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Exercício - Eleio

Caio Borges Aguida Geraldes

22 de maio de 2018

Características do dialeto Eleio nas inscrições IED 4, 10, 12, 14, 15, 16, 20,
25 e 30 (MINON, 2007)

1 Resultado do desenvolvimento *di ̯-, *g(u̯) i ̯- em (δ)δ- no lugar de ζ.

No dialeto eleio, o desenvolvimento de *d e *g(u̯) seguidos de *i ̯ é grafado com


(δ)δ em: (i) θο̄άδοι (IED 4, 1) (verbo denominativo formado do nome θωή/θο̄ά
+ -i ̯ε/ο-1 ); (ii) δικάδοι (IED 4, 2) e (iii) δικάδο̄σα (IED 4, 3) (ambos equivalentes a
formas do verbo ático δικάζω). Deve-se notar, no entanto, que há dificuldades
na interpretação fonológica de formas com Δ e Ζ em eleio uma vez que a gra-
fia dos dois flutua historicamente (THÉVENOT-WARELLE, 1988, p. 108–112). As
inscrições mais antigas (IvO 1, 2 e 32 ) não notam Δ em lugar algum, utilizando Ζ
em todas as formas. Dessas, IED 20 (IvO 2 anterior a 580 BC) apresenta as formas:
(iv) ζέ (1, 4, 5, 6); (v) ζίκαια (1-2, 4); (vi) ζέκα (2); (vii) Ζὶ (3); (viii) ἐλλανοζίκας (4);
(ix) ζαμιοργία (5); (x) ζίφυιον (5); (xi) ζικαιο͂ν (6); (xii) ζεκαμναίαι (6) e (xiii) ϝειζṑς
(7). Sobre o assunto, me restrinjo a apontar e resumir a longa discussão entre Do-
suna (1993; 2009, p. 4–6) e Minon (1998; 2007, p. 332–334): enquanto Dosuna su-
1
No entanto, Minon (2007, p. 394) não explica o δ entre o tema nominal e o sufixo. Ver Chan-
traine §271 (1984, p. 231).
2
Respectivamente IED 6, 20 e 13.

1
põe uma palatalização seguida de uma despalatalização /di ̯/> /d’/ > /d/ notado
(δ)δ, Minon prefere a solução gráfica em que Δ e Ζ são neutralizados.

2 Desaspiração da sequência /sth /: σθ > στ.

As sequências /sth / aparecem sempre desaspiradas como em: (i) δικαστᾶμεν


(IED 15 6 ' át. δικασθῆναι)3 ; (ii) λυσάστο̄ (IED 25 7-8); (iii) πεπάστο̄ (8). Note-se
que há uma ocorrência de desaspiração com /skh / na forma curiosa: (iv) πάσκοι
(IED 20 8), que, no entanto, tem como contraparte (v) πάσχην (IED 30 13).

3 <ο> notando alongamento compensatório e contração.

Exemplos de contração ou alongamento compensatório notados com ômi-


cron (diferentemente do ático, em que se nota <ου>): (i) δικάδο̄σα (IED 4 3);
(ii) βο̄λᾶι (4); (iii) πολέμο̄ (IED 10 5); (iv) ἀργύρο̄ (6); (v) το͂ (IED 14 4, 16 4, 25 8);
(vi) βομο͂ (IED 14 4); (vii) αυ̣͗τṑ (IED 16 1, 20 1); (viii) Ϝαλείō (16 1, 20 2); (ix) Ἀλφιοίο̄
(IED 25 6-7); (x) διφυίο̄ (8)

