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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA,


CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO.

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

BÁRBARA GARCIA LIMA

DIEGO DE FREITAS GUIMARÃES STEINDORFER

A IMPORTÂNCIA DOS BANCOS COMUNITÁRIOS PARA O


DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA ANÁLISE DO
BANCO PALMAS

Fortaleza

2017
RESUMO

Este trabalho busca mostrar como os bancos comunitários são fundamentais para o
desenvolvimento da economia solidária, tanto através do acesso ao microcrédito, que é
fundamental para esses empreendimentos, quanto através da capacitação dos tomadores
de crédito, afim de aumentar as suas chances de sucesso e capacidade de restituir os
empréstimos. Também buscou-se mostrar a atuação do Instituto Palmas enquanto Banco
Comunitário, relacionando com a economia solidária e seus fundamentos. É possível
notar a influência desses princípios ao longo do surgimento deste banco, juntamente
com a mudança na vida dos moradores que ali habitam, constroem e são beneficiados
pelas ações advindas desse projeto.

Palavras-chave: banco comunitário de desenvolvimento, economia solidária,


microcrédito, banco palmas.
SUMÁRIO

1. Introdução............................................................................................................4
2. A importância do crédito para empreendimentos solidários..........................5
3. História do microcrédito e dos bancos comunitários de desenvolvimento.....6
4. A atuação do Instituto Palmas enquanto banco comunitário........................11
5. Considerações Finais.........................................................................................14
1. INTRODUÇÃO
A Economia Solidária se volta para os princípios aliados a democracia e a
igualdade dentro de Empreendimentos Solidários, com práticas de autogestão e
cooperação. O desenvolvimento dessas organizações econômicas tem sido um
processo laborioso, e tem necessitado cada vez mais de apoio para sua realização.
Uma das formas de apoio ao crescimento dessas organizações é a formação
de bancos comunitários, que, surgem a partir da própria comunidade como gestora
e proprietária destes. Busca-se criar e estimular a rede local de produção e consumo.
Partindo da hipótese que a Economia Solidária necessita desse maior apoio para o
seu avanço e manutenção, e que os bancos comunitários são melhorias dentro dessa
busca, esse trabalho tem como objetivo analisar qual é de fato a magnitude dos
efeitos nesse processo de construção da consolidação da Economia Solidária.
Utilizamos como ponto de análise e referência o Banco Palmas, que é um banco
comunitário existente em Fortaleza, no conjunto Palmeiras. Lá é utilizada a moeda
social Palmas, e hoje tem muita influência no bairro em que foi instituída, o que
fortalece ainda mais as práticas solidárias ali dentro.
O problema central deste estudo parte da necessidade da presença de
suportes a manutenção e incentivo aos empreendimentos solidários e que os bancos
comunitários têm um papel a cumprir nesse processo. Então, seria o acesso ao
crédito um facilitador para a subsistência da eco. sol.? Se sim, qual é o papel destes
facilitadores?
E a questão a ser discutida será feita com a análise do Banco Palmas,
enquanto Banco Comunitário, diante de suas repercussões dentro dos
empreendimentos solidários do conjunto palmeiras e, consequentemente, do
desenvolvimento da Economia Solidária.
O objetivo desse trabalho é analisar quais foram as repercussões causadas a
partir desse banco dentro da economia solidária, a fim de discutir como o
surgimento desses tipos de apoio as EE’s são importantes.
Para isso, pretende-se descobrir qual o contexto no qual o Banco Palmas foi
estruturado, qual era a situação da Economia Solidária no país e avaliar todos os
seus avanços e retrocessos desde então. Além de buscar saber quais mecanismos
foram utilizados para garantir o sucesso do projeto, como a criação do ponto de
finanças solidárias.
Justifica-se esse trabalho pela importância da existência da economia
solidária nesse momento. É notável o aumento desses tipos de empreendimentos e
como esse tipo de economia solidária, juntamente com seus meios de manutenção e
avanço, são cada vez maiores. Com isso, busca de alguma forma reduzir as
dificuldades e aumentar o número de pessoas alcançadas por esse tipo de economia
e consequentemente resultar no aumento de seu bem estar
Essa pesquisa tem caráter exploratório, e será feito com metodologia
bibliográfica documental, utilizando-se da análise de conteúdo para análise dos
dados.
2. A importância do crédito para empreendimentos solidários

Segundo Marx, o crédito desenpenha quatro importantes papéis em uma


economia capitalista, sendo eles a equalização da taxa de lucros, diminuição dos
custos de circulação, formação de sociedade por ações e a possibilidade de dispor,
dentro de certos limites, do capital e propriedade alheia, e consequentemente de
trabalho alheio.

