no ensino su- a cabeça aberta, que tenha uma visão de
Portanto, do que adianta o governador perior, que antigamente não existia, é um mundo que vá além do conteúdo. Por isso,
assinar um decreto dizendo que 50% das fenômeno natural. Temos, atualmente, eles dão uma prova de conhecimento geral
vagas são para as pessoas da periferia, além da PUC (Pontifícia Universidade do ensino médio, depois há uma prova de
passando ou não no vestibular, tendo ou Católica de São Paulo) e da FGV (Fundação artes e, por fim, a seleção final, que é uma
não condições? Getulio Vargas), o Mackenzie, que se recu- dinâmica de grupo. E é assim que eles se-

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lecionam os profissionais que eles querem. Saindo do país
A concorrência diz que a FGV só prepara os No entanto, para Mauro, o mais alar-
alunos para serem advogados de empresas mante tem sido o crescente interessante
privadas. Eu discordo. O que eles querem é de pais em quererem que seus filhos saiam
um aluno extremamente preparado, com do país.
uma visão de mundo diferenciada, que en- “Nós sempre tivemos aqui no colégio
tenda a sociedade de uma maneira muito um departamento para orientar esses
mais profunda. É muito mais contemporâ- alunos que querem ir para o exterior. An-
neo, muito mais moderno”. tes o nosso professor, um profissional
Ele explica que os cursos que não se extremamente especializado nas melhores
modernizam acabam perdendo alunos. O universidades do mundo, dava conta da
curso de engenharia da USP é longo, com demanda. Eram no máximo 20 alunos por
várias matérias de cálculos, sem que o ano. Agora são centenas que estão pedindo
aluno coloque de fato o conhecimento em para estudar fora. Tivemos que contratar
prática. Isso provoca desanimo e desistên- uma empresa especializada para nos ajudar
cia. “Você não traz o aluno para a rotina da a cuidar de todos os casos”.
profissão, não o aproxima daquilo que ele Em boa parte dessa decisão, está a
quer fazer. Quando ele entra em um curso atual crise brasileira. Para o diretor, o de-
de engenharia moderníssimo, por exemplo, sanimo alcançou a maior parte das pessoas
e trabalha o tempo todo em laboratório, e elas não aguentam mais esperar que as
com projetos, sua sensação já é completa- coisas melhorem. “Os profissionais mi-
mente diferente”. gram. A coisa está ficando muito difícil. Em

O que eles querem é um aluno


extremamente preparado, com uma
visão de mundo diferenciada, que
entenda a sociedade de uma maneira

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muito mais profunda

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O nosso país
está com grandes
chances de perder
boa parte de sua
população.
O número de
solicitações de
transferência
dos alunos
cresceu muito

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Cuba, por exemplo, 10% da população já saiu do Brasil, a média que os alunos tiveram no e outra na frente, ficou sozinho porque
e foi para a Flórida. A Flórida politicamente, ENEM, eles sabem tudo sobre nós. Falam a família toda se mudou para os Estados
especialmente ali em torno de Miami, é direto com os alunos, com os pais, orientam Unidos e, mesmo assim, conseguiu se for-
dominada pelos cubanos americanos. como é que funciona e oferecem sistemas mar em medicina na Universidade de São
O nosso país está com grandes chances de bolsas incríveis”. Paulo. Esse é um dos pais que está extrema-
de perder boa parte de sua população Nesse momento, segundo Mauro, a mente irritado com as cotas. Se esforçou,
também”. preocupação dos EUA é com a diversidade. trabalhou – e ainda trabalha – muito para
O número de solicitações de transfe- O número de brasileiros é muito pequeno conquistar tudo o que tem. Acha injusto
rência dos alunos também cresceu muito. nas universidades americanas perto da que as coisas estejam sendo feitas dessa
“Sempre pedimos aos pais que preencham importância do país. “Por lá o número de maneira. Agora ele quer ir embora do Brasil.
um formulário nos informando o motivo e, mexicanos, coreanos, japoneses, chine- Já está fazendo os preparativos para sair”.
grande parte das vezes, está escrito ‘Mu- ses e indianos é muito maior do que a de Há também a questão da segurança.
dança de País’. As pessoas estão mesmo brasileiros. Então eles querem reequilibrar Aqui em São Paulo o deslocamento entre
indo embora. E eu não sei se vocês sabem, isso. O Brasil está muito pouco represen- casa e escola é muito grande e os riscos que
mas para uma pessoa de classe média con- tado dado o peso da nossa economia. se corre no dia a dia são perturbadores.
seguir o Green Card nos EUA já não é uma E eles estão sendo muito inteligentes, é “Outro caso que eu conheço de uma família
coisa tão difícil assim. Sendo uma pessoa um mercado importante e eles querem que foi embora para o Canadá aconteceu
qualificada, e se você fizer um investimento pessoas que acreditem na filosofia de vida por falta de segurança. Por duas vezes a
– algo em torno de 500.000,00 – pode americana, no estado americano, no capi- mãe se viu no meio de um tiroteio com os
conseguir morar lá. E ainda, depois de cinco talismo americano, e a melhor maneira é filhos ao lado, um deles sendo em frente a
anos, você recebe esse dinheiro de volta. Os levá-los desde jovens para estudar lá”. casa onde moravam. Foram embora, em
americanos são práticos”. O diretor nos explica que o Colégio busca de mais qualidade de vida”.
Além disso, representantes de univer- Bandeirantes está localizado em uma Antes as famílias tinham medo de
sidades estrangeiras estão vindo ao Brasil, região de São Paulo que é considerada mandar seus filhos de dezessete ou dezoito
comparecendo em feiras de estudantes, de classe média e, em suas salas, a escola anos para fora do país. Ficavam preocupa-
para atrair ainda mais interessados. “Quan- tem um grande número de alunos que são dos com o que poderia acontecer. Eram
do se trata dos melhores colégios, o aluno descendentes de estrangeiros, mistura sonhos que os pais até tinham, mas ainda
não precisa ir nem à feira para ter contato das imigrações que ocorreram, de famílias não havia planejamento, era tudo muito
com eles, eles vêm até o colégio para ter que valorizam a educação. E essas famílias utópico. Agora não, eles estão pesquisan-
contato com os alunos. E não estou falando andam bem insatisfeitas de como as coisas do, se preparando, famílias que estavam
de universidades de 2ª ou 3ª linha dos EUA, estão caminhando, principalmente com as a três ou quatro gerações aqui no país
estou falando de faculdades de 1ª linha. cotas. “Tem um pai de aluno que veio de chegaram à conclusão que é melhor ganhar
Eles sabem quais são as melhores escolas Taiwan. Ele chegou aqui com uma mão atrás menos, mas viver com mais qualidade.

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Agosto de 2015 • Escola Particular 11
Matéria de Capa

EP - A competição para a universidade é


um problema para o ensino médio?
MA - Eu acho que é. Ela, de certa
maneira, no caso do ensino particular, os
vestibulares nos dão uma pauta. Nem que a
gente queira pode mudar muito. Enquanto
a Fuvest for desse jeito, eu não posso criar
no ensino. Por exemplo, sabemos que nos
ensinos médios mais avançados do mundo
não se faz uma divisão entre química,
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física e biologia. Você trabalha ciência,


tecnologia, matemática e arte. Nós vamos
começar a partir do ano que vem uma
primeira experiência nesse sentido, mas
é preciso tomar muito cuidado porque
o vestibular da Fuvest não é feito dessa
maneira. É um problema, porque você
pode estar dando um curso de ensino
médio muito superior, de ponta, mas aí
o aluno não entra na universidade. Isso é
ruim para nós também. A Fuvest está bem
atrasada em sua concepção, o vestibular
tem o mesmo estilo de quando eu o fiz
ao terminar o meu ensino médio. Eles
deveriam rever a forma como cobram dos
alunos. Por exemplo, não seria necessário
cobrar a leitura de obras específicas, mas
sim, que eles saibam corretamente ler e
interpretar textos. Essa é a competência
que você precisa analisar.

EP - O ensino médio está com carência


de professores?
MA - O Ensino Médio está sim com
carência de professores, tanto no ensino
público quanto no ensino privado. O
que está acontecendo é que, como você
tem poucos professores bons, a escola

12 Escola Particular • Agosto de 2015


privada está ficando muito cara. O lado EP - Por onde o senhor começaria a EP - É possível melhorar o ensino médio
bom é que hoje, um professor de uma resolver os problemas relacionados a essa sem melhorar o fundamental?
escola particular de ponta ganha muito questão? MA - Como o Brasil tem uma massa de
bem. Isso atrai alguns alunos, que aca- MA - É fundamental a formação dos estudantes muito grande, você consegue
bam querendo dar aulas, o que é ótimo. professores e currículo nacional básico. pegar um grupo e dar um ensino melhor
Mas o lado ruim é que, como o principal É claro que você tem que respeitar pe- para ele. Se você esperar melhorar tudo
custo de uma escola é justamente os culiaridades regionais, afinal, o Brasil para chegar lá, não vai dar conta. O ótimo
recursos humanos, e dentro dos recur- é um país continental, mas você tem é o inimigo do bom. Se você não pode
sos humanos o principal é o professor, que ter um alinhamento em português, alcançar o ótimo, pelo menos alcance
isso reflete diretamente no preço. Não matemática, uma língua estrangeira o bom.
tem saída. Então as escolas ficam muito pelo menos e ciências: não separar por
mais caras para a classe média e exigem física, química e biologia. Ou seja, deixar EP - Há alguma iniciativa interessante
muito mais sacrifícios dos pais. O setor a coisa mais global e formar professores em implantação no ensino médio?
público já é dramático, você não tem preparados para isso. MA - Há algumas políticas interes-
professor de física, não tem professor santes, tanto do Governo do Estado de
de matemática, não tem professor de EP - Ensino médio é um problema dos São Paulo como do Governo Federal,
geografia. Os bons profissionais dessas estados. Como o governo federal pode de expandir as escolas técnicas. Acho
matérias preferem trabalhar em outros influir? isso bem interessante e, de certa forma,
órgãos, como matemáticos em bancos, MA - Estados grandes como São Pau- até mesmo um bom senso. Além disso,
que pagam muito mais do que as escolas lo, Paraná, Minas Gerais possuem poder existe o programa de escolas em tempo
públicas. econômico e intelectual para montar um integral do Estado de São Paulo. Eu
bom currículo, mas a maior parte dos es- cheguei a passar um dia em uma dessas
EP - Sem concluir o ensino médio as tados brasileiros não consegue fazer isso. escolas e foi interessante. Nós tivemos
pessoas conseguem se empregar? Então você precisa ter um forte apoio um momento somente com os alunos e
MA - Até podem conseguir, mas a Federal formando o currículo básico e pedimos as opiniões deles e o resultado
trajetória salarial dessa pessoa é muito deixando para os Estados os aspectos foi extremamente positivo. A escola era
baixa. Ele bate logo em um teto que não regionais. E, mais uma vez, a formação bem cuidada e os professores recebem
consegue sair se não tiver o ensino médio de professores que é primordial. Poderia 70% a mais, com um detalhe, eles podem
completo. Tem recursos humanos que, até haver uma regra para bolsas de estudos ser demitidos desse projeto. Isso faz com
para cargos muito de base, estão exigindo para todos aqueles alunos que querem que sejam professores dedicados. Uma
o diploma de conclusão do curso. se tornar professores. ótima iniciativa. •

