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1
Asistente Social. Maestría en Políticas Públicas. Profesora adjunta da Universidad de la Republica
Uruguay (UdelaR). E-mail: equis@adinet.com/laura.paulo@cienciassociales.edu.uy
2
Assistente Social. Doutora em Serviço Social. Professora do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC -SP).
Coordenadora geral da pesquisa. E-mail: raichelis@uol.com.br
3
Assistente Social. Doutora em Políticas Públicas. Professora Adjunta do Departamento de Serviço
Social da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: cleo.araujo.as@hotmail.com
4
Assistente Social. Doutora em Sociologia. Professora do Programa de Pós-Graduação em
Sociologia e dos Mestrados Profissional e Acadêmico em Avaliação de Políticas Públicas da
Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: albapcarvalho@gmail.com
LA CONVERGENCIA POR DIFUSIÓN DE PROGRAMAS DE TRANSFERENCIA DE
RENTA CONDICIONADA
Resumen
Abstract
The discursive focus on social exclusion and inclusion mushroomed, and was often
expressed as a problem of child poverty as UNICEF weighed into the debate. The
agency contributed to social learning via its detailed and comparative analyses of
countries‟ situations, both in the global South and increasingly in the rich nations.
(JENSON, 2010, p. 70).
1
Para el caso de Europa, este rol lo jugó principalmente la Organización para la Cooperación y el
Desarrollo Económicos (OECD) que argumentó a favor de la inversión social, en Europa y otras
partes del mundo.
[…] ideas about „adjustment with a human face‟ involved more a recalibration of the
neoliberal position than a full-blown alternative. Nonetheless, with their diffusion the
terms of debate and of engagement changed, within UN and other agencies and
within civil society. (JENSON, 2010, p. 68, grifo del autor).
Among economists and those familiar with markets, „investments‟ will always appear
in a more positive light than will other instruments, such as „emergency transfers‟. The
social investment perspective retains a supply-side focus, but adds the notion that
lack of access to services (including education) can hinder adequate supply.
(JENSON, 2010, p. 72, grifo do autor).
A wide range of epistemic communities have been able to deploy the notion because
it has the flexible qualities of a quasi-concept. It has scientific credentials but also a
common-sense meaning. Moreover, both the scientific and common-sense versions
are open to multiple meanings. Sometimes the focus has been on children, and their
parents‟ needs have been quite secondary. Other times, investing in children was
proposed as a way to help parents; getting them into the labour force or empowering
parents were the key objectives. Sometimes the best investments were human capital
expenditures and other times health and social justice or even gender equity came to
the fore. (JENSON, 2010, p. 74).
Para el caso de Bolsa Escola, se agrega que enfatizó más un enfoque de derechos
que el tema de las condicionalidades (más cercanas al pensamiento neo-liberal). Esto
facilitó trascender límites y pudo haber favorecido el mecanismo de trasvasamiento de
fronteras simbólicas. Derribadas esas fronteras, hubo mejores condiciones para convertirlo
en fuente de inspiración para el modelo a procesar hasta llegar a una versión estandarizada
de transferencias condicionadas, asimilable por gobiernos de diferentes ideologías.
Parte de la estandarización, ocurrió en la esfera pública internacional donde se
difundieron las bondades de la idea y los primeros resultados prometedores.
Simultáneamente, ese debate sobre los modelos locales, comenzó a formatear un tipo de
percepción del problema y de la solución, en los policymakers de otros países. El foro público
internacional contribuyó - entre otros - a consolidar un framing pasible de ser adoptado por
un amplio espectro de gobiernos. Fue fundamental la existencia de este foro público de
carácter abierto y centrado en asuntos de interés general. Las habilidades discursivas para
argumentar estos intereses generales, puede provocar procesos reflexivos en el auditorio y
eventualmente cambios de comportamiento respecto a cómo actuar frente a la temática
debatida.2 Así se ve facilitada la creación de consensos y estandarización de los modelos
originalmente con rasgos demasiado locales, que se expresan en adopciones reformuladas
de políticas públicas.
En el caso de los programas de transferencia de renta condicionada, el foro
público internacional operó para generar un framing que facilitó la difusión y adopción de esta
forma de intervención en lo social, luego de pasar por notorios procesos de certificación. La
producción de conocimiento a partir de la divulgación de resultados de
Progresa/Oportunidades y Bolsa Escola/Bolsa Família, captó la atención de hacedores de
política de otros países quienes - en muchos casos- realizaron viajes a Brasil y/o México para
conocer los detalles de la experiencia.
In Nicaragua, for instance, IADB staff and domestic policy-makers drew extensively
from Mexico‟s PROGRESA (Moore, 2009: 3). Since the establishment of
BolsaFamília in Brazil, the Ministry of Social Development has hosted many
international visitors wanting to learn about the operations of their program; some of
whom came to them with introductions from IFIs (V Sousa, interview, 2011, see note
9). Thus, international financial institutions appear to display multiple and overlapping
effects on diffusion; they help shape international norms and then reinforce them
through funding agreements. (SUGIYAMA, 2011, p. 264).
The first was in Mexico (May 2002), the second in Brazil (April 2004), followed by
Turkey (June 2006). Other meetings, including the „Latin American Meeting on
Conditional Cash Transfer Programmes (CCTs) from a Human Rights-Based
Approach‟, held in Costa Rica in November 2007, drew support from multiple
organizations, including the ILO, UNICEF, the UNDP and the Costa Rican
government. In addition to these policy- specific conferences, international meetings
on the Millennium Development Goals, child labor, education and health served as
opportunities for officials to learn about model programs such as PROGRESA and
Bolsa Família. (SUGIYAMA, 2011, p. 263).
2
De hecho, anteriormente se aludió al rol UNICEF ampliando el espacio político y encauzando la
polisémica noción de reforma con rostro humano. Fue esa tenacidad discursiva que tensionó la
concepción vigente y empujó a otras organizaciones a revisar su referencial y su accionar.
