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EXEGESE EM ATOS 6: 1-7

INTRODUÇÃO

O livro de Atos dos apóstolos em certo sentido tem sido um dos livros mais
importantes do Novo Testamento, visto que nele esta contida as narrativas dos
primeiros anos da vida da igreja cristã. O objetivo do autor em escrever o Livro de
Atos foi para mostrar o cumprimento das palavras de Jesus, quando disse: “Eu
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 24:
46-49). Jesus antes de ser assunto aos céus Ele enfatizou aos seus discípulos que
não deixassem de ensinar e de fazer discípulos de todas as nações, e foi em
Jerusalém com os discípulos reunidos em um lugar no dia de Pentecoste, que tudo
começou, quando o Espírito Santo veio sobre eles, e os enchendo de poder para
testemunharem com autoridade do Evangelho de Jesus.
Este trabalho visa estudar as narrativas de (Atos 6: 1-7), e a diretriz que
usaremos para chegarmos a uma possível conclusão quanto ao documento, é o
método de interpretação que conhecemos como histórico-gramatical, que tem como
objetivo chegar ao sentido original colocado pelo autor. Iniciamos olhando para a
intenção que o autor tem com essa narrativa de apresentar a igreja que avança,
diante das dificuldades existentes no seu caminho, o autor tem a intenção de animar
os seus leitores dizendo que eles não se arrependerão de ter colocado sua fé no
autor e consumador da vida Jesus, que a igreja continuará caminhando mesmo em
meio as tribulações, que o seu propósito continuará prevalecendo, visto que quem
conduz a igreja é o próprio Deus.
Em fase de muitos acontecimentos atrelados a esse assunto, o narrador
mostra claramente, que os eleitos de Deus, avançavam mesmo diante da mentira
de alguns que se julgavam irmãos, mas que na verdade não passavam de joio como
no caso de Safira e Ananias (5: 1-10), da resistência do Sinédrio e inveja dos líderes
religiosos(5: 11), e da desconfiança por parte dos Helenistas, quanto a distribuição
de alimentos para com suas viúvas (6:1). Diante disso o autor não somente mostra
o problema mas também mostra a forma como solucionar esse tipo de problema
existente na igreja e afirma: “A Palavra de Deus crescia e aumentava o número dos
discípulos em Jerusalém, e uma grande multidão de sacerdotes obedecia a fé”.

1
Este trabalho será dividido em sete capítulos e tem como objetivo apresentar
e responder as questões que o documento nos apresenta. No primeiro capitulo será
apresentado o contexto histórico geral da pesquisa como: Autoria, canonicidade,
destinatário, data e ocasião. O segundo capitulo apresenta o esboço do documento
com as divisões e subdivisões. O capitulo de número três mostrará o texto original.
O quarto capitulo apresenta a tradução livre do texto exegetizado. O capitulo cinco
mostra o estudo dos termos. O capitulo de número seis apresenta a teologia do
texto e o ultimo capitulo de número sete apresenta o esboço Homilético do texto que
considera-se de grande importância pelo fato de aqui ser apresentado um resumo
da intenção do autor e em seguida as considerações finais que levarão a uma
melhor compreensão do leitor.

2
CAPITULO UM

CONTEXTO HISTÓRICO GERAL


Passamos a esta parte de muita importância deste trabalho, pois dará maior
compreensão ao documento que será exegetizado. Neste momento do trabalho
pretendemos falar do contexto histórico geral e especifico, assim como também as
implicações históricas ou contextuais que o documento nos apresenta.

1.1 AUTORIA

O documento, ou livro de Atos aqui exegetizado terá por finalidade mostrar a


autoria desta obra que é considerada como uma obra histórica. “O livro de Atos é a
única história da igreja cristã em existência, escrita antes do século III d. C.”1, logo
bastaria esse fato isolado para que se reconhecesse universalmente o valor deste
documento e não encará-lo como mero documento histórico. Quando se fala da
autoria do documento nota-se que o livro não traz informação alguma sobre o seu
autor, como é normal nas epistolas do Novo Testamento. “A igreja primitiva da
primeira e maior parte do século dois, é silenciosa quanto à autoria de Atos” .2 , e
isso tem gerado muita dúvida no meio dos estudiosos quanto a sua autoria. Quando
Kummel cita Grasser ele diz: “Por outro lado, grande número de estudiosos,
seguindo a hipótese de Dibelius de um diário, não identificaram o autor do diário
(Lucas?) com o autor de Atos”,3. Enquanto nas cartas do Novo Testamento o
remetente se dá a conhecer expressamente por meio de seu nome e também de
sua posição, o autor de Atos dos Apóstolos e do evangelho não diz nada a respeito
de si mesmo, nem mesmo sua dedicatória pessoal a Teófilo. Podemos concluir que
o autor foi pessoa de boa cultura, não um dos apóstolos originais de Cristo mas
assim mesmo alguém que pode ter sido participante de alguns dos eventos que
narra.”Ele conhecia o Antigo Testamento na versão grega conhecida como
Septuaginta”.4 Mesmo que o livro de Atos não nos traga claramente nos seus
escritos quem seja o seu autor, “A tradição eclesiástica, porem desde cedo não tem

1
Champlin Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado, p. 1.
2
Kistemaker Simon J., Comentário do Novo Testamento, p. 39
3
Kummel Werner Georg, Introdução ao Novo Testamento, p. 225
4
Carson D. A., Moo Douglas J., Morris Leon, Introdução ao Novo Testamento, p. 208

3
dúvida de que o autor é Lucas, antioqueno, médico e companheiro de viagem de
Paulo”5, o livro é anônimo, mas a autoria de Lucas é fortemente defendida, quando
alguém faz a ligação do terceiro Evangelho e Atos (Lc 1: 1-4 e At 1: 1-2), os atos de
todos os Apóstolos foram escritos por Lucas que o destina a Teófilo. “Dessa época
temos o prólogo antimarcionistas a Lucas, o qual registra que o próprio Lucas
escreveu os Atos dos Apóstolos. No século 3 Clemente de Alexandria, Orígenes e
Tertuliano declararam que Lucas é o autor do Evangelho e Atos.”6
Sabemos que a discussão quanto a autoria de Atos vá muito alem do que este
trabalho exegético, acreditamos na necessidade de posicionarmos quanto a autoria
do documento. Mesmo sabendo que não tenha fortes evidencias internas quanto a
sua autoria, se os argumentos citados neste trabalho são corretos não podemos ter
outra opção a não ser considerar que Lucas, o amado Medico, como o autor de tal
documento. De acordo com Champlin quando afirma que: “A autoria comum do
evangelho de Lucas e de Atos, pode ser demonstrado pelas seguintes
considerações” 7: a) Considerações lingüísticas, b) Tanto o evangelho de Lucas
como o livro de Atos foram endereçados a Teófilo, c) De conformidade com um tipo
mais clássico de grego, podemos observar, tanto no evangelho de Lucas como no
livro de Atos o emprego do modo optativo grego, o qual figura com muito maior
freqüência do que nos livros de qualquer outro dos autores do Novo Testamento, d)
O fato de que tanto o evangelho de Lucas como o livro de Atos foram escritos pelo
mesmo autor é igualmente demonstrado pelo fato de que ambos enfatizam os
mesmos temas, do principio ao fim. Sendo assim, afirmamos ser o autor de Atos
dos Apóstolos o médico e companheiro de viagem missionária de Paulo, e autor do
terceiro evangelho sinóptico, Lucas.

1.2 CANONICIDADE

Como já vimos anteriormente a autoria do documento sendo atribuída a Lucas


o medico amado e companheiro do apóstolo Paulo em suas viagens missionárias
(Cl 4: 14). Entendemos que esta parte do trabalho é tão importante quanto a
primeira, visto que neste ponto do nosso trabalho objetivamos mostra a

5
Boor Werner de, Comentario Esperança.
6
Kistemaker Simon J.exposição de Atos dos Apóstolos, P. 39
7
Champlin R. N., O Novo Testamento Interpretado, p. 2

4
canonicidade do documento, e para isso buscaremos os relatos e testemunhos
daqueles que são conhecidos como pais da igreja.
O testemunho de Irineu de Leão é considerado muito importante porque é
considerado como um dos primeiros pais da igreja, e afirma que Lucas é o autor do
livro de Atos dos Apóstolos em sua obra conhecida como “adv. Haer” por volta do
século II.8. Outros que também foram considerados como pais da igreja dão a sua
contribuição testemunhando a veracidade deste documento, são eles: Clemente de
Alexandria, Orígenes (185-254 d.C.), coloca o livro de Atos entre os livros que são
indiscutíveis quanto a autenticidade. Tertuliano Clemente de Roma, Atanásio no ano
de (367 d.C.), apresentou uma lista que continha os vinte e sete (27) livros do Novo
Testamento como sendo canônicos, e isso leva a crer que o Livro de Atos dos
Apóstolos estava entre eles, Em 397 d.C. no concilio de Cartado a igreja
reconheceu oficialmente estes 27 livros da lista apresentados por Anastácio Inácio
de Antioquia (115 d.C.), Policarpo também, ao escrever sua carta aos Filipenses por
volta do ano 120 d.C. faz alusões a Atos dos Apóstolos.
Portanto, concluímos que este documento exegetizado que é o livro de Atos
dos apóstolos, trata-se de uma obra autenticamente canônica, considerando o
número de relatos que foram mencionados a cima.