Agosto de 2015 • Escola Particular 13


Motivação

E nquanto mensalões, lava-jatos e outros tipos de


problemas consomem tempo, raciocínio e recursos no
Brasil, ciência e educação, comprovadamente as sementes
da maior qualidade de vida a nível nacional, continuam a
ser desenvolvidas em outros países.
Neste mês de julho chegamos a Plutão. Imagine só!
Estamos estudando corpos celestes na fronteira do nosso
sistema solar.
Se planeta ou planeta anão, isso não faz a menor dife-
rença. Aliás, provavelmente ninguém avisou a Plutão do
seu “rebaixamento”, e ele pouco se importaria se pudesse.

nasa.org

O fato é que, pela primeira vez, uma


espaçonave conseguirá estudar nosso
distante vizinho com toda uma gama de
instrumentos.
A missão “New Horizons” da NASA
foi lançada da plataforma 41 do Cabo Ca-
naveral há 9 anos, em janeiro de 2006, no
mesmo ano do meu primeiro voo espacial, e
neste mês, finalmente, depois de mais de 5
bilhões de quilômetros de viagem, ela está
chegando ao seu destino. No momento que
escrevo este artigo, a espaçonave está a 4
dias de sua passagem por Plutão.
Imagine como fazer a navegação de
uma espaçonave desde o seu lançamento
até um destino a 5 bilhões de quilômetros

14 Escola Particular • Agosto de 2015


Agosto de 2015 • Escola Particular 15
Motivação

para uma trajetória passando a apenas 12,5

nasa.org
mil quilômetros da superfície do planeta e
de forma adequada para permitir também Essa é a semente
o estudo das luas de Plutão! Só para se
ter uma ideia, a distância entre a Terra e a da ciência; essa
nossa Lua é de aproximadamente 385 mil
quilômetros.
é a semente do
Note uma coisa interessante aqui. Algo
que talvez fosse de excelente uso no nosso
desenvolvimento
país em curto, médio e longo prazo: plane-
jamento e controle de projetos.
humano
É quase impossível não fazer um
paralelo comparativo das características
dessa missão com a nossa administração
brasileira, de forma geral, e não perce-
ber a importância do planejamento e
controle no sucesso de qualquer projeto,
desde aqueles comuns da vida de um
indivíduo, até aqueles que mudam os
destinos de uma nação. Talvez nossa
política tivesse que ser mais “letrada”
em ciências exatas e eliminar a “crença”
que diz que “política é assim mesmo”
e nunca funcionaria de forma mais es-
truturada. • PEPSSI: É um experimento para medir
Voltando a Plutão (como se fosse ali a composição e a densidade de íons que
na esquina), existem muitas questões a escapam da atmosfera de Plutão.
serem respondidas, entre elas: Como é a • SDC: É um experimento educacional
superfície do planeta? Existe algum tipo de operado por estudantes para medir poeira
estrutura ou atividade geológica? Como é estelar durante a viagem. Este experimento
a “atmosfera” do planeta? Como o vento é um exemplo da importância dada em
solar interage com ela? países desenvolvidos na inclusão da edu-
São muitas respostas esperadas. cação e motivação de estudantes entre os
Para ajudar a responder cada uma experimentos de uma missão de altíssima
delas, a espaçonave de 478 kg conta com 7 complexidade. Essa também foi a ideia da
instrumentos principais: Agência Espacial Brasileira ao encaixar, por
• Ralph: Uma câmera com espectrô- exemplo, os experimentos dos alunos de
metro nas faixas visível e infravermelho que São José dos Campos na Missão Centenário
nos dará imagens coloridas compostas do junto às 6 pesquisas científicas escolhidas
visível com o mapa térmico. pela Academia Brasileira de Ciências. No
• Alice: Uma câmera com espectrô- Brasil, ainda por se desenvolver no setor,
metro na faixa ultravioleta para analisar a parte da comunidade científica e da im-
estrutura e composição da atmosfera de prensa, não conseguiram compreender a
Plutão, assim como da lua Charon e outros importância da decisão da AEB e ficaram
corpos do cinturão de Kuiper. “a ver feijões”, enquanto o navio do desen-
• REX: É um experimento de radiome- volvimento desfilava à sua frente.
tria para medir a composição atmosférica Portanto, depois de muito planeja-
e a temperatura. mento, trabalho e persistência, Plutão
• LORRI: É uma câmera de longo está “mais perto”. E que isso sirva de
alcance para mapear Plutão de longa dis- exemplo para várias áreas no Brasil e que
tância e prover dados de alta resolução também sirva de motivação aos nossos
da geologia. estudantes para que tenham “curiosi-
• SWAP: É um espectrômetro para dade de descobrir e aprender”. Essa é a
medir a influência do “vento solar” na semente da ciência; essa é a semente do
atmosfera de Plutão. desenvolvimento humano. •

Marcos Pontes
Embaixador da ONU para o Desenvolvimento Industrial.
Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes, desde 1998 até hoje, é o único Astronauta à disposição
do Brasil. Ele aguarda a escalação pelo governo para um segundo voo espacial. Além das suas
funções da carreira civil de astronauta, Pontes é Especialista em Segurança Operacional, Palestrante
Motivacional, Coach Especialista em Desempenho Pessoal e Desenvolvimento Profissional, Mestre
em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Diretor Técnico do Instituto Nacional
para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de três livros: “Missão Cumprida.
A história completa da primeira missão espacial brasileira”, “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade” e “O
Menino do Espaço”, todos publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.
www.marcospontes.com.br

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Agosto de 2015 • Escola Particular 17
Brincar
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Brincar de corpo inteiro é


substituir a televisão, o videogame
e o computador
A s crianças vivem em uma sociedade
que está em constantes e profundas
transformações. As mudanças sociais
A primeira normativa que atribui
direito às crianças e adolescentes nasce
com a Declaração de Genebra de 1924,
das crianças para que as promoções de seus
direitos tenham investimentos adequados
à sua execução.
fazem com que novos valores surjam em documento no qual é assegurado à crian- Ao mencionarmos os adultos, relem-
detrimento de outros que se configuram ças e adolescentes o direito à proteção. bramos que o papel da família e as mudan-
para responder às necessidades dos dife- Essa normativa é ampliada na Declaração ças em sua configuração, trouxeram novos
rentes grupos. Vale ressaltar que quando Universal dos Direitos da Criança (DUDC) papéis para os atores sobre as questões a
falamos em crianças, as intuições, setores, de 1959. O artigo 31 da DUDC fundamenta, serem pensadas tanto pela família, quanto
segmentos e grupos sociais devemos pela sociedade. A criança que antes tinha
compreender uma nova (re)configuração
para considerarmos nas discussões sobre
O corpo é um tempo, liberdade e espaços variados para
brincar, agora passa a ocupar, cada vez mais
a importância da infância.
Reconhecer a criança cidadã, como
registro vivo das cedo, um lugar fixo e institucionalizado,
onde passa a maioria do seu tempo. Por ser
sujeito de direitos, e a infância como uma
categoria social, é desenvolver ações que
ações do indivíduo institucionalizado esse espaço tem como
premissa o papel de cuidar e ensinar. Por
efetivem aquilo que a lei assegura, em reconhecidamente enquanto direito, o outro lado, algumas famílias substituem
especial o desenvolvimento de políticas brincar. Porém a consciência sobre esse a falta de tempo, pelo computador e pelo
públicas para o direito ao brincar. O artigo direito precisa ser ampliada por meio de vídeogame. Diante dessa nova realidade
227 da Constituição Federal de 1988 e o propostas que qualifiquem o processo de surgem questões que suscitam profundas
artigo 16 do Estatuto da Criança e Ado- desenvolvimento da criança e o fortaleci- reflexões acerca da função da família e da
lescente também trazem em seu escopo mento das ações sociais, para que ocorram Educação Infantil na responsabilidade pela
a documentação da garantia dos direitos profundas mudanças nas políticas públicas, criança. Qual é o papel da família e o papel
da criança, dentre eles o direito ao brincar. no contato com a natureza e na segurança da mídia eletrônica, diante do pouco tempo

18 Escola Particular • Agosto de 2015


e da ausência de espaços com qualidade não em detrimento à expansão do sub-
para que a criança possa brincar? Quais são jetivo, mas contemplando a ideia de que,
os benefícios e os malefícios de oferecer à enquanto linguagem específica, o brincar,
criança (somente) brinquedos tecnológicos em suas diversas manifestações e dialetos
e de multimídias? brincantes é desafiador e fomenta o (des)
O brincar e as mídias podem possibilitar envolvimento da criança em toda a sua
o desenvolvimento cognitivo, o da subje- integralidade.
tividade, do raciocínio e da imaginação. Brincar de corpo inteiro é meio e fim,
Contudo, o excesso do tempo dedicado ao é o ponto de encontro da criança com ela
uso das plataformas digitais, prejudica as mesma e com seus pares, é o ponto da
oportunidades da criança de recrear-se e resolução de seus conflitos e do confronto
participar de atividades lúdicas e artísticas. com seus medos, é o fio que desata os se-
Ressaltamos também que corporalmente, gredos e os mistérios da vida e das coisas.
a criança está passiva e exposta podendo Brincar de corpo inteiro é o movimento
prejudicar a integridade da sua saúde. dialógico, próprio das infâncias, que pos-
Segundo o Plano Nacional pela Primeira sibilita descobertas e aprendizados, é o
Infância: “Quando uma criança brinca, ela alimento do imaginário e o desdobramento
entra em contato com suas fantasias, desejos do desenvolvimento biológico e motor que
e sentimentos, conhece a força e os limites está para além da própria “fisio lógica”. É
do próprio corpo e estabelece relações de uma dança externa que também organiza
confiança com o outro” (2010, p. 52). Além a internalização das coisas e dos saberes.
do crescimento subjetivo, a criança está Brincar de corpo inteiro é fazer desse corpo
também em constante evolução biológica. em desenvolvimento o templo de uma es-
O corpo é um registro vivo das ações do sência latente e vivaz. •
indivíduo sobre a vida e sobre o mundo
e também das ações da vida e do mundo
sobre o indivíduo. O corpo é presença, é
por meio dele que a criança se apresenta ao Leandro Aparecido da Silva
Formado em Letras e Artes
outro e à existência. Se o corpo representa Cênicas, atua como educador
a criança diante da vida, ele precisa estar na área de assessoramento do
Centro Marista de Defesa da
submerso nas diversas situações desafia- Infância, da Rede Marista de
Solidariedade do Grupo Marista.
doras e promotoras de desenvolvimento,

Agosto de 2015 • Escola Particular 19


Informática
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PARTE II

O relato de um projetode integração entre as áreas de Geografia, Matemática e


Informática, com alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental I, apresenta as
perspectivas promotoras de uma ação pedagógica fundamentada em
projeto integrador, multidisciplinar.
(Continuação da entrevista com a professora Amanda de Carvalho)

