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LÍNGUA

PORTUGUESA II

Professora Me. Fátima Christina Calicchio


Professora Me. Raquel de Freitas Arcine de Nardo
Professora Me. Valéria Adriana Maceis

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Pós-graduação
Bruno do Val Jorge
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Gerência de de Contratos e Operações
Jislaine Cristina da Silva
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador de Conteúdo
Fabiane Carniel
Designer Educacional
Bárbara Neves
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; NARDO, Raquel de Freitas Arcine de; MACEIS, Valéria Projeto Gráfico
Adriana; CALICCHIO, Fátima Christina. Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Língua Portuguesa II. Raquel de Freitas Arcine de Nardo; Valéria Arte Capa
Adriana Maceis, Fátima Christina Calicchio. Arthur Cantareli Silva
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2021.
160 p. Ilustração Capa
“Graduação - EaD”. Bruno Pardinho
Editoração
1. Língua. 2. Portuguesa. 3. Letras. 4. EaD. I. Título. Fernando Henrique Mendes

ISBN 978-85-459-0958-3 Qualidade Textual


CDD - 22 ed. 469 Cintia Prezoto Ferreira
CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário


João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos
com princípios éticos e profissionalismo, não somen-
te para oferecer uma educação de qualidade, mas,
acima de tudo, para gerar uma conversão integral
das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pi-
lares: intelectual, profissional, emocional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil:
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba,
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORES

Professora Me. Raquel de Freitas Arcine


Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade
Estadual de Maringá (UEM). Possui Mestrado em Letras, com ênfase em
Linguística - Estudos do Texto e do Discurso - pela mesma instituição. É
membro do Grupo de Estudos Político-Midiáticos da UEM (GEPOMI/Cnpq).
Atua principalmente nos seguintes temas: análise do discurso, política e
mídia.

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4468363U7

Professora Me. Valéria Adriana Maceis


Graduada em Letras - Português/Inglês e também Mestre em Letras, tendo
“Descrição Linguística” como linha de pesquisa, pela Universidade Estadual
de Maringá. Possui experiência como professora de Língua Portuguesa no
Ensino Fundamental II. Atua na produção de materiais para o Ensino Superior
- na modalidade de Ensino a Distância.

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4257582H9

Professora Me. Fátima Christina Calicchio


Mestra em Letras na área de Estudos Linguísticos pela Universidade
Estadual de Maringá (2014). Especialista em Língua Portuguesa pelo
Instituto Paranaense de Ensino e Faculdades Maringá (2010). Graduada em
Letras, com habilitações Português/Inglês e respectivas literaturas, pela
Universidade Estadual de Maringá (2009). Professora mediadora do curso de
Letras (Unicesumar), tutora a distância do Curso de Letras Português/Inglês
da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e professora de língua inglesa
no ensino fundamental I pela rede municipal de ensino em Maringá. Tem
interesse em estudos da língua pelo viés da Sociolinguística Educacional e da
perspectiva Funcionalista.

http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4416976Z3
APRESENTAÇÃO

LÍNGUA PORTUGUESA II

SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) acadêmico(a), primeiramente, gostaríamos de expressar a nossa satisfação
em preparar para você este livro tão necessário a sua formação acadêmica e profissional
referente à disciplina Língua Portuguesa II. Tal disciplina aborda temas relacionados à
Sintaxe. Muito nos interessam e encantam os estudos sintáticos, com isto, procuramos
inserir, ao discorrer cada parágrafo escrito, tudo que sabemos sobre o assunto, da forma
mais adequada possível. Com carinho e empenho, o nosso desejo é colaborar efetiva-
mente com o seu crescimento, tanto como aluno(a) do curso de Letras quanto como
futuro(a) professor(a) de Língua Portuguesa.
Também, neste livro, procuramos, sempre que possível, fazer uso de exemplos, pois,
para nós, eles ajudam muito na compreensão dos conteúdos estudados. Leia e analise
todas as informações com bastante atenção! Faça anotações, não deixe de responder
às atividades de estudo, busque as respostas para todas as suas dúvidas e encontre um
tempinho para visitar as sugestões de leitura inseridas ao longo de todo o texto.
Além disso, não se esqueça de que novas pesquisas e outras fontes de conhecimen-
to precisam ser conhecidas e consultadas por você. Este material, embora apresente
muitas informações sobre os termos da oração e também sobre os processos sintáticos
de articulação de orações, não esgota as suas possibilidades de estudo; ele não deve,
portanto, ser visto como a única opção para você estudar e refletir sobre os conteúdos
voltados à Língua Portuguesa II. Busque sempre mais…
No que diz respeito à primeira Unidade do livro, “A Gramática Tradicional: Introdução à
Sintaxe”, você encontrará relevantes informações acerca da tradição gramatical, de sua
história, e, também, terá acesso aos diferentes tipos de gramáticas que estudam a lin-
guagem. Além disso, você irá compreender qual é o objeto de estudo da Sintaxe, além
de relembrar seus componentes. É também na primeira Unidade do livro que analisare-
mos os sinais de pontuação.
Dando sequência a sua leitura, iniciaremos nosso estudo sobre o período simples, co-
meçando pela análise dos termos “essenciais” da oração. Teremos acesso, portanto, a
discussões, a explicações e a exemplos de sujeito e de predicado sob o viés da Gramá-
tica Tradicional.
Após enriquecer seus conhecimentos sobre os chamados termos “essenciais” da oração,
no que tange ao conteúdo da terceira Unidade do livro, você estudará os termos conhe-
cidos tradicionalmente como “integrantes” da oração, são eles: complementos verbais
(objetos), complemento nominal, predicativo e agente da passiva.
Na quarta Unidade do livro, afirmamos que você ampliará a sua visão acerca dos de-
nominados termos “acessórios” da oração. Você os estudou? Conhece-os? Trata-se dos
adjuntos adnominais, adjuntos adverbiais, aposto e vocativo. Com isto, encerraremos o
estudo do período simples.
E na última unidade do livro, voltar-nos-emos ao estudo da Sintaxe de Concordância.
Pretendemos, em tal unidade, oferecer um material esclarecedor acerca da Concordân-
APRESENTAÇÃO

cia Verbal e Nominal. Nessa unidade, queremos que você volte sua atenção para
os princípios sintáticos de dependência entre o verbo e o sujeito, como também a
dependência das palavras para sua harmonização.
Para concluir, acreditamos sinceramente que este livro pode contribuir, de maneira
significativa, para o alcance do sucesso em sua prática docente. Porém, é válido res-
saltar que toda a teoria apresentada aqui não esgota o assunto voltado aos termos
da oração. Portanto, busque outras fontes de conhecimento e queira sempre ser
o(a) MELHOR que puder ser!
Fique com o nosso abraço e com nosso sincero desejo de que você tenha muito
sucesso em seus estudos e em seu futuro profissional!
Professoras Raquel Arcine, Valéria Maceis e Fátima Christina Calicchio.
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE

15 Introdução

16 A Abordagem Tradicional Gramatical: um Pouco de História, Origem e


Características

21 Diferentes Tipos de Gramática

24 Introdução à Sintaxe 

25 Objeto de Estudo da Sintaxe a Partir da Abordagem Tradicional

28 Análise Sintática: Conceito De Frase, Oração e Período

33 Sinais de Pontuação

43 Considerações Finais

49 Referências

51 Gabarito

UNIDADE II

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO

55 Introdução

56 Os Termos “Essenciais” da Oração Sob o Viés da Gramática Tradicional:


Sujeito e Predicado

59 Tipos de Sujeito

67 Tipos de Predicado

74 Considerações Finais

79 Referências

80 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO

83 Introdução

84 Complementos Verbais: os Objetos

91 Complemento Nominal

95 O Predicativo

99 O Agente da Passiva

102 Considerações Finais

107 Referências

108 Gabarito

UNIDADE IV

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO

111 Introdução

112 O Adjunto Adnominal 

118 Os Adjuntos Adverbiais

123 O Aposto

127 O Vocativo: um Termo a Parte

129 Considerações Finais

133 Referências

134 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA

137 Introdução

138 Concordância Verbal

146 Concordância Nominal

152 Considerações Finais 

157 Referências

158 Gabarito

159 Conclusão
Professora Me. Fátima Christina Calicchio
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine de Nardo

I
Professora Me. Valéria Adriana Maceis

A GRAMÁTICA

UNIDADE
TRADICIONAL:
INTRODUÇÃO À SINTAXE

Objetivos de Aprendizagem
■ Prover informações sob a perspectiva tradicional dos estudos
gramaticais e apresentar a trajetória da Gramática Tradicional.
■ Diferenciar os tipos de gramáticas.
■ Prover informações introdutórias sobre a disciplina da Sintaxe.
■ Compreender questões relativas à Sintaxe a partir da Gramática
Tradicional.
■ Entender o objeto de estudo da Sintaxe e seus componentes.
■ Analisar os sinais de pontuação.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ A abordagem tradicional: um pouco de história, origem e
características
■ Diferentes tipos de gramática
■ Introdução à Sintaxe
■ Objeto de estudo da Sintaxe a partir da abordagem tradicional
■ Análise sintática: conceito de frase, oração e período
■ Sinais de pontuação
15

INTRODUÇÃO

A linguagem está presente em toda parte, permeando nossos pensamentos,


mediando nossas ações e intermediando nossas relações com os outros e com
a sociedade. O estudo sobre a língua tem uma longa trajetória, embora a ciên-
cia que se ocupa em estudá-la tenha se estruturado como área de conhecimento
autônoma e independente apenas na metade do século XIX.
Assim, nesta unidade, caro(a) aluno(a), você estudará questões relacionadas
à gramática – em princípio, voltadas à Gramática Tradicional, a qual se refere
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ao conjunto de conceitos e categorias provindos de estudos gramaticais de ori-


gem greco-latina.
Logo após conhecer melhor os preceitos da Gramática Tradicional (dora-
vante GT), você terá acesso a noções sobre os diferentes tipos de gramáticas e,
para este estudo, fizemos um recorte e apresentaremos três tipos: a Gramática
normativa, que tem um princípio pautado na concepção de linguagem como
expressão do pensamento, assim, você observará que essa gramática funciona
como um modelo padrão de certo ou errado na língua. Apresentaremos, tam-
bém, a Gramática descritiva, que tem como objetivo fazer uma descrição da
estrutura e do funcionamento da língua; e, por fim, apresentaremos a Gramática
internalizada, a qual funciona como elemento geral de organização da língua,
isto é, essa Gramática organiza o saber indutivo que todo falante possui. Com
essa discussão, você verá que o desenvolvimento da linguagem também passou
por diferentes fenômenos linguísticos durante a história dela.
A partir dessa compreensão, você estará preparado para estudar os aspec-
tos da Sintaxe, que reúne as classificações tradicionais, além de aprofundar seus
conhecimentos sobre a análise sintática.
Por fim, no último tópico da nossa unidade, veremos questões relativas aos
sinais de pontuação.
O estudo, a discussão, a reflexão e o entendimento dos pressupostos teóricos
contidos nesta primeira Unidade revelam-se como fundamentais para futuros
professores de Língua Portuguesa, assim como você!
Portanto, aproveite! Bons estudos!

Introdução
16 UNIDADE I

A ABORDAGEM TRADICIONAL GRAMATICAL: UM


POUCO DE HISTÓRIA, ORIGEM E CARACTERÍSTICAS

Caro(a) aluno(a), antes de iniciarmos os nossos estudos sobre a história, ori-


gem e características da tradição gramatical, convidamos você a refletir sobre
esta citação de Gilberto Scarton (2017, on-line)1.
Gramática Tradicional: [...] uma Senhora romântica, idealizada, into-
cável, bíblica, infalível, juíza de todos os conflitos linguísticos. Respei-
tada. Principalmente por professores de português. Por colunistas que

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dela se ocupam em nossos periódicos, em nossa imprensa. Por coman-
dos paragramaticais. Por Fulano de Tal, por exemplo. E demais.

