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LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA PARA AFRFB

Pacote Teoria e Exercícios – Turma 2014.2


Professor: MURILLO LO VISCO

Prezado concursando, seja bem vindo!

Meu nome é Murillo, e estarei ao seu lado nesta disciplina. Trago


comigo onze anos de experiência em concursos públicos, sendo seis deles
como professor de Direito Tributário e Legislação Tributária Federal em cursos
preparatórios.
Sou Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil, aprovado em 1º lugar
para as Unidades Centrais no concurso de 2005. Antes disso, já havia sido
aprovado em concursos para os cargos de Analista Previdenciário do INSS,
Técnico da Receita Federal, Auditor Fiscal da Previdência Social e Analista de
Finanças e Controle da Secretaria do Tesouro Nacional.
Como Auditor Fiscal da Receita Federal, entrei em exercício em
Brasília na Coordenação Geral de Tributação (Cosit). Atualmente, estou
cumprindo o terceiro mandato de julgador na Delegacia da Receita Federal do
Brasil de Julgamento em Florianópolis.
Nosso curso terá como base o Edital ESAF nº 18, de 7 de março de
2014, que, quanto à nossa disciplina, apresentou o mesmo conteúdo do edital
de 2012, abrangendo o Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer
Natureza (IR) e o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI).
Trata-se de um conteúdo de grande importância. Além da nota
mínima (40%) que precisa ser alcançada para evitar a eliminação do concurso,
por outros dois motivos penso que você deve se dedicar ao estudo da
Legislação Tributária. Primeiro, porque é disciplina de peso 2. Segundo, sendo
ela bastante específica, quem vai bem nessa disciplina costuma se destacar no
meio da multidão. Ou seja, uma questão sobre a Legislação Tributária pode
fazer toda a diferença na classificação final do concurso!
Neste curso, abordarei todos os itens de Legislação Tributária
exigidos no edital. Porém, você perceberá que irei adotar uma ordem de
assuntos um pouco adaptada, diferente daquela encontrada no edital. Com
isso, pretendo fazer uma abordagem mais adequada à assimilação dos
assuntos, numa sequência que faça sentido pela coerência e encadeamento
dos assuntos.
Ao elaborar este curso, ciente de que o seu objetivo é a aprovação no
concurso, mantive sempre muito presente a seguinte diretriz: desenvolver as
aulas com objetividade e em sintonia com o que já foi objeto de questões de
concursos anteriores.

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Ao final de cada aula, vou relacionar os principais pontos estudados e


propor uma lista de questões, algumas inéditas e outras de concursos
anteriores, sempre que possível, organizados pela ESAF. Em seguida, irei
comentar as questões para que você possa avaliar seu desempenho. Isso sem
falar no fórum de dúvidas, que é uma das marcas registradas do Ponto dos
Concursos!
Nosso curso compreenderá doze aulas, organizadas da seguinte
forma:

Aula 01 Imposto sobre Produtos Industrializados. Princípios constitucionais.


Imunidades. Industrialização – conceito, características e modalidades.
Exclusões do conceito de industrialização. Campo de incidência do IPI.
Classificação de produtos. Redução e majoração do imposto.
Aula 02 Imposto sobre Produtos Industrializados. Contribuintes. Estabelecimentos
industriais e equiparados. Responsáveis. Domicílio tributário. Fato gerador.
Base de cálculo (valor tributável).
Aula 03 Imposto sobre Produtos Industrializados. Créditos. Crédito presumido.
Apuração e recolhimento do imposto. Lançamento do imposto. Suspensão.
Isenção. Bens de capital. IPI na importação.
Aula 04 Imposto sobre Produtos Industrializados. Produtos industrializados por
encomenda. Regimes fiscais. Rotulagem e marcação de produtos. Selos de
controle. Obrigações dos transportadores, adquirentes e depositários de
produtos. Registro Especial. Cigarros. Bebidas.
Aula 05 Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Princípios
constitucionais. Critérios orientadores. CTN. Normas gerais em matéria de
Imposto de Renda. Conceitos fundamentais. Renda e proventos.
Disponibilidade econômica ou jurídica de renda. Acréscimo patrimonial.
Aula 06 Imposto de Renda das Pessoas Físicas. Incidência. Rendimentos.
Rendimentos tributáveis. Rendimentos isentos ou não tributáveis.
Contribuintes. Responsáveis. Domicílio Fiscal.
Aula 07 Imposto de Renda das Pessoas Físicas. Sistema de bases correntes. Regimes
de tributação. Retenções na fonte. Regime de tributação anual. Base de
cálculo. Deduções da base de cálculo. Alíquotas. Deduções do imposto devido.
Antecipações do imposto. Regime de tributação definitiva. Regime de
tributação exclusiva na fonte. Lançamento. Declaração de ajuste anual.
Aula 08 Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. Incidência. Receitas e rendimentos.
Regime de caixa e regime de competência. Contribuintes. Responsáveis.
Domicílio Fiscal. Imunidades. Isenções. Sociedades cooperativas.

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Aula 09 Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. Regimes de tributação. Base de


cálculo. Alíquotas. Período de apuração. Lucro presumido – conceito, opção,
regras de apuração e escrituração exigida. Lucro real – conceito, ajustes do
lucro líquido, despesas dedutíveis e indedutíveis, livros fiscais. Lucro arbitrado
– conceito, hipóteses e regras de apuração.
Aula 10 Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. Lançamento. Omissão de receita.
Atividade rural. Reorganizações societárias. Investimentos em sociedades
coligadas e controladas avaliados pelo método do patrimônio líquido.
Planejamento tributário.
Aula 11 Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. Ganhos de capital. Preços de
transferência. Lucros, rendimentos e ganhos de capital obtidos no exterior.
Benefícios fiscais de isenção ou redução do imposto. Tributação na fonte.
Tributação das operações financeiras.
Aula 12 Simulado comentado

Portanto, dedicaremos quatro aulas para o IPI, uma para aspectos


gerais do Imposto de Renda, duas aulas para o IRPF, quatro para o IRPJ e, na
aula final, o simulado. Como se nota, o conteúdo é bastante extenso. Mas, não
se assuste! Vamos buscar construir um conhecimento sólido, aula após aula.
Mantenha-se firme no seu propósito! Ao longo do curso eu estarei à
disposição para orientá-lo a atingir seu maior objetivo.

“Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem


difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las.”
(Sêneca)

As dúvidas sobre a matéria devem ser encaminhadas por meio do


fórum. Já as críticas ou sugestões podem ser enviadas para a coordenação
pedagógica do Ponto (coordenacao@pontodosconcursos.com.br), ou para o
meu e-mail: murillo@pontodosconcursos.com.br.
A seguir, aproveite a Aula Demonstrativa (que corresponde à Aula 05
do cronograma acima) para conhecer na prática o nosso curso.

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AULA DEMONSTRATIVA
IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Olá, concursando!

Com esta Aula damos continuidade ao nosso curso de Legislação


Tributária visando à preparação para o próximo concurso de AFRFB. Trata-se
de uma aula introdutória, em que vamos estudar os conceitos fundamentais
relativos ao Imposto de Renda.
Para seu controle, informo que nesta Aula serão abordados os
seguintes os itens do edital dos últimos concursos: 1. Imposto sobre a
Renda e Proventos de Qualquer Natureza. 1.1. Critérios orientadores.
1.1.1. Renda e Proventos. Conceito. 1.1.2. Disponibilidade econômica
ou jurídica. 1.1.3. Acréscimo patrimonial.
Ainda que brevemente, vamos seguir um caminho desde a fonte do
poder de tributar a renda, passando pelos princípios constitucionais que
informam esse poder, e concluiremos a Aula analisando mais de perto os
conceitos fundamentais utilizados pelo legislador para definir a incidência do
imposto. Exatamente como pretendeu a ESAF com os tópicos iniciais do
conteúdo desta disciplina, no edital do concurso.
Sei que seu tempo é curto, e que alguns dos temas desta Aula em
particular compõem o objeto da disciplina Direito Tributário. Para evitar
redundâncias e o consequente desperdício de seu precioso tempo, o objetivo
desta Aula é, sob um enfoque bem específico, apresentar uma análise
desses mesmos temas ressaltando o que interessa à boa compreensão da
incidência do Imposto de Renda. Ou seja, é uma luz diferente sobre temas já
conhecidos.
Vamos percorrer a seguinte estrutura:

1. A DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DO IMPOSTO DE RENDA............... 6


1.1. A fonte do poder de tributar a renda ...................................... 6
1.2. Princípios constitucionais tributários aplicáveis ao IR ........... 7
1.2.1. Capacidade contributiva como princípio balizador do conceito de
renda ........................................................................................... 7
1.2.2. A isonomia, a capacidade contributiva e a progressividade ........ 8
1.2.3. Capacidade contributiva e vedação ao confisco .......................10
1.2.4. A generalidade e a universalidade da tributação sobre a renda .11
1.2.5. Irretroatividade e anterioridade do exercício financeiro ............12

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1.2.6. Anterioridade nonagesimal ...................................................16

2. NORMAS GERAIS EM MATÉRIA DE IMPOSTO DE RENDA ................. 17


2.1. A eficácia do Código Tributário Nacional .............................. 17
2.2. Fato gerador do imposto de renda ....................................... 18
2.3. Base de cálculo do imposto de renda ................................... 20
2.4. Contribuinte do imposto de renda ........................................ 20

3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS RELATIVOS AO FATO GERADOR DO


IMPOSTO DE RENDA ........................................................................... 22
3.1. Aquisição de disponibilidade ................................................ 22
3.2. Disponibilidade econômica ou jurídica ................................. 22
3.3. Renda ................................................................................... 24
3.4. Proventos de qualquer natureza .......................................... 26
3.5. Acréscimo patrimonial ......................................................... 26

4. PRINCIPAIS PONTOS DA AULA....................................................... 32

5. QUESTÕES PROPOSTAS .................................................................. 36

6. COMENTÁRIOS SOBRE AS QUESTÕES PROPOSTAS ......................... 43

7. GABARITO DAS QUESTÕES PROPOSTAS ......................................... 65

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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1. A DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DO IMPOSTO DE RENDA


Em matéria tributária, você deve ter bem clara a existência de quatro
planos normativos: o plano constitucional, o das normas gerais, o das leis
instituidoras e disciplinadoras dos tributos, e o plano do detalhamento das leis
pela via da regulamentação infralegal.
Em relação ao Imposto de Renda (IR), neste bloco que abre a Aula
ficaremos no plano constitucional. O plano das normas gerais, previstas no
CTN, é o objeto do item 2. As demais aulas sobre o IR irão se situar no plano
das leis e, principalmente, no da regulamentação infralegal.

1.1. A fonte do poder de tributar a renda


A Constituição Federal (CF) não cria tributos. Em verdade, a CF
atribui competência tributária aos entes políticos, que corresponde ao poder
de, mediante leis próprias, criar os tributos e sobre eles legislar. E além de
atribuir a competência tributária, a CF também estabelece certos limites ao
exercício desse poder político.
É certo que à União foi atribuída a competência para tributar a renda.
No entanto, é preciso dizer que, embora relativamente claros os limites desse
poder de tributar, na prática, diante de casos concretos, há certa dificuldade
em identificá-los.
A dificuldade começa pelo próprio conceito de renda, que define o
alcance da tributação. Inúmeras são as discussões acerca do que é renda.
Apenas para citar um exemplo, a tributação das chamadas “verbas
indenizatórias” gera, até hoje, calorosos debates.
Como nosso objetivo é colocar o “X” no lugar certo, não podemos
entrar de cabeça nesse debate. Por isso mesmo, nosso desafio é compreender
a essência dessas discussões e, principalmente, identificar as matérias em
que há relativo consenso nos tribunais.
Veremos mais de perto o conceito de renda no item 3.3 desta Aula.
Por ora, basta dizer que em geral é defendida a existência de um conceito
constitucional de renda e proventos de qualquer natureza. De qualquer forma,
é certo que a CF estabeleceu os contornos do que pode e do que não pode ser
tributado a esse título.
Para perceber o que isso tudo significa, primeiro vamos reconhecer
que existem alguns valores recebidos, como os aluguéis, por exemplo, sobre
os quais não paira qualquer dúvida de que se trata de renda; e outros sobre as
quais se tem certeza de que não constituem nem renda e nem provento de

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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

qualquer natureza, como no caso do valor recebido a título de principal de


empréstimo concedido.
Por outro lado, há uma zona cinzenta, intermediária, em que a
resposta não é assim tão óbvia. O que dizer das indenizações? Não é renda e
nem provento, muitos vão dizer! Mas e se eu disser que da indenização
resultou um acréscimo patrimonial? Continua a certeza de que não se trata
nem de renda e nem de provento?
Para evitar essa armadilha, talvez o melhor seja entender que a CF
estabeleceu os contornos do conceito de renda e de proventos de qualquer
natureza mediante a imposição de limites representados, notadamente, pelo
princípio da capacidade contributiva. Nesse sentido, verbas, direitos, créditos,
ingressos, seja lá qual for a denominação utilizada, somente podem ser
qualificados como renda ou provento se representarem riqueza nova, pois só
assim estará atendido o princípio da capacidade contributiva, sob pena de se
invadir o patrimônio a pretexto de tributar a renda.
Como se nota, ao delimitar os contornos do que é renda, o princípio
da capacidade contributiva nos ajuda a definir a própria competência tributária
relativa ao IR. Por isso é tão importante o estudo desse e de outros princípios
constitucionais tributários, tema do próximo item.

1.2. Princípios constitucionais tributários aplicáveis ao IR


Os princípios constitucionais tributários constituem verdadeiras
“barreiras de contenção” que limitam o poder tributar.
Neste tópico analisaremos não somente os princípios constitucionais
específicos aplicáveis ao IR. Vamos também analisar alguns princípios gerais
quanto a seus efeitos particulares em relação ao referido imposto.
Não ignoramos que exista na ciência jurídica um amplo debate acerca
da distinção entre princípios e regras, principalmente para avaliar a atuação
judicial nos casos em que normas constitucionais entram em rota de colisão.
Porém, para o nosso objetivo, não há prejuízo em utilizar genericamente o
termo “princípio” para designar esses enunciados que orientam a criação e a
aplicação das normas de incidência tributária propriamente dita.

1.2.1. Capacidade contributiva como princípio balizador do conceito de


renda
Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte
(CTN, art. 16). Nota-se, claramente, que impostos não têm o caráter
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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

contraprestacional típico dos tributos vinculados. Trata-se de espécie de tributo


não vinculado (e disso você já sabe, tenho certeza!).
Na definição do art. 16 do CTN, note que foi afirmado o que os
impostos não são: impostos não são vinculados. Portanto, se não constituem
espécie de tributo baseado no ressarcimento devido em face de uma atuação
estatal específica, temos que justificar a cobrança dos impostos de outro
modo.
De forma legítima, os impostos são cobrados de quem demonstra
aptidão para contribuir com o Estado. A incidência de impostos se refere,
portanto, à manifestação de riqueza. Nesse sentido, imposto é tributo que
promove distribuição de riqueza, e encontra-se fundamentado na
solidariedade.
Por isso mesmo, a cobrança de impostos está intimamente ligada à
capacidade contributiva. A ideia é simples: quem apresenta capacidade
contributiva deve colaborar com o Estado na consecução de suas atividades
voltadas à sociedade; por outro lado, quem não apresenta capacidade
contributiva deve ser poupado desse encargo. Isso explica a preocupação do
constituinte de 1988, que o fez enunciar no § 1º do art. 145 a diretriz no
sentido de que os impostos devem ser graduados segundo a capacidade
econômica dos contribuintes.
Em alguns casos, a manifestação de riqueza pode constituir um
estado permanente. É o caso da propriedade imobiliária, que justifica a
cobrança de imposto sobre o patrimônio, ITR ou IPTU, conforme o caso.
Por outro lado, eventos esporádicos podem revelar a aptidão para
contribuir com o Estado. É o caso da renda recebida, que também justifica a
cobrança de imposto. Mas, somente a riqueza nova pode ser qualificada como
renda, capaz de justificar a incidência do respectivo imposto. Admitir o
contrário significaria, a pretexto de tributar a renda, permitir a incidência de
verdadeiro imposto sobre o patrimônio.
Com isso, fica claro que a capacidade contributiva funciona como
princípio balizador do conceito de renda, que deve orientar as conclusões
acerca da verdadeira natureza dos ingressos recebidos pelas pessoas,
conforme veremos no item 3 desta mesma Aula.

