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ANO edição

dez
abr
XXIII 91 2016
COMUNIDADES

As novas restrições foram um envolvidas: compareceram mais Judaísmo, em um grande espetáculo


grande golpe para os judeus ainda de 60 cardeais, bispos e outras público, e despertar o entusiasmo
que continuassem a ser ignoradas personalidades religiosas e laicas. As popular pelo Cristianismo como
pelas classes governantes pelo tempo fontes judaicas mencionam cerca única religião válida, e então efetuar
que lhes conviesse. Na mesma época, de 20 participantes do lado judeu, uma conversão em massa dos judeus.
com a aproximação entre o Antipapa sendo suas personalidades mais Quanto ao desfecho da Disputa em
Benedito XIII – reconhecido como proeminentes os Rabis Zerahiah ha- Tortosa, historiadores concordam
Papa na Espanha, e Fernando I de Levi, Astruc ha-Levi, Joseph Albo e que a derrota judaica não foi plena.
Aragão, surgiu uma aliança política Mattathias ha-Yizhari. Mesmo diante das dificuldades e
entre a Igreja e a Coroa contra os da grande pressão que sofreram,
judeus. A “guerra contra os judeus” A disputa não foi um debate, os judeus se comportaram com
tornou-se uma política oficial desses mas uma exibição pública, e o coragem, fazendo uso de argumentos
dois poderes. método utilizado não privilegiou dignos e sensatos. A contestação
1
a discussão, mas a instrução. judaica aos argumentos cristãos
Em 1412, Benedito XIII, com o Os judeus tinham que apenas produziu as melhores respostas
apoio de Fernando I, ordenou que as responder aos questionamentos oferecidas dentre todas as disputas
comunidades de Aragão e Catalunha de Jerônimo de Santa Fé, sendo- judaico-cristãs na Idade Média.
enviassem delegados para Tortosa, lhes proibida a oportunidade de
para que fossem debatidas em sua réplica. A disputa foi um ataque Para a população judaica, as
presença as alegações de Gerónimo verbal cristão contra os judeus, consequências foram bastante
de Santa Fé, um apostata judeu acompanhado de pressão psicológica negativas. Enquanto os rabinos
de nome Joshua Lorki, que dizia – a ponto de intimidação e ameaças, eram obrigados a enfrentar as
poder provar em fontes judaicas a a fim de obrigá-los a aceitar os alegações cristãs em Tortosa, os
autenticidade do messianismo de argumentos de seus adversários. frades andavam pelas comunidades
Jesus. Como afirmara Benedito XIII na judaicas desprovidas de líderes,
abertura da disputa: “Eu não vos fiz e, como consequência, muitos se
A Disputa de Tortosa, que teve vir aqui para provar qual de nossas desesperaram e se converteram. No
início em 1413 e durou 20 meses, religiões é a verdadeira, pois para entanto, a intenção de Benedito
foi a mais longa e importante das mim é perfeitamente claro que a XIII, em tornar o Cristianismo um
disputas cristãs-judaicas impostas minha é verdadeira e que a vossa símbolo de identificação para todos
aos judeus durante a Idade Média. está ultrapassada”. Para os cristãos os habitantes da Península Ibérica
Essa Disputa de Tortosa, dirigida era indispensável que os judeus não se realizou.
por Benedito XIII, adquire maior reconhecessem falhas na própria
relevância não apenas pelo tempo interpretação do Talmud, no que diz A onda de antissemitismo, resultante
que durou, mas também pelo respeito ao Messias. da disputa em Tortosa acabou
número de autoridades eclesiásticas perdendo força. Quando Afonso V
Os motivos que levaram a instituir de Aragão assumiu o poder, tanto
a disputa são vários. As autoridades ele quanto João II de Castela e
eclesiásticas queriam desmoralizar o Leon, estavam mais interessados
em assuntos seculares do que em
fanatismo religioso. Ambos queriam
a sobrevivência das comunidades
judaicas para beneficiar seus reinos.
Entre 1419 e 1422, João II, Afonso V
e o Papa Martin V aboliram
todos os éditos antijudaicos desde
1391, juntamente com algumas
das restrições socioeconômicas.
Sefer Torá, Séc. 14 Outras restrições caíram em desuso.
ou 15, município de
Calahorra ou Tudela.
Algumas sinagogas e o uso do
(La Rioja), Espanha Talmud foram restituídos aos judeus.

