Você está na página 1de 29

MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO,

DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA
E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR
DE ÓRGÃOS E TECIDOS
2ª edição
2016
Governador do Paraná
Beto Richa

Secretário de Estado da Saúde


Michele Caputo Neto
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ

Diretor Geral SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO DE SISTEMAS DE SAÚDE


Sezifredo Paz

Superintendente de Gestão de Sistemas de Saúde


Paulo Almeida

Coordenadora do Sistema Estadual de Transplantes


MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO,
Arlene Terezinha Cagol Garcia Badoch DIAGNÓSTICO DE
Autores MORTE ENCEFÁLICA
Luana Alves Tannous
Vera Maria de Cássia Yazbek E MANUTENÇÃO DO
Juliana Ribeiro Giugni
POTENCIAL DOADOR
©2016. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná
DE ÓRGÃOS E TECIDOS
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte.
Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Sistema Estadual de Transplantes. 2ª edição
Rua Piquiri, 170 – Rebouças
CEP: 80.230-140
Tel. (41) 3330-4300
www.saude.pr.gov.br

PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do


Paraná. Sistema Estadual de Transplantes.
Manual para Notificação, Diagnóstico de Morte CURITIBA
Encefálica e Manutenção do Potencial Doador de
Órgãos e Tecidos. – Curitiba: SESA/SGS/CET, 2016. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ
52 p.
2016
1. Morte Encefálica. 2. Doação de Órgãos
e Tecidos. I. Título.
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

SUMÁRIO INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 1 Muitas dúvidas conceituais e apreensões clínicas pairam acer-


I. CONCEITO E DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA...................................... 2 ca do protocolo de morte encefálica. Porém, esse diagnóstico
é muito importante e é o ponto inicial para o desencadeamen-
Il. FISIOPATOLOGIA DA MORTE ENCEFÁLICA.............................................................4
to do processo de transplante de órgãos.
IIl. PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA......................................................................5
Illa. Critérios para abertura ......................................................................................................5 O transplante é um tratamento efetivo para muitas doen-
ças e, eventualmente, se torna a única opção terapêutica.
Illb. Exames clínicos......................................................................................................................8
O objetivo do transplante de órgãos é melhorar a qualidade
Illc. Teste de apneia..................................................................................................................... 11 e salvar vidas.
Illd. Exame complementar.......................................................................................................13
A Central Estadual de Transplantes do Paraná (CET-PR) tem
Ille. Conduta após o término do protocolo...................................................................15
implementado estratégias para facilitar o diagnóstico e exe-
lV. MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS................................17 cução do protocolo de morte encefálica, bem como melho-
lVa. Quem é potencial doador de órgãos? ..................................................................17 rar a qualidade dos órgãos transplantados por meio da ma-
lVb. Quais exames são necessários para a doação? ............................................. 19 nutenção clínica otimizada do potencial doador. Todo esse
lVc. Medidas clínicas de manutenção do potencial doador de órgãos......20 trabalho levou ao aumento nos índices de doação e capta-
ção de órgãos no estado nos últimos anos.
V. MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR DE ORGÃOS PEDIÁTRICO.26
VI. PROCESSO DE NOTIFICAÇÃO/DOAÇÃO.............................................................. 32 Entretanto, não há órgãos disponíveis para todos os poten-
VII. LOGISTICA PARA CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ORGÃOS E ciais receptores, o que resulta em significativa mortalidade
TECIDOS................................................................................................................................................42 na fila de espera.
VIII. ENTREVISTA FAMILIAR...................................................................................................44
IX. FLUXOGRAMA DO PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA/
NOTIFICAÇÃO DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS...........46
CENTRAL ESTADUAL DE TRANSPLANTES (CET-PR)...........................................48
SIGLAS....................................................................................................................................................49
REFERÊNCIAS...................................................................................................................................49

1
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

I. CONCEITO E DIAGNÓSTICO A ME é a constatação irremediável e irreversível da lesão


nervosa e significa morte clínica, legal e social. Devido aos
DE MORTE ENCEFÁLICA dilemas éticos que surgiram, critérios clínicos e tecnológicos
para constatação de ME foram definidos no Brasil em 1997,
A morte é um tema de difícil abordagem e manejo, sendo pela Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº
muitas vezes motivo de debate e dúvidas. O conceito de 1480, de 21 de agosto de 1997. Os critérios são baseados na
morte ainda é discutido, mesmo nos dias atuais, e vem se ausência da atividade cerebral, incluindo o tronco encefálico
modificando ao longo da História. e foram disciplinados pelo CFM no uso das atribuições con-
feridas pela Lei nº 3.268/57, regulamentada pelo Decreto nº
A definição de morte mais aceita, em termos médicos, é o 44.045/58 e, ainda, em atenção ao previsto no art. 3 da Lei
término das funções vitais, considerando que é difícil preci- nº 9.434/97, que considera a remoção de órgãos, tecidos e
sar o exato momento da sua ocorrência por não constituir partes do corpo humano para fins de transplantes.
um fato instantâneo, mas sim, uma sequência de fenômenos
gradativamente processados nos vários órgãos e sistemas O diagnóstico de ME é obrigatório e a notificação é compul-
de manutenção da vida. Com o tempo, passou-se a acreditar sória para a Central de Notificação, Captação e Distribuição
que a morte não estava relacionada apenas com a cessação de Órgãos (CNCDO), representada pela Central Estadual de
da respiração e com a assistolia, mas também com a perda Transplantes (CET). Para tanto, deve ser aberto o protocolo
das funções do tronco e do córtex cerebral. para todos os pacientes com suspeita de ME, independen-
temente da possibilidade de doação ou não de órgãos e/ou
Em 1959, um grupo de neurofisiologistas e neurocirurgiões tecidos.
de Lyon descreveram uma condição que eles chamaram de
“morte do sistema nervoso”, caracterizada por coma apnei-
co, ausência de reflexos, tronco encefálico e cérebro eletrica- Todo médico deve saber fazer o diagnóstico de ME
mente silenciosos. Mais tarde, Mollaret e Goulon estudaram 23 pelas seguintes razões:
pacientes nessa mesma condição clínica e definiram como “a
última fronteira da vida”. No ano de 1968, o relatório do Comi- • conhecer a real situação do paciente (vivo ou morto);
tê ad hoc da Escola Médica de Harvard estabeleceu os primei-
• passar informações seguras para os familiares acerca
ros critérios para diagnóstico de morte encefálica (ME). Em
do seu parente;
1981, a Comissão Presidencial para o Estudo dos Problemas
Éticos em Medicina publicou, nos Estados Unidos da América, • evitar terapia inútil (tratar cadáver);
um ato uniforme para a Declaração de Morte: “um indivíduo • reduzir custos e otimizar leitos de Terapia Intensiva;
que apresenta cessação irreversível das funções respiratórias
e circulatórias ou cessação irreversível de todas as funções do • oferecer à família a opção de ajudar outras pessoas
cérebro, incluindo o tronco cerebral, está morto”. por meio da doação de órgãos e tecidos.

2 3
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

II. FISIOPATOLOGIA DA III. PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA


MORTE ENCEFÁLICA

A ME geralmente decorre da associação do aumento da pres- llla. Critérios para abertura


