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8.

Propriedades Mecânicas

Uma carga, ao ser aplicada uniformemente sobre uma seção transversal ou sobre a
superfície de um elemento estrutural, pode ser estática ou variar lentamente ao longo do tempo.

O comportamento mecânico desse elemento estrutural à aplicação dessa carga pode ser
averiguado através de um ensaio tensão – deformação.

Existem três maneiras de uma carga ser aplicada: tração (deformação), cisalhamento de
torção.

TRAÇÃO (COMPRESSÃO)

Figura 1 – À esquerda, ilustração esquemática de como uma carga de tração produz um alongamento e uma
deformação linear. À direita, ilustração esquemática de como uma carga de compressão produz uma
contração e uma deformação linear negativa. As linhas tracejadas representam a forma antes da
deformação, e as linhas contínuas, após a deformação.

No ensaio de tração um corpo-de-prova, Figura 2, é deformada, geralmente até sua fratura,


por uma carga de tração, que gradativamente aumenta, aplicada uniaxialmente ao longo de um
corpo de prova, Figura 3.
Figura 2 – Corpo-de-prova padrão para ensaios de tração com seção transversal circular.

Figura 3 – Representação esquemática do dispositivo usado para a realização de ensaios tensão –


deformação de tração. O corpo-de-prova é alongado pelo travessão móvel; uma célula de carga e um
extensômetro medem, respectivamente, a magnitude da carga aplicada e do alongamento.

O resultado de um ensaio de tração é registrado como carga, ou força, em função do


alongamento.

Duas propriedades são obtidas pelo ensaio de tração: tensão de engenharia, σ, e


deformação de engenharia, ε.

A tensão de engenharia é definida pela relação:

F
σ =A
0

onde F (em N) é a carga aplicada em uma direção perpendicular à seção transversal do corpo de
prova e A0 (em m2) é a área da seção transversal original (antes da aplicação da carga). A unidade
da tensão de engenharia é N/m 2, normalmente utiliza-se a unidade de 10 6 N/m2, denominada
MegaPascal (MPa).

A deformação de engenharia, ε, é definida pela relação:

ΔL
ε= L
0

onde ΔL = Lf – L0, onde Lf é o comprimento do corpo de prova, após ser alongado pela aplicação da
carga, e L0 é o comprimento original do corpo de prova, antes da aplicação da carga. ΔL é o
alongamento, ou a variação no comprimento do corpo de prova, devido a aplicação da carga, em
um dado instante, em referência ao comprimento original. A deformação de engenharia é
adimensional.

CISALHAMENTO E TORÇÃO

Figura 4 – Representação esquemática da deformação de cisalhamento, γ, onde γ = tg θ. As linhas


tracejadas representam a forma antes da deformação, e as linhas contínuas, após a deformação.

A tensão cisalhante é definida pela relação:

F
τ=A
0

onde F (em N) é a carga aplicada paralelamente às faces superior e inferior da seção transversal do
corpo de prova e A0 (em m2) é a área da seção transversal original (antes da aplicação da carga). A
unidade da tensão cisalhante é N/m2, normalmente utiliza-se a unidade de 106 N/m2, denominada
MegaPascal (MPa).

A deformação cisalhante, γ, é definida como a tangente do ângulo de deformação, θ,


γ = tg θ.
TORÇÃO é uma variação do cisalhamento, na qual um elemento estrutural é torcido, de
modo que as forças de torção produzam um movimento de rotação em torno do eixo longitudinal
de uma das extremidades do elemento estrutural em relação à outra extremidade, Figura 5.

Figura 5 – Representação esquemática da deformação torcional (com ângulo de torção, φ, produzida pela
aplicação de um torque, T.

COMPORTAMENTO TENSÃO – DEFORMAÇÃO

O grau ao qual uma estrutura se deforma depende da magnitude da tensão imposta. A


maioria dos metais submetidos a uma tensão de tração, em níveis relativamente baixos, a tensão e
a deformação são proporcionais segundo uma relação, denominada Lei de Hooke:

σ=Eε

A relação apresenta uma constante, E, denominada Módulo de Elasticidade, ou Módulo de


Young. Unidade: GPa.

Quando a tensão e a deformação são proporcionais temos a DEFORMAÇÃO ELÁSTICA.

Ao desenharmos um gráfico tensão em função da deformação, proporcionais, teremos uma


relação linear, Figura 6.

A inclinação do segmento linear corresponde ao Módulo de Elasticidade, E.