1.3 DESTINATÁRIO

Como já foi definida quanto a canonicidade do documento, e verificada a


importância da autenticação canônica do mesmo. Falaremos agora sobre o
destinatário a quem Lucas destina este documento. E logo no primeiro versículo
encontramos a quem este livro foi dedicada, onde esta escrito: “Escrevi o primeiro
livro, ó Teófilo...(At 1:1),”9 uma pessoa que pouco se sabe a seu respeito, mas que
muito contribuiu com o medico amado em suas pesquisas desde o seu primeiro
escrito até o segundo,10 devido a referencia a Teófilo como “excelentíssimo” (Lc
1:3), acredita-se que se tratava de um cidadão romano ou talvez da Grécia, que mui
provavelmente residia em Roma.

8
Carson D. A., Moo Douglas J., Morris Leon, Introdução ao Novo Testamento, SP 1997, p. 203
9
Almeida João Ferreira, Bíblia Sagrada, SP, p. 1097
10
Carson D. A., Moo Douglas J., Morris Leon, Introdução ao Novo Testamento, SP 1997, p.221

5
O livro de Atos, tal como o Evangelho de Lucas, foi escrito para um oficial
romano de nome Teófilo.11
Esse livro foi escrito com a finalidade de apresentar a esse oficial, e a outras
pessoas interessadas, em uma defesa do cristianismo. Por isso acredita-se que não
se tratava de um romano herético do judaísmo, nem tão pouco a uma organização
política contrario ao estado romano. Ademais, é quase certo que Lucas tinha em
mente um público bem mais amplo do que um único individuo,12.
Por isso cremos ser a melhor argumentação quanto a seu destinatário, que
Lucas dedica suas duas obras a Teófilo, que possivelmente deve ter sido seu
patrocinador, e que possivelmente se tratava de um cidadão romano.

1.4 DATA E OCASIÃO

Tanto quanto os outros pontos este também é de grande importância, visto que
aqui será mostrado a data e a ocasião aproximadamente em que este documento
ou livro de Atos dos Apóstolos foi escrito, existe muitas divergências entre os
estudiosos da Bíblia do Novo Testamento, as datas variam de grupos para grupos
de estudantes, mas três datas pelo menos são atribuídas à época das escrituras, as
datas sugeridas para Atos dos Apóstolos vão de 62 d.C. ano em que ocorre o último
acontecimento do livro de Atos e 130 d.C. até por volta do século II, que é quando
ocorre a primeira referencia explicita a Atos. De acordo com Carson o documento foi
“escrito entre três datas 62-70; de 80-95; ou 115- 130 d.C”.13 “Se, porém, é razoável
sustentar que Lucas conseguiu fazer um retrato matizado da igreja em data
comparativamente recente depois dos eventos que registra, torna-se possível uma
data algo mais recuado”.14 O fato de atos ter o seu final de forma abrupta, sugere
uma data próxima e segura. Aqui a narração de Lucas informa que Paulo está
residente em Roma, em prisão domiciliar e aproveitando a oportunidade para
anunciar a Palavra de Deus (At 28: 30-31). Se for levado em consideração essa
linha de pensamento a data mais provável seria antes de 70 d.C. com certeza tem
outras conclusões para o livro de Atos que refutam esse argumento como: A
explicação de que Lucas pode ter tido a intenção de escrever um terceiro volume e
11
Champlin Russeii Norman, O Novo Testamento Interpretado, SP 1995, p. 6
12
Carson D. A., Moo Douglas J., Morris Leon, Introdução ao Novo Testamento, SP 1997, p. 221
13
Carson D. A., Moo Douglas J., Morris Leon, Introdução ao Novo Testamento, SP 1997, p. 215
14
Marshall I. Howard, Atos introdução e comentário, SP, 1980, p. 48

6
que Atos terminasse nesse ponto para prender o leitor em suspense pelo fato de
Lucas escrever em (At 1:1) a palavra “(primeiro) para descrever o evangelho de
Lucas”.15 É importante considerar outros estudiosos e eruditos com argumentos de
que a data provável seja 80 a 95 d. C., dentre eles esta Oscar Culmann a Georg
Kummel que dão outra suposta data de 90- 100 d. C.16.
Por tudo o que foi relatado acima, concluímos que uma data mais coerente
para o documento de Atos dos Apóstolos é 62-70 d.C. O local da obra, há os que
sugerem Roma, Éfeso, Antioquia, ou algum lugar na Macedônia ou na Ásia Menor.
Conclui-se que o local mais apropriado seja Roma, por ocasião em que o apostolo
Paulo esteve preso em Cesaréia (At 24:27), onde ficou por dois anos. esta é a
posição deste trabalho quanto a data e ocasião.

15
Carson D. A., Moo Douglas J., Morris Leon, Introdução ao Novo Testamento SP 1997, p. 219
16
Oscar Cullmann, p.49, Werner G. Kummel PP 236, 238

7
CAPITULO DOIS

ESBOÇO DO DOCUMENTO

Nesta parte do trabalho será feito a exposição do esboço do livro de Atos, e


será seguido a proposição livre da Bíblia Almeida Revista e atualizada, ao
documento exegetizado neste trabalho.

I – O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS EM JERUSALÉM (1:1 – 6:7)

- A ascensão de Cristo 1: 6-11

- A seleção do novo apóstolo 1: 15-26

- A descida do Espírito Santo 2: 1-13

- O discurso de Pedro 2: 14-41

- A cura de coxo 3: 1-26

- A prisão de Pedro e João 4: 1-22

- A morte de Ananias e Safira 5: 1-11

- A prisão dos apóstolos e o conselho de Gamaliel 5: 17-40

- O ministério de Diaconia 6: 1-7

2 – O TESTEMUNHO DA IGREJA EM TODA JUDEIA E SAMARIA (6:8 – 9:31)

- O martírio de Estevão 6: 8-7:60

- A perseguição da igreja 8: 1-40

- A conversão de Saulo 9: 1-31

3 – A PREGAÇÃO DO EVANGELHO ATÉ AOS CONFINS DA TERRA (9:32 – 28:31)

- O Centurião Cornélio 10: 1-10

- A igreja em Antioquia, quando são chamados de “Cristãos”11: 19-26

- A primeira viagem missionária 13: 1-15:35

- O concilio de Jerusalém 15: 1-35


8
- A segunda viagem missionária 15: 36-18: 23

- Paulo em Atenas e seu discurso aos gregos 17: 16-34

- A terceira viagem missionária 18: 24-28-30

- Paulo se despede dos Presbíteros de Éfeso 20: 13-18

- Prisões julgamentos e defesas de Paulo 21: 27-28: 30

- Paulo em Roma 28: 16-30

9
CAPITULO TRÊS

TEXTO ORIGINAL

Esta parte do nosso trabalho exegético tem por objetivo apresentar o texto
original da passagem que compreende Atos 6: 1-7.

1 Ἐν δὲ ταῖς ἡμέραις ταύταις πληθυνόντων τῶν μαθητῶν, ἐγένετο γογγυσμὸς τῶν


ἑλληνιστῶν πρὸς τοὺς Ἑβραίους, ὅτι παρεθεωροῦντο ἐν τῇ διακονίᾳ τῇ καθημερινῇ αἱ
χῆραι αὐτῶν.

2 Προσκαλεσάμενοι δὲ οἱ δώδεκα τὸ πλῆθος τῶν μαθητῶν, εἶπον, Οὐκ ἀρεστόν ἐστιν


ἡμᾶς καταλείψαντας τὸν λόγον τοῦ Θεοῦ, διακονεῖν τραπέζαις.

3 ἐπισκέψασθε οὖν, ἀδελφοὶ, ἄνδρας ἐξ ὑμῶν μαρτυρουμένους ἑπτὰ, πλήρεις


πνεύματος ἁγίου καὶ σοφίας, οὓς καταστήσομεν ἐπὶ τῆς χρείας ταύτης·

4 ἡμεῖς δὲ τῇ προσευχῇ καὶ τῇ διακονίᾳ τοῦ λόγου προσκαρτερήσομεν.

5 Καὶ ἤρεσεν ὁ λόγος ἐνώπιον παντὸς τοῦ πλήθους. καὶ ἐξελέξαντο Στέφανον,
ἄνδρα πλήρη πίστεως καὶ πνεύματος ἁγίου, καὶ Φίλιππον καὶ Πρόχορον καὶ
Νικάνορα καὶ Τίμωνα καὶ Παρμενᾶν καὶ Νικόλαον προσήλυτον Ἀντιοχέα,

6 οὓς ἔστησαν ἐνώπιον τῶν ἀποστόλων· καὶ προσευξάμενοι ἐπέθηκαν αὐτοῖς τὰς
χεῖρας.