são intracraniana, diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e hi- Para iniciar um protocolo de ME, o paciente deve preencher
póxia do tecido encefálico. Isso acontece porque a maioria das alguns critérios bem estabelecidos. É essencial que o paciente
causas que levam a ME induzem a descompensação do equi- esteja em Glasgow 3, sem incursões ventilatórias voluntárias e
líbrio entre os componentes intracranianos (cérebro, liquor e sem condições confundidoras para o coma, como uso de se-
sangue) responsáveis pela manutenção da pressão intracrania- dação e bloqueadores neuromusculares, hipotermia ou distúr-
na. Aumentos da pressão intracraniana causam diminuição do bios metabólicos graves (Fig. 1). Além disso, todo paciente com
fluxo sanguíneo cerebral e consequentemente, hipóxia tecidual. suspeita de ME deve ter comprovada por exame de imagem
Há lesão irreversível da célula nervosa, por alteração da perme- (tomografia ou ressonância de crânio) uma lesão estrutural en-
abilidade celular e distúrbios eletrolíticos no interior da célula. cefálica suficientemente grave para justificar o exame neuroló-
gico encontrado.
Com a destruição progressiva do cérebro e tronco encefálico,
Fig 1. Critérios para abertura do protocolo de morte encefálica
várias funções vitais ficam comprometidas. Ocorre o descon-
trole da temperatura corporal, com tendência à hipertermia
mantida e, mais frequentemente, à hipotermia. Coma com Glasgow 3
Total entrega à
Também é comum a labilidade hemodinâmica. Numa fase ini- PRESENÇA DE
PRÉ-CONDIÇÕES
ventilação mecânica
cial, há a tempestade autonômica, com liberação maciça de Lesão estrutural encefálica
irreversível documentada
neurotransmissores e hormônios, que podem levar a hiperten-
são e taquicardia. Na sequência, pode haver hipotensão arterial
com necessidade de drogas vasoativas. ASSEGURAR TESTES QUE
QUE CAUSAS DEMONSTREM
REVERSÍVEIS AUSÊNSIA DE
A depleção do hormônio antidiurético (ADH ou vasopressina) DE UM TRONCO REFLEXOS DE
NÃO FUNCIONANTE TRONCO E APNEIA
induz distúrbios do sódio, como a diabetes insipidus. Há risco de FORAM E VIABILIDADE
hipernatremia e depleção do espaço extracelular. Pode haver EXCLUÍDAS ENCEFÁLICA

também perda dos níveis adequados dos hormônios da tireóide


e do cortisol.
Ausência de hipotermia, 2 exames clínicos
Todas essas alterações transformam o paciente em ME num depressores de SNC e distúrbios Teste de apneia
endócrino-metabólicos graves Exame complementar
indivíduo único, com peculiaridades no diagnóstico e no trata-
Fonte: CET-PR, 2014.
mento dos distúrbios clínicos.
4 5
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Alguns distúrbios são as principais dúvidas da equipe que MEDICAMENTO 1/2 VIDA t DU/DI t INF CONTÍNUA t para IR e IH
iniciará o protocolo. O valor do sódio sérico é um deles. Ide- BENZODIAZEPÍNICOS
almente, o valor de sódio deve ser próximo do normal, abai- Midazolam 2h 6h 10 h Mínimo de 24 h
xo de 155 mEq/L. Entretanto, caso o sódio alterado seja con- Diazepam
Dose diária superior a 30 mg,
consultar a equipe médica da CET-PR
sequência do descontrole endócrino-metabólico decorrente
OPIÓIDES
do processo fisiopatológico de ME e exista outra causa clara Fentanil 2h 6h 10 h Mínimo de 24 h
e documentada para a ME, não há restrição para início do BARBITÚRICOS
protocolo. Deve-se evitar iniciar o protocolo com níveis sé- Tiopental 12 h 36 h 60 h -
ricos de sódio abaixo de 120 mEq/L e acima de 170 mEq/L. ANESTÉSICOS INALATÓRIOS
Halotano 15 min 45 min 1 h e 15 min -
Quanto aos critérios hemodinâmicos, choque descompen- Isoflurano 10 min 30 min 50 min -
sado, tratado com doses altíssimas de drogas vasoativas, Sevoflurano 12 min 36 min 1h -
acompanhado por acidose metabólica grave e altos níveis de BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES
lactato sérico não indicam a abertura do protocolo. O exa- Succinilcolina 10 min 30 min 50 min -
Pancurônio 2h 6h 10 h Mínimo de 12 h
me clínico e muitos dos exames confirmatórios perdem sua
Atracúrio 20 min 1h 1 h e 40 min -
validade em condições de extrema labilidade hemodinâmica.
Cisatracúrio 22 min 1 h e 6 min 1 h e 50 min -
Portanto, o ideal é iniciar o protocolo com doses estáveis de Vecurônio 1 h e 05 min 3 h e 15 min 5 h e 25 min Aumentado na IH
drogas vasoativas e com exames de perfusão compensados. Rocurônio 1h 3h 5h Aumentado na IH
OUTRAS MEDICAÇÕES
A temperatura deve estar acima de 32˚C, idealmente acima Etomidato 3h 9h 15 h Aumentado na IH
de 35˚C. O protocolo deve ser adiado até a correção da hi- Cetamina 2 h e 30 min 7 h e 30 min 12 h e 30 min -
potermia moderada. Propofol 2h 6h 10 h -

É muito importante atentar para a suspensão de drogas Fonte: DIRETRIZES PARA SELEÇÃO DE DOADORES DE ÓRGÃOS E TECIDOS EM MORTE
ENCEFÁLICA (AMIB/ABTO)
sedativas, hipnóticas e bloqueadores neuromusculares.
O tempo de suspensão deve levar em conta a meia-vida das
drogas, forma de infusão, presença de insuficiência renal e
hepática. O ideal seria a dosagem dos níveis séricos das
drogas, principalmente em pacientes com disfunção renal
e hepática, mas essa opção não é amplamente disponível.
Portanto, o bom senso do médico é essencial nesse momen- t: Tempo de Suspensão
to. A tabela abaixo sugere os tempos mínimos de suspensão DU: Dose Única
DI: Dose Intermitente (inferior ou igual a 3 doses em 24 horas)
de drogas para abertura do protocolo de ME. INF. CONTÍNUA: Infusão Contínua ou DI superior a 3 doses em 24 horas
IR: Insuficiência Renal
IH: Insuficiência Hepática

6 7
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Medicamentos potencialmente depressores do Sistema Fig 2. Reflexos testados no diagnóstico de morte encefálica
Nervoso Central utilizados em doses terapêuticas usuais
(ex.: fenobarbital enteral, fenitoína, clonidina, dexmedetomi-
dina, morfina) não contraindicam a abertura do protocolo
de morte encefálica. REFLEXO
FOTOMOTOR
E CONSENSUAL
Apenas em casos de intoxicação exógena ou abuso por es-
sas drogas, é recomendável aguardar o tempo de suspensão REFLEXO REFLEXO
VESTÍBULO-CALÓRICO CÓRNEO-PALPEBRAL
de 5 meias-vidas para iniciar o protocolo. Nessas situações,
deve-se optar por uma prova gráfica de fluxo sanguíneo ce-
rebral como exame complementar. EXAME FÍSICO

lllb. Exames clínicos


REFLEXO
APNEIA
O protocolo de morte encefálica, atualmente, contempla a exe- ÓCULO-CEFÁLICO

cução de 2 exames clínicos, um teste de apneia e um exame


complementar comprobatório. REFLEXO
DE TOSSE

A avaliação clínica deve confirmar que o paciente está em Fonte: Adaptado de Manual de
doação e transplantes, Garcia CD,
coma aperceptivo (ausência de resposta motora após com- Pereira JD, Zago MK, Garcia VD. 1ª
pressão do leito ungueal – ausência de resposta supra-espi- ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
nhal), ausência dos reflexos de tronco e de incursões respira-
tórias aparentes. Os dados clínicos testados estão expostos
no diagrama a seguir: A impossibilidade de realizar um dos reflexos, como nos ca-
sos de perfuração timpânica ou lesão grave do globo ocular,
inviabiliza o prosseguimento do protocolo.
A presença de reatividade infra-espinhal pode ocorrer em
pacientes com ME e decorre da atividade reflexa de medula.
Reflexos osteotendinosos, cutâneo plantar em flexão ou ex-
tensão, cremastérico, ereção peniana, arrepios, sinal de La-
zarus e opistótono podem ocorrer, mas sua presença não
afasta o diagnóstico de ME.