Embora os empreendimentos solidários constituam um outro modo de


produção, eles ainda estão inseridos, na maioria das vezes, em economias
captalistas, ou seja, acabam por serem afetados de forma parecida às empresas
capitalistas pelo sistema de crédito, com exceção da possibilidade de formar
sociedades por ações, que até o presente momento não é possível pelas cooperativas.
Essas empresas cooperativas, segundo Marx, representam uma primeira forma de
ruptura com o sistema capitalista, empora reproduzam alguns defeitos desse sistema,
a antítese entre o trabalho e o capital está abolida. Ao contrário das sociedades por
ações que levariam essa antítese ao extremo por separar de forma completa o capital
do trabalho, o que levaria a superação do capitalismo dentro dele mesmo.

Vale ressaltar que a economia solidária nasce dentro de setores marginalizados e


excluidos da economia tradicional, como uma alternativa ao desemprego e a falta de
oportunidade, sendo assim, na imensa maioria das fezes, os empreendimentos
solidários são formados por pessoas de baixo poder aquisitivo, sem reservas
financeiras e com patrimônio muito pequeno o que torna crédito ainda mais
fundamental para esse tipo de empreendimento.

Em 2010, Comini e Teodósio (2012) realizaram uma pesquisa com 698


respondentes em oito cidades de Minas Gerais e quando perguntado aos
respondentes porque brasileiros pobres têm dificuldades em criar negócios
sustentáveis e rentáveis, a segunda maior resposta recebida foi a falta de créditos
com baixas taxas. A resposta que mais se repetiu foi a percepção de que essas
pessoas não tem qualificação suficiente.

Sendo assim, o maior desafio para o cresimento dos empreendimentos solidários


seria não só oferecer crédito a taxas baixas e poucas garantias à pessoas muitas
vezes totalmente exlcuídas do sistema bancário tradicional, mas também garantir
que elas usem de forma eficiente esse crédito de forma que consigam honrar os
pagamentos das parcelas do crédito e ter uma boa receita para sustento de todos os
envolvidos no empreendimento.
3. A história do microcrédito e dos bancos comunitários

Desde as primeiras experiências de crédito que se tem registro, na Grécia antiga, até
hoje, diversas formas e volumes de créditos forma desenvolvidas e aplicadas, mas foi
apenas na déca de 1970 que o conceito de microcrédito ficou almplamente conhecido e
foi difundido com a experiência do Banco Grameen, em Bangladesh.

Muhamed Yunus, doutor em Economia pela Faculdade Vanderbilt, em Nashiville,


Tenessee, EUA e chefe do departamento de Economia na Faculdade de Chittagong, em
Bangladesh, resolveu abandonar as teorias que aprendeu na universidade e resolveu
obesrvar de perto as vidas dos pobres de seu país para entender a verdadeira economia.
Ele chegou a conclusão que as pessoas mais pobres são ótimas tomadoras de crédito,
devido ao fato delas terem tão poucas oportunidades na vida, que quando as recebem
fazem de tudo para mantê-las. Então uma outra metodologia de análise de crédito
deveria ser aplicada à essas pessoas, levando em consideração por exemplo a
capacidade dessas pessoas de sobreviver à condições difíceis. Então em 1976 ele criou o
Banco Grameen, primeiro banco especializado em microcrédito no mundo.

De acordo com relatório do Banco Grameen, até dezembro de 2012, a organização


emprestou 1.974.000.000,00 de dólares; tem 2.914 escritórios; 22.261 funcionários;
2.567 agências; 8.370.000 membros, sendo que 96,23% são mulheres. O valor médio
concedido de empréstimo, em cada operação, é de 149 dólares.