Para Azeredo (1990), a expressão “gramática tradicional” abarca um conjunto de


esforços que, originando-se na gramática greco-latina, destinam-se a:
1. explicar a natureza da linguagem;
2. descrever a estrutura e funcionamento das línguas;
3. regulamentar seu uso consoante padrões, quer lógicos, quer literários
de expressão.
Em se tratando de sua origem, é pre-
ciso ficar claro que a GT foi estabelecida
mediante reflexões filosóficas gregas. Todo
o procedimento de instauração desta como
disciplina baseia-se, portanto, no pensa-
mento grego, na cultura helenística.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


17
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Segundo Neves (1987), os gregos, apesar de não conhecerem com precisão o


padrão de uma teoria gramatical, sempre demonstraram grande preocupação
com a linguagem. É fato que as noções de gramática, inicialmente privilegia-
das por eles, mostravam-se bem presas à filosofia, mas, ainda assim, revelavam
a realidade sonora da linguagem.
Pelo que se tem registro, as primeiras discussões empreendidas pelos estu-
diosos da época centravam-se mais nas relações entre forma e significado das
palavras (relação natural x relação arbitrária); natureza da linguagem (criação
da natureza x resultado de uma convenção); e analogia x anomalia dos fenôme-
nos linguísticos.
Neves (1987) ressalta e justifica esse interesse dos gregos em descrever as
características da língua ao afirmar que:
[...] era para facilitar a leitura dos primeiros poetas gregos que os gra-
máticos publicavam comentários e tratados de gramática, que cum-
priam duas tarefas: estabelecer e explicar a língua desses autores (pes-
quisa) e proteger da corrupção essa língua ‘pura’ e ‘correta’ (docência),
já que a língua quotidianamente falada nos centros do helenismo era
considerada corrompida. E, servindo à interpretação e à crítica, reali-
za-se o estudo metódico dos elementos da língua e compõe-se o que
tradicionalmente seria qualificado propriamente gramática (NEVES,
1987, p. 104).

A Abordagem Tradicional Gramatical: um Pouco de História, Origem e Características


18 UNIDADE I

Nessa passagem de Neves (1987), já conseguimos identificar a preferência da


gramática pelo estudo da língua escrita em detrimento da modalidade falada,
como ocorre ainda hoje.
É válido saber que foi Platão quem veio a proferir um dos primeiros diálo-
gos, o qual, apesar de não ter ganhado conduta gramatical, tratou de questões
linguísticas direcionadas à origem da língua, à composição fonética das pala-
vras, a suas estruturas etimológicas, à relação forma e significado dos vocábulos
e à motivação ou arbitrariedade do signo linguístico.
Porém, mas a estrutura gramatical que foi prescrita na antiguidade e que

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se mantém corrente até nossos dias começou a ser esboçada mesmo a partir
dos estudos de Aristóteles. Este filósofo estabeleceu a distinção entre conceitos,
como: “seres”, “ações”, “qualidades”, “quantidades”, e foi tal distinção aristotélica
que, mais tarde, guiou a distribuição das palavras em classes (substância/subs-
tantivo; ação/verbo; relação/conjunção).
Além disso, também foi Aristóteles quem veio a definir noções, como: juízo
– associação predicativa de dois conceitos – e raciocínio – associação de juízos
sob forma de premissas e conclusão, sendo que a primeira dessas noções, ou seja,
a de juízo, já configurava o que depois entenderíamos por proposição, a qual,
mais adiante, veio a servir de base ao estudo da sintaxe.
Ademais, há também registros de estudos aristotélicos que investigaram a
teoria da frase, as partes do discurso e as categorias gramaticais. E o mais inte-
ressante é que o léxico difundido e organizado após essas investigações está
presente ainda hoje, inclusive, em muitos estudos linguísticos.
O reconhecimento da Linguística como um ramo autônomo da Filosofia foi
garantido pelos estoicos. Eles foram os primeiros a pregar a ideia de que a lín-
gua é a expressão do pensamento, ou seja, ela é a chave para se entender a mente
humana. Foram também os seguidores do estoicismo que divulgaram a dico-
tomia entre forma e significado. Saussure, linguista importante, empreendeu
mais tarde uma famosa distinção, semelhante a esta dos estoicos; ele estabele-
ceu a diferença entre significante e significado. É relevante destacar que, para
os estoicos, o significado das palavras era sensível ao contexto – este reconhe-
cimento da importância do contexto é um pré-requisito até hoje para uma boa
interpretação de texto.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


19

Apesar disso, e também de terem se dedicado a questões de pronúncia, de


etimologia, classes de palavras e paradigmas flexionais, os estudos estoicos tam-
bém estavam mais voltados ao âmbito de pesquisas filosóficas ou lógicas.

Você sabe o que significa “estoicismo”? A esse respeito, relevante é esta lei-
tura! O estoicismo (do grego Στωικισμός) diz respeito a uma escola de filo-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio no início do século


III a.C. Entre outras coisas, os estoicos pregavam que as emoções destrutivas
resultam de erros de julgamento e que um sábio ou pessoa com “perfeição
moral e intelectual” não sofreria dessas emoções.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://brasilescola.uol.com.
br/filosofia/os-estoicos.htm>
Fonte: adaptada de Cabral (2017, on-line)2.

Com as pesquisas alexandrinas, instaura-se uma postura normativo-purista que


se perpetuou por meio dos tempos, deixando vestígios consideráveis até deter-
minadas gramáticas de nossos dias. Adeptos dessa postura valorizam a variedade
escrita pelos grandes escritores em detrimento dos demais usos da língua. Isso
também ocorre em gramáticas correntes, as quais privilegiam exemplos advindos
dos cânones literários ou, então, frases soltas e inventadas, descontextualizadas.
Os estudiosos alexandrinos dividiram-se em dois polos: os analogistas e os
anomalistas. Os primeiros privilegiaram as regularidades linguísticas, preocupa-
vam-se em como a língua deve ser – tinham uma postura normativa; os segundos
não desprezavam a existência de irregularidades e destacavam o uso efetivo da
língua, ou seja, preocupavam-se em como a língua é de fato. Essa divisão ale-
xandrina remete-nos às diferenças de estudo e interesse entre gramáticos atuais,
adeptos da Gramática Tradicional, e pesquisadores funcionalistas.
E, então, com as contribuições de Aristóteles, citadas anteriormente, e tam-
bém por meio dessas pesquisas alexandrinas, organizou-se a distribuição dos
vocábulos em oito classes: nome, verbo, pronome, artigo, particípio, advérbio,

A Abordagem Tradicional Gramatical: um Pouco de História, Origem e Características


20 UNIDADE I

preposição e conjunção. Com isso, difundiu-se a Morfologia, bem como ainda


hoje é entendida, ou seja, como o estudo da estrutura, formação e classificação
das palavras. É possível afirmar que os gregos dedicaram-se à Etimologia (ori-
gem das palavras) e à Fonética (pronúncia), mas foram os estudos voltados à
Morfologia que mais se fizeram sentir. A Sintaxe, cujo estudo centra-se mais na
oração e na relação sintagmática entre as palavras, só veio a ganhar maior aten-
ção tempos depois.
Entre os alexandrinos, merecem destaque: Dionísio da Trácia (II a.C.) e
Apolônio Díscolo (II a.C.). O primeiro, considerado o verdadeiro organizador

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da arte da gramática na antiguidade, focou suas pesquisas na flexão paradig-
mática das palavras gregas. Os estudos de Dionísio, inclusive, serviram de base
para a análise de outras línguas, entre elas o latim. Já Apolônio marcou sua par-
ticipação na criação da gramática por ter sido o primeiro a formular uma teoria
sintática da língua.
Pode-se afirmar, por fim, que a GT foi criada em II a.C, na Alexandria, privi-
legiando os padrões linguísticos das obras de escritores tidos como consagrados.
Com isso, seu foco restringia-se somente à língua escrita, mais precisamente à
língua literária grega, e seu objetivo maior era transmitir o “patrimônio literá-
rio grego”. A modalidade oral da língua era desprezada dos estudos da época.
De acordo com Azeredo (1990), a disciplina gramatical dos gregos nasceu
com dupla finalidade: a filológica e a pedagógica, mantendo-se, desta maneira,
inclusive entre os romanos, seus divulgadores. Com o passar do tempo, o inte-
resse dos intelectuais da época pelo estudo de gramática se intensificou tanto que,
ao lado da dialética e da retórica, tal disciplina alcançou o chamado trivium das
instituições acadêmicas medievais. Filósofos e eruditos gregos buscavam, além da
descrição da língua, a arte de falar corretamente e a explicação de textos poéticos.
Acredita-se que retomando o debate sobre a relação entre a linguagem e a
estrutura do pensamento, por volta do século XIII, a gramática ganhou um caráter
novo, isto é, passou a ser vista como “especulativa”. Em outras palavras, começou
a ser elaborada segundo a concepção de língua como “espelho” da organização
do raciocínio. Nesta visão, ainda de cunho preconceituoso, todas as línguas con-
sistem em um sistema fixo e comum de categorias linguísticas, que seriam, na
verdade, categorias do pensamento. Passou a ser defendida a existência de línguas

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


21

primitivas e de variedades linguísticas melhores e mais puras do que outras: a lín-


gua literária clássica era a única variedade considerada realmente válida, sendo
a modalidade escrita superior à modalidade oral.
Apesar de tal concepção ter sido rejeitada no Renascimento, gramáticas que
surgiram depois, mais especificamente nos séculos XVII e XVIII, tais como as
filosóficas ou racionais e também a moderna gramática gerativa, apresentaram
desdobramentos dessa gramática especulativa.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

“Tudo se rende ao sucesso, até a gramática.”


(Victor Hugo)

DIFERENTES TIPOS DE GRAMÁTICA

Como foi possível observar, as questões referentes à


linguagem têm uma longa trajetória. Ao passo que
as sociedades foram transformando-se e tornando-
-se mais sistematizadas, o estudo da linguagem foi se
ampliando graças ao surgimento de condições favo-
ráveis para o seu desenvolvimento, principalmente a
partir da invenção da escrita, que proporcionou a per-
cepção dos diferentes fenômenos linguísticos. Diante
disso, é possível encontrar uma multiplicidade de con-
ceitos do termo “gramática”. A partir de Travaglia (2001)
e Possenti (1996), podemos traçar três sentidos para o
conceito de gramática, os quais levarão às designações
de cada tipo gramatical.
O primeiro sentido considera a gramática um con-
junto de regras de bom uso da língua que devem ser

Diferentes Tipos de Gramática


22 UNIDADE I

seguidas, ou seja, a regra é concebida como uma lei que deve ser obedecida.
Nesse caso, como se trata de um compêndio com normas para falar e escrever de
maneira correta, o falante que faz uso dessa gramática é considerado um falante
eficiente, pois obedece às normas determinadas para o bem falar e escrever. Essas
normas originam-se do uso que os escritores consagrados faziam da língua. De
acordo com Travaglia (2001, p. 30), essa gramática determina
[...] normas para a ‘correta’ utilização oral e escrita do idioma, pres-
creve o que se deve e o que não se deve usar na língua. Essa gramática
considera apenas uma variedade da língua como válida, como sendo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a língua verdadeira [...] é mais uma espécie de lei que regula o uso da
língua em sociedade.