O desenvolvimento de competências
e habilidades necessárias para a rea-
lização do projeto, pelas crianças.
dade receberam auxílio dos colegas e,
quando necessário, a minha intervenção
próxima de cada aluno.
cas, os recursos e ferramentas aprendidos
no programa de autoria das formas geomé-
tricas. É importante termos consciência de
que o trabalho pedagógico por projetos
Em algum momento foi percebido Quais as principais dificuldades enfren- exige gestão para elaborar e coordenar o
um grau de dificuldade na resolução de tadas na gestão e o suporte institucional plano de ação global, integrando-o ao currí-
problemas que estivesse acima da zona de necessário para a realização do projeto? culo da escola e cuidando para que todos os
desenvolvimento proximal das crianças? Profa. Amanda: Durante o desen- passos do processo sejam bem realizados,
Profa. Amanda: No momento em que volvimento e a aplicação do projeto foi sem isso acabamos perdendo o foco central
as crianças foram desafiadas a elaborar necessário seguir um protocolo de prepara- da ação e até mesmo comprometendo a
a dobradura de uma casa, notei que elas tivos com vistas a chegar ao resultado final. iniciativa e os resultados finais. Além dos
demonstravam algumas dificuldades acima As crianças precisaram explorar os tipo cuidados com a gestão é preciso prever
de sua capacidade imediata de solução do de moradia em grupo, realizar atividades e ter disponíveis os recursos necessários
problema. Percebido isso, providenciei a individuais que os fizeram refletir sobre o (ambiente, material e estrutura) para a
demonstração de um exemplo no qual eu conhecimento construído, para que des- boa realização do projeto. É um trabalho
fiz um modelo, com dobradura, ressaltando sem conta do objetivo final. Durante as que exige mais do que criatividade do pro-
a importância da marcação no papel, ao aulas de Geografia, realizaram atividades fessor, exige praticar a responsabilidade
mesmo tempo em que íamos recordando para identificar diversificados tipos de cons- profissional sabendo que ao conjunto das
conceitos a respeito das formas geométri- truções (concreto, de palha, de madeira). ações empreendidas o desenvolvimento
cas as quais se constituíam como ‘tijolos’ Em Matemática utilizaram recorte e cola- que pode ser promovido é relevante e
para a construção da casa. A partir dessa gem de formas geométricas, realizaram também estimulante, tanto para os alunos
interação a maioria das crianças começou dobraduras e construíram um cômodo de quanto para nós professores. A escola,
a demonstrar a competência e as habi- sua preferencia com recortes de revista. Em enquanto instituição, tem um papel fun-
lidades que foram sendo utilizadas para a Informática os alunos foram convidados a damental em apoiar e estimular processos
construção da modelagem por dobradura. construir um cenário com uma moradia de como este, fundamentados na educação
As crianças que ainda apresentavam dificul- sua escolha, utilizando formas geométri- por projetos.

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Informática

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Os resultados: a produção de conheci- A avaliação: o que nós (educadores)
mento pelas crianças. aprendemos com isso?
O que se evidenciou como relevante? Na perspectiva do professor, o que
Houve aprendizagem tácita? Houve desen- inferimos? A iniciativa é válida para outras
volvimento explícito? E quanto ao envolvi- situações similares?
mento emocional das crianças? Profa. Amanda: O que me chamou
Profa. Amanda: Durante as rodas de a atenção e se evidenciou como a im-
conversa, momentos muito ricos, as crian- portância da interdisciplinaridade na
ças traziam alguns relatos e muitas vezes construção do conhecimento foi a
algumas informações foram questionadas abordagem complexa da proposta, mas
por alguns colegas, como por exemplo: complexidade não significa dificuldade
— Na minha sala tem cama. Mas... Lugar insuperável ou bagunça. Complexidade
de cama é no quarto! “— Eu moro num tem a ver com as possibilidades das crian-
prédio, e lá tem muitos apartamentos ças intervirem diretamente na busca das
que moram muitas famílias.” Essas dis- soluções dos problemas enfrentados,
cussões propiciavam um ambiente rico de durante a realização do projeto e se
reflexões e desenvolvimento de noções e mostrarem aceitando os desafios que
organização social do espaço. Sempre que surgem. A abordagem interdisciplinar
necessário eu fazia mediação mostrando leva para além do “quadrado das discipli-
que cada casa é organizada de acordo com nas” e promove um tipo de pensar mais
a necessidade da família, que existem casas amplo, complexo mesmo, na perspectiva
maiores e menores, diferentes. Ainda mais, de Edgar Morin. A experiência em irmos
percebiam que casas e apartamentos são realizando projetos vai se mostrando não
construídos com variados materiais e que só prazerosa a nós educadores, como
normalmente, na cidade de São Paulo as altamente motivadora para as crianças
construções são feitas de cimento e tijo- que transformam aprendizagem em
los. Ao grosso modo de ver, no relato dos desenvolvimento humano. •
alunos identificamos o desenvolvimento
que experimentam, pois eles fazem um re-
flexão dos conhecimentos prévios e é neste
momento que se faz a aprendizagem tácita,
que envolve competências e habilidades, a Amanda Nicolau de Carvalho
Pedagoga, com especialização
compreensão de mundo, a diferença entre em gestão escolar. Atua como
docente no Colégio Santa
o mundo ideal e o real. Amália – SP, no âmbito do Ensino
Fundamental I.

Cassiano Zeferino de Carvalho Neto


Pós-doutorado em educação digital pelo ITA e doutorado em engenharia e gestão do
conhecimento pela UFSC; é mestre em educação científica e tecnológica (UFSC) e especialista em
qualidade na educação básica (INEAM/OEA/USA). Tem licenciaturas em Física e Pedagogia (PUCSP).
É fundador e atual presidente do Instituto Galileo Galilei para a Educação (IGGE), e também
fundador e diretor executivo da Laborciencia editora. Contato: carvalhonetocz@gmail.com.
Esta coluna conta com o apoio do Instituto Galileo Galilei para a Educação (www.igge.org.br)

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Agosto de 2015 • Escola Particular 23
Comportamento

O PODER DA MÍDIA NA FORMAÇÃO


DE CRIANÇAS E JOVENS
C omo a mídia tem poder sobre a so-
ciedade é fundamental que nós, na
timulando a mentira e a traição, ou aquelas
que, usando valores humanos, tentam per-
qualidade de pais, mães e profissionais da
educação estejamos atentos à sua pro-
suadir pessoas a consumir seus produtos.
Por exemplo, o nome de batismo é con-
A mídia cria
gramação, porque ela exerce uma forte siderado a palavra de maior importância padrões de
influência sobre a formação das nossas na vida de um indivíduo, ele marca a iden-
crianças e jovens. tidade; a felicidade também é tida como comportamento
George Orwel argumenta: “A massa
mantém a marca, a marca mantém a mídia
um dos valores de maior significado para
o ser humano; e as relações humanas? Ah! subjacentes a
e a mídia controla a massa”. Entretanto é
fundamental entender que esse controle
As relações humanas, o almoço em família,
os encontros em volta da mesa. Momentos
uma ideologia,
está para além do consumo de produtos.
Não que o excessivo apelo ao consumo não
mágicos... Pois é, o nome de batismo, a
felicidade e as relações familiares à mesa,
cujo princípio é a
manipule e seja perverso. Certamente, é! valores inerentemente humanos, estão manutenção do
Quantas vezes nos deparamos com propa- sendo usados, de forma inconsequente
gandas que, de forma dissimulada, trazem e perversa, por uma grande indústria de status quo
mensagens contrárias aos princípios éticos, refrigerantes com o propósito de persuadir
como aquelas direcionadas às crianças es- pessoas a consumir seus produtos.
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24 Escola Particular • Agosto de 2015


Fora a obviedade, o perigo está, princi-

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palmente, nos lobos em pele de cordeiro.
Desenhos animados nos quais o protago-
nista é exemplo da falta de caráter e alguns
inocentes programas de entretenimento
que usam o assédio moral com o propósito
para fazer rir. Os artistas que participam,
aqueles considerados referência, os ídolos,
acabam fomentando um comportamento
cada vez mais agressivo e excludente.
A mídia cria padrões de comporta-
mento subjacentes a uma ideologia, cujo
princípio é a manutenção do status quo.
São estabelecidas normas sociais com base
na lógica hegemônica e quem subverte
essa lógica, ou não atende ao padrão de-
terminado socialmente, é condenado. Ou
seja, quem se encontra fora da “curva da
dita normalidade” é alvo de constrangi- principalmente as mulheres, mães, que convivência social e sobre a importância da
mentos, é vítima de preconceito e assédio tiveram quase a totalidade do seu tempo valorização das relações humanas, é fun-
moral. Sofre agressões como o bullying e confiscada pelas demandas assumidas em damental para o desenvolvimento de um
o cyberbullying. troca da independência econômica. compromisso social, no sentido do avanço
Assim, um veículo de comunicação, Se não podemos ter influência direta de uma sociedade mais justa. •
extraordinário, promotor de informação, sobre a mídia, podemos mudar de canal,
conhecimento, entretenimento, arte, cul- conversar com os nosso filhos e alunos
tura etc, como é a televisão, infelizmente, alertando sobre a influência desse veículo
sustenta parte de uma programação apela- em nosso comportamento, chamando a
Lucy Duró
tiva, sem o mínimo de princípio ético, e que atenção para o sofrimento das vítimas, Pedagoga, Psicopedagoga
e membro do Laboratório
submete pessoas a uma violência velada. destacando a importância da igualdade Interinstitucional de Pesquisa em
Por isso, é preciso muita atenção e de direitos e dos princípios éticos. Criar Psicologia Escolar do Instituto
de Psicologia da Universidade de
cuidado! Andamos por demais distraídos debates nas escolas, promovendo espaços São Paulo.
evoluireducacional.com.br
com as atribuições que nos são conferidas, de reflexão sobre o impacto da mídia na

Agosto de 2015 • Escola Particular 25


Idiomas

POR QUE O BRASILEIRO NÃO FALA


INGLÊS

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O acesso das pessoas a escolas de idiomas com o objetivo de aprender inglês,
ou mesmo a aulas em colégios, é frequente nas principais cidades do Brasil.
Porém, muito poucos são os que falam inglês fluentemente.

Q uando faço apresentações para


grupos de gestores de escolas ou de
pessoas a cargo dos recursos humanos em
o aprendizado e, principalmente, profes-
sores mal preparados que não conseguiam
estimular o interesse e envolvimento ne-
parte das escolas particulares de ensino
básico se adaptaram aos professores des-
preparados e burocráticos, a não entregar
diversas organizações e empresas, deparo- cessários para aprender. “The book is on resultados de aprendizagem no idioma aos
me com respostas bastante padronizadas the table” representa a falta de preparo de seus alunos. Com alguma frequência, as
perante a pergunta: quem de vocês é flu- um professor sobre como tornar uma aula aulas de inglês são dadas em português,
ente em inglês? Apenas 2 ou 3 pessoas em interessante e eficaz. afinal ninguém aprende mesmo...
um grupo de aproximadamente 30 pessoas Será que alguém consegue aprender Quanto às faculdades que formam pro-
levantam a mão. Esse resultado se repete sem motivação, sem o necessário envolvi- fessores no Brasil, elas não desenvolvem o
independente de qual seja o contexto ou mento na aula? E as estratégias didáticas e conhecimento do idioma e não preparam
local. Quando pergunto quantos frequen- orientações para atravessar as dificuldades o professor para ofertar uma didática efi-
taram escolas de idiomas, a resposta é que surgem no percurso? ciente e atualizada do idioma.
unânime: todos. E quando pergunto quem Muito se investe para que os filhos Precisamos romper este pacto coletivo
teve inglês no colégio, a resposta é também aprendam um segundo idioma, mas pouco de mediocridade e aproveitar a melhor
unânime: todos. se obtém deste investimento. Não parece idade para que todos aprendam este
Quando pergunto sobre o motivo para haver parâmetros claros do que seja boa idioma, essencial para a vida no século 21
não serem fluentes e terem tão pouco re- qualidade de aula e de resultados de e para o desenvolvimento do Brasil dentro
sultado em seus estudos? ouço respostas aprendizagem. da comunidade global. •
do tipo: “As aulas eram chatas e desmoti- Por outro lado, os adultos “correm
vadoras” ou “Eu tenho muita dificuldade atrás do prejuízo”, tentando recuperar o
com o idioma”. tempo que foi perdido em escolas. Com
Quando peço para essas pessoas na frequência as tentativas são frustradas, Adriana L. Albertal
Diretora da Seven Educacional,
liderança de suas organizações lembrarem muito dinheiro foi investido, e a desejada área da Seven Idiomas que
das aulas de inglês que tiveram no colégio, proficiência não foi conquistada. implanta programas bilíngues
certificados por Cambridge
os comentários citam aulas chatas, repeti- Infelizmente, o quadro de hoje é o mes- English em colégios e
universidades.
tivas, desinteressantes que não estimulam mo daquele de 10, 20, 30 anos atrás. Boa

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Agosto de 2015 • Escola Particular 27
28 Escola Particular • Agosto
Junho de
de2015
2015
Agosto
Junho de 2015 • Escola Particular 29
Educação Digital

Escola e Sociedade Digital:


um diálogo possível?