1.2.2. A isonomia, a capacidade contributiva e a progressividade


Aqui, mais do que reafirmar o conteúdo de cada um desses
princípios, pretendo mostrar como eles se relacionam, e como desse
relacionamento emergem orientações para a tributação da renda.
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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A isonomia tributária é clara expressão do princípio da igualdade.


Longe de orientar igual tratamento a todos os contribuintes, a isonomia
tributária, em verdade, veda o tratamento diferenciado aos que se encontram
em situação equivalente, e orienta para a criação de tratamento diferenciado
aos que se encontram em situação desigual, na medida de suas desigualdades.
Por sua vez, em matéria de IR, além de informar o conceito de
renda (conforme já vimos no item anterior), a capacidade contributiva é o
parâmetro mais legítimo para identificar contribuintes em situação desigual.
Por isso mesmo, o respeito às diferentes capacidades contributivas representa
a concretização da isonomia tributária.
Não podemos deixar de mencionar que a identificação das diferentes
capacidades contributivas é viabilizada pelo caráter pessoal do IR, na medida
em que a estrutura de sua regra de incidência considera aspectos próprios de
cada contribuinte. No âmbito do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), a
manifestação do caráter pessoal é muito evidente em face da possibilidade de
o contribuinte deduzir da base de cálculo do imposto despesas médicas, gastos
com instrução, e um valor fixo por dependente, entre outras deduções.
E uma vez identificada a situação desigual, determinada pela desigual
capacidade contributiva, a progressividade das alíquotas é uma forma de
implementar o tratamento tributário diferenciado que confere efetividade à
isonomia.
Também em relação ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ)
as diferentes capacidades contributivas justificam a tributação diferenciada. É
o que se verifica no caso da incidência da alíquota adicional de 10% na
hipótese de bases de cálculo superiores a determinado valor, conforme
veremos em aula própria.
Quanto à necessidade de também observar a capacidade contributiva
das pessoas jurídicas, vale destacar que a ESAF, em concurso aplicado no ano
de 2012, considerou incorreta a assertiva que restringia sua aplicação
somente às pessoas físicas. Confira:
(ESAF/Analista de Comércio Exterior – 27/05/2012)
30 - O princípio da capacidade contributiva, que informa o
ordenamento jurídico tributário, estabelece que, sempre que
possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a
esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e
nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte. Sobre ele, assinale a opção incorreta.
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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

a) Tal princípio aplica-se somente às pessoas físicas.


b) Constitui subprincípio do princípio da solidariedade.
c) Visa, entre outros objetivos, a assegurar o mínimo vital, ou mínimo
existencial.
d) Constitui subprincípio do princípio da igualdade.
e) É compatível com a progressividade de alíquotas.

Pelo que até aqui já foi dito, a alternativa A é a resposta da questão.


A validade das alternativas D e E pode ser confirmada com o que estudamos
neste mesmo item da Aula.
Quanto às demais alternativas, a C está correta porque devem ser
respeitadas as menores capacidades econômicas para não privar as pessoas do
mínimo existencial (veja a aplicação prática disso na faixa de isenção da tabela
progressiva do IRPF). E no outro extremo, a alternativa B também está
correta, pois, na medida em que proporciona clara distribuição de renda, a
incidência tributária mais gravosa sobre as pessoas com maior capacidade
contributiva representa medida de solidariedade e justiça fiscal.
Para fechar este item, vamos adotar como síntese uma assertiva
considerada correta pela ESAF no concurso para AFRFB realizado em 2009:
Pode-se afirmar que o critério da progressividade decorre dos princípios da
igualdade e da capacidade contributiva, na medida em que contribuintes
com maiores rendimentos sejam tributados de modo mais gravoso do que
aqueles com menores rendimentos.

1.2.3. Capacidade contributiva e vedação ao confisco


Quando o constituinte estabelece que é vedado utilizar tributo com
efeito de confisco, claramente pretende evitar a imposição de incidências
tributárias excessivas, que resultem em verdadeira subtração do patrimônio
dos contribuintes, ou em privação do mínimo vital para sobrevivência.
Trata-se, portanto, de uma vedação ao excesso que, em matéria de
impostos, está em harmonia com a necessidade de graduá-los segundo a
capacidade econômica dos contribuintes.
No caso do IR, pode-se afirmar que a vedação ao confisco está
relacionada com a graduação máxima a que se pode chegar com a incidência
do imposto, sem que isso signifique um avanço da tributação para além do que
revela a capacidade contributiva que fundamenta sua cobrança.
Nesse contexto, é certo que confisco é um conceito indeterminado,
que demanda a definição de seu alcance em face do caso concreto. Outro
detalhe importante diz respeito ao entendimento do STF no sentido de que a
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avaliação da existência de confisco não deve ser feita considerando o tributo


isoladamente. Para esse fim é preciso analisar o efeito das múltiplas
incidências a que se encontra submetido o patrimônio ou a renda do
contribuinte (ADC/MC 8 e ADI/QO 2.010).
Portanto, a partir do que vimos até aqui, em matéria de IR, a
capacidade contributiva, manifestada pela obtenção de riqueza nova, revela a
natureza de renda do ingresso percebido pelo contribuinte. E além de revelar a
natureza da renda, o princípio da capacidade contributiva, associado à vedação
ao confisco, também atua na delimitação do máximo a que se pode chegar
com a tributação.
Perceba mais uma vez o papel fundamental do princípio da
capacidade contributiva: ele nos ajuda a identificar o que pode ser tributado, e
em que medida pode ser tributado.

1.2.4. A generalidade e a universalidade da tributação sobre a renda


A CF determina que o IR seja informado pelos critérios da
generalidade e da universalidade, na forma da lei (art. 153, § 2º).
Quando considerados isoladamente, existe alguma discordância com
relação ao conteúdo desses critérios. Há quem entenda o contrário, mas em
geral, tem-se que a generalidade implica a sujeição de todas as pessoas à
incidência do imposto, enquanto que a universalidade impõe o alcance da
tributação em relação a quaisquer espécies de rendimentos,
independentemente de sua denominação.
De qualquer forma, juntos, os critérios da generalidade e da
universalidade conferem ampla abrangência subjetiva (todas as pessoas) e
objetiva (todas as rendas) à incidência do IR.
De se destacar que o CESPE-UnB, num Exame da OAB, já marcou
posição no sentido de que a generalidade informa a abrangência subjetiva do
IR, enquanto que a universalidade se refere à sua abrangência objetiva. Mas,
infelizmente, a ESAF ainda não abordou o tema sob esse prisma.
Por outro lado, pacífico é o fato de que generalidade e universalidade
decorrem da isonomia. Desse modo, se não houver um motivo legítimo capaz
de justificar tratamento diferenciado, todas as pessoas devem se sujeitar ao
IR. Da mesma forma, inexistindo razão para a diferenciação, todas as várias
espécies de renda ou provento de qualquer natureza devem ser alcançadas
pelo imposto.

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A título de exemplo, note como a generalidade e a universalidade


realmente informam a criação das normas de incidência do IR:
Abrangência objetiva
A tributação independe da denominação dos rendimentos, títulos ou
direitos, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da
origem dos bens produtores da renda, e da forma de percepção das rendas
ou proventos, bastando, para a incidência do imposto, o benefício do
contribuinte por qualquer forma e a qualquer título (Lei nº 7.713, de 1988,
art. 3º, § 4º).

Abrangência subjetiva
As pessoas físicas domiciliadas ou residentes no Brasil, titulares de
disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou proventos de qualquer
natureza, inclusive rendimentos e ganhos de capital, são contribuintes do
imposto de renda, sem distinção da nacionalidade, sexo, idade, estado civil
ou profissão (Decreto nº 3.000, de 1999, art. 2º).

Antes de fechar este item e apenas para não perder a oportunidade,


vale dizer que a ESAF, em 2004, foi muito maldosa ao apresentar numa prova
para Procurador da Fazenda Nacional a seguinte assertiva: “o imposto sobre
renda e proventos de qualquer natureza sujeita-se aos princípios da
generalidade, uniformidade e progressividade”.
A assertiva foi considerada incorreta. Apesar de ter utilizado o termo
“princípios” em vez de “critérios”, certamente essa não foi a razão pela qual a
ESAF considerou incorreta a assertiva. Ali o problema foi outro! Note que foi
substituída a “universalidade”, por “uniformidade”. É bem verdade que são
atributos distintos, mas, em vista do que dispõe o inciso I do art. 151 da CF,
não deixa de estar correto afirmar que o IR se submete ao princípio da
uniformidade! Além disso, trata-se de uma armadilha que pouco contribui com
a avaliação dos candidatos. Infelizmente, temos que aprender a conviver com
esse tipo de situação!

1.2.5. Irretroatividade e anterioridade do exercício financeiro


Em obediência ao princípio da irretroatividade, a União não pode
cobrar o IR em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência
da lei que o houver instituído ou aumentado.
Além da irretroatividade, também deve ser respeitado o princípio da
anterioridade do exercício financeiro, segundo o qual a União não pode cobrar
o IR no mesmo ano em que haja sido publicada a lei que o instituiu ou
aumentou.
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Aqui também não vamos analisar detalhadamente o conteúdo desses


princípios, amplamente estudados em Direito Tributário. Em verdade, agora
nos interessa analisar os efeitos da lei que majora o imposto em
relação aos rendimentos auferidos no mesmo ano de sua publicação.
Antes de analisar essa situação, é preciso dizer que, em relação ao
IR, considera-se ocorrido o fato gerador no final do período de apuração. Essa
é a regra. Exceção a essa regra se verifica em relação ao Imposto de Renda
Retido na Fonte (IRRF). Nesse caso, a obrigação da fonte pagadora nasce
instantaneamente, mas não se preocupe com isso agora.
Assim, no caso da incidência anual do IR, ainda que o contribuinte
seja beneficiário de vários rendimentos ao longo do ano, considera-se ocorrido
o fato gerador do imposto no dia 31 de dezembro. Trata-se do que
normalmente se denomina fato gerador periódico composto, ou simplesmente
fato gerador complexivo.
Mais um detalhe: é na declaração de ajuste que a apuração do
imposto anual será demonstrada à Receita Federal. Inclusive, no caso das
pessoas físicas, o vencimento do prazo para pagamento do imposto anual
coincide com a data limite para entrega da declaração (Lei nº 9.250, de 1995,
arts. 7º e 13, parágrafo único).
Para simplificar a compreensão do problema, vamos considerar a
situação retratada na figura abaixo:

Lei antiga: Lei nova:


alíquota 20% alíquota 30%
FG
Rendimentos

Entrega da
Ano-base declaração

Na figura acima, considerando que FG é o fato gerador do imposto


relativo aos rendimentos auferidos no ano-base, e considerando ainda que o
início da vigência da lei nova se deu no mesmo dia de sua publicação, a
pergunta é: qual a alíquota aplicável no cálculo do imposto anual, 20% ou
30%?
Na década de 1970, quando essa mesma pergunta bateu às portas do
STF, a resposta foi favorável à aplicação da lei nova. Segundo o entendimento
que prevaleceu, como a data de início da vigência da lei nova é anterior à data
de ocorrência do fato gerador, a irretroatividade não seria afrontada pela
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aplicação da lei nova. E como o imposto somente vai ser “cobrado” no ano
seguinte, no momento da entrega da declaração, então a anterioridade
também não seria violada.
Esta é a origem da seguinte súmula, aprovada em Sessão Plenária de
15/12/1976:
Súmula 584/STF - Ao Imposto de Renda calculado sobre os rendimentos
do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser
apresentada a declaração.

Nem mesmo a formulação do princípio da anterioridade do exercício


financeiro, pelo constituinte de 1988, tem se mostrado suficiente para que o
STF considere superada a Súmula 584. Vale dizer, mesmo sob a égide da
CF/88, o STF fundamentou algumas de suas decisões na referida Súmula (RE
194.612; AI 180.776 AgR-ED; RE 232.084), inclusive recentemente, em 2011
(ARE 640.953).
Esse entendimento do STF foi amplamente reprovado pela doutrina e,
até hoje, é motivo de muitas discussões. A atual composição do STF terá a
oportunidade de rediscutir a matéria segundo nossa realidade jurídica, social,
econômica e política. Inclusive, em 2009 o STF reconheceu a repercussão geral
do tema (RE 592.396-7), e desde 2007 encontra-se pendente de julgamento o
RE 183.130 tratando da mesma matéria.
Em relação à irretroatividade, a reprovação da doutrina recai sobre o
fato de que, ainda que entre em vigor antes da ocorrência do fato gerador
composto previsto na lei, é inegável o fato de que, no caso em análise, a lei
nova alcança lucros ocorridos antes do início da sua vigência. É o que a
doutrina denomina retroatividade imprópria (ou econômica): em relação
ao fato gerador anual a lei nova não é retroativa (daí dizer que o princípio da
irretroatividade não é afrontado nesse caso); mas em relação aos rendimentos
auferidos antes da publicação da lei nova, e que compõem o fato gerador
anual, ela não deixa de ser retroativa sob o ponto de vista econômico!
Além disso, a reprovação da doutrina também recai sobre o
entendimento de que, em casos como esse, a aplicação da lei nova não
representaria afronta à anterioridade. Como vimos, esse entendimento se
baseou na tese, bastante questionável, de que a anterioridade não é violada
pela aplicação da lei nova porque o imposto somente vai ser “cobrado” no ano
seguinte, no momento da entrega da declaração.
Ora, a razão de este entendimento ser questionável está no fato de
ter considerado o sentido meramente prático (ou operacional) do vocábulo

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"cobrar", significando apenas “exigir o pagamento de algo que é devido”, o que


de fato só ocorre com a entrega da declaração.
No entanto, no sentido mais aceito pela doutrina e pelo STJ, o termo
“cobrar” que o constituinte utilizou no inciso III do art. 150 da CF, deve ser
entendido em sua conotação jurídica, significando “impor a exação”. Trata-se,
portanto, de vedar a produção de efeitos da lei nova em relação a fatos
ocorridos no mesmo ano de sua publicação. Em outras palavras, sob esse
entendimento, com o princípio da anterioridade do exercício financeiro
pretende-se evitar a verificação concreta da majoração do tributo em relação a
fato gerador ocorrido no próprio ano de publicação da lei majoradora.
Em vista disso, são grandes as chances de o STF superar esse
entendimento. E como foi mencionado acima, o STJ já se pronunciou no
sentido da “inaplicabilidade da Súmula 584/STF, construída à luz de legislação
anterior ao CTN” (REsp 179.966).
Assim colocada a questão, como deve agir o concursando? Nesse
caso há um precedente da própria ESAF claramente desconsiderando a
Súmula STF 584. Trata-se de questão do concurso de 2003 para Técnico da
Receita Federal, em que a resposta correta somente poderia ser assinalada se
o candidato ignorasse a Súmula STF 584, e aplicasse a lei antiga. Como essa
questão envolve temas da apuração do IRPF, ela será comentada na Aula 07,
momento em que eu retornarei a essa discussão envolvendo a Súmula STF
584.
Antes de fechar esse tópico, é preciso fazer uma breve referência ao
inciso III do art. 104 do CTN. Trata-se do que tem sido considerada uma
proteção adicional ao contribuinte, recepcionada pela CF/88:
Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em
que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos
sobre o patrimônio ou a renda:
[...]
III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de
maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo
178.

Em relação a esse dispositivo, pode-se dizer que realmente se trata


de uma proteção adicional ao contribuinte, relativa apenas a impostos
sobre patrimônio ou renda, principalmente diante do entendimento do STF
no sentido de que a anterioridade não representa proteção contra revogação
ou redução de isenções, que certamente são situações mais gravosas.

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Para o Tribunal, como a isenção significa mera dispensa legal do


pagamento de tributo devido, revogação de isenção não se equipara a criação
ou majoração de tributo. Com base nessa tese, o STF entendeu que, “revogada
a isenção, o tributo torna-se imediatamente exigível. Em casos assim, não há
que se observar o princípio da anterioridade, dado que o tributo já é existente”
(RE 204.062).
Note que essa tese se aplica à revogação de isenções relativas a
qualquer tributo, inclusive impostos sobre o patrimônio ou a renda. Portanto,
se não fosse pelo inciso III do art. 104 do CTN, dispositivos de lei que
extinguem ou reduzem isenções referentes a impostos sobre o patrimônio ou a
renda poderiam entrar em vigor na data de sua publicação e, sem a proteção
da anterioridade, poderiam produzir efeitos no mesmo momento.
No entanto, por força dessa proteção adicional prevista no CTN,
extinção ou redução de isenções referentes a impostos sobre o patrimônio ou a
renda somente entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele
em que ocorra a publicação da respectiva lei. Mas isso vale somente se a lei
não dispuser de modo mais favorável ao contribuinte, por exemplo,
estabelecendo o início de sua vigência em data posterior ao primeiro dia do
exercício seguinte, de modo a conceder ao contribuinte mais prazo até que a
revogação da isenção produza seus efeitos.

