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AMPHISBAENIA NA ESCOLA: RESULTADOS PARCIAIS E PROCEDIMENTOS FUTUROS

DE UMA PESQUISA NO MUNICÍPIO DE SERRA PRETA - BAHIA

Ariane Oliveira Guerra1; Eraldo Medeiros Costa Neto2; Geilsa Costa Santos Baptista3; Maria
Celeste Costa Valverde4 & Marta Jamille Miranda Oliveira5
(1) Bolsista FAPESB, Graduanda em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
ariane.guerra_bio@yahoo.com.br
(2) LETNO, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: eraldont@hotmail.com
(3) DEDU/ Universidade Estadual de Feira de Santana - e-mail: geilsabaptista@yahoo.com.br
(4) LAMVER/DCBIO/ Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: lamver_uefs@hotmail.com
(5) Graduanda do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
martajamille@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Amphisbaenia, Conhecimentos prévios, Ensino de Ciências e Biologia.

INTRODUÇÃO
Observações prévias indicam que as pessoas, especialmente residentes em áreas rurais, possuem
concepções sobre os Amphisbaenia que diferem significativamente das explicações científicas no campo
da Zoologia. Conhecidos popularmente como cobras-de-duas-cabeças, esses répteis de corpo cilíndrico e
estritamente fossoriais locomovem-se para frente e para trás com a mesma habilidade, daí o nome
Amphisbaenia que deriva das raízes gregas Amphi (duplo) e baen (caminhar), referindo-se a essa
capacidade típica de locomoção desses animais.
Acreditando que a escola pode enriquecer os conhecimentos que os indivíduos trazem para as
salas de aula com explicações científicas, o presente trabalho apresenta resultados descritivos de uma
pesquisa, ainda em desenvolvimento, originária no Laboratório de Morfologia Comparada de Vertebrados
(LAMVER/DCBIO/UEFS) em parceria com o Departamento de Educação da Universidade Estadual de
Feira de Santana. A referida pesquisa, iniciada há um ano, teve como objetivos investigar quais são as
concepções prévias dos estudantes acerca dos Amphisbaenia e avaliar o impacto de intervenções
pedagógicas baseadas no diálogo entre concepções tradicionais e científicas sobre esses organismos no
campo da Zoologia.

METODOLOGIA
O presente estudo está sendo desenvolvido desde 2007 no Colégio Estadual Renato Medeiros
Neto (Ensino Médio) e na Escola Papa João Paulo I (Ensino Fundamental), ambas localizadas no
município de Serra Preta – BA, distrito de Bravo, região do semi-árido baiano (Figura 1).