3
Disponible en:<http://www.ipc-undp.org/pt-br/sobre-o-ipc>.
originalmente instalado por un acuerdo entre el Programa de las Naciones Unidas para el
Desarrollo (PNUD) y el Gobierno de Brasil.
Major international figures, such as United Nations Secretary General Kofi Annan,
former President Bill Clinton and former World Bank President Paul Wolfensohn,
gave speeches that praised either Brazil‟s or Mexico‟s programs. During the „Dakar
World Education for All‟ forum in April 2000, Kofi Annan suggested that BolsaEscola
should be considered around the world (MissãoCriança, 2001: 7). By 2005, Paul
Wolfensohn said „BolsaFamília has already become a highly praised model of
effective social policy. Countries around the world are drawing lessons from Brazil‟s
experience and are trying to produce the same results for their own people‟ (World
Bank, 2005). These leading actors in the international community helped place CCTs
on the international agenda. (SUGIYAMA, 2011, p. 263).
REFERENCIAS
BASTAGLI, F. From social safety net to social policy?: the role of conditional cash transfers
in welfare state development in Latin America. In: SOCIAL POLICY IN A GLOBALIZING
WORLD: Developing a North-South Dialogue, Italia, 2009. Anais… Italia: UNDP/IPC-IG,
2009.
JENSON, J. Diffusing Ideas for After Neoliberalism The Social Investment Perspective in
Europe and Latin America. Global Social Policy, [S. l.], v. 10, n. 1, p. 59-84, 2010.
Raquel Raichelis
Maria Carmelita Yazbek
Resumo
Abstract
1
Com o mesmo escopo e agregada a esta pesquisa de abrangência nacional, está em
desenvolvimento um projeto especifico financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do
Estado do Maranhão (FAPEMA), com o titulo: Avaliando a implementação do Sistema Único de
Assistência Social na região norte e nordeste: significado do SUAS para o enfrentamento à
pobreza nas regiões mais pobres do Brasil. Coordenado pela Profa. Dra. Maria Ozanira da
Silva e Silva (UFMA), a pesquisa reúne professores, doutorandos, mestrandos e bolsistas de
iniciação cientifica dos seguintes programas: PPGPP/UFMA; Programa de Pós-Graduação em
Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC); Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Universidade Estadual do Ceará (UECE); e Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O projeto está sendo conduzido por uma equipe constituída de
professores/as e alunos/as de mestrado, doutorado e bolsistas de iniciação científica
dos Programas de Pós-Graduação anteriormente especificados, integrantes dos
Grupos/Núcleos de Pesquisa, todos cadastrados no diretório de pesquisa do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ): Núcleo de Estudos e
Pesquisas Trabalho e Profissão2; Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Identidade3;
Grupo de Avaliação e Estudo da Pobreza e de Políticas Direcionadas à Pobreza
(GAEPP) do PPGPP/UFMA4; e Núcleo de Estudos e Pesquisa em Políticas e Economia
Social (NEPE)5 do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC/RS.
Apesar da significativa produção bibliográfica sobre a Politica de Assistência
Social é possível constatar uma lacuna quanto à realização de pesquisas de âmbito
nacional, que busquem captar a diversidade e heterogeneidade regionais por meio de
amplo levantamento empírico, em distintas dimensões como as integrantes deste
projeto. Nesses termos, a presente pesquisa ganha relevância pois pretende atualizar
investigação anterior realizada pelas equipes participantes 6, que analisou o SUAS em
seu período inicial de implantação, razão pela qual o estudo pretende cobrir seu
desenvolvimento posterior.
2
Coordenado pela Profa. Dra. Raquel Raichelis, proponente e coordenadora geral da pesquisa,
volta-se para estudos e pesquisas sobre as transformações contemporâneas do trabalho, do
Estado e das políticas públicas e suas incidências no trabalho profissional no âmbito das
políticas sociais, sendo composto por docentes, pesquisadores associados, pós-doutorandos e
alunos de mestrado e doutorado do PEPG em Serviço Social da PUC/SP.
3
Coordenado pela Profa. Dra. Maria Lúcia Martinelli, centra seus estudos teóricos nas a ções
profissionais cotidianas, priorizando as mediações culturais e socioeducativas, e o trabalho de
pesquisa com metodologias a partir do uso da fonte oral, na sua interação com demais fontes e
mídias, sendo composto por docentes, pesquisadores associados, pós-doutorandos e alunos
de mestrado e doutorado do PEPG em Serviço Social da PUC/SP.
4
Fundado em 1996 e coordenado pela Profa. Dra. Maria Ozanira da Silva e Silva, é um grupo
interdisciplinar que congrega professores de diversos Departamentos Acadêmic os e alunos de
graduação e de pós-graduação da UFMA. É vinculado ao Departamento de Serviço Social,
articulado ao PPGPP. Os temas relevantes para estudos do GAEPP são: pobreza e políticas
públicas direcionadas à pobreza; trabalho e políticas de geração de emprego e renda;
programas de transferência de renda; políticas sociais, com especial ênfase à política de
assistência social e metodologia de análise e avaliação de políticas públicas.
5
O NEPES foi criado em 2003, sendo composto por dois grupos de pesquisa: Grupo de
Pesquisa em Proteção Social e Direitos Sociais e Grupo de Pesquisa em Economia do Bem-
Estar Social. Este último, que integra o presente projeto, é coordenado pela Profa. Dra.
Berenice Rojas Couto, congregando professores, pesquisadores, mestrando e doutorandos do
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC/RS, voltado para estudos, pesquisas e
proposição de alternativas de políticas para o enfrentamento das expressões da questão social,
cujo enfoque principal está na análise da assimetria resultante do crescimento econômico.
