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1.

Apesar de o processo de urbanização no Brasil ter acontecido principalmente no


século XX, ele preserva grande parte das bases da "sociedade patrimonialista e
clientelista próprias do Brasil pré-colonial" (MARICATO).
A hegemonia capital, industrial e populacional da região Sudeste tem sua origem
na economia colonial. Teve início com o ciclo do ouro, em Minas Gerais, e sua
consumação se deu com os desdobramentos da economia cafeeira.
A partir de 1930, com o modelo de industrialização por substituição de
importações "muda-se de 'uma economia fragmentada em economias regionais para
uma economia nacional regionalmente localizada', polarizada pelo Sudeste"
(PASTERNAK, 2003).
Todo esse processo histórico resultou nas características marcantes da
urbanização: o seu rápido processo de crescimento (da década de 40 até os anos 2000
a população que residia nas cidades septuplicou); a grande concentração da população
nas cidades e a enorme desigualdade socioespacial.
Outro fator importante é o domínio dos interesses privados sobre os públicos,
herança da histórica sociedade patrimonialista brasileira. Atualmente, o que se observa
nas grandes cidades é a lei urbanística sendo ultrapassada pelos interesses do capital;
seja por meio do mercado imobiliário privado legal, seja por outros investimentos, como
os megaeventos (Copa do Mundo e Olimpíadas).
2. As cidades brasileiras seguem o padrão de crescimento das europeias e latino-
americanas - modelo de urbanização tradicional - com os mais abastados
financeiramente ocupando a área central, e os pobres sendo jogados para as periferias.
3. As favelas brasileiras são um fenômeno metropolitano - surgiram com maior
ênfase nas duas maiores metrópoles brasileiras: Rio de Janeiro e São Paulo. Sua
origem data entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com as
reformas urbanas realizadas em múltiplas cidades brasileiras (no Rio de Janeiro a
reforma Pereira Passos, e em São Paulo o plano de avenidas de Prestes Maia).
Maricato caracteriza as favelas como "bombas socioeconômicas": concentração
territorial homogeneamente pobre, ociosidade e ausência de atividades culturais,
ausência de regulação social e ambiental, precariedade urbanística e mobilidade restrita
ao bairro. Uma das mais graves privações dessa população, no entanto, pode ser
identificada na área de saneamento: pelo Censo de 1991, apenas 26% das casas
estavam ligadas à rede púlica de esgoto.
Todas essas condições, no entanto, têm sofrido mudanças nos últimos anos.
Pasternak (2003) coloca que atualmente as favelas têm sido mais servidas por serviços
públicos, e as unidades de moradia são compradas e vendidas, numa simulação de
mercado formal. Além disso, começa a surgir uma diferenciação sociespacial dentro da
própria favela, com "espaços específicos onde moram segmentos sociais de distintos
poder aquisitivo"; e o tempo prolongado de moradia das pessoas nas favelas coloca
esse fenômeno de segregação socioespacial como parte "integrante e até mesmo
estruturante da cidade brasileira".
4. O padrão de crescimento da cidade de Juiz de Fora, assim como sua situação
habitacional não se diferem do padrão observado nas metrópoles e cidades médias
brasileiras. Com o modelo de urbanização tradicional temos os bairros próximos ao
centro com os melhores índices de habitabilidade (bairro bom pastor, por exemplo); e
áreas de habitação subnormal espalhadas pela periferia da cidade.
As "vistas grossas" do poder público, relacionada à "pressão do mercado
imobiliário que reserva para si áreas com maiores investimentos da cidade" (TEIXEIRA,
LAWALL, 2012) impedem, porém, a realização de políticas públicas efetivas, como o
Plano Municipal de Habitação, proposto em 2007 e que até hoje não foi implementado
pela prefeitura da cidade.

Referências bibliográficas:
- MARICATO, Ermínia. Brasil, Cidades. p. 15-45;
- PASTERNAK TASCHNER, Suzana. O Brasil e suas Favelas. In: ABRAMO, P. (org.).
A Cidade da Informalidade. O Desafio das Cidades Latino-Americanas. Rio de Janeiro:
Sette Letras/FAPERJ, 2003, p. 13-42;
- TEIXEIRA, B. B.; LAWALL, J. S.. Habitação em Juiz de Fora: diagnóstico e experiência
de formulação de política. In: Letícia Maria de Araújo Zambrano; Jorge Mtanios Iskandar
Arbach; Janaina Sara Lawall; Tatiana Leal Andrade. (Org.). Habitação social em Juiz de
Fora: debates e projetos. 1ed.Juiz de Fora, MG: Editora da UFJF, 2012, v. 1, p. 1-13.

Vídeos:
- Libertários, de Lauro Escorel (1976).
https://www.youtube.com/watch?v=qh3H8mtFe6U;
- Domínio Público, Paêbiru (2014). https://www.youtube.com/watch?v=dKVjbopUTRs;
- Entre Rios - A Urbanização de São Paulo, Editoracontexto (2011).
https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc.

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