8 9
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Os exames clínicos devem ser realizados por médicos dife- lllc. Teste de apneia
rentes, com intervalo mínimo de tempo entre eles. A tabela a
seguir demonstra o tempo mínimo entre os testes de acordo O centro respiratório está localizado no bulbo e é estimulado
com a idade do paciente. com altos níveis de gás carbônico. O teste de apneia verifica
o estímulo do centro respiratório à hipercapnia e seu objeti-
Fig 3. Intervalo entre os testes clínicos de acordo com a faixa vo é avaliar a integridade da região pontobulbar.
etária do potencial doador
É uma etapa de execução médica e que requer monitoriza-
IDADE INTERVALO ENTRE OS TESTES CLÍNICOS
ção e cuidados, a fim de garantir a segurança do paciente
durante o teste. De forma ideal, o paciente que será sub-
7 dias a 2 meses incompletos 48 horas
metido ao teste de apneia deve estar hemodinamicamente
2 meses a 1 ano incompleto 24 horas
compensado, sem arritmias, sem hipóxia, com temperatura
1 ano a 2 anos incompletos 12 horas
normal e controle metabólico adequado.
Acima de 2 anos 6 horas

Fonte: Resolução CFM n. 1.480/97


ETAPAS QUE DEVEM SER SEGUIDAS
PARA QUE O TESTE OBTENHA SUCESSO
No Paraná, um dos exames clínicos deve ser realizado por 1. Oxigenar o paciente com O2 a 100% por 10 minutos
um neurologista, neurocirurgião ou neuropediatra. A outra – garante a saturação completa da hemoglobina
etapa pode ser realizada pelo médico intensivista ou pelo circulante e diminui o risco de hipóxia;
médico assistente com o treinamento adequado. Ambos os
médicos não devem fazer parte de equipes de captação e/ 2. Coletar uma gasometria arterial inicial – deve
ou transplante. Em adultos, o intervalo entre os testes deve demonstrar hiperóxia e pCO2 entre 35 e 45 mmHg;
ser de, no mínimo, 6 horas. 3. Desconectar o ventilador e inserir um cateter de
oxigênio com fluxo de 6-8 l/min na traquéia ao
nível da carina;
4. Observar atentamente a presença de movimentos
respiratórios por 10 minutos;
5. Coletar a gasometria arterial final – deve
demonstrar pCO2 igual ou acima de 55 mmHg;
6. Reconectar o paciente à ventilação mecânica.

10 11
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

O teste será considerado positivo para ME caso não existam llld. Exame complementar
quaisquer movimentos respiratórios e a gasometria final de-
monstre pCO2 igual ou acima de 55 mmHg. Pode ser realizado após a abertura do protocolo ou após a
segunda avaliação clínica. Sua indicação é de demonstrar de
O teste deve ser interrompido imediatamente caso existam forma inequívoca a ausência de atividade elétrica ou meta-
movimentos respiratórios – teste negativo para ME. bólica cerebral ou ausência de perfusão sanguínea cerebral.
Caso o paciente apresente sinais de instabilidade como hi- A indicação do tipo de exame e da necessidade de sua re-
potensão arterial (PAS < 90 mmHg), hipóxia (Saturação de petição é dependente da faixa etária, conforme exposto na
oxigênio < 90%) ou arritmias, o teste deve ser interrompido tabela a seguir. Para paciente com idade acima de 2 anos,
e o paciente reconectado ao ventilador. Nesse caso, o teste não existe indicação específica de tipo de exame e apenas
é considerado inconclusivo. um exame é suficiente.
Caso existam condições, a gasometria final pode ser coleta- Fig 4. Exame complementar de acordo com a faixa etária
da imediatamente antes da reconecção do paciente instável, do potencial doador
independentemente do tempo de teste decorrido. Caso os
níveis de pCO2 atinjam 55 mmHg, o teste também será con- IDADE INTERVALO ENTRE OS TESTES CLÍNICOS
siderado positivo. 7 dias a 2 meses incompletos 2 EEG com intervalo de 48 horas
2 meses a 1 ano incompleto 2 EEG com intervalo de 24 horas
Em alguns casos, a prova da apneia não consegue ser finali- Qualquer; se EEG, realizado 2 exames
zada por hipoxemia importante durante o teste. Nessas situa- 1 ano a 2 anos incompletos
com intervalo de 12 horas
ções, existe a possibilidade da execução do teste mantendo a Acima de 2 anos Qualquer
conexão na ventilação mecânica, em pressão expiratória con-
tínua (CPAP), com frequência respiratória em zero, mas com Fonte: Resolução CFM n. 1.480/97
fração inspirada de oxigênio de 100% e pressão positiva expi-
ratória final (PEEP) acima de 5 cmH2O. O paciente não pode
apresentar incursões respiratórias e as metas a serem atingidas O eletroencefalograma (EEG) detecta a atividade elétrica
são as mesmas do teste convencional. cerebral e é necessário um exame com, no mínimo, 21 canais.
Como vantagem, pode ser feito na beira do leito e tem como
desvantagem, a interferência com os outros equipamentos
eletrônicos.

12 13
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

O doppler transcraniano é um método não-invasivo que ava- llle. Conduta após o término do protocolo
lia o fluxo sanguíneo cerebral. O fluxo de sangue é avaliado
através de janelas ósseas. Como vantagem, é um exame por- Após a realização de todas as etapas do protocolo (2 exa-
tátil, feito ao lado do leito do paciente. Porém, pode apre- mes clínicos + teste de apneia + exame complementar),
sentar falsos negativos (fluxo sanguíneo cerebral mesmo em é feito o diagnóstico de ME. Nesse momento, o paciente
casos de ME) nos pacientes submetidos à craniectomia des- é legalmente declarado morto e o termo de declaração de
compressiva ou válvula de derivação ventricular, neonatos morte encefálica (TDME) deve ser preenchido e enviado
com fontanela aberta e uso de balão intra-aórtico. para a CET.

A arteriografia cerebral avalia o fluxo sanguíneo após a Caso a doença de base do paciente seja decorrente de mor-
injeção de contraste nas artérias carótidas e vertebrais. te violenta, os documentos para encaminhamento do corpo
Como desvantagens, estão a necessidade de transporte do para o Instituto Médico Legal (IML) devem ser providencia-
paciente para a sala cirúrgica e o uso de contraste, que pode dos, mas, se a morte for natural, nesse momento é preenchi-
interferir na função renal do paciente. da a declaração de óbito. No horário do óbito deve constar o
momento da conclusão da última etapa do protocolo de ME.
A cintilografia cerebral demonstra a circulação sanguí-
nea por meio da injeção de radioisótopo tecnécio 99m. Com o óbito do paciente já comprovado, o diagnóstico deve
Também requer a remoção do paciente até o local adequa- ser explicado para a família pela equipe médica e todas as dú-
do para realização do exame. vidas devem ser esclarecidas.

Pacientes com insuficiência renal, hepática ou com história Caso o paciente seja potencial doador, uma equipe diferen-
de intoxicação por medicamentos potencialmente depres- te, composta pelos membros da CIHDOTT (Comissão Intra
sores do Sistema Nervoso Central devem realizar preferen- Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplan-
cialmente um exame que verifique o fluxo sanguíneo cere- tes), deverá entrevistar a família quanto à possibilidade de
bral (doppler transcraniano ou arteriografia). doação. Se a doação for aprovada, o suporte ao potencial
doador de órgãos deve ser mantido até o momento da cap-
Caso um primeiro exame não seja compatível com ME, está tação.
indicada a sua repetição após um prazo de 24-48 horas sem
a inviabilização do protocolo. Não é necessária a repetição Em caso de contraindicação para doação de órgãos ou nega-
dos exames clínicos ou do teste de apneia. A fim de garantir tiva familiar, o suporte avançado de vida deve ser suspenso,
a segurança do processo, o mesmo tipo de exame deve ser conforme previsto na Resolução do Conselho Federal de Me-
utilizado para a repetição. Trocas na modalidade de exame dicina n.1826 de 24 de outubro de 2007.
devem ser evitadas e, quando necessárias, avaliadas indivi- O fluxograma a seguir resume a conduta após o diagnóstico
dualmente pela CET. de ME.

