Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Este artigo discute a distribuição do crédito e do atendimento bancário entre as unidades da
federação, entre 1994 e 2002. Além da discussão das principais modificações na estrutura do Sistema
Financeiro Nacional no período, são apresentados também alguns índices de evolução e
concentração do crédito em nível estadual e, com maior precisão estatística, são feitas algumas
inferências dos determinantes do crédito bancário no Brasil, a partir da análise de dados em painel.
Os resultados apontam para uma significativa concentração do crédito na região Sudeste
(especialmente em São Paulo) e, como seu principal determinante, a mudança de controle de bancos
com marcada atuação regional, resultante das aquisições e fusões setoriais. Esta mudança de controle
teve como corolário a transferência das decisões estratégicas – e mormente relativas ao crédito –,
concentrando-as na região Sudeste. Contrariando as expectativas iniciais, a privatização de bancos
estaduais não apresentou efeitos significativos sobre o volume de crédito bancário.
Palavras-chave: Brasil – Bancos; Crédito Bancário; Economia Regional; Desigualdades
Econômicas Regionais.
Abstract
This paper deals with the distribution of banking credit and branchs by Brazilian states
between 1994 and 2002. Besides the report of the major changes in the National Financial
System at that period, it shows also some figures of concentration and dynamics of state-
level banking credit and, with finer statistical tools, some inferences of the determinants of
banking credit in Brazil, based upon Panel Data Analysis. The main results point out to
significant credit concentration in the Southeast region (especially São Paulo) and, as its
major determinant, the change in the shares control of banks with sharp regional presence
– deriving of mergers and acquisitions in the sector along this period. That control
changing have had as its corollary the transfer of strategical decisions – viz. credit-related
decisions –, concentrating them in the Southeast. Against our expectations at the beginning
of the paper, the privatization of state-owned banks did not show important effects on the
level of banking credit.
Key words: Banking competition; Banking credit; Regional economics; Regional economic
inequalities.
JEL G21, G34, E51, R12.
Introdução
(5) Ver, por exemplo, Jayaratne & Strahan (1996) e Levine & Zervos (1998).
(6) Segundo pesquisa IBGE/ANDIMA (1997), de 1990 a 1995, entre 30% e 40% do valor adicionado pelo
setor bancário foi representado por ganhos originados pela inflação (cf. Carvalho, 2001, p. 11).
(7) Conforme McQuerry (2001, p. 33), essa situação cômoda dos bancos nacionais, na qual auferiam
altos lucros “carregando” títulos públicos, fazia com que eles se mostrassem reticentes diante de qualquer
proposta de liberalização do setor bancário brasileiro.
(8) O recolhimento compulsório sobre depósitos à vista elevou-se de 48% para 100%; aquele sobre os
depósitos de poupança, de 10% para 30%; também estabeleceu-se o recolhimento de 30% sobre o saldo dos
depósitos a prazo.
Tabela 1
Privatizações de bancos públicos estaduais e federais
Tabela 2
Número de instituições bancárias em funcionamento
Quadro 1
Consolidação do sistema bancário brasileiro: 1995 a 2003
Em síntese, desde 1994, com a redução das taxas de inflação, a queda das
receitas inflacionárias, a ameaça de crises bancárias sistêmicas, as mudanças na
legislação, regulação e supervisão bancária governamental, a liberalização
controlada e internacionalização do mercado bancário, a privatização das
instituições bancárias estaduais, entre outros fatos, vem avançando o processo de
consolidação do setor bancário brasileiro. Até o momento, ele se desdobrou e se
realimentou tanto pela entrada de bancos estrangeiros no país quanto pela reação
dos grandes grupos bancários nacionais. Como corolário desse processo,
observamos a internacionalização e o aumento do grau de concentração do sistema
bancário brasileiro.9 Apesar de alguns grandes bancos terem desaparecido
(Nacional, Bamerindus e Banespa), o impacto maior deu-se sobre os bancos de
médio porte, fossem de atuação regional ou nacional, públicos ou privados, que
acabaram absorvidos, como pode ser visto no Quadro 1, por bancos estrangeiros
ou por um dos três grandes grupos nacionais, todos com sede no estado de São
Paulo. Portanto, ocorreu também um processo de concentração regional dos
centros decisórios das instituições bancárias atuantes no Brasil.
(9) Para evolução dos índices de concentração bancária, ver Rocha (2001).
Tabela 3
Atendimento bancário por estados e regiões (1994 e 2002)
(10) Este movimento parece ser mais pronunciado no caso da CEF que do BB.
Gráfico 1
Razão crédito/PIB estadual (1994-2002)
60,00
50,00
1994
2002
40,00
30,00
20,00
10,00
-
SP MT PR RJ GO MS RS TO PI MA MG PB SE SC BA AL CE RN PE ES RR AC RO PA AP AM
Fonte: Elaboração própria, com base em dados do SISBACEN e Contas Regionais IBGE.