1.2.6. Anterioridade nonagesimal


Este item está aqui só para lembrá-lo de que o IR é exceção ao
princípio da anterioridade nonagesimal, segundo o qual é vedado cobrar
tributos antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou.
Portanto, continua sendo possível que majoração nas alíquotas do IR
veiculada em lei publicada dentro dos últimos noventa dias do ano produza
efeitos já a partir do primeiro dia do exercício seguinte. Mas, não se esqueça
de que, por força do § 2º do art. 62 da CF, caso a referida majoração seja
veiculada por medida provisória, a produção de seus efeitos somente se inicia
no primeiro dia do exercício seguinte se a medida provisória for convertida em
lei até o final do ano de sua publicação!

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2. NORMAS GERAIS EM MATÉRIA DE IMPOSTO DE RENDA


A partir deste ponto deixamos o plano constitucional e entramos no
plano das normas gerais relativas ao IR.
As normas gerais cumprem importante função de uniformização do
Sistema Tributário. Além disso, em relação aos impostos, contribuem para
esclarecer a própria delimitação da competência tributária atribuída pela
Constituição. Isso porque, nos termos da alínea “a” do inciso III do art. 146 da
CF, a definição dos principais elementos da hipótese de incidência dos
impostos constitui norma geral em matéria tributária, objeto de lei
complementar.
A preocupação do constituinte é óbvia: se os impostos são tributos
não vinculados que incidem sobre a riqueza manifestada pelos contribuintes, é
preciso estabelecer critérios seguros para delimitar os contornos do poder de
tributar; critérios sem os quais os entes tributantes ficariam demasiadamente
livres para criar suas hipóteses de incidência e, consequentemente, o particular
excessivamente exposto à voracidade da tributação sem limites claros.
Nesse sentido, em relação aos impostos discriminados na CF,
compete à lei complementar definir (1) a causa de surgimento da obrigação
tributária (o fato gerador), (2) o elemento quantificador do fato gerador (a
base de cálculo), e (3) o sujeito obrigado ao pagamento do imposto (o
contribuinte).
De qualquer forma, a mera existência de norma geral relativa a
determinado imposto não é suficiente para que se possa considerá-lo
instituído, e quanto a isso você não pode ter qualquer dúvida!

2.1. A eficácia do Código Tributário Nacional


Tenho certeza de que você sabe, mas não custa lembrar que o
Código Tributário Nacional (CTN), nosso mais importante diploma legal em
matéria de normas gerais tributárias, é lei ordinária publicada sob a égide da
Constituição de 1946, que nem mesmo previa a espécie “lei complementar”.
Apenas com a Constituição de 1967 surge a lei complementar e a
exigência dessa espécie normativa para dispor sobre normas gerais em
matéria tributária. Como sabemos, exigência semelhante se encontra na atual
CF.
Em consequência, conforme nos esclarece a Teoria da Recepção,
embora formalmente lei ordinária, o CTN é materialmente lei complementar.
Isso significa que o CTN tem força (eficácia) de lei complementar.

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2.2. Fato gerador do imposto de renda


O art. 43 do CTN estabelece que o fato gerador do imposto de renda
é a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de
proventos de qualquer natureza.
No item 3 desta Aula estudaremos mais detalhadamente o conteúdo
dos conceitos utilizados pelo legislador do Código para definir o fato gerador do
imposto de renda. Neste momento, vamos nos ocupar dos parágrafos do art.
43 do CTN, introduzidos pela Lei Complementar nº 104, de 2001.
O § 1º dispõe sobre a abrangência objetiva da hipótese de incidência.
Nesse sentido:
 em relação à receita ou ao rendimento, a incidência do imposto
independe de sua denominação, origem e forma de percepção; e
 em relação à fonte da receita ou dos rendimentos, a
incidência do imposto independe de sua localização, condição
jurídica ou nacionalidade.
Como já afirmei algumas vezes nesta Aula, se houver aquisição de
disponibilidade de renda ou provento de qualquer natureza, a incidência do
imposto independe da denominação que a eles seja atribuída. A tributação
também é indiferente à origem (lícita ou ilícita) e à forma de percepção da
receita ou rendimento (pecúnia, in natura, in labor, etc.).
A incidência do IR também independe da condição jurídica da fonte
dos rendimentos. Ou seja, para fins de incidência do imposto, é indiferente o
fato de a fonte pagadora estar ou não regularmente constituída na forma de
pessoa jurídica, de ser pessoa física, de ser pessoa civilmente capaz ou
incapaz, de nem mesmo ser pessoa (espólio, massa falida, etc.), entre outras
possibilidades.
Também são indiferentes a nacionalidade e a localização da fonte da
receita ou dos rendimentos. Desse modo, se o beneficiário dos rendimentos for
residente1 ou domiciliado no País, estará sujeito à incidência do imposto
brasileiro, ainda que:
 não seja brasileira a fonte dos rendimentos localizada no Brasil –
é o caso da tributação dos rendimentos auferidos por residentes
no País em decorrência de serviços prestados a embaixadas de
países estrangeiros no Brasil (RIR/99, art. 106, III)2;

1
Veremos na Aula 11 o conceito de residente no País.
2
RIR/99: Regulamento do Imposto de Renda de 1999 – Decreto nº 3.000, de 26 de março de
1999.
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 a fonte dos rendimentos não esteja localizada no Brasil – é o caso


da tributação de rendimentos auferidos por pessoa residente no
Brasil, produzidos por bem de sua propriedade localizado no
exterior (RIR/99, arts. 2º e 38); e dos lucros, rendimentos e
ganhos de capital auferidos no exterior auferidos por pessoa
jurídica domiciliada no Brasil (RIR/99, art. 394).
Por oportuno, vale dizer que, ainda que o beneficiário não seja
residente ou domiciliado no Brasil, estará sujeito à incidência do imposto
brasileiro se a fonte dos rendimentos estiver situada no País (RIR/99, arts. 3º,
22, § 2º e 682).
Por outro lado, ainda que brasileiro, se o beneficiário do rendimento
não for residente no País, e também não estiver localizada no País a fonte dos
rendimentos, não haverá incidência do IR brasileiro. É o caso jogador brasileiro
que se retira em caráter permanente do território nacional para atuar em clube
de futebol de país estrangeiro.
Em resumo, para incidir o imposto de renda brasileiro:
 o beneficiário do rendimento tem que ser residente ou
domiciliado no País, hipótese em que é indiferente a
localização da fonte; ou
 se o beneficiário do rendimento não for residente ou
domiciliado no País, pelo menos a fonte dos rendimentos
tem que estar situada no País.
A incidência do IR brasileiro sobre os rendimentos auferidos no
exterior, por residentes ou domiciliados no Brasil, caracteriza a denominada
tributação em bases universais, que consagra a extraterritorialidade da
tributação, tendência que se observa com a globalização dos negócios.
Por fim, nos termos do § 2º do art. 43 do CTN, “na hipótese de
receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições
e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do
imposto”.
Para dar efeito a esse comando do Código na específica hipótese de
empresa sediada no Brasil ser controladora ou coligada de empresa
situada no exterior, o art. 74 da Medida Provisória nº 2.158, de 2001,
estabelece que “os lucros auferidos por controlada ou coligada no exterior,
serão considerados disponibilizados para a controladora ou coligada no Brasil
na data do balanço no qual tiverem sido apurados”.

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Analisaremos a incidência do IRPJ sobre lucros auferidos no exterior


mais adiante, na Aula 11.

2.3. Base de cálculo do imposto de renda


O art. 44 do CTN estabelece que a base de cálculo do imposto é o
montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos
tributáveis.
É preciso dizer que, ao dispor dessa forma sobre a base de cálculo, o
CTN se utilizou apenas de figuras aplicáveis ao IRPJ, que estudaremos em
momento próprio.
Quanto ao IRPF, o art. 3º da Lei nº 7.713, de 1988, estabelece que
sua base de cálculo corresponde ao rendimento bruto, permitidas apenas as
deduções autorizadas em lei. Também estudaremos esse tema em momento
próprio.
Vamos aqui apenas aproveitar para destacar uma questão antiga e
simples que abordou o tema:
(ESAF/ Técnico da Receita Federal – 2002.2)
Entre as formas de tributação pelo Imposto de Renda Pessoa
Jurídica previstas na legislação, não se inclui:
a) a tributação pelo lucro presumido.
b) o pagamento mensal unificado de impostos e contribuições federais
(SIMPLES).
c) a tributação pelo lucro arbitrado.
d) a tributação pelo lucro bruto.
e) a tributação pelo lucro real.

As formas de tributação pelo IRPJ previstas na legislação são lucro


real, lucro presumido ou lucro arbitrado, ou Simples Nacional (na época,
Simples Federal). Portanto, entre as formas de tributação pelo IRPJ não se
inclui o lucro bruto. Fácil, não acha? Mas essa questão somente está aqui para
destacar que, enquanto a base de cálculo do IRPF é o rendimento bruto, as
pessoas jurídicas não são tributadas pelo lucro bruto. Não confunda!

2.4. Contribuinte do imposto de renda


Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade adquirida de
renda ou de proventos de qualquer natureza (CTN, art. 45).

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O Código ainda estabelece que a lei pode atribuir a condição de


contribuinte ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou
dos proventos tributáveis.
Essa última previsão recebe algumas críticas da doutrina. Há quem
entenda que o legislador pretendeu tributar a fonte pagadora dos rendimentos,
o que realmente seria um disparate! Não me parece que tenha sido essa a
intenção do legislador. Parece-me que o legislador do Código, para fins de
atribuir a condição de sujeito passivo do IR, pretendeu tornar indiferente a
natureza do vínculo entre a pessoa e o bem produtor da renda. Em outras
palavras, a pessoa não precisa ser a proprietária do bem para se revestir da
condição de contribuinte em relação à renda por ele produzida.
Essa conclusão é corroborada pelo Regulamento do Imposto de
Renda que, referindo-se a esse dispositivo, estabelece que “são também
contribuintes as pessoas físicas que perceberem rendimentos de bens de que
tenham a posse como se lhes pertencessem, de acordo com a legislação em
vigor” (RIR, art. 2º, § 1º).
Vamos a um exemplo. No caso de desaparecimento de uma pessoa, o
Código Civil estabelece o trâmite após o qual pode ser decretada sua ausência.
Transcorrido determinado período, depois de adotadas algumas cautelas, o juiz
pode abrir provisoriamente a sucessão. Nesse estado de sucessão provisória os
herdeiros poderão se imitir na posse dos bens do ausente. A sucessão é
provisória porque o ausente pode regressar, hipótese em que seus bens a ele
retornam. Se o ausente não retornar depois de dez anos após a abertura da
sucessão provisória, os interessados podem requerer a sucessão definitiva.
Pois bem, durante o período de dez anos em que os bens se encontram apenas
na posse dos herdeiros, em relação aos rendimentos produzidos (caso de
aluguéis gerados por bens imóveis), certamente que a eles (os herdeiros) pode
ser atribuída a condição de contribuinte do IR, ainda que não sejam os efetivos
proprietários dos bens.
Por fim, o CTN dispõe sobre a possibilidade (amplamente utilizada, e
que analisaremos neste curso) de atribuir à fonte pagadora da renda ou dos
proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e
recolhimento lhe caibam. Note que não se trata de tributar a fonte. Trata-se,
sim, de aproveitar a conveniência de encarregá-la de promover a arrecadação
do tributo devido pelo beneficiário do rendimento, este último o verdadeiro
contribuinte do imposto.

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3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS RELATIVOS AO FATO GERADOR DO


IMPOSTO DE RENDA
Neste item, vamos analisar com mais cuidado os elementos nucleares
utilizados pelo CTN para definir as possíveis hipóteses de incidência do IR,
conforme previsão abaixo reproduzida:
Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de
qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da
combinação de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.

De acordo com o edital do concurso, desse dispositivo a ESAF pinçou


os seguintes elementos: renda, proventos, disponibilidade econômica ou
jurídica e acréscimo patrimonial.
Isso não foi por acaso. Sobre esses conceitos existem discussões
infindáveis. Vamos, a partir deste ponto, identificar algumas controvérsias
importantes e apresentar o que se tornou pacífico, pelo menos no âmbito do
STJ.

3.1. Aquisição de disponibilidade


No contexto que aqui nos interessa, disponibilidade significa a
possibilidade de utilizar algo quando e como quiser. É a qualidade de algo do
qual se pode dispor. E só pode dispor quem for o dono ou, pelo menos, o
legítimo possuidor. O mero detentor de algo que pertence a outrem não tem
disponibilidade sobre esse algo.
Como se nota, a disponibilidade é um estado. Algo está disponível, ou
algo não está disponível. Por isso mesmo, a disponibilidade é um estado que
em algum momento se adquire. E esse momento, o da aquisição, é o momento
que interessa à tributação. Mas, esse é só o começo da história!

3.2. Disponibilidade econômica ou jurídica


A diferenciação entre disponibilidade econômica e disponibilidade
jurídica é objeto de debates há quase cinco décadas.
Não nos cabe entrar profundamente nesse debate. Mas antes de
apresentar a conceituação oferecida pela própria ESAF no curso de formação
para os então aprovados no concurso para AFRFB de 2005, vamos analisar

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uma das teses defendidas. Acredito que conhecê-la irá alargar sua
compreensão sobre o tema.
Há quem defenda que a disponibilidade jurídica significa a
possibilidade de usar algo que tenha sido obtido em consonância com o direito;
enquanto que a disponibilidade econômica decorre de fato irrelevante ao
direito. Com todo respeito que merecem os formuladores e os defensores
dessa tese, ela não é adequada para o nosso problema porque qualifica como
jurídica ou econômica a aquisição (conforme o direito ou não), e não a
disponibilidade. Em outras palavras, não estamos interessados em definir a
aquisição jurídica de disponibilidade; estamos na verdade interessados em
definir a aquisição de disponibilidade jurídica. O que é bem diferente!
Para esclarecer essa diferenciação, como disse acima, vou reproduzir
os conceitos oferecidos pela ESAF no curso de formação de AFRFB/2005:
 Aquisição de Disponibilidade Econômica – é a obtenção da
faculdade de usar, gozar e dispor de dinheiro ou de coisas nele
conversíveis, entrados para o patrimônio do adquirente por ato,
fato ou negócio jurídico. É o ter de fato (concretamente).
 Aquisição de Disponibilidade Jurídica – é a obtenção de
direitos de crédito, não sujeitos à condição suspensiva
(representados por títulos ou documentos de liquidez e certeza,
que podem ser convertidos em moeda ou equivalente). É o ter
direito/abstratamente.
Portanto, econômica é a disponibilidade plena para usar, gozar e
dispor. É o caso do recebimento em dinheiro pelas vendas realizadas. Já a
disponibilidade jurídica é a realidade representada apenas pelo crédito
disponível, livre e desembaraçado. Portanto, se o crédito estiver sujeito a
evento futuro e incerto (condição), ainda não haverá disponibilidade jurídica.
Por exemplo, alguém detém disponibilidade jurídica quando possui em seu
poder uma nota promissória (um título de crédito) assinada pelo cliente, em
razão das vendas realizadas.
Antes de encerrar este item, vamos cuidar para não confundir
disponibilidade econômica com disponibilidade financeira. Para isso, pela
clareza, recorro à seguinte lição do STJ, colhida no REsp 983.134:
Não é necessário que a renda se torne efetivamente disponível
(disponibilidade financeira) para que se considere ocorrido o fato gerador do
imposto de renda, limitando-se a lei a exigir a verificação do acréscimo
patrimonial (disponibilidade econômica).