A partir do Banco Grameen, diversas outras instituições em diferentes países


começaram a trabalhar com o microcrédito como é o caso do Bank Rakyat, em 1984 na
Indonésia; o Bancosol, em 1986 na Bolívia; a Corposol, em 1988 na Colômbia; a
FOSIS, em 1991 no Chile.

O microcrédito é uma ferramenta de fundamental importância para a Economia


Solidária, porém támbem é extremamente importante a capacitação das pessoas que
tomam empréstimos e algum estudo de mercado, para que esses empreendimentos
tenham sucesso. É exatamente esse o papel dos Bancos Comunitários de
Desenvolvimento, alem de fornecer microcrédito de forma simples e desburocratizada,
pesquisam quais as demandas da regiãox e quais as ofertas ja existentes, ajudam na
elaboração do plano de negocio, alem de fazerem cursos de capacitação.

Desde a criação do primeiro BCD em Fortaleza, Banco Palmas, até hoje, mais de
100 BCD foram criados, em 19 estados, organizados em rede, constituindo uma
importante forma de desenvolvimento local e de fortalecimento dos princípios da
economia solidária.
4. A atuação do Instituto Palmas enquanto banco comunitário

O Banco Palmas foi criado em 1998 e iniciou às ações de desenvolvimento local


sustentável, com a implementação de um sistema de acesso ao crédito, aliado ao
fortalecimento da autogestão comunitária através da capacitação de moradores locais
sobre cidadania, relações comunitárias, relações econômicas solidárias, governabilidade
participativa, controle social e outros temas. Hoje o Banco Palmas desenvolve novas
modalidades de intervenção, que procuram fortalecer as ações locais e criar mecanismos
de superação da pobreza, incluindo o incentivo à produção, prestação de serviços e
comercialização. Com esse objetivo, implementa feira de produtores locais, balcão de
emprego, trocas solidárias de produtos e serviços, confecção com grife própria, dentre
outros.

O Banco Palmas constituiu um sistema financeiro solidário e atua de forma


integrada em quatro pontos da cadeia produtiva local: capital solidário, produção
sustentável, consumo solidário e comércio justo. A gestão do Banco é feita pela própria
associação dos moradores do Conjunto Palmeiras e seu quadro de pessoal é constituído,
majoritariamente, por moradores voluntários. A filosofia central do Banco está voltada
para a edificação de uma rede solidária de produção e consumo local. Este sistema
prioriza a circulação da renda no próprio bairro, através da comercialização dos
produtos na comunidade, oxigenando essa rede de solidariedade local. Com isso, tenta-
se reforçar a ideia de que o consumo não faz sentido, de for prejudicial à própria
dinâmica do sistema.

Em 1997, foi realizado um encontro de avaliação do Seminário “Habitando o


Inabitável” que chegou à conclusão de que o bairro já estava urbanizado, mas a pobreza
econômica dos moradores tinha aumentado. O bairro ainda sofria com o desemprego,
pouca circulação local de renda e pobreza. O seminário, por fim, deliberou pela criação
de um projeto de geração de trabalho para o bairro. Esse projeto, inaugurado em 1998 e
que em pouco tempo depois se transformaria em uma das instituições mais importantes
do bairro, recebeu o nome de Banco Palmas. De acordo com Neto Segundo e Magalhães
(2009) a ASMOCONP – Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras tem, hoje,
34 anos de existência e surgiu para organizar e mobilizar a população do conjunto em
busca da melhoria das suas condições de vida mais gerais, articulando três planos de
atuação: o político, no sentido da mobilização e participação das pessoas em torno de
questões públicas; o social, ao reforçar a base das relações e convivência entre os
moradores; o econômico, a partir das várias atividades produtivas que são
empreendidas. Durante aquele ano, a associação realizou inúmeras reuniões e
seminários com os seus habitantes para discutir a condição de pobreza econômica local
e suas alternativas de enfrentamento.

É nesta perspectiva que a Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras -


ASMOCONP criou o Banco Palmas e implantou uma rede de solidariedade entre
produtores e consumidores locais. Embora o termo economia solidária fosse, nessa
época, desconhecido de todos, a ideia era criar um projeto de geração de trabalho e
renda que estimula a produção local através de uma linha de financiamento de
microcrédito e outra linha que estimula o consumo local através de um cartão de crédito
próprio.