7 Καὶ ὁ λόγος τοῦ Θεοῦ ηὔξανε, καὶ ἐπληθύνετο ὁ ἀριθμὸς τῶν μαθητῶν ἐν
Ἱερουσαλὴμ σφόδρα, πολύς τε ὄχλος τῶν ἱερέων ὑπήκουον τῇ πίστει.

10
CAPITULO QUATRO

TRADUÇÃO LIVRE

Esta parte do nosso trabalho exegético tem por objetivo apresentar a tradução
livre da passagem que compreende a pericope de Atos 6: 1- 7.

1- Mas naqueles dias multiplicando-se os discípulos houve uma murmuração dos


helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo negligenciadas
no serviço diário.

2- Convocando então, os doze a multidão dos discípulos disseram: não é desejável


que nós abandonemos a Palavra de Deus para servir as mesas.

3- Selecionai, porém, irmãos dentre vós sete varões que tenham bom testemunho
cheios do Espírito e de sabedoria os quais nomearemos a esta necessidade.

4- Porém, nós continuaremos envolvidos à oração e ao serviço da palavra.

5- E a palavra agradou a vista de toda multidão. E elegeram Estevão, varão cheio


de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e
Nicolau, prosélito de Antioquia.

6- Os quais puseram de pé a vista dos apóstolos, e estes tendo orado, impuseram


sobre eles as mãos.

7- E a Palavra de Deus crescia e era aumentado o número dos discípulos em


Jerusalém grandemente e uma grande multidão de sacerdotes obedecia a fé.

11
CAPITULO CINCO

ESTUDO DOS TERMOS

Esta parte do nosso trabalho exegético tem por objetivo apresentar o estudo
dos termos das palavras do texto que compreende Atos 6: 1- 7.

ANÁLISE DO TEXTO

1 - πληθυνόντων – Verbo, Presente, ativo, particípio, genitivo, masculino, plural –


multiplicando-se.

Segundo afirma Rega.

“O verbo encontra-se aqui conjugado no modo particípio, é considerado


como um adjetivo verbal, por ter características tanto de adjetivo como de
verbo. Tempo presente, denota uma ação continua ou num estado
incompleto. A ação é descrita como um progresso, em andamento, durativo
ou linear. A voz ativa indica que o sujeito realiza a ação expressa pelo
verbo.”17

Lucas indica que o sujeito sofre a ação expressada pelo verbo. Por
conseguinte a ação continua e se da num estado incompleto em processo. Faz a
afirmação “multiplicando-se” ou “aumentando” o número de discípulos naqueles dias.

2 – μαθητῶν – Substantivo, genitivo, masculino, plural – discípulos.

O caso genitivo no substantivo indica que ele desempenha a função de


especificar, definir ou descrever o papel do sujeito na oração. Palavras também
aparecem expressando posse.18

Esta é a primeira vez no livro de Atos, que a palavra – μαθητῶν (discípulo) é


utilizada para se referir aos cristãos, mas é necessário empregar uma expressão que
indica associação indireta com Jesus, são aqueles que são seguidores de Jesus,
que tem mais a ver com o compromisso com as idéias de Cristo do que com o
companheirismo do dia a dia, diferente dos Evangelhos que são aqueles a quem
Jesus ensinou e que andaram com Ele.

De acordo com Bíblia de Estudo Palavra chave. “Substantivo que indica


aprender, entender. Um discípulo, um aluno, seguidor de um professor”19

17
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 27,30
18
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 68.

12
3 - γογγυσμὸς – Substantivo, nominativo, masculino, singular - murmuração.

“O uso do substantivo no caso nominativo indica o sujeito na oração. Com


freqüência, o sujeito pode ser identificado fazendo-se a pergunta: Quem é que? Ou
o que é que? Visto que um substantivo pode funcionar como atributo do sujeito”,
conforme Rega.20

Aqui o autor do livro de Atos o Medico Lucas, menciona que o substantivo


γογγυσμὸς (murmuração), é causado por falta de assistência na distribuição de
alimentos para com as viúvas dos helenistas.

4 - ἑλληνιστῶν – Substantivo, genitivo, masculino, plural – helenistas.

Como já vimos que no caso do genitivo no substantivo que ele desempenha a


função de especificar, definir ou descrever o papel do sujeito na oração. Palavras
que também aparecem expressando posse Rega21

Esta palavra aparece descrevendo que eram homens e mulheres de


descendência judaica que nasceram fora de Israel, que falavam a língua grega. Os
hebreus eram judeus palestinos que falavam o aramaico e utilizavam o texto
hebraico. O que Lucas esta descrevendo é que estava acontecendo uma certa
animosidade entre os grupos, algo que tenha dado lugar à desconfiança quanto ao
tratamento dispensado as viúvas negligenciadas.

5 - Ἑβραίους – Substantivo, acusativo, masculino, plural – Hebreus.

De acordo com que Rega afirma: Quando um substantivo indica a pessoa ou


coisa que diretamente sofre a ação do verbo aparece no caso acusativo. 22

Quando Lucas se refere a hebreus esta falando dos judeus da Palestina e


outros, que falavam aramaico em oposição aos gregos.

6 - χῆραι – Adjetivo, pronominal, nominativo, feminino, plural – viúvas.

De acordo com Rega

19
Almeida João Ferreira, Bíblia de Estudo Palavra chave, RJ 2011, p.2290.
20
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p.68
21
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p.68
22
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 70

13
“Adjetivos são palavras que qualificam o substantivo. Assim, quando
falamos de um homem sábio, de um aluno honesto ou de uma fruta
deliciosa, estamos usando adjetivos para atribuir alguma qualidade as
pessoas ou coisas das quais estamos falando. Os adjetivos femininos são
divididos em duas classes, dependendo das suas terminações no
nominativo singular”.23

“Feminino de um suposto derivado, aparentemente pela idéia de deficiência.


Metáf. Uma cidade despojada de seus habitantes e riquezas, é representada na
figura de uma viúva”.24

7 - παρεθεωροῦντο – Verbo, indicativo, imperfeito, passiva, terceira pessoa, plural


– Negligenciadas.

Conforme Rega:

“O modo indicativo é o modo da declaração feita com segurança: afirma


fatos como se fosse uma realidade. Este modo não esclarece se os fatos
são verdadeiros ou falsos, simplesmente se limita a afirmá-los.O imperfeito
expressa uma ação que foi contínua por algum tempo no passado, mas que
já cessou. A ação pode ter sido continuada, habitual, intermitente, etc., o
que é determinado pelo contexto e pelo significado do verbo.A voz passiva
indica que o sujeito sofre a ação expressa pelo verbo, geralmente
executada por algum agente que não seja ele próprio”.25

Este verbo aparece somente aqui em todo o Novo Testamento.(Bíblia The


Word) O radical verbal traz a idéia de “passar a vista por cima”, em outras palavras
deixar de ser visto e assim “negligenciado” (ARA, PJFA). Aqui o tempo imperfeito
aponta para algo que já estava sendo normal, ou seja, as viúvas dos helenistas
estavam sendo esquecidas, ou deixadas de lado.

8 - διακονίᾳ - Substantivo, dativo, feminino, singular – serviço.

“O grego modifica a forma do substantivo conforme a função dele na frase. Não


é de se estranhar, que no grego exista uma forma para o objeto direto e outra para
o objeto indireto”.26

“Um substantivo que expressa interesse pessoal aparece no caso dativo. Indica
a pessoa ou coisa em quem recai o proveito ou dano de uma ação”.27

23
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p.93
24
Bíblia de estudos The Worde
25
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 30
26
Schalkwijk Francisco Leonardo, Coinê Pequena Gramatica do Grego Neotestamentário, MG 1994, p.12
27
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 65

14
Aqui Lucas afirma que havia na igreja uma distribuição de alimento que era
descrita como um tipo de “ministério” que é a mesma palavra que fora usada no (v 4)
para o ministério da pregação da Palavra, mas devido o crescimento da igreja a
exigência deste serviço também aumentaram, que já não era possível fazer tão bem
como deveria, e o problema se tornava mais grave a medida que apareciam mais
grupos diferentes dentro da igreja. Diante destas circunstancias seria inevitável que
alguns fossem negligenciados. Lucas aqui esta enfatizando as ações que recai
sobre aqueles que tinham o ministério e a responsabilidade da distribuição dos
alimentos para todos.

“Diaconia é uma ação de servir, serviço, assistência, o ato de desempenhar


funções amigavelmente, Cf. Lc 10:40, 2 Tm 4:11, assistência e auxilio 2 Co 8:4,
uma comissão At 12: 25”.28

9 - Προσκαλεσάμενοι – Verbo, particípio, aoristo, media depoente, nominativo,


masculino, plural – Convocando.