Gráfico 2
Proporção crédito total/PIB: 1993-2002
Em %
34,00
33,00 32,80
32,00
32,00 31,78
31,00
30,43
30,15
30,00
29,66
29,23
29,00
29,00
28,00 27,82
27,62
27,00
26,00
25,00
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Elaborado pelos autores, com base em dados do Banco Central do Brasil.
(11) Estas observações devem alertar o leitor para olhar tais taxas de evolução com cuidado, pois são
taxas estimadas pela função log-linear ln Yt = α + β t + υ , ou seja, a reta que melhor se ajusta ao formato da série
efetivamente observada, onde Yt é o valor do crédito no período t e a taxa de evolução é 100βt.
Tabela 5
Participação das Unidades da Federação no total do crédito
e evolução da participação em períodos selecionados
Em %
Participação
Variação da participação
no total do crédito
Em Em 08.1994 12.1998 08.1994
08.1994 11.2002 12.1998 11.2002 11.2002
SP 53,68 61,09 -1,08 8,49 7,41
RJ 10,45 10,35 -1,13 1,03 -0,10
MG 6,60 5,35 -1,18 -0,07 -1,25
RS 5,59 5,21 0,56 -0,94 -0,38
PR 6,33 4,64 -0,51 -1,18 -1,69
BA 3,65 2,07 -0,61 -0,97 -1,58
SC 1,91 2,01 0,31 -0,21 0,10
GO 1,54 1,53 0,33 -0,34 -0,01
PE 2,48 1,11 -0,20 -1,17 -1,37
MT 1,35 1,03 0,87 -1,19 -0,32
CE 1,39 0,90 0,05 -0,54 -0,49
ES 0,75 0,79 0,26 -0,22 0,04
MS 1,15 0,76 -0,18 -0,21 -0,39
MA 0,39 0,45 0,38 -0,32 0,06
PA 0,66 0,43 0,23 -0,46 -0,23
PB 0,28 0,43 0,26 -0,11 0,15
RN 0,34 0,36 0,25 -0,23 0,02
AL 0,40 0,28 0,39 -0,51 -0,12
PI 0,20 0,28 0,31 -0,23 0,08
SE 0,16 0,26 0,26 -0,16 0,10
AM 0,27 0,22 0,32 -0,37 -0,05
TO 0,20 0,16 0,03 -0,07 -0,04
RO 0,14 0,16 0,04 -0,02 0,02
AC 0,03 0,05 0,02 0,00 0,02
AP 0,03 0,05 0,02 0,00 0,02
RR 0,03 0,03 0,00 0,00 0,00
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do Banco Central do Brasil.
(12) Este viés está presente, em certa medida, em todas as UFs, uma vez que não conseguimos dados por
instituição bancária, mas por UF. Contudo, espera-se que, no Distrito Federal, este viés seja maior, por ser a sede
destes bancos e pela atuação do setor público naquela UF.
(13) Vale alertar que, como foram comparadas as participações em dois períodos discretos, esses valores
não correspondem à taxa média de variação no período (como na Tabela 4).
Gráfico 3
Evolução da participação dos estados no crédito total
(agosto de 1994 a novembro de 2002)
Em %
70,00
60,00
50,00
40,00
ago/94
nov/02
30,00
20,00
10,00
0,00
(
SP PB SC SE PI MA ES RN RO AC AP RR GO TO AM RJ AL PA MT RS MS CE MG PE BA PR
Ago./1994 Nov./2002
10,00
9,00
8,00
7,00
6,00
ago/94
nov/02
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
RJ MG RS PR BA SC GO PE MT CE ES MS MA PA PB RN AL PI SE AM TO RO AC AP RR
Ago./1994 Nov./2002
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do Banco Central do Brasil.
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
94
60,00
65,00
70,00
75,00
80,00
85,00
o/
no 9
v/ no 4
94 v/
fe 9
v/ fe 4
95 v/
m 9
ai
/9
m 5
5
ai/
ag 9
o/ ag 5
95 o/
no 9
v/ no 5
95 v/
fe
9
v/ fe 5
96 v/
m 9
ai m 6
/9 ai
6 /9
ag ag 6
o/ o/
96
no 9
v/ no 6
96 v/
9
fe fe 6
v/
CR
97 v/
m
9
ai m 7
CR
/9 ai
7 /9
ag ag 7
o/ o/
97 9
no no 7
v/ v/
97 9
fe fe 7
v/ v/
98 9
m m 8
ai
/9 ai/
8 9
ag ag 8
o/ o/
98 9
no no 8
v/ v/
98 9
fe fe 8
v/ v/
99 9
m m 9
ai ai
/9 /9
9
ag ag 9
o/ o/
99 9
no no 9
v/ v/
99 9
fe fe 9
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do Banco Central do Brasil.
