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Trecho de uma Entrevista com Peter Pál Pelbart. Colectivo Situaciones Impasse : dilemas políticos del presente / coordinado por Colectivo Situaciones. - 1a ed.
- Buenos Aires : Tinta Limón, 2009.
encarrega de distinguir entre uma destruição que provem do arrependimento, da sede de vingança e o
odio, e outro tipo de destruição que se origina de um enfático SIM. Essas figuras nos permitem realizar
um diagnóstico diferencial dos niilismos, nos permiten interrogar que tipo de forças estão lutando por
existir: Que forças estão pressionando para passar? São forças ativas ou reativas? É um movimento
afirmativo ou negativo? Estamos ante um processo de superabundância vital ou pendendo a uma
pauperizacão da existencia? Gostaria de ficar com a imagem deste momento delicadísimo do niilismo,
a uma só tempo ambiguo e privilegiado em que está em jogo a passagem de forças incipientes, que
aparecen enredadas em formas, que, ainda que quebradas, partidas e claudicantes, operan como
prisões. Perceber esse ponto de viragem das forças é o mais difícil, pois não sabemos- e precisaríamos
ver em cada caso- se estamos em um proceso que tende à morte ou se estamos em pleno nascimento.
Pode ser uma pessoa, uma cultura, um acontecimento, dá no mesmo. Há um instante em que não
sabemos ao certo se tudo está em vías de cansar-se (mortalmente) e sucumbir ou se está ocorrendo uma
reinvención. Há quem desenvolva um olfato extremamente agudo nestas situacões. Nietzsche, por
exemplo, sente com muita nitidez o cheiro da decadência e acompanha quase com prazer de
anatomista o que está apodrecendo, pois ao mesmo tempo ele percebe aquilo que vai se liberando. Me
pergunto se o nosso desafio hoje não tem ha ver com essa operação quase esquizofrénica, que passa
por apreender o que está morrendo e descobrir o que vai nascer, quem sabe ao mesmo tempo e, às
vezes, nos mesmos fenômenos. Se for assim devemos ter em conta algo que poderíamos chamar a
“tonalidade afetiva”, que para mim define a natureza de qualquer filosofía. É a capacidade, por um
lado, de enterrar o que está morrendo. Goethe fala de um direito das coisas que se consumaram de
serem enterradas. E simultâneamente há outro direito, que não é só o que tem as vidas que estão
constituidas. Precisamos pensar também no direito daquilo que ainda não nasceu, o que como disse
Nietzsche, está por vir. Enterrar o que está morto para que possa germinar o que está vindo e que ainda
não sabemos o qué é, porque ainda não tem nome nem forma reconhecível. Nietzsche menciona uma
figura um pouco dramática para referir-se ao que vem além do homem. O“super-homem” que não é o
homem elevado a enésima potência, mas a dissolução da forma-homem enquanto tal, da moral e da
razão, do corpo adestrado, domesticado, racionalizado. Mas o que importa não é tanto a definição do
que vem, se não a ideia de que aquela destruição é a condição de uma travessia, a abertura de uma
posibilidade. Esta sensibilidade habilita a alguns a atravessar a catástrofe com alegría e até com alívio.
Em qualquer caso, sem catastrofismo. Zero de nostalgia e de melancolia, mas também sem
ingenuidade. Porque o novo é absolutamente indeterminado, é imponderável e não há nenhuma
necessidade (progresso) histórica para que aquilo que vem seja melhor do que foi. Não há garantias.