Figura 6 – Diagrama esquemático tensão – deformação mostrando a deformação elástica linear para ciclos
de carga e descarga.

O Módulo de Elasticidade pode ser considerado como a rigidez, ou seja, a resistência do


material a uma deformação elástica.

Quanto maior for o Módulo de Elasticidade, mais rígido será o material, ou seja, menor será
a deformação elástica resultante da aplicação de uma dada tensão. A partir do módulo de
elasticidade é possível calcular deflexões elásticas em projetos de engenharia.

A Deformação Elástica não é permanente. Quando a carga aplicada é liberada, o elemento


estrutural retomará sua forma original.

Com relação aos ensaios de cisalhamento, a tensão e a deformação são proporcionais uma à
outra, de acordo com a expressão: τ = G γ, no qual G é o módulo de cisalhamento (a inclinação da
região linear da curva tensão – deformação cisalhante.

Em escala atômica, a deformação elástica é manifestada como pequenas alterações no


espaçamento interatômico e no estiramento das ligações interatômicas. Assim, a magnitude do
módulo de elasticidade é uma medida da resistência à separação de átomos adjacentes, ou seja,
das forças de ligação interatômicas.

Em alguns casos, a deformação plástica pode ser dependente do tempo. Ou seja, a


deformação permanecerá após a aplicação da carga, e com a liberação, será necessário um tempo
finito para que haja uma recuperação completa. A esse comportamento é dado o nome
Anelasticidade. Ele é causado por processos microscópios e atomísticos e dependentes do tempo
que acompanha a deformação. A anelasticidade em metais é pequena e frequentemente
desprezada. Entretanto alguns materiais poliméricos apresentam anelasticidade significativa,
denominada comportamento viscoelástico.
A maioria dos materiais metálicos apresentam deformação elástica até um máximo de ε ≈
0,005. Conforme o material é deformado além disso, a deformação não será mais proporcional a
tensão aplicada (a Lei de Hooke deixa de ser aplicada) e uma deformação permanente, não
recuperável passa a ocorrer. Esta deformação permanente leva o nome de Deformação Plástica.

A transição do comportamento elástico para o plástico é gradual para a maioria dos metais.
No gráfico tensão – deformação ocorre uma curvatura, indicando que a deformação plástica está
ocorrendo, e que aumenta rapidamente conforme vai aumentando a tensão aplicada.
Em sólidos cristalinos, a deformação plástica é obtida por meio de um processo chamado
deslizamento, que envolve o movimento das discordâncias. Já materiais não cristalinos (vidros, por
exemplo), a deformação plástica ocorre por escoamento viscoso.

Do ponto de vista atômico, a deformação plástica corresponde a uma quebra de ligações


entre átomos vizinhos, durante o deslizamento (movimentação de átomos ou moléculas uns em
relações aos outros), seguida pela formação de novas ligações com os novos átomos vizinhos.
Liberada a tensão, as ligações rompidas não são refeitas, e portanto os átomos não retomam suas
posições iniciais.

PROPRIEDADES ELÁSTICAS DOS MATERIAIS

A tensão de tração, aplicada sobre uma amostra de metal, provoca um alongamento elástico
e sua deformação, εz. Como resultado do alongamento haverá constrições nas direções laterais
(x,y) perpendiculares à tensão aplicada, cada uma com deformações compressivas
correspondentes (εx e εy), Figura 7.

Se a tensão aplicada for apenas na direção Z (uniaxial) e o material for isotrópico então ε x =
εy.

Um parâmetro denominado coeficiente de Poisson, ν, é a razão entre as deformações lateral


e axial.
εx εy
ν =− ε z =− ε z

O sinal (-) é incluído na formula para assegurar que o resultado seja positivo, pois tanto ε x
quanto εy apresentam valores negativos.
Figura 7 – Alongamento axial (z) (deformação positiva) e contrações laterais (x e y) (deformações negativas)
em resposta a imposição de uma tensão de tração. As linhas tracejadas representam a dimensão antes da
aplicação da tensão, e as linhas contínuas, após a aplicação da tensão.

Os módulo de elasticidade e de cisalhamento estão relacionados entre si e com o coeficiente


de Poisson, de acordo com a expressão:

E = 2G(1+ν)

Para a maioria dos metais, G = 0,4E.

PROPRIEDADES EM TRAÇÃO

1. Escoamento e resistência ao escoamento.

A maioria dos elementos estruturais é projetada para assegurar que ocorra apenas
deformação elástica quando uma força é aplicada.