Sob essa perspectiva de gramática, observamos que a única variedade realmente


válida é a norma culta ou padrão, sendo as demais variedades linguísticas consi-
deradas desvios da língua. Toda essa conceituação está relacionada à Gramática
Normativa, também conhecida como prescritiva, que costuma ser utilizada em
salas de aula e em livros didáticos.
O segundo sentido está relacionado à descrição da estrutura e do funcio-
namento da língua, tendo como preocupação descrever, explicar a língua como
ela é falada. Por isso, não há noção de certo e de errado, como na Gramática
Normativa, pois é considerado “gramatical” tudo o que está de acordo com as
regras de funcionamento da língua em qualquer uma de suas variantes. Nesse
sentido, a noção de certo e errado é substituída pela noção de diferença. Diante
disso, temos a chamada Gramática Descritiva, que adota um caráter mais crítico
e trabalha com outras variedades, como a informal, sem ter o objetivo de apon-
tar erros, mas de mostrar todas as formas de expressão existentes.
Conforme afirma Perini (2006), a Gramática Descritiva é resultante da obser-
vação direta do que se diz ou se escreve na realidade. Cabe ao linguista descrever
e explicar, embasado em uma teoria, as regras responsáveis pelo funcionamento
da língua. Por isso, o propósito principal é: se é produzido, é porque o falante
tem conhecimento sistemático de normas. Sendo assim, nenhum dado linguís-
tico deixa de ser considerado nessa gramática.
Temos, ainda, o terceiro sentido dado à gramática, que trata do “conjunto de
regras que o falante de fato aprendeu e das quais lança mão ao falar” (TRAVAGLIA,

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


23

2001, p. 28). E você, caro(a) aluno(a), deve estar se questionando: como, então,
muitos falam uma língua sem mesmo nunca terem frequentado uma escola?
À essa concepção chamamos de Gramática Internalizada, isto é, cada indi-
víduo possui uma competência natural, que nasce com ele e, juntamente com a
convivência no meio social, desenvolve, gradualmente, hipóteses sobre a língua a
partir de suas próprias atividades linguísticas. Por isso, a Gramática Internalizada
é definida como o “conjunto de regras que o falante domina” (POSSENTI, 1996,
p. 69). Nesta visão, regra corresponde à regularidade. Segundo esse autor, “seguir
uma ou outra regra não indica menor ou maior inteligência, maior ou menor
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sofisticação mental ou capacidade comunicativa” (POSSENTI, 1996, p. 74). Cada


um desses falantes tem, à disposição, um conjunto de regras que é acionado con-
forme as circunstâncias. Segundo Perini (2005, p. 13),
[...] qualquer falante de português possui um conhecimento implícito
altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de ex-
plicitar esse conhecimento. E veremos que esse conhecimento não é
fruto de instrução recebida na escola, mas foi adquirido de maneira
tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de andar. Mesmo
pessoas que nunca estudaram gramática chegam a um conhecimento
implícito perfeitamente adequado da língua. São como pessoas que não
conhecem a anatomia e a fisiologia das pernas, mas que andam, dan-
çam, nadam e pedalam sem problemas.

Esse sentido da Gramática Internalizada foi introduzido pelo estudioso Noam


Chomsky que, posteriormente, desenvolveu os estudos sobre a linguística gera-
tiva ou gerativismo, que não trataremos aqui.
Agora que você, acadêmico(a), já conhece um pouco sobre os diferentes
conceitos atribuídos à gramática, terá a oportunidade de refletir sobre o que a
perspectiva tradicional nos oferece sobre o funcionamento da linguagem no que
diz respeito à Sintaxe da Língua Portuguesa e aos fenômenos que a envolvem.
Vamos lá! Continue estudando!

Diferentes Tipos de Gramática


24 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INTRODUÇÃO À SINTAXE

Como você já deve ter notado, a Linguística é uma ciência que tem contribuído
de modo exaustivo para a compreensão da natureza e do funcionamento da lin-
guagem humana. É por meio dela que você irá compreender um dos níveis de
análise de uma língua, que é o nível da sintaxe.
Conforme apresenta Berlinck et al. (2001, p. 209),
[...] a Sintaxe como disciplina linguística independente data apenas do
final do século XIX [...]. Um dos primeiros indícios do interesse espe-
cífico pelos fenômenos sintáticos está no trabalho de John Ries, Was
ist Syntax? (O que é sintaxe?) de 1894. No entanto, é sobretudo a partir
das ideias do linguista suíço Ferdinand de Saussure, no início do século
XX, e das várias aplicações e desenvolvimentos que delas fizeram seus
seguidores que a Sintaxe foi adquirindo o estatuto de disciplina autô-
noma.

Assim, a Sintaxe é a disciplina linguística e uma parte da gramática que estuda


como combinamos palavras para formar sintagmas e como combinamos sin-
tagmas para formar sentenças. Além disso, para tornar o termo mais claro,
podemos voltar à sua origem grega syntaxis, que corresponde à ordem, dispo-
sição. Tradicionalmente, a Sintaxe corresponde, portanto, a um dos níveis da
língua que tem como objetivo principal descrever as regras responsáveis pela
formação de uma sentença.
Ao falarmos que ela é uma disciplina linguística, é preciso que você, alu-
no(a), reconheça a Sintaxe como uma das ramificações dessa ciência que, ao lado
da Fonética, da Fonologia e da Morfologia (lembre-se do conteúdo estudado na

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


25

disciplina de Língua Portuguesa I), se interessa, sobretudo, em entender a orga-


nização e o funcionamento das estruturas e dos diversos fenômenos gramaticais
que determinam as línguas naturais.
Essas disciplinas são responsáveis por tratar “da estrutura interna de uma
língua – aquilo que a distingue das outras línguas do mundo, e que não decorre
diretamente de condições da vida social ou do conhecimento do mundo” (PERINI,
1996, p. 50). Apesar de cada uma das disciplinas mencionadas anteriormente terem
o seu objeto de estudo específico, é relevante destacar que elas tratam de níveis
que atuam em conjunto, permitindo a constituição das sentenças de uma língua.
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OBJETO DE ESTUDO DA SINTAXE A PARTIR DA


ABORDAGEM TRADICIONAL

Como você já deve imaginar, a partir da definição de Sintaxe, o


objeto de estudo dessa disciplina é a sentença (entenda
como: a Sintaxe também pode se ocupar de unidades
menores – os chamados sintagmas), já que um dos
principais objetivos da Sintaxe é descrever e explicar
as regras para a formação das sentenças.
Desse modo, a Sintaxe coloca à disposição do
falante um conjunto de regras que o habilitam “a pro-
duzir frases ou sequências de palavras de maneira tal que
essas frases e sequências são compreensíveis e reconhecidas
como pertencendo a uma língua” (POSSENTI, 1996, p. 69).
Com certeza, você deve se lembrar de algum professor que você teve na
Educação Básica dizendo: “vamos fazer a análise sintática das frases a seguir!”
e, então, o professor escrevia uma frase no quadro negro como esta:

“A Maria bateu no pobre do João por causa de um brinquedo.”

Objeto de Estudo da Sintaxe a Partir da Abordagem Tradicional


26 UNIDADE I

Observe que a frase fala de duas pessoas, mas quando o professor pede que se
faça uma análise sintática, ele não está preocupado com as pessoas de que a frase
fala, nem do que se fala sobre elas, mas que você saiba como as palavras se orga-
nizam nessa frase, ou seja, como elas se combinam; quais as regras que permitem
essa organização; como cada parte dessa frase funciona; e, se possível, dar um
nome a cada uma dessas partes com base em uma das regras que a língua utiliza.
Enfim, isso seria fazer análise sintática. Assim, análise sintática é o nome
que se dá ao procedimento de verificar a função de cada uma das partes orga-
nizadas de uma sentença de uma língua qualquer, identificando as partes com

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características comuns. Por isso, fazer análise sintática não é saber se a sentença
mencionada anteriormente diz alguma coisa a respeito de algo ou alguém.
Quando falamos de “sujeito” em análise sintática (que você verá na Unidade
II), não estamos falando de uma pessoa ou de uma coisa, mas de uma função de
uma parte da sentença que estamos analisando.
Diante disso, como você já deve ter percebido, ao realizarmos uma análise
sintática tradicional, buscamos identificar as funções das palavras que formam
as sentenças. Perini (2008) explica a importância de compreender as classifi-
cações das palavras na Sintaxe, pois sem essa identificação não teríamos como
descrever e analisar as estruturas de uma língua. Além disso, esse sistema de
categorizações é necessário para que você, aluno(a) e futuro(a) professor(a) de
Língua Portuguesa, trate objetivamente da língua e possa falar as palavras com
um mínimo de economia. Vejamos como exemplifica Perini (2008, p. 79):
[...] nenhum sistema de conhecimento pode funcionar sem um sub-
sistema de categorização. Uma razão para isso é que o mundo é com-
plexo demais para caber literalmente na memória de uma criatura. Eu,
no momento, estou sentado em um objeto que chamo de cadeira, e há
outras cadeiras pela casa, no meu gabinete e em vários lugares que fre-
quento. No entanto, há nítidas diferenças entre essas cadeiras: podem
ser estofadas ou não, feitas de madeira, de metal ou de plástico, com
braços ou sem braços, confortáveis ou desconfortáveis, claras ou escu-
ras e assim por diante. No entanto, para mim são todas cadeiras, se meu
objetivo é distingui-las de outros objetos que não servem para sentar.
[...] Seria totalmente impossível ter uma palavra para designar cada
tipo de cadeira – ou, pior, cada cadeira individual, já que nunca há duas
realmente idênticas em todos os detalhes. E, acima de tudo, seria inú-
til, porque meus objetivos comunicativos não exigem essas distinções

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


27

todas. Em vez disso, criou-se uma ‘categoria’, atribuindo-se a ela um


nome, cadeira. Dizemos então que a noção de ‘cadeira’ é ‘esquemática’,
no sentido de que representa uma multidão de conceitos particulares,
que são ‘elaborações’ do conceito esquemático básico.

Sendo assim, é necessário que você compreenda a diferença entre classe e função
para que possa classificar as palavras que formam as sentenças de maneira adequada.
As classes de palavras são essenciais para sermos capazes de falar da língua. Melhor
dizendo, sem utilizar uma metalinguagem (artigo, substantivo, adjetivo, verbo, advér-
bio, pronome, preposição, conjunção, numeral, sujeito, predicado, verbo transitivo,
objeto direto, objeto indireto, oração coordenada, oração subordinada etc.) teríamos
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muita dificuldade em descrever os fenômenos que caracterizam a língua. Por isso, a


importância das classificações. Agora, vejamos uma aplicação prática:

“Joana comprou um carro novo.”

Primeiramente, reconheceremos a classe de cada uma das palavras da sentença.


Então, teremos: Joana (substantivo); comprou (verbo); um (artigo); carro (subs-
tantivo); novo (adjetivo). No entanto, para poder realizar essa classificação, é
preciso saber a definição de cada uma dessas classes. Por exemplo, precisa saber
que um substantivo “é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em
geral” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 171); que um verbo é “uma palavra de forma
variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no
tempo” (p. 367); que um artigo é; (p. 205) e assim para cada palavra da sentença.
Nesse primeiro momento, em que o objetivo é reconhecer as classes gramati-
cais das palavras, temos a chamada descrição morfológica. Em seguida, você irá
identificar as funções sintáticas: Joana (sujeito); comprou um carro novo (pre-
dicado); comprou (verbo transitivo direto); um carro novo (objeto direto). Da
mesma forma, para realizar essa classificação, recorremos aos conceitos, pois é
necessário que saibamos o que é um sujeito, um predicado, um verbo transitivo
direto e um objeto direto.
Como é possível verificar, temos o funcionamento do critério semântico, em
que a sentença precisa constituir um sentido e significado coerente, e do crité-
rio sintático, já que estamos fazendo uma análise sintática, na qual os elementos
precisam estar ordenados e combinados entre si. Isto é o sujeito é o elemento que

Objeto de Estudo da Sintaxe a Partir da Abordagem Tradicional


28 UNIDADE I

está em relação de concordância com o verbo; o verbo, que é transitivo direto


e precisa de um complemento direto, mantém uma relação estreita com o seu
objeto. Em vista disso, podemos afirmar a você, caro(a) aluno(a), que ao realizar
uma descrição tradicional de uma sentença, não basta apenas saber as funções
sintáticas, mas também entender noções de natureza morfológica e semântica.
Como foi possível verificar, muitas vezes, a análise sintática não é a simples
memorização de regras, de nomenclaturas e de etiquetas de classificação. Trata-se,
também, do domínio da estruturação textual, ou seja, como essa estrutura se com-
põe em orações, períodos e diferentes partes do texto. Por isso, apresentamos, na

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seção seguinte, considerações acerca da frase, oração e período. Bons estudos!

