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Gabriel Guimarães Marini – 9321040

NOGUEIRA, Adriana, “Justiça, lei e poder na História da Guerra do


Peloponeso”, Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias, vol. 30,
2012

Problema: Qual é a posição de Tucídides no amplo debate sobre o a preponderância


da Lei (Nomos) ou da Natureza (Phýsis) como fonte da justiça? Qual é o motivo do
alheamento de Tucídides por parte dos especialistas modernos?

Tese: Tucídides valoriza a Natureza como fonte da Justiça, em especial pela via do
respeito ao poder e das “leis não escritas”, suscitando, entretanto, uma visão
“moderadora” do Nomos. Suas visões foram deixadas de lado pelos comentadores
pelos comentadores até o séc. XV por serem menos teóricas quando vistas por um
viés especificamente estreito a respeito da distinção entre poesia e história.

Desenvolvimento: O ambiente grego, propulsionado pelo desenvolvimento


socioeconômico, permitiu o surgimento da tradição sofística, na qual os diversos
Dissoi Logoi foram levados a cabo, inclusive o que versava sobre as fontes últimas
dos valores supremos – a saber, a convenção humana ou a natureza.

Tucídides claramente tinha uma posição neste debate, mas sua opinião, em termos
históricos, é marginal. Para o historiador, fora situações limítrofes, o nomos é incapaz
de domar completamente a phýsis, que, em último grau, pode servir - esta sim - como
uma executora, por meio do poder, de convenções legais que serão, portanto,
legitimadas em certo nível. Ou seja, há um caráter moderador nas convenções.

A análise de Tucídides suscita a visão de que a justiça somente surge se há, como
pressuposto, algum poder de negociação entre as partes. Corinto e Corcira, colocadas
em um jogo regional de influências ou, usando o linguajar das modernas Relações
Internacionais, de interesses realistas, acabam por servir como a gota d´água mais
superficial do início da guerra, tornando-se exemplar no domínio da natureza violenta
sobre a vontade convencional. A questão pós-embate entre Plateias e Tebas é outro
exemplo. Ambos os lados - o vencedor que decidira aplicar uma punição dentro dos
limites legais e o perdedor, que se defendeu com argumentos igualmente legalistas -
argumentaram que a lei convencional fora descumprida, e que aqueles que
transgrediram a norma deveriam ser forçosamente apenados. Ou seja, sem o poder,
que tem fontes naturais, as leis tornam-se vazias. O exemplo mais claro, talvez, esteja
presente na Oração Fúnebre, onde punições às ofensas contra a lei não-escrita são
tidas como uma resposta divina justa. A obediência é devida a quem tem o poder: em
outras palavras, a instância sancionadora era a cidade.

A marginalização de Tucídides começou com Platão e, em especial, com a distinção


aristotélica entre o historiador e o poeta, e que parece ter sido absorvida como basilar
para o pensamento posterior. Para Nogueira, entretanto, o trabalho de Tucídides
caberia mais na segunda categoria, referindo-se mais às questões universais,
inclusive filosóficas, do que às meras descrições históricas.

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