6
Os três programas de pós-graduação, com a participação das três coordenadoras da
presente proposta e outros pesquisadores, realizaram, com muito êxito, uma investigação
nacional no âmbito do Edital PROCAD no 01/2005. Como resultados dessa pesquisa, além de
muitas outras produções, merece destaque o livro O Sistema Único de Assistência Social no
Brasil: uma realidade em movimento, publicado pela Cortez Editora de São Paulo em 2010,
encontrando-se com uma 5ª edição no prelo, além de várias reimpressões das edições
anteriores.
Para composição do espaço geográfico do estudo empírico foram
selecionados 7 Estados e o Distrito Federal, representativos de cada Região do país:
norte (Pará); nordeste (Maranhão e Ceará); centro-oeste (Brasília); sudeste (São Paulo
e Minas Gerais); sul (Rio Grande do Sul e Paraná). Em cada um dos Estados foram
selecionados 06 municípios de diferentes portes populacionais e outros critérios que
garantam diversidade da amostra, totalizando 42 municípios, mais o Distrito Federal,
onde estão sendo pesquisados 63 CRAS, 8 CREAS e 8 Centros POP.
Os procedimentos de pesquisa abrangem ampla revisão bibliográfica e
documental sobre a Política de Assistência Social no Brasil, bem como a realização de
grupos focais com técnicos e usuários; entrevistas semi-estruturadas com os
responsáveis pela gestão da politica de assistência social em cada nível de governo
(municipal, estadual/ distrital, federal) e com conselheiros do conselho municipal de
assistência social; e observação sistemática in loco com visitas às diferentes unidades
de operação do SUAS em cada município.
[…] quando vai saindo da lógica de Programa, que você apresenta o mérito e a
prefeitura ganha e passa a ter critérios claros, com aceites abertos, o município
vai lá e se candidata, sem interferência nem ingerência política, para ele ter
acesso ou não, desde que ele estivesse dentro dos critérios. (Informação
7
verbal) .
7
Ieda Cruz, entrevista realizada em 7 de fevereiro de 2017.
administração passada fez um belíssimo trabalho e um enorme esforço para dar
8
essa capilaridade. (Informação verbal) .
8
Maria do Carmo Brant, entrevista realizada em 16 de fevereiro de 2017.
IV. CONSIDERAÇÕES INCONCLUSAS
REFERÊNCIAS
Resumo
Abstract
1
A pesquisa Avaliando a implementação do Sistema Único de Assistência Social na Região
Norte e Nordeste: significado do SUAS para o enfrentamento à pobreza nas regiões mais
pobres do Brasil realizada pelos pesquisadores do Grupo de Avaliação e Estudos da Porebza e
de Políticas Direcionadas à Pobreza (GAEPP) vinculados a Universidade Federal do Maranhão
(UFMA). Se volta para a análise do Processo de Implementação da PAS/ Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) nas regiões Norte e Nordeste, a partir de uma amostra intencional,
em municípios dos estados do Maranhão, Ceará e Pará, buscando verificar como está sendo
feita a implementação do SUAS no âmbito dos Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS), dos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e dos Centros
de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros POP), nos municípios
selecionados. Foram elaborados critérios para escolha dos municípios e a amostra toma por
base estes critérios. Desse modo, foram selecionados 06 municípios de cada Estado, incluindo
as capitais, totalizando, portanto, 18 municípios nos 03 Estados. O presente artigo se propõe a
apresentar alguns resultados dessa pesquisa, no Estado do Maranhão, considerando os
municípios de São Luís (capital), Barreirinhas, Açailândia e Davinópolis, cujos relatórios de
pesquisa encontram-se finalizados. Os relatórios dos outros dois municípios pesquisados, no
Estado, estão em processo de elaboração. Ressaltamos, ainda, que a pesquisa de campo foi
realizada nos 06 (seis) municípios maranhenses no ano de 2016.
Destaca-se, ainda, no sistema de proteção social brasileiro o controle sobre
os movimentos sociais no sentido de inibir a constituição de sujeitos organizados que
politizam suas necessidades sociais no espaço público. Em decorrência direitos foram
inscritos no campo das concessões e a cidadania estratificada a partir da inserção no
sistema produtivo, de forma que eram considerados não cidadãos os trabalhadores
pobres, sobretudo aqueles que desenvolviam atividades não reconhecidas pela
legislação trabalhista. O sistema de proteção social brasileiro se desenvolveu, portanto,
com traços paternalistas, conservadores, configurando-se insuficiente, incompleto ou
até mesmo perverso, demonstrando as debilidades e fragilidades tanto do processo
econômico, quanto organizativo, marcado pela cultura do autoritarismo e do favor na
medida em que a relação entre a sociedade e a burocracia estatal era fortemente
mediada pelo clientelismo presente até os dias atuais na sociedade brasileira.
Pode-se afirmar, portanto, que a intervenção social no Brasil emerge e se
consolida com uma baixa perspectiva de inclusão social, dissociada da lógica do direito
e forte caráter assistencialista-filantrópico e clientelista. Desse modo, apesar dos
avanços em certos indicadores sociais como expectativa de vida ou mortalidade infantil,
verificou-se que este padrão de intervenção social pouco contribuiu em termos mais
gerais para superação dos níveis de desigualdade no país e melhoria das graves
condições de vida e trabalho da maioria da população.
A consolidação da proteção social do Estado, a partir da década de 1930,
privilegiou a regulação do trabalho formal, referenciada na lógica do sistema
bismarkiano, via constituição de caixas de seguro social, organizadas por setor
econômico, financiadas e geridas por empregados, empregadores e pelo Estado,
visando proteger os trabalhadores e seus familiares de certos riscos e contingências
coletivas. Essa forma de enfrentamento da questão social deixava de fora amplos
segmentos populacionais que não eram participantes do mercado formal de trabalho.