ANÁLISE SINTÁTICA: CONCEITO DE FRASE, ORAÇÃO


E PERÍODO

Antes de iniciar o nosso estudo acerca dos termos com sujeito, predicado, verbo
transitivo, entre outros, os chamados termos “essenciais” da oração, (os quais
veremos na próxima unidade), precisamos deixar claro em que consiste uma
frase, oração e período, já que, como estudamos, a análise sintática examina a
estrutura do período, divide e classifica as orações que o constituem e reconhece
a função sintática dos termos de cada oração.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


29

Primeiramente, é importante ficar claro que as palavras, tanto na expres-


são escrita como na oral, são reunidas e ordenadas em frases. Pela frase é que se
alcança o objetivo do discurso, ou seja, da atividade linguística: a comunicação
com o leitor ou o ouvinte. Assim, a frase, como unidade do discurso, não pre-
cisa ter, necessariamente, uma estrutura gramatical definida. Câmara Jr. (1974,
p. 162) menciona a característica ou propósito fundamental que é a intenção
definida do falante.
Nesse sentido, para que fique simples compreender essas definições, pense que
a realização da frase comporta um pequeno “drama”, isto é, um falante se dirige a
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um ou mais ouvintes sobre um assunto em uma determinada situação concreta.


O propósito do falante poderá centralizar-se em qualquer um dos elementos do
“drama”, ou seja, no próprio falante, e, então, teremos uma frase exclamativa;
no ouvinte, e teremos uma frase imperativa; no assunto, e teremos uma frase
declarativa. Dessa forma, qualquer vocábulo pode ser uma frase, desde que seja
emitido com uma entonação característica para essa comunicação. Vocábulos
como “socorro”, “droga”, “fogo” passam a ser frases em determinadas situações,
conforme a intenção do falante. Por isso, podemos afirmar que a frase não pre-
cisa ser, necessariamente, uma reunião de vocábulos.
Dito de outro modo, a frase é a palavra ou grupo de palavras que formam
um enunciado de sentido completo, caracterizando-se pela entonação que lhe
assinala o começo e o fim. Além dessa característica, a frase pode ser constituída
de uma só palavra, como é o caso de “Socorro!”, “Fogo!”, já mencionadas, assim
como pode ser composta de várias palavras, entre as quais se inclui, ou não, um
verbo. As frases que não possuem verbo em sua constituição são chamadas de
frases nominais. Vejamos os exemplos a seguir:
a) “Choveu a noite inteira” – Frase com verbo.
b) “Respire!” – Frase curta, composta de apenas uma palavra sendo um verbo.
c) “Que horror!” – Frase nominal, sem verbo.
d) “Quanta alegria!” – Frase nominal, sem verbo.

Análise Sintática: Conceito De Frase, Oração e Período


30 UNIDADE I

Verifique que, se a frase não possui verbo, a melodia (ou entonação) é a única
marca pela qual podemos reconhecê-la. Sem isso, as frases (c) e (d) dos exem-
plos seriam simples vocábulos, unidades léxicas sem valor gramatical.
Em uma definição mais básica e geral, dizemos que uma oração pode ser
uma frase ou parte de uma frase. Constitui-se em torno de um verbo ou de uma
locução verbal. Normalmente é formada por sujeito e predicado. Quando há
apenas um verbo em um enunciado, há apenas uma oração, formando o que se
denomina, tradicionalmente, por período simples. Quando há dois ou mais ver-
bos, isto é, duas ou mais orações, temos período composto.

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A locução verbal é o conjunto formado de um verbo auxiliar + um verbo
principal. O verbo auxiliar pode vir numa forma finita (indicativo, imperativo
ou subjuntivo) ou numa forma nominal (infinitivo ou gerúndio). Já o verbo
principal vem sempre numa forma nominal, que pode estar no infinitivo,
gerúndio ou particípio. Para melhor compreensão por meio de exemplos,
indico a você a leitura do seguinte link:
<http://www.filologia.org.br/abf/volume1/numero1/08.htm>
Com essa leitura, você poderá relembrar e aprofundar seus conhecimentos
sobre os verbos, além de verificar, de modo específico, a formação da locu-
ção verbal por meio das diversas combinações verbais.
Não deixe de conferir!
Fonte: adaptado de Fichas Marra (2011, on-line)3.

Nas palavras de Perini (2010, p. 65), oração diz respeito à estrutura que tipica-
mente contém um verbo e, muitas vezes, um ou mais complementos (sujeito,
objetos e/ou sintagmas preposicionais, adjetivos ou advérbios – ocorrem apro-
ximadamente três complementos em uma oração). Além de complementos, a
oração, segundo o autor, pode apresentar também um ou mais adjuntos, os quais
serão discutidos no decorrer deste livro.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


31

O que precisa ficar claro para você, prezado(a) aluno(a), é que o verbo é
parte fundamental da oração; trata-se da condição de existência desta. Pode
haver orações, como veremos a seguir, que não apresentam sujeito, mas inexis-
tem orações sem predicado, pois é justamente no predicado que se encontra a
estrutura verbal de uma oração.
Analisemos alguns exemplos:
1. Atenção!
2. Os alunos prestaram atenção às aulas.
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Em um (1), temos um enunciado que corresponde apenas a uma frase nominal,


uma vez que não há verbos. Já em (2), temos uma oração – um período simples
– devido à presença do verbo “prestar”. Além disso, o exemplo (2) apresenta,
ainda, sujeito: os alunos; e predicado: prestaram atenção às aulas.
De acordo com Bechara (2003, p. 24), podemos classificar as orações de acordo
com a ideia que compreendem; podendo conter a declaração do que observamos
ou pensamos, teremos uma oração declarativa com entoação assertiva, tal como
em “As aulas começaram”. As orações interrogativas com entoação interrogativa
compreende a pergunta sobre o que desejamos saber (“As aulas começaram?”).
Quando a oração contém uma ordem, súplica, desejo, pedido para que algo
aconteça ou deixe de acontecer, temos uma oração imperativa com entoação
exclamativa, por exemplo: “Estude bem os capítulos do livro”. Por fim, as orações
exclamativas com entoação exclamativa compreendem o nosso estado emotivo,
podendo ser de dor, alegria, espanto, surpresa, elogio etc: “Que susto levei!”.
Sendo assim, o período é a frase organizada em oração ou orações. Pode ser
simples - quando constituído de uma só oração, como no exemplo: “Machado
de Assis foi um ilustre brasileiro” - ou composto - quando formado de duas ou
mais orações: “Comprei muitas flores para presentear minha mãe”.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (doravante NGB) entende por perí-
odo a estrutura que apresenta, no mínimo, uma oração. Nesse caso, como já
dissemos, o período será simples ou a denominada oração absoluta. O período
também poderá ser composto quando houver mais de uma oração e subdivide-se
em período composto por coordenação, como em “Joana e Vera são irmãs, mas
não se falam desde o mês passado”, ou por subordinação, por exemplo, “Sabe-se

Análise Sintática: Conceito De Frase, Oração e Período


32 UNIDADE I

que a sua promoção virá depois da semana que vem”. Há, ainda, o período misto,
que é constituído por coordenação e subordinação ao mesmo tempo: “Joana e
Vera são irmãs, mas não se falam desde o mês passado, quando discutiram por
causa do trabalho”. Contudo, fique tranquilo, caro(a) aluno(a), pois você verá
esse conteúdo de forma aprofundada na disciplina de Língua Portuguesa III.
Retomando, e de maneira resumida, a NGB leva em conta o seguinte
procedimento:
Silêncio! (frase)
Socorram-me! (frase, oração e período)

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Só irei ao evento caso esteja com vontade de conversar com amigos que não
vejo desde o ano passado. (frase e período contendo quatro orações)

O período simples termina sempre por uma pausa bem definida, que se
marca na escrita com ponto, ponto de exclamação, ponto de interrogação,
reticências e, algumas vezes, com dois pontos.
(Fichas Marra)

A partir de toda essa explanação, acreditamos que você, acadêmico(a), está prepa-
rado para relembrar e aprofundar seus conhecimentos sobre sinais de pontuação.
Está pronto? Então, vamos lá! Bons estudos!

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


33

SINAIS DE PONTUAÇÃO

A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódi-


cos como a língua falada. Assim, a pontuação na língua escrita serve para a
reconstituição aproximada dos movimentos rítmicos e melódicos da língua
falada. Além disso, a pontuação marca, na escrita, as diferenças de entonação e
contribui para tornar mais preciso o sentido que se quer dar ao texto. De acordo
com Cegalla (2002, p. 393), os sinais de pontuação possuem uma “tríplice” fina-
lidade: assinalar as pausas e as inflexões da voz na leitura; separar palavras,
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expressões e orações que devem ser destacadas; e esclarecer o sentido da frase,


evitando a ambiguidade.
No entanto, é preciso deixar claro que não há uniformidade entre os estudiosos
quanto ao emprego dos sinais de pontuação. Por isso, apresentaremos a você,
acadêmico(a), normas que a maioria dos autores tem adotado na atualidade.
Diante disso, os sinais de pontuação podem ser classificados em dois grupos:
1) Os que servem para marcar as pausas:
a) A vírgula (,)
b) O ponto (.)
c) O ponto e vírgula (;)

2) Os que marcam a entonação:


a) Os dois pontos (:)
b) O ponto de interrogação (?)
c) O ponto de exclamação (!)
d) As reticências (...)
e) As aspas (“ ”)
f) Os parênteses ( )
g) Os colchetes [ ]
h) O travessão ( – )

A vírgula marca uma pausa de pequena duração, sendo empregada não só para
separar elementos de uma oração, mas também orações de um só período. No
entanto, a primeira orientação que deve ser seguida é que nunca devemos sepa-
rar o sujeito do verbo e o verbo de seus objetos com a vírgula. Por exemplo, em

Sinais de Pontuação
34 UNIDADE I

“As tardes ensolaradas da primavera traziam doces lembranças ao idoso” não


estaria adequado se colocássemos vírgula entre nenhum termo dessa oração,
ou seja, entre sujeito (as tardes ensolaradas da primavera) e verbo (traziam), ou
entre o verbo e seus complementos (doces lembranças; ao idoso).
Empregamos a vírgula para separar termos que exercem a mesma função
sintática – sujeito, complementos, adjuntos, predicativos – quando não estão uni-
dos por “e”, ou “e nem”. Vejamos: “Eu, meu irmão, meus primos e Pedro fomos
ao cinema ontem”, nesta oração temos os termos “eu, meu irmão, meus primos
e Pedro” que formam um sujeito composto e, por exercerem a mesma função

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sintática, devem ser separados por vírgula.
Ao separar termos que exercem funções sintáticas diferentes, geralmente
utilizamos a vírgula com a finalidade de realçá-los. Particularmente, a vírgula
é usada para:
a. Isolar o aposto ou qualquer elemento de valor explicativo:
Oscar Niemeyer, arquiteto brasileiro conhecido mundialmente, foi respon-
sável pelo projeto arquitetônico de várias capitais brasileiras.
b. Isolar o vocativo:
Senhor diretor, envio as planilhas para conferência.
c. Separar certas expressões explicativas ou retificativas, como: isto é, a saber,
por exemplo, ou seja, ou melhor etc.:
O amor, isto é, o mais forte e sublime dos sentimentos humanos, tem seu
princípio em Deus.
d. Separar os adjuntos adverbiais:
Ontem, na avenida principal da cidade, aconteceu mais um acidente.