14 15
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Fig 5. Fluxograma da conduta após diagnóstico de morte encefálica IV. MANUTENÇÃO DO POTENCIAL
DOADOR DE ÓRGÃOS
CAPTAÇÃO
DE ÓRGÃOS
lVa. Quem é potencial doador de órgãos?
2 EXAMES
CLÍNICOS
Todo paciente que tenha seu protocolo de ME finalizado e
PACIENTE
+
POTENCIAL a doação autorizada pela família é potencial doador de ór-
ANÁLISE DAS DOADOR
TESTE DE “MORTE”
CONDIÇÕES gãos. Porém, existem condições que contraindicam de for-
APNEIA
POSITIVO (Diagnóstico
CLÍNICAS
+
ma absoluta a doação:
de morte
ABORDAGEM
+ encefálica)
FAMILIAR CONTRAINDICAÇÕES
PARA DOAÇÃO OU
EXAME
NEGATIVA FAMILIAR
CONFIRMATÓRIO
COMPATÍVEL • soropositividade para HIV;
COM ME
• soropositividade para HTLV l e ll;
SUSPENSÃO DO
Fonte: CET-PR, 2014
SUPORTE AVANÇADO
DE VIDA
• tuberculose em atividade;
• sepse refratária;
• infecções virais e fúngicas graves ou potencialmente
graves na presença de imunossupressão, exceto as
hepatites B e C;
• neoplasias, exceto carcinoma in situ de útero e pele
e tumores primários do Sistema Nervoso Central,
conforme elencados na tabela a seguir:

16 17
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Tumores cerebrais e doação de orgãos Além da análise dos critérios de exclusão, a doação de cada
órgão e tecido depende das condições clínicas, laboratoriais
Tumores que não excluem o doador para doação
e sorológicas do paciente. A avaliação dessas condições é
Meningioma benigno
feita individualmente pela equipe da CET.
Adenoma de hipófise
Schwannoma de acústico É importante ressaltar que sepse controlada e em tratamento
Craneofaringeoma não contraindica a doação de órgãos. O mesmo se aplica a
Astrocitoma pilocítico (grau I) pacientes com sorologia positiva para hepatite, que podem
Cisto epidermóide ser doadores por critérios expandidos.
Cisto colóide de III ventrículo
Papiloma de plexo coróide
Hemangioblastoma lVb. Quais exames são necessários para a doação?
Tumor de células ganglionais
Pineocitomas
Exames são necessários para habilitar o paciente para a doa-
Oligodendroglioma de baixo grau (Schmidt A e B)
ção. Podem ser indicados exames de laboratório e de imagem,
dependendo da situação. Cada órgão que possivelmente será
Ependimoma
doado exige uma série de exames específicos. A tabela a seguir
Teratoma bem diferenciado
expõe os principais exames que devem ser solicitados:
Tumores em que o doador pode ser considerado
para doação dependendo das características
AVALIAR EXAME
Astrocitoma de baixo grau (grau II)
Classificação sanguínea Tipagem ABO
Gliomatose Cerebri
Hematologia Hemograma, plaquetas
Tumores em que o doador NÃO deve ser considerado para doação
Astrocitoma anaplásico (grau III) Eletrólitos Sódio, potássio, cálcio, magnésio
Gasometria arterial coletada com no mínimo 2 (duas)
Glioblastoma multiforme
horas antecedentes a doação (com VC de 6 ml/kg de
Meduloblastoma Doador de pulmão peso ideal, PEEP de 5 cmH2O, FR de 14 rpm e FIO2 de
100%), radiografia de tórax do dia da doação e medida
Oligodendroglioma anaplásico (Schmidt C e D)
da circunferência torácica
Ependimoma maligno CPK, CKmb, ECG recente, ecocardiograma*
Doador de coração
Pineoblastoma e cateterismo cardíaco*
Creatinina, uréia, parcial de urina, ultrassonografia de
Meningeoma anaplásico e maligno Doador de rim
abdome*
Sarcoma intracranial Doador de fígado AST, ALT, gama GT, fosfatase alcalina, bilirrubinas
Tumor de células germinais (exceto teratoma bem diferenciado)
Doador de pâncreas Glicemia, amilase e lipase
Cordoma
Serão coletadas pela equipe da CIHDOTT e
Linfoma cerebral primário Sorologias
encaminhadas aos laboratórios pela OPO/CET
Fonte: ABTO - Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, 2009.
* Exames importantes mas não obrigatórios para a conclusão da doação.
18 19
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

IVc. Medidas clínicas de manutenção do potencial doador de • Iniciar drogas anti-hipertensivas endovenosas (nitroprussiato
órgãos de sódio ou betabloqueadores) sempre que PAS > 180, PAD
> 120 ou PAM > 95 mmHg;
O processo de ME é um evento amplo, que cursa com di-
versas alterações fisiopatológicas decorrentes da inativação • Manter PAM > 65 ou PAS > 90 mmHg;
de centros de controle pressórico, hormonal e respiratório.
A detecção precoce dessas alterações e a intervenção ime- • Iniciar reposição volêmica com cristalóides se houver hipo-
diata permitem a minimização das perdas de potenciais doa- tensão - (20-30 ml/kg);
dores por más condições clínicas e uma melhora importante • Infundir drogas vasoativas (noradrenalina, adrenalina ou do-
nas condições do enxerto no pós-transplante. pamina) na dose necessária para atingir a meta da PA;
Sendo assim, é essencial que medidas para a manutenção • Adequar a reposição volêmica subseqüente usando parâmetros
do potencial doador de órgãos sejam instituídas durante o dinâmicos (variação da pressão de pulso, elevação das pernas,
processo de certificação da ME e enquanto se aguarda a en- ecocardiograma). A medida da pressão venosa central pode ser
trevista familiar para concretizar a doação. usada como parâmetro de segurança.
Os aspectos mínimos indispensáveis para a manutenção • Usar vasopressina sempre que hou-
do potencial doador são: ver indicação de vasopressores –
infusão contínua na dose de 0,5 a 2,4 U/h;

Temperatura corporal: • Tratar a PCR e as taquiarritmias conforme orientação da


American Heart Association;
• Manter temperatura central > 35˚C, idealmente entre 36 e
37,5˚C; • Nas bradiarritmias, não utilizar atropina e o uso de marca-
-passo transcutâneo ou transvenoso pode ser indicado.
• Reverter a hipotermia – aquecer o ambiente, usar mantas
térmicas, infundir líquidos aquecidos;
Suporte ventilatório:

Suporte hemodinâmico: • Ventilar todos os pacientes utilizando estratégia protetora;


• Monitorizar a pressão arterial de forma invasiva; • Utilizar modo volume ou pressão controlada, com VC de
6 ml/Kg de peso ideal, FiO2 mínima necessária para obter
• Tratar a HAS relacionada à tempestade simpática; PaO2 ≥ 90 mmHg na gasometria, PEEP de 8 a 10 cmH2O e
Pressão de platô < 30 cmH2O.

20 21
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Suporte endocrinometabólico: Suporte hematológico:


• Manter suporte nutricional enteral de 15 a 30% das neces- • Transfundir hemácias se Hb ≤ 7 g/dl para todos os pacien-
sidades diárias; tes;
• Suspender a infusão de dieta se houver necessidade de do- • Transfundir hemácias para doentes com Hb entre 7 a 10
ses elevadas de drogas vasoativas e sinais de hipoperfusão g/dl se instabilidade hemodinâmica com perfusão tecidual
tecidual; inadequada;
• Monitorizar a glicemia capilar pelo menos a cada 6 horas – • Transfundir plaquetas se sangramento ativo e plaquetope-
iniciar a infusão de insulina por protocolo se a glicemia for nia < de 100.000/mm3 e se alto risco de sangramento com
> 180 mg/dl; plaquetas inferiores a 50.000/mm3;
• Monitorizar diurese visando o diagnóstico precoce de dia- • Transfundir plasma fresco se RNI >1,5 e alto risco de san-
betes insipidus – diurese > a 200 ml/h deve ser investigada; gramento, pré-procedimento invasivo ou sangramento ati-
vo;
• Administrar DDAVP (desmopressina) nas doses de 1 a 2
mcg a cada 4 horas até obter diurese menor que 4 ml/ • Transfundir crioprecipitado se fibrinogênio < 100 mg/dl as-
kg/h. Na ausência de DDAVP, pode-se usar vasopressina; sociado a alto risco de sangramento, pré-procedimento in-
vasivo ou sangramento ativo.
• Manter sódio sérico entre 130 e 150 mEq/L – a correção da
hipernatremia deve ser feita com solução glicosada a 5%
ou solução salina a 0,45%;
Aspectos infecciosos:
• Manter pH > 7,2; • Coletar culturas sempre que houver suspeita de infecção;
• Infundir metilprednisolona 15 mg/Kg a cada 24 horas – ini- • Manter ou iniciar antibioticoterapia apropriada se houver in-
ciar após fechamento do protocolo; dicação clínica.
• O uso de levotiroxina 300 mcg por via enteral uma vez ao
dia é recomendado pela literatura, mas evidências recentes
demonstram que sua utilização não traz benefícios na ma- Cuidados com as córneas:
nutenção do potencial doador. • Colírios e pomadas podem ser usados, mas não são indicações
obrigatórias;
• Manter as pálpebras fechadas e protegidas com gazes
umedecidas com solução isotônica.