02
m m 2
ai ai
/0 /0
2 ag 2
ag o/
o/ 0
02
no no 2
v/ v/
02 02
ag ag
o/
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
o/
70,00
75,00
80,00
85,00
90,00
95,00
94 94
no no
v/ v/
Gráfico 4
94 94
fe fe
v/ v/
95 95
m m
ai ai
/9 /9
5 5
ag ag
o/ o/
95 95
no no
v/ v/
95 95
fe fe
v/ v/
96 9
m m 6
ai ai
/9 /9
6
CR
ag ag 6
o/ o/
96 96
no no
CR
v/ v/
96 96
fe fe
(agosto de 1994 a novembro de 2002) – Em %
v/ v/
97 97
m m
ai ai
/9 /9
7 7
ag ag
o/ o/
97 97
no no
v/ v/
97 97
fe fe
v/ v/
98 9
m m 8
ai ai
/9 /9
8
ag ag 8
o/ o/
98 98
no no
v/ v/
98 98
fe fe
v/ v/
99 9
m m 9
ai ai
/9 /9
9 9
no no
v/ v/
99 99
fe fe
v/ v/
00 0
m m 0
ai ai/
/0
0 0
ag ag 0
o/ o/
00 00
no no
v/ v/
Coeficiente de concentração (CR) dos quatro e dos oito maiores e menores estados em participação no crédito total
00 00
fe fe
v/ v/
01 0
m m 1
ai ai
/0 /0
1 ag 1
ag
o/ o/
01 01
no no
v/ v/
01 01
fe fe
v/ v/
02 0
m m 2
ai ai/
/0
2 0
ag ag 2
o/ o/
02 02
no no
v/ v/
02 02
Marcos Roberto Vasconcelos / José Ricardo Fucidji / Luiz Guilherme Scorzafave / Dannyel Lopes de Assis
0 ,47 5 0
0 ,45 0 0
0 ,42 5 0
0 ,40 0 0
0 ,37 5 0
0 ,35 0 0
0 ,32 5 0
0 ,30 0 0
0 ,27 5 0
0 ,25 0 0
0 ,22 5 0
0 ,20 0 0
94
95
95
95
96
96
97
97
97
98
98
98
98
99
99
99
99
00
00
00
01
01
01
01
02
02
02
02
o/9
o/9
v/0
/9
v/9
v/9
o/
v/
ai/
o/
v/
ai/
v/
ai/
v/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
v
fe
fe
fe
fe
fe
fe
fe
fe
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
m
IHH
0 ,95 0 0
0 ,92 5 0
0 ,90 0 0
0 ,87 5 0
0 ,85 0 0
0 ,82 5 0
0 ,80 0 0
0 ,77 5 0
0 ,75 0 0
0 ,72 5 0
0 ,70 0 0
0 ,67 5 0
0 ,65 0 0
0 ,62 5 0
0 ,60 0 0
94
95
95
95
96
96
97
97
97
98
98
98
98
99
99
99
99
00
00
00
00
01
01
01
01
02
02
02
02
/9
v/9
o/9
v/9
o/9
o/
v/
ai/
o/
v/
ai/
v/
ai/
v/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
v/
ai/
o/
v/
v
fe
fe
fe
fe
fe
fe
fe
fe
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
ag
no
m
ET
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do Banco Central do Brasil.
(14) Esclarecemos que as variáveis “proporção de cidades sem agências bancárias no estado” e
“depósitos bancários per capita” também poderiam afetar o comportamento do crédito bancário. No entanto, elas
mostraram alto grau de correlação (acima de 70%) com as variáveis “densidade de agências” e “PIB per capita”,
respectivamente, o que provocaria o problema de multicolinearidade. Como estas variáveis captariam os mesmos
aspectos das efetivamente utilizadas, decidimos descartá-las.
Tabela 6
Resultado das estimativas
Gráfico 6
Elasticidade do crédito per capita com relação à densidade de agências por estados
2
1,8
1,6
1,4
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
0
RR RO MA PI PB AP RN AL TO AC CE GO RJ BA SP MT AM PE PA ES SC PR SE RS MG MS
Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados do Banco Central do Brasil e do IBGE.
Considerações finais
(15) Ver, por exemplo, Peek & Rosengren (1998) e Sapienza (2002).
Referências bibliográficas
ANDREZO, Andrea Fernandes; LIMA, Iran Siqueira. Mercados financeiros: aspectos
históricos e conceituais. São Paulo: Pioneira, 1999.
BARROS, J. R. M., ALMEIDA JÚNIOR, M. F. Análise do ajuste do Sistema Financeiro
no Brasil. Brasília: Ministério da Fazenda. Secretaria de Política Econômica, 1997.
(Mimeogr.).
BASSOLI, Alexandre Correa; PESSOA, Samuel de Abreu. Inflation and overbanking.
Ensaios Econômicos da EPGE, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, n. 380, 2000.
BONACORSI DE PATI, E.; GOBBI. G. The effects of bank consolidation and market
entry on small business lending. Temi di Discussione del Servizio Studi, Banca D’Italia,
n. 404, jun. 2001.