Enquanto isso, a proteção social a essas populações vulneráveis e excluídas do
mercado de trabalho assalariado era viabilizada pela assistência social como ação
privilegiada no trato “[…] compensatório e filantrópico da pobreza” conforme assevera
Teixeira (2007, p. 51).
A assistência social constituía uma ação paralela ao sistema de seguros.
Sua relação histórica com a filantropia não sofre rupturas ao ser assumida pelo Estado
que passa a regular essa relação dando seguimento a lógica de gestão filantrópica da
pobreza mediante ações configuradas como ajuda, vinculadas ao mérito da carência.
Ademais, essa lógica de gestão se ancorava num vasto esquema de instituições
privadas com repasse de financiamento público, evidenciando um traço específico da
proteção social brasileira que é a estreita vinculação público e privado nas provisões
sociais. Emerge então uma rede de ajuda e assistência aos pobres, pautada no enfoque
caritativo e na benemerência praticamente dissociadas das ações de regulação do
Estado e da responsabilidade pública.
Na década de 1980 foram efetuadas amplas reformulações nas diferentes
áreas das Políticas Sociais, com alterações significativas na forma de organização do
padrão de intervenção social brasileiro. Uma agenda de reformas de cunho
progressista foi impulsionada, de um lado, pelo movimento politico de redemocratização
do país, em torno do qual amplos setores sociais se articularam e reorganizaram
demandas sociais reprimidas desde a instalação do regime militar. De outro lado, a
crise do modelo econômico se explicitava, expondo os seus limites no que se refere
à dinâmica de inclusão dos setores mais empobrecidos contribuindo para a
legitimação de um novo projeto social a ser incorporado na agenda constituinte.
Assim, a Constituição Federal (CF) de 1988 expressa os ideais
universalistas articulados a uma ideia ampliada de cidadania, em busca da expansão da
cobertura de políticas sociais no que diz respeito ao usufruto de bens e serviços
socialmente produzidos, garantias de renda e equalização de oportunidades na
perspectiva de superar um sistema excludente e não distributivo marcado pelo
autofinanciamento buscando assim ampliar à noção de Proteção Social. (BRASIL,
1988). Desse modo, o Sistema de Proteção Social brasileiro ganha contornos
diferenciados (pelo menos no aspecto formal-legal) mediante a introdução de
dispositivos de cunho democrático, buscando alterar o princípio organizativo, até então
vigente, que era fundado no mérito individual e no status ocupacional de caráter
excludente e segmentador, por outro, orientado pela lógica da universalização vinculada
à ideia de cidadania universal e, portanto, de direitos inscritos num código de
pertencimento à nação, inserindo a noção de direitos sociais e de responsabilidade
pública a partir da instituição da Seguridade Social composta por um tripé de
composição mista (securitária/universal) integrando a Previdência: política contributiva;
a Saúde: política universal; e a Assistência Social: política não contributiva direcionada
a quem dela necessitar.
É essa concepção de proteção social e os pressupostos subjacentes na
Carta de 1988 que vai se expressar na PAS a partir da Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS – Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993) e da sua inserção no campo
da Seguridade Social. Desse modo, a partir da Seguridade Social,
A Assistência Social passa a ser enfatizada, não como um mecanismo de
enfrentamento moral das desigualdades sociais, nem como solução para
combater a pobreza. Ao contrário, em sua dimensão imediata, ela é vista como
espaço de resposta às necessidades e aos carecimentos de segmentos sociais
de trabalhadores os quais não vêm tendo respeitadas as suas condições de
cidadania plena. Mas, ainda nessa mesma perspectiva ela é, e pode se
constituir em possível espaço de ampliação da consciência das contradições
sociais tendo como horizonte a emancipação social e humana. (BATTINI, 2007,
p. 11).
[...] tem a tarefa de trazer para a arena política as demandas de grande parcela
da população brasileira e o faz na condição de direito social, desmercadorizável
e universal. Reconhece que há necessidade de um pacto social, onde os direitos
da população mais pobre devam ser garantidos, que o Estado deva ter primazia
na condução dessa política e que haja um compartilhamento das decisões a
serem tomadas entre sociedade civil e Estado.
2
Nos 04 (quatro) municípios pesquisados foram realizados: 04 entrevistas com gestores, 17
(dezessete) grupos focais com a participação de 53 técnicos, 76 usuários e 16 conselheiros,
totalizando 149 participantes.
âmbito municipal o que se reflete na estrutura precarizada do SUAS e, principalmente,
na distribuição insuficiente dos recursos e, em decorrência, dos serviços.
Dentre as gestoras e técnicas(os) participantes, a maioria demonstra
conhecer a PAS e a forma de gestão através do SUAS como sistema afiançador de
direitos. Contudo, o conhecimento se restringe aos enunciados e normas regulatórias.
Foram poucos os sujeitos que se destacaram pela reflexão crítica dos impasses na
execução da política de proteção social em meio a um sistema de produção que gera
riscos e vulnerabilidades de forma permanente, ou seja, a partir da sistematização das
reflexões das suas intervenções, estudos e discussões que participam. No geral,
constatamos entre gestoras e técnicas(os) dificuldade em compreender a PAS no
contexto da Seguridade Social, as tensões e contradições enfrentadas por essa Política
para assegurar direitos em uma conjuntura adversa, de prevalência de programas
reducionistas, da continuidade do ranço assistencialista, da escassez de recursos e da
dificuldade na garantia de direitos sociais.
Parte significativa dos participantes demonstra o não reconhecimento da
Assistência Social como direito, sobretudo, os(as) usuários(as) entre os(as) quais
predomina a compreensão da Assistência Social como ajuda reiterando a histórica
lógica do favor e da gratidão (cultura assistencialista). Além disso, muitos(as)
usuários(as) também associam a PAS ao CRAS, aos serviços e algumas ações
específicas, o que também denota conhecimento restrito.