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Para entender o sentido desse pronunciamento do STJ, vamos pensar


no seguinte exemplo. Suponha que um fabricante de esquadrias de alumínio,
em troca do fornecimento e instalação de seus produtos em todas as unidades
de um edifício recém construído, receba da construtora um dos apartamentos
como contraprestação. Temos aí um caso de aquisição de disponibilidade
econômica de renda. Agora, suponha que nessa mesma situação, ao invés de
receber um apartamento, o fabricante, pelo seu fornecimento, tenha recebido
recursos financeiros diretamente em sua conta bancária. Seria, então, caso de
aquisição de disponibilidade financeira de renda (que não deixa de ser também
econômica). Portanto, nem sempre a disponibilidade econômica significa
"dinheiro na mão".
Vamos admitir que uma pessoa aceite dinheiro (inclusive por meio de
crédito em conta bancária) em troca da força de trabalho, ou algum bem (um
equipamento de informática, por exemplo). Embora em apenas um caso haja o
"dinheiro na mão", podemos afirmar que em ambos houve aquisição de
disponibilidade econômica.
Agora, se em troca do trabalho a pessoa aceita um título de crédito
respaldado pelo ordenamento jurídico (cheque, nota promissória, etc...),
podemos afirmar que o caso é de aquisição de disponibilidade jurídica de
renda.
Mais um exemplo, para encerrar. Se eu vendo por R$ 150 mil um
terreno que me custou R$ 100 mil, o ganho de capital R$ 50 mil
corresponderia a aquisição de:
 disponibilidade econômica, se eu recebesse o valor total em
dinheiro ou por meio de uma transferência bancária;
 disponibilidade econômica, se eu recebesse parte do valor em
dinheiro (ou por meio de uma transferência bancária), e o
restante em bens (automóveis, por exemplo);
 disponibilidade jurídica, se eu recebesse o valor total em cheque.

3.3. Renda
Muito embora a CF não contenha expressamente o significado para os
elementos nucleares da incidência do IR, com frequência é defendida a
existência de um conceito constitucional de renda e proventos de qualquer
natureza.
O STF, o STJ e a doutrina em geral entendem que renda e proventos,
em seu sentido constitucional, necessariamente representam acréscimo

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patrimonial, principalmente em vista dos limites representados pelo princípio


da capacidade contributiva, de acordo com o que vimos no início desta Aula.
Esse entendimento tem orientado diversas decisões judiciais em matéria de IR,
conforme veremos no item 3.5.
Até mesmo quando analisamos o conceito de renda contido no CTN, é
possível chegar a essa conclusão. A partir de uma interpretação gramatical do
texto, não exatamente quando analisamos a própria definição de renda contida
no inciso I do art. 43, mas quando nos deparamos com a fórmula “outros
acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda”, utilizada no
inciso II para definir proventos de qualquer natureza.
Parece-me inevitável concluir que renda também tem que representar
acréscimo patrimonial, do contrário não haveria razão para afirmar que
proventos são outros acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito
de renda.
Nos termos do inciso I do art. 43 do CTN, renda é o produto do
capital, do trabalho ou da combinação de ambos. Como exemplo de renda
produto do capital, podemos relacionar rendimentos de aluguel, de aplicações
financeiras, juros recebidos, lucros e dividendos distribuídos a sócios ou
acionistas, etc. Como produto do trabalho, temos salários, honorários,
comissões, etc. Como combinação de ambos a retirada de pró labore e o
resultado da atividade econômica de um pequeno comerciante. Nota-se que
todos esses exemplos representam riqueza nova, pelo menos no momento de
sua aquisição.
Mas, no caso das pessoas físicas, com frequência verificamos a
inexistência de acréscimo patrimonial ao final do período de apuração. Basta
pensar no trabalhador assalariado que num determinado período incorre em
itens de despesa em montante maior do que o recebido a título de salário.
Ainda assim, persistirá a tributação sobre o rendimento bruto, constituído da
soma dos salários, permitidas algumas poucas deduções. Nesse caso, a renda
está sujeita à incidência do imposto ainda que seja completamente consumida
no período de apuração. Portanto, no caso das pessoas físicas parece
prevalecer a verificação de acréscimo patrimonial apenas no momento de
aquisição da renda.
Com as pessoas jurídicas é diferente. O imposto incide sobre o lucro,
acréscimo patrimonial resultante do confronto de receitas, custos e despesas.
É necessário considerar custos e despesas para evitar que o imposto incida
simplesmente sobre a receita, base de incidência de outros tributos. Mesmo no
caso do regime de tributação pelo Lucro Presumido, o imposto não incide

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diretamente sobre a receita auferida, conforme veremos em momento


oportuno.
Portanto, no caso das pessoas jurídicas, para que possa ser
considerado na apuração do resultado, o ingresso tem que representar uma
mutação patrimonial positiva no momento de sua percepção e, além disso, é
preciso aguardar a apuração realizada no final do período para verificar o
efetivo acréscimo patrimonial.
Além da existência de outras incidências tributárias sobre as pessoas
jurídicas, questões de ordem prática parecem justificar a diferença no
tratamento conferido a pessoas físicas e jurídicas. E mesmo no caso das
pessoas jurídicas, há hipóteses em que se dispensa a verificação concreta de
efetivo acréscimo patrimonial, como no caso do imposto devido por empresa
não domiciliada no País, retido na fonte no momento da remessa ao exterior.

3.4. Proventos de qualquer natureza


Proventos de qualquer natureza são acréscimos patrimoniais que não
decorrem do capital, do trabalho, e nem da combinação de ambos.
Constituem exemplos de proventos, a aposentadoria, as pensões, os
ganhos de capital verificados na alienação de bens, os acréscimos cuja origem
não é identificada ou comprovada, os prêmios de loteria e as recompensas.
Mais importante do que não decorrerem do capital, do trabalho, e
nem da combinação de ambos, a característica essencial dos proventos é a sua
natureza de acréscimo patrimonial, o que nos leva para o item final desta Aula.

3.5. Acréscimo patrimonial


A ciência contábil, entre outras coisas, especializou-se nas técnicas
destinadas à apuração e à demonstração de acréscimos patrimoniais. Para
isso, precisou definir patrimônio e os fatos que ensejam sua mutação, tais
como a realização de receitas e a execução de despesas. Em seu sentido
estritamente contábil, patrimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações
de uma pessoa, que podem ser avaliados economicamente.
Considerando que os bens e direitos constituem a parte positiva do
patrimônio, e as obrigações compõem a parte negativa, o valor do patrimônio
de uma pessoa, em determinado momento, é o resultado da soma do valor
dos bens e direitos, subtraído do valor das obrigações.
Se o valor do patrimônio de uma mesma pessoa for calculado em
momentos diferentes, a comparação entre os valores encontrados nos informa

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se, no período considerado, o patrimônio aumentou, diminuiu ou se manteve


estável. Quando o patrimônio aumenta, fala-se, por óbvio, em acréscimo
patrimonial.
Essas considerações nos ajudam a entender a incidência sobre os
acréscimos cuja origem não é identificada ou comprovada, assim expressa na
Instrução Normativa SRF nº 15, de 2001:
Art. 33. Constitui rendimento tributável na Declaração de Ajuste Anual o
valor correspondente ao acréscimo patrimonial não justificado pelos
rendimentos tributáveis, não-tributáveis, isentos, tributáveis
exclusivamente na fonte ou de tributação definitiva.

A previsão acima, fundamentada na Lei nº 7.713, de 1988, autoriza


presumir a omissão de rendimentos quando o contribuinte, considerando um
determinado período, com os rendimentos declarados não consegue justificar o
acréscimo patrimonial percebido. Trata-se do denominado “acréscimo
patrimonial a descoberto”.
Portanto, a contabilidade ajuda, e muito, a compreender e identificar
a ocorrência concreta da hipótese de incidência do IR.
Mas as principais discussões envolvendo a incidência do IR, sem
dúvida, se referem às indenizações. E nesse aspecto passam a prevalecer as
teses jurídicas.
No senso comum há uma ideia de que indenizações não são
tributáveis porque não representam acréscimo patrimonial. Ora, isso nem
sempre é verdade. Por isso mesmo, não é possível fechar os olhos e sair
repetindo aos quatro ventos que verbas indenizatórias não se submetem à
incidência do imposto de renda.
Vamos utilizar apenas dois exemplos para desmistificar essa tese. O
primeiro deles referente a indenizações de seguro, e o segundo, relativo aos
lucros cessantes.
Suponha que uma grande transportadora mantenha um determinado
caminhão em sua frota. Suponha também que, após computar por um longo
tempo os encargos de depreciação desse bem (que reduziram seu lucro
tributável!), seu valor contábil seja de R$ 50 mil. Suponha agora que esse
mesmo bem seja objeto de um sinistro, e que a seguradora pagou à
transportadora indenização no valor de R$ 70 mil, conforme estabelecido no
contrato celebrado entre as partes. Ora, não lhe parece óbvio que, mesmo se
tratando de indenização, a transportadora percebeu um acréscimo patrimonial
de R$ 20 mil. Acredite, essa situação não é incomum, e a fiscalização da

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Receita Federal tem lançado o imposto sobre a diferença entre o valor recebido
a título de indenização de seguro e o valor contábil do bem!
Vamos agora ao caso dos lucros cessantes. Imagine que um taxista
perde o automóvel utilizado na profissão em decorrência de acidente causado
por outra pessoa. Suponha que o responsável seja condenado a pagar a
reposição do bem, e também o valor que o taxista deixou de faturar por conta
de seu impedimento para o trabalho (pois faltava-lhe o taxi!). Quanto ao valor
relativo à reposição do bem, de fato não há acréscimo patrimonial. Mas a outra
parcela da indenização, denominada lucros cessantes, essa sim é tributável,
afinal, a sua finalidade é justamente repor a renda que deixou de ser auferida.
Nesse caso, embora de natureza indenizatória indiscutível, a indenização por
lucros cessantes constitui rendimento tributável (RIR/99, art. 55, inciso VI).
No julgamento do REsp 695.499, a verificação de acréscimo
patrimonial no caso da indenização por lucros cessantes foi utilizada pelo STJ
para ilustrar que não basta a natureza indenizatória para afastar a incidência
do IR:
Ademais, mesmo que caracterizada a natureza indenizatória do quantum
recebido, ainda assim incide Imposto de Renda, se der ensejo a acréscimo
patrimonial, como ocorre na hipótese de lucros cessantes.

Ainda sobre a necessidade de analisar com cuidado a real natureza da


indenização, para então concluir sobre a incidência do IR, cabe agora destacar
o entendimento estampado na seguinte súmula do STJ, aprovada em
25/08/2010 (essa a ESAF ainda não cobrou em provas para a Receita
Federal!):
Súmula STJ 463: Incide imposto de renda sobre os valores percebidos a
título de indenização por horas extraordinárias trabalhadas, ainda que
decorrentes de acordo coletivo.

Entre as decisões que serviram de paradigma para a Súmula 463,


encontra-se a que foi proferida no REsp 670.514, cuja ementa contém o
seguinte excerto:
Apesar da denominação "Indenização por Horas Trabalhadas - IHT", é a
natureza jurídica da verba que definirá a incidência tributária ou não. O fato
gerador de incidência tributária, conforme dispõe o art. 43 do CTN, sobre
renda e proventos, é tudo que tipificar acréscimo ao patrimônio material do
contribuinte, e aí estão inseridos os pagamentos efetuados por horas-extras
trabalhadas, porquanto sua natureza é remuneratória, e não indenizatória.

Vários são os aspectos relevantes no pronunciamento acima. Merece


destaque a passagem que afirma que o fato gerador de incidência tributária
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sobre renda e proventos é tudo que tipificar acréscimo ao patrimônio


material do contribuinte. Note bem a qualificação “material” do acréscimo
patrimonial que, segundo o STJ, é capaz de gerar a obrigação de pagar o IR.
A distinção entre o patrimônio material e imaterial foi determinante
para que o STJ entendesse pela não incidência do IR sobre as indenizações
decorrentes de dano moral. Havia uma divergência, mas ao que parece o STJ
firmou o entendimento de que não estão sujeitas à tributação pelo
imposto de renda as indenizações decorrentes de dano moral (REsp
963.387, REsp 1.152.764).
No REsp 963.387, o STJ decidiu que “a indenização por dano
estritamente moral não é fato gerador do Imposto de Renda, pois limita-se a
recompor o patrimônio imaterial da vítima, atingido pelo ato ilícito praticado”.
Ainda, “a negativa de incidência do Imposto de Renda não se faz por força de
isenção, mas em decorrência da ausência de riqueza nova”.
O resultado de reiteradas decisões do STJ nesse sentido encontra-se
gravado na seguinte súmula, aprovada no dia 13 de agosto de 2012:
Súmula 498/STJ - Não incide imposto de renda sobre a indenização por
danos morais.

Aqui, vale mencionar que esse mesmo entendimento foi


"incorporado" à legislação tributária pela via do rito previsto no art. 19 da Lei
nº 10.522, de 19 de julho de 20023, conforme explico a seguir.
Com base no dispositivo acima citado, e observando a jurisprudência
pacífica do STJ, a Procuradoria da Fazenda Nacional emitiu o Parecer PGFN/CRJ
nº 2123, de 2011, com o objetivo de obter do Ministro da Fazenda a
autorização para a dispensa de interposição de recursos ou o requerimento de
desistência dos já interpostos, com relação a litígios envolvendo a incidência
do IRPF sobre as verbas recebidas por pessoas físicas a título de indenização
por dano moral. Além disso, conforme consta de seu próprio texto:

3
Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002. Art. 19. Fica a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional autorizada a
não contestar, a não interpor recurso ou a desistir do que tenha sido interposto, desde que inexista outro
fundamento relevante, na hipótese de a decisão versar sobre: [...] II - matérias que, em virtude de
jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior
do Trabalho e do Tribunal Superior Eleitoral, sejam objeto de ato declaratório do Procurador-Geral da
Fazenda Nacional, aprovado pelo Ministro de Estado da Fazenda; [...] § 4º A Secretaria da Receita Federal
do Brasil não constituirá os créditos tributários relativos às matérias de que tratam os incisos II, IV e V do
caput, após manifestação da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional nos casos dos incisos IV e V do caput.
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2. Tal Parecer, em face da alteração trazida pela Lei nº 11.033, de 2004, à


Lei nº 10.522/2002, terá também o condão de dispensar a apresentação de
contestação pelos Procuradores da Fazenda Nacional, bem como de
impedir que a Secretaria da Receita Federal do Brasil constitua o
crédito tributário relativo à presente hipótese, obrigando-a a rever de
ofício os lançamentos já efetuados, nos termos do citado artigo 19 da Lei nº
10.522/2002. (destaque acrescido)

O parecer foi aprovado pelo Ministro da Fazenda e, por consequência,


pode-se dizer que o entendimento da jurisprudência foi "incorporado" à
legislação tributária.
Portanto, em vista de tudo o que foi exposto neste item, nota-se que
a denominação “indenização” é insuficiente para determinar a impossibilidade
de incidência do Imposto de Renda. Em verdade, para emitir um juízo acerca
da incidência do Imposto de Renda sobre valores recebidos a título de
indenização, é preciso investigar a real natureza da verba recebida, primeiro
perguntando se de seu recebimento resultou acréscimo patrimonial. E ainda se
houver um acréscimo material, não incidirá o Imposto de Renda se o referido
acréscimo for percebido para compensar um decréscimo no patrimônio
imaterial, conforme assentou o STJ. Se este raciocínio for incorporado pelo
concursando, haverá grandes chances de acerto numa questão de prova se,
eventualmente, não for possível se lembrar do específico caso cobrado pelo
examinador.
Ainda vamos estudar os rendimentos tributáveis da pessoa física na
Aula 06. Mas, por ora, cabe propor a seguinte síntese:
 em regra indenizações não acrescem o patrimônio, apenas o
recompõe (ex. indenização por acidente sofrido – RIR, art. 39,
inciso XVI);
 no entanto, há casos em que se verifica o acréscimo ao
patrimônio e, portanto, ocorre o fato gerador do Imposto de
Renda, mas a lei tratou de os isentar (ex. indenização de seguro
de vida em caso de morte do segurado – RIR, art. 39, inciso
XLIII);
 há o caso da indenização por dano moral, em que o acréscimo ao
patrimônio material ocorre para compensar um decréscimo no
patrimônio imaterial, e o judiciário não admite a incidência do
Imposto de Renda;

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 por fim, há alguns poucos casos em que as indenizações não


escapam do Imposto de Renda, a exemplo dos lucros cessantes e
da indenização por horas extras trabalhadas.