O objetivo do projeto Banco Palmas seria, então, garantir microcréditos para a


produção e o consumo local, a juros muito baixos, sem exigência de consultas
cadastrais, comprovação de renda ou fiador. Mais do que um cadastro formal, a
concessão do crédito exige um conhecimento da vida da pessoa do tomador do
empréstimo na comunidade. O agente de crédito consulta, assim, a rede de relações da
pessoa como fonte de conhecimento. Já a cobrança do crédito, por sua vez, passa pela
introdução de um mecanismo de controle social extremamente original ao envolver
vizinhos numa espécie de aval solidário. São as próprias pessoas que funcionam como
mecanismo de pressão moral junto ao indivíduo.

O microcrédito é uma variedade de empréstimos cujas características comuns são:


serem de pequeno valor; serem direcionados a um público restrito, definido por sua
baixa renda ou pelo seu ramo de negócios, que usualmente não têm acesso às formas
convencionais de crédito. O microcrédito se encontra necessariamente num contexto de
microfinanças, sendo esta entendida como sendo o fornecimento de empréstimos,
poupanças e outros serviços financeiros especializados para pessoas carentes.

O banco constitui um sistema financeiro integrado, que atua de forma estratégica


nos quatro pontos da cadeia produtiva do ciclo econômico sustentável em áreas de baixa
renda, quais sejam: Capital solidária; Produção sustentável; Consumo ético e comércio
justo.

A metodologia Palmas compreende que na ausência de um destes elementos não é


possível ser alcançado o desenvolvimento econômico local. Neste sentido o Banco
Popular desenvolveu instrumentos para concessão de microcréditos, compatíveis com a
realidade da comunidade, tanto para produção, como para o consumo e comercialização.
A filosofia central do Banco está voltada para uma rede de solidariedade de produção e
consumo local. O Banco Popular possui uma linha de microcréditos para quem quer
produzir (criar ou ampliar um pequeno negócio) e outra linha que financia quem quer
comprar aos produtores e comerciantes do bairro. O Banco Palmas estabeleceu na
própria comunidade um circuito monetário de produção e consumo, que em longo prazo
se auto-financiará, dando sustentação aos seus empreendimentos. Este sistema oxigena a
rede de solidariedade local, facilitando a comercialização dos produtores da
comunidade, fazendo a renda circular no próprio bairro, promovendo o crescimento
econômico. Então, por exemplo, existe o Microcrédito Para Produção, Comércio ou
Serviço Microcréditos que são cedidos para quem não pode acessar as fontes de
financiamentos oficiais por causa da burocracia, exigências quanto ao fiador, nível de
renda, patrimônio e outras normas bancárias. Os créditos concedidos pelo Banco Palmas
não exigem documentos, nem garantias cadastrais. São os próprios vizinhos que
oferecem as informações sobre o tomador do crédito, assegurando de que se trata de
uma pessoa responsável, com experiência no ramo da atividade pretendida, ou, negando
esses valores.

Também existe o PalmaCard com Microcrédito para o consumo. Palmacard é o


cartão de crédito do Banco Palmas, válido para compras somente no bairro. Cada cartão
de crédito tem o valor inicial de R$ 20,00 (Vinte Reais), podendo de forma escalonada
chegar ao máximo de R$100 (Cem Reais). A família não paga nenhuma taxa para ter o
cartão. Além disso, existe o Microcrédito Para Mulheres que, por meio de uma linha de
crédito específico para atendimento às mulheres, o Palmas tem financiado a produção
de mulheres empreendedoras do bairro, principalmente as que se encontram em situação
de risco pessoal e social.

O PalmaCasa é uma linha de crédito para pequena reforma de moradia, objetivando


a melhoria nas condições de produção. Pode ser uma pia, uma varanda, o piso, um
banheiro e outros. As famílias fazem um orçamento no depósito de construção do bairro
e recebem autorização do Banco Palmas para receberem o material. O dono do depósito
recebe o dinheiro do Banco e o beneficiado tem 6 meses para pagar com juros de 1,5%
ao mês. A partir de julho de 1999, os créditos para moradia passaram a ser concedidos
por outra instituição, a Prefeitura Municipal de Fortaleza.