No entanto, o uso da vírgula será facultativo quando se tratar de um adjunto


adverbial de curta extensão. Por exemplo, na frase a seguir, podemos usar o
adjunto adverbial “ontem” seguido ou não de vírgula:
Ontem, aconteceu mais um acidente na avenida principal da cidade.
Ontem aconteceu mais um acidente na avenida principal da cidade.
e. Separar, nas datas, o nome do lugar:
Maringá, 28 de setembro de 2015.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


35

f. Indicar a elipse de um termo:


Alguns vizinhos diziam que fora despejado, outros, que fora embora para
outro país. [= outros vizinhos diziam que fora embora para outro país.]
g. Separar orações coordenadas assindéticas:
Os turistas chegam, olham, perguntam, compram e prosseguem.
h. Separar as orações coordenadas sindéticas, exceto as introduzidas pela
conjunção “e”:
Os moradores do sertão nordestino receberam água ontem, mas a quan-
tia disponibilizada a eles não foi suficiente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Porém, caro(a) aluno(a), é preciso ficar atento à outra questão: separam-se, geral-
mente por vírgulas, as orações coordenadas unidas pela conjunção e quando
possuem sujeito diferente, como em:
Os alunos não se mostraram interessados, e o professor não fez questão
de incentivá-los.
Ou, ainda, quando há polissíndeto – figura de linguagem que faz uso de
vários conectivos repetidos:
As crianças riem, e cantam, e dançam, e sonham.

De maneira mais simples, o ponto é o sinal usado para marcar a pausa máxima com
que se encerra o período. É empregado, principalmente, para indicar o término
de uma oração declarativa, ou então a última oração de um período composto.
No exemplo a seguir, temos o ponto empregado no final de uma frase declarativa:

Encontrei no álbum de fotografias um antigo retrato de minha mãe.


O ponto também é utilizado nas abreviaturas. Assim: V. S.a (Vossa Senhoria), Dr.
(doutor), a. C. (antes de Cristo), Sr. (senhor), pág. (página) etc.

Como o próprio nome indica, o ponto e vírgula serve de intermediário entre o


ponto e a vírgula. De acordo com os valores pausais e melódicos que essa pon-
tuação irá representar no texto, pode se aproximar, em alguns momentos, mais
do ponto e teremos uma espécie de ponto reduzido, ou pode se aproximar mais
da vírgula, assemelhando-se a uma vírgula alongada.

Sinais de Pontuação
36 UNIDADE I

Essa imprecisão do ponto e vírgula faz que seu uso dependa basicamente do
contexto. Entretanto, para ficar mais simples, apresentaremos alguns casos em
que ele pode ser empregado:
a. Para separar orações coordenadas, se uma delas já tiver vírgula:
Fazia um silêncio amedrontador na casa; todos, a criança pensava, tinham
saído ou estavam escondidos.
b. Para separar orações coordenadas de sentido oposto:
As crianças choravam de medo; os adolescentes zombavam de tudo.
c. Para separar os itens dos enunciados enumerativos:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com a agência de viagem, os clientes que optarem pelo plano
de viagem terão direito a:
■ Uma passagem aérea com tarifa reduzida;
■ Um apartamento em hotel conceituado;
■ Café da manhã completo no hotel;
■ Visita a locais turísticos com guias especializados.
Além disso, o ponto e vírgula é utilizado para separar itens em leis, decretos,
portarias, regulamentos etc.
Veremos, a partir de agora, de modo sucinto, os sinais que marcam, sobre-
tudo, a entonação, começando com os dois-pontos. Estes são empregadas para
anunciar:
a. Citação e fala:
A mãe conclamou a todos:
- Crianças, venham almoçar!
b. Uma enumeração explicativa:
Tudo ameaçava as plantações: vento, enchentes, geadas, insetos dani-
nhos, bichos etc.
c. Um esclarecimento, um resultado ou resumo do que se disse:
Só quero uma coisa: paz.
d. Antes de orações apositivas:
A verdadeira causa das guerras é esta: os homens se esquecem do signi-
ficado da palavra respeito.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


37

Com relação ao ponto de interrogação, o utilizamos no fim de qualquer inter-


rogação direta, ainda que a pergunta não exija resposta:

O que você irá fazer nas férias?

Veja que a pergunta direta é feita sempre com entonação ascendente. Por isso, é
preciso que você não se esqueça, caro(a) aluno(a), que não se usa ponto inter-
rogativo nas perguntas indiretas, já que elas possuem entonação descendente:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Perguntei quem era aquele rapaz.

Nos casos em que a pergunta envolve dúvida, o ponto de interrogação cos-


tuma vir seguido de reticências:

Então?... Aquela mulher era a mesma senhora de alguns anos atrás?...

O ponto de interrogação também pode vir combinado com o ponto de excla-


mação. Nesse caso, as perguntas denotam surpresa:

Você acha que eu sou o culpado?!

Já o ponto de exclamação é o sinal que vem logo após qualquer enunciado de


entoação exclamativa. Porém, como a melodia das exclamações apresenta mui-
tas variedades, o seu valor só pode ser depreendido do contexto. Diante disso,
cabe ao leitor a tarefa de interpretar a intenção do escritor, como também de dar
sentido, com apoio em um simples sinal, aos diversos usos de entonação exclama-
tiva e, em cada caso, escolher a mais adequada, ou seja, o leitor precisa verificar
se determinado ponto de exclamação possui sentido de espanto, de surpresa, de
alegria, de dor, de súplica ou qualquer outro estado emocional.
Compreendendo isso, acadêmico(a), podemos verificar quais são os usos
mais recorrentes do ponto de exclamação. Normalmente, empregamos esse sinal
depois de interjeições:

Sinais de Pontuação
38 UNIDADE I

Nossa! Que susto! Não faça mais isso!

Podemos utilizar esse sinal de pontuação logo após verbos no imperativo:

Escute! Há males que vem para o bem!

Falaremos, agora, das reticências. Esse sinal de pontuação marca uma interrup-
ção da frase, tendo a função de indicar que a frase foi suspensa ou seccionada.
Pode ser usada para:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a. Indicar que houve uma dúvida, hesitação ou surpresa:
João… vê lá… pense bem no que irá fazer...
b. Indicar que a fala (ou a ideia, ou o pensamento) foi suspensa ou inter-
rompida:
Quanto ao trabalho, às vezes fico pensando que...
c. No fim de um período gramaticalmente completo, para sugerir certo pro-
longamento da ideia:
Laura gosta de comer as mais diversas frutas: pêssego, nectarina, kiwi,
goiaba...

Por fim, é importante lembrar que podemos utilizar as reticências no meio aca-
dêmico quando queremos indicar que uma citação está incompleta ou quando
partes dela não foram transcritas. Vejamos dois exemplos desses usos:

“A língua falada conta com numerosos recursos para que a oração alcance
seu objetivo de unidade de sentido [...]” (BECHARA, 2003, p. 23).

“Entram em seu auxílio [...] os recursos extralinguísticos elocucionais


[...] e não elocucionais, isto é, à margem da língua, como a mímica”
(BECHARA, 2003, p. 23).

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


39

As reticências e o ponto de exclamação, sinais gráficos subjetivos de grande


poder de sugestão e ricos em matizes melódicos, são ótimos auxiliares da
linguagem afetiva e poética. Porém, é preciso estar bem atento ao utilizar
esses sinais, refletindo sempre sobre seu uso, sendo o emprego desses si-
nais antes arbitrário, já que dependem do estado emotivo do escritor.
Fonte: Só português (2017, on-line)4.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Outro sinal de pontuação que também é muito utilizado no meio acadêmico são
as aspas. Possuem como função isolar do contexto frases ou palavras alheias.
Elas são empregadas, principalmente, no início e no fim de uma citação para
distingui-la do resto do contexto:
Ao tratar de objeto direto preposicionado, Bechara (2003) também não fala
da focalização que se emprega ao objeto quando este está no início da oração.
O autor afirma que usamos o objeto direto com preposição “quando se desejar
assinalar claramente o objeto direto nas inversões” (BECHARA, 2003, p. 54).
Utilizamos, também, as aspas nos termos ou expressões que queremos evi-
denciar, tais como estrangeirismos, arcaísmos, neologismos, gírias etc. Podemos
verificar essa aplicação no exemplo a seguir:

Ele se tornou meu “flamboyant” na primavera.

Usam-se, ainda, as aspas para acentuar o valor significativo de uma palavra


ou expressão, assim como para indicar o título de uma obra. Respectivamente,
temos os seguintes exemplos:

Eu não sou “isso” que você está dizendo!


Acabo de ler “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.

Sinais de Pontuação
40 UNIDADE I

Sobre os parênteses, podemos afirmar que são comumente usados para iso-
lar palavras, locuções ou frases intercaladas no período com caráter explicativo.
Isto é, são empregados para intercalar num texto qualquer indicação acessória.
São usados para:
a. Acrescentar uma explicação dada ou uma circunstância secundária:
É lá (no café da Rua 15) que se encontra o hotel que você procura.
b. Inserir uma reflexão, um comentário sobre o que se afirma:
Mais uma vez (e tinha consciência disso) mudava os planos do seu destino.

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c. Adicionar uma nota emocional, expressa em forma exclamativa ou inter-
rogativa:
“Deus (ou foi talvez o diabo?) deu-me este amor maduro...” (Campo de
Flores – Poesia de Carlos Drummond de Andrade).
d. Apresentar referências a datas, a indicações bibliográficas etc:
“Elipse é a omissão de uma expressão facilmente subentendível na enun-
ciação linguística” (BECHARA, Evanildo. Lições de Português pela análise
sintática. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003, p. 204).
e. Mostrar indicações cênicas (em peças de teatros, roteiros de televisão etc):
Personagem 1 (com voz trêmula) – Quem está aí?
Personagem 2 (rindo) – Não vou te dizer… você terá que vir até aqui e
ver com os próprios olhos!
Usam-se,, também, os parênteses para isolar orações intercaladas, isoladas no
texto. No entanto, esse uso ocorre mais frequentemente por meio de vírgulas ou
de travessões. Vejamos um exemplo:

Aquelas palavras ditas por meu pai (que por sinal são sábias) fizeram-me
refletir.

Observemos, agora, o uso dos colchetes. Esse sinal de pontuação é uma


variedade de parênteses, mas de uso restrito. Apesar de possuir a mesma fina-
lidade que os parênteses, seu uso é frequente nos trabalhos de linguística e de
filologia. Assim, empregam-se:

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


41

a. Quando, numa transcrição de texto de outra pessoa, o autor intercala


observações próprias:
“Cumpre assinalar que ocorre a inversão de um termo da oração adjetiva
para antes do relativo como na frase: o padre Francisco Gonçalves, pro-
vincial que acabou de ser [em lugar de: que acabou de ser provincial] da
província do Brasil...” (BECHARA, Evanildo. Moderna gramática por-
tuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004, p. 489).
b. Em definições do dicionário, para fazer referência à etimologia da palavra:
“Luzente. [Do lat. lucente] Adj. 2g. Que luz ou brilha” (Novo Dicioná-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

rio Aurélio, 1999).


c. Para indicar omissões de partes na transcrição/citação de um texto:
Bechara (2003) define as circunstâncias como “unidades linguísticas que,
referindo-se à significação do verbo, assinalam o modo, o tempo, o lugar,
a causa e outras mais [...]” (BECHARA, 2003, p. 53).
d. Para mostrar a transcrição fonética de uma palavra:
Mundo [‘mu~du]
Fugir [fu’Ȝir]

Por fim, trataremos do uso do travessão. Esse sinal de pontuação possui um traço
maior que o hífen e emprega-se, principalmente, em dois casos:
a. Na indicação de diálogos ou na mudança de interlocutor:
-Ele
não quer responder.
-Mas
por quê?
-Diz
que não está autorizado a falar.
b. Para isolar, num contexto, palavras ou frases:
Um bom ensino básico – já dito e repetido várias vezes – exige a valori-
zação do professor.

Além desses usos, é importante ressaltar que o travessão é utilizado para ligar
palavras ou grupos de palavras que se encadeiam em sintagmas do tipo: A estrada
Belém – Brasília; o percurso Paris – Londres, e não hífen como é comum as pes-
soas utilizarem.

Sinais de Pontuação
42 UNIDADE I

Com essa explicação sobre o travessão, chegamos ao fim da Unidade I. Com


este levantamento realizado, caro(a) aluno(a), pretendemos levá-lo(a) à refle-
xão sobre a gramática como um todo, assim como também aos diversos usos
dos sinais de pontuação. Aproveite as informações contidas aqui e busque ainda
mais conhecimentos a respeito desses assuntos, já que não esgotamos os sinais
de pontuação. Siga em frente!