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4. PRINCIPAIS PONTOS DA AULA


 Somente os ingressos que representam riqueza nova podem ser
qualificados como renda ou provento, pois só assim estará atendido o
princípio da capacidade contributiva.
 A capacidade contributiva funciona como princípio balizador do
conceito de renda, que deve orientar as conclusões acerca da
verdadeira natureza dos ingressos recebidos pelas pessoas.
 A capacidade contributiva é parâmetro legítimo para identificar
contribuintes em situação desigual. Por isso mesmo, o respeito às
diferentes capacidades contributivas representa a concretização da
isonomia tributária.
 Pode-se afirmar que o critério da progressividade decorre dos
princípios da igualdade e da capacidade contributiva, na medida em
que contribuintes com maiores rendimentos sejam tributados de
modo mais gravoso do que aqueles com menores rendimentos.
 No caso do IR, pode-se afirmar que a vedação ao confisco está
relacionada com a graduação máxima a que se pode chegar com a
incidência do imposto, sem que isso signifique um avanço da
tributação para além do que revela a capacidade contributiva que
fundamenta sua cobrança.
 O entendimento do STF é no sentido de que a avaliação da existência
de confisco não deve ser feita considerando o tributo isoladamente.
 Há quem entenda o contrário, mas em geral, tem-se que a
generalidade implica a sujeição de todas as pessoas à incidência do
imposto (abrangência subjetiva), enquanto que a universalidade
impõe o alcance da tributação em relação a quaisquer espécies de
rendimentos, independentemente de sua denominação (abrangência
objetiva).
 Pacífico é o fato de que generalidade e universalidade decorrem da
isonomia. Desse modo, se não houver um motivo legítimo capaz de
justificar tratamento diferenciado, todas as pessoas devem se sujeitar
ao IR. Da mesma forma, inexistindo razão para a diferenciação, todas
as diferentes espécies de renda ou provento de qualquer natureza
devem ser alcançadas pelo imposto.
 Súmula 584/STF - Ao Imposto de Renda calculado sobre os
rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício
financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

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 O STJ já se pronunciou no sentido da “inaplicabilidade da Súmula


584/STF, construída à luz de legislação anterior ao CTN”.
 Há um precedente da própria ESAF desconsiderando a Súmula STF
584. Trata-se de questão do concurso de 2003 para Técnico da
Receita Federal.
 Renda é o produto do capital, do trabalho ou da combinação de
ambos.
 Proventos de qualquer natureza são os acréscimos patrimoniais não
compreendidos no conceito de renda.
 Em relação à receita ou ao rendimento, a incidência do imposto
independe de sua denominação, origem e forma de percepção.
 Em relação à fonte dos rendimentos, incidência do imposto independe
de sua localização, condição jurídica ou nacionalidade.
 Se não fosse pelo inciso III do art. 104 do CTN, dispositivos de lei que
extinguem ou reduzem isenções referentes a impostos sobre o
patrimônio ou a renda poderiam entrar em vigor na data de sua
publicação e, sem a proteção da anterioridade, poderiam produzir
efeitos no mesmo momento.
 O IR é exceção ao princípio da anterioridade nonagesimal, segundo o
qual é vedado cobrar tributos antes de decorridos noventa dias da
data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
 O fato gerador do IR é a aquisição da disponibilidade econômica ou
jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza.
 Em relação à receita ou ao rendimento, a incidência do imposto
independe de sua denominação, origem e forma de percepção; e
 Em relação à fonte da receita ou dos rendimentos, incidência do
imposto independe de sua localização, condição jurídica ou
nacionalidade.
 Ainda que o beneficiário não seja residente ou domiciliado no Brasil,
estará sujeito à incidência do imposto brasileiro se a fonte dos
rendimentos estiver situada no País.
 Ainda que brasileiro, se o beneficiário do rendimento não for residente
no País, e também não estiver localizada no País a fonte dos
rendimentos, não haverá incidência do IR brasileiro.

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 Portanto, para incidir o imposto de renda brasileiro, o beneficiário do


rendimento tem que ser residente ou domiciliado no País, ou, pelo
menos, a fonte dos rendimentos tem que estar situada no País.
 A incidência do IR brasileiro sobre os rendimentos auferidos no
exterior, por residentes ou domiciliados no Brasil, caracteriza a
denominada tributação em bases universais, que consagra a
extraterritorialidade da tributação.
 Os lucros auferidos por controlada ou coligada no exterior, serão
considerados disponibilizados para a controladora ou coligada no
Brasil na data do balanço no qual tiverem sido apurados.
 A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou
presumido, da renda ou dos proventos tributáveis.
 Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade adquirida de
renda ou de proventos de qualquer natureza.
 A lei pode atribuir a condição de contribuinte ao possuidor, a qualquer
título, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis.
 A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos
tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e
recolhimento lhe caibam.
 Aquisição de Disponibilidade Econômica - é a obtenção da faculdade
de usar, gozar e dispor de dinheiro ou de coisas nele conversíveis,
entrados para o patrimônio do adquirente por ato, fato ou negócio
jurídico. É o ter de fato (concretamente).
 Aquisição de Disponibilidade Jurídica – é a obtenção de direitos de
crédito, não sujeitos à condição suspensiva (representados por títulos
ou documentos de liquidez e certeza, que podem ser convertidos em
moeda ou equivalente). É o ter direito/abstratamente.
 Disponibilidade econômica x disponibilidade financeira: não é
necessário que a renda se torne efetivamente disponível
(disponibilidade financeira) para que se considere ocorrido o fato
gerador do imposto de renda, limitando-se a lei a exigir a verificação
do acréscimo patrimonial (disponibilidade econômica).
 O STF, o STJ e a doutrina em geral entendem que renda e proventos,
em seu sentido constitucional, necessariamente representam
acréscimo patrimonial.

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 Renda é o produto do capital, do trabalho ou da combinação de


ambos.
 A renda está sujeita à incidência do imposto ainda que seja
completamente consumida no período de apuração. Portanto, no caso
das pessoas físicas parece prevalecer a verificação de acréscimo
patrimonial apenas no momento de aquisição da renda.
 Com as pessoas jurídicas é diferente. O imposto incide sobre o lucro,
acréscimo patrimonial resultante do confronto de receitas, custos e
despesas.
 Proventos de qualquer natureza são acréscimos patrimoniais que
não decorrem do capital, do trabalho, e nem da combinação de
ambos.
 Acréscimo patrimonial a descoberto - A lei autoriza presumir a
omissão de rendimentos quando o contribuinte, considerando um
determinado período, com os rendimentos declarados não consegue
justificar o acréscimo patrimonial percebido.
 Mesmo que caracterizada a natureza indenizatória do quantum
recebido, ainda assim incide Imposto de Renda, se der ensejo a
acréscimo patrimonial, como ocorre na hipótese de lucros cessantes.
 Súmula STJ 463: Incide imposto de renda sobre os valores percebidos
a título de indenização por horas extraordinárias trabalhadas, ainda
que decorrentes de acordo coletivo.
 O STJ firmou o entendimento de que não estão sujeitas à tributação
pelo imposto de renda as indenizações decorrentes de dano moral.
Súmula 498/STJ - Não incide imposto de renda sobre a indenização
por danos morais.

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5. QUESTÕES PROPOSTAS

(ESAF/ Auditor-Fiscal da Receita Federal - 2002)


1. Leia o texto, preencha as lacunas e escolha, em seguida, a opção
que contém a seqüência em que foram preenchidas.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região julgou interessante questão
sobre a competência para cobrar imposto de renda descontado na
fonte sobre vencimentos de vereadores. Como você julgaria?
O imposto de renda incidente sobre rendimentos pagos a servidores
municipais, descontado na fonte, pertence ____[i]______. Caberá
_____[ii]_____ exigi-lo, faltando ____[iii]______ capacidade ativa
para fazê-lo. Quanto às parcelas do vencimento que os servidores
julgam isentas ou imunes a tributação, contra o entendimento da
Receita Federal, e por isso excluídas das respectivas declarações,
competente para exigi-las é ____[iv]______.
a) [i] à União…[ii] a ela…[iii] ao Município…[iv] a União
b) [i] à União …[ii] ao Município…[iii] à União…[iv] o Município
c) [i] ao próprio Município …[ii] a ele…[iii] à União…[iv] o Município
d) [i] ao próprio Município …[ii] a ele…[iii] à União…[iv] a União
e) [i] ao próprio Município …[ii] à União …[iii] ao Município, caso não tenha
descontado na fonte, …[iv] a União

(CESPE/UnB - Juiz Federal Substituto da 2ª Região – 2009)


2. Com relação às limitações constitucionais do poder de tributar,
assinale a opção correta.
a) A proibição constitucional da utilização de tributo com efeito de confisco
decorre de seu efeito cumulativo, ou seja, sempre que várias incidências
estabelecidas pelo mesmo ente tributante afetarem o patrimônio ou
rendimentos do contribuinte de forma não razoável. Nessa situação, sua
verificação é individual, passível apenas de controle difuso da
constitucionalidade.
b) A utilização de tributo com efeito de confisco tem como parâmetro a
incidência do novo tributo em face de sua própria carga tributária, não o total
da carga tributária a que esteja submetido o contribuinte.

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c) As multas aplicadas em face da sonegação ou do não recolhimento dos


impostos, quando superem o valor do bem, em princípio ofendem tanto o
princípio da proporcionalidade quanto o da proibição de tributos com efeito de
confisco.
d) Confisco é sanção e, para verificar se o tributo tem esse efeito, é necessário
examinar se a lei que instituiu o tributo tem como fim impor penalidade ao
contribuinte.
e) Os tributos indiretos são repassados ao consumidor final e não incidem
sobre renda ou patrimônio, sendo-lhes inaplicável o princípio constitucional da
vedação de confisco.

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2003)


3. Para atender a despesas extraordinárias decorrentes de calamidade
pública, em janeiro do ano de 200X, o Congresso Nacional aprovou
uma lei complementar que instituiu um imposto de renda adicional, à
alíquota de 5%, a ser cobrado imediatamente, incidente sobre
quaisquer rendimentos de pessoas físicas. Esse imposto, cobrado de
forma definitiva (o que significa que não é deduzido do imposto
apurado na declaração anual de rendimentos), não exclui a incidência
do imposto de renda segundo a tabela progressiva.
Considerando a situação descrita, assinale as proposições abaixo com
F para falsa ou V para verdadeira e, a seguir, indique a opção que
contém a seqüência correta.
( ) A lei em questão não atende o critério da progressividade.
( ) Dada a situação de urgência e excepcionalidade, o Congresso pode
editar uma lei nessas condições, sem observar o princípio da
anterioridade.
( ) A lei em questão está informada pelos critérios da generalidade, da
universalidade e da seletividade.
a) F, F, V
b) V, V, F
c) F, V, F
d) V, F, V
e) V, F, F

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(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2003)


4. Assinale as proposições abaixo com F para falsa ou V para
verdadeira e, a seguir, indique a opção que contém a seqüência
correta.
( ) O critério da progressividade do imposto de renda está sintonizado com a
capacidade econômica do contribuinte e observa o caráter pessoal previsto na
Constituição.
( ) O princípio constitucional da anterioridade significa que a lei tributária não
se aplica aos fatos geradores anteriores à sua publicação.
( ) Em atendimento às normas constitucionais relativas aos impostos de
competência da União, para fins de incidência do imposto de renda, devem ser
deduzidos da renda recebida todos os valores pagos, necessários à sua
percepção, atendendo-se, assim, o princípio da não-cumulatividade.
a) V, F, V
b) V, V, F
c) F, V, V
d) V, F, F
e) F, F, V

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2002)


5. Assinale as proposições abaixo com F para falsa ou V para
verdadeira e, a seguir, indique a opção que contém a seqüência
correta.
( ) O imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, de competência
da União, deve ser informado pelos critérios da progressividade e da
especialidade.
( ) É vedado à União instituir imposto sobre a renda das empresas públicas
estaduais e municipais.
( ) De acordo com o princípio da anterioridade, sobrevindo lei que aumente o
imposto de renda e preveja expressamente sua entrada em vigor para a data
de sua publicação, o imposto decorrente do aumento pode ser cobrado
imediatamente a partir da data da publicação, porém sem alcançar fatos
geradores ocorridos anteriormente.
a) V, V, F
b) F, F, F
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Teoria e Exercícios – Turma 2014.2
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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

c) V, F, F
d) V, V, V
e) F, V, V

(ESAF/ Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil - 2009)


6. Considerando a publicação de norma, em 15 de dezembro de 2009,
visando à majoração de tributo, sem disposição expressa sobre a data
de vigência, aponte a opção correta.
a) Tratando-se de imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza,
poderá ser editada lei ordinária, produzindo efeitos financeiros a partir de 1º
de janeiro de 2010.
b) Tratando-se de imposto sobre produtos industrializados, poderá ser
expedido decreto presidencial, produzindo efeitos financeiros a partir de sua
publicação.
c) Tratando-se de imposto sobre a propriedade territorial rural, poderá ser
editada medida provisória, produzindo efeitos financeiros noventa dias após a
sua publicação.
d) Tratando-se de imposto sobre importação, poderá ser expedido decreto
presidencial, produzindo efeitos financeiros noventa dias após a sua
publicação.
e) Tratando-se de contribuição social, poderá ser editada medida provisória,
produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2011, caso não
tenha sido convertida em lei no mesmo exercício financeiro em que tenha sido
publicada.

(ESAF/ Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil - 2009)


7. Entre outras limitações ao poder de tributar, que possuem os entes
políticos, temos a de cobrar tributos em relação a fatos geradores
ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado. Sobre essa limitação, analise os itens a seguir,
classificando-os como verdadeiros ou falsos. Depois, escolha a opção
que seja adequada às suas respostas:
I. a irretroatividade da lei tributária vem preservar o passado da
atribuição de novos efeitos tributários, reforçando a própria garantia
da legalidade, porquanto resulta na exigência de lei prévia,

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evidenciando-se como instrumento de otimização da segurança


jurídica ao prover uma maior certeza do direito;
II. o Supremo Tribunal Federal tem como referência, para análise da
irretroatividade, o aspecto temporal da hipótese de incidência, ou seja,
o momento apontado pela lei como sendo aquele em que se deve
considerar ocorrido o fato gerador;
III. a mesma lei que rege o fato é também a única apta a reger os
efeitos que ele desencadeia, como a sujeição passiva, extensão da
responsabilidade, base de cálculo, alíquotas, deduções, compensações
e correção monetária, por exemplo;
IV. a lei instituidora ou majoradora de tributos tem de ser, como regra,
prospectiva; admite-se, porém, a sua retroatividade imprópria.
a) Todos os itens estão corretos.
b) Estão corretos apenas os itens I, II e III.
c) Estão corretos apenas os itens I, III e IV.
d) Estão corretos apenas os itens I, II e IV.
e) Estão corretos apenas os itens I e III.

(ESAF/ Auditor do Tribunal de Contas do Estado/ PR - 2003)


8. Em relação ao imposto sobre a renda e proventos de qualquer
natureza, é incorreto afirmar que, nos termos do Código Tributário
Nacional:
a) A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do
rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da
origem e da forma de percepção.
b) Na hipótese de receitas ou rendimentos tributáveis, oriundos do exterior, é
facultado ao Poder Executivo estabelecer, mediante decreto, as condições e o
momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do
imposto.
c) A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou presumido, da
renda ou dos proventos tributáveis.
d) Contribuinte do imposto é o titular de disponibilidade econômica ou jurídica
de renda ou de proventos de qualquer natureza, sem prejuízo de a lei atribuir
essa condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou
dos proventos tributáveis.
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e) A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis a


condição de responsável pelo imposto cuja retenção e recolhimento lhe
caibam.