Depoimentos de técnicos apontam que a troca de favores no contexto da
implementação da política ainda é uma prática rotineira da qual os próprios políticos se
aproveitam. Constatamos também que parte significativa de gestores e técnicos
expressam entendimento confuso sobre a PAS e o SUAS como direito, demonstrando
as vezes um conhecimento genérico, pouco consistente, impregnado de pré-
concepções. Verificamos a necessidade de debates e reflexões críticas sobre os
conceitos que fundamentam a PAS a exemplo de pobreza, território e família no sentido
de confrontar esses conceitos com a compreensão de gestores e técnicas(os), em
geral, eivadas de estigmas que se reproduzem na relação com os(as) usuários(as), sob
a forma de julgamentos sociais e morais que comprometem a concepção do(da)
usuário(a) como inserido(a) em um contexto sócio-histórico de desigualdades e
injustiças sociais que inviabilizam sua visão enquanto sujeito de direitos.
Os depoimentos evidenciam ainda que a maioria dos conselheiros também
não demonstra protagonismo que expresse conhecimento da Política Municipal de
Assistência Social (implementação), embora alguns a entendam como direito, em
especial os conselheiros da capital, São Luís, que demonstraram ter mais conhecimento
sobre a PAS. Contudo foi expressiva a fragilidade na participação da sociedade civil,
que, no geral, mantém uma relação de subalternidade em relação ao poder público,
bem como a dificuldade de estratégias de viabilização da participação dos usuários
restrita a uma formalidade burocrática no âmbito dos Conselhos ante a ausência de
conhecimento sobre a Política e a inexistência de embates entre os diferentes
segmentos que compõem o Conselho. Sendo o Conselho um espaço político composto
por diferentes sujeitos com racionalidades, concepções e propostas divergentes as
dissenções deveriam fazer parte. Os conselheiros apontaram a responsabilidade e a
dimensão de envolvimento que o controle exige e as condições concretas para sua
efetivação. Isto evidencia uma questão nodal: a estruturação das instâncias de controle
como exigência formal burocrática, uma vez que o controle efetivamente não ocorre.
Outra questão refere-se às relações políticas, considerando-se que os
Conselhos são espaços de embate, de dissenções e de poder. A presença do gestor
(em geral, membro e dirigente dos Conselho Municipal de Assistência Social - CMAS)
tende a inibir confrontos e questionamentos tanto por parte de conselheiros da
sociedade civil quanto do poder público.
No que se refere à compreensão sobre a Implementação do SUAS, parte
dos gestores e técnicas(os) destacou que com o SUAS houve melhor apreensão do que
é a PAS, em termos da definição das suas atribuições e competências. Todavia, há o
reconhecimento de que a PAS não vem sendo executada plenamente de acordo com
as determinações do SUAS. Os entrevistados disseram que há uma organização da
PAS no formato do SUAS apenas no plano formal, mas, não se materializa no âmbito
dos municípios.
A pesquisa também mostrou que a inserção e alocação dos trabalhadores do
SUAS ainda se faz em condições precárias – vínculos instáveis, poucos trabalhadores
concursados, salários baixos, inexistência de Plano de Cargos, Carreiras e Salários
(PCCS) em observância a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência
Social (NOB/SUAS)/2006 (BRASIL, 2006). O número de profissionais é insuficiente para
desenvolver as ações compatíveis com o desenho da Política. Ademais, também foram
pontuadas outras dificuldades que também rebatem no trabalho, como, por exemplo: as
estruturas físicas dos equipamentos onde funcionam as ações da política; o tempo de
horas de trabalho que a equipe técnica disponibiliza para a execução das ações; a
concentração do trabalho dos técnicos em dias ou horários previamente definidos –
desconsiderando as demandas dos territórios; a precarização das relações de trabalho
dos trabalhadores e trabalhadoras do SUAS; a ausência ou insuficiência de
equipamentos (computador, impressora;) e a ausência ou insuficiência de internet,
telefone, carro, combustível, etc.
Os trabalhadores e trabalhadoras situados no campo da Assistência Social
ainda que busquem balizar suas ações de acordo com as normativas da Política,
confrontam-se com vieses como o clientelismo, o patrimonialismo, o paternalismo, o
mandonismo, a apropriação privada da coisa pública, o que se reflete em Benefícios a
exemplo dos eventuais, amplamente utilizados por prefeitos, gestores, primeiras damas
e lideranças políticas para fins eleitoreiros, numa visível reiteração dos traços históricos
definidores da cultura conservadora e privatista brasileira e que se contrapõem à
concepção de democracia, de cidadania e de direito. A maioria dos técnicos expressa a
discrepância entre a arquitetura do SUAS e sua operacionalização e o esforço
despendido para superar os obstáculos presentes no cotidiano da política.
Além disso, enfatizamos que esse conjunto de fatores estruturais e
conjunturais, aliados à frágil apreensão dos conteúdos teóricos, conceituais e mesmo
metodológicos do trabalho que a PAS e o SUAS preconizam, tem rebatimentos,
sobretudo no trabalho da equipe técnica e das(dos) e gestoras(es). Destaca-se que a
limitada compreensão crítica sobre as bases materiais fundantes da sociedade
capitalista se expressam na percepção desses sujeitos. Desse modo, o trabalho
socioassistencial planejado e desenvolvido se volta para ações que tem o caráter mais
de disciplinamento e moralização dos trabalhadores pobres e quase ou nenhum
enfoque político pedagógico e organizativo, ou seja, são ações que reiteram a condição
de subalternidade dos sujeitos demandatários da Política.
III. CONCLUSÃO
BATTINI, O. (Org.). SUAS: Sistema Único Assistência Social em debate. São Paulo:
Editora Veras, 2007.
