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Villas Bôas: ‘Olavo de Carvalho presta enorme desserviço ao Paísʼ -

Política - Estadão 07/05/2019 11)32

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Villas Bôas: ‘Olavo de Carvalho presta enorme desserviço ao País’

Ex-comandante do Exército afirma que ataques ‘passaram do ponto’ e que escritor ‘se
arvora com mandato para querer tutelar País’

Entrevista com

Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército

Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo 07 de maio de 2019 | 05h00


General Eduardo Villas Bôas Foto: Daniel Teixeira/Estadão

BRASÍLIA - Um dos nomes mais respeitados nas Forças Armadas, o ex- comandante do
Exército general Eduardo Villas Bôas quebrou o silêncio que reina na caserna e entre os
generais que despacham no Palácio do Planalto para defender, primeiro no Twitter e
depois em entrevista ao Estado, os ministros militares dos ataques do guru bolsonarista
Olavo de Carvalho e seus seguidores, incluídos os filhos do presidente Jair Bolsonaro.
Villas Bôas, que está na reserva e exerce o cargo de assessor especial do ministro Augusto
Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse ao Estado que Olavo
“passou do ponto”, está agindo com “total desrespeito aos militares e às Forças Armadas” e
“presta enorme desserviço ao País”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Olavo de Carvalho voltou a atacar os militares pelo Twitter. O sr. rebateu. Qual o
tamanho do incômodo dos srs.?

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Bolsonaro entendeu que trazer militares para trabalhar em setores do governo seria uma
cooperação importante para o restabelecimento da capacidade de gestão e a busca de
combate à corrupção. Isso não significa que as Forças Armadas estão participando do
governo, mas trazendo consigo seus valores. Portanto, os militares exercem uma natural
influência que contribui para a estabilidade do País e do governo. Talvez por isso, o sr.
Olavo de Carvalho se sinta desprestigiado e queira disputar espaço com os militares, junto
à Presidência da República. Isso não dá direito a ele de traçar comentários desairosos a
toda uma classe profissional, que representa uma instituição. Desconheço os tipos de
valores que animam o sr. Olavo de Carvalho a tecer tais comentários.

Olavo passou do ponto?

Sim. Passou do ponto. Aliás, já vem passando do ponto há muito tempo, agindo com total
desrespeito aos militares e às Forças Armadas. E, quando digo respeito, é impressionante
que ele, como um homem que se pretende culto e inteligente, desconhece normas
elementares de educação. É também muito grave a maneira como ele se refere com
impropérios a oficiais da estatura dos generais Mourão (vice-presidente da República),
Santos Cruz (ministro da Secretaria de Governo) e Heleno (ministro) e aos militares em
geral.

O que fazer diante disso?

Rebater Olavo de Carvalho seria dar a ele a importância e a relevância que não tem e não
merece. Ele está prestando um enorme desserviço ao País. Em um momento em que
precisamos de convergências, ele está estimulando as desavenças. Às vezes, ele me dá a
impressão de ser uma pessoa doente, que se arvora com mandato para querer tutelar o
País.

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O presidente Bolsonaro está sendo tímido na defesa dos militares?

O presidente, desde sempre, tem sido enfático ao expressar o seu respeito, a sua admiração
e o seu apoio às Forças Armadas, tanto verbalmente como em inúmeras ocasiões. Eu
desconheço como é o relacionamento do presidente da República com Olavo. O presidente
não me disse diretamente, mas soube que ele já expressou o seu descontentamento com as
posturas do sr. Olavo.

Mesmo assim Olavo e filhos do presidente mantêm os ataques...

Isso tudo é resultado de uma certa influência do sr. Olavo num grupo importante de
apoiadores de Bolsonaro. O presidente deve estar pesando isso antes de tomar uma decisão
(sobre esse assunto).
A que o sr. atribui essa guerra?

Uma patologia muito comum que acomete todos aqueles que se deixam dominar por uma
ideologia é a perda da capacidade de enxergar a realidade e a inconformidade de não ver
todos os preceitos que ele professa serem implantados na sociedade.

Há uma corrente olavista que acusa os militares de tutelar o presidente...

Absolutamente. O presidente Bolsonaro tem uma personalidade bastante independente na


sua maneira de ser. Ele interage com seus assessores, se orienta e se aconselha pelas
observações que lhes são apresentadas. Ele sempre foi assim. Mantém absoluta
independência de pensamento e na maneira de agir.

Os olavistas levantam teses de que os militares querem assumir o poder em dois anos,
com o vice Hamilton Mourão.

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Isso é uma inverdade que beira o ridículo. Não passa na nossa maneira de pensar algo
desse tipo, porque seria uma deslealdade com o presidente e a lealdade é o valor que os
militares tomam como religião. O general Mourão, a quem conheço com profundidade,
tampouco se prestaria a participar desse tipo de articulação.

O general Santos Cruz pode deixar o governo? Os militares podem se afastar por
conta dos ataques?

Não acredito. Cada um está imbuído em auxiliar o governo e o Santos Cruz expressa isso, a
enorme responsabilidade que ele tem, e a sua importância para a articulação política em
relação ao que ocorre no Congresso.

Se o governo não der certo, a conta vai para os militares?

Embora o que estejamos vivendo não represente as Forças Armadas no governo, mas pela
importante presença dos militares em cargos de chefia, certamente uma parte da conta
será debitada aos militares.

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