(ESAF/ Auditor-Fiscal da Receita Federal - 2005)


9. Para os efeitos do imposto de renda, o ___________ percebido
na alienação de bens imóveis considera-se ___________. Já a
importância paga a título de aluguel, remetida, creditada, empregada
ou entregue ao contribuinte, produzido por bens imóveis é
denominada _________. Um(a) _________, na linguagem tributária, é
o valor percebido independentemente de ser produzido pelo capital ou
o trabalho do contribuinte.
a) rendimento....rendimento de capital........ganho imobiliário....sinecura
b) rendimento....rendimento de capital.......ganho imobiliário....prebenda
c) ganho ....ganho de capital......rendimento de capital.... provento
d) ganho....ganho de capital.......rendimento de capital.... sinecura
e) provento.......rendimento imobiliário.......provento predial....provento

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2003)


10. Assinale as proposições abaixo com F para falsa ou V para
verdadeira e, a seguir, indique a opção que contém a seqüência
correta.
( ) O fato gerador do imposto sobre a renda é a aquisição, de fonte situada no
Brasil, da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de
qualquer natureza.
( ) A fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis pode ser
contribuinte do imposto sobre as importâncias que a esse título pagar, desde
que a lei assim o determine.
( ) São contribuintes do imposto de renda todas as pessoas jurídicas
domiciliadas no País, sejam quais forem seus fins, nacionalidade ou
participantes no capital.
( ) Os períodos-base de apuração do imposto de renda de pessoa jurídica são
trimestrais, sendo que, no caso de lucro real, o contribuinte pode apurar o
imposto anualmente, pagando mensalmente o imposto sobre bases estimadas.

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( ) De acordo com a legislação em vigor, são formas de tributação pelo


imposto de renda das pessoas jurídicas, a tributação pelo lucro real, a
tributação pelo lucro presumido e a tributação pelo lucro arbitrado, podendo o
contribuinte livremente optar por uma das duas primeiras, sendo a tributação
pelo lucro arbitrado privativa do fisco.
a) F, F, F, V, F
b) V, V, F, F, V
c) F, V, F, F, V
d) V, F, V, V, F
e) F, F, F, F, V

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6. COMENTÁRIOS SOBRE AS QUESTÕES PROPOSTAS

(ESAF/ Auditor-Fiscal da Receita Federal - 2002.2)


1. Leia o texto, preencha as lacunas e escolha, em seguida, a opção
que contém a seqüência em que foram preenchidas.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região julgou interessante questão
sobre a competência para cobrar imposto de renda descontado na
fonte sobre vencimentos de vereadores. Como você julgaria?
O imposto de renda incidente sobre rendimentos pagos a servidores
municipais, descontado na fonte, pertence ____[i]______. Caberá
_____[ii]_____ exigi-lo, faltando ____[iii]______ capacidade ativa
para fazê-lo. Quanto às parcelas do vencimento que os servidores
julgam isentas ou imunes a tributação, contra o entendimento da
Receita Federal, e por isso excluídas das respectivas declarações,
competente para exigi-las é ____[iv]______.
a) [i] à União…[ii] a ela…[iii] ao Município…[iv] a União
b) [i] à União …[ii] ao Município…[iii] à União…[iv] o Município
c) [i] ao próprio Município …[ii] a ele…[iii] à União…[iv] o Município
d) [i] ao próprio Município …[ii] a ele…[iii] à União…[iv] a União
e) [i] ao próprio Município …[ii] à União …[iii] ao Município, caso não tenha
descontado na fonte, …[iv] a União
Comentários:

Esta questão é antiga e trata do ponto de intersecção da competência tributária e


capacidade ativa, com a distribuição constitucional do produto da arrecadação de
impostos.

Sabemos que a Constituição Federal atribuiu à União a competência tributária relativa


ao IR, que consiste no poder de instituir o tributo, e sobre ele legislar. Trata-se de
uma competência legislativa indelegável (CTN, art. 7º).

No entanto, ainda que seja um tributo de competência da União, a CF estabeleceu que


uma parte do produto da arrecadação do imposto deve ser repartida com Estados,
Distrito Federal e Municípios (CF, art. 159).

E como forma de adiantar a distribuição desses recursos, a CF estabeleceu que


pertence a Estados, Distrito Federal e Municípios o IR incidente na fonte, sobre
rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que

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instituírem e mantiverem (CF, arts. 157, I e 158, I combinados com o § 1º do art.


159):

Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal:


I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos
de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a
qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem
e mantiverem;
[...]
Art. 158. Pertencem aos Municípios:
I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos
de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a
qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem
e mantiverem;
[...]
Art. 159. § 1º. Para efeito de cálculo da entrega a ser efetuada de acordo
com o previsto no inciso I [fundos de participação], excluir-se-á a parcela da
arrecadação do imposto de renda e proventos de qualquer natureza
pertencente aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, nos termos do
disposto nos arts. 157, I, e 158, I.

Esclarecida a circunstância que envolve a distribuição da arrecadação do IR, chegou o


momento de dizer que, ainda que o IR incidente na fonte sobre rendimentos pagos
por Estados, Distrito Federal e Municípios pertença aos referidos entes, a União
mantém a capacidade tributária ativa em relação ao imposto. Ou seja, a União
mantém a atribuição das funções de arrecadar e fiscalizar o IR, mesmo que parte do
produto da arrecadação pertença a Estados, Distrito Federal e Municípios.

É muito importante que fique claro o seguinte: Estados, Distrito Federal e Municípios
não têm capacidade tributária ativa em relação ao IR. No caso do imposto
incidente sobre os pagamentos que efetuam, Estados, Distrito Federal e Municípios
atuam apenas como fonte pagadora responsável pela retenção do imposto (como
ocorre com uma empresa qualquer). A diferença é que, nesse caso específico, o
dinheiro fica com Estados, Distrito Federal e Municípios, como antecipação do que eles
recebem a título de FPE e FPM. E não tenha qualquer dúvida de que a União não
delega capacidade tributária ativa às fontes pagadoras!

Na verdade esta questão está aqui para manter em você bem vivos esses conceitos. A
propósito, sobre esse tema o Secretário da Receita Federal do Brasil editou o Parecer
Normativo RFB nº 2, de 2012. O tema foi “ressuscitado” por conta da edição de atos
de estados e municípios determinando a obrigação de seus órgãos efetuarem a
retenção do IR na fonte em casos não previstos por lei federal. Eu escrevi um artigo

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sobre esse assunto na parte aberta do site e, se o tema chamou a atenção do


Secretário, será que não pode chamar novamente a atenção da ESAF? Na dúvida, se
houver tempo, não deixe de ler o Parecer Normativo RFB nº 2, de 20124.

Feitos os devidos esclarecimentos, com as lacunas corretamente preenchidas, a


questão fica assim resolvida:
O imposto de renda incidente sobre rendimentos pagos a servidores
municipais, descontado na fonte, pertence ao próprio Município. Caberá à
União exigi-lo, faltando ao Município, caso não tenha descontado na
fonte, capacidade ativa para fazê-lo. Quanto às parcelas do vencimento
que os servidores julgam isentas ou imunes a tributação, contra o
entendimento da Receita Federal, e por isso excluídas das respectivas
declarações, competente para exigi-las é a União.
Portanto, a alternativa E é a resposta da questão.

(CESPE/UnB - Juiz Federal Substituto da 2ª Região – 2009)


2. Com relação às limitações constitucionais do poder de tributar,
assinale a opção correta.
a) A proibição constitucional da utilização de tributo com efeito de confisco
decorre de seu efeito cumulativo, ou seja, sempre que várias incidências
estabelecidas pelo mesmo ente tributante afetarem o patrimônio ou
rendimentos do contribuinte de forma não razoável. Nessa situação, sua
verificação é individual, passível apenas de controle difuso da
constitucionalidade.
b) A utilização de tributo com efeito de confisco tem como parâmetro a
incidência do novo tributo em face de sua própria carga tributária, não o total
da carga tributária a que esteja submetido o contribuinte.
c) As multas aplicadas em face da sonegação ou do não recolhimento dos
impostos, quando superem o valor do bem, em princípio ofendem tanto o
princípio da proporcionalidade quanto o da proibição de tributos com efeito de
confisco.
d) Confisco é sanção e, para verificar se o tributo tem esse efeito, é necessário
examinar se a lei que instituiu o tributo tem como fim impor penalidade ao
contribuinte.

4
http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/PareceresNormativos/2012/parecer022012.htm

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e) Os tributos indiretos são repassados ao consumidor final e não incidem


sobre renda ou patrimônio, sendo-lhes inaplicável o princípio constitucional da
vedação de confisco.
Comentários:
Embora do CESPE, trata-se de uma questão recente, interessante, de múltipla escolha
e de um concurso para juiz federal. Razões de sobra para trazê-la para nossa Aula,
não acha?
Alternativa A: incorreta. Embora seja correto afirmar que “a proibição constitucional
da utilização de tributo com efeito de confisco decorre de seu efeito cumulativo, ou
seja, sempre que várias incidências estabelecidas pelo mesmo ente tributante
afetarem o patrimônio ou rendimentos do contribuinte de forma não razoável”
(entendimento do STF, exarado na ADC nº 8), daria para descartar essa alternativa
de plano, porque ela indevidamente afasta o controle concentrado de
constitucionalidade.
Alternativa B: incorreta. Segundo o entendimento do STF (ADC nº 8) a avaliação da
existência de confisco deve sim ser feita considerando o efeito das múltiplas
incidências a que se encontra submetido o patrimônio ou a renda do contribuinte:
“A identificação do efeito confiscatório deve ser feita em função da
totalidade da carga tributária, mediante verificação da capacidade de que
dispõe o contribuinte - considerado o montante de sua riqueza (renda e
capital) - para suportar e sofrer a incidência de todos os tributos que ele
deverá pagar, dentro de determinado período, à mesma pessoa política que
os houver instituído (a União Federal, no caso), condicionando-se, ainda, a
aferição do grau de insuportabilidade econômico-financeira, à observância,
pelo legislador, de padrões de razoabilidade destinados a neutralizar
excessos de ordem fiscal eventualmente praticados pelo Poder Público.
Resulta configurado o caráter confiscatório de determinado tributo,
sempre que o efeito cumulativo - resultante das múltiplas
incidências tributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal -
afetar, substancialmente, de maneira irrazoável, o patrimônio e/ou
os rendimentos do contribuinte. - O Poder Público, especialmente em
sede de tributação (as contribuições de seguridade social revestem-se de
caráter tributário), não pode agir imoderadamente, pois a atividade estatal
acha-se essencialmente condicionada pelo princípio da razoabilidade.”
Alternativa C: correta, resposta da questão. Revela o entendimento do STF na ADI
551:
“A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e sua conseqüência
jurídica, a multa, evidencia o caráter confiscatório desta, atentando
contra o patrimônio do contribuinte, em contrariedade ao mencionado
dispositivo do texto constitucional federal.”

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Portanto, muito embora o constituinte tenha sido expresso em relação à vedação do


efeito confiscatório de tributos, o STF entendeu que também as multas tributárias,
pela sua excessividade, podem produzir o efeito vedado pelo constituinte. O que,
convenhamos, é bastante razoável, pois ambos os casos (tributo e multa) constituem
obrigação de dar dinheiro!
Alternativa D: incorreta. Sabemos que confisco é a apropriação de propriedade
particular pelo Estado sem a contrapartida indenização.
Embora em sua origem confisco realmente representasse uma sanção (punição), em
relação aos tributos, é incorreto afirmar que o efeito confiscatório estará presente se a
lei que instituiu o tributo tem como fim impor penalidade ao contribuinte.
Na verdade, como o tributo é prestação que não constitui sanção de ato ilícito (CTN,
art. 3º), o efeito confiscatório vedado pelo constituinte se dá pela via da incidência
excessiva, e não decorrente da intenção de punir ato ilícito.
Alternativa E: incorreta. A alternativa afirma que os tributos indiretos são repassados
ao consumidor final. Até aqui, não há problema. Em relação a tributos indiretos, como
o ICMS, o contribuinte de fato (que efetivamente suporta o encargo financeiro do
tributo) e o contribuinte de direito (que tem a obrigação legal de recolher o tributo)
são pessoas diferentes.
O erro está em afirmar que aos tributos indiretos é inaplicável o princípio
constitucional da vedação de confisco. É verdade que os tributos indiretos (como o
IPI) podem ter alíquotas bem elevadas, sob o fundamento de desestimular o consumo
de certos produtos (função extrafiscal), sem que isso represente confisco. Mas,
notadamente quando ausente o fundamento extrafiscal, verificada a excessividade da
tributação, mesmo os tributos indiretos podem configurar confisco.

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2003)


3. Para atender a despesas extraordinárias decorrentes de calamidade
pública, em janeiro do ano de 200X, o Congresso Nacional aprovou
uma lei complementar que instituiu um imposto de renda adicional, à
alíquota de 5%, a ser cobrado imediatamente, incidente sobre
quaisquer rendimentos de pessoas físicas. Esse imposto, cobrado de
forma definitiva (o que significa que não é deduzido do imposto
apurado na declaração anual de rendimentos), não exclui a incidência
do imposto de renda segundo a tabela progressiva.
Considerando a situação descrita, assinale as proposições abaixo com
F para falsa ou V para verdadeira e, a seguir, indique a opção que
contém a seqüência correta.
( ) A lei em questão não atende o critério da progressividade.

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( ) Dada a situação de urgência e excepcionalidade, o Congresso pode


editar uma lei nessas condições, sem observar o princípio da
anterioridade.
( ) A lei em questão está informada pelos critérios da generalidade, da
universalidade e da seletividade.
a) F, F, V
b) V, V, F
c) F, V, F
d) V, F, V
e) V, F, F
Comentários:
Primeira assertiva: verdadeira. Como se infere do enunciado, lei instituiu um
imposto de renda adicional, à alíquota de 5%, sobre quaisquer rendimentos de
pessoas físicas.
A assertiva afirma que a lei em questão não atende o critério da progressividade.
Sabemos que a progressividade (fiscal) consiste na incidência tributária mais elevada
quanto maior for a base de cálculo do tributo. Em outras palavras, no caso do IR, a
progressividade se materializa com a incidência de alíquotas maiores sobre as maiores
rendas.
Portanto, está correto afirmar que a lei em questão não atende o critério da
progressividade. Esse novo tributo, dimensionado por uma alíquota única de 5%,
certamente não é progressivo, pois todas as bases de cálculo (independentemente do
valor) sofrem a incidência na mesma proporção.
Segunda assertiva: falsa (segundo o gabarito oficial). No enunciado, a questão
deixa claro que o novo tributo foi instituído por lei complementar para atender a
despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública.
Por sua vez, a assertiva afirma que, dada a situação de urgência e excepcionalidade, o
Congresso pode editar uma lei nessas condições, sem observar o princípio da
anterioridade.
Para considerar falsa a assertiva, é preciso aceitar que era devida a observância ao
princípio da anterioridade. Para chegar a essa conclusão, o examinador
necessariamente afastou a hipótese de se tratar de um empréstimo compulsório (CF,
art. 148), apesar das várias “cascas de banana” que espalhou pelo caminho.
Parece mesmo que o examinador entendeu que se trata de um aumento de alíquota
do IR que, no caso do IR, tem que observar a anterioridade do exercício financeiro.
Agora minha opinião: acho que outra resposta era possível. Apesar de não mencionar
o resgate do dinheiro e a vinculação da arrecadação, por que não poderia ser
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empréstimo compulsório? Por conta da mencionada definitividade? Mas o próprio


examinador explicou que ela diz respeito à tributação segregada dos demais
rendimentos (veremos adiante o que isso significa no âmbito do IRPF), e não à
impossibilidade de resgatar o dinheiro. Então é por causa do nome dado ao tributo?
Ora, sabemos que isso não pode determinar a natureza do tributo (CTN, art. 4º),
mesmo no caso de um empréstimo compulsório. E presentes a finalidade e a
circunstância autorizadora (“para atender a despesas extraordinárias decorrentes de
calamidade pública”), além da instituição por lei complementar, entendo que não
estaria errado pensar no empréstimo compulsório. Mas, em se tratando de uma prova
de legislação do IR, talvez o melhor mesmo seria deixar de lado a ideia de ser um
empréstimo compulsório. De toda sorte, é uma questão mal elaborada!
Terceira assertiva: falsa. A assertiva afirma que a lei em questão está informada
pelos critérios da generalidade, da universalidade e da seletividade. Como a lei
estabelece que o imposto incide sobre “quaisquer rendimentos de pessoas físicas”, de
fato pode-se dizer que estão atendidos os critérios da generalidade (abrangência
subjetiva) e da universalidade (abrangência objetiva). No entanto, considerando, em
linhas gerais, que a seletividade orienta a tributação de forma menos acentuada sobre
produtos essenciais, e de forma mais acentuada sobre produtos supérfluos, não há
nada que revele a seletividade desse tributo.
Considerando a sequência obtida (V, F, F), a alternativa E é a resposta da questão.