22 23
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

MANEJO DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS MANEJO DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS

ENDÓCRINO/ ÓRGÃOS
HEMODINÂMICO VENTILATÓRIO TRANSFUSÃO INFECÇÃO
METABÓLICO ESPECÍFICOS

Puncionar pressão • VCV ou PCV • Manter dieta enteral • Hemácias: Não contraindica • Rim: Manter
invasiva e acesso central VC: 6 ml/Kg ou parenteral para estáveis: se Hb<7 g/dl doação! estabilidade
pO2 > 90 mmHg atingir 15-30% instáveis:se Hb<10 g/dl • se infecção em hemodinâmico,
• Se Hipertensão pCO2 35-45 mmHg calorias/dia tratamento com boa diurese >1 ml/Kg/h
(PAS>180, PAD>120 • Plaquetas: resposta ou infecção Manter o paciente
Pplatô < 30 cmH2O • Suspender dieta < 100.000 e
ou PAM >95mmHg PEEP 8-10 cmH2O tratada: pode doar normovolêmico.
por 30min ou lesão se paciente muito sangramento ativo • se infecção não- Dosar creatinina a
órgão-alvo): utilizar instável < 50.000 no pré- controlada: contra- cada 24h.
nitroprussiato ou operatório indicar Não contraindicar
• Glicemia: mínimo:
esmolol 6/6h Se insulina • Plasma: • se suspeita infecção: doação por valor
bomba: 2/2h RNI >1,5X + alto tratar isolado de creatinina.
• Se Hipotensão Avaliar caso a caso.
(PAS< 90 ou risco sangramento, Coletar Cultura se
• iniciar insulina se pré-operatório ou
PAM < 65mmHg): glicemia >180mg/dL suspeita de infecção • Fígado: sódio,
- SF0,9% e/ou Ringer sangramento ativo potássio e glicemia
30ml/Kg bolus 30-60 • Diabetes insipidus: • Crioprecipitado: Todos os casos de cada 6h. TGP/TGO/
min se fibrinogênio<100 infecção devem bilirrubinas e TAP a
- Desmopressina
- não responsivo ser avaliados pela cada 24 horas. Manter
1-2mcg EV em bolus
a volume: iniciar equipe da Central de sódio sérico<160
ou 2 puffs intranasal
vasopressor: Transplantes mEq/l.
ou sublingual de 4/4h
noradrenalina como Não contraindicar em
primeira escolha - Vasopressina é a Hepatite B/C (órgãos
- Para todos os 2ª opção expandidos)
pacientes com
vasopressor, associar - Meta: diurese • Coração: Idealmente
vasopressina 0,5- 4ml/Kg/h ou realizar ECG,
<300ml/h ecocardiograma
• Dobutamina pode ser e dosar enzimas
associada caso exista • Na+: 130-150 mEq/l. cardíacas. Pacientes
aumento do lactato Se hipernatremia, acima de 45 anos,
SG5% e se instável, necessitam de
Metas: prescrever cateterismo cardíaco.
PAM>65mmHg, cristaloides.
SvO2>70%, diurese>0,5 • Pulmão:
ml/Kg/h, clareamento • pH >7,2 - oxímetro contínuo.
de lactato >10% em 4 h • Metilprednisolona: - gasometria arterial 6/6h.
15 mg/Kg/d - Rx cada 24 horas.
Arritmias: conforme - SatO2>95%,
ACLS • Levotiroxina: pO2>90mmHg.
PCR: conforme ACLS 300 mcg/d - aspiração vias
aéreas, cabeceira 30°,
pressão de cuff de
20-30cmH2O

24 25
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

V. MANUTENÇÃO DO POTENCIAL
DOADOR DE ÓRGÃOS PEDIÁTRICO HIPOTENSÃO: após a herniação predomínio do tônus vagal hipotensão

O processo de morte encefálica em pacientes pediátricos Hiperglicemia (poliúrica)


cursa com as mesmas alterações fisiopatológicas decorren- Piora da hipotensão
tes da inativação de centros de controle pressórico, hormo-
nal e respiratório, encontradas em adultos. Portanto são in- Diabetes insípidus (poliúria)
dispensáveis a identificação e a intervenção precoces dessas
alterações, para que a perfusão dos órgãos vitais esteja pre-
servada enquanto não se conclui o protocolo de ME, e depois
de constatado o óbito, tais cuidados devem ser continuados Definição de Hipotensão por Pressão Arterial Sistólica e Idade:
visando a preservação dos órgãos destinados ao transplan-
te. A seguir, listamos as principais alterações encontradas e Faixa etária PAS (em mm Hg)
os respectivos tratamentos, assim como os parâmetros de recém-natos de termo (0 a 28 dias) < 60
normalidade para dados vitais e objetivos terapêuticos nesta lactentes (1 mês a 12 meses) < 70
faixa etária: crianças de 1 a 10 anos < 70 + (2 x idade em anos)
crianças > 10 anos < 90

HIPERTENSÃO: tempestade simpática (taquicardia + hipertensão + febre)


***reposição volêmica agressiva 20 ml/kg de cristalóide
Iniciar tratamento farmacológico se: (aquecido) em < 30 min, repetir se necessário.
RN a 3 M > 90X60
>3 M a 1 A >110x70 DROGAS:
POR MAIS DE
>1 A a 12 A >130x80 30 MIN Dopamina: 2 – 20 mcg/kg/min
>12 A a 18 A >140x90 Dobutamina: 2 – 20 mcg/kg/min
Adrenalina: 0.1 – 1 mcg/kg/min
DROGAS: nitroprussiato de sódio (0.5 – 5 mcg/kg/min) Noradrenalina: 0.05 – 2 mcg/kg/min
ou
ß-bloqueadores de curta duração (esmolol: 50–250 mcg/kg/min)

26 27
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

TRATAMENTO:
HIPERNATREMIA***: manter Na = 130-150 mEq/L
DDAVP (EV ou intra-nasal)
Vasopressina EV
Se hipernatremia: água livre EV : SG 5%
DDAVP + vasopressina em casos de refratariedade
ou
solução salina a 0,45% (OU a 1/4)
DOSES:
DDAVP: 0,25 – 1,0 mcg EV 6/6 h OU 0,5 mcg/h EV con-
*** está relacionada com a disfunção hepática e perda do enxerto no receptor
tínuo
DDAVP: 10 mcg VIA NASAL (= 0,1 ML = 1 JATO ) a cada 8
HIPERGLICEMIA: Checar glicemia capilar pelo menos a cada 6h. a 12 h
VASOPRESSINA: 0,5 mU/kg/h EV contínuo (0,2 a 0,7 mU/
Kg/h)
Iniciar infusão de INSULINA REGULAR se glicemia >180mg/dl
(checar glicemia capilar com mais frequência)

REPOSIÇÃO HORMONAL:
DOSE: 0,05 a 0,1 U/Kg/h
METILPREDNISOLONA: 20-30 mg/kg 24/24 h

DIURESE: manter diurese 1 a 4 ml/kg/h

diabetes insipidus : poliúria + hipernatremia + Densidade Urinária

28 29
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

OBJETIVOS:
PARÂMETROS DE NORMALIDADE PARA DADOS VITAIS
EM PEDIATRIA: Suporte hemodinâmico: normalização da PA
(PA sistólica adequada para a idade)
PVC < 12
IDADE FR (resp/min)
Lactato sérico normal
< 1ano 30-60
1 a 3 anos 24-40 Oxigenação e Ventilação:
4 a 5 anos 22-34
• SatO2 > 95 %
6 a 12 anos 18-30
13 a 18 anos 12-16 • PaCO2 35-45 mmHg
• pH Arterial 7.30-7.45
IDADE FC em vigília FC média FC em sono
• volume ou pressão controlada
RN a 3 meses 85 - 205 140 80 - 160
3 meses a 2 anos 100 - 190 130 75 - 160 • FiO2 para obter PaO2
2 anos a 10 anos 60 - 140 80 60 - 90 ≥ 90 mm Hg
> 10 anos 60 - 100 75 50 - 90 • VC 6-8 ml/Kg
• PEEP 5 a 10
Faixa etária PAS (em mm Hg) PAD (em mm Hg)
meninas meninos meninas meninos • Pplatô < 30 cm H2O
Recém-natos (1 dia) 60 a 76 60 a 74 31 a 45 30 a 44
Recém-natos (4 dias) 67 a 83 68 a 84 37 a 53 35 a 53
Eletrólitos:
Lactentes (1mês) 73 a 91 74 a 94 36 a 56 37 a 55
Lactentes (3 meses) 78 a 100 81 a 103 44 a 64 45 a 65 • Na: 130-150 mEq/L
Lactentes (6 meses ) 82 a 102 87 a 105 46 a 66 48 a 68
• K: 3-5.0 mEq/L
Lactentes (1 ano) 86 a 104 85 a 103 40 a 58 37 a 56
Crianças (2 anos) 88 a 105 88 a 106 45 a 63 42 a 61 • glicose 60-150 mg/dL
Crianças (7 anos) 96 a 113 97 a 115 57 a 75 57 a 76 • Ca Ionizado 0.8-1.2 mmol/L
Adolescente (15 anos) 110 a 127 113 a 131 65 a 83 64 a 83
• normalização sérica dos níveis de fósforo e magnésio
Temperatura central: 36-38°C

