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Você tem fome de quê?


“...vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes”. (João 6:26)

Teologicamente entendido, o alimento não pode ser reduzido a aspectos econômicos nem
mesmo a aspectos fisiológicos. Poderíamos ter sido formados com a capacidade de nossa pele converter
energia do sol ou de nossos pés absorverem nutrientes do solo, mas Deus escolheu, em vez disso, projetar
línguas com milhares de papilas gustativas, de modo que nossa necessidade mais básica seja preenchida
por meio de um ato que traga prazer. Se tomamos a comida/alimento unicamente no nível fisiológico
reduzimos a Criação a algo material, consumível, comestível. Precisamos aprender a pensar teologicamente
no alimento e não só economicamente ou fisiologicamente, como é mais comum.
A maioria de nós nasceu na era Fast Food! Hoje a comida é fast (rápida), está imediatamente
pronta para ser consumida e também pode ser engolida depressa. E pensar, como Margaret Visser relata,
que houve um tempo em que ter de comer rápido era considerado uma grande infelicidade. Nos nossos dias,
ou renunciamos ao prazer, que se encontra em saborear a comida, em função dos males ou dos benefícios
que dela decorrem; ou por causa de uma exaustão decorrente do excesso de solicitações à nossa atenção...
que nos leva a preferir comer depressa. Comer “correndo” é apenas um sintoma da velocidade que
impulsiona e determina a cultura contemporânea.
O movimento Slow Food (alimentação Lenta), que tem como patrono Carlo Petrini, começou
na Itália como um protesto contra o desperdício, a insalubridade, a destrutividade, a ignorância e a
ingratidão da cultura do fast food. A alimentação lenta não tem a ver apenas com comer mais devagar. Diz
respeito a desenvolver uma abordagem abrangente da vida que honra aqueles que comem, a comida, os
trabalhadores da comida e os campos e animais que nos dão o alimento.
Quando comemos raramente consideramos que, a comida, meio necessário para a continuação da
vida, não é em si a fonte da vida! Se tomamos a comida/alimento unicamente no nível ecológico reduzimos
a Criação a fonte da vida e esquecemos que deveria nos apontar o Criador. A fonte da vida procede do
Criador e não da criação ou da criatura. Quando tinham pasto, eles se fartaram, e, uma vez fartos,
ensoberbeceu-se-lhes o coração; por isso, se esqueceram de mim, (Oséias 13:6).
Apesar de seu reflexo de um Deus criativo, a comida também pode ser uma força destrutiva. O
mal penetrou no mundo, diz Gênesis, através do consumo de comida - o único alimento que os humanos
tinham sido ordenados a evitar. O próprio solo do qual Deus formou a humanidade tornou-se sujeito a
maldição, espinhos e ervas daninhas, um lembrete material da luta pelo poder que se manifesta através da
relação com a comida. Fome e guerra, escravização e colonização - tudo remonta a um compromisso
maldito entre a humanidade, nossa fome e o solo. A comida carrega lembranças de deslocamento e
migração, de momentos de abundância e momentos de carência, de hierarquias sociais e relações familiares.
Uma reflexão bíblica sobre a comida nos ajudará a nos protegermos da idolatria da
alimentação. A meta da alimentação não é venerar o alimento ou a nós mesmos. Quando o ato de comer
se torna idólatra, o resultado são habitats degradados e destruídos, animais em sofrimento, trabalhadores
inseguros e explorados, acordos comerciais injustos e comedores solitários. Segundo Philip Sherrard,
escritor britânico, “estamos tratando nosso planeta de maneira inumana, negligenciada, porque vemos as
coisas de uma maneira inumana, negligenciada. E vemos as coisas desse modo porque isso é, basicamente,
como vemos a nós mesmos”.
Situações de desequilíbrio na alimentação, ou de confusão acerca da fonte da vida, podem causar
obesidades inclusive dos tipos moral, emocional e espiritual. Para os rabinos, obesidade tem pouco a ver
com o conceito magro/gordo, e sim com o de leve/pesado. Obeso é aquele que é pesado em diversos níveis.
Sabemos que muitas vezes em que nos alimentamos o fazemos por outras razões que não a fome. Comemos
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para provar algo, para expressar algo, para evitar algo, para controlar algo, para reprimir algo. E você? Você
tem fome de quê?

Pr. Johnny Teles (2 e 3º pontos mensagem)

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