4 Abertura de ε > α / _ ρ.

Embora inconstante, a abertura de um /e/ para /a/ antes de um /r/ é uma


marca característica do dialeto eleio. Alguns exemplos em que a mudança ocorre
são: (i) ἰαροῖ (IED 4 1)4 ; (ii) ϝάργον (IED 10 3-4); (iii) παρ (4-5, IED 25 2) (' περ(ί) +
gen)5 ; (iv) ἐπιάροι (IED 10 9); (v) ὀπόταροι (IED 14 3); (vi) ἰα[ρ]ομάορ̣ (6); (vii) κατια-
ραύσειε, (IED 20 2); (viii) ϝάρρε̄ν (2); (ix) ἰαρὸς (9); (x) φάρε̄ν (IED 25 5); (xi) ὔσταριν
(IED 30 8-9).
3
Thévenot-Warelle (1988, p. 99–101, 119–121) não cita esse exemplo na sua discussão sobre
/t/ e /th /.
4
Sobre outra análise para as formas baseadas em ἰαρός, ver Lejeune §256 nota 2 (1987).
5
Homógrafo a παρ(ά) + ac. em παρ τὸ γράφος (IED 4 2) ou παρβαίνοιαν (IED 14 6).

2
Embora essas formas existam, elas coocorrem formas sem a elevação entre as
quais constam os comparativos (xii) καλιτέρο̄ς (IED 4 3); (xiii) ἐρσεναιτέραν (IED
30 2) e (xiv) θηλυτέραν (2-3), que contrastam com as formas também compara-
tivas (v) e (xi); o verbo (xv) ϝέρε̄ν (IED 12 6), que contrasta com o seu equivalente
(viii); a preposição (xvi) περί (IED 30 9), que contrasta com (iii) e o nominativo
plural (xvii) μάντιερ̣(IED 14 5) que se justifica pelo ρ nesse caso ser secundário.
Resta uma possibilidade interessante: (xviii) γνο̄μαν (IED 16 6). Se entender-
mos a desinência como um -μεν (át. γνῶναι), esse infinitivo apresentará também
uma elevação de /e/ a /a/ antes de um /n/ (possivelmente antes de ressoantes?).

5 Abertura de /ē/ a /a/.


̄

Também de modo irregular, o dialeto eleio produz a abertura de /ē/ a /ā/.


Exemplos: (i) ϝράτρα (IED 10 1; IED 12 1; IED 14 1; IED 20 1) (< *u̯reh1 vide εἴρω);
(ii) ἔα (IED 10 2) (cf. εἴε̄ IED 4); (iii) συνέαν (IED 10 4, 5); (iv) μὰ (IED 10 5, IED 30 1,
9); (v) βασιλάες (20 3); (vi) μάτε (IED 30 2, 3 e 9) (vii) δαμοσιοία (IED 30 4); talvez
(viii) ἐκπέμπα (IED 30 11) (se ' át. ἐκπέμπῃ).

6 Rotacismo de /s/ final a /r/: /ς/ > /ρ/.

O dialeto eléio apresenta rotacismo de /s/ a /r/ (supostamente com uma fase
intermediária /z/) apenas na posição final de palavra. O fenômeno é aleatório e
pode ou não acontecer em uma mesma inscrição. Os exemplos são: (i) τοῖρ (IED
10 1, 12 1, 15 4-5, 30 10); (ii) τιρ (IED 10 7, 30 3, 30 12); (iii) Χαλαδρίορ (IED 12 1)
(iv) μάντιερ̣(IED 14 5); (v) τὸρ (6); (vi) ἰα[ρ]ομάορ̣ (idem); (vii) ταὶρ (IED 15 3, IED 30
1); (viii) τᾶρ (IED 16 2, 25 2-3); (ix) ōρ͗ /ὠρ (IED 20 2, 30 13); (x) ὂρ (3); (xi) γᾶρ (IED
25 3); (xii) γενεαὶρ (IED 30 1); (xiii) Διὸρ (4-5); (xiv) αἴματορ (5); (xv) δηλόμ<ενο>ρ
(idem); (xvi) ἀνάατορ (6); (xvii) τοίρ (8-9)

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7 Artigo nominativo plural τοι.