30 31
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

VI. PROCESSO DE NOTIFICAÇÃO/ O processo tem seu início na identificação de um paciente


em possível ME durante a busca ativa nas unidades de tera-
DOAÇÃO DE POTENCIAL DOADOR pia intensiva ou pronto socorro, realizada pelo membro da
CIHDOTT. Os possíveis doadores geralmente são vítimas de
O processo de doação e transplante é definido como um causas neurológicas (acidente vascular cerebral encefálico,
conjunto de ações que possibilita transformar um potencial traumatismo craniano, tumores cerebrais, meningite, entre
doador em doador efetivo de órgãos e/ou tecidos culminan- outras causas) e mantêm escore 3 na escala de coma de Glas-
do com o transplante, e envolve dezenas de profissionais. gow, sem resposta a estímulos.
Assim que a ME é identificada, há a obrigatoriedade de no-
tificação à CNCDO/CET de acordo com o artigo 13 da Lei
PROCESSO DOAÇÃO-TRANSPLANTE nº 9.434/1997. A partir da notificação e da abertura do proto-
colo de ME, deve-se comunicar a família do potencial doador
sobre o processo de diagnóstico de ME. Apoio e orientações
Acompanhamento dos Detecção do paciente em
devem ser dispensados aos familiares durante todo o pro-
resultados do transplante possível morte encefálica cesso. Ações multiprofissionais devem ser empregadas para
a manutenção hemodinâmica do potencial doador a fim de
Diagnóstico de promover perfusão sanguínea adequada aos órgãos/tecidos.
Transplante
morte encefálica
Após a primeira etapa dos exames clínicos realizados e posi-
Processo tivos para Morte Encefálica, a CIHDOTT deverá:
Extração dos órgãos Documentação comprobatória
extremamente
e tecidos de morte encefálica
complexo 1. preencher todos os campos do TDME, o formulário de no-
tificação do potencial doador de ME e o cálculo de he-
Manutenção do
Logística da doação
potencial doador
modiluição para triagem sorológica. Encaminhar esses
documentos via fax ou e-mail à respectiva Organização
de Procura de Órgãos (OPO), a qual repassará à CET ou
Distribuição dos órgãos Validação do potencial
e tecidos doados doador - doador elegível encaminhar diretamente para a CET;
2. acolher e comunicar a família da abertura do protocolo para
Autorização familar para doação diagnóstico de ME (NÃO COMENTAR SOBRE DOAÇÃO);
de órgãos e tecidos

Fig 6. Fluxograma do processo de doação-transplante


Fonte: Adaptado de Manual de Doação e Transplantes, 2013 e SPOT - HCFMUSP.

32 33
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

3. providenciar a coleta das amostras sanguíneas para tria- 5. comunicar a OPO ou CET da autorização da doação e en-
gem sorológica e HLA (exame de compatibilidade) e soli- caminhar toda documentação obrigatória referente a todas
citar o encaminhamento das mesmas aos laboratórios pela as etapas do processo.
OPO ou CET. As amostras deverão ser identificadas com o
nome completo do potencial doador, data de nascimento,
data da coleta e nome do hospital. No caso de dúvidas em Documentos obrigatórios no Processo de Notificação/
relação a quantidade e tipo de tubos utilizados na coleta Doação
para sorologia e HLA, entrar em contato com a OPO da
sua área de abrangência ou com a CET-PR; Os documentos deverão obrigatoriamente ser encaminhados
à OPO e/ou à Central Estadual de Transplantes. Essa docu-
4. agendar o exame complementar para o diagnóstico de ME; mentação deve constar no prontuário do doador, obedecen-
5. solicitar os exames de bioquímica e de imagem, conforme do os preceitos legais.
descrito na página 19 deste Manual;
6. realizar e registrar o exame físico detalhado no potencial Notificação Morte Encefálica - com doação
doador;
• Formulário de notificação de potencial doador;
Após a confirmação do diagnóstico de ME, o médico da uni-
dade deverá comunicar os familiares do potencial doador • Cálculo de hemodiluição para triagem sorológica;
sobre a confirmação do diagnóstico ME e a CIHDOTT deverá:
• Prescrição médica das últimas 24 horas que antecedem a
1. verificar se o TDME está com todos os campos correta e abertura do protocolo de ME;
adequadamente preenchidos;
• Exame físico do potencial doador (iniciais do potencial do-
2. realizar a entrevista familiar para doação de órgãos e/ou ador em todas as páginas);
tecidos;
• História médica e social do doador (iniciais do potencial
3. se doação consentida: preencher o Termo de Autorização doador em todas as páginas), após a família ter autorizado
Familiar para retirada de órgãos e tecidos e o formulário a doação;
da história médica e social do potencial doador. Se houver
recusa familiar, preencher o formulário de entrevista fami- • TDME com todos os campos obrigatória e adequadamen-
liar colocando o motivo da recusa; te preenchidos, com datas e horários corretos, carimbo e
assinatura dos médicos que realizaram os exames clínicos
4. providenciar cópia dos documentos de identificação do e o exame complementar;
doador, do responsável pela autorização da doação e das
testemunhas;

34 35
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

• Laudo do exame complementar (EEG, doppler transcrania- • Demais documentos gerados durante o processo e não in-
no, arteriografia, cintilografia), assinado e carimbado pelo cluídos nesta relação;
médico que realizou o exame, com dados de identificação
do potencial doador, data e hora. Observação: Caso a família autorize a doação de pulmão é
obrigatório:
• Laudo do exame confirmatório da lesão neurológica (to-
mografia/ressonância de crânio) – obrigatório para fecha- • Laudo da gasometria arterial com parâmetros específicos
mento do prontuário, porém, a doação pode ter continui- (conforme descrito na pg. 19), laudo ou filme da radiogra-
dade sem laudo, desde que no TDME esteja especificado a fia de tórax do dia da doação e medida da circunferência
causa e o tipo de exame confirmatório da lesão; torácica;
Observação: Se possível, encaminhar cópia do documento de identi-
• Laudo das gasometrias (pré e pós) do teste de apnéia; ficação do potencial doador com a ficha de notificação o mais breve
possível.
• Laudo da tipagem sanguínea;
• Laudo da sorologia;
Notificação Morte Encefálica – sem doação
• Laudo de ecocardiograma (quando realizado); (Recusa Familiar/ Contraindicação/PCR)
• Laudo de ecografia de abdome total (quando realizado); Deverão constar todos os documentos gerados até a eta-
• Laudo da radiografia de tórax (quando realizado); pa em que foi realizado o protocolo de morte encefálica.
Caso contrário, os procedimentos relativos ao protocolo não
• Termo de autorização familiar com todos os campos obri- serão autorizados para cobrança pelo setor de controle, ava-
gatória e adequadamente preenchidos, com datas e ho- liação e auditoria da CET-PR.
rários corretos. No caso de doação de menores de idade
deverá constar obrigatoriamente a assinatura de ambos No caso de não doação por recusa familiar é obrigatório o
os pais ou responsáveis legais, acrescida da assinatura de preenchimento e envio do relatório de entrevista familiar.
duas testemunhas;
• Documentos de identificação doador, do responsável pela
autorização da doação e das testemunhas;
• Relatório de retirada de órgãos e/ou tecidos (quando hou-
ver captação);

