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Seu cérebro e o estresse

Como vimos na nossa décima quinta aula, as pessoas têm reações diferentes em
situações de estresse. O objetivo da aula e deste artigo é explicar o funcionamento
cerebral em situações de estresse e ensinar como tirar o melhor proveito possível
dessa situação.

Como você rende melhor: com estresse ou sem estresse?

Se com estresse, deve-se fazer mais provas sob pressão, aumentando a


competição e se colocando em situações de maior risco (como precisar do
dinheiro proveniente de um concurso).

Se você não funciona sob pressão, o ideal é aprender a contornar essa situação.
Algumas maneiras seriam aumentar gradativamente o desafio e/ou mudar a
perspectiva da prova, vendo-a como um desafio bom ao invés de uma ameaça
e mudando o mindset.

Como lidar com o estresse nos estudos?

Nós possuímos estruturas neuronais individualizadas e experiências únicas


que nos conferem capacidades diferentes de lidar com as mesmas situações.

Algumas pessoas ficam paralisadas frente a uma carga de “adrenalina” muito


grande, e tem outras que estão sempre em busca de mais “adrenalina”,
constantemente achando que sua vida está monótona.

Usualmente, alguns alunos gostam de fazer provas e outros simplesmente


paralisam diante da mesma situação. A verdade é que a maioria das pessoas
chega na prova sem ter ideia de como será sua reação sob pressão, não sabem
sequer que isso é uma coisa possível de prever. Alguns até sabem como
reagem frente ao estresse da prova, mas não sabem se preparar
psicologicamente para mudar sua reação, apesar de isso ser fator fundamental
para um bom desempenho!

Quando falamos de perfil de aprendizado, explicamos se tratar de uma


característica psicológica, que funciona de forma dinâmica. Naquele sentido,
era necessário identificar o perfil e melhorá-lo até encontrar um equilíbrio,
amadurecimento.

Quando se trata de perfil de reação ao estresse, é algo que faz parte do seu
perfil genético, não dá para mudar. A velocidade de captação de
neurotransmissores é o que vai determinar como você vai reagir ao estresse.
Apesar da essência de recaptação de dopamina ser imutável, se soubermos
identificar nosso perfil e traçar uma estratégia correta, podemos fazer essa
reação trabalhar a nosso favor.


Sabendo que existe uma velocidade de degradação é necessário também saber
o que causa a liberação de dopamina no cérebro. A produção de dopamina
normalmente ocorre de forma constante, sendo que essa produção pode
aumentar durante momentos de estresse ou de desafio, como uma prova ou um
concurso.

A produção do neurotransmissor de dopamina deve ser na mesma velocidade


com que é degradado.

A revista The New York Times publicou uma reportagem inteira sobre esse
assunto onde ela utilizou diversos estudos científicos como base - quase uma
revisão de literatura. Nessa reportagem, eles tentaram entender porquê
algumas crianças lidam tão bem com o estresse e, mesmo não sendo das mais
estudiosas, conseguem alcançar bons resultados em provas; enquanto existem
outras que, apesar de terem um bom rendimento escolar, não conseguem tirar
boas notas nas principais provas. Eles tentaram identificar o que existia em
comum nesses dois tipos de pessoas e encontraram o gene COMT.

O gene COMT carrega um código de montagem que cria uma enzima que
degrada (quebra) a dopamina, sendo encarregado de estabelecer a velocidade
de degradação desse neurotransmissor (dopamina) no córtex pré-frontal. .

Perfis de reação ao estresse

Para melhor exemplificar, podemos descrever 2 extremos de perfis, estando a maioria


das pessoas em algum ponto entre os extremos.

1 - Perfil A : Pessoas ávidas por adrenalina.

São aquelas pessoas que estão sempre em busca de desafios maiores que suas
capacidades e adoram estar sob pressão, elas precisam do estresse para render
o seu máximo . Isso ocorre porque elas possuem enzimas que degradam a
dopamina mais rápido do que o cérebro usualmente produz, estando
frequentemente com falta desse neurotransmissor. Assim sendo, quando há
uma produção aumentada de dopamina, devido a situações de risco físico ou
psicológico (como não passar em uma prova ou não cumprir uma meta), o
cérebro dessa pessoa entra em equilíbrio (velocidade de produção igual
velocidade de degradação de dopamina) e isso faz com que funcione o melhor
possível.

2 - Perfil B - Pessoas ávidas por calma e constância.

São aquelas que representam o outro extremo, pessoas que costumam analisar
bem suas capacidades antes de enfrentar um desafio, ficando mais
confortáveis em situações que tenham previsão dos resultados, elas
usualmente apresentam um pior desempenho sob situações de estresse e
preferem desafios usualmente iguais ou menores que suas capacidades. Isso
ocorre porque elas possuem enzimas que degradam a dopamina de maneira




semelhante ao que usualmente produzem, estando frequentemente com
equilíbrio desse neurotransmissor no cérebro. Assim sendo, quando há uma
produção aumentada de dopamina o cérebro dessa pessoa não consegue
degradar essa enzima rápido o suficiente, fazendo com que os impulsos
nervoso não se recuperem adequadamente, saindo do equilíbrio e gerando
medo e ansiedade.