Uma estrutura ou um componente que tenha sido deformado plasticamente pode não ser
capaz de funcionar perfeitamente. Portanto torna-se desejável conhecer o nível de tensão no qual
tem início a deformação plástica, ou no qual ocorre o escoamento.

Nos metais que apresentam uma transição gradual da deformação elástica para a plástica, o
ponto de escoamento pode ser determinado como aquele em que termina a linearidade na curva
tensão – deformação. Este ponto é chamado Limite de Proporcionalidade (o ponto P na figura X),
e representa o início da deformação plástica a nível microscópico.

Para medir com precisão o ponto P, convencionou-se tomar uma linha reta paralela a porção
elástica da curva tensão – deformação, a uma deformação de 0,002, Figura 8.

Figura 8 – Comportamento tensão – deformação típico de um metal mostrando as deformações elástica e


plástica. O ponto P é o limite de proporcionalidade, e σ f, o limite de escoamento determinado usando o
método de pr´-deformação de 0,002.

A tensão correspondente a intersecção dessa linha com a curva tensão – deformação é


definida como o Limite (Resistência) ao Escoamento, σf.

Alguns aços e metais não ferrosos apresentam a transição do comportamento tensão –


deformação é muito bem definida, ocorrendo de forma abrupta, no chamado fenômeno do limite
de escoamento superior, Figura 9.
Figura 9 – Comportamento tensão – deformação esquemático encontrado em alguns aços que
apresentam o fenômeno do limite de escoamento superior.

No limite de escoamento superior, a deformação plástica se inicia com uma diminuição


aparente na tensão de engenharia. A deformação seguinte flutua ligeiramente em torno de algum
valor de tensão constante e é chamado limite de escoamento inferior. Em seguida, a tensão
aumenta em função do aumento da deformação.

Para os metais que apresentam esse efeito, a resistência ao escoamento é tomada como a
tensão média associada ao limite de escoamento inferior, pois esse ponto é bem definido.

A magnitude da resistência ao escoamento para um metal é uma medida de sua resistência à


deformação plástica.

2. Limite de Resistência a Tração.

O Limite de Resistência a Tração, LRT (MPa) é a tensão no ponto máximo da curva tensão –
deformação, portanto é a tensão máxima suportada por um material sob tração. Se esta tensão for
aplicada e mantida, ocorrerá a fratura.

Toda deformação até esse ponto está distribuída uniformemente por toda a região estreita
do corpo de prova de tração. Contudo nessa tensão máxima, uma pequena constrição, ou pescoço,
começa a se formar em algum ponto e toda a deformação subsequente ficará contida nele. Esse
fenômeno é chamado estricção. A fratura surgirá no pescoço, Figura 10.
Figura 10 – Comportamento típico da curva tensão – deformação de engenharia até a fratura do material,
no ponto F. O limite de resistência a tração, LRT, está indicado no ponto M. Os detalhes dentro dos círculos
representam a geometria do corpo-de-prova deformado em vários pontos ao longo da curva.

A resistência à fratura corresponde à tensão no ponto de ruptura.

Quando é citada a “resistência mecânica” de um determinado material, é a resistência ao


escoamento o parâmetro utilizado, pois no momento em que a tensão corresponde ao limite de
resistência a tração chega a ser aplicada, a estrutura já sofreu tanta deformação plástica que
acabou se tornando imprestável.

DUCTILIDADE

A Ductilidade é uma medida do grau de deformação plástica desenvolvida até a fratura. Um


material que sofre uma pequena deformação plástica, muitas vezes imperceptíveis, até a fratura é
considerado frágil.

A ductilidade pode ser expressa quantitativamente tanto como um alongamento percentual,


quanto como uma redução percentual de área.

O alongamento percentual, %Al, é a porcentagem de deformação plástica na fratura.

Lf −L 0
% Al= x 100
L0

em que Lf é o comprimento no momento da fratura e L0 é o comprimento original.


A redução percentual, %RA, é definida como:

A 0−A f
% RA= x 100
A0

Conhecer a ductilidade de um material é importante, pois indica ao projetista o grau de


deformação plástica que uma estrutura sofrerá antes de fraturar. Além disso a ductilidade
especifica o grau de deformação permitido durante as operações de fabricação.]

Para ser considerado frágil, um material deverá possuir uma deformação de fratura menor
do que aprox. 5%.

RESILIÊNCIA

É a capacidade de um material absorver energia quando ele é deformado elasticamente e


após a remoção da carga, permitir a recuperação dessa energia.