Resumo
Abstract
1
Neste momento da vida brasileira, ao longo de 2016 e 2017, marcado por crises, turbulências,
desmontes de direitos e de políticas públicas, a colocar em questão a democracia brasileira,
compartilho a perspectiva analítica que sustenta o desenrolar de um Golpe de Estado, com a
utilização ilegítima da alternativa constitucional do impeachment para usurpar a Presidência da
República. A rigor, tem-se em curso um Golpe que, por meio de dispositivos legais e
instrumentalizados por parlamentares, juízes e por oligarquias empresariais e financeiras,
efetivaram a deposição da Presidente Dilma Rousseff, conseguindo que o Congresso forjasse e
aceitasse acusações sem o devido respaldo jurídico. Nessa perspectiva, várias obras têm sido
publicadas, sustentando esta tese do Golpe de Estado. Dentre estas obras, eminentemente
contemporâneas, publicadas em 2016, destaco: Por que Gritamos Golpe? - Para entender o
impeachment e a crise política no Brasil da Boitempo; A Radiografia do Golpe de Jessé de Sousa,
da Leya e O Golpe 16 da Fórum e Publisher.
2
Em análises desenvolvidas por Carvalho e Guerra (2015, 2016) são demarcados distintos ciclos de
ajuste, nos percursos brasileiros, na implementação do modelo rentista-neoextrativista, quais sejam:
ciclo de estabilização da economia (governos Collor/Itamar Franco e era FHC); ciclo de
consolidação das políticas de ajuste e reconstituição do mercado interno de consumo de massas
(primeiro Governo Lula e parte do segundo); ciclo de articulação das políticas de ajuste e
neodesenvolvimento (dois últimos anos do segundo Governo Lula; primeiro governo Dilma
Roussef); ciclo do enfrentamento da crise via ajuste fiscal (segundo governo Dilma Roussef,
interrompido pelo Impeachment). Hoje, cabe avançar nesta categorização, em um quinto ciclo, nos
marcos da intensificação das políticas neoliberais e da (des) proteção social (Governo Temer). E, a
história está em aberto!...
redobrada do Brasil, nos circuitos do capitalismo financeirizado, na instigante síntese de
Leda Paulani (2012).
A crise contemporânea brasileira, de fato, é o esgotamento deste modelo
rentista-neoextrativista, na perspectiva assumida pelos governos petistas de um pacto
conciliatório de classes. Concretamente, este pacto materializou-se, por um lado, no apoio
irrestrito aos interesses do capital, em suas composições orgânicas, notadamente o capital
rentista com o capital do neoextrativismo e, por outro lado, na inserção pontual dos
segmentos populares via políticas de enfrentamento à pobreza, alterando o próprio tecido
social brasileiro, com a ascensão de segmentos dos setores populares pela via do consumo.
É o chamado modelo de ajuste petista em que todos ganham, claro, ganham de forma
extremamente desigual, mas todos ganham. Este modelo esgotou-se em um contexto
internacional desfavorável, fechando um ciclo de ajuste. E as elites burguesas articulam,
dentro e fora do parlamento, uma ruptura do pacto conciliatório de classes, empreendendo
um Golpe de Estado. É preciso atentar que são as elites que efetivam a ruptura do pacto e
não as esquerdas. É um contexto de crise econômica e política, a propiciar as tessituras do
Golpe de Estado em 2016.
A rigor, emerge e constitui-se, na vida brasileira, um Golpe com configurações
contemporâneas peculiares, constituindo uma estratégia das forças de direita, no interior da
América Latina, assemelhando-se aos Golpe de Honduras, em 2009 e do Paraguai, em
2012. Em verdade, é um Golpeachment3, com a imposição de uma nova configuração de
Estado, de caráter conservador e autoritário, com um crescente fechamento democrático. É
um Estado submetido aos interesses do financismo, nos marcos de uma exarcebação do
neoliberalismo, com um amplo retrocesso no campo dos direitos sociais e trabalhistas que
remontam a um Brasil de 80 anos atrás, um Brasil pré-Vargas.
De fato, o Golpe 164, em um perverso crescendo, vem aprofundando uma
política de espoliação de direitos, das riquezas nacionais, do fundo público, das políticas
públicas, intensificando a superexploração da força de trabalho no Brasil. (BRAGA, 2016).
De forma inconteste, em 2016-2017, estamos vivendo um tempo de radicalização
conservadora, A rigor, vivenciamos, neste Brasil do presente, um momento singular da luta
de classes. Estamos imersos em um momento de confronto de interesses das forças
vinculadas ao capital e ao trabalho. Ruy Braga (2017, p. 1) sustenta a tese da “guerra de
classes”, afirmando: “Não há dúvidas de que adentramos uma quadra histórica marcada
pela guerra da burguesia contra o povo pobre e trabalhador”. Em verdade, o tempo histórico
3
Golpeachment é um neologismo propugnado por Paulo Kliass, em seu artigo Temer e o Financismo,
publicado na Carta Maior, em 2017.
4
É esta uma expressão cunhada em livro das edições Fórum e Publisher, intitulado, justamente,
Golpe 16.
é de avanço das forças do capital, em uma forte ofensiva, com as classes trabalhadoras na
defensiva.