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V ivemos em tempos de mudanças
na organização social, nas relações O papel do professor adotou em 2015 o livro digital em quatro
componentes curriculares – Geografia,
interpessoais e nas suas novas formas de
gerenciar socialmente o conhecimento.
é, portanto, de suma História, Língua Portuguesa e Ciências – o
uso da plataforma digital, este ano com a
As Novas Tecnologias da Informação e
seu conhecimento (TIC) já estão dentro
importância na Blackboard. Ao adotarmos os livros digitais,
além da facilidade que ele proporciona para
das salas de aula e suscitam novas formas
de desenvolvimento do processo ensino e
construção de novos trabalhar com vídeos e imagens, temos
acesso a um rol de objetos digitais que
aprendizagem.
No entanto, a simples presença das
conhecimentos ampliam as possibilidades dos professores
e alunos em aula. Outra possibilidade explo-
TIC no contexto educacional não garante rada na plataforma digital são atividades
uma prática pedagógica que atenda às ambientes virtuais é o de mediador, como postadas pelos professores, fóruns de
demandas do século XXI. O papel do pro- alguém que proporciona auxílios educa- discussões, videoaulas e plantão de dúvi-
fessor é, portanto, de suma importância cionais ajustados à atividade construtiva das, estratégias que podem intensificar as
na construção de novos conhecimentos, dos alunos, utilizando as TIC para tanto relações dos alunos com o conhecimento.
pois, mais do que nunca, as informações (Coll, 2010)1. Pensando em ampliar esse debate,
estão disponíveis na teia (web) e será Sobre a sociedade digital e seu diálogo o Colégio Marista Arquidiocesano pro-
necessário auxiliar os alunos a lidar com com a educação, Martha Gabriel revelou moverá o I Simpósio Marista de Tecno-
elas, tranformando-as em conhecimento na palestra do 1º Congresso de Educação logia, Educação e Linguagem nos dias 25
e aprendizagem. Digital2, que 73% dos jovens não conseguem e 26 de setembro de 2015, tendo como
Nesse contexto, novas competências estudar sem tecnologia digital. Temos, por- objetivos: problematizar e atualizar as
são suscitadas e tocam tanto a formação tanto, a possibilidade de utilizar a internet reflexões, representações e interpreta-
inicial dos professores quanto a contínua. como ferramenta de expressão humana. ções quanto à relação entre Tecnologia,
Por meio dos atuais recursos digitais, os Trata-se de um fenômeno contemporâneo Educação e Linguagem; socializar práticas
alunos, com o auxílio desse outro modelo que a escola deve incorporar na sua prática educacionais, que produzam diálogos en-
de professor, podem se transformar em pedagógica. tre Tecnologia, Ensino e Conhecimento e
produtores de conteúdos, ampliando Vale ressaltar que a escola deve fomen- discutir práticas solidárias e sustentáveis
assim a possibilidade de interatividade tar nos estudantes o desenvolvimento de das tecnologias, nos processos interativos
com o conhecimento e tornando sua par- capacidades para a gestão do aprendizado, de ensino-aprendizagem. Afinal, é nosso
ticipação ativa no processo de construção do conhecimento e da formação, organi- intuito fomentar o diálogo entre escola e
de significados. zando e atribuindo sentido e significado a sociedade digital... •
Na nova sociedade da informação, essa informação.
da aprendizagem e do conhecimento, o Partindo desses pressupostos, o Colé-
papel mais importante do professor em gio Marista Arquidiocesano de São Paulo
Lilian Gramorelli
Coordenadora psicopedagógica do
1 COLL (org), Psicologia da Educação Virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Colégio Marista Arquidiocesano.
Alegre: Artmed, 2010.
2 Evento realizado pela Fecomércio SP, em maio de 2015. Martha Gabriel é especialista em Marketing Digital e autora de livros,
inclusive o best seller “Marketing na Era Digital”.

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Agosto de 2015 • Escola Particular 31
Motricidade

DESENVOLVIMENTO HUMANO

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N o encontro que teremos no Brasil, no
próximo dia 19 de setembro, aborda- Temos de explicado pelos “envolvimentalismos”
encantatórios ou pelos “determinismos
rei fundamentalmente os meus estudos
filo e ontogenéticos do desenvolvimento
compreender a culturais”.
O ser humano contrói-se como um
humano.
Na procura dos fundamentos inter-
motricidade como ser social. Sem a presença do adulto so-
cializado o recém-nascido não responde
disciplinares da Educação, como ação
global dirigida a um ser Bioantropológico
uma ação e como às suas necessidades de crescimento e de
desenvolvimento. O social é biológico. Ele
e Psicobiológico, isto é, à totalidade biopsi-
cossocial do Ser Humano, parti para uma
uma conduta é, consequentemente, uma condição vital
e indispensável da ontogênese. O biológico
aventura episódica e preferencialmente não se opõe ao social, os dois fatores não
orientada para os problemas da Motrici- Em ambas as abordagens está contida se reduzem um ao outro, nem são sequer
dade. Tal esforço culminou na dissertação uma unidade indispensável e recíproca, uni- incompatíveis. O biológico e o social coe-
final, concluída já em 1971, cujo titulo: De dade que esteve na base da minha pesquisa xistem dialeticamente, daí a razão da
uma Filosofia (do conhecimento) à minha e na base da elaboração do manuscrito. criança ser observada no nosso estudo,
atitude (pedagógica), em pouco sugeria Só dentro de uma leitura complementar, segundo uma ótica que a considera um ser
o que nela estava contido, ou seja, o tema entre uma abordagem bioantropológica social e um ser biológico simultaneamente.
referente ao seu subtítulo: Subsídios para (filogênese) e uma abordagem psicobio- Sem perder de vista estes princípios
a Ontogênese da Motricidade Humana. lógica (ontogênese), se pode alcançar o básicos do Desenvolvimento Humano, a
Todas as flutuações adaptativas e con- objetivo expresso da minha reflexão. Nas minha análise da ontogênese particulariza-
ceptuais da minha vida clínica e experiência duas abordagens procuro defender a ideia se, por agora, ao nível biológico, através
no ensino superior têm-me oferecido uma de que o Desenvolvimento da Criança (on- de um enfoque preferencial sobre a
visão multidisciplinar e cientificamente togênese) recapitula, acelerada e qualita- motricidade, perspectivada segundo uma
integrada, visão inconclusa que podemos tivamente, o Desenvolvimento da Espécie abordagem psicobiológica de sentido
agora apresentar com um mínimo de coe- Humana (filogênese). “walloniano”.
rência conceptual e com um mínimo de O Desenvolvimento Humano com- Por último, numa tentativa mais práti-
unidade dialética. preende todas as mudanças contínuas co-pedagógica, apresento doze escalas de
Não pretendo avançar com generali- que ocorrem desde a concepção ao nas- desenvolvimento com áreas neuro, sen-
zações abusivas nem com reducionismo cimento, e do nascimento à morte. Neste sório, perceptivo, psicomotoras, auditivo-
encantatórios. Desejo fundamentalmente, período surgem processos evolutivos, verbais, viso-motoras e sócio-emocionais
neste estudo, não vulgarizar o lugar do maturacionais e hierarquizados, quer num de algum interesse para a observação e
Homem na Natureza. Por isso, apresento plano biológico, quer num plano social. A intervenção clínico-pedagógica. Tais es-
humildemente uma abordagem filogené- unidade biossocial é a chave da compreen- calas não deverão ser confundidas com
tica e ontogenética, rodeada de constela- são da dialética da ontogênese, como nos outras mais rigorosas e estandardizadas.
ções temáticas, muitas vezes preliminares indicou H. Wallon. Tratam-se de apoios pedagógicos, uns
e rudimentares, porém suficientemente Partilho a ideia de que o desenvolvi- originais, outros adaptados de outros
justiçadoras para oferecer duas aborda- mento humano nem é pré-formado nem autores, de onde poderão emergir orien-
gens do desenvolvimento humano. pré-determinado. Tão pouco pode ser tações curriculares ou surgir programas

32 Escola Particular • Agosto de 2015


precoces de estimulação, desenvolvimento regulam, controlam, executam e integram. Genética e da Embriologia. Por outro lado,
e de reabilitação, com utilidade, julgo, para A motricidade, ao materializar a ideia, a motricidade humana, para além de ser
os ensinos geral, pré-primário e especial. continua-a e prolonga-a. a consciência precoce, reúne em si duas
Ontogenética e filogeneticamente as A motricidade nova, a neomotricidade componentes ontogenéticas fundamen-
aquisições da motricidade estão primeiro é que põem em jogo as mais altas formas tais: a diferenciação estrutural do sistema
que as aquisições do pensamento. Já na de atividade mental como vamos ver. Não nervoso central e a aquisição progressiva
“piscina amniótica” o feto humano se só contribui para o desenvolvimento da de padrões comportamentais (skills), jus-
auto locomove como vamos demonstrar. atividade psíquica superior, como lhe dá tificadoras da hierarquia da experiência
A própria Bíblia é elucidativa quando ex- expressão, forma e conteúdo. humana que vai da sensação á conceptua-
plora esta questão – “No principio era o O movimento humano, diferente do lização, passando pala percepção, pela
verbo” (ação). animal, implica duas fases mutuamente simbolização.
A motricidade, através da totalidade ex- interdependentes: a ação e a representa- É pela importância que a motricidade
pressiva que a caracteriza intrinsecamente, ção, isto é, o aspecto motor e o aspecto assume na estruturação, organização e
é o meio através do qual a consciência se ideacional antecipativo. regulação da linguagem humana, que ela
edifica e se manifesta. É a própria motrici- As intenções e as necessidades são os nos permite compreender a razão de ser da
dade que leva ao desenvolvimento do cére- fatores invariantes e implicadores da motri- evolução decorrente de gesto á palavra,do
bro, ela é um pré-requisito da mielinização. cidade. A motricidade é desencadeada ato ao pensamento e do ato reflexo á ativi-
Sem movimento, não há desenvolvimento com base na obtenção de um fim, de um dade de reflexão.
nem pensamento. Motricidade sem cogni- resultado, de um programa, de um efeito, Mais detalhes importantíssimos desse
tividade é possível, mas a cognitividade sem que obviamente a antecede e a justifica, assunto, venham participar do II ENCON-
a motricidade não o é. Por alguma razão, tornando-a numa práxis. TRO INTERNACIONAL DE PSICOMOTRICI-
o desenvolvimento adequado da motrici- A motricidade, e consequentemente a DADE, promovido pelo SIEEESSP, dia 19 de
dade constitui a via para um desenvolvi- psicomotricidade, assim encaradas, visam setembro de 2015, no auditório do Colégio
mento intelectual ajustado. Os distúrbios a uma concepção holística do Desenvolvi- Madre Cabrini. •
no desenvolvimento motor comprometem mento Humano. Ela põe em jogo várias
sempre o desenvolvimento da linguagem estruturas de construção: sinergias inatas
e da cognitividade. Por isso temos de com- edificadas a partir da filogênese, e sinergias
preender a motricidade como uma ação e automatizadas e complexas, apropriadas a
como uma conduta, relativa a um sujeito partir da ontogênese. Vitor da Fonseca
histórico. Nesta perspectiva, a motricidade Professor, Doutor em Educação
A motricidade humana, grande ar- Especial e Reabilitação, autor,
passa a ser compreendida nas estruturas quiteta da civilização, tem as suas raízes consultor e editor.
associativas que a planificam, elaboram, filogenéticas a partir da Antropologia, da