Conforme Rega

“O particípio é considerado como um adjetivo verbal, por ter características


tanto de adjetivo como de verbo. O aoristo indica a ação de uma maneira
simples, indefinida, sem especificar a sua duração. Faz referencia ao fato ou
evento em si, geralmente no passado, mas não revela nem os antecedentes
nem os resultados dele. É ação que chamamos de “pontilear”. A voz média
expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo, para si mesmo ou de
si mesmo”.29

O verbo Προσκαλεσάμενοι significa: “Chamar a si mesmo”, ou “convidamos a


vir”, e é usado somente na vós média. Esse foi o tempo usado por Lucas, para se
referir ao chamado de Deus para os gentios, por meio do evangelho (At 2:39). A voz
média traz a idéia de envolvimento, por isso poderia ser traduzido por “convocando”.

10 - πλῆθος – Substantivo, acusativo, neutro, singular – Multidão

Quando um substantivo indica a pessoa ou coisa que diretamente sofre a ação


do verbo aparece no caso acusativo, conforme Rega30.

28
Mounce William D.,Léxico Analítico Grego do Novo Testamento, SP 1993, p. 173
29
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 28.30
30
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 70

15
Apesar da palavra “comunidade” usada pela ARA, traz a idéia de um grade
grupo, pois expressa melhor a idéia de um grupo alem dos 120 de Atos 1:15.

Aqui o autor de Atos o médico Lucas, esta dizendo que o número de discípulo
já não é mais um número pequeno, agora já é uma multidão. “Um grande número de
Homens”, “multidão de Pessoas” ou uma “multidão inteira”. Conforme Strong31.

11 – εἶπον – Verbo, indicativo, aoristo, ativa, terceira pessoa do plural – Disseram.

O indicativo é o modo da declaração feita com segurança: Afirma fatos como


se fosse uma realidade. Este modo não esclarece se os fatos são verdadeiros ou
falsos, simplesmente se limita a afirmá-los. O aoristo indica a ação de uma maneira
simples, indefinida, sem especificar sua duração. Faz referencia ao fato ou evento
em si, geralmente no passado, mas não revela nem os antecedentes nem os
resultados dele. A voz ativa indica que o sujeito indica a ação expressa pelo verbo.32

O autor esta afirmando o que foi dito pelos apóstolos.

12 - καταλείψαντας – Verbo, particípio, aoristo, ativa, acusativo, masculino, primeira


pessoa do plural – Abandonemos.

“O particípio É considerado como um adjetivo verbal, por características tanto


de adjetivo como de verbo. O aoristo indica a ação de uma maneira simples,
indefinida, sem especificar a sua duração. Faz referencia ao fato ou evento em si,
geralmente no passado, mas não revela nem os antecedentes nem os resultados
dele. A voz ativa indica que o sujeito sofre a ação expressa pelo verbo”.33

Conforme Strong: “Desistir de, é deixar uma pessoa ou coisa a sua própria
sorte pelo cessar de cuidar, abandonar, desamparar”, não era sábio da parte dos
apóstolos desistir de cuidar do povo, deixando de preparar o alimento espiritual, para
então se dedicar apenas no alimento material34.

Em vista de suas muitas responsabilidade, os apóstolos não podiam fazer o


trabalho da distribuição dos alimentos para com as viúvas, em virtude de estarem
muito ocupados. A situação lembra a de Moisés quando julgava o povo de Israel, e

31
Strong James, Dicionário Bíblico Strong, SP 2002, p. 1742
32
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 29,30.
33
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 30
34
Strong James, Dicionário Bíblico Strong, SP 2002, p. 1570

16
Jetro, o sogro dele, aconselhou a escolher homens capazes e colocá-los para ajudá-
lo (Ex 18: 17-26). Isso aliviou o fardo de Moisés. Assim também os apóstolos tentam
resolver o problema da distribuição de alimentos.

13 - λόγον – Substantivo, acusativo, masculino, singular – Palavra.

“Quando um substantivo indica a pessoa ou coisa que diretamente sofre a ação


do verbo aparece no caso acusativo”.35

Lucas narra neste momento a atitude dos doze em fazer uma reunião para
dizer, que não é correto abandonar o ensino da Palavra de Deus para servir a mesa,
visto que a Palavra proferida a viva voz que expressa os ditos de Deus, seus
decretos mandatos e ordens, não pode parar.

De acordo com Strong:

“Em João denota a essencial Palavra de Deus. Jesus Cristo a sabedoria e


poder pessoais em união com Deus. Denota seu ministério na criação e
governo do universo, a causa de toda vida no mundo, tanto física quanto
ética, que para obtenção da salvação do ser humano, revestiu-se da
natureza humana na pessoa de Jesus, o Messias a segunda pessoa da
Trindade, anunciado visivelmente através de sua Palavra e Obras. Este
termo era familiar para os judeus e na sua literatura muito antes que um
filosofo grego chamado Heráclito fizesse uso do termo logos, por volta de
600 a. C., para designar a razão ou plano divino que coordena o universo
em constante mudança. Era a Palavra apropriada para o objetivo de João
no capitulo um do seu evangelho”36

14 - διακονεῖν – Verbo, infinitivo, presente, ativa – Servir.


Conforme Rega:

“O infinitivo é considerado como um substantivo verbal, pois tem


características tanto de substantivo como de verbo. O tempo grego
chamado presente denota uma ação contínua ou num estado incompleto. A
ação é descrita como em progresso, em andamento, durativa ou linear. E a
voz ativa indica que o sujeito realiza a ação expressa pelo verbo”. 37

Esta palavra é derivada de diakonov, e vem da raiz diâmetro que significa


“guardar com cuidado”. Normalmente se referia a uma tradução que a LXX fez para
se referir ao cuidado providencial de Deus. No Novo Testamento normalmente está
ligada a idéia de “servir”, “ministrar”, quer na mesa ou em outro serviço (Jo 12:25).

35
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 70
36
Strong James, Dicionário Bíblico Strong, SP 2002, p. 1538
37
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 27,30

17
Este termo é também, Freqüentemente utilizado no Novo Testamento, para se referir
aos ministro (pastores) do que aos diáconos, mas é também muitas vezes pra falar
do oficio dos diáconos.

Conforme Gingruch:

“É uma palavra que significa servir a mesa, (Lc 12: 37), servir geralmente no
sentido literal e figurado (Mt 4: 11), Auxiliar (Mt 27: 55), Ajudar apoiar (Mt 25: 44),
servir como diácono I Tm 3: 10-13)”38

15 - ἐπισκέψασθε – Verbo, imperativo, aoristo, media depoente, segunda pessoa


do plural – Selecionai.

“O modo imperativo expressa ordem ou proibição, mas também pode


expressar exortação, conselho ou suplica. Indica a intenção de quem fala, sem
esclarecer se aquilo que foi expresso se tornará realidade ou não. O aoristo indica a
ação de uma maneira simples indefinida sem especificar sua duração. A voz média
expressa uma ação que o sujeito realiza em si mesmo, para si mesmo ou de si
mesmo”.39

O verbo ἐπισκέψασθε “selecionai”, era o verbo usado para descrever os


equipamentos necessários aos animais de carga para uma viagem. Uma forma
tardia deste verbo é επισκέπτομαι que significa “olhar para as pessoas certas para
uma finalidade especifica”. Por isso, ἐπισκέψασθε, traz a idéia de uma seleção feita
a partir de uma inspeção dos elementos necessários para se alcançar um propósito.

Mas também traz a idéia de uma olhada (visita) para as pessoas certas para a
finalidade especifica de salvação, (Lc 1:68; 7:16)40

16 - ἄνδρας – Substantivo, acusativo, masculino, plural – Homens.

O caso do acusativo o sentido primário, é o de extensão. Este é de todos o


mais antigo caso e de mais generalizado uso. O acusativo mede uma idéia quanto
ao seu conteúdo.41

38
Gingrich F. Wilbur, Danker Frederick W., Léxico do Novo Testamento Grego/Portugues, SP 1984, p. 53
39
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 29, 30.
40
Gingrich F. Wilbur, Danker Frederick W., Lexico do Novo Testamento Grego/Portugues, SP 1984, p.83
41
Chambelain W. D., Gramática Exegetica do Grego Neo-Testamentário, SP 1989, p. 63

18
“Quando um substantivo indica a pessoa ou coisa que diretamente sofre a ação
do verbo aparece no caso acusativo. O masculino, que, além de nomear os seres
masculinos, é usado para nomes de rios, ventos e meses42

Neste caso Lucas esta narrando a indicação de homens qualificados da igreja


que eram capazes de realizar esta tarefa, em virtude da responsabilidade, os
Apóstolos sugerem que sejam sete, a igreja elege, os Apóstolos ordenam esses
homens para o cargo especial de ministrar aos pobres, (Fp 1: 1; 1 Tm 3:8).