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL: INTRODUÇÃO À SINTAXE


43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim desta primeira Unidade! Esperamos que, até aqui, nossas con-
tribuições tenham sido significativas para a ampliação de seu conhecimento
sobre a história da GT, a concepção de língua e os pressupostos oriundos da visão
tradicional. Todos os conceitos e questões relacionadas a esses temas são impres-
cindíveis para o seu trabalho futuro como professor(a) de Língua Portuguesa.
Podemos concluir que muito do que a GT prega ainda hoje foi herdado dos
gregos, quando estes instauraram a gramática. E, apesar de contestada e de apre-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

sentar problemas, toda a teoria inerente à GT precisa ser, sem dúvidas, conhecida
por todo profissional que trabalha diretamente com o ensino de língua materna.
Afinal, até mesmo para criticar e/ou propor renovações, procedimentos e méto-
dos mais apropriados para o ensino atual, antes de mais nada, é preciso conhecer
e entender, de fato, todas as noções e definições advindas da gramática tradicional,
a qual perpetuará para sempre sua importância no ensino de Língua Portuguesa
em nosso país. Além disso, ao tratarmos de alguns sinais de pontuação (e não
todos!), queremos que você, acadêmico(a) do curso de Letras, compreenda não
só os usos corretos desses sinais, mas também saiba ensiná-los aos seus alunos.
A importância desse conteúdo logo na primeira unidade se dá por vermos,
constantemente, que os alunos, de modo geral (seja na Educação Básica ou no
Ensino Superior), não compreendem que a pontuação produz sentidos, ou seja,
é preciso refletir e analisar que usar ou não uma vírgula, por exemplo, pode afe-
tar toda a interpretação de um texto.
Pois bem, para finalizar, reforçamos que o nosso desejo é de que todo con-
teúdo lido por você até então seja produtivo e útil para seu futuro profissional.
Não deixe de procurar, ainda, outras fontes de conhecimento. Aproveite as suges-
tões de leitura apresentadas no decorrer desta unidade e busque sempre mais!

Considerações Finais
44

1. De acordo com Cegalla (2002), a oração é a frase de estrutura sintática que apre-
senta, normalmente, sujeito e predicado, e, excepcionalmente, só o predicado.
Diante disso, assinale a alternativa que constitui oração:
a. Os juízes de paz.
b. Momentos antes das 7 horas da noite.
c. O pessoal do novo gabinete.
d. Muitos trataram logo de sair.
e. Quase cortadas as palavras com soluços.
2. Conforme os pressupostos da Gramática Tradicional, a Sintaxe corresponde a
um dos níveis de análise de uma língua, que tem como finalidade básica descre-
ver as regras responsáveis pela formação de uma sentença. Sobre isso, analise as
afirmativas a seguir:
I. – A sentença “Estação Liberdade” constitui uma frase nominal.
II. – Um exemplo de período composto é: “O líder Xanana Gusmão disse que a
língua portuguesa será adotada oficialmente no Timor Leste”.
III. – A sentença “Que rapaz impertinente!” constitui uma oração.
IV. – O período composto pode ser exemplificado em: “Machado de Assis foi um
ilustre brasileiro”.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas está correta.
3. Conforme vimos, podemos estudar a Gramática a partir de três perspectivas:
Gramática Normativa, Gramática Descritiva e Gramática Internalizada. Sobre es-
ses três diferentes tipos de gramática, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F):
( ) A Gramática Normativa, ou Prescritiva, estabelece normas a serem seguidas,
ou seja, apresenta e dita normas para a correta utilização oral e escrita da lín-
gua portuguesa, prescrevendo o que se deve e o que não se deve usar na
língua.
( ) Para a Gramática Descritiva, a frase “Os cachorro são dele, viu” é considerada
como inadequada.
( ) Na teoria da Gramática Internalizada, o indivíduo já tem conhecimento da
45

língua antes mesmo de ser alfabetizado ou frequentar a escola.


4. Considerando o que foi estudado nesta unidade, apresente qual o objetivo
principal da Sintaxe.
5. Leia os textos a seguir e faça o que se pede.
Texto 1
Você. Está. Precisando. Dirigir. Um. Carro. Com. Câmbio. Em. Que. Você. Não. Sente.
A. Mudança. De. Marcha.
Texto 2
Você está precisando dirigir um carro com câmbio em que você não sente a mudan-
ça de marcha.
Audi A4 com Multitronic.
O único câmbio com velocidade contínua.
(Textos adaptados de Cereja e Magalhães, 2013, p. 313)
Você estudou que a pontuação pode marcar, no plano da expressão escrita, as dife-
renças de entonação. Assim, ela pode contribuir para tornar um texto mais preciso
em relação ao sentido que se pretender dar a um enunciado. Considere esse estudo,
leia as assertivas que seguem e indique a alternativa que corresponde a explicação
sobre o sentido que o emprego do ponto final atribui aos textos 1 e 2.
I. O emprego do ponto final, após cada palavra no texto 1, sugere os trancos
que se pode sentir ao mudar a marcha de um carro.
II. O emprego do ponto final no texto 2 sugere apenas o encerramento de uma
ideia/período.
III. O emprego de pontos pospostos a cada palavra no texto 2 revela um desco-
nhecimento da regra gramatical do produtor desse texto.
IV. O emprego de apenas um ponto no final do texto 2, sugere ao leitor(a) que
a troca de marcha em um modelo de carro do tipo Audi A4 com Multitronic
ocorre sem trancos.
Está(ão) correta(s):
a. Apenas I.
b. Apenas IV.
c. Apenas I e IV.
d. Apenas II e IV.
e. Todas estão corretas.
46

O ensino da Gramática segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de


Língua Portuguesa
Aluno(a), falamos muito, até aqui, seja pela disciplina de Língua Portuguesa I (fonética,
fonologia e Morfologia), seja pela disciplina de Língua Portuguesa II, sobre os elemen-
tos linguísticos, mas para quê e como trabalhar esses aspectos do formalismo da língua
com o aluno? Assim, relevante é a você, estudante da língua e futuro(a) professor(a) des-
sa língua, ter conhecimento sobre como o documento dos PCNs estabelecem a aborda-
gem com a Língua Portuguesa em “contexto de sala de aula”. Nesse sentido, para facilitar
o seu conhecimento e a sua futura prática de ensino da Língua Portuguesa, leiamos esta
orientação dos PCNs:
A prática de reflexão sobre a língua
“Quando se pensa e se fala sobre a linguagem mesma, realiza-se uma atividade de na-
tureza reflexiva, uma atividade de análise linguística. Essa reflexão é fundamental para
a expansão da capacidade de produzir e interpretar textos. É uma entre as muitas ações
que alguém considerado letrado é capaz de realizar com a língua.
A análise linguística refere-se a atividades que se pode classificar em epilinguísticas e
metalinguísticas [...] em que realiza. Um exemplo disso é quando, no meio de uma con-
versa, um dos interlocutores pergunta ao ao outro “O que você quis dizer com isso?”, ou
“Acho que essa palavra não é mais adequada para isso” [...] Em se tratando de ensino de
língua, à diferença das situações de interlocução naturais, faz-se necessário o planeja-
mento de situações didáticas que possibilitem a reflexão sobre os recursos expressivos
utilizados pelo produtor do texto/autor do texto - quer esses recursos se refiram a as-
pectos gramaticais, quer a aspectos envolvidos na estruturação dos discursos -, sem que
a preocupação seja a categorização, a classificação ou o levantamento de regularidades
sobre essas questões.
Já as atividades metalinguísticas estão relacionadas a um tipo de análise voltada para a
descrição, por meio da categorização e sistematização dos elementos linguísticos (en-
tenda como elementos gramaticais). Essas atividades, portanto, não estão propriamen-
te vinculadas ao processo discursivo; trata-se da utilização (ou da construção) de uma
metalinguagem que possibilite falar sobre a língua. Quando parte integrante de uma
situação didática, a atividade metalinguística desenvolve-se no sentido de possibilitar
ao aluno o levantamento de regularidades de aspectos da língua, a sistematização e a
classificação de suas características específicas. Assim, para que se possa discutir a acen-
tuação gráfica, por exemplo, é necessário que alguns aspectos da língua - tais como a
tonicidade, a forma pela qual é marcada nas palavras impressas, a classificação das pa-
lavras quanto a esse aspecto e ao número de sílabas, a conceituação de ditongo e hiato,
entre outros - sejam sistematizados na forma de uma metalinguagem específica que
favoreça o levantamento de regularidades e a elaboração de regras [...]
47

O ensino da Língua Portuguesa, pelo que se pode observar em suas práticas habituais,
tende a tratar essa fala da e sobre a linguagem como se fosse um conteúdo em si, não
como um meio para melhorar a qualidade da produção linguística. É o caso, por exem-
plo, da gramática que, ensinada de forma descontextualizada, tornou-se emblemática
de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só serve para a língua por meio de
exemplificação, exercícios de reconhecimento e memorização de nomenclatura. Em
função disso, tem-se discutido se há ou não necessidade de ensinar gramática. Mas essa
é uma falsa questão: a questão verdadeira é para que e como ensiná-la.
Se o objetivo principal do trabalho de análise e reflexão sobre a língua é imprimir maior
qualidade ao uso da linguagem, as situações didáticas devem, principalmente nos pri-
meiros ciclos, centrar-se na atividade epilinguística, na reflexão sobre a língua em situ-
ações de [...] produção linguística. E, a partir daí, introduzir progressivamente os ele-
mentos para uma análise de natureza metalinguística. O lugar natural, na sala de aula,
para esse tipo de prática parece ser a reflexão compartilhada sobre textos reais” (BRASIL.
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portu-
guesa/Secretaria de Educação Fundamental: Brasília, p. 30-31)
Para os PCNs, a abordagem de ensino da gramática é tomada como a prática da análise
linguística, ou seja, no trabalho com a gramática, a língua não é entendida como um fim
em si mesma, como a exposição de terminologias, por exemplo, mas sim como prática
social mediada pela interação verbal. Nesse sentido, aluno(a), compreendemos que a
abordagem da gramática em “sala de aula” para o documento dos PCNs propõem uma
correlação entre a gramática normativa e a descritiva.
Fonte: as autoras.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Tradição Gramatical e Gramática Tradicional


Rosa Virgínia Mattos e Silva
Editora: Contexto
Sinopse: identifica as principais características da gramática
da Antiguidade e na Idade Média e suas projeções sobre a
gramática escolar da Língua Portuguesa. Analisa as primeiras
gramáticas do português, do século XVI, a gramática de Soares
Barbosa, séculos XVIII-XIX, e chega até a Nova Gramática do
Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra.
Deixando claro que até hoje a gramática tradicional reforça o
“dialeto das elites”, a autora mostra como se desenvolveu a argumentação sintática, desde as primeiras
observações sobre a combinação das classes de palavras, até a emergência de percepção sobre as
relações funcionais no interior da sentença. Esclarecedor e objetivo, este livro leva o leitor a repensar
questões com as quais ele se habituou sem de fato ter entendido.

No link a seguir, você encontrará um pouco mais a respeito da história de nossa gramática
tradicional. Maria Helena de Moura Neves detalha pontos importantes da formação da gramática,
citando filósofos gregos e explicando determinadas expressões.
Disponível em: <http://www.lpeu.com.br/q/aomh>.