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2003)


4. Assinale as proposições abaixo com F para falsa ou V para
verdadeira e, a seguir, indique a opção que contém a seqüência
correta.
( ) O critério da progressividade do imposto de renda está sintonizado com a
capacidade econômica do contribuinte e observa o caráter pessoal previsto na
Constituição.
( ) O princípio constitucional da anterioridade significa que a lei tributária não
se aplica aos fatos geradores anteriores à sua publicação.
( ) Em atendimento às normas constitucionais relativas aos impostos de
competência da União, para fins de incidência do imposto de renda, devem ser
deduzidos da renda recebida todos os valores pagos, necessários à sua
percepção, atendendo-se, assim, o princípio da não-cumulatividade.
a) V, F, V
b) V, V, F
c) F, V, V
d) V, F, F

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e) F, F, V
Comentários:
Primeira assertiva: verdadeira. De fato, o critério da progressividade do imposto
de renda está sintonizado com a capacidade econômica do contribuinte e observa o
caráter pessoal previsto na Constituição.
Em matéria de IR, a capacidade contributiva é o parâmetro mais legítimo para
identificar contribuintes em situação desigual. Por isso mesmo, o respeito às
diferentes capacidades contributivas representa a concretização da isonomia
tributária. E uma vez identificada a situação desigual (determinada pela desigual
capacidade contributiva), a progressividade das alíquotas é uma forma de
implementar o tratamento tributário diferenciado que confere efetividade à isonomia.
Segunda assertiva: falsa. A assertiva claramente misturou anterioridade com
irretroatividade.
O princípio constitucional da irretroatividade estabelece que a lei tributária que
aumenta ou institui tributo não pode alcançar fatos anteriores à data de início de sua
vigência.
O princípio constitucional da anterioridade veda que a lei tributária que aumenta ou
institui tributo produza efeitos no mesmo exercício financeiro em que ocorrer sua
publicação.
Terceira assertiva: falsa. A assertiva está errada porque o princípio da não-
cumulatividade não se aplica ao IR.
O princípio da não-cumulatividade tem a finalidade de impedir o efeito cascata dos
tributos que incidem nas várias etapas de uma cadeia de produção e distribuição.
Segundo esse princípio, a cada nova incidência deve ser descontado o montante
cobrado nas etapas anteriores. Sabemos que a CF estabelece a obrigatoriedade de o
IPI e o ICMS serem não-cumulativos.
Na verdade, para fins de determinação da base de cálculo do IR, ao estabelecer a
dedução de alguns valores pagos necessários à percepção da renda (como o aluguel
da sala em que um dentista atende os pacientes), a lei observa a capacidade
contributiva.
Considerando a sequência obtida (V, F, F), a alternativa D é a resposta da questão.

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2002.2)


5. Assinale as proposições abaixo com F para falsa ou V para
verdadeira e, a seguir, indique a opção que contém a seqüência
correta.

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( ) O imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, de competência


da União, deve ser informado pelos critérios da progressividade e da
especialidade.
( ) É vedado à União instituir imposto sobre a renda das empresas públicas
estaduais e municipais.
( ) De acordo com o princípio da anterioridade, sobrevindo lei que aumente o
imposto de renda e preveja expressamente sua entrada em vigor para a data
de sua publicação, o imposto decorrente do aumento pode ser cobrado
imediatamente a partir da data da publicação, porém sem alcançar fatos
geradores ocorridos anteriormente.
a) V, V, F
b) F, F, F
c) V, F, F
d) V, V, V
e) F, V, V
Comentários:
Primeira assertiva: falsa. Nos termos do inciso I do § 2º do art. 153 da CF, o IR
deve ser informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da
progressividade. Como se nota, não há qualquer referência a especialidade
Segunda assertiva: falsa. Em regra, empresas públicas não são alcançadas pela
imunidade recíproca prevista no inciso VI do art. 150 da CF. De acordo com a CF,
além de União, Estados, DF e Municípios, a imunidade recíproca alcança apenas
autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, e somente no que
se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades
essenciais ou às delas decorrentes.
No entanto, sabemos que o STF vem alargando o alcance dessa imunidade. Com base
na distinção entre empresas públicas prestadoras de serviço público e as que exercem
atividade econômica, já faz tempo que o Tribunal entende ser aplicável a imunidade
recíproca às que se dedicam a serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do
Estado (RE 407.099 - Julgamento: 22/06/2004).
Nota-se que a questão foi extraída de prova aplicada em 2002. Mas, ainda que fosse
hoje essa prova, não seria o caso de aplicar o entendimento do STF, afinal, na
assertiva não foi especificada a natureza da atividade da empresa pública, se
prestação de serviço ou exploração de atividade econômica. Portanto, nesse caso,
ficaríamos restritos ao texto constitucional.
Terceira assertiva: falsa. Novamente a velha inversão entre anterioridade e
irretroatividade.

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LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA PARA AFRFB
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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

De acordo com o princípio da irretroatividade (e não da anterioridade), sobrevindo lei


que aumente o imposto de renda e preveja expressamente sua entrada em vigor para
a data de sua publicação, o imposto decorrente do aumento pode ser cobrado
imediatamente a partir da data da publicação, porém sem alcançar fatos geradores
ocorridos anteriormente.
Também é preciso ressaltar que, de acordo com o princípio da anterioridade, lei
que aumente o imposto de renda não pode produzir efeitos no mesmo exercício
financeiro de sua publicação.
Considerando a sequência obtida (F, F, F), a alternativa B é a resposta da questão.

(ESAF/ Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil - 2009)


6. Considerando a publicação de norma, em 15 de dezembro de 2009,
visando à majoração de tributo, sem disposição expressa sobre a data
de vigência, aponte a opção correta.
a) Tratando-se de imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza,
poderá ser editada lei ordinária, produzindo efeitos financeiros a partir de 1º
de janeiro de 2010.
b) Tratando-se de imposto sobre produtos industrializados, poderá ser
expedido decreto presidencial, produzindo efeitos financeiros a partir de sua
publicação.
c) Tratando-se de imposto sobre a propriedade territorial rural, poderá ser
editada medida provisória, produzindo efeitos financeiros noventa dias após a
sua publicação.
d) Tratando-se de imposto sobre importação, poderá ser expedido decreto
presidencial, produzindo efeitos financeiros noventa dias após a sua
publicação.
e) Tratando-se de contribuição social, poderá ser editada medida provisória,
produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2011, caso não
tenha sido convertida em lei no mesmo exercício financeiro em que tenha sido
publicada.
Comentários:
Alternativa A: correta. Gabarito da questão. Não havendo disposição expressa
sobre a vigência da lei, tratando-se de majoração de imposto sobre a renda em 15 de
dezembro de 2009, a ESAF considerou que o início da vigência é fixado pela norma
específica do CTN (art. 104, I) no primeiro dia do exercício seguinte ao da publicação:

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AULA DEMO – IMPOSTO DE RENDA: CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em


que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos
sobre o patrimônio ou a renda:
I - que instituem ou majoram tais impostos;
[...]
Não deixa de ser um entendimento bastante questionável. É fato que a norma
prevista no inciso I do art. 104 do CTN se presta, na sua origem, a ser uma proteção
ao contribuinte contra a aplicação imediata de uma incidência mais severa de
impostos sobre o patrimônio ou a renda. Só que, no caso da presente alternativa,
quando comparado ao resultado da aplicação da regra contida no art. 1º da Lei de
Introdução ao Código Civil Brasileiro5 (45 dias da data da publicação), o dispositivo do
CTN produz um resultado pior para o contribuinte. Por isso, embora específica, a
norma prevista no inciso I do art. 104 do CTN teve sua aplicação completamente
desvirtuada nesse exemplo criado pela ESAF.
De qualquer forma, críticas à parte, essa questão é importante porque revela o
entendimento da banca, segundo o qual temos que nos guiar!
Para concluir a análise da alternativa, como o IR constitui exceção à anterioridade
nonagesimal (CF, art. 150, § 1º), a lei que majora o imposto em 15 de dezembro de
2009, já poderia produzir efeitos a partir de 1º de janeiro de 2010.
Alternativa B: incorreta. A alternativa afirma que, tratando-se de IPI, poderia ser
expedido decreto presidencial majorando o imposto em 15 de dezembro de 2009,
produzindo efeitos financeiros a partir de sua publicação.
De fato, para majorar o IPI poderia ser editado um decreto, afinal, trata-se de uma
das exceções ao princípio da legalidade (CF, art. 153, § 1º). No entanto, sua aplicação
não poderia ser imediata porque o IPI não constitui exceção à anterioridade
nonagesimal. Segundo entendimento do STF, mesmo o decreto que aumenta
alíquotas do IPI tem que respeitar a noventena (STF, ADI 4661):
TRIBUTO – IPI – ALÍQUOTA – MAJORAÇÃO – EXIGIBILIDADE. A majoração
da alíquota do IPI, passível de ocorrer mediante ato do Poder Executivo –
artigo 153, § 1º –, submete-se ao princípio da anterioridade nonagesimal
previsto no artigo 150, inciso III, alínea “c”, da Constituição Federal.
Alternativa C: incorreta. Primeiramente, devemos notar quer a alternativa faz
referência à majoração de ITR, por meio de medida provisória sem disposição
expressa sobre a data de início de vigência. Nesse caso, como se trata de um imposto
sobre o patrimônio, o candidato deveria considerar que o primeiro dia de 2010 é a
data de início da vigência da norma, de acordo com o que afirmamos nos comentários
à alternativa A, quando nos referimos ao art. 104 do CTN.

5
Nova denominação da Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro (LICC) - Decreto-lei nº
4.657, de 4 de setembro de 1942.
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E como se trata de majoração do ITR, há que se observar o princípio da anterioridade


do exercício financeiro, e também o princípio da anterioridade nonagesimal.
Quanto à anterioridade nonagesimal, não há grande dificuldade. De fato,
considerando apenas esse princípio, tratando-se de majoração de ITR, poderia ser
editada medida provisória produzindo efeitos financeiros noventa dias após a sua
publicação, exatamente como o examinador afirmou na alternativa, o que poderia
levar muita gente a assinalar C como resposta.
No entanto, o candidato deveria prestar atenção ao princípio da anterioridade do
exercício financeiro e, especialmente, lembrar do que dispõe o § 2º do art. 62 da CF:
Art. 62, § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de
impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só
produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida
em lei até o último dia daquele em que foi editada.
Se a alternativa trouxesse uma lei (e não uma medida provisória) majorando o ITR
em 15 de dezembro de 2009, a majoração poderia produzir efeitos depois de
decorridos 90 dias de sua publicação, pois estariam atendidos todos os princípios
aplicáveis ao caso. No entanto, como se trata de medida provisória, muito embora
depois de decorridos noventa dias da data de sua publicação já estivessem atendidos
os princípios da irretroatividade e da anterioridade nonagesimal, nesse momento, sob
influência do que dispõe o § 2º do art. 62 da CF, somente estaria atendido o princípio
da anterioridade do exercício financeiro se a medida provisória fosse convertida em lei
no próprio ano de 2009.
Como a alternativa nada diz a respeito da conversão em lei, não é possível afirmar
que medida provisória majoradora do ITR, publicada em 15 de dezembro de 2009,
poderia produzir efeitos noventa dias após a sua publicação.
Alternativa D: incorreta. A alternativa afirma que, tratando-se de imposto sobre
importação, poderia ser expedido decreto presidencial, produzindo efeitos financeiros
noventa dias após a sua publicação.
De fato, sendo o imposto de importação uma das exceções ao princípio da legalidade
(CF, art. 153, § 1º), poderia ser editado um decreto para promover sua majoração.
No entanto, a aplicação do decreto poderia ser imediata, porque o imposto de
importação é exceção à anterioridade nonagesimal (CF, art. 150, § 1º).
Alternativa E: incorreta. A alternativa afirma que, tratando-se de majoração de
contribuição social, poderia ser editada medida provisória em 15 de dezembro de
2009, produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 2011, caso não tenha
sido convertida em lei no mesmo exercício financeiro em que tenha sido publicada.
Isso não é verdade porque o disposto no § 2º do art. 62 da CF (que vincula a
produção de efeitos num ano à conversão da MP em lei no ano anterior – veja
comentário à alternativa C) não se aplica às contribuições sociais.

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(ESAF/ Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil - 2009)


7. Entre outras limitações ao poder de tributar, que possuem os entes
políticos, temos a de cobrar tributos em relação a fatos geradores
ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado. Sobre essa limitação, analise os itens a seguir,
classificando-os como verdadeiros ou falsos. Depois, escolha a opção
que seja adequada às suas respostas:
I. a irretroatividade da lei tributária vem preservar o passado da
atribuição de novos efeitos tributários, reforçando a própria garantia
da legalidade, porquanto resulta na exigência de lei prévia,
evidenciando-se como instrumento de otimização da segurança
jurídica ao prover uma maior certeza do direito;
II. o Supremo Tribunal Federal tem como referência, para análise da
irretroatividade, o aspecto temporal da hipótese de incidência, ou seja,
o momento apontado pela lei como sendo aquele em que se deve
considerar ocorrido o fato gerador;
III. a mesma lei que rege o fato é também a única apta a reger os
efeitos que ele desencadeia, como a sujeição passiva, extensão da
responsabilidade, base de cálculo, alíquotas, deduções, compensações
e correção monetária, por exemplo;
IV. a lei instituidora ou majoradora de tributos tem de ser, como regra,
prospectiva; admite-se, porém, a sua retroatividade imprópria.
a) Todos os itens estão corretos.
b) Estão corretos apenas os itens I, II e III.
c) Estão corretos apenas os itens I, III e IV.
d) Estão corretos apenas os itens I, II e IV.
e) Estão corretos apenas os itens I e III.
Comentários:
Primeira assertiva: correta. De fato, a irretroatividade da lei tributária preserva
fatos passados, funcionando como garantia da legalidade, e instrumento de
otimização da segurança jurídica.
Segunda assertiva: correta. É verdade. Para análise do respeito ou violação da
irretroatividade tributária, o STF adota como referência o momento apontado pela lei
como sendo aquele em que se deve considerar ocorrido o fato gerador. Esse
entendimento ficou evidenciado quando da apreciação de casos envolvendo o IR. Em

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relação ao referido imposto, tem-se o que normalmente se denomina fato gerador


periódico composto, ou simplesmente fato gerador complexivo.
Para simplificar a compreensão do problema, vamos considerar a situação retratada
na figura abaixo, na qual o início da vigência da lei nova coincide com a data de sua
publicação:

Lei antiga: Lei nova:


alíquota 20% alíquota 30%
FG
Rendimentos

período-base

Na figura acima, ainda que o contribuinte seja beneficiário de diversos rendimentos ao


longo do período-base, considera-se ocorrido o fato gerador somente ao final deste
período.
E ao analisar questionamentos contrários à aplicação imediata de dispositivos de lei
que majoram o IR, o STF, por diversas vezes, manifestou seu entendimento no
sentido de que a irretroatividade não é afrontada pela aplicação da lei nova (na figura,
com alíquota de 30%) quando a data de início da vigência da lei é anterior à data de
ocorrência do fato gerador, conforme definida em lei.
Terceira assertiva: correta. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato
gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente (CTN, art. 144). Como todos os
aspectos listados pela assertiva são materiais (se referem a elementos da própria
obrigação tributária), a lei que rege o fato gerador é a que fixa (determina, congela no
tempo) esses elementos. Ao contrário da lei formal (processual), que se aplica ao
lançamento, e não se reporta à data de ocorrência do fato gerador (CTN, art. 144, §
1º).

Sobre a atualização do valor monetário da base de cálculo, é preciso fazer algumas


observações. Sabemos que a atualização monetária não constitui majoração de
tributo (CTN, art. 97, § 2º) e, portanto, não há que se falar em legalidade e
anterioridade quando ela (a correção) se opera. No entanto, a possibilidade de
correção monetária tem que ser estabelecida em lei (veja nesse sentido o REsp
389.403). Admite-se que o indexador seja definido por ato infralegal, desde que haja
autorização da lei (RE 195.218).

Quarta assertiva: falsa. Vamos reproduzir a assertiva: “a lei instituidora ou


majoradora de tributos tem de ser, como regra, prospectiva; admite-se, porém, a sua
retroatividade imprópria”.

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É uma assertiva polêmica. Da forma como foi redigida, dá a entender que o princípio
da irretroatividade da lei instituidora ou majoradora de tributos comportaria alguma
exceção, o que é definitivamente incorreto.