A propriedade associada é o Módulo de Resiliência, U R, que é a energia de deformação por


unidade de volume necessária para tensionar um material desde um estado sem carga até a sua
resistência ao escoamento.

Considerando a região linear elástica, temos:

UR = ½ σe εi

em que εi é a deformação ao escoamento.

Os materiais resilientes são aqueles que possuem resistência ao escoamento elevada e


módulo de elasticidade baixo, por exemplo, ligas utilizadas para a fabricação de molas.

TENACIDADE

A tenacidade é definida como a habilidade de um material absorver energia e se deformar


plasticamente antes de fraturar

Outra propriedade relacionada, a tenacidade a fratura é uma propriedade relacionada com a


resistência de um material à fratura, quando uma trinca (ou outro defeito concentrador de
tensões) está presente.

Fabricar um material isento de defeitos é praticamente impossível. Isto torna a tenacidade a


fratura uma das principais considerações para todos os materiais estruturais.
DUREZA

Dureza é a medida da resistência de um material a uma deformação plástica localizada (por


exemplo uma pequena indentação ou um risco).

De maneira geral, um ensaio de dureza é realizado de forma a um pequeno indentador ser


forçado contra a superfície de um material a ser testado, sob condições controladas de carga e de
taxa de aplicação.

A profundidade ou o tamanho da indentação resultante é medida e então relacionada com


um número de dureza – quanto mais macio for o material, maior e mais profunda será a identação,
e menor será o índice de dureza.

A tabela 1 apresenta as principais técnicas de ensaios de dureza.

Tabela 1 – Técnicas de ensaio de Dureza


PROPRIEDADES MECÂNICAS EM MATERIAIS FRÁGEIS

Para materiais frágeis, como por exemplo as cerâmicas de engenharia, o limite de


escoamento, limite de resistência e a tensão de fratura obtidos através de uma curva tensão –
deformação são indistinguíveis.

Figura 11. Curva tensão – deformação dos materiais frágeis e dúcteis.

Além disso, não é possível realizar o teste de tração em materiais cerâmicos, pois a simples
presença de um único defeito superfícial é suficiente para que, durante o posicionamento de um
corpo de prova de material frágil nas garras da máquina de tração, ocorra uma fratura.

Desta maneira, o ensaio mecânico para materiais frágeis é realizado através do Teste de
Flexão.

Figura 12. (a) Teste de flexão normalmente utilizado para medir a resist^ncia dos materiais frágeis; (b)
deflexão, δ, do corpo de prova sob flexão.

A flexão é provocada ao aplicar um carregamento em 3 pontos, o que causa uma tensão de


tração no ponto central e inferior do corpo de prova. A fratura terá início nesse local.
A resistência ao material é chamada Resistência a Flexão, ou Módulo de Ruptura (MOR) e é
obtida através da equação:

3FL
ResistênciaaFlexão (Módulo de Ruptura)=σ flexão = (MPa)
3 wh2

onde F é a carga aplicada, L é a distância entre os pontos de apoio, w é a largura e h a espessura do


corpo de prova.

Figura 13. Resultado do ensaio de flexão apresentado na forma de um gráfico Tensão – Deflexão.

O módulo de elasticidade na flexão, também chamado módulo de flexão (E flexão) é calculado


na região elástica do gráfico tensão – deformação, Figura 13, através da equação:

L3 F
Eflexão=
4 wh3 δ

onde F é a carga aplicada, L é a distância entre os pontos de apoio, w é a largura e h a espessura do


corpo de prova e δ é a deflexão do corpo de prova na carga aplicada (F).

Figura 14. (a) Esquema do teste de flexão com três pontos e (b) quatro pontos.
Uma variação do teste de flexão é a Flexão em 4 Pontos, conforme figura 14 (b)

3 FL 1
Para a flexão em 4 pontos, σ flexão = .
4 wh2

O teste de flexão em 4 pontos é utilizado em materiais que contém pequenos defeitos


dispersos em seu volume.

Como as trincas e falhas tendem a se fechar quando sob compressão, os componentes feitos
de materiais frágeis, como o concreto, por exemplo, são normalmente projetados para suportarem
apenas tensões de compressão. Em geral, a intensidade das tensões compressivas capaz de
fraturar os materiais frágeis são muito superiores à intensidade das tensões de tração.

Por outro lado, materiais frágeis, cerâmicas em particular, possuem tenacidade bastante
limitada.

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