Agosto de 2015 • Escola Particular 33


Crise e Gestão

CRISE EDUCADORA

A atual crise brasileira obrigou cortes


em áreas importantes, como a educa- O lado cruel da crise é que afeta
ção e saúde. Universidades estão até sem
coleta de lixo, o sonho do Fies acabou trans-
com mais rigor e sofrimento as classes
formado em pesadelo, foram agravadas
as carências dos hospitais e o país é hoje
menos favorecidas
um imenso canteiro de obras paralisadas. Não temos, nas cúpulas executivas e padoras, ressecaram os cofres públicos.
A inflação, que por décadas vitimou legislativas, lideranças à altura de nossas Dormimos em berço esplendido, sonhando
todos os brasileiros, volta à cena, reali- necessidades. Os diálogos entre ambas as ser infinita a fortuna oficial.
mentando-se. O desemprego, chaga social, esferas de governo acabam em promessas O lado cruel da crise é que afeta com
volta a tornar incertos os contratos de de nomeação para cargos comissionados, e mais rigor e sofrimento as classes menos
trabalho. uma ou outra bravata politiqueira. favorecidas. Nelas, a inflação diminui o
Para constatar a situação atual, não O lado bom da crise é que, de repente, alimento, apaga a luz e fecha torneiras.
é necessário consultar especialistas e ficou feio e apátrida malversar recursos, Nelas, estudos são paralisados, remédios
manejar índices econômicos e sociais. e os gastos supérfluos ficam realçados e economizados e a alegria suprimida.
Basta conversar com qualquer caixa de su- socialmente reprovados. O lado mau da O aumento de impostos, solução sim-
permercado, bancários, metalúrgicos, etc. crise é a perspectiva de agravamento, e plista e injusta para o rateio de prejuízos
O ambiente é de retração e preservação da a sensação de que adentramos um túnel que não causamos, gera inflação e com-
poupança familiar. escuro, do qual não enxergamos a saída. promete empregos. Estamos sendo mal
A superação de crises exige bem mais Políticos com mandato, do menor geridos, nada liderados, e o ambiente é de
que um gerenciamento técnico, pois município a Brasília, não anunciam a di- fim de festa, com os convidados lotando os
envolve sacrifícios, comoções e credibili- minuição do número de assessores e gastos bolsos com salgadinhos.
dades. As crises exigem lideranças com alto desnecessários, como se a tal crise impe- Viva a crise ! Enfim, acordamos! •
senso de prioridade. rasse em terras distantes. As economias
Lideranças de fato conseguem apoio vitimam a educação e saúde, e continuam
popular a medidas pouco simpáticas, e as demonstrações pomposas de mando e
resignação com o esforço coletivo. poder, com as cortes abarrotadas e, vez em
No Brasil, a crise é agravada pelo fato sempre, ineficientes. Pedro Israel Novaes de Almeida
Engenheiro agrônomo e
de não haver nascido de incontornáveis Seguindo o modelo europeu, providên- advogado, aposentado.
contaminações por crises internacionais. A cias sociais, mais consumistas que estru- pedroinovaes@uol.com.br

crise é só nossa, por problemas de gestão. turantes, mais politiqueiras que emanci-

34 Escola Particular • Agosto de 2015


Agosto de 2015 • Escola Particular 35
Regionais - Sieeesp

Ygor Jegorow

Sieeesp promove Jornada de


Palestras pelo Interior de SP

T emas como gestão, qualidade de


ensino, processo de construção cog-
nitiva e neurociência, serão abordados.
dade de ensino, processo de construção
cognitiva, neurociência, programação
neurolinguística, serão abordados nas
ciados de uma forma igualitária. “Aqui em
São Paulo existem inúmeros eventos, mas
o Sieeesp, sendo uma associação de ensi-
Cezar Nunes e Augusto Cury são alguns palestras. Segundo o coordenador do no, também pensa no nosso associado de
dos palestrantes presentes ao evento Departamento de Regionais do Sieeesp, longe. Por isso, vamos levar esses eventos
que visa atender todas as áreas da escola. Waldemar Guedes Rodrigues de Barros, para eles”. A coordenadora também en-
Se o público que mora no interior os seminários têm o objetivo de preen- fatiza a reestruturação que a instituição
não pode vir às palestras em São Paulo, cher a ausência que o Congresso e Feira vem fazendo em seu sistema de cursos e
as palestras vão até eles. Foi o que pen- Saber causa ao público do interior de São palestras. “Já que reestruturamos todo o
sou a Direção do Sieeesp (Sindicato dos Paulo. “Desde o ano passado, estamos sistema de congresso, não existe mais o
Estabelecimentos de Ensino no Estado procurando levar esses seminários ao Congresso e Feira Saber, estamos traba-
de São Paulo) quando decidiu promover público do interior. Procuramos atender lhando eventos pontuais. Pensamos nas
entre os meses de setembro e outubro a os anseios com um conhecimento da dificuldades, nas mudanças administrati-
“Jornada de Palestras” no Estado de São área mais aprofundado, os assuntos da vas, liderança atual etc.” diz.
Paulo. Os eventos têm início na cidade de área mais específicos, tanto em questão O coordenador Waldemar afirma que
Campinas (09/09), passando por São José de gestão como em formação educacio- o ponto forte do evento é a diversidade
dos Campos (16/09), Santo André (Grande nal”, diz. de palestrantes presentes, o que vai acar-
São Paulo 23/09), São José do Rio Preto A Cordenadora de Cursos do Sieeesp, retar num melhor atendimento nas dúvi-
(06/10), Ribeirão Preto (08/10) e Marília Maria Regina Stefano, também vê nessa das de todos os departamentos da escola.
(21/10). As inscrições podem ser feitas jornada uma grande oportunidade de “Nessas seis palestras, teremos oito pa-
pelo telefone (11) 5583-5555. atender o público que está fora da capi- lestrantes, com isso, vamos atender não
Temas de grande interesse entre os tal paulista e salienta a preocupação do só o mantenedor, mas o coordenador,
mantenedores e educadores, como quali- Sindicato em atender todos os seus asso- gestor pedagógico e o gestor administra-

36 Escola Particular • Agosto de 2015


tivo”, afirma Waldemar. Embora todos os A coordenadora de cursos ressalta tou levando uma palestrante que vai falar
temas sejam de interesse dos presentes, que o evento contará com a presença sobre neurociência e neurolinguística
o coordenador ressalta que a dúvida mais internacional do professor português para não ficar tão pesado. Escola é multi-
frequente entre os mantenedores são Alexandre Ventura que tem como tema facetal tem a administração, porque é
questões relacionadas às dificuldades de sua palestra os desafios da liderança uma empresa e tem que ser gerida como
da gestão de uma escola, precificação escolar e de como conseguir definir uma tal, e o mais importante porque você
da anuidade escolar e como chegar a um estratégia que coloque as aprendizagens está desenvolvendo um ser, ela tem que
custo equilibrado da cobrança. Temas dos alunos e o respectivo sucesso no ter um suporte e um preparo para dar
esses que serão discutidos no evento. centro de toda a sua ação. “ele fala sobre continuidade. Por isso, fazemos a mescla
Entre os palestrantes, destacam-se a efetivar as mudanças como um todo entre gestão administrativa e gestão edu-
presença do médico psiquiatra, psicotera- dentro da avaliação, como pode se ter cacional” afirma o coordenador.
peuta, cientista e escritor, Augusto Cury, um sucesso com todas essas dificuldades Waldemar ressalta que os palestran-
que apresentará a palestra ‘Gestão de que estamos passando” diz. Alexandre tes presentes são bem diversificados para
Emoção: Mentes Brilhantes na Liderança também é Mestre e Doutor em Ciên- atender toda a classe educadora, pois o
Educacional’. “Com a presença dele, es- cias da Educação pela Universidade de evento também contará com a presença
tamos pensando em trabalhar a humani- Aveiro. Professor no Departamento de de professores na plateia. “O professor
zação, porque ele trabalha a questão de Educação da Universidade de Aveiro e que vivencia os problemas com o aluno
ética, respeito, comportamento” diz. Pesquisador no Centro de Investigação e por isso precisa estar bem preparado”
Outro palestrante famoso entre o público em Didática e Tecnologia na Formação diz. Sobre uma nova continuação, o coor-
da educação é Cezar Nunes, Mestre em de Educadores Formadores. Conferen- denador revela que esta é uma edição
Filosofia da Educação e Doutor em Filoso- cista internacional e consultor de orga- única, mas a proposta é de produzir uma
fia e História da Educação e também pro- nizações educacionais segunda edição ano que vem. “Temos
fessor de Educação na Unicamp. “Com Entre o público-alvo, a maioria dos uma proposta para o primeiro semestre
a escolha desses palestrantes, eu estou presentes são mantenedores e as pales- do ano que vem para debater o marco
abrindo um leque para que possa atender tras visam atender assuntos relaciona- regulatório da informática, que é uma
outras áreas do interesse escolar, desde dos à pré-escola, ensino fundamental e questão jurídica, para dar suporte aos
a questão do tratar o aluno, receber a ensino médio, mas não faltará assuntos usuários das redes sociais para a escola
família, etc.” diz Waldemar Barros. sobre a capacitação dos professores. “Es- e para os alunos”, afirma o coordenador.