Além deste, recomendamos, também, a você a leitura de Disponível em: <http://www.funedi.edu.


br/revista/files/edicoesanteriores/numero1/Oensinodelinguamaternadasdificul.pdf>. Nesse link,
você terá acesso a um interessante artigo que reflete acerca do ensino de língua materna, elenca
as dificuldades encaradas pelos professores e procura eleger soluções para o assunto.
49
REFERÊNCIAS

AZEREDO, J. D. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,


1990.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, p 30-31.
BECHARA, Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
______. Lições de Português pela análise sintática. 16. ed. Rio de Janeiro: Lucer-
na, 2003.
BERLINCK, R. A.; AUGUSTO, M. R. A.; SCHER, A. P. Sintaxe. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A.
C. (Orgs.). Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001,
p. 207 - 244 v.1.
CÂMARA JR. J. M. Princípios de Linguística Geral. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1974.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. 45. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2002.
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 2. ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
NEVES, M. H. M. A vertente grega da gramática tradicional. São Paulo: Editora
Hucitec, 1987.
______. PERINI, M. A. Estudos de gramática descritiva: as valências verbais. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
______. PERINI, M. A. Gramática descritiva do português. 2. ed. São Paulo: Ática,
1996.
______. PERINI, M. A. Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola Edi-
torial, 2010.
______. PERINI, M. A. Princípios de linguística descritiva: introdução ao pensa-
mento gramatical. São Paulo: parábola Editorial, 2006.
______. PERINI, M. A. Sofrendo a Gramática. 3. ed. São Paulo: Ática, 2005.
______. POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mer-
cado de Letras, 1996.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática
no 1º e 2º graus. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS ON-LINE

Em: <http://pucrs.br/manualred/textos/texto9.php>. Acesso em: 30 jul. 2017.


1

2
Em: <http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/os-estoicos.htm>. Acesso em: 30 jul.
2017.
Em:
3
<https://fichasmarra.wordpress.com/2011/11/07/frase-oracao-periodo/>.
Acesso em: 30 jul. 2017.
4
Em: <http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono33.php>. Acesso em: 30
jul. 2017.
51
GABARITO
REFERÊNCIAS

1. D.
2. A.
3. V, F, V.
4. O objetivo principal da sintaxe é descrever e explicar as regras para a formação
das sentenças.
5. C.
Professora Me. Fátima Christina Calicchio
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine de Nardo

II
Professora Me. Valéria Adriana Maceis

TERMOS “ESSENCIAIS” DA

UNIDADE
ORAÇÃO

Objetivos de Aprendizagem
■ Entender quais são os termos considerados “essenciais” em uma
oração.
■ Apresentar e exemplificar o termo sujeito e discutir sintaticamente a
importância do conceito de sujeito na oração.
■ Discutir sintaticamente a importância do conceito de predicado na
oração.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Os termos “essenciais” da oração sob o viés da Gramática Tradicional:
sujeito e predicado
■ Tipos de sujeito
■ Tipos de predicado
55

INTRODUÇÃO

A divisão binária sujeito/predicado retoma as raízes filosóficas gregas. A filosofia


aristotélica distinguia conceito, juízos (associação predicativa de dois conceitos)
e raciocínio (associação de juízos sob a forma de premissas – segundo as verda-
des – e de conclusão).
Nessa concepção filosófica, o homem grego habituou-se a relacionar dados
de conhecimento e a extrair conclusões lógicas e coerentes. Ao associar dois
conceitos, fazia-se uma proposição sobre a qual se estabelecia uma relação de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

afirmação ou de negação a respeito de um assunto, de um dado qualquer, de


outra pessoa etc.
Associados à proposição, tínhamos, nesse quadro, o termo sobre o qual se
declarava algo (o sujeito) e a própria declaração (o predicado). Graças à tradi-
ção grega, a análise gramatical passou a chamar sujeito e predicado às partes
fundamentais de qualquer construção centrada no verbo e dar-lhes as mesmas
definições que recebiam da lógica grega. Por isso, são chamados termos “essen-
ciais”, por se tratarem de partes basilares de qualquer construção.
Desse modo, adentraremos ao estudo da análise sintática, reconhecendo a
função sintática dos termos fundamentais da oração: o sujeito e o predicado.
Assim, este material didático se subdivide em três tópicos. A saber:
No primeiro, definimos os conceitos dos termos Sujeito e de Predicado, a
partir de uma contextualização e de uma reflexão sobre uma gramática escolar,
à luz da perspectiva tradicional.
No segundo Tópico, apresentamos, sob o ponto de vista tradicional, os Tipos
de Sujeito, e exemplos, a fim de suscitarmos uma reflexão sobre a importância
sintática desse elemento na oração.
No terceiro Tópico, também sob o ponto de vista tradicional, trazemos
um estudo dos Tipos de Predicado, bem como o seu conceito, exemplifica-
ções e, ainda, procuramos trazer uma discussão sobre a relevância sintática do
“Predicado” na oração.
Continue seus estudos. Ainda há muito pela frente!

Introdução
56 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OS TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO SOB O
VIÉS DA GRAMÁTICA TRADICIONAL: SUJEITO E
PREDICADO

Conforme vimos na unidade anterior, o falante possui a autonomia de escolher


os vocábulos que constituirão as orações, mas não pode criar a estrutura em
que as palavras se combinam apenas no campo das ideias. As estruturas oracio-
nais obedecem a certos modelos formais que constituem os padrões estruturais.
Conforme apresenta Bechara (2004, p. 23), as estruturas oracionais ou cons-
truções sintáticas apresentam seus processos característicos que são:
1. Associação dos vocábulos de acordo com a função sintática (regência);

2. Concordância dos vocábulos de acordo com certos princípios fixados na


língua (concordância);

3. Ordem dos vocábulos de acordo com sua função sintática e importância


na união das ideias (colocação).

Deste modo, pensando nessa apresentação de Bechara (2004) sobre o processo


das estruturas oracionais, vejamos a seguinte oração: “Os bons alunos dão ale-
gria aos pais”, em que temos “os bons alunos” exercendo a função de sujeito (de
acordo com a afirmação 1, citada), o que lhe garante, como posição normal, o
lugar inicial no contexto (de acordo com 3) e, por ser construído por um núcleo

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


57

masculino e no plural (“alunos”), determina que nesse número e gênero estejam


seus adjuntos (“os” e “bons”) e no plural o verbo da oração (“dão”), conforme
determina o item 2.
Assim também é a maneira que a NGB, mencionada na unidade anterior,
divide a sintaxe: de regência – nominal e verbal; de concordância – nominal e
verbal; e de colocação. No entanto, parte desse estudo, caro(a) aluno(a), você
verá na última unidade deste material e a outra parte na disciplina de Língua
Portuguesa III. Por isso, é importante estar sempre atento às leituras!
Enfim, essa apresentação foi uma retomada sobre a Sintaxe para que você,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

acadêmico(a), não esqueça que a oração, de modo geral, se constitui de dois ter-
mos essenciais: sujeito e predicado.
É válido mencionar que a noção de sujeito e de predicado também tem sua
origem na Antiguidade Clássica; tais conceitos difundiram-se com o estabeleci-
mento do que se entende por proposição, ou seja, o enunciado em que há uma
negação ou uma afirmação sobre algo ou sobre alguém. A partir desse reconhe-
cimento do que seria uma proposição, passou-se a classificar como sujeito todo
termo sobre o qual se declara algo e, para o predicado, firmou-se a definição de
que este corresponde à declaração feita acerca do sujeito. Com o passar do tempo,
a análise gramatical, sob forte influência da análise lógica e filosófica, passou a
chamar o sujeito e o predicado de partes fundamentais de qualquer construção
centrada no verbo, fosse ou não proposição.
A fim de apresentar para você o sujeito e o predicado por uma visão mais
tradicional, consultamos um livro didático utilizado nos bancos escolares; tra-
ta-se de Gramática: texto, análise e construção de sentido, de Maria Luiza M,
Abaurre e Marcela Pontara. O que encontramos será exposto a seguir para você.
Para Abaurre e Pontara (2006, p. 391; 397), “sujeito é o termo com o qual
o verbo da oração concorda em número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª e
3ª)” e “predicado é o termo da oração que faz uma predicação, ou seja, uma
afirmação sobre o sujeito. No caso das orações sem sujeito, a predicação é feita
genericamente”.
A título de exemplificação, as autoras apresentam:

Os Termos “Essenciais” da Oração Sob o Viés da Gramática Tradicional: Sujeito e Predicado


58 UNIDADE II

1. “Cláudia está feliz com o resultado das provas.”


Sujeito: Cláudia
Predicado: está feliz com o resultado das provas.
2. “O palestrante foi cumprimentado pelo jornalista.”
Sujeito: O palestrante
Predicado: foi cumprimentado pelo jornalista.
3. “Os judocas brasileiros apanharam dos adversários coreanos.”
Sujeito: Os judocas brasileiros

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Predicado: apanharam dos adversários coreanos.

Embora, em muitas sentenças, o elemento que age, exerce a ação expressa pelo
verbo, corresponde ao sujeito, os exemplos de Abaurre e Pontara (2006) destacam
que não se deve limitar a definição do sujeito a seu aspecto semântico apenas,
ou seja, afirmar que o sujeito é somente o agente da ação verbal. Nos exemplos
citados pelos autores, podemos notar que nenhum dos sujeitos das orações refe-
rem-se a agentes do processo verbal.

“Todo verbo é livre para ser direto ou indireto.”


(Fernando Anitelli)

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


59

TIPOS DE SUJEITO
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Vejamos agora como são apresentados os tipos de sujeito.


Sujeito simples: quando o sujeito tem um só núcleo, isto é, quando o verbo
se refere a um só substantivo, ou a um só pronome, ou a um só numeral, ou a
uma só palavra substantivada ou, ainda, a uma só oração substantiva.
Exemplos:

Antônio foi ao cinema.


Os alunos do segundo ano foram ao cinema.
Estavam de braços dados, ele arrumava a gravata, ela ajeitava o chapéu.
Ambos leem romances de amor.
Valeria a pena discutir com o irmão?

Tipos de Sujeito
60 UNIDADE II

Em uma oração existe um vocábulo de maior importância semântica, em


torno do qual giram os demais que com ele se relacionam e concordam.
Quando o sujeito é expresso por mais de um vocábulo, denomina-se núcleo
essa palavra de maior importância.
Núcleo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A jovem bela e pálida olha a lua
Sujeito predicado

O núcleo do sujeito sempre será um substantivo (ou expressão de valor


substantivo) ou um pronome.
Fonte: as autoras.

Sujeito composto: apresenta mais de um núcleo, ou seja, o sujeito pode ser cons-
tituído de mais de um substantivo, mais de um pronome, mais de uma palavra
ou expressão substantivada ou, ainda, mais de uma oração substantiva. A esse
respeito veja estes exemplos extraídos de Celso Cunha e Lindley Cintra (2007):

“As vozes e os passos aproximavam-se.”


“Eu e ele somos da mesma idade.”
“Falam por mim os abandonados de justiça, os simples de coração.”

Sujeito oculto ou elíptico: é aquele que, embora não explicitado na oração, pode
ser identificado pela flexão de número-pessoa do verbo, ou pela sua presença em
outra oração do mesmo período ou de um período antecedente. Dito de outra
maneira, a identificação do sujeito oculto faz-se:

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


61

a. Pela desinência verbal:


Ficamos um tempão sem conversar.
(O sujeito de “ficamos”, indicado pela desinência –mos, é “nós”.)
Estudarei a tarde toda.
(O sujeito de “estudarei”, que se deduz pela desinência do verbo, é “eu”.)
b. Pela presença do sujeito em outra oração do mesmo período ou de perí-
odo próximo:
Janelas são molduras dos acontecimentos. Testemunham o tempo e a
vida que corre por fora e por dentro.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(O sujeito, janelas, está expresso na primeira oração e elíptico/oculto na


segunda.)
Janaína acabava de chegar, na véspera do casamento de seu irmão, dor-
miu no sofá da sala; e agora se preparava para o festivo evento.
(O sujeito de “acabava de chegar”, “dormiu” e “preparava” é Janaína, men-
cionado na primeira oração.)

Sujeito indeterminado: algumas vezes, o verbo não se refere a uma pessoa deter-
minada, ou por se desconhecer quem executa a ação, ou por não haver interesse
no seu conhecimento. Assim, o sujeito indeterminado ocorre quando não vem
expresso na oração, nem pode ser identificado, não sendo possível identificar um
referente explícito na oração (ou no contexto do enunciado) para a flexão verbal:

Comentaram a respeito do suicídio no jornal.


Disseram coisas mentirosas a meu respeito.

Vale lembrar que, na existência de um contexto, pode-se determinar o sujeito,


ainda que a oração destacada apresente característica de indeterminação.