68
No reino de Castela-Leon, onde
viviam a maioria dos judeus
espanhóis, sua população judaica
conseguiu uma recuperação melhor.
Ainda restavam comunidades nas
principais cidades (Sevilha, Toledo,
Burgos), mas os judeus estavam,
então, mais dispersos por várias
cidades menores.

No entanto, prejuízos irreparáveis


tinham sido feito às comunidades,
pelos eventos de 1391, 1412 e 1413
não tinham volta. O judaísmo
espanhol jamais voltaria à condição
que desfrutava antes de 1391. Mas,
apesar de todas as depredações,
ainda restavam vários judeus de
posses nas grandes cidades, com
conexões na Corte e no governo, que
atuavam como líderes comunitários.
Contudo, eles já não gozavam do haviam convertido e viviam como
semi-monopólio das profissões cristãos; e os criptojudeus, que
intelectuais, e os cargos que antes repudiavam os batismos forçados
possuíam, agora tinham que dividir e, no segredo de seus lares,
com cristãos e conversos – sendo que permaneciam judeus. Segundo a lei
havia agora muitos milhares destes judaica, os conversos ainda eram
últimos. judeus, pois as conversões forçadas
não têm validade, já que um homem
Os conversos só pode ser responsabilizado pelas
atitudes que toma por livre e
A enchente de conversos do espontânea vontade.
Judaísmo resultante da violência
e insistente pressão exercida sobre Precisa ser ressaltado que nem
os judeus, durante décadas, foi todos os cristãos-novos, como eram
um verdadeiro desastre para as também chamados, haviam sido
comunidades judaicas, e um aparente forçados a se converter. Alguns
triunfo para a Igreja. Mas para o haviam feito por livre vontade
o Cristianismo, foi um cálice de por acreditar na fé cristã, outros
veneno. por quererem fugir da legislação
discriminatória de humilhações às
Estima-se que até meados de quais os judeus estavam submetidos
1415 outros 50 mil judeus se e poder, assim, alcançar ambições
converteram, juntando-se aos 100
mil que já o haviam feito durante os
pogroms de 1391.

Como resultado dessas conversões,


a população judaica ficou dividida
em três grupos: os que haviam
permanecido judeus, os que se

69
COMUNIDADES

Os últimos 100 anos


dos judeus na Espanha
No ano de 1492, os judeus da Espanha que, no decorrer dos
séculos, haviam adquirido mais poder econômico e político
do que qualquer outra comunidade judaica medieval, foram
sumariamente expulsos do país. O Édito de 31 de março, outorgado
pelos reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela, tornara o
judaísmo ilegal em seus domínios e, num prazo de quatro meses,
os judeus tiveram que escolher entre o exílio ou o batismo.

O
Édito foi um choque. Os judeus a Reconquista chegou praticamente ao fim, a atitude
acreditavam serem transitórias, como tantas dos monarcas em relação aos judeus se transformou.
outras, as perseguições e discriminações Não sendo mais necessários para administrar as terras
das quais tinham sido vítima a partir do reconquistadas, os judeus passaram a ser vistos apenas
final do século 14. Havia judeus vivendo como uma vultuosa fonte de renda para a Coroa.
na Península Ibérica desde a queda do Segundo Templo,
e, durante os séculos, haviam sobrevivido a invasões, Não há dúvida de que no século 14 o poder da Igreja
guerras, pogroms, ao domínio islâmico e cristão. Viveram Católica crescera em demasia e, consequentemente, a
épocas de ouro e de discriminações. Estavam convencidos situação dos judeus na Europa tornava-se cada vez mais
de que sua proeminência em todas as esferas da vida difícil. Após a Igreja determinar que as heresias cristãs
econômica, além da presença na Corte de judeus que deviam ser vistas não apenas com um flagrante desafio
atuavam como administradores e conselheiros dos reis, às doutrinas católicas, mas também como um desafio
serviriam de proteção contra a hostilidade da Igreja e à própria estrutura da Igreja Romana, e que deveriam
do povo. Ademais, acreditavam que os Reis Católicos, ser eliminadas nem que fosse pela força, era inevitável
nome pelo qual ficaram conhecidos Fernando de Aragão a pergunta sobre o que fazer com a presença judaica na
e Isabel de Castela, os protegeriam. Afinal, até 1491 e Europa.
mesmo no início de 1492, depois da captura de Granada,
os reis ainda nomeavam judeus para importantes postos A partir do Concílio de Latrão, em 1215, a Igreja passa
na Corte e haviam também renovado os contratos com a exigir dos governantes ações mais severas em relação
os judeus que arrecadavam impostos. O choque sobre a à população judaica. No entanto, por muito tempo, as
decisão dos Reis Católicos não era fruto de ilusões sem mesmas não foram acatadas pelos reis cristãos da Península
fundamento... Ibérica ainda dividida entre vários reinos autônomos.