O Banco Palmas trabalha com uma política de créditos evolutivos e juros


evolutivos, para garantir a distribuição de renda. Quem tem mais, paga mais juros para
subsidiar o empréstimo de quem tem menos.

O Palmas trabalha com uma política de crédito pautada no controle social. Quando
um morador chega ao Banco para solicitar um serviço é informado das regras de
funcionamento da rede de solidariedade. Um analista de crédito visita a família do
solicitante e conversa com os vizinhos. É o depoimento da vizinhança que vai servir de
aval para o futuro cliente. O Banco Palmas não cobra fiador, não faz consultas ao
Serviço de Proteção ao Crédito, a cartórios e outras fontes de verificação da ficha dos
clientes. A maioria dos moradores do Conjunto Palmeiras está com seus nomes fichados
em um desses sistemas. A partir do momento que o cliente é aceito no Banco ele passa a
ser acompanhado por toda a rede de solidariedade. Esse controle social fiscaliza as
ações do Banco e dos seus empreendedores, ajudando, inclusive, a inadimplência do
Palmas a ficar sempre na casa de 1 a 3%.

O Cartão de Crédito Palmacard, utilizado apenas no Conjunto Palmeiras, estimula as


famílias a comprarem em qualquer comércio cadastrado do bairro e pagar ao Banco
popular após trinta dias, em uma data estabelecida pela própria família. O valor do
crédito é de 20 reais, podendo chegar até 100 reais. No caso de compras acima de 100
reais, como um guarda roupa, uma mesa com cadeiras, ou outro produto de médio porte
fabricado localmente, a família pode receber uma autorização do Banco e parcelar a
compra em até três prestações. É por meio das economias populares geradas a partir do
consumo solidário dos próprios moradores que se consegue o desenvolvimento
econômico da comunidade. A consciência de que ao consumir produtos e serviços do
bairro estar-se-á ajudando a distribuir a renda, gerando riquezas e melhorando a
qualidade de vida na comunidade, permite ao Banco popular criar vários instrumentos
de comércio solidário.
5. Considerações Finais

A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como inovadora


alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social.
Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma
de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de
cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de
serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário. Nesse sentido,
compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades econômicas de
produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas sob a forma de
autogestão.

Considerando essa concepção, a Economia Solidária possui as seguintes


características: Cooperação, existência de interesses e objetivos comuns, a união dos
esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a
responsabilidade solidária. Envolve diversos tipos de organização coletiva: empresas
autogestionárias; associações comunitárias de produção; redes de produção,
comercialização e consumo; grupos informais produtivos de segmentos específicos
(mulheres, jovens etc.); clubes de trocas etc. Na maioria dos casos, essas organizações
coletivas agregam um conjunto grande de atividades individuais e familiares. Também
se pauta na autogestão: os participantes das organizações exercitam as práticas
participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e
cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos
graus e interesses, etc. Os apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de
capacitação e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos
verdadeiros sujeitos da ação. A dimensão econômica é uma das bases de motivação da
agregação de esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção,
beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de elementos
de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos
aspectos culturais, ambientais e sociais. A solidariedade mostra o caráter nos
empreendimentos é expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos
resultados alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades
e da melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio
ambiente saudável; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na
participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial,
regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de
caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e
consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.