O artigo em eleio aparece conforme esperado pelo desenvolvimento fonoló-


gico do PIE *toi ̯ (ex. véd. te): (i) τοὶ (IED 10 l.6; 14 l.4 e l.5; 15 l.2; 16 l.1; 20 l.3); a
forma ática οἱ parece ser refeita analogicamente com vistas ao nominativo sin-
gular ὁ.

8 Declinação dos temas em -ο e convergência de acusativo e dativo plurais.

As formas de acusativo plural em eleio para temas em -ο são marcadas pelas


desinências -ος/-ορ: (i) τὸρ (IED 14 6); (ii) ἰα[ρ]ομάορ̣ (IED 14, 6) e (iii) μανασίος
(IED 25 5-6); e -οις/-οιρ: (iv) τοίρ (IED 30 8-9)6 . Esse duplo resultado foi produzido
pelo sandhi que deve ter acontecido em algum ponto da história do grego, no
qual a sequência V̆ns teria duas formas que depois perderiam o condicionamento
fonológico e variariam livremente:

1. V̆ns# > V̆s / _ #V

2. V̆ns# > Vi ̯s / _ #C (em outros dialetos V̄s)7

Dadas essas formas, os dativos plurais de temas em -ο com desinência em -οις/-


οιρ passam a ser homófonos aos acusativos plurais o que permite a extensão das
desinências -ος/-ορ8 também para eles, como em: (iii) τοῖρ Χαλαδρίορ (IED 12 1)
(iv) τὸς Ἀναίτο[ς] (IED 14 1); (v) τὸ[ς] Μεταπίος (IED 14 1-2); (vi) τοῖρ Ἀθαναίος
(IED 15 4) e (vii) αὐτὸς (IED 15 5).
6
Mais exemplos em Minon (2007, p. 356).
7
As formas femininas de acusativo plural parecem seguir via de regra esse resultado fonoló-
gico. Há exemplos com o primeiro (cf. IED 5 7), mas nenhum nas inscrições analisadas aqui.
8
A extensão pode ter ocorrido para os dativos femininos, mas não há registro (MINON, 2007,
p. 376–377).

4
9 Condicionais com αἰ(-τε) equivalente a εἰ(-τε).

A conjunção condicional usada em eleio é αἰ, atestada em: IED 4: 1, 2 e 5; IED


10: 3, 5 e 7; IED 11: 5 e 7; IED 14: 5; IED 20: 2, 6, 7 e 8; IED 25: 7; e IED 30: 3, 10 e 12.
A forma seguida de -τε também é atestada: IED 4: 5; IED 10: 3, 8 e 9; e IED 30: 4.

10 Partícula modal com κα equivalente a ἄν.

Ocorrências da partícula modal κα: IED 4: 1 -4; IED 10: 3-5 e 9; IED 14: 4; IED
20: 5, 7 e 8; e IED 30: 6, 7 e 11.

Referências

CHANTRAINE, Pierre. Morphologie Historique du Grec. Paris: Éditions


Klincksieck, 1984.

DOSUNA, Julián Victor Méndez. On ‹Ζ› for ‹Δ› in Greek dialectal inscriptions.
Die Sprache, v. 35, n. 1, p. 82–114, 1993.

. Review of S. Minon, Les inscriptions éléennes dialectales (Ve-IIe


siècle avant J.-C.). Volume I (Textes), Volume II (Grammaire et vocabulaire
institutionnel), Genève: Droz. 2007. Kratylos, v. 54, p. 80–88, 2009.

LEJEUNE, Michel. Phonétique Historique du Mycénien et du Grec Ancien.


Paris: Éditions Klincksieck, 1987.

MINON, Sophie. Le Zêtacisme Éléen. Bulletin de la Société de Linguistique de


Paris, v. 93, n. 1, p. 181–210, 1998.

. Les inscriptions éléennes dialectales (VIe-IIe siècle avant J.-C.)


Genebra: Libraire Droz S.A., 2007.

THÉVENOT-WARELLE, A. Le dialecte grec d’Élide. Phonétique et phonologie.


Nancy: Presses Universitaires de Nancy, 1988.

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