No entanto, a expulsão foi o desfecho de um processo A atitude benevolente dos monarcas com os judeus era
lento e progressivo de mais de dois séculos. Quando guiada por interesses próprios. Em Castela e Aragão, por

65 abril 2016
COMUNIDADES

As novas restrições foram um envolvidas: compareceram mais Judaísmo, em um grande espetáculo


grande golpe para os judeus ainda de 60 cardeais, bispos e outras público, e despertar o entusiasmo
que continuassem a ser ignoradas personalidades religiosas e laicas. As popular pelo Cristianismo como
pelas classes governantes pelo tempo fontes judaicas mencionam cerca única religião válida, e então efetuar
que lhes conviesse. Na mesma época, de 20 participantes do lado judeu, uma conversão em massa dos judeus.
com a aproximação entre o Antipapa sendo suas personalidades mais Quanto ao desfecho da Disputa em
Benedito XIII – reconhecido como proeminentes os Rabis Zerahiah ha- Tortosa, historiadores concordam
Papa na Espanha, e Fernando I de Levi, Astruc ha-Levi, Joseph Albo e que a derrota judaica não foi plena.
Aragão, surgiu uma aliança política Mattathias ha-Yizhari. Mesmo diante das dificuldades e
entre a Igreja e a Coroa contra os da grande pressão que sofreram,
judeus. A “guerra contra os judeus” A disputa não foi um debate, os judeus se comportaram com
tornou-se uma política oficial desses mas uma exibição pública, e o coragem, fazendo uso de argumentos
dois poderes. método utilizado não privilegiou dignos e sensatos. A contestação
1
a discussão, mas a instrução. judaica aos argumentos cristãos
Em 1412, Benedito XIII, com o Os judeus tinham que apenas produziu as melhores respostas
apoio de Fernando I, ordenou que as responder aos questionamentos oferecidas dentre todas as disputas
comunidades de Aragão e Catalunha de Jerônimo de Santa Fé, sendo- judaico-cristãs na Idade Média.
enviassem delegados para Tortosa, lhes proibida a oportunidade de
para que fossem debatidas em sua réplica. A disputa foi um ataque Para a população judaica, as
presença as alegações de Gerónimo verbal cristão contra os judeus, consequências foram bastante
de Santa Fé, um apostata judeu acompanhado de pressão psicológica negativas. Enquanto os rabinos
de nome Joshua Lorki, que dizia – a ponto de intimidação e ameaças, eram obrigados a enfrentar as
poder provar em fontes judaicas a a fim de obrigá-los a aceitar os alegações cristãs em Tortosa, os
autenticidade do messianismo de argumentos de seus adversários. frades andavam pelas comunidades
Jesus. Como afirmara Benedito XIII na judaicas desprovidas de líderes,
abertura da disputa: “Eu não vos fiz e, como consequência, muitos se
A Disputa de Tortosa, que teve vir aqui para provar qual de nossas desesperaram e se converteram. No
início em 1413 e durou 20 meses, religiões é a verdadeira, pois para entanto, a intenção de Benedito
foi a mais longa e importante das mim é perfeitamente claro que a XIII, em tornar o Cristianismo um
disputas cristãs-judaicas impostas minha é verdadeira e que a vossa símbolo de identificação para todos
aos judeus durante a Idade Média. está ultrapassada”. Para os cristãos os habitantes da Península Ibérica
Essa Disputa de Tortosa, dirigida era indispensável que os judeus não se realizou.
por Benedito XIII, adquire maior reconhecessem falhas na própria
relevância não apenas pelo tempo interpretação do Talmud, no que diz A onda de antissemitismo, resultante
que durou, mas também pelo respeito ao Messias. da disputa em Tortosa acabou
número de autoridades eclesiásticas perdendo força. Quando Afonso V
Os motivos que levaram a instituir de Aragão assumiu o poder, tanto
a disputa são vários. As autoridades ele quanto João II de Castela e
eclesiásticas queriam desmoralizar o Leon, estavam mais interessados
em assuntos seculares do que em
fanatismo religioso. Ambos queriam
a sobrevivência das comunidades
judaicas para beneficiar seus reinos.
Entre 1419 e 1422, João II, Afonso V
e o Papa Martin V aboliram
todos os éditos antijudaicos desde
1391, juntamente com algumas
das restrições socioeconômicas.
Sefer Torá, Séc. 14 Outras restrições caíram em desuso.
ou 15, município de
Calahorra ou Tudela.
Algumas sinagogas e o uso do
(La Rioja), Espanha Talmud foram restituídos aos judeus.

