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Com a mesma irreverência animadora do texto desta coluna, pedi a palavra, me levantei e expus Aborto, política e mídia: The Guardian se
minha discordância. “Não acredito haver apenas católicos entre os formandos das turmas da recusa a reproduzir expressão
manhã e da noite. Das duas uma, ou o convite deverá ser impresso sem qualquer menção de incompatível com a ciência
cerimônia religiosa ou deverá conter todas as cerimônias de ação de graças: a protestante GGN
(naquela época não se falava evangélica), a ortodoxa, a judaica e a muçulmana se houver aqui O jornal The Guardian publicou nesta sexta (7) um
alguém muçulmano. Estamos concluindo um curso de Direito e temos de dar o exemplo de editorial explicando por que parou de reproduzir em
respeito às minorias religiosas”. suas reportagens a expressão “fetal heartbeat bill”
para se referir às leis aprovadas nos EUA que
Houve um silêncio, pela primeira vez surgia essa reivindicação. Até ali, nunca se havia colocado restringem ao máximo o acesso ao aborto. A exceção
em questão a exclusividade do culto católico numa formatura da USP. Desidério, refeito da é quando o termo é utilizado por algum entrevistado.
Saiba mais
surpresa, reforçou minha tese ao alegar o risco da Sé não querer rezar a ação de graças se
houvesse outros cultos. A negação da pluralidade e a ameaça velada tiveram efeito negativo para
os formandos ainda com as aulas recentes sobre direito das minorias e conscientes da estrutura
O problema das redes sociais: as pessoas,
laica da nossa República. analisa Juliano Nóbrega
Poder 360
Para evitar um impasse ou uma ação unilateral da comissão de formatura, prometi entregar na
semana seguinte um levantamento da opinião dos colegas sobre a questão. Redigi um abaixo- Toda semana, comento o que vi de mais interessante
assinado na boa forma do Direito, alguns colegas se encarregaram de colher assinaturas entre os na semana. A partir deste sábado, passo a
compartilhar meus achados com os leitores deste
colegas do período da manhã e outros me ajudaram na coleta de assinaturas no período
Poder360. Saiba mais
noturno.
Era um desa o que se fazia na prática à formação jurídica dos colegas em fase de conclusão. Como preparar as crianças e os jovens
Haveria uma maioria de assinaturas? Houve e, nalmente, todos os cultos religiosos foram para aprender com senso crítico e
impressos no convite. Fiz questão de comparecer a todas as cerimônias e participar da liturgia de responsabilidade no século 21?
cada culto. EDUCAMÍDIA
observatoriodaimprensa.com.br/conjuntura-politica/juristas-evangelicos-querem-a-supremacia-da-biblia-sobre-o-direito/ 1/4
14/06/2019 Juristas evangélicos querem a supremacia da Bíblia sobre o Direito | Observatório da Imprensa
deveria haver lugar, num convite de formatura da Faculdade de Direito da USP, para cultos de segmentação para o futuro das redações
ação de graças. Farol Jornalismo
romano. Mas a transição de Estado confessional para laico nunca chegou a ser completa. Anônimo para a maioria dos brasileiros até o dia 8 de
abril, quando foi nomeado ministro da Educação, o
Nesta altura, é importante uma de nição: o Estado laico ou secular é aquele com uma posição economista Abraham Weintraub tanto fez que se
tornou conhecido, pelo menos no Twitter. Em menos
neutra em matéria religiosa, adotando a imparcialidade nesses assuntos sem apoiar ou
de dois meses no cargo, Weintraub disse que havia
discriminar qualquer religião. Ao mesmo tempo, o Estado laico garante e defende a liberdade
balbúrdia nas universidades federais, chamou Franz
religiosa para todos os cidadãos, assim como a liberdade de serem ateus ou agnósticos. Kafka, o escritor, de “kafta”, e, com um guarda-chuva
na mão, ao som de Cantando na Chuva, reclamou de
Em contrapartida, não pode haver interferência de correntes ou grupos religiosos em questões “fake news”. Saiba mais
sociopolíticas e culturais. O laicismo ou laicidade veio com as ideias do Iluminismo na Europa,
entrou em prática com a Revolução Francesa e provocou a separação da Igreja do Estado num
grande número de países a partir do século XIX. Dominic Barter: “Nossa cultura tem medo
do con ito”
A evangelização do Brasil Agência Pública
Substituindo as lutas sociais na vida terrena cotidiana por promessas de miragens divinas de
paraísos além-túmulo, identi cando a exploração econômica como provações próprias da vida Investigação jornalística põe em causa
humana e mortal, os colportores das boas novas celestiais desviaram os mais sofridos dos imparcialidade da operação “Lava Jato”
caminhos da libertação, acenando com ilusões e engodos. RTP Notícias
evangélico no Supremo Tribunal Federal vai nessa mesma linha confessional, assim como a O Brasil parou há uma semana desde que o escândalo
nomeação de um pastor presbiteriano com formação jurídica como membro do Conselho de de Neymar veio à tona após Najila Trindade fazer uma
Ética Pública da Presidência. acusação de estupro, revelada pelo UOL Esporte,
contra o jogador. A cada dia, novos capítulos da
história são acompanhados por todo o país em
Além dessa gradativa evangelização do Estado brasileiro constituir um retrocesso, ela traz consigo
horário nobre na televisão aberta, que passou a ditar
algo perigoso: o risco de a Bíblia passar a ser a referência básica na interpretação das leis os rumos do caso e ajudou a transformá-lo em um
brasileiras e de as leis, condenações e preceitos bíblicos se transformarem numa espécie de show midiático. Saiba mais
Código Jurídico e de Comportamento a serem consultados com prioridade pelo Ministério Público
e pelo STF.