Considerando essas características, a economia solidária aponta para uma nova


lógica de desenvolvimento sustentável com geração de trabalho e distribuição de renda,
mediante um crescimento econômico com proteção dos ecossistemas. Seus resultados
econômicos, políticos e culturais são compartilhados pelos participantes, sem distinção
de gênero, idade e raça. Implica na reversão da lógica capitalista ao se opor à
exploração do trabalho e dos recursos naturais, considerando o ser humano na sua
integralidade como sujeito e finalidade da atividade econômica. Respaldados pelo
Banco Palmas, várias famílias criaram empreendimentos locais que compõem a rede de
produtores do bairro. O banco comunitário tornou-se importante instrumento de política
pública da economia solidária porque constrói entidades que levam a superar ambos os
desafios. A finalidade do banco comunitário não é maximizar seu lucro, como fazem os
bancos capitalistas, mas fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade que o
criou e o utiliza. O Banco Comunitário é propriedade de moradores que vivem juntos no
mesmo bairro ou na mesma localidade. Eles não são apenas donos, mas sobretudo
usuários do seu banco e, por isso, não têm interesse que o excedente ou a sobra seja
máxima no fim do semestre ou ano, pois sabem que o custo dos serviços do banco para
os usuários é a fonte das suas sobras. Os bancos comunitários promovem em geral o
treinamento profissional de seus associados, não como propósito de torná-los mais
competitivos na disputa de empregos assalariados, mas para que possam juntos criar
empreendimentos de economia solidária e, dessa forma, alcançar o ganho pecuniário
almejado sem ter de se submeter à subordinação do emprego assalariado que, além do
mais, tende a ser precário, pois pode ser perdido tão logo o empregado deixe de ser
gerador de lucro satisfatório.

A pesquisa do NESOL com os clientes do Banco Palmas, descrita no livro “Banco


Palmas: resultados para o desenvolvimento comunitário e a inclusão financeira e
bancária”, revelou que seus empreendimentos em conjunto tinham 288 trabalhadores
associados, dos quais 83 haviam-se associado no último ano. Isso significa que os
empreendimentos de economia solidária no Grande Jangurussu ampliaram em cerca de
29% o total de seus sócios trabalhadores em um ano. Essa expansão do número de
membros da economia solidária é notável, comprovando que a ação do Banco Palmas
tem alta eficácia na promoção do desenvolvimento de suas comunidades. Essa elevada
eficácia nas ações em prol do desenvolvimento econômico das comunidades deve ser
atribuída em boa parte à emissão da moeda social, o Palmas.

O Banco Palmas não somente criou a moeda, mas conseguiu que ela fosse aceita
como dinheiro sonante pelo comércio do Conjunto Palmeiras e pelas comunidades
vizinhas, que oferecem desconto no preço das mercadorias quando a compra é paga em
Palmas. Esse acordo fez com que um volume acrescido de compras dos moradores
tenha se concentrado nas lojas, mercearias, quitandas etc. no Grande Jangurussu,
beneficiando não só o comércio, mas também as unidades de produção lá estabelecidas.
A economia dos clientes do Banco Palmas pode ser vista genericamente como
correspondente à economia popular: 52% deles têm negócio próprio, dos quais 95,2%
estão localizados no bairro.

Em 1998, era criado o primeiro Banco Comunitário de Desenvolvimento (BCD) e,


hoje, são mais de 90 espalhados por todo o Brasil. Coloca a solidariedade como
princípios organizador da economia social em lugar da competição, as pessoas se
ajudam, são solidárias uma com as outras, se unem e, com isto, ficam mais fortes. Com
isso, é notável a percepção de que a influência dos bancos comunitários no
fortalecimento da economia solidária tem duas vias: a economia solidária também é
aliada no processo de estruturação e consolidação dos bancos comunitários.
6. Referências Bibliográficas

SINGER, P. Introdução a Economia Solidária. 1 ed. São Paulo. Editora fundação


Perseu Abramo, 2002.

LIETAER, B. et al. Banco Palmas 15 anos: resistindo e inovando / Núcleo de


Economia Solidária –NESOL-USP e Instituto Palmas – São Paulo: A9 Editora,
2013

MARX, K Livro 3 Cap XXVII - O papel do crédito na economia capitalista

MORAES, E.; NOGUEIRA, A.; VIEIRA, R. Banco Grameen e Bancos


Comunitários de Desenvolvimento: Uma Análise Comparativa in Journal on
Innovation and Sustainability v. 6, n. 3, p. 127 – 139, São Paulo, 2015.

NASCIMENTO, Arilsom Martins do. Moeda Palma e o Desenvolvimento


Sustentável do Conjunto Palmeiras através da economia solidária. Dissertação
(Mestrado em Economia) – Curso de Pós-Graduação em Economia da Universidade
Federal do Ceará. Fortaleza. 2011.

TEODOSIO, A. S. S.; COMINI, G. Inclusive business and poverty: prospects in


the Brazilian context. São Paulo, v.47, n.3, p.410-421, jul./ago/set. 2012.

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