68
No reino de Castela-Leon, onde
viviam a maioria dos judeus
espanhóis, sua população judaica
conseguiu uma recuperação melhor.
Ainda restavam comunidades nas
principais cidades (Sevilha, Toledo,
Burgos), mas os judeus estavam,
então, mais dispersos por várias
cidades menores.

No entanto, prejuízos irreparáveis


tinham sido feito às comunidades,
pelos eventos de 1391, 1412 e 1413
não tinham volta. O judaísmo
espanhol jamais voltaria à condição
que desfrutava antes de 1391. Mas,
apesar de todas as depredações,
ainda restavam vários judeus de
posses nas grandes cidades, com
conexões na Corte e no governo, que
atuavam como líderes comunitários.
Contudo, eles já não gozavam do haviam convertido e viviam como
semi-monopólio das profissões cristãos; e os criptojudeus, que
intelectuais, e os cargos que antes repudiavam os batismos forçados
possuíam, agora tinham que dividir e, no segredo de seus lares,
com cristãos e conversos – sendo que permaneciam judeus. Segundo a lei
havia agora muitos milhares destes judaica, os conversos ainda eram
últimos. judeus, pois as conversões forçadas
não têm validade, já que um homem
Os conversos só pode ser responsabilizado pelas
atitudes que toma por livre e
A enchente de conversos do espontânea vontade.
Judaísmo resultante da violência
e insistente pressão exercida sobre Precisa ser ressaltado que nem
os judeus, durante décadas, foi todos os cristãos-novos, como eram
um verdadeiro desastre para as também chamados, haviam sido
comunidades judaicas, e um aparente forçados a se converter. Alguns
triunfo para a Igreja. Mas para o haviam feito por livre vontade
o Cristianismo, foi um cálice de por acreditar na fé cristã, outros
veneno. por quererem fugir da legislação
discriminatória de humilhações às
Estima-se que até meados de quais os judeus estavam submetidos
1415 outros 50 mil judeus se e poder, assim, alcançar ambições
converteram, juntando-se aos 100
mil que já o haviam feito durante os
pogroms de 1391.

Como resultado dessas conversões,


a população judaica ficou dividida
em três grupos: os que haviam
permanecido judeus, os que se

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expulsos. Em maio de 1486, todos os à tortura, ele “confessou” o nome Logo após a queda de Granada,
judeus foram enxotados de grandes de vários conversos e judeus começaram a circular rumores na
partes de Aragão. Mas a expulsão supostamente envolvidos num corte de que um decreto de expulsão
geral teve de ser adiada porque a complô para derrubar o Cristianismo, para todos os judeus estava para ser
Coroa precisava do dinheiro, expertise a Inquisição e matar todos os cristãos. decretado. As datas específicas para a
e outras formas de apoio dos judeus Ainda que nenhuma criança estivesse formulação, promulgação e anúncio
e conversos para a campanha em desaparecida em La Guardia, nem público do decreto continuam alvo
andamento contra os muçulmanos houvesse fundamento na patológica de discussão, mas provavelmente
do Reino de Granada. acusação de assassinato ritual, os foram assinados em fim de janeiro e
Em 1478, a batalha com o Reino judeus, uma vez mais, se viram promulgados no final de março.
de Granada foi retomada e, na vítimas dessa calúnia medieval.
década seguinte, Castela perseguiu, Torquemada indicou uma comissão Nesse ínterim, Rabi Abrabanel e
incessantemente, a ofensiva contra especial investigadora que, como se Rabi Seneor tentaram influenciar
o último reino muçulmano na previa, “julgou culpados” os acusados. os Reis Católicos a revogar o
Península Ibérica. Em novembro de 1491, duas decreto. Na introdução a seu
semanas antes da queda de Granada, comentário sobre os Profetas, Rabi
Torquemada aceitou o adiamento cinco judeus e seis conversos foram Abrabanel recorda ter-se reunido
pela Coroa da expulsão de todos os mandados para a fogueira em Ávila. três vezes com o Rei, implorando,
judeus da Espanha até que o Reino incessantemente, mas em vão, por
muçulmano de Granada fosse final O intuito de Torquemada era atiçar seu povo. Apesar de necessitar do
e definitivamente conquistado. Mas, ainda mais o povo contra os judeus apoio dos poderosos cortesãos judeus
nesse meio tempo, passou a preparar e conversos, e assim preparar os e conversos, Fernando manteve-se
o terreno. ânimos para o decreto de expulsão, firme, enquanto Isabel o estimulava a
que seria divulgado apenas três meses manter sua decisão de remover todos
Assim surgiu uma acusação de após o veredicto. os judeus da Espanha.
libelo de sangue, conhecida como
El Niño de la Guardia. Um converso, Em 2 de janeiro de 1492, quando Rabi Abrabanel é bastante sucinto
Benito Garcia, foi levado perante a o estandarte espanhol foi alçado na em sua descrição de seu dramático
Inquisição e acusado de participar torre de Alhambra, palácio-fortaleza encontro com o casal real, mas Rabi
da crucificação de uma criança cristã em Granada, a sorte dos judeus Moshé Capsali, Rabino Chefe de
na véspera de Pessach. Submetido estava selada. Istambul no século 15, e cronistas