Jornal New York Times vai à TV em defesa
Essa inquietação me surgiu e me colocou a pulga atrás da orelha ao ler um parágrafo, copiado a dos valores do jornalismo
seguir, publicado pela Associação Nacional dos Juristas Evangélicos a propósito da discussão no
Folha de S.Paulo
STF do crime por homofobia.
O primeiro episódio já mostrou a exuberância de
imagens e ao mesmo tempo o rigor jornalístico que
Para quem não sabe, a Bíblia reproduz o Código Penal xado por Moisés, extremamente severo, e
seriam de esperar do New York Times. Não faltou
condena à morte certos comportamentos humanos no Velho Testamento ou ao inferno no Novo
também apuro dramático, talvez até demais. Saiba
Testamento, por serem considerados abominações. Entre eles, um dos mais citados é o da mais
homossexualidade. Da destruição das cidades de Sodoma e Gomorra ao Apocalipse, a
homossexualidade é um dos pecados que mais provocam a ira de Deus.
Em síntese, a Bíblia é um livro sagrado homofóbico, razão pela qual os homossexuais eram Mais vistos
perseguidos e castigados pelos cristãos primitivos, pela Igreja Católica e pelos cristãos fundadores
1
dos Estados Unidos. A situação se abrandou recentemente, mas atos violentos homofóbicos Intercept Brasil revela o nosso
continuam sendo praticados, motivo pelo qual se discute atualmente no STF a criminalização da Watergate
homofobia.
2
E aqui surge o con ito – como acabar com a marginalização e perseguição aos homossexuais se, Jornalista que virou Uber: “É
na leitura da Bíblia nas igrejas e na pregação dos pastores, eles são citados como merecedores da difícil fugir da sensação de
ira, condenação e castigo de Deus? Como solucionar esse con ito ético se a Bíblia é o livro mais fracasso”
lido ou o único livro lido por milhões de brasileiros? A condenação expressa de Deus não
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continuará incentivando a violência e os ataques homofóbicos aos homossexuais? O caso de corrupção de
agentes da PF de Minas é a
observatoriodaimprensa.com.br/conjuntura-politica/juristas-evangelicos-querem-a-supremacia-da-biblia-sobre-o-direito/ 2/4
14/06/2019 Juristas evangélicos querem a supremacia da Bíblia sobre o Direito | Observatório da Imprensa
Apesar desse risco, a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE) quer que os ponta da história não contada
preceitos bíblicos condenatórios se sobreponham à decisão do STF. da Lava Jato?
“ANAJURE reitera que, mesmo que o STF venha a criar uma norma incriminalizadora, é imperioso
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que seja retirado da abrangência deste tipo penal qualquer tolhimento ao discurso religioso Zé Hamilton Ribeiro: o grau
baseado em livros sagrados, como a Bíblia, assegurando assim o pleno exercício da liberdade zero da reportagem
religiosa no Brasil.”
5
*** As universidades e a crise do
jornalismo
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. É criador do
primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à
recuperação da nacionalidade brasileira nata dos lhos dos emigrantes com a Emenda
Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o
primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na OI no Facebook
Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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