Com efeito, o Golpe de 2016 encarna, de forma nítida, o projeto das classes
burguesas, vinculadas aos diferentes segmentos do capital, sobremodo o capital financeiro,
no sentido de recuperar e manter, em tempos de crise, as taxas de lucro e de acumulação,
por meio de uma dupla estratégia: intensificação da superexploração da força de trabalho5;
assalto aos fundos públicos, com deslocamento de bilhões das políticas de proteção social,
sobretudo da educação e da saúde, para os cofres do capital6. Do lado dos interesses do
trabalho, segmentos do campo democrático e das esquerdas vem construindo resistências
neste confronto de forças. Não tivemos acúmulo de forças para barrar o Golpeachement e a
série de golpes daí decorrentes que vem se dando em ritmo avassalador. Em 2017, em
meio ao desmonte das leis trabalhistas e à Reforma da Previdência, estamos a deflagrar um
novo ciclo de lutas, a expressar-se em mobilizações de rua que crescem e se avolumam
(WEISSHEIMER, 2017), já impondo recuos às contrarreformas do governo golpista. É um
crescendo em mobilizações de rua, que, neste contexto-limite, afirmam-se como a forma
estratégica de exercício do controle social, capaz de interferir nesta arquitetura de
desmontes e espoliações. (CARVALHO, 2017a).
É inegável que, estamos imersos em um momento peculiar da luta de classes no
Brasil que não sabemos, exatamente, os desdobramentos e o desfecho. Temos
possibilidades, e tendências a desenharem possíveis cenários para o segundo semestre de
2017 e para 2018. No entanto, a imprevisibilidade é a marca deste tempo histórico na
contemporaneidade brasileira.
7
Um aporte reflexivo sobre a crise brasileira contemporânea vem sendo trabalhado por Alba Maria
Pinho de Carvalho, em suas produções de 2016 e 2017, considerando especificamente seus textos-
base de conferências, com destaque, os anos de 2016, 2017a, 2017b e 2017c.
mídia global difunde o pensamento golpista, no interior do qual tudo se justifica em nome do
ajuste, do crescimento, da modernidade. São usadas todas as estratégias midiáticas, desde
a espetacularização de determinados fatos e notícias até os pseudodebates com
especialistas de uma única visão. É o poder midiático a instituir o mundo da pós-verdade, a
trabalhar com as emoções, através de um jogo em que os fatos efetivos e reais não contam;
o que conta são as ideias que se lançam, que podem ser falsas e, muitas vezes o são, mas
despertam as emoções, mediante mecanismos que não tem a ver com a convicção política,
mas com a persuasão. A pós-verdade não precisa da razão, jogando com as emoções e
não com os fatos. (SANTOS, 2017).
E, assim, em meio a pactos forjados na corrupção e na pós-verdade, a
arquitetura do golpe vai articulando, como peças de um quebra cabeça, o desmonte da
proteção social brasileira, impondo reformas constitucionais que desestruturam a lógica de
afirmação de direitos, estruturante da Constituição de 1988. E tudo se justifica como vias de
saída da crise, como passaporte à modernidade que os tempos exigem. (CARVALHO,
2017c).
Inegavelmente, o golpe vai se aprofundando nas medidas e contrarreformas do
Governo Temer que tem, como projeto, destruir, em dois anos - 2016/2017 – de uma só vez,
três pactos construídos ao longo dos últimos 80 anos: o pacto da Constituição de 1988,
representado pelos serviços públicos universais; o pacto lulista, materializado nos
programas sociais; o pacto varguista, com suas garantias trabalhistas e previdenciárias.
(BOULOS, 2017). E, e os golpes dentro do golpe continuam, com graves desdobramentos,
colocando a democracia brasileira à risco. Como avalia Naomi Klein (2016, p. 5), “[...] há um
profundo ataque à democracia brasileira acontecendo”. E, a autora, com base em suas
teses, na obra Doutrina do Choque, sustenta que esta saída da crise pela via do
neoliberalismo não veio para resolver as causas das crises, mas, apenas para impor
políticas que enriquecem as elites e causam mais crises.
8
É fundamental discutir criticamente e desvendar as chamadas políticas de austeridade ironicamente,
denominadas políticas de austericídio, que, na verdade, são políticas de desmanche de direitos
trabalhistas, direitos previdenciários e direitos sociais, preservando, acima de tudo, as taxas de lucro
dos segmentos do capital, sobremodo o capital rentista. É preciso atentar que as ditas políticas de
austeridade não tocam os interesses do capital; pelo contrário, preservam e garantem estes
interesses no âmbito do Estado.
9
Trata-se do Programa do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) lançado, ao Brasil,
em 29 de outubro de 2015, intitulado Uma Ponte para o Futuro que circunscreve uma proposta de
radicalização do neoliberalismo, como via de saída da crise e da retomada do crescimento. Este
documento é considerado o programa do governo de Michel Temer. (FUNDAÇÃO ULYSSES
GUIMARÃES, 2015).
Com efeito, o Golpe 16 constitui-se a maneira de implementar uma agenda de
mudanças bem mais radicais, em atendimento às exigência contemporâneas do capital,
buscando consolidar o que David Harvey (2016) chama de política de acumulação por
espoliação, com ataques sistemáticos a direitos trabalhistas e previdenciários, direitos
sociais e, desse modo, desmontando a cidadania e a seguridade social por diferentes vias.
A rigor, Harvey (2016 apud BRAGA, 2017, p.3) “[...] logrou alcançar uma compreensão das
formas de acumulação por espoliação social, capaz de colocar, em um primeiro plano, as
políticas de austeridade, propostas aos diferentes países pelas forças do mercado
mundial”10. Logo, a limitação ou mesmo a eliminação de direitos conquistados pelos
trabalhadores amplia a espoliação racionalizada por trás das chamadas políticas de
austeridade e, fez-se necessário, como corolário das políticas de austeridade, a imposição
da racionalização da violência política monopolizada pelo Estado Nacional. (BRAGA, 2016).