Antes que alguém pretenda fazer referência ao art. 106 do CTN (que cuida da
retroatividade da lei meramente interpretativa, e da lei mais benéfica ao infrator), é
preciso reconhecer que o examinador blindou muito bem a questão ao se referir à lei
instituidora ou majoradora de tributos.

Até este ponto, poderíamos assinalar a assertiva como incorreta e partir para a
próxima questão. No entanto, o grande problema foi a referência à retroatividade
imprópria.

Como o próprio nome indica, retroatividade imprópria não é a retroatividade no


sentido jurídico do termo. É a retroatividade econômica. Por isso mesmo, não dá pra
dizer que ela representa uma exceção à irretroatividade da lei instituidora ou
majoradora de tributos.

Acompanhe na figura que foi utilizada no comentário da segunda assertiva. Dissemos


que, como o FG ocorre após o início da vigência da lei nova, a irretroatividade não era
afrontada. Mas, veja os rendimentos auferidos antes da publicação da lei nova. Ainda
que isoladamente não constituam fato gerador, são sim anteriores à lei nova. Por isso
a retroatividade imprópria: em relação ao fato gerador do IR a lei nova não é
retroativa (daí dizer que o princípio da irretroatividade não é afrontado nesse caso);
mas em relação aos rendimentos auferidos antes da publicação da lei nova, ela não
deixa de ser retroativa! Tudo é uma questão do referencial adotado. Para aferir a
eventual violação ao princípio, utilizamos o fato gerador, e não os rendimentos
isoladamente considerados.

Agora o mais importante, quando a ESAF não admite a retroatividade imprópria,


parece-me, mais uma vez, que ela está afastando a aplicação da malfadada Súmula
STF 584.
Considerando a sequência obtida (correta, correta, correta, incorreta), a alternativa B
é a resposta da questão.

(ESAF/ Auditor do Tribunal de Contas do Estado/ PR - 2003)


8. Em relação ao imposto sobre a renda e proventos de qualquer
natureza, é incorreto afirmar que, nos termos do Código Tributário
Nacional:
a) A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do
rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da
origem e da forma de percepção.

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b) Na hipótese de receitas ou rendimentos tributáveis, oriundos do exterior, é


facultado ao Poder Executivo estabelecer, mediante decreto, as condições e o
momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do
imposto.
c) A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou presumido, da
renda ou dos proventos tributáveis.
d) Contribuinte do imposto é o titular de disponibilidade econômica ou jurídica
de renda ou de proventos de qualquer natureza, sem prejuízo de a lei atribuir
essa condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou
dos proventos tributáveis.
e) A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis a
condição de responsável pelo imposto cuja retenção e recolhimento lhe
caibam.
Comentários:
Alternativa A: correta. Reprodução literal do § 1º do art. 43 do CTN. Segundo o
referido dispositivo, a incidência do imposto independe da denominação da receita ou
do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem
e da forma de percepção.
Em resumo, o § 1º dispõe sobre a abrangência objetiva da hipótese de incidência do
IR. Nesse sentido:
 em relação à receita ou ao rendimento, a incidência do imposto
independe de sua denominação, origem e forma de percepção; e
 em relação à fonte da receita ou dos rendimentos, incidência do imposto
independe de sua localização, condição jurídica ou nacionalidade.
Desse modo, se houver a aquisição de disponibilidade de renda ou provento de
qualquer natureza, a incidência do imposto independe da denominação que seja
atribuída ao rendimento. A tributação também é indiferente à origem (lícita ou ilícita)
e à forma de percepção (pecúnia, in natura, etc.) da receita ou rendimento.
A incidência do IR também independe da condição jurídica da fonte dos rendimentos.
Ou seja, para fins de incidência do imposto, é indiferente o fato de a fonte pagadora
estar ou não regularmente constituída na forma de pessoa jurídica, de ser pessoa
física, de ser pessoa civilmente capaz ou incapaz, de nem mesmo ser pessoa (espólio,
massa falida, etc.), entre outras possibilidades.
Também são indiferentes a nacionalidade e a localização da fonte da receita ou dos
rendimentos. Desse modo, se o beneficiário dos rendimentos for residente ou
domiciliado no País, estará sujeito à incidência do imposto brasileiro, ainda que:
 não seja brasileira a fonte dos rendimentos localizada no Brasil – é o caso da
tributação dos rendimentos auferidos por residentes no País em decorrência

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de serviços prestados a embaixadas de países estrangeiros no Brasil


(RIR/99, art. 106, III)6;
 a fonte dos rendimentos não esteja localizada no Brasil – é o caso da
tributação de rendimentos auferidos por pessoa residente no Brasil,
produzidos por bem de sua propriedade localizado no exterior (RIR/99, arts.
2º e 38); e dos lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no
exterior auferidos por pessoa jurídica domiciliada no Brasil (RIR/99, art.
394).
Alternativa B: incorreta. Gabarito da questão. Nos termos do § 2º do art. 43
CTN, na hipótese de receitas ou rendimentos tributáveis, oriundos do exterior, cabe à
lei (e não ao Poder Executivo) estabelecer as condições e o momento em que se dará
sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto.
Para evitar a necessidade de “decorar”, basta pensar que o dispositivo cuida, em
verdade, da fixação do momento de ocorrência do fato gerador, matéria afeta a sua
própria definição e, portanto, reservada à lei.
Alternativa C: correta. De acordo com o art. 44 do CTN, a base de cálculo do IR é o
montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos tributáveis.
Alternativa D: correta. Nos termos do art. 45 do CTN, o contribuinte do IR é o
titular de disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer
natureza, sem prejuízo de a lei atribuir essa condição ao possuidor, a qualquer título,
dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis.
Com a parte final desse dispositivo, para fins de atribuir a condição de sujeito passivo
do IR, o legislador do Código pretendeu tornar indiferente a natureza do vínculo entre
a pessoa e o bem produtor da renda. Em outras palavras, a pessoa não precisa ser a
proprietária do bem para se revestir da condição de contribuinte em relação à renda
por ele produzida.
Alternativa E: correta. Trata-se de mera reprodução do parágrafo único do art. 45
do CTN. Segundo esse dispositivo, a lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou
dos proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e
recolhimento lhe caibam. É o dispositivo que autoriza a amplamente utilizada
atribuição de responsabilidade pela retenção e recolhimento do imposto, à fonte
pagadora da renda ou dos proventos tributáveis. Note que não se trata de tributar a
fonte. Trata-se, sim, de aproveitar a conveniência de encarregá-la de promover a
arrecadação do tributo devido pelo beneficiário do rendimento, este último o
verdadeiro contribuinte do imposto.

6
RIR/99: Regulamento do Imposto de Renda de 1999 – Decreto nº 3.000, de 26 de março de
1999.
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(ESAF/ Auditor-Fiscal da Receita Federal - TA - 2005)


9. Para os efeitos do imposto de renda, o ___________ percebido
na alienação de bens imóveis considera-se ___________. Já a
importância paga a título de aluguel, remetida, creditada, empregada
ou entregue ao contribuinte, produzido por bens imóveis é
denominada _________. Um(a) _________, na linguagem tributária, é
o valor percebido independentemente de ser produzido pelo capital ou
o trabalho do contribuinte.
a) rendimento....rendimento de capital........ganho imobiliário....sinecura
b) rendimento....rendimento de capital.......ganho imobiliário....prebenda
c) ganho ....ganho de capital......rendimento de capital.... provento
d) ganho....ganho de capital.......rendimento de capital.... sinecura
e) provento.......rendimento imobiliário.......provento predial....provento
Comentários:
A legislação do IR, em geral, utiliza o termo “rendimentos” respeitando o significado
técnico do termo, com o sentido de frutos periódicos produzidos por bens, direitos ou
pelo capital, sem esgotar a fonte. Nessa acepção, rendimento não se confunde com
ganho de capital. Este último, em geral, representa a mais valia percebida em
decorrência da alienação do bem ou direito.
Portanto, se eu tenho um imóvel que se encontra alugado a terceiros, os aluguéis
recebidos constituem rendimentos do capital. Mas se eu vendo esse imóvel por R$
200 mil, sendo que seu custo de aquisição é R$ 120 mil, eu percebo um ganho de
capital de R$ 80 mil. Em ambos os casos meu patrimônio aumenta, mas de maneiras
diferentes.
Com o que vimos até aqui, podemos preencher as três primeiras lacunas da seguinte
forma:
Para os efeitos do imposto de renda, o ganho percebido na alienação de bens imóveis
considera-se ganho de capital. Já a importância paga a título de aluguel, remetida,
creditada, empregada ou entregue ao contribuinte, produzido por bens imóveis é
denominada rendimento de capital.
Portanto, sobraram as alternativas C e D. Para assinalar a correta, precisamos
identificar, na linguagem tributária, como se denomina “o valor percebido
independentemente de ser produzido pelo capital ou pelo trabalho do contribuinte.”
Podemos escolher entre “sinecura” ou “proventos”.
De acordo com o dicionário on line Michaelis, sinecura é o cargo ou emprego rendoso
e de pouco trabalho; emprego que só dá utilidade a quem o tem. Portanto, não deixa
de ser um rendimento do trabalho, razão pela qual não há como preencher a lacuna
que falta com “sinecura”.
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Sobrou “provento” e, com isso, o gabarito da questão é a alternativa C.


Mas aqui também há um problema. Nos termos do inciso II do art. 43 do CTN,
proventos de qualquer natureza são acréscimos patrimoniais que não decorrem do
capital, do trabalho, e nem da combinação de ambos.
Quando preenchemos a última lacuna com “provento”, a frase fica assim: Um
provento, na linguagem tributária, é o valor percebido independentemente de ser
produzido pelo capital ou pelo trabalho do contribuinte.
O problema, no meu modo de ver, é que a frase pode, indevidamente, dar a entender
que provento pode ser produzido tanto pelo capital quanto pelo trabalho, o que não é
verdade. Provento é o acréscimo patrimonial que não decorre nem do capital e nem
do trabalho.
A única forma de “salvar” a resposta oficial da ESAF é entender que o
“independentemente de ser produzido pelo capital ou pelo trabalho do contribuinte”
da frase tem o sentido de “de outra forma que não produzida pelo capital ou pelo
trabalho do contribuinte”.
É, tenho que concordar com você que é uma tremenda forçada!
Feitos os devidos esclarecimentos, com as lacunas corretamente preenchidas, a
questão fica assim resolvida:
Para os efeitos do imposto de renda, o ganho percebido na alienação de bens imóveis
considera-se ganho de capital. Já a importância paga a título de aluguel, remetida,
creditada, empregada ou entregue ao contribuinte, produzido por bens imóveis é
denominada rendimento de capital. Um provento, na linguagem tributária, é o
valor percebido independentemente de ser produzido pelo capital ou pelo trabalho do
contribuinte.
Portanto, a alternativa C é a resposta da questão.

(ESAF/ Técnico da Receita Federal - 2003)


10. Assinale as proposições abaixo com F para falsa ou V para
verdadeira e, a seguir, indique a opção que contém a seqüência
correta.
( ) O fato gerador do imposto sobre a renda é a aquisição, de fonte situada no
Brasil, da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de
qualquer natureza.
( ) A fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis pode ser
contribuinte do imposto sobre as importâncias que a esse título pagar, desde
que a lei assim o determine.

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( ) São contribuintes do imposto de renda todas as pessoas jurídicas


domiciliadas no País, sejam quais forem seus fins, nacionalidade ou
participantes no capital.
( ) Os períodos-base de apuração do imposto de renda de pessoa jurídica são
trimestrais, sendo que, no caso de lucro real, o contribuinte pode apurar o
imposto anualmente, pagando mensalmente o imposto sobre bases estimadas.
( ) De acordo com a legislação em vigor, são formas de tributação pelo
imposto de renda das pessoas jurídicas, a tributação pelo lucro real, a
tributação pelo lucro presumido e a tributação pelo lucro arbitrado, podendo o
contribuinte livremente optar por uma das duas primeiras, sendo a tributação
pelo lucro arbitrado privativa do fisco.
a) F, F, F, V, F
b) V, V, F, F, V
c) F, V, F, F, V
d) V, F, V, V, F
e) F, F, F, F, V
Comentários:
Primeira assertiva: falsa. A assertiva afirma que fato gerador do imposto sobre a
renda é a aquisição, de fonte situada no Brasil, da disponibilidade econômica ou
jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza.
Ela é incorreta, haja vista que, nos termos do § 1º do art. 43 do CTN, a incidência do
IR independe da localização da fonte. Portanto, o fato gerador do imposto sobre a
renda é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos
de qualquer natureza, ainda que a fonte da renda ou dos proventos não esteja situada
no Brasi (RIR/99, arts. 2º, 38 e 394).
Segunda assertiva: falsa. A fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis
pode ser responsável (e não contribuinte) pelo imposto que incide sobre os
pagamentos que efetuar (RIR, art. 45, parágrafo único). Trata-se da conveniência de
encarregar a fonte pagadora da atribuição de promover a arrecadação do tributo
devido pelo beneficiário do rendimento, este último o verdadeiro contribuinte do
imposto.
Terceira assertiva: falsa. Embora seja verdade que são contribuintes do imposto de
renda as pessoas jurídicas domiciliadas no País, sejam quais forem seus fins,
nacionalidade ou participantes no capital (RIR, art. 146, I c/c art. 147, I), não se pode
afirmar que TODAS as pessoas jurídicas domiciliadas no País são contribuintes do
imposto de renda.

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Por exemplo, Estados, Distrito Federal e Municípios são pessoas jurídicas (Código
Civil, art. 41), mas não são contribuintes do IRPJ.
Quarta assertiva: verdadeira. Nos termos do art. 220 do RIR, são trimestrais os
períodos-base de apuração do imposto de renda de pessoa jurídica, seja ele
determinado com base no lucro real, presumido ou arbitrado.
Também é verdade que a pessoa jurídica submetida ao lucro real pode apurar o
imposto anualmente, pagando mensalmente o imposto sobre bases estimadas (RIR,
art. 222):
Art. 222. A pessoa jurídica sujeita à tributação com base no lucro real
poderá optar pelo pagamento do imposto e adicional, em cada mês,
determinados sobre base de cálculo estimada.
Quinta assertiva: falsa.
A assertiva afirma que, de acordo com a legislação em vigor, são formas de tributação
pelo imposto de renda das pessoas jurídicas o lucro real, o lucro presumido e o lucro
arbitrado. Até aqui, tudo certo (CTN, art. 44 e RIR, art. 219):
CTN, Art. 44. A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou
presumido, da renda ou dos proventos tributáveis.
RIR, Art. 219. A base de cálculo do imposto, determinada segundo a lei
vigente na data de ocorrência do fato gerador, é o lucro real, presumido ou
arbitrado, correspondente ao período de apuração.
Os problemas começam quando a assertiva afirma que o contribuinte pode livremente
optar pela tributação conforme as regras do lucro real ou do lucro presumido. Isso
não é verdade.
Embora qualquer pessoa jurídica possa apurar o IRPJ segundo as regras de tributação
do lucro real, as seguintes pessoas jurídicas são obrigadas à apuração do lucro
real e, portanto, não podem optar pelo lucro presumido (Lei nº 9.718, de 1998,
art. 14):
 cuja receita total, no ano-calendário anterior, seja superior ao limite de R$
78 milhões, ou proporcional ao número de meses do período, quando
inferior a doze meses;
 cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos,
bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito,
financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades
corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidora de títulos e
valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de
crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de
previdência privada aberta;
 que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior;

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 que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam de benefícios fiscais


relativos à isenção ou redução do imposto;
 que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado pagamento mensal
pelo regime de estimativa, exercendo a opção pela apuração anual do
lucro real;
 que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços
de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos,
administração de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios
resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços
(factoring).
Além disso, há outro erro na assertiva quando afirma que a tributação pelo lucro
arbitrado é privativa do fisco. O arbitramento do lucro também pode ser efetuado pelo
próprio contribuinte, desde que (RIR, art. 531):
 a receita bruta seja conhecida; e
 alguma das hipóteses de arbitramento esteja presente.
Considerando a sequência obtida (F, F, F, V, F), a alternativa A é a resposta da
questão.

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7. GABARITO DAS QUESTÕES PROPOSTAS

1. E 2. C 3. E 4. D

5.B 6. A 7. B 8. B

9. C 10. A

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