O ponto forte do evento é a


diversidade de palestrantes
presentes, o que vai acarretar
num melhor atendimento
nas dúvidas de todos os
departamentos da escola
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Agosto de 2015 • Escola Particular 37


Regionais - Sieeesp

freepik.com
Os palestrantes contadora de histórias, atua na área de Educação Básica e Coordenador Peda-
educação há mais de 20 anos, como co- gógico em Escolas da Educação Funda-
A Educação Infantil e seus múltiplos ordenadora pedagógica e professora. É mental e Média. Palestrante e Conferen-
Saberes: Processo de Construção Cognitiva formada pelo Instituto Brincante, possui cista na Educação. É Professor Titular da
Márcia Eloriaga: Consultora Pedagó- curso de extensão em Comunicação pela Faculdade de Educação da Unicamp e
gica na Empresa REDESCOBRIR, gradua- USP. Atua como palestrante em âmbito Vice-chefe do Departamento de Filosofia
da em gestão escolar atuou na direção nacional de oficinas e congressos (Saber, e História da Educação daquela unidade.
escolar do ensino público municipal por Congresso Internacional de Brinquedo- Foi Coordenador do Centro Cultural de
12 anos, na Coordenação escolar 5 anos e tecas, Congresso Sobei, CRIARH em Inclusão e Integração Social da Unicamp
como Chefe de Seção de Creches 6 anos. Recife, entre outros). Escreve artigos e Assessor da Pró-Reitoria de Extensão
Há 4 anos desenvolve Projeto de Incentivo para revistas (Guia Prático de Educação e Assuntos Comunitários da Unicamp de
a leitura na Secretaria de Saúde. Formada Infantil e Escola Particular), Participou 2009 a 2012. É coordenador executivo do
pela Unesp com diferentes cursos na área de programas de entrevistas (Planeta Grupo de Estudos e Pesquisas PAIDÉIA.
da Educação Infantil. Autora dos Projetos: Criança na UP TV, Bem Estar na Rede Autor de 26 livros sobre Ética, Filosofia,
Construindo Saberes, Gira Mundo e Comer Globo e Nota 10 na TV Futura). Educação e Sexualidade, além de deze-
brincando pode ser uma grande curtição nas de artigos científicos em revistas
que auxiliam os educadores na reflexão Transformando a Gestão Financeira especializadas.
e construção de práticas educativas na em Gestão Estratégica Orientada para
logística diária das unidades de Educação Resultados. Entenda como a inteligência A Avaliação na Educação Integral: Re-
Infantil/ Creche e CEI. em Finanças Pode Maximizar os Resultados flexão Conceitual sobre Tempos e Espaços
Efetivos. de Aprendizagem. Qualidade de Ensino e
Os Novos Desafios para as Nossas Escolas Renato Palma Ferreira: Atualmente é Métodos de Atribuições de Valores.
Walter Braga: Formado em Matemáti- Diretor na Meira Fernandes. Executivo com Alexandre Ventura: Professor licen-
ca com especialização em Sistemas de mais de 15 anos de experiência com carreira ciado em Ensino de Português e Francês
Qualidade e Gestão, com larga e bem- desenvolvida nas áreas de Finanças, Con- pela Universidade de Aveiro - Portugal,
sucedida experiência na liderança de troladoria de Gestão, Contabilidade, Fiscal, com Pós-graduado em Administração
instituições e Projetos Educacionais, seja Supply Chain, Faturamento, Logística, Ad- Escolar pela mesma universidade. Mestre
na Educação básica e no Ensino Superior. ministrativo, Recursos Humanos, Jurídico e e Doutor em Ciências da Educação pela
Foi CEO e membro do Conselho da Kroton Tecnologia da Informação. Foi CEO da rede Universidade de Aveiro. Professor no De-
liderando todo o projeto da abertura de de ensino de idiomas CNA, onde liderou e partamento de Educação da Universidade
capital (IPO). Atualmente é sócio e Diretor realizou uma das maiores transações de de Aveiro e Pesquisador no Centro de
de empresas que atuam com tecnologia private equity do segmento educacional, Investigação em Didática e Tecnologia na
focada em educação. além de ter trabalhado em prestigiadas em- Formação de Formadores. Conferencista
Foi eleito líder empresarial do Setor presas do setor de serviços como Interfile, internacional e consultor de organizações
Educacional pelo Fórum de Líderes da TMS e Mapfre Seguros. É Administrador educacionais.”
Gazeta Mercantil em 2004 e em 2005. Teve de Empresas pela UNIFIEO, possui MBA
projetos/estratégias premiadas no Prêmio Executivo pela Escola de Negócios Trevisan, Gestão da Emoção: Mentes Brilhantes
“Marketing Best” e no Prêmio Destaque da além de ser especialista em implantação de na Liderança Educacional.
ABMN – Associação Brasileira de Marketing sistemas ERP. Augusto Cury: Médico psiquiatra,
e Negócios. psicoterapeuta, cientista e escritor. Pós-
Educação Básica no Brasil Atual graduado no Centre Medical Marmottan
Aplicação e Prática Cezar Nunes: Licenciado em Filoso- - Paris - França. Pesquisador da Psicologia.
Gabriela Manzano Geraldini Antona- fia, História e Pedagogia. Mestre em Fi- Autor de diversos livros sobre Inteligência
geli: Consultora Lúdico Pedagógica, losofia da Educação e Doutor em Filosofia Multifocal, Educação e Filosofia, entre
pós-graduada em Educação Lúdica, e História da Educação. Foi Professor da outros. •

38 Escola Particular • Agosto de 2015


Agosto de 2015 • Escola Particular 39
Vício

Carta de uma mãe sobre o


alcoolismo

Amados filhos Maria e João, de me indignar ante a hipocrisia e os peri- “meu”, eu o emprestei e poderia ter acon-
gos do mundo, enterrem-me: por certo, já tecido uma desgraça! Com cinismo, ainda

Q ueria conversar pessoalmente com


vocês, mas não faltará oportunidade.
Antes, peço lerem o que vai abaixo. Preciso
estarei morta.
Queridos, quem não sabe aonde quer
ir na vida, qualquer caminho serve; e este
me disse “...e não aconteceu nada de mais!”
Não vá brigar com o zelador, pois ele tem
obrigação de me avisar o que acontece na
ser ouvida, desabafar e sinto ser minha por onde andam é perigoso. Jamais vi uma “minha” garagem do “meu” apartamento.
obrigação de mãe dar orientações claras. juventude que bebe nesta quantidade. Na João, você fica todas as noites bebendo
Sou uma mulher só, mas não estou sozinha; linguagem de vocês digo que se bebe prá perto da faculdade; outro dia, sem querer,
tenho vocês dois. cacete; é de impressionar. Nunca antes na passei por lá e o vi cambaleando, saindo
Incomoda-me não haver maior trans- história desse país se bebeu tanto... e não daquele maldito bar. Onde vamos parar?
parência entre nós, especialmente quando há quem os ensine a beber, por medos ou Decerto, vocês não sabem o que esta
se trata de como e do quanto vocês estão falta de ousadia. mulher aqui é capaz de fazer para salvar um
bebendo. Sei que, geralmente, filhos não Iniciemos pela invenção do “esquenta”. filho. Assim, para grandes males, grandes
contam todas as verdades para pais, mas Não é possível iniciar uma noite já “chapa- remédios: Maria, um mês sem sair de casa;
não sou ingênua a ponto de compactuar dos” e continuarem a beber no início da João, como o carro é “meu”, a sua chave
com o que estou vendo. Assim, como sei balada. Sim, só no início, porque, depois, está confiscada e só voltará a dirigir quando
que não mentem para mim, “quero mais já dormem em uma cadeira ou no sofá; re- der mostras de que é adulto.
transparência nas atitudes de vocês”! OK? sultado: zero de aproveitamento da festa! Os dois traíram a minha confiança e as
Chega de clandestinidade. Ficará im- A perpetuação de atitudes como esta é suas atitudes foram gravíssimas. Sem choro
possível a nossa relação se continuarem desalentadora. nem vela, vamos combinar, agiram como
a tampar o Sol com a peneira e viver em Vamos a alguns fatos: Maria, eu a dei- crianças e... assim serão tratados! Game
fingimentos. Vou escrever o que a consciên- xei, sábado à noite, em uma festa, à qual over, queridos.
cia de mãe e a profissão de psicóloga me deu o nome de HouseParty(?) e você com Contudo, em um último esforço, devo
obrigam, pois o álcool é a porta para todas suas amigas foram para outra, sem me ensinar-lhes a beber. Isto mesmo, sem
as outras drogas. Ele está disfarçado no avisar? Pode uma menor de idade sair e cinismos ou fingimentos, alguém tem de
“socialmente aceito”, mas é uma das mais andar por aí, sem eira nem beira, e a mãe fazê-lo e, mais cedo ou mais tarde, queira
poderosas drogas. não saber de nada? Eu é que fui burra em Deus, lembrar-se-ão:
Embora bizarra, a comparação é esta: deixá-la ali, sem ao menos saber quem lhe
na nossa sociedade há um vírus solto, o faria companhia e qual adulto estaria por 1) Menores de 18 anos não podem
“hipocrissauro”, que é pequeno agente perto. Eu me sinto culpada! Fiz o que muitos beber álcool.
infeccioso e apresenta genoma constituído pais fazem: largam os filhos em baladas sem Maria, trago-lhe um problema: você
de uma molécula, cujo nome é hipocrisia e, ter a menor ideia do que se passa lá dentro. é menor de idade e, por mais que as leis
por não haver vacina, acredita ser eterno... Você, João, voltou para casa guiando, estejam banalizadas neste país, elas têm
Quanto a mim, quando perder a disposição bêbado e vomitou na garagem?! O carro é de ser cumpridas. Ninguém está acima da

40 Escola Particular • Agosto de 2015


lei. Como iremos resolver esta questão, se 4) Bebem por quê? 6) Comer bem e tomar água.
a lei não adianta e a minha autoridade faz Porque é gostoso, respondem-me. Se desejarem beber, hão de, antes
água? Eu sou a responsável por você e o que Sim, beber é gostoso e dá prazer. Porém, e durante, comer bem, estômago cheio
acontecer eu devo responder. lembro que prazer só é “prazer” se houver e entre os goles de bebidas... goles de
Sobre tal questão não vou discutir, é continuidade, isto é, sem interrupções. água, e muito gelo no copo. É fatal para
lei. Os adultos que vendem bebidas ou que O prazer é uma resposta do corpo ou da o cérebro e estômago misturar dois tipos
as permitem em festas responderão por mente, indicando que nossas ações estão de bebidas alcoólicas. Lembrem-se de
crime. Sinto-me absurdamente impotente fazendo bem à saúde. Se beberem demais, que álcool não avisa, quando você se dá
perante você. Há pais que não hesitam em ficam tontos e vomitam; resultado: o prazer conta... já está bêbado. Nunca deixem
emancipar filhos perante a lei e os tornam é cortado. Sem sequência, acaba a sensa- seus copos em cima de uma mesa, para
responsáveis pelos seus atos. Você quer ção de bem-estar e o prazer deixa de ser beber depois, “dando sopa” para alguém
isto? Quer? “prazer”, tornando-se ilusório. Vocês não colocar um boa-noite-cinderela dentro
defendem ser o prazer o foco desta socie- deles, tampouco bebam nos copos de
2) Nunca bebam demais. dade? Então, sintam prazer e não desprazer. outras pessoas. “Entenderam bem ou eu
João, parece-me que você é fraco para preciso repetir?”
bebidas, está bebendo errado ou demais. 5) Beber para “bater”? Amados filhos, se o seu pai estivesse
Sei que é difícil medir, porque este “de- Beber devagar é uma regra básica vivo, tenho certeza que assinaria comigo.
mais” varia de pessoa para pessoa. Não para quem quer sentir prazer na bebida. Podem marcar a data e hora de nosso
posso “proibir” e colocar um esparadrapo Vocês me dizem que bebem rapidamente, encontro. Quero uma conversa individual
em sua boca, pois não entro em guerra per- esperando ansiosos o “bater”. Quando com cada um.
dida. Nós precisamos conversar e discutir falam “bater”, colocam o dedo indicador na
sobre a sua resistência às bebidas. Então, cabeça, querendo dizer que é ali o local em Da sua mãe, que os ama mais que tudo
ouça-me: você precisa beber menos pois que ele acontece. “Bater” significa, então, nesta vida. •
assim não vai dar! experimentar certa ‘tonturinha’, uma
sensação de amortecimento, músculos
3) A vida inteira para beber. relaxados, impressões leves, percepções
Imagino que cada um tem, no mínimo, agradáveis. Mas, João, você não vê como o
mais de 60 anos para viver. Se souberem álcool o deixa agressivo? Outra, esqueceu- Paulo Afonso Ronca
Prof. Dr. em Psicologia
beber, pouco e espaçado, poderão fazê-lo se do que havia feito na festa deste sábado! Educacional pela UNICAMP,
até os 80, porém se exagerarem, pararão Black-out ou apagamento? Verdade ou es- diretor do Instituto Esplan e
escritor, dentre outros, de Senta e
nos 40. Não brinquem com o fígado; é um tou inventando? Meu filho: a boa serpente Pensa – construindo os limites na
infância. pronca@esplan.com.br
órgão especial. não prova de seu próprio veneno.