36 37
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Doação de Coração Parado Documentos de identificação que são aceitos no Brasil


e necessários para doação de órgãos e/ou tecidos:
Nos casos em que após o óbito por coração parado a equipe
da CIHDOTT avaliar e validar o potencial doador excluindo • RG;
causas de descarte da doação, deverá ser realizada a en-
trevista familiar para a doação de tecidos (Globos oculares, • Carteira Nacional de habilitação;
valvas cardíacas e pele). • Carteira de trabalho;
Se doação consentida pela família, a CIHDOTT deverá pre- • Carteira de identificação profissional;
encher e encaminhar a OPO/CET os seguintes documentos:
• Passaporte;
• Formulário de Notificação de Coração Parado;
• Certificado de reservista.
• Cálculo de Hemodiluição para triagem sorológica;
• Exame físico e História Médica e Social do doador;
Potencial doador maior de idade
• Termo de autorização familiar para remoção de órgãos e
tecidos; No Brasil, de acordo com a Lei nº 10.211/2001, a autoriza-
ção familiar para doação é realizada por cônjuge ou parente,
• Cópia dos documentos de identificação do doador, do res- maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou cola-
ponsável pela autorização da doação e das testemunhas; teral, até o segundo grau inclusive. É necessário anexar ao
• Relatório de retirada de tecidos; termo de autorização familiar cópia do documento de iden-
tificação do doador, do responsável pela autorização da do-
Caso a família não aceite realizar a doação, preencher o re- ação e das testemunhas;
latório de entrevista familiar e arquivar para posteriormente
realizar o relatório de óbitos que deverá ser encaminhado a
OPO/CET mensalmente.
Observação: A quantidade de tubos para coleta da sorologia será
de acordo com os tecidos doados. No caso de dúvidas, entrar em
contato com a OPO da sua área de abrangência e/ou com a CET.

38 39
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Potencial doador maior de idade que possua Potencial doador que não possua
apenas registro de nascimento como documento nenhum documento de identificação
Poderá ser aceito como doador, mediante autorização da Deverá ser acionado o Instituto de Identificação – Instituto
doação realizada por um dos pais, anexando ao termo de Médico Legal, para verificação da existência de algum regis-
autorização familiar cópia do registro de nascimento do po- tro. Caso não haja, a doação é inviabilizada.
tencial doador, declaração de reconhecimento de identifi-
cação assinada por um dos pais e cópia do documento de
identificação do responsável pela autorização da doação e Potencial Doador que tenha como documento
das testemunhas. apenas Cadastro de Pessoa Física – CPF
Não será aceito para doação.
Potencial doador menor de idade
A autorização familiar para doação é realizada por ambos os União Estável
pais ou responsáveis legais. É necessário anexar ao Termo
de autorização familiar cópia do documento de identificação A doação só poderá ser autorizada pelo companheiro (a),
do doador e de ambos os pais ou responsáveis legais e se mediante Declaração de União Estável reconhecida em car-
possível das testemunhas. tório.
IMPORTANTE: Na inexistência de cônjuge, parentes de pri-
meiro ou segundo grau, a autorização da doação por paren-
Potencial doador menor de idade que possua tes de terceiro ou quarto grau somente poderá ser efetuada
apenas registro de nascimento como documento mediante autorização judicial.
Anexar ao termo de autorização familiar, cópia do registro Situações diferentes das descritas anteriormente deverão
de nascimento do potencial doador e cópia dos documentos ser comunicadas à CET, a qual consultará a Assessoria Jurí-
de identificação de ambos os pais ou responsáveis legais e dica da SESA.
das testemunhas ao termo de autorização familiar.
Observação: os formulários utilizados no processo de notificação/
doação e o TDME estão disponíveis no site: www.saude.pr.gov.br
no link: SISTEMA ESTADUAL DE TRANSPLANTES.

40 41
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

VII. LOGÍSTICA PARA CAPTAÇÃO E A equipe de transplante tem um prazo máximo de 01 hora esta-
belecido de acordo com a Portaria 2600/2009, para responder
DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS o aceite ou a recusa do órgão. Nos casos de recusa, a equipe
deve informar o motivo pelo qual não houve aceite do órgão.
Após protocolo de Morte Encefálica concluído e a doação de Na sequência, o plantão técnico passa a consultar a equipe de
órgãos e/ou tecidos para transplantes autorizada pela família, é transplante subsequente, e, assim, sucessivamente, até que uma
realizada a organização da logística para proceder à captação determinada equipe aceite o órgão ofertado.
dos órgãos e tecidos. A cirurgia de extração de órgãos e tecidos é feita no hospital
Deve-se notificar a CET fornecendo todas as informações ne- notificante. Este deve ser informado quanto ao horário de início
cessárias referente ao potencial doador, para que essas sejam da cirurgia, órgãos e tecidos que serão retirados e as equipes
repassadas às equipes transplantadoras. cirúrgicas que participarão do procedimento.

A CET organiza junto às OPOs/CIHDOTTs e às equipes de cap- A organização da logística para locomoção da equipe de cap-
tação/transplantadoras toda logística de extração dos órgãos e tação é complexa, envolve várias pessoas, principalmente quan-
tecidos. do ocorre a necessidade de utilização de logística aérea. Muitas
vezes não há disponibilidade imediata de aeronave, vôos co-
Os potenciais receptores têm seus dados de identificação, clíni- merciais com horários não compatíveis de ida e volta ou indis-
cos e imunológicos registrados no sistema informatizado do Sis- ponibilidade de vôo para a cidade onde encontra-se o doador,
tema Nacional de Transplantes (SNT) no momento da inscrição. condições meteorológicas não favoráveis, dentre outros fatores
que interferem na logística aérea.
As informações dos doadores também são inseridas no sistema
informatizado do Sistema Nacional de Transplantes. Os dados Nos casos de doação por Coração Parado, no qual é realizada a
do doador são “cruzados” com os dados dos receptores, e o sis- captação apenas de tecidos, a logística é simplificada, pois são
tema informatizado do Sistema Nacional de Transplantes emite acionados os bancos de tecidos locais, os quais devido ao tem-
a lista dos receptores compatíveis, baseada em critérios previa- po limite para captação se deslocam de imediato ao hospital
mente estabelecidos, e seguindo rigorosamente a listagem dos onde encontra-se o doador.
receptores é realizada a distribuição dos órgãos.
Ao término da cirurgia, o corpo do doador deve ser entregue,
Após emitir a lista de receptores para cada órgão doado, a equi- condignamente recomposto, à família. Caso haja morte violenta,
pe do plantão 24 horas da CET entra em contato com as equipes o corpo do doador deverá ser encaminhado ao Instituto Médico
de transplante responsáveis pela inscrição do paciente no siste- Legal (IML) com a documentação referente a morte, a doação e
ma informatizado do Sistema Nacional de Transplantes, transmi- a captação dos órgãos e tecidos (Termo de Declaração de Mor-
tindo detalhadamente, por e-mail, as informações referente ao te Encefálica, Termo de autorização familiar para remoção de
doador, as quais foram repassadas pela OPO/CIHDOTT. órgãos e tecidos e o relatório de retirada de órgãos e tecidos).

42 43
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

VIII. ENTREVISTA FAMILIAR O profissional que realiza a entrevista deve sempre respeitar
e aceitar a decisão dos familiares e oferecer apoio durante
todo o processo, independente da decisão familiar.
No Brasil, de acordo com a Lei nº 10.211/2001. “A retirada de
tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para O entrevistador deverá sempre apresentar-se cordial e aco-
transplante ou outra finalidade terapêutica dependerá da au- lher os familiares, orientando-os quanto aos próximos pas-
torização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida sos de acordo com a decisão tomada.
a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclu-
sive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas
presentes à verificação da morte”. Isso significa que a doa-
ção de órgãos e tecidos depende única e exclusivamente da
autorização familiar.
A entrevista familiar deve ser realizada após a comunicação
do óbito à família e apenas nos casos que estão excluídas
contraindicações clínicas para a doação de órgãos e/ ou te-
cidos, e tem como objetivo oferecer todas as informações e
suporte necessário para a tomada de decisão da família com
relação à doação.
É importante estabelecer uma boa relação com os familiares
baseada na transparência, na empatia, no apoio emocional e
na relação de ajuda profissional. O entrevistador deve estar
devidamente capacitado, ser discreto, usar linguagem clara,
estar seguro e dominar o processo de doação. Aconselha-
-se utilizar elementos de comunicação, como as perguntas
abertas, os reflexos de emoção e a escuta ativa.
Deverá ser proporcionado um ambiente tranquilo para re-
alização da entrevista, não limitar o número de familiares,
evitar interrupções durante a entrevista, estar disponível,
respeitar os momentos de luto e certificar-se de que os fa-
miliares compreenderam o diagnóstico da morte encefálica.
A entrevista deve ter continuidade somente depois de recu-
perado o controle emocional.