De fato, cada dia fica mais evidente que, em meio à Democracia formal e/ou oficial,
predomina um Estado de Exceção em que direitos são desmontados, liberdades são
atingidas. Tudo pode acontecer e ser oficialmente aprovado. Um Congresso reacionário e
corrupto, a constituir a base de governo, costurada em acordos espúrios e conchavos, a
votar em bloco e a evidente cumplicidade do Judiciário com a ruptura democrática, permite
ao governo golpista, em composições orgânicas com os setores do capital, desmontar a
Constituição de 1988, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), marcos regulatórias,
políticas públicas, em ritmo intensivo. E, este Estado de Exceção na cena brasileira do
Golpe 16, utiliza, com a competência dos usurpadores, a dupla dimensão da atuação
estatal: força e repressão para conter os que se rebelam e resistem; consenso na busca de
ganhar a adesão da população no âmbito de um governo ilegítimo, com baixíssima
popularidade, fundado no reino da pós-verdade.
10
David Harvey (2016, p. 60), em seu programa de reconstruir a teoria de Marx à luz das
contradições capitalistas contemporâneas, circunscreve uma via analítica fecunda ao afirmar que
“[...] no centro daquilo que define fundamentalmente o capitalismo existe uma economia baseada na
espoliação”. Assim, delineia, como uma forma de acumulação deste tempo histórico de crise, a
acumulação por espoliação social, consubstanciada, inclusive, nas chamadas políticas de
austeridade.
pobreza, desmontando o processo de ascensão social, conquistado pelos programas de
enfrentamento à pobreza dos governos petistas! É justamente neste contexto de regressão
social, a atingir violentamente os pobres, que se impõe a discussão do desmonte da Política
de Assistência Social, no âmbito da Seguridade Social. Para bem avaliar o espectro de tal
desmonte, cabe demarcar que, nos governos petistas, a Política de Assistência Social foi
uma das que mais encarnou avanços e conquistas em suas configurações institucionais e
efetivas, com a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em 2005, e,
oficialmente reconhecido em 2011, mediante o sancionamento da Lei 12.435, de 6 de julho
de 2011.
A rigor, ao longo dos anos, a partir da publicação da Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS), em 1993, vem se constituindo o chamado Sistema Público de Assistência
Social, como proteção social não-contributiva no campo dos direitos, em um modelo de
abrangência nacional, com responsabilidades compartilhadas entre os entes federados,
organizado de modo descentralizado e participativo, a partir das dinâmicas sociais de cada
território. Em seus primeiros dez anos, o SUAS ganhou imensa capilaridade, com presença
nos 5.565 municípios brasileiros e no Distrito Federal, acessível a trinta milhões de famílias.
(CASTRO, 2017). E, a expectativa era de continuar avançando... Em 2015, o Ciclo de
Conferências de Assistência Social em todo o país, a culminar com a X Conferência
Nacional de Assistência Social, assumiu como temática Consolidar o SUAS de vez, rumo a
2026. Desde os municípios, o processo conferencial mobilizou mais de um milhão de
pessoas, a debater o SUAS que temos e o SUAS que queremos.
De forma inconteste, o Golpe de 2016 constituiu um ponto de inflexão na
consolidação do SUAS, interrompendo, de forma brusca e autoritária, o processo de
avanços da Política de Assistência Social na contemporaneidade brasileira. São desmontes
em curso, comprometendo o Sistema de Proteção Social Pública, assim configurados por
Ieda Castro (2017), Secretaria Nacional de Assistência Social quando do golpecheament:
restringe a abrangência da Previdência Social Pública (cobertura e valores dos benefícios;
reduz a base de financiamento da Seguridade Social, na medida em que transforma as
contribuições sociais em impostos; cria alternativas para o trabalho não-protegido; restringe
a abrangência de benefícios socioassistenciais; restabelece o poder federal centralizado,
atropelando o pacto federativo. E, Castro, em uma cartografia do desmonte, aponta sinais
de inflexão nos conceitos, na gestão da Assistência Social Pública e no financiamento
público. Neste sentido, cabe destacar: o subfinanciamento do SUAS; o contingenciamento
de 30% no orçamento da Assistência Social; mudança nas regras do co-financiamento
federal, adotando-se o critério da meritocracia para as transferências dos recursos federais
aos municípios, agora, condicionadas ao bom desempenho das gestões municipais; retorno
de emendas parlamentares carimbadas para entidades filantrópicas. Em verdade, é uma
regressão de décadas, desmontando avanços e conquistas!...
Ademais, há de se considerar as graves mudanças regressivas no Benefício de
Prestação Continuada (BPC), tanto no que refere à redução do número de beneficiários,
quanto ao valor do benefício, com a sua desvinculação do salário-mínimo.
É deveras pertinente a avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, 2016) sobre as consequências do Novo Regime Fiscal (NRF), arbitrariamente
instituído na Constituição de 1988, via PEC 241/55, em relação à Política de Assistência
Social e a todo o Sistema Público de Proteção Social. Afirma o documento que “[...] o
esforço de ajuste fiscal proposto pela PEC 241/55 poderá comprometer os avanços
realizados em relação ao combate à pobreza e à desigualdade e à promoção da cidadania
inclusiva.” (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2016, p. 4). Sustenta,
então, que o novo regime fiscal “[...] poderá impor uma descontinuidade da oferta
socioprotetiva, o que constrangerá as proteções já afiançadas pela Política Assistencial.”
(INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2016, p. 4).
Amélia Cohn (2017) denuncia como um assassinato cruel essa desconstrução
radical dos direitos no campo da Seguridade Social, questionando o presente e o futuro de
gerações, justamente neste contexto de condenação da sociedade às incertezas do
mercado em todas as dimensões da vida social, da educação e saúde até a previdência, o
trabalho e a assistência social. Particularmente, cabe demarcar o perverso paradoxo do
desmonte da Assistência Social, precisamente em um cenário de explosão da pobreza no
contexto do Golpe 16.
Impõe-se, como exigência histórica, o exercício da crítica, no sentido de pensar
as drásticas consequências que essa violenta interrupção do processo de consolidação da
Política de Assistência Social traz para a vida brasileira na contemporaneidade deste século
XXI.
REFERÊNCIAS
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