Figura 1. Localização do município de Serra


Preta-Bahia. Adaptado de: www.sei.ba.gov.br
O tempo previsto para este estudo é de dois anos e, até o presente momento, foram realizadas os
seguintes procedimentos: visitas aos espaços escolares, sob autorização da direção das respectivas
escolas, objetivando a assinatura de Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, tanto por parte dos
estudantes quanto dos professores de Ciências e Biologia. Em seguida, foram realizadas entrevistas semi-
estruturadas com os estudantes participantes, dos gêneros masculino e feminino, com faixa etária entre 11
e 24 anos. As entrevistas foram transcritas para um editor de texto (Microsoft Word®) e analisadas
levando-se em conta as falas e os contextos nas quais foram colocadas. Nesta oportunidade, entregou-se a
cada um dos entrevistados uma folha de papel A4 e lápis coloridos, solicitando-lhes a elaboração de
desenhos esquemáticos onde podiam demonstrar seus conhecimentos a respeito da vida dos anfisbênios.
Após análises dos dados obtidos, foram elaboradas “Tabelas de Cognição Comparada” (Marques,
2001), onde fragmentos das entrevistas foram confrontados com citações sobre os Amphisbaenia nos
livros didáticos de Ciências e Biologia adotados nas escolas em estudo. Vale salientar que o objetivo de
tal comparação não foi a hierarquização das formas de conhecimento envolvidas, mas a delimitação dos
domínios de aplicação dos conhecimentos prévios dos estudantes e dos conhecimentos científicos
escolares (Cobern, 1994) sobre os Amphisbaenia, que permitam o diálogo de saberes no ensino de
Ciências e Biologia.
Com os dados obtidos das entrevistas e das Tabelas de Cognição Comparada, foram elaborados
artigos, resumos e painéis, os quais foram submetidos a revistas especializadas e apresentados em eventos
específicos da área de Ensino de Ciências no país.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos até o momento revelaram que os estudantes identificam os representantes
do grupo Amphisbaenia como cobras-de-duas-cabeças e, uma vez concebendo-os como serpentes
portadoras de peçonha, matam tais répteis por considerá-los uma ameaça à vida humana. É importante
ressaltar que a atitude humana de agressão aos anfisbenídeos pode levá-los ao desaparecimento definitivo
dos ecossistemas terrestres (Navega-Gonçalves, 2004). A análise das entrevistas permite afirmar que os
estudantes, em sua maioria filhos de agricultores em áreas rurais do município de Serra Preta, possuem
concepções sobre os Amphisbaenia que estão fortemente ligadas às atividades agrícolas por eles
desempenhadas, noções estas que diferem dos argumentos científicos no campo da Zoologia,
especificamente quanto à identificação dos aspectos morfológicos, comportamentais e ecológicos dos
animais.
Ao buscar comparações entre trechos das entrevistas com citações sobre os Amphisbaenia nos
livros didáticos de Ciências e Biologia, foi possível observar que dentre os oito livros analisados, apenas
dois de Biologia (Linhares & Gewandsznajder, 2004; Lopes & Rosso, 2005) trazem citações sobre este
grupo animal e que as informações neles contidas são superficiais e/ou cientificamente incorretas.
As parcas citações sobre os Amphisbaenia nos livros didáticos de Biologia e os trechos das
entrevistas com os participantes mostraram que os conhecimentos dos estudantes apresentam algumas
semelhanças com as informações contidas nos livros didáticos. Tais semelhanças são, basicamente,
quanto à terminologia popular e aos conhecimentos científicos escolares sobre a biologia dos répteis de
um modo geral, sem identificar aspectos da morfologia, do comportamento e ecologia do grupo em
questão.
Com base nos resultados obtidos até o momento, os quais foram acima pontuados, a próxima
etapa será a elaboração de estratégias de ensino e, seguidamente finalizando a pesquisa, intervenções
pedagógicas no Ensino de Ciências e Biologia das escolas em estudo. Para elaboração das estratégias de
ensino, lançaremos mão de uma cartilha intitulada “Nem cobra nem duas cabeças: quem sou eu? Uma
abordagem sobre os Amphisbaenia (Valverde & Ferreira, 2005), de autoria de uma das pesquisadoras
(Figura 2). Nessa cartilha são apresentadas características morfológicas, comportamentais e ecológicas
dos Amphisbaenia, resultantes de estudos e pesquisas da referida autora que desde 1993 vem se
dedicando a estudar este grupo de répteis.
O objetivo das intervenções será proporcionar aos estudantes momentos para a realização de
diálogos entre os saberes científico-escolares e os saberes tradicionais trazidos por eles para as salas de
aula. Espera-se que esses estudantes, enquanto indivíduos inseridos numa determinada cultura e
sociedade, possam ampliar as suas visões sobre a biologia dos Amphisbaenia, de modo a refletir a
importância ecológica desse grupo, bem como sobre suas ações e condutas perante esses répteis, visando
à conservação dos mesmos.
A falta de conhecimento sobre a vida desses animais, que são considerados serpentes peçonhentas
que trazem riscos a saúde humana, acarreta prejuízos irreversíveis à natureza, comprometendo assim a
diversidade biológica na Terra, uma vez que são mortos indiscriminadamente.

Figura 2. Cartilha “Nem cobra, nem duas cabeças: quem sou eu?
Uma abordagem sobre os Amphisbaenia” (Valverde & Ferreira,
2005), material que será utilizado ans intervenções pedagógicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COBERN, W.W. 1994. World view, culture, and science education. In: Science Education International,
5(4): 5-8.
LINHARES, S. & GEWANDSZNAJDER, F. 2004. Biologia Hoje: Os Seres vivos. Vol. 2. Ed. Ática, São
Paulo.
LOPES, S. & ROSSO, S. 2005. Biologia. Vol. Único. São Paulo: Saraiva.
MARQUES, J.G.W. 2001. Pescando Pescadores. 2ª Ed., São Paulo: NUPAUBUSP, 285p.
NAVEGA-GONÇALVES, M.E.C. 2004. Anfisbênias: quem são essas desconhecidas? Ciência Hoje
34(204).
VALVERDE, M.C.C & FERREIRA, D.J. 2005. Nem cobra, nem duas cabeças: quem sou eu? Uma
abordagem sobre os Amphisbaenia. Feira de Santana: Grafinort, 14p.

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