Agosto de 2015 • Escola Particular 41


Tecnologia

Caminhos da Adoção Tecnológica


N o artigo publicado no mês de junho,
falamos da importância de investir
A Fluência Digital deve ser o principal
objetivo na formação de professores,
Devemos
em programas de formação de profes-
sores em detrimento ao foco excessivo
adquirida em um processo de formação e
não em um evento pontual. Isso significa
buscar com
em equipamentos. Mais vale um professor expor continuamente o professor à tec- a tecnologia
preparado com pouca tecnologia do que nologia, seja ela para a vida pessoal ou
muitos equipamentos sem profissionais profissional. a autoria
que os usem de forma adequada. Pesquisas
da UNESCO mostram que “sem orientação
A cada formação, o professor que está
iniciando no mundo digital irá compreender dos alunos,
e capacitação, os professores frequente-
mente utilizam a tecnologia para fazer
que existe uma simbologia universal em
programas e aplicativos, assim como a
personalização
coisas velhas de formas novas, em vez de
transformar e melhorar abordagens de
lógica de funcionamento. Esse é o caminho
da Fluência Digital, que deve ser amparado
do aprendizado
ensino e aprendizagem”. por um suporte, como uma rede de pro- e estímulo
Falamos em forma adequada, pois, teção para quem está atravessando uma
muitas vezes, a tecnologia está apenas corda bamba. A sensação de segurança da produção
na substituição da mídia. Exibir vídeos e
slides, espelhar um aplicativo ou usar um
para lidar com o novo garantirá o sucesso
de todo o processo. criativa e
livro digital são exemplos de substituição,
primeiro estágio da adoção tecnológica,
É importante lembrar que, apesar de
nossa discussão ser a tecnologia, esta é o
colaborada
segundo o Modelo SAMR, criado pelo meio e não o fim para atingir determinados
Dr. Ruben Puentedura. É um importante objetivos pedagógicos.
passo, mas com o qual não podemos nos Alguns exemplos do pro-
contentar. Devemos buscar com a tecno- cesso de integração tec-
logia a autoria dos alunos, personalização nológica com foco no pro-
do aprendizado e estímulo da produção fessor podem ser conferi-
criativa e colaborada. Para isso, o professor dos no site: goo.gl/g2ivm8 •
pode contar com um arsenal de soluções
gratuitas, que podem ser acessadas de
qualquer dispositivo conectado, inclusive
dos smartphones.
Para transformar a educação por meio
do processo de adoção tecnológica e obter
seus benefícios, devemos conhecer nossa
equipe e traçar estratégias personalizadas.
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Para isso, existem modelos de adoção


tecnológica como o SAMR, TPACK e TIM
que ajudam a mapear equipe, saber de
onde estamos partindo, avaliar as etapas
e definir objetivos.

Marcelo de Freitas Lopes


Biólogo, Educador, Escritor,
Google Certified Teacher, Google
for Education Partner, Diretor de
Tecnologia Educacional do Grupo
Weducation e da Foreducation.
marcelo.lopes@weducation.com.br

42 Escola Particular • Agosto de 2015


Agosto
Junho de 2015 • Escola Particular 43
Música

COMO O PIANO O tema educação musical tem chama-


do muita atenção na atualidade
música passasse a ser conteúdo obrigatório
no ensino de arte na educação básica
EM GRUPO PODE daqueles que atuam na educação básica,
tanto de educadores, quanto dos ges-
(remetendo ao §2o). Tal previsão genérica
é, de certa forma, um reconhecimento
SE TORNAR UMA tores das instituições de ensino. E isso tem
ocorrido principalmente como resultado
por parte da estrutura sócio-política do
país da importância da formação musical
FERRAMENTA PARA dos estudos da neurociência na última
década que comprovam que a música é
na educação básica. A lei, porém, não faz
qualquer referência ao modo e meios de
CONCRETIZAR uma poderosa ferramenta para o alcance implementação.

A EDUCAÇÃO do potencial máximo de criatividade e do


desenvolvimento intelectual e social dos
Embora o reconhecimento da im-
portância seja quase unânime, a realidade
MUSICAL DE alunos na educação básica.
Um dos demonstrativos da atuali-
prática de aplicação da educação musical
apresenta grandes desafios. A grande
QUALIDADE dade do tema é que, recentemente, a
educação musical voltou a ser objeto de
questão da educação musical, na atuali-
dade, é a falta de um método consistente e
NO SISTEMA destaque no meio acadêmico brasileiro,
gerando grandes discussões a respeito
bem elaborado e de treinamento adequado
aos professores e profissionais que atuam
EDUCACIONAL de seu conceito, conteúdo, abrangência, na área.

BRASILEIRO. formatação e importância, além de outros


aspectos. Isso se deu de modo crescente
Os recentes congressos da ABEM (As-
sociação Brasileira de Educação Musical)
nos últimos anos fundamentalmente por apresentam principalmente propostas de
conta da promulgação da Lei 11.769/2008, criação de materiais lúdicos, com o objetivo
que acrescentou o §6o ao artigo 26, da Lei de imediata inserção da música nas escolas,
9394/96 (LDB - Lei de Diretrizes e Bases da considerando-se a realidade sistêmica atual
Educação Nacional), determinando que a da educação básica. Isso pode ser notado

44 Escola Particular • Agosto de 2015


a partir da análise dos volumes da revista de um instrumento ou do canto. Nota-se atividades lúdicas também no ensino
Música na Educação Básica publicada pela que o pensamento do meio acadêmico destas matérias, não se questiona a neces-
ABEM dos anos de 2009, 2010, 2011 e 2012 brasileiro, extraído dos artigos da revista sidade de aprendizado das quatro opera-
(não foram feitas publicações posteriores). da ABEM, demonstra a tendência de con- ções ou de domínio das faculdades de ler
Pode-se constatar que os artigos ali presen- siderar simplesmente que não é possível e escrever.
tes visam fornecer orientações e exemplos a concretização do segundo aspecto, ou A concentração dos esforços no se-
de atividades direcionadas aos educadores seja, do efetivo aprendizado da linguagem gundo aspecto, o de efetivo aprendizado
musicais que já atuam na educação básica. musical na escola. Portanto, parte-se do da linguagem musical, não implica exclusão
Nota-se uma inclinação para o forneci- princípio que uma Educação Musical de da vivência da música como atividade
mento de alternativas lúdicas em forma qualidade no Brasil é utopia. lúdica, já que o estudo propriamente
de brincadeiras que visam uma vivência Daí decorre uma busca constante de dito de um instrumento proporcionará
no campo da música. Embora se possa soluções e alternativas, apresentado-se naturalmente tal vivência. Por outro lado,
verificar que tais sugestões fazem uso de o ensino da música apenas através de a concentração nas atividades lúdicas não
grande criatividade para que haja interação atividades lúdicas, rodas, danças, canti- traz automaticamente o aprendizado da
das crianças e utilização dos recursos por gas e brincadeiras, buscando-se “fazer linguagem musical.
vezes escassos, não há propriamente pro- música de forma fácil” para uma criança. O provável motivo gerador da inser-
postas que busquem ensinar um aluno a Tal preocupação não há, por exemplo, com ção da música como matéria curricular
ter uma experiência real através da música o ensino da matemática ou do português. obrigatória, e por que não dizer da própria
podendo tocar instrumentos, ler partituras Isso porque, embora haja o emprego de existência da Educação Musical como um
e até possuir um nível básico em música.
Podem ser considerados dois aspectos
do universo da educação musical: 1) a vivên-
cia musical através de atividades lúdicas,
brincadeiras, jogos e etc e 2) o efetivo
aprendizado da linguagem musical através

O pensamento do meio
acadêmico brasileiro
demonstra a tendência de

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considerar simplesmente que
não é possível a concretização
do efetivo aprendizado da
linguagem musical na escola

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Música
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todo, é a ocorrência de benefícios que são No início do século XX, nos Estados A utilização do piano em grupo no
gerados às crianças através de uma educa- Unidos, aulas de piano em grupo tornaram- sistema de Educação Musical foi, assim,
ção musical de qualidade, com experiência se obrigatórias no sistema educacional. testado por décadas. Tal sistema foi bem
real no mundo da música. Inúmeros estu- O educador musical Calvin Breinerd Cady sucedido por período significativo (mais
dos da neurociência comprovam tais bene- (1852-1928) foi um dos principais incentiva- de meio século), mesmo com a utilização
fícios no campo do desenvolvimento do dores da inclusão do piano em grupo nas de pianos-mudo.
raciocínio, da percepção sensorial e da co- escolas públicas americanas e, em 1889, a Com as novas tecnologias, a implanta-
ordenação motora, bem como no aumento secretaria de educação daquele país oficia- ção da Educação Musical através do pia-
da memória operacional, da criatividade e lizou o ensino do piano em grupo como um no em grupo encontra uma maior facili-
do QI. Tais estudos demonstram que esses método desejável do sistema educacional. dade ainda. Atualmente, o teclado digital
benefícios ocorrem com o aprendizado da No início da década de 30, já existiam 873 possui inúmeros recursos tecnológicos.
linguagem musical através do estudo do municípios nos Estados Unidos nos quais o Além de ser bastante acessível, contém
piano, canto, violino e etc. e não com alter- piano em grupo era oferecido como discip- uma infinidade de recursos, como, por
nativas, brincadeiras, vivências, jogos e etc. lina curricular nas escolas públicas. Devido exemplo, a utilização de diferentes tim-
Sendo assim, se faz necessário desen- à imensa demanda, mais de 150 universi- bres, que podem simular uma orquestra.
volver um conceito de Educação Musical que dades ofereciam cursos para formação de Também é possível acoplar um fone de
não desconsidere a realidade brasileira, mas professores de piano em grupo. ouvido para o treino individual de cada
que busque elementos de efetiva apren- aluno, realizar gravações individuais e
dizagem da linguagem musical através fazer a interação com plataformas digi-
da utilização de metodologia eficiente.A tais, tais como smartphones, tablets e
primeira mudança que deve ocorrer, por- computadores.
tanto, é no campo ideológico, ou seja, é Com isso, a introdução posterior de
preciso partir de um novo paradigma, no outros instrumentos fica bem facilitada,
qual se acredite na possibilidade real de sendo possível a implementação gradual
criação de um sistema de Educação Musical de bandas e orquestras sinfônicas.
eficiente e viável para o sistema educacio- Claro que a elaboração de uma base
nal brasileiro que abranja o aprendizado da curricular consistente a partir destas
linguagem musical. premissas não é algo fácil de ser de-
Através da escolha de ferramentas senvolvido, e requer que a Educação
simples, é possível a criação de uma me- Musical seja objeto de ampla, contínua e
todologia que atenda a tais característi- crescente pesquisa acadêmica, mas é um
cas. Uma primeira providência, óbvia, é norte que deve ser perseguido como o
a institucionalização da importância da único desejável. Isso para que a Educação
Educação Musical, ou seja, sua inserção Musical conquiste definitivamente a im-
na grade curricular da educação básica, Crianças em pianos mudos utilizando a nova portância devida no sistema educacional
como uma disciplina autônoma. Tal ponto tecnologia que acendem as notas no quadro e seja considerada como um direito das
é fundamental para que haja espaço para quando o professor toca ao piano. Life crianças, e saia do status de utopia para
Magazine, 21 de abril 1947. p. 89.
criação de uma base curricular que seja se tornar uma realidade. •
transmitida de forma consistente.
O próximo passo envolve a escolha
de um instrumento inicial que seja o mais
completo possível para fornecer as com-
petências musicais básicas - harmônico, Dr. Rogerio Tutti
melódico e rítmico. Neste ponto, o piano Pianista, compositor e regente, com grande destaque nacional e internacional. Como pianista
solista tem se apresentado nas principais salas do mundo e com algumas das mais prestigiadas
apresenta-se como uma escolha natural, orquestras e regentes em países como EUA, Itália, Portugal, França, Rússia, Argentina e Chile.
Possui graduate diploma pelo New England Conservatory, Mestrado em piano performance pela
uma vez que é inclusive base para todos os University of North Dakota e Doutorado em Pedagogia do Piano pela Universidade de São Paulo.
outros instrumentos: bacharéis nos outros Em 2010, desenvolveu metodologia para os professores de ensino de piano em grupo do Projeto
Guri, considerado o maior projeto social de música do país. Em 2014, lançou o Sistema Tutti de Educação Musical,
instrumentos devem necessariamente cur- método de educação musical para ser implementado nas escolas do ensino fundamental. Em 2015, lançou o livro
“Pedagogia do Piano em Grupo” pela editora Prismas.
sar piano complementar na universidade.