17 - μαρτυρουμένους – Verbo, particípio, presente, passiva, acusativo, masculino,


plural – Bom testemunho.

Conforme Chambelain

“O Particípio é um adjetivo verbal, Isto é, reveste-se, a um tempo, de


expressão verbal e adjetiva. Na qualidade de verbo exibe tempo e voz, pode
ser também transitivo ou intransitivo, isto é, ter ou não objeto direto. Quando
o sujeito é apresentado como recipiente da ação verbal, acha-se o verbo na
chamada voz passiva”.43

Aqui o Médico Lucas esta relatando o pedido que foi feito pelos Apóstolos, para
que o povo escolhesse dentre eles homens que eram bem falados, que fossem
aprovados, através do seu testemunho de boa reputação (1 Tm 3: 7).

18 - πνεύματος – Substantivo, genitivo, neutro, singular – Espírito.

De acordo com Chambelain:

“O genitivo é primariamente, o caso descritivo. Sua função é adjetiva. De


fato evidencia a gramática comparativa, que este uso é mais antigo que o
adjetivo. A designação não é de todo apropriado, já que o termo significa,
“gerativo”, “produtivo”. Tem –se sugerido designativo melhor, isto é, o caso
que enuncia o caso ou espécie. Qualquer que lhe seja o nome, é o caso
descritivo”.44

“O neutro que é usado em diminutivos, embora designem seres masculinos ou


femininos, além de nomear fenômenos que, por si não possuem gêneros”.45

O Espírito Santo como terceira pessoa da Trindade, co-igual, co-eterno com o


Pai e com o Filho, algumas vezes mencionado de um modo que enfatiza sua
personalidade e caráter, outras vezes mencionado de um modo que enfatiza seu

42
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p.70,71
43
Chambelain W. D., Gramática exegética do Grego Nel-testamentário, SP 1989, p. 106, 122.
44
Chambelain W. D., Gramética Exegética do Grego Neo-Testamentário, SP 1989, p.56
45
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 71

19
trabalho e poder. Aqui o Médico Lucas narra os pré requisitos exigidos pela
comunidade de crentes para exercer a função de diácono, além de ser de boa
reputação, deveria ser cheio do Espírito e de Sabedoria, ou seja, a vida desses
homens deveria ser condizentes com a fé que professavam, os diáconos deveriam
ser homens dotados de habilidades, homens que se destacassem no meio da
comunidade.

19 - καταστήσομεν – Verbo, indicativo, futuro, ativa, primeira pessoa plural –


Nomearemos.

Conforme Rega:

“Indicativo é o modo da declaração feita com segurança: afirma fatos como


se fosse realidade. Este modo não esclarece se os fatos são verdadeiros ou
falsos, simplesmente se limita a afirmá-lo. O futuro como no português,
indica o que vai acontecer. Geralmente expressa a idéia de uma ação
pontilear, mas em alguns casos pode ser durativa. A voz ativa indica que o
sujeito realiza a ação expressa pelo verbo”.46

O futuro ativo indicativo aponta para o fato que a ação dos apóstolos é
posterior e segue a escolha da igreja, mas é prometido como uma certeza, não
como uma possibilidade. καταστήσομεν apontar, nomear constituir, Eles tinham sido
designados para uma tarefa orientada. (Mt 24: 45) e (At 17:15).

20 - προσκαρτερήσομεν – Verbo, indicativo, futuro, ativa, primeira pessoa do plural


– Continuaremos.

Segundo Chambelain:

“O modo indicativo se emprega sempre que se faz uma asserção positiva ou


se formula uma pergunta desse teor. Os verbos formam seu futuro, com
apenas sua base verbal; não ocorre reduplicação, como ocorre no tempo
presente. A vogal do radical é sempre longa, e sua conjugação é regular.
Quando se representa o sujeito como agindo, tem-se a chamada voz
ativa”.47

O verbo προσκαρτερήσομεν “continuaremos” é de uso freqüente em Atos (1:


14, 2:42, 2:46, 8:13, 10:7), é utilizado de pessoas e coisas às quais haja
perseverança.

“Nos dedicaremos” “esse termo grego é usado em diversos sentidos:


1 – Para associar-se intimamente com alguém – (At 8:13)

46
Rega Lourenço stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, SP 2004, p. 30
47
Chambelain W. D. Gramática exegética do Grego Neo-testamentário, SP 1989, p. 88, 105

20
2 – Para servir pessoalmente a alguém (At 10:7)
3 – Estar firmemente compromissado com alguma coisa ou alguém
a – Os primeiros discípulos um ao outro e a oração (At 1:14)
b – Os primeiros discípulos aos ensinos dos apóstolos (At 2:42)
c – Os primeiros discípulos um ao outro (At 2:46)
d – Os Apóstolos ao ministério da oração e da Palavra (At 6:4), Paulo usa a mesma
palavra para chamar os crentes a perseverarem a oração (Rm 12:12; Clo 4:2)”48.

21 - προσευχῇ - Substantivo, dativo, feminino, singular – Oração.

De acordo com Chambelain:

“O caso dativo tem como noção primária a de interesse pessoal, usa-se o


dativo mais generalizadamente para expressar o objeto direto, pode o dativo
expressar vantagem ou desvantagem. Em um caso é o interesse pessoal,
afetado de modo favorável, no outro em moldes desfavorável”49.

O problema deles era falta de tempo, porque precisavam dar prioridade ao


ministério da Palavra de Deus e a oração. Novamente aparece o artigo definido, “a
oração” implicando que se tem em mira um tipo especial de tempo ou de forma de
oração. É improvável que προσευχῇ refere-se a um lugar de oração em que os
Apóstolos estavam constantemente a ser encontrados.

Conforme Coenen e Brouwn:

“No novo Testamento ocorre 70 vezes, geralmente significa “solicitar”,


“pedir” e ocorre com freqüência a todos os evangelhos. Mateus 14 vezes,
Marcos 9 vezes, Lucas 11 vezes, João 11 vezes, e Atos 10 vezes, mas
raramente em Paulo, uma vez cada em 1 Coríntios e Colossenses e duas
vezes em Efésios, acha-se 5 vezes cada em Tiago e Judas, e uma vez em 1
Pedro, mas nenhuma vez nas Epistolas pastorais,Hebreus e Apocalipse”. 50

22 - λόγος – Substantivo, nominativo, masculino, singular – Palavra.


“O Nominativo é primariamente o caso de referencia ou de enunciação. Seu
uso mais generalizado é como sujeito da sentença. Originalmente se expressava o
sujeito da sentença mediante a terminação pessoal do verbo”.51

48
Utley Bob, Série Guia de Estudo e comentário, SP 2010, p. 104
49
Chambelain W. D., Gramática exegética do Grego Neo-testamentário, SP 1989, p.61,62
50
Coenen Lothar, Brown Colin, Dicionário Internacional de Teologia, SP 200, P. 1436
51
Chambelain W. D., Gramática exegética do Grego Neo-Testamentário, SP 1989, p. 55

21
Esta é uma palavra falada em viva voz e expressa uma concepção ou uma
idéia. Os Apóstolos propõem e enunciam a proposta e a igreja aprova a sugestão ou
idéia deles. A palavra “agradou”, demonstra a harmonia básica entre os apóstolos e
a comunidade cristã. A reclamação parou visto que a queixa foi retirada e todo o mal
estar do meio do povo gerado pela negligencia na distribuição foi acalmada.

23 - ἐξελέξαντο – Verbo, indicativo, aoristo, media, singular – Elegeram.

De acordo com Rega:

“O indicativo é o modo da declaração feita com segurança: afirma fatos


como se fosse uma realidade. Este modo não esclarece se os fatos são
verdadeiros ou falsos, simplesmente se limita a afirmá-los. O aoristo indica a
ação de uma maneira simples, indefinida, sem especificar sua duração. Faz
referencia ao fato ou evento em si, geralmente no passado, mas não revela
nem os antecedentes nem os resultados dele. É ação que chamamos de
“pontilear”. A voz média expressa uma ação que o sujeito realiza em si
mesmo, para si mesmo ou de si mesmo”.52

Não se sabe como o povo instituiu e regulou a procura destes homens. O


Médico Lucas não diz nada sobre lançar sorte, mas o verbo “ἐξελέξαντο” “eleger”
indica que foi uma seleção baseada em regulamentos estipulados pelos Apóstolos.

Conforme Bíblia The Word

“A escolha de Deus Pai que escolhe os cristãos como aqueles que Ele
separa da multidão sem religião como seus amados, aos quais transformou
através da fé em Cristo Jesus, em cidadãos do reino messiânico: (Tg 2: 5),
de tal forma que o critério de escolha arraiga-se unicamente em Cristo e
seus méritos”.53

No início do seu ministério o Senhor Jesus elegeu os doze apóstolos inclusive


Matias (At 1: 24), mas a igreja elege os sete homens que os apóstolos dão posse.