Para efeito de entendimento, podemos comparar essa situação com uma represa
hidroelétrica: É fundamental que haja um equilíbrio entre a entrada e a saída da
água.

Para que a produção de energia seja otimizada e não ocorra nenhum


vazamento , é necessário que a saída da água seja semelhante a sua entrada. Se
a quantidade de água entrando for maior que a quantidade de água saindo, e
isso durar por muito tempo, é provável que em algum momento ocorra um
transbordamento de água, podendo gerar problemas para as localidades ao
redor da represa. Já, se a quantidade de água saindo for maior do que a que
entra, a represa poderá ficar com um nível de água muito baixo ou até mesmo
secar , fazendo com que a produção de energia seja interrompida.

Olhando com o nosso cérebro, você pode comparar a produção de energia com
a sua capacidade de raciocínio; o transbordamento de água com sua
ansiedade, não saber lidar com a adrenalina; e a represa com um nível de
água muito baixo ou até mesmo seca com a hiperatividade, busca por
adrenalina.

No nosso cérebro, a degradação da dopamina é definida geneticamente (saída


de água) e a produção desse mesmo neurotransmissor (entrada de água) é
influenciada pelas situações de estresse.

Se eu tenho uma produção de neurotransmissores muito elevada ele pode


"transbordar", já se tenho uma produção muito baixa ele pode "secar". Nem
um nem outro é o ideal. Precisa-se de um equilíbrio entre degradação e
produção.

Se você não sabe sequer que isso existe, como iria pensar em regular? Como é
uma determinação genética, não tem como escolher se vai degradar mais ou
menos rápido. Então você tem que se conhecer para buscar trabalhar nisso e
poder melhorar.

Definição genética. Não tente brigar contra você mesmo.

O estudo “A Functional Polymorphism in the COMT Gene and Performace on


a Teste of Prefrontal Congnition”, mostrou que existem 2 variantes do gene
COMT. Uma das variante (met) constrói enzimas que removem lentamente a
dopamina, sendo a outra variante (val) responsável por criar enzimas que
degradam mais rapidamente a dopamina. Para formar uma expressão genética


precisamos de 2 alelos, podendo ser composta por uma das variantes ou pela
combinação delas. O alelo met tem ¼ da atividade enzimática do alelo val,
então uma pessoa que tem os dois alelos val pode degradar (quebrar) até 16x
mais rápido a dopamina do que outra pessoa que tem dois alelos met.

Se você degrada rápido, pode ficar com uma "capacidade ociosa do seu
cérebro"; já se você degrada mais devagar, em alguns momentos pode
ficar com o "cérebro sobrecarregado".

Então, podemos perceber que não existe uma velocidade de degradação ideal.

Se você tem degradação rápida precisa de situações de estresse constantes


para funcionar com perfeição. Se você tem degradação mais lenta, não
funcionará perfeitamente sob pressão, podendo inclusive paralisar com o
excesso de dopamina.

Então é fundamental entender qual o seu perfil, para poder adaptar a produção
para que ela seja semelhante ao seu perfil.

O mesmo estudo citado anteriormente usou um teste padrão, semelhante ao


Enem, para avaliar o desempenho dos alunos quando eram submetidos a fazer
o teste sem a pressão de ser aprovado. No resultado foi observado que quem
tinha o gene met se concentrava mais em situações normais, sem estresse, e
quem tinha o gene val ficava mais desatento e acabava errando mais. Se você
entender isso ficará mais fácil analisar como pode agir.

As pessoas têm o costume de chamar estresse de situações ruins, mas, na


verdade, o estresse é uma situação que pode ser boa ou ruim, depende do seu
perfil de ação.




Referências:

1. LARSEN, DP. Planning Education for Long-Term Retention: The Cognitive


Science and Implementation of Retrieval Practice. Semin Neurol. 2018
Aug;38(4):449-456.
2. AGARWAL, PK. et al. Examining the testing effect with open‐and closed‐
book tests. Applied Cognitive Psychology: The Official Journal of the Society
for Applied Research in Memory and Cognition, v. 22, n. 7, p. 861-876, 2008.
3. BJORK, RA. Retrieval practice and the maintenance of knowledge. Practical
aspects of memory: Current research and issues, v. 1, p. 396-401, 1988.
4. ROEDIGER III, HL.; KARPICKE, JD. Test-enhanced learning: Taking
memory tests improves long-term retention. Psychological science, v. 17, n. 3,
p. 249-255, 2006.

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