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Agosto de 2015 • Escola Particular 47
Digital

PERCEPÇÕES DOCENTES SOBRE O


PARAÍSO DIGITAL NO COTIDIANO DAS
CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
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U m muro, uma tela e vários botões.


Simples assim! Bastou a provocação Crianças nos à rotina. Aplicativos para jogos, playlist,
sites de compra agora fazem a garotada
de um empresário, para que os pequenos
aprendizes pudessem aprender. Quem
ensinam a ver vibrar de alegria e adultos “tremerem
nas bases”. Novos tempos! Crianças nos
sabia algo, contou para o outro, aquele
que nada sabia, aprendeu e depois ensinou
o mundo com ensinam a ver o mundo com mais clareza e
simplicidade pelas lentes digitais.
a alguém. Revisitando o vídeo: “O Buraco
no Muro” (disponível no youtube.com.br),
mais clareza e Na contramão, temos a escola. Está
cada vez mais difícil para a educação
guardadas as peculiaridades temporais e simplicidade pelas escolar prender a atenção e despertar o
espaciais deste filme, ainda hoje, verifico o interesse pelo conhecimento. É notório
quanto ainda temos para aprender sobre lentes digitais que a escola não pode mais ficar à mar-
tecnologia e, sobre o valor da partilha dos gem da tecnologia, esse despertar para
nossos saberes. A curiosidade daquelas a descoberta. Sim! Em nossa sociedade, o uso social e adequado das diferentes
crianças indianas sempre me comove e crianças tem contato com a tecnologia da Tecnologias deve acontecer desde a
me provoca a repensar sobre o uso das informação e da comunicação (TIC’s), desde Educação Infantil.
tecnologias no cotidiano de nossas vidas e a mais tenra idade. É comum ouvirmos, dos Percebe-se que a concepção de infância
também, nas escolas. adultos, frases como: “As crianças, de hoje, mudou e junto com ela diversos valores e
Somos movidos pela Tecnologia. Hoje, vivem no universo digital.” “Basta ver um perspectivas acerca das crianças. Hoje, não
estar conectado é uma condição para estar smartphone, para que meu filho erga o se concebe mais a criança como alguém
incluído na sociedade da informação e dedinho”, “É só ligar o DVD no carro e a via- passivo em relação ao seu meio, incompleto
comunicação. Isso é instigante, ao mesmo gem fica alegre a calma para todos”, “Baixei em relação aos adultos, estorvo para a so-
tempo desafiador. Enquanto, tentamos nos vários joguinhos para as crianças e agora, ciedade. Ela é percebida como alguém que
acostumar e aproveitar as maravilhas (im) elas só ficam ‘ligadas’ no tablet”. Percebe- interage influenciando e sendo influenciada
postas pelos paraísos digitais, as crianças, se que crianças, desde muito novinhas, tem pelo mundo e por todos que a cercam.
nativas, parecem que nasceram “pluga- acesso a televisões, controles remotos, Crianças aprendem depressa, se for
das”. Rapidamente, dominam os aparelhos computadores, tablet’s, celulares, câmeras com ludicidade, aprendem de forma
que as cercam, vivem sobre o assombro e digitais e o seu manuseio já foi incorporado significativa. Não vemos os pequenos

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youtube. com (divulgação)
O Buraco no Muro – O filme conta a história do projeto Hole in the wall, criado em 1999 por Sugata Mitra, professor da Universidade de Newcastle, no Reino Unido. Mitra
resolveu abrir um buraco no muro do prédio, vizinho de uma das maiores favelas de Nova Delhi, e instalar, voltado para o exterior, um computador com acesso à internet.

escondendo seus saberes. Pelo contrário,


é comum vê-los interagindo com outras Já a proposta aprendizagem se dá com o envolvimento
integral do indivíduo. Desta forma, as-
crianças, mostrando seus feitos. Curio-
sas e criativas, crianças na educação in-
pedagógica deve sumir responsabilidades de criação cole-
tiva demanda envolvimento emocional,
fantil, exigem atividades que desafiem
seus pensamentos, desenvolvam suas
ser construída de racional e psicomotor utilizando técnicas
que desenvolvam seu imaginário, seu
linguagens por meio da arte, do lúdico,
movimento e do raciocínio lógico.
forma dinâmica, raciocínio e sensorial em interação com
os aparelhos de TIC’s, com a mediação
Com diferentes formações e con- criativa, com metas do outro e integrado atividades e ações
vicções, professores desta etapa, anseiam ao currículo proposto pelo Ministério da
por mudanças ou ignoram esta questão. e objetivos viáveis Educação e Cultura.
Por isso, formação docente é um assunto Sobre o Projeto Político Pedagógico,
delicado precisa ser discutido todos os dias, que os docentes sejam, junto dos alunos, necessário buscar, durante a construção
seja nas salas de aula das Universidades protagonistas na utilização das TIC’s, nas coletiva, um texto vivo que vislumbre o
ou nas Salas dos Professores, das escoli- salas de aula, necessário saber usar para uso de diferentes tecnologias desde a edu-
nhas. Os professores precisam aprender educar, aproximar-se das TIC’s, familiarizar- cação infantil. Já a proposta pedagógica
a manusear as novas tecnologias. Isso se com elas, apoderar-se de suas potenciali- deve ser construída de forma dinâmica,
implica ajudar os alunos a, e eles também, dades, e dominar sua eficiência e seu uso, criativa, com metas e objetivos viáveis.
aprenderem como manipulá-las e não se criando novos saberes e novos usos, para Entende-se que quando utilizadas adequa-
permitirem serem manipulados por elas. poderem estar, no domínio das mesmas e damente, as tecnologias, oportunizam,
Significa, ainda, que cursos de formação poderem orientar seus alunos a respeito no cotidiano na execução dos Planos de
para professores, nas Universidades, do uso e aproveitamento educativo destas Aula, auxiliam no processo educacional
devem ensinar sobre as TIC’s e, buscar, ao ferramentas. dos pequenos.
longo da formação, trabalhar de forma Faz-se necessário ter responsabilidade O objetivo das escolas é promoção
procedimental sobre tais tecnologias. e compreensão sobre o mundo que os da aprendizagem dos alunos. Assim, para
Muitos professores não utilizam tais ferra- alunos vivem. Muitos teóricos da área fomentarmos diferentes aprendizagens no
mentas, por falta de domínio técnico. Para são categóricos, quando apontam que a cotidiano infantil, precisamos encontrar

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Digital

Com bebês ou

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crianças pequenas,
sentadas em
tapetes ou no
colo de adultos, o
professor conta
uma história
infantil, com
imagens grandes e
movimento

formas de diálogo entre os conteúdos dos solicitar a participação dos pequenos, com A Professora ensina umas músicas aos
diversos eixos curriculares e suas possibili- imitação de sons, cantigas, movimentos e pequenos e depois grava e/ou filma a can-
dades de apresentação, exploração e ava- outros. toria das crianças. Com recursos de aplicati-
liação pelos meios digitais. Redimensionar vos pode criar clip’s com imagens, fotos do
e reestruturar a rotina escolar sem perder 2. Possibilitar que as crianças registrem cotidiano escolar e voz dos pequenos para,
de vista a exploração do lúdico, das brinca- por meio dos tablet’s, celulares ou máqui- depois, socializar com a família.
deiras ao ar livre e incluir novas formas nas digitais as diferentes flores, formigas,
de aprendizagem por meio da utilização pedras, folhas, plantas, borboletas que 4. Utilizar um game, já trabalhado pelas
de diferentes tecnologias é fundamental existem nos jardins da escola ou parques crianças e promover um campeonato entre
para a renovação da forma de ensinar na da cidade e em seguida propiciar a partilha a turma.
primeira etapa da educação básica. das imagens. Faixa- Etária: 4 e 5 anos
Não existe um único caminho, porém Faixa- Etária: 3 a 5 anos A professora utiliza um jogo educa-
existe a necessidade de se colocar a ca- Os professores levam os pequenos tivo, já explorado por todos da turma.
minho. Desta forma, compartilho com para um jardim da escola ou parque próxi- Divide-se a turma, em pequenos grupos
vocês algumas atividades exitosas, que mo e lá incentivam, por meio do uso de e organiza-se um campeonato. Todos os
favorecem a exploração e o uso das novas smartphone e tablet’s, o registro por foto grupos brincam com o jogo virtual e aquele
tecnologias na educação infantil. ou vídeo de pequenos animais. Depois o que conseguir maior número de pontos é
professor poderá organizar uma Mostra de consagrado campeão! •
1. Contação de histórias tendo como vídeos ou exposição de fotos feitas pelos
base um tablet ou ipad. pequenos.
Faixa- Etária: 3 meses a 5 anos
Com bebês ou crianças pequenas, sen- 3. Elaborar pequenos vídeos com can-
Denise Tinoco
tadas em tapetes ou no colo de adultos, o toria, fragmentos do cotidiano, pequenas Professora de Ensino Básico,
professor conta uma história infantil, com encenações e compartilhar com os bebês Universitário presencial e na
modalidade EaD. Pedagoga,
imagens grandes e movimento. Durante e crianças bem pequenas. especialista em Psicopedagogia e
Educação Infantil.
a contação da história, o professor deve Faixa- Etária: 2 a 5 anos

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Classiesp

AGENDA de obrigações • SETEMBRO DE 2015 •


• 04/09/2015 SALÁRIOS - ref. 08/2015 • 25/09/2015 COFINS – Faturamento - ref. 08/2015
FGTS - ref. 08/2015 PIS – Faturamento - ref. 08/2015
CAGED - ref. 08/2015 • 30/09/2015 IRPJ – (Mensal) - ref. 08/2015
INSS (Doméstica) - ref. 08/2015
CSLL – (Mensal) - ref. 08/2015
• 10/09/2015 ISS (Capital) - ref. 08/2015
• 14/09/2015 EFD – Contribuições - ref. 07/2015
• 18/09/2015 INSS (Empresa) - ref. 08/2015 Dados fornecidos pela HELP – Administração e Contabilidade
PIS – Folha de Pagamentos - ref. 08/2015 helpescola@helpescola.com.br
SIMPLES NACIONAL - ref. 08/2015 (11) 3399-5546 / 3399-4385

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Cursos

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