24 - Στέφανον – Substantivo, acusativo, masculino, singular – Estevão.

“O caso acusativo o sentido primário é o de extensão. Este é de todos o mais


antigo caso e de mais generalizado uso, o acusativo mede uma idéia quanto ao seu
conteúdo.”54

Todos os nomes são de origem grega, apesar de alguns nativos judeus terem
nomes gregos, entre eles os Apóstolos Filipe e André, alguns estudiosos preferem a

52
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, S.P. 2004, p.28,29
53
Biblia de Estudo The Word.
54
Chambelain W. D., Gramática Exegética do Grego Nel-Testamentário, S.P. 1989, p. 63

22
explicação que todos os sete eram judeus helenistas cujo idioma materno era o
grego. O primeiro nome é Estevão, que significa “uma Coroa”. Estevão preenche os
requisitos determinados pelos Apóstolos, visto que Lucas relata que ele é um
homem “cheio de fé e do Espírito Santo”.55

25 - Φίλιππον – Substantivo, acusativo, masculino, singular – Filipe.

“Quando um substantivo indica a pessoa ou coisa que diretamente sofre a ação


do verbo aparece no caso acusativo. O masculino, que, além de nomear os seres
masculinos, é usado para nomes de rios, ventos e meses”.56

Existem diversos Filipes no Antigo Testamento. Mas esse era um dos sete, seu
nome significa “amante de cavalos”. Seu ministério é relatado em Atos 8. Ele foi um
instrumento do avivamento em Samaria, e uma testemunha pessoal para o oficial do
governo da Etiópia. Por isso ele é chamado de o “evangelista” em (Atos 21: 8) e
suas filhas eram também ativas no ministério (Profetizas Atos 21:9).57

26 - Πρόχορον – Substantivo,acusativo, masculino singular – Prócoro.

“É o caso regular a usar-se após verbo transitivo, a menos que aja razão
distinta para que se use outros dos casos, gradualmente alijou o acusativo aos
demais casos da função de complementação adjetiva dos verbos”.58

Conforme Champlin:

“Prócoro é mencionado exclusivamente neste versículo, o que não nos


permite fazer qualquer idéia sobre ele, além do que as Escrituras aqui nos
informam, de que ele foi um dos sete diáconos originalmente selecionados
pela igreja de Jerusalém. Todavia, tradicionalmente, Prócoro é o autor do
livro “Atos de João”. Porém trata-se de uma obra apócrifa e fabulosa sobre o
apostolo João. É extremamente provável que tal livro tenha sido escrito por
Prócoro, um dos sete diáconos originais da igreja de Jerusalém. Essa
tentativa foi feita para que o citado livro se escudasse sobre a autoridade de
Prócoro, como suposta testemunha ocular dos labores do Apóstolo João.
No entanto pouco ou nada existe capaz de autenticar essa obra. Essa obra
apócrifa, “Atos de João”, apresenta Prócoro como companheiro desse
Apóstolo e seu biógrafo. A arte bizantina faz o apostolo João dedicar o seu
Evangelho a Prócoro. Há também uma outra tradição que ajunta que
Prócoro foi consagrado por Pedro como bispo da Nicomédia. Porém,
nenhuma dessas tradições é digna de confiança”.59

55
Kistemaker Simon J., Comentário do Novo Testamento, p. 297
56
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, S.P. 2004, p. 28
57
Bíblia de Estudo Palavra Chave Hebraico/Grego, R.J. 2009, p. 1166, 1167.
58
Chambelaim w. D. GramáticaExegética do Grego Nel-Testamentário S. P. p. 64
59
Champlin Russel Norman, Novo Testamento Interpretado, S. P. 1995, p. 132

23
27 - Νικάνορα – Substantivo, acusativo, masculino, singular – Nicanor.
“Quando um substantivo indica a pessoa ou coisa que diretamente sofre a ação
do verbo aparece no caso acusativo. O masculino, que, além de nomear os seres
masculinos, é usado para nomes de rios, ventos e meses”.60

“Não possuímos quaisquer informações certa, Bíblica ou extra Bíblica sobre


esse personagem, e a tradição que assevera que ele sofreu martírio na mesma
ocasião em que Estevão foi executado, sem dúvida é totalmente fictícia”. 61

28 - ἔστησαν – Verbo, indicativo, aoristo, ativa, terceira pessoa do plural –


puseram.

De acordo com Chambelain:

“O modo indicativo se emprega sempre que faz uma asserção positiva ou se


formula uma pergunta desse teor. O tempo aoristo expressa a ação pontiliar
no passado. O termo aoristo significa: Indefinido. A ação é afirmada, não
descrita. Expressa o verbo, ainda, como se relaciona a ação com o sujeito
da sentença. Isto se faz por meio da voz. Quando se representa o sujeito
como agindo, tem-se a chamada voz ativa”.62

Aqui Lucas informa que todo o povo se colocou de pé diante dos apóstolos.
29 - ἐπέθηκαν – Verbo, indicativo, aoristo, ativa, terceira pessoa do plural –
Impuseram.

Conforme Rega:

“O indicativo é o modo declaração feita com segurança: afirma fatos como


se fossem uma realidade. Este modo não esclarece se os fatos são
verdadeiros ou falsos, simplesmente se limita a afirmá-los. O aoristo indica a
ação de uma maneira simples, indefinida, sem especificar sua duração. Faz
referencia ao fato ou evento em si, geralmente no passado, mas não revela
nem os antecedentes nem os resultados dele. A voz ativa indica que o
sujeito realiza a ação expressa pelo verbo”. 63

Os apóstolos não impuseram as mãos para os homens receberem o Espírito


Santo, porque os sete eleitos já estavam cheios do Espírito (v. 3,5). Em vez disso os
apóstolos conferiram a eles a responsabilidade de levar a cabo aquele ministério.
Aqui o sujeito esta realizando a ação que o verbo esta expressando.

60
Rega Loureço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, S. P. 2004 p. 28
61
Champlin Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado, S. P. 1995, p. 132
62
Chambelaim W. D., Gramática Exegética do Grego Nel-Testamentário, S. P. 1998, p.107
63
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, S. P. 2004, p. 30

24
“Esta é a primeira vez em Atos que se menciona uma cerimônia de imposição
de mãos como rito mediante o qual alguns membros da igreja eram nomeados para
tarefas especificas. No Antigo Testamento, a imposição de mãos as vezes
significava bênção (Gn 48: 14), as vezes atribuição de algum encargo (Nm 27: 18-
23)”.64

30 - ἀποστόλων – Substantivo, genitivo, masculino, plural – Apóstolos.

Segundo Chambelain:

“O genitivo é primariamente, o caso “descritivo”. Sua função é adjetiva. De


fato, evidencia a gramática comparativa que este uso é mais antiga que o
adjetivo. A designação não é de toda apropriada, já que o termo significa,
“gerativo”, “produtivo”. Tem-se sugerido designativo melhor, isto é, o caso
que enuncia o gênero ou espécie. Qualquer que lhe seja o nome é o caso
descritivo”.65

Aqui o Médico Lucas esta narrando o gênero ou espécie desse grupo de


homens e agrega a eles os adjetivos de um delegado, especialmente um
embaixador do evangelho, oficialmente uma pessoa comissionada por Cristo
“apóstolo”, um mensageiro, aquele que é enviado.66

No sentido geral de mensageiro (Jo 13: 16; Fp 2: 25), quando se refere a


mensageiro ou embaixador enviado da parte de Deus (Lc 11: 49; Ef 3: 15), quando
se refere aos doze apóstolos de Cristo (Mt 10: 2; Lc 6: 13; At 1: 26).

31 - λόγος – Substantivo, nominativo, masculino, singular – Palavra.

Quando um substantivo desempenha o papel de sujeito da oração aparece no


caso nominativo. Com freqüência, o sujeito pode ser identificado fazendo-se a
pergunta: “Quem é que?” Ou “O que é que?”67

Lucas aqui não está falando de palavra como sinônimo de livro, porém se
refere a Palavra de Deus como os apóstolos continuaram a pregar (v 2,4), mas que
agora se espalhava para lugares além de Jerusalém. Por todo o seu livro, Lucas
registra o crescimento maravilhoso da igreja primitiva. Por exemplo, na conclusão de
seu relatório do pentecoste, ele declara que Deus diariamente acrescentava

64
Williams Davd J., Novo Comentário Biblico Conteporaneo
65
Chambelain W. D., Gramática Exegética do Grego Nel-Testamentário, S. P. 1989, p. 58
66
Bíblia de Estudo Palavra Chave R. J. 2009. p. 2087
67
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, S. P. 2004, p.68

25
pessoas aos três mil crentes (Atos 2: 41, 46). O texto diz “a Palavra de Deus
continuava a aumentar”.68 Isso não significa que aumentou o número de livros, mas
que o evangelho em si tornou-se parte da vida espiritual do povo, ou seja, o efeito da
palavra proclamada tornou-se cada vez mais notável na vida dos habitantes de
Jerusalém.