francisco rizi, auto-da-fé na Plaza Mayor, Madri. Museu Nacional do Prado

73
COMUNIDADES

em uma grande cerimônia, em junho


de 1492. Ambos eram favoritos
da Rainha Isabel e é possível que
eles ou suas famílias tenham sido
ameaçados, até se submeterem.
Outro líder da comunidade, Rabi
Don Isaac Abravanel, recusou-se a
se converter e optou pelo exílio, mas
teve que renunciar a seus direitos de
restituição das grandes somas que
emprestara ao governo.

O número de judeus que se


converteram para evitar o exílio e
aqueles que partiram é puramente
especulativo. Entre os que partiram,
a grande maioria foi para Portugal.
O número destes últimos é estimado
entre 100 mil e 120 mil. É possível
Na esquina das ruas Mariet com Rincón del Viejo, há uma lápide com a inscrição: que mais uns 50 mil tenham-se
Rabi Shmuel Ha-Sardi exilado em vários outros destinos
partindo direto da Espanha em 1492,
para as terras mediterrâneas, alguns
que se basearam nos relatos de Os judeus estavam estarrecidos; para a África Ocidental, poucos para
Capsali, revelam detalhes da última eles teriam apenas quatro meses a Holanda.
defesa dos Mestres sefaraditas: de tempo para deixar a Espanha,
“Naquele dia, Don Isaac Abravanel onde seus ancestrais tinham vivido A História dos judeus na Península
recebeu permissão para falar e durante milênios. Ademais teriam Ibérica chegara ao fim. Uma
defender seu povo. E lá se pôs, como que deixar bens e propriedades e comunidade judaica famosa, tanto
um leão, em sabedoria e força, e, na lhes foi proibido levarem consigo por sua sabedoria e conhecimentos
mais eloquente linguagem, dirigiu- ouro, prata ou pedras preciosas. As quanto por sua importância
se ao Rei e à Rainha. Don Abram sinagogas (algumas das quais foram econômica e política foi abrupta e
Seneor, também, dirigiu-se aos convertidas em igrejas), cemitérios cruelmente desarraigada.
monarcas, mas vendo que era em vão, e a propriedade das aljamas foram Mas, sua extraordinária civilização
eles acabaram concordando em não confiscadas. A pedido dos judeus, a não desapareceu, pois, os
seguir adiante com o assunto...”. data fatídica de 31 de julho foi adiada judeus expulsos levaram seus
para 2 de agosto por causa de Tishá conhecimentos, sua sabedoria e
Apesar de assinado em 31 de março, B’av. tradições para outras terras. Mas isto
o Édito da Expulsão foi promulgado é um outro capítulo da História dos
somente entre 29 de abril e Imediatamente após ter sido Judeus Sefaraditas...
1º de maio. A razão dada no publicado o Édito, o clero
documento para a expulsão foi evitar começou uma ampla campanha
que os judeus infligissem de conversão. Houve um
mais injúrias à religião cristã. O número significativo de judeus
Édito enumera, em um estilo que que claramente não tinham BIBLIOGRAFIA
Cohen, Malcolm, A Short History of the
denota ter sido redigido pelos condições de enfrentar o exílio e Jews in Spain, eBook Kindle
inquisidores, os passos tomados se batizaram. Entre esses, dois dos
Gerber, Jane S., The Jews of Spain, eBook
durante os 12 anos anteriores para mais importantes membros da Kindle
“evitar que os judeus influenciassem comunidade judaica espanhola, Don
Lowney, Christopher, A Vanished
os conversos e para purificar a fé Abraham Seneor e seu genro, Rabi World: Medieval Spain’s Golden Age of
cristã”. Meir Melamed, que foram batizados Enlightenment, eBook Kindle