44 45
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

IX. FLUXOGRAMA DO PROTOCOLO DE


MORTE ENCEFÁLICA/NOTIFICAÇÃO
DO POTENCIAL DOADOR DE ÓR-
GÃOS E TECIDOS
Suspender o
suporte
terapêutico

Identificação do
possível doador
Envio de toda a
Recusa documentação
familiar referente ao processo
à OPO/CET-PR

Critérios para a bertura do protocolo: Entrevista


- Glasgow 3 familiar
- sem sedação e bloqueadores neuromusculares Envio de toda a
- sem hipotermia A ordem destas etapas pode ser alterada Doação documentação
- sem distúrbios metabólicos graves autorizada referente ao processo
Registrar o horário de óbito
- causa do coma conhecida à OPO/CET-PR
(última etapa realizada)
- período mínimo de 6 horas de observação Doador
Preencher a Declaração de
e tratamento em ambiente hospitalar elegível para
Coleta de Óbito (se morte não violenta)
após a instalação da lesão encefálica doação
sorologia+HLA
CET-PR:
- Gera seleção de receptores
- Aciona as equipes de extração
Teste de - Agenda junto à CIHDOTT/
Abertura do Segundo exame Exame OPO o horário da cirurgia de
apneia Conclusão do protocolo de ME Avaliar as
protocolo de ME clínico complementar extração.
NÃO SIM (PCO2 (2 exames clínicos + 1 teste de condições
(primeiro exame (Neurologista/ confirmatório
final ≥ 55 apnéia + exame complementar) para doação
clínico) Neurocirgião) de ME
mmHg)
Devolução do corpo à família
ou encaminhar o corpo ao IML
(morte violenta) junto com:
Doador não
- Termo de Autorização
Suspender a Manutenção Comunicar elegível para
Familiar
sedação e/ou hemodinâmica os familiares doação
- Relatório de Retirada
corrigir os do potencial
- Termo de Declaração
distúrbios e doador
de Morte Encefálica
reavaliar o
Notificar a
possível doador
CET-PR ou a
OPO/CET Suspender o
suporte
terapêutico

Fonte: CET-PR, 2014

46 47
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

CENTRAL ESTADUAL DE TRANSPLANTES SIGLAS


– CET/PR
CET – Central Estadual de Transplantes
CFM – Conselho Federal de Medicina
A Central Estadual de Transplantes (CET-PR) foi criada, em 1995, pela Se-
cretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA-PR) para atender a neces- CIHDOTT - Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos
sidade de aumentar a captação, regulamentar e incentivar a procura e a para Transplantes
distribuição de órgãos em todo o território paranaense, assim, asseguran- CNCDO - Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos
do a justiça distributiva.
OPO - Organização de Procura de Órgãos
Atualmente, a CET-PR é vinculada administrativamente à Superintendência
de Gestão de Sistemas de Saúde (SGS) e tecnicamente ao Sistema Nacional II – Instituto de Identificação
de Transplantes/Ministério da Saúde (MS), tendo as seguintes atribuições:
IML – Instituto Médico Legal
• coordenar o Sistema Estadual de Transplantes;
ME – Morte Encefálica
• elaborar e definir normas técnicas e manuais de procedimentos, junta-
SESA – Secretaria de Estado da Saúde do Paraná
mente com a comunidade científica;
SNT – Sistema Nacional de Transplantes
• cadastrar todos os serviços e profissionais envolvidos com transplantes
de órgãos e tecidos no Estado do Paraná, assim como os pacientes po- TDME - Termo de Declaração de Morte Encefálica
tenciais receptores dos diversos órgãos;
• manter e gerenciar os cadastros de pacientes, equipes e centros trans-
plantadores;
REFERÊNCIAS
• receber dos serviços as notificações de pacientes em situação de Morte
Encefálica (ME);
Moura LC, Silva VS, et al. Manual do Núcleo de Captação de Órgãos: iniciando
• proceder a distribuição eqüitativa dos órgãos, conforme critérios acei-
uma Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Trans-
tos pelos usuários e comunidade científica;
plantes: CIHDOTT. Hospital Albert Einstein. 1ª ed. Barueri, SP: Manole, 2014.
• elaborar relatórios periódicos de todas as atividades, dispondo-os para
Brasil.Lei n. 9434, de 4 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção d órgãos,
a comunidade;
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá
• avaliar e fiscalizar as ações relativas aos transplantes de órgãos e teci- outras providências. Diário Oficial da União 5 de fevereiro de 1997; 1:2191.
dos no Estado;
Brasil. Lei n. 10211 de 23 de março de 2001. Altera os dispositivos da Lei
• promover a conscientização e a sensibilização do público em geral para nº 9.431, de 04 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre remoção de órgãos,
a doação e o transplante de órgãos e tecidos. tecidos e partes do corpo humano para fins de transplantes e tratamento.
Brasília, 2001.
Para tanto, a CET-PR conta com o apoio da Associação Brasileira de Trans-
plantes de Órgãos (www.abto.org.br) e de outras entidades científicas. Garcia CD, Pereira JD, Zago MK, Garcia VD. Manual de doação e transplantes.
1ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

48 49
MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE
MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO
POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS

Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM n. 1.480, de 21 de agosto


de 1997. Determina os procedimentos para a determinação de morte encefá-
lica. Diário oficial da União, 21 de agosto de 1997; (1):18227.
Brasil. Decreto n. 2.268, de 30 de junho de 1997. Regulamenta a Lei n. 9.434,
de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e
CENTRAL ESTADUAL DE TRANSPLANTES
partes do corpo humano para fins de transplantes e dá outras providências.
Diário Oficial da União, 01 de julho, 1997;(1):13739. 24 HORAS
Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução CFM n. 1.826, de 24 de ou-
tubro de 2007. Dispôs sobre a legalidade e o caráter ético da suspensão de sesatran@sesa.pr.gov.br
procedimentos de suporte terapêutico quando da determinação de morte
encefálica de indivíduo não doador. Diário oficial da União, 06 de dezembro
plantaocetpr@sesa.pr.gov.br
de 2007; (1):133.
(41) 3304 1900
Rotinas de Transplante no Estado da Bahia. Secreatia de Saúde do Estado da CURITIBA - PR
Bahia, 2˚ edição, 2007.
Diretrizes para manutenção de múltiplos órgãos do potencial doador adulto fa-
lecido. Rev Bras Ter Intensiva, 2011. Associação de Medicina Intensiva Brasileira. OPO - Organização de Procura de Órgãos:
Diretrizes para seleção de potencial doadores de órgãos e tecidos em morte CURITIBA: (41) 3304 1922
encefálica (AMIB/ABTO), 2016.
Kotloff et al: Manegement of de Potencial Organ Donor in the ICU: Society of CASCAVEL: (45) 3321 5505
Critical CareMedicine/American College of Chest Physicians/Association of Or-
LONDRINA: (43) 3379 6078
gan Procurement Organizations Consensus Statement. CCM, vol. 43, n.6, 2015.

Pediatric Donor Management and Dosing Guidelines – NATCO - Thomas A.


MARINGÁ: (44) 3227 3274
Nakagawa, 2007.

Suporte Avançado de Vida em Pediatria (PALS) - AHA - Manual do Profissio-


Secretaria de Estado da Saúde do Paraná
nal – 2011.

Organ donor management in Canada: recommendations of the forum on Me- WWW.SESA.PR.GOV.BR


dical Management to Optimize - Donor Organ Potential - CMAJ • March 14,
2006 • 174(6) S13.

Garcia CD, Pereira JD, Garcia VD. Doação e transplante de órgãos e tecidos.
Segmento Farma, 2015;

Associação Brasileira de Transplante de Órgãos - ABTO. Diretrizes básicas


para captação e retirada de múltiplos órgãos. São Paulo/SP, 2009;

50

Você também pode gostar