32 - ὄχλος – Substantivo, nominativo, masculino, singular – multidão.

“O nominativo é primariamente o caso de referencia ou de enunciação. Seu


uso mais generalizado é como “sujeito”, da sentença. Na realidade, originalmente se
expressava o sujeito da sentença mediante a terminação pessoal do verbo”.69

A primeira vista, esta informação nos deixa um pouco desconfiados, Que


aqueles que eram profundamente conhecedores do Velho Testamento estavam
sendo convencidos de que Jesus de Nazaré era verdadeiramente o Messias
prometido. Agora o circulo intimo do judaísmo estava se partindo, visto que grande
parte dos sacerdotes se tornara cristão.

33 - ὑπήκουον – Verbo, indicativo, imperfeito, ativa, terceira pessoa do plural –


obedeciam.

Conforme Rega:

“O indicativo é o modo da declaração feita com segurança: Afirma fatos


como se fosse uma realidade. Este modo não esclarece se os fatos são
verdadeiros ou falsos, simplesmente se limita a afirmá-los. O imperfeito
expressa uma ação que foi continua por algum tempo no passado, mas que
já cessou. A ação pode ter sido continuada, habitual, intermitente, o que é
determinado pelo contexto e pelo significado do verbo. A voz ativa indica
que o sujeito sofre a ação expressa pelo verbo”.70

O verbo ὑπήκουον significa literalmente “escutar atentamente”. No entanto no


Novo Testamento traz a idéia de ouvir com atenção e responder positivamente ao
que ouviu. Normalmente os tradutores traduzem como “obedecer”.

68
Kistemaker Simon J., Comentário do Novo Testamento, p. 298
69
Chambelain W. D., Gramática exegética do Grego Nel-Testamentário, S. P. 1989, p.55
70
Rega Lourenço Stelio, Bergmann Johannes, Noções do Grego Bíblico, S. P. 2004, p. 30

26
CAPITULO SEIS

TEOLOGIA DO TEXTO

Depois de ter sido feito o estudo dos termos, o objetivo do trabalho neste
momento é mostrar a teologia encontrada no texto de Atos que compreende o
capítulo seis do versículo primeiro ao sete, ( Atos 6: 1-7).

O texto nos apresenta a teologia soteriologia (salvação) e eclesiologia (igreja),


porém temos mais elementos da teologia eclesiológica.

Soteriologia – “Vocação eficaz” – O texto nos mostra a conversão de um dos


maiores grupos de resistência e oposição ao evangelho, que era justamente os
sacerdotes. O texto nos mostra com clareza que a vocação eficaz é obra do Espírito
Santo que age secretamente no coração do ser humano, trazendo vida e
regeneração, naqueles a quem Ele elegeu, para salvação.71

“Sacerdotes e judeus recebem o evangelho”. Somente neste versículo, em todo


o livro de Atos, é que encontramos qualquer declaração no sentido de que o
evangelho cristão fazia qualquer impressão sobre a casta sacerdotal judaica. O
trecho de (João 12:42), encerra uma nota igual a esta, observando que muitas das
autoridades criam em Cristo, embora nunca tivessem declarado sua fé, por medo de
serem expulsos da sinagoga. Essa referencia às autoridades não pode ser limitada
aos membros do sinédrio, embora pelo menos Nicodemos e José de Arimatéia, que
eram membros do sinédrio, houvesse crido verdadeiramente em Cristo Jesus.
Contudo havia muitos rabinos nas sinagogas, além de muitos sacerdotes e levitas no
templo, que creram no evangelho. Essa declaração acerca da fé que muitíssimos
sacerdotes punham em Cristo serve para nos mostrar, que embora a nação de
Israel, em sua maioria, tivesse continuado em sua rejeição ao seu próprio Messias,
contudo, em todos os níveis da sociedade judaica, muitos chegaram a perceber a
veracidade da mensagem cristã.72

Conforme a definição de Berkhof:

71
Calvino João, As institutas Edição Clássica, Volume 3, p. 429
72
Champlin Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado, p. 132

27
“A ordo salutis descreve o processo pelo qual a obra de salvação, realizada em
Cristo, é concretizada subjetivamente nos corações e vida dos pecadores”.73

Em outras palavras, a ordo salutis resume a ordem por meio da qual os


diversos benefícios da salvação alcançada por Cristo são aplicadas aos pecadores
eleitos. Neste propósito a seqüência lógica, dos vários aspectos da salvação,
relacionando as varias ações do Espírito Santo na aplicação da obra da redenção.
“O processo de salvação deve ser visto como uma experiência unitária que envolve
diversos aspectos que começam e continuam simultaneamente”.74

“E crescia a Palavra de Deus”. O que Jesus Cristo tinha feito na vida das
pessoas estava se espalhando em toda região. Homens e mulheres tornaram-se
discípulos submissos ao senhorio de Cristo. Eles não estavam envergonhados da fé
que professavam; ao contrário, com grande coragem suportavam o testemunho da
verdade do evangelho que mudara suas vidas, aquilo que Jesus havia prometido
estava se cumprindo. Por causa dos salvos que partilhavam com os outros as boas
novas, a igreja experimentou grande e extraordinário crescimento. Os que vieram a
conhecer a Cristo não guardaram tal conhecimento para si, mas saíram e
partilharam com os outros.75

Eclesiologia – Uma das maiores lições encontradas no nosso texto de Atos 6:


I – 7, é a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Deus, através do seu
Espírito Santo nos capacita e nos ajuda a realizarmos as responsabilidades que Ele
coloca em nossas mão para fazermos. Isso nos ensina que a igreja cresce porque
Deus através da sua soberania e graça a faz crescer, e Ele faz isso através da
instrumentalidade da sua noiva à igreja que é a agencia proclamadora do evangelho
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Se algum homem é salvo, o é pela graça
Divina, e o motivo dessa salvação não é encontrado nele, mas em Deus, O homem
não é salvo por causa de algo que fez ou desejou, mas pela manifestação da graça
e misericórdia de Deus.

O texto em apreço também nos ensina que é preciso ver o ser humano não
apenas como alguém a ser conquistado para o reino de Deus, mas uma vida a ser

73
Berkhof Louis, Teologia sistemática, p. 383
74
Hoekema Anthony, Salvos Pela Graça, p.22
75
Radmacher Earl D., Allen Ronald B., House H. Wayne, O Novo Comentário Bíblico, p. 306

28
transformada em seu reino, o texto mostra que a missão da igreja não se limita
apenas em anunciar o evangelho, mas deve ser uma prática cotidiana da igreja, em
se preocupar tanto com a necessidade espiritual como a material, pois a igreja é
também um instrumento de transformação social. Pois as viúvas e os necessitados
tinham suas necessidades supridas pela igreja.

O autor de atos o médico Lucas também narra dizendo que a igreja tinha uma
composição multicultural, ou seja, ela não deve fazer acepção de pessoas, mas
alcançar todas as classes sociais, a igreja primitiva era constituída de muitas classes
de pessoas de diferentes nacionalidades, que habitavam ou que chegavam em
Jerusalém que aderiam a fé, o coração daqueles que foram alcançado pela
pregação da Palavra de Deus, se acalmou por causa do amor cristão e por não
haver entre eles divisão cultural.

Atos 6 também apresente a oração como o segredo do poder no ministério,


para os apóstolos a oração era uma atividade fundamental. Juntamente com o
ministério da Palavra que era uma das responsabilidades principais de um líder, que
é ensinar as pessoas a Palavra de Deus, Por isso que quando Paulo enumera as
qualificações dos bispos da igreja, uma delas é a capacidade de ensinar as pessoas
que fazem parte desta igreja (1 Tm 3:2; 2 Tm 2: 2).

O Médico Lucas também narra os critérios para uma seleção de liderança, e


pelo menos se observa três critérios na seleção dos servos da área administrativa da
igreja, que são: “uma boa reputação”, “cheio de Sabedoria”, “ser cheio do Espírito
Santo”. Ao nomear os lideres da igreja devemos observar se há na vida dos
candidatos a liderança estas três qualificações.

O que Jesus Cristo tinha feito na vida das pessoas estava se espalhando por
todos os lugares, Homens e mulheres tornaram-se submissos ao senhorio de Cristo.
Eles não se envergonhavam da fé mas, com grande coragem testemunhavam a
verdade do evangelho transformador de vidas. Aquilo que Jesus havia prometido
estava se cumprindo em virtude de eles compartilharem com outros as boas novas,
com isso a igreja crescia mais e mais, mesmo vindo os problemas em decorrência
do crescimento, mais o mesmo era superado com sabedoria e por causa do amor de
uns para com os outros.

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CAPITULO SETE

ESBOÇO HOMILÉTICO

Nesta parte do trabalho será apresentado o esboço do sermão da perícope que


compreende atos 6:1-7.