74
REVISTA MORASHÁ

O artigo “A conturbada vida judaica na Espanha


cristã”, publicado na edição de dezembro de 2015,
número 90, é uma aula magna sobre a história dos
Judeus de Sefarad -na Península Ibérica-, suas
comunidades, domínios a que foram submetidos,
resistência, reconquista e pogroms.
Deborah Simas
Curitiba - PR

A rmamos nosso prop sito Cada vez que recebo a Morashá, que Gostaria de parabenizar pela
de desenvolver, em parceria, completa a minha sele ªo e arquivo de revista Morashá pela edi ªo
programas de incentivo leitura assuntos importantes do juda smo, co de dezembro de 2015, estÆ linda
e dinamiza ªo da Biblioteca encantado pela beleza grÆ ca e esmero e completa como sempre.
Pœblica do Esp rito Santo, pelos assuntos de espiritualidade das Agrade o a toda equipe e ParabØns
consolidando-os como espa o nossas festas do Ano Judaico. O grato a todos!
de convivŒncia e como referŒncia e rico conteœdo de nossa sempre Danielle Chueke
quanto ao acesso informa ªo e ao atualizada vivŒncia de judeus no Por e-mail
conhecimento. mundo atual. Encantou-me o artigo
Na expectativa de contribuir para sobre Marthe Cohn Uma Hero na Nªo posso deixar de tecer elogios
valorizar nossas bibliotecas com para a Hist ria . Como dizem no Equipe que faz esta maravilhosa
a ıes e pol ticas pœblicas de amplia ªo Yad Vashem, o centro de mem ria em revista direcionada comunidade
e atualiza ªo de acervos e de est mulo Israel , De trÆs de cada pessoa tem judaica, seja pelo seu fantÆstico
s prÆticas de pesquisa e de leitura, uma hist ria dos que foram e dos que conteœdo, seja pela sua qualidade
agradecemos a cortesia do envio da estªo. grÆ ca.
revista Morashá. Ernesto Strauss Claudio Sternfeld
Rita de Cássia Maia e Silva Costa São Paulo - SP São Paulo - SP
Gerente do Sistema Estadual de
Bibliotecas Públicas do Espírito Santo
Como sempre, tambØm a edi ªo 90 de Morashá apresentou a seus
Morashá Ø de alto n vel e representa leitores a Hist ria de Purim, de
ParabØns pela magn ca edi ªo da os valores culturais judaicos. maneira criativa e ao mesmo tempo
revista Morashá nœmero 90 e pelas didÆtica. Imposs vel nªo fazer
Leopoldo Goldenberg
matØrias sobre Chanucá, que sªo Por e-mail uma analogia aos tempos atuais.
timas. Como sempre, a revista merece O Povo de Israel deve estar sempre
uma leitura integral, pois todos os Li a matØria sobre Os Protocolos dos alerta para o surgimento de um
artigos sªo muito bons. SÆbios de Siªo em que os judeus sªo novo Haman.
Elie Politi acusados de serem os seus autores.
São Paulo - SP Claudio Roitman
Achei bastante interessante o artigo e por e-mail
gostaria de receber informa ıes sobre
Equipe da Morashá desejamos fontes de pesquisa, documentÆrios e Retratando a vida e a trÆgica
primeiramente um Feliz Ano Novo e referŒncias do material utilizado em morte de Itzhak Rabin, a revista
agradecemos muito o envio da revista sua edi ªo. de suma import ncia ter Morashá resgata para o pœblico
para a Alliance IsraØlite Universelle- fontes de pesquisa para desmentir o em geral a import ncia de l deres
Paris. mau-caratismo desses antissemitas no autŒnticos e comprometidos pela
Anne-Laure Lachowsky Brasil. causa de sua gente.
Assistente da Biblioteca da Alliance
Israélite Universelle Luiz Henrique de O. Rocha Marcia Sandowski
Paris - França Por e-mail por email

75 abril 2016

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