SERMÃO

TEXTO: Atos 6: 1 -7

TEMA: QUAL DEVE SER AS ATITUDES DA LIDERANÇA DIANTE DOS


PROBLEMAS DECORRENTES DO CRESCIMENTO DA IGREJA.

INTRODUÇÃO:

O texto em apreço nos mostra um problema que surgiu na comunidade cristã


em Jerusalém, que provocou uma murmuração. As ofertas eram depositadas aos
pés dos Apóstolos, que com o crescimento da igreja começaram a ter dificuldades
na administração no trabalho social visto que dentre estes ministérios estava o da
pregação da Palavra de Deus, e oração.

Toda comunidade que faz parte da igreja de Cristo que experimenta o


crescimento numérico tem problemas, visto que seus membros são seres humanos,
portanto propensos ao erro. Por esta razão, é necessário que os lideres devam
manter o foco na Palavra de Deus e escolher pessoas certas para os ajudar na
solução desses problemas.

Podemos aprender no texto pelo menos três atitudes da liderança da igreja, a


fim de solucionar os problemas gerados pelo crescimento natural da igreja:

1– Não ignorar os problemas. (v. 1)

a - Ouvir os que tem problema

“Reclamações” esse termo significa “falar particularmente em alta voz” ele


ocorre muitas vezes em Êxodo que descreve o período de peregrinação no deserto
(Ex 16: 7, 8), e havia um descontentamento, essa mesma palavra é encontrada em
(Lc 5:30), e diversas vezes em (Jo 6: 41,43,61; 7: 12,32). Assim como Moisés os

30
Apóstolos também deram ouvidos as reclamações e procuraram saber o que de fato
estava acontecendo.

Essa deve ser a atitude de todos aqueles que estão na liderança na obra do Senhor,
ouvir os queixosos e procurar encontra uma solução para o problema.

b - Ser humilde pra reconhecer o erro.

A narração do medico Lucas mostra que essa murmuração chegou até aos
Apóstolos, visto que também representava uma acusação contra eles que cujas
mãos estava também a distribuição das dádivas. Mas os Apóstolos não reagiram
melindrados, e sim objetivamente, pois reconheceram que de fato havia um
problema para resolver. O radical verbal traz a idéia de “passar a vista por cima”, em
outras palavras deixar de ser visto e assim “negligenciado” (ARA, PJFA). Aqui o
tempo imperfeito aponta para algo que já estava sendo normal, ou seja, as viúvas
dos helenistas estavam sendo esquecidas, ou deixadas de lado.

Hoje também devido o crescimento da igreja muitos problemas tem surgido, os


lideres precisam ser sensíveis e humildes e reconhecer que tem falhado em muitos
pontos, não podemos passar a vista por cima e fingir que está tudo bem, mas ver os
problemas e resolve-los.

2 – Manter o foco na Palavra e na oração. (v. 2, 4)

a – Colocar sempre as primeiras coisas nos primeiros lugares

“Desistir de, é deixar uma pessoa ou coisa a sua própria sorte pelo cessar de
cuidar, abandonar, desamparar”, não era sábio da parte dos apóstolos desistir de
cuidar do povo, deixando de preparar o alimento espiritual, para então se dedicar
apenas no alimento material.

Em vista de suas muitas responsabilidades, os apóstolos não podiam fazer o


trabalho da distribuição dos alimentos para com as viúvas, em virtude de estarem
muito ocupados. A situação lembra a de Moisés quando julgava o povo de Israel, e
Jetro, o sogro dele, aconselhou a escolher homens capazes e colocá-los para ajudá-

31
lo (Ex 18: 17-26). Isso aliviou o fardo de Moisés. Assim também os apóstolos tentam
resolver o problema da distribuição de alimentos.

b – Não abandonar a Palavra de Deus

“Não é razoável que nós deixemos a Palavra de Deus e sirvamos as mesas”. O


ponto aqui não era culpar, mas descobrir o que poderia ser feito para remediar a
aparente injustiça. Visto que eles também não podiam deixar de fazer aquilo que
Deus os vocacionara para fazer, que era pregar a Palavra de Deus e conduzir a
igreja em oração.
Essa não era uma palavra de menosprezo sobre o servir, mas o principio do
senso de necessidade de uma divisão de responsabilidade entre o povo de Deus. A
proclamação do evangelho precisava ter prioridade diante dos outros ministérios. O
Médico Lucas em sua narração está afirmando que neste momento os Apóstolos
eram os únicos qualificados para essa tarefa de pregar a Palavra.

3 - Escolher as pessoas certas para ajudar. (v. 3,5,6)

a – Escolher priorizando os critérios e qualidades dos escolhidos

Neste caso Lucas está mostrando o critério usado para a indicação: Deveria
ser homens qualificados da igreja que fossem capazes de realizar esta tarefa, em
virtude da responsabilidade, os Apóstolos sugerem que sejam sete, a igreja elege,
os Apóstolos ordenam esses homens para o cargo especial de ministrar aos pobres,
(Fp 1: 1; 1 Tm 3:8).

I – Uma boa reputação

Aqui o Médico Lucas está relatando o pedido que foi feito pelos Apóstolos, para
que o povo escolhesse dentre eles homens que eram bem falados, que fossem
aprovados, através do seu testemunho de boa reputação (1 Tm 3: 7). “Reputação”,
entende-se que teriam de ser indivíduos testados, ou segundo o que o sentido
original entende, que lhes “tivesse sido dado testemunho”, outras pessoas precisam
conhecê-los, em seus negócios, em seu caráter passado, testificando
favoravelmente a favor deles.

II – Cheio de sabedoria
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A sabedoria dos diáconos precisava ser terrena e prática, dando eles exemplo
de discreção e poupança, além da aptidão pelas coisas e soluções práticas.
Contudo, essa sabedoria também teria de ter um aspecto espiritual, fazendo com
que olhassem para seus semelhantes com espírito de amor, de ternura e de
bondade, sempre considerando seu destino espiritual e eterno, visando o avanço e o
desenvolvimento espiritual de suas almas

III – Ser cheio do Espírito Santo

Aqui o Médico Lucas narra os pré-requisitos exigidos pela comunidade de


crentes para exercer a função de diácono, além de ser de boa reputação, deveria
ser cheio do Espírito e de Sabedoria, ou seja, a vida desses homens deveria ser
condizente com a fé que professavam, os diáconos deveriam ser homens dotados
de habilidades, homens que se destacassem no meio da comunidade.

b – Pessoas próximas dos necessitados

Considerando a importância da seleção, os doze destacam os requisitos


necessários, para os que deveriam ser encarregados deste serviço, além desses
requisitos, estes ajudantes deveriam ser ἄνδρας “homens”, a palavra grega usada
o especifica como uma pessoa do sexo masculino, e eles tinham que ser da
multidão convocada. “Entre vós” aponta para a origem. A ideia é que eles “venham
do meio de vós”.

Conclusão:

A igreja de Jesus Cristo sempre triunfará em meio as lutas, enquanto ela


priorizar a Palavra de Deus, porque a história da igreja é o Senhor que está
conduzindo.

Como a igreja primitiva continuou vitoriosa mesmo diante das perseguições e


oposições do Sinédrio e os lideres judeus (5: 11), ou a crise que ameaçava no
cuidado com as viúvas (6: 1). A igreja de hoje também vencerá, se continuar
priorizando a Palavra de Deus ela é a igreja do Senhor Jesus.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Agora que chagamos ao fim deste trabalho, esperamos ter lançado luz sobre a
narrativa bíblica aqui analisada. Gostaria de concluir com três aspectos.

O primeiro está relacionado com a mensagem principal do texto. A conclusão


que chegamos é o que nessa narrativa Lucas apresenta a igreja que cresce, diante
dos problemas que surgem no seu caminho, enquanto ela avança para os confins da
terra. Lucas traz fortalecimento para os seus leitores ao mostrar para eles que não
erraram em colocar sua fé em Jesus, visto que a igreja é dirigida por Deus e ela
continuará, mesmo em meio as lutas, seu propósito de levar o evangelho continuará,
assim como foi no passado.

O segundo aponta para a gêneses do oficio do diaconato, que nos traz a idéia
de uma função instituída, fala também da imposição de mãos, a qual simbolizava
aqui, a transmissão de autoridade.

O terceiro destacamos, os aspectos teológicos e práticos dessa pericope. Atos


6 nos ensina que é preciso voltar a ver o ser humano, não apenas como uma alma a
ser conquistada para o reino de Cristo, mas uma vida a ser transformada em seu
reino a igreja é também uma agencia de transformação social. A prática dessas
verdade nos levará como igreja ser uma comunidade multicultural, o texto nos
ensina que devemos alcançar todas as classes sociais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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KISTERMAKER, Simon J., Comentário do Novo Testamento, p.39

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BÍBLI, DE Estudo The Worde

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35
WILLIMS, Davd J. Novo Coment

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