O sujeito é indeterminado quando:


- O verbo está na terceira pessoa do plural e não há sujeito expresso na ora-
ção nem é possível encontrá-lo:

Tipos de Sujeito
62 UNIDADE II

Assaltaram a casa!
(Quem assaltou? “Assaltaram” indeterminou o sujeito)

- O verbo de qualquer tipo (exceto o transitivo direto) estiver na terceira pes-


soa do singular, seguido do índice de indeterminação do sujeito “se”:

Necessita-se de pessoas para o cargo.

Agora, acadêmico(a), observe, com cuidado, as seguintes frases:

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Aluga-se casa.
Compram-se carros usados.
Confeccionam-se roupas de festa.

Veja que os exemplos parecem apresentar sujeito indeterminado. Na verdade, a


frase está na voz passiva pronominal, com o verbo transitivo direto, e o sujeito
está expresso (casa, carros usados, roupas de festa) e recebe a ação verbal.
Oração sem sujeito: não deve ser confundido o sujeito indeterminado, que
existe, mas não se pode ou não se deseja identificar, com a inexistência do sujeito.
A oração sem sujeito é aquela que apresenta um verbo impessoal. Também se
diz, nesses casos, que o sujeito é inexistente. Em orações como:

“Chove”
“Anoitece”
“Faz frio”

Interessa-nos o processo verbal em si, pois não o atribuímos a nenhum ser.


Diz-se, então, que o verbo é impessoal; e o sujeito, inexistente. Vejamos os prin-
cipais casos de inexistência do sujeito:

- Com verbos ou expressões que denotam fenômenos da natureza:


Chovia torrencialmente.
Nevou no Sul do país.

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


63

Ventou muito durante a noite.

- Com o verbo haver no sentido de “existir”:


Na sala de jantar havia ainda três quadros do pintor.
Há muita sujeira nos armários.

- Com os verbos haver, fazer e ir, quando indicam tempo decorrido:


Morava no Rio de Janeiro havia muitos anos.
Já faz cinco horas que ele saiu.
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Vai para uns quinze anos que escrevi aquele livro.

- Com o verbo ser, na indicação de tempo em geral:


Será cedo?
São oito horas.
Era inverno no sul catarinense.

- quando o verbo estar for empregado para indicar temperatura ou clima:


Está tão quente hoje!

Porém, prezado(a) aluno(a), é preciso ficar atento para o caso dos verbos que
exprimem fenômenos meteorológicos. Quando eles são usados em sentido figurado,
esses verbos possuem sujeito e deixam de ser impessoais, como ocorre a seguir:

O professor trovejava ameaças diante da bagunça dos alunos.


Choviam sobre a cidade os projéteis da artilharia francesa.
Dormiu mal, mas amanheceu alegre.

Agora, vamos retomar alguns exemplos citados por Abaurre e Pontara (2006),
que também já foram citados aqui, para, na sequência, adentrarmos na discus-
são sobre os tipos de predicados.
Vamos lá! Como você notou, os sujeitos simples, composto e oculto formam
o grupo dos chamados sujeitos determinados. Os dois primeiros são assim
denominados por apresentarem seus núcleos expressos na oração. E, no caso do

Tipos de Sujeito
64 UNIDADE II

sujeito oculto, é considerado também determinado por ser facilmente identifi-


cado pela flexão número-pessoa do verbo ou, ainda, pelo contexto do enunciado
(sujeito presente em outra oração do mesmo período ou do período antecedente).

Nos exemplos de Abaurre e Pontara (2006) referentes ao sujeito simples:


Antônio foi ao cinema.
Os alunos do segundo ano foram ao cinema.

Notamos a presença de apenas um núcleo; no primeiro, representado pelo

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termo “Antônio”, e no segundo, embora o sujeito corresponda a toda a parte: os
alunos do segundo ano, seu núcleo trata-se apenas da palavra alunos.
Em se tratando de sujeito composto, podemos notar com clareza os núcleos
Eduardo e Mônica, no exemplo Eduardo e Mônica foram ao cinema.
No que diz respeito ao sujeito oculto ou elíptico vemos que, no exemplo de
Abaurre e Pontara (2006):

Janelas são molduras dos acontecimentos, testemunham o tempo e a vida que


corre por fora e por dentro.

O termo janelas é o sujeito simples do verbo “ser”, na primeira oração, e sujeito


oculto do verbo “testemunhar”, na segunda oração – o contexto e a flexão do
verbo na 3ª pessoa permitem identificar tal sujeito oculto.
Com relação ao sujeito indeterminado, podemos identificar duas orações
no período utilizado no exemplo “Disseram que alguns cheques meus voltaram”.
Somente na segunda oração deste, porém, conseguimos identificar um sujeito – os
cheques meus – referente ao verbo “voltar”. Na primeira oração, o verbo “dizer” está
flexionado na 3ª pessoa do plural, mas não podemos atribuir tal flexão a nenhum
termo presente no período. Isto é, não sabemos quem executou a ação de dizer.
Ainda tratando do sujeito indeterminado, Abaurre e Pontara (2006) ressaltam
que, dependendo do modo como utiliza tal sujeito, o falante acaba por revelar sua(s)
intenção(ões) no ato comunicativo. Em algumas situações, como em: “Querem aca-
bar com este país!”, o emissor parece intencionalmente deixar para o leitor/receptor
a tarefa de fazer uma hipótese sobre qual poderia ser o sujeito do verbo “querer”

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


65

(os políticos, os banqueiros, as forças econômicas internacionais etc.). Segundo as


autoras, em termos discursivos, faz muita diferença explicitar um sujeito ou pro-
duzir intencionalmente um efeito de indeterminação desse sujeito.
Abaurre e Pontara (2006) também enfatizam a questão do sujeito que apre-
senta pronomes indefinidos. Em casos como: “Alguém quebrou o vidro da escola”
e “Ninguém sabe quando os resultados serão divulgados”, apesar de haver uma
indefinição semântica (não se consegue identificar o referente específico do pro-
nome), sintaticamente, por termos os pronomes explícitos na oração, devemos
considerar tais casos como sujeitos determinados.
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Um último apontamento feito pelas autoras acerca do sujeito indetermi-


nado compreende explicações sobre sua estrutura sintática. De acordo com
Abaurre e Pontara (2006), os sujeitos indeterminados podem ser caracteriza-
dos no Português das seguintes maneiras:

- Com verbo transitivo direto na 3ª pessoa do plural (como no exemplo


já citado): “Disseram que alguns cheques meus voltaram”, já que não podemos
determinar quem disse, quem exerceu a ação do verbo; e

- Com verbo transitivo indireto, verbo intransitivo ou verbo de ligação na 3ª


pessoa do singular + pronome se (índice de indeterminação do sujeito), conforme
vemos, respectivamente, nos exemplos: “Precisa-se de vendedores”; “Come-se
bem na Itália”; “Aqui se está feliz”. Nos três casos, não conseguimos identificar
quem ou o quê precisa, come ou está feliz.
Ao exporem os casos de oração sem sujeito, Abaurre e Pontara (2006) afir-
mam que alguns contextos semânticos específicos criam condições para que
determinados verbos sejam utilizados de modo impessoal, provocando, com isto,
a inexistência do sujeito na oração. A forma gramatical usada para marcar essa
impessoalidade verbal é a 3ª pessoa do singular. Nos exemplos citados temos, res-
pectivamente, os verbos: “haver”, “chover”, “estar”, “fazer” e “ser” como impessoais.
Em: “Houve sérios casos de dengue hemorrágica em alguns estados, recen-
temente”, há apenas predicado – a declaração proferida mediante o verbo haver
não se refere a nenhum ser; nota-se o sentido de existência, ocorrência, em enun-
ciados de haver como este.

Tipos de Sujeito
66 UNIDADE II

No exemplo com o verbo “chover” (“Chove muito na região amazônica”),


há indicação de fenômeno da natureza – verbos que indicam ações como esta
(trovejar, ventar, nevar etc.) também são considerados impessoais, sem sujeito,
portanto. Ao citarem esses casos, as autoras aproveitam para advertir que é preciso
se ter cuidado com verbos que indicam fenômenos da natureza, quando utili-
zados em sentido figurado, pois, nessas situações, apresentam sujeito. Exemplo:
“Choveram queixas depois que a prefeitura aumentou o IPTU” – nesta oração,
o verbo “chover”, em nítido uso figurativo, apresenta o elemento “queixas” como
seu sujeito simples.

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Seguindo outro exemplo “Está muito tarde”, que constitui oração sem sujeito,
encontramos, também, apenas um predicado, desta vez, com o verbo “estar”, rela-
cionando-se a uma expressão temporal. De qualquer modo, novamente, vemos
que a declaração “está muito tarde” não se refere a nenhum outro elemento da
oração. Com isto, o sujeito é também inexistente.
Em: “Faz dois anos que não vejo meus pais”, temos duas orações, uma vez
que há dois verbos no período: “fazer” e “ver”. O primeiro deles, também em
uma indicação de tempo, introduz uma oração sem sujeito, já que não há um
termo na oração que esteja executando ou recebendo a ação de fazer dois anos e,
no que se refere ao segundo verbo, vemos que ele centraliza um caso de sujeito
oculto, pois sabemos quem é o elemento sobre o qual o verbo “ver” se refere,
ou seja, quem realiza a ação verbal: o pronome “eu” – ele apenas apresenta-se
“escondido” na desinência verbal (quem não vê os pais? Eu).
O último exemplo “São duas horas” encerra um caso particular porque,
diferentemente dos outros verbos impessoais, este pode ser utilizado no plural.
Trata-se dos casos de oração sem sujeito com o verbo “ser” – nas indicações de
tempo, ele deve concordar em número com a expressão numérica que o acom-
panha. Por essa razão é que dizemos “São duas horas” e não “É duas horas”. De
qualquer maneira, fica-nos claro que, ao proferirmos enunciados como este com
o verbo “ser”, não atribuímos a declaração verbal a nenhum ser e/ou termo da
oração. Logo, o sujeito inexiste.
Caro(a) aluno(a), acredito que, neste momento, você está preparado para dar
continuidade aos estudos sobre os termos da oração. É muito importante que você
compreenda bem os tipos de sujeito para, na sequência, classificar o predicado.

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


67

“Todo sujeito é livre pra conjugar o verbo que quiser.”


(Fernando Anitelli)

TIPOS DE PREDICADO
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Uma vez separado o sujeito da oração, identifi-


cado, na maior parte das vezes pela concordância
com o verbo, o que resta de uma oração está
ligado ao verbo predicador, aos seus complemen-
tos e aos seus elementos circunstanciais. A esse
conjunto denominamos predicado. Em outras
palavras, predicado é tudo o que “resta”, retirando
o sujeito. Isso implica dizer que há orações cons-
tituídas apenas de predicado, como é o caso das
orações sem sujeito. Assim, o predicado pode ser
nominal, verbal ou verbo-nominal.
Iniciaremos pelo predicado nominal. Este tem um nome (substantivo, adje-
tivo, pronome) que funciona como seu núcleo e está ligado ao sujeito por um
verbo de ligação (ser – verbo de ligação por excelência) ou por verbos de estado
(estar, permanecer, ficar, tornar-se, virar, transformar-se, parecer, andar).

João é estudioso.
Maria parece chateada.
Lucas permaneceu calado.
Sérgio ficou irritado com a notícia.
Antônio anda acamado.
João virou bicho ontem.

Tipos de Predicado
68 UNIDADE II

De acordo com Cunha e Cintra (2013, p. 147), os verbos de ligação (também


chamados de copulativos) servem para estabelecer a ligação entre duas pala-
vras ou expressões de caráter nominal. Não trazem propriamente ideia nova
ao sujeito; funcionam apenas como “laço” entre este e o seu predicativo.
Como há verbos que se empregam ora como copulativos, ora como signifi-
cativos, é necessário observar sempre o valor que apresentam em determi-
nado texto, a fim de classificá-los adequadamente.
Verifique as seguintes frases e compare-as:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Estava triste. Estava em casa.
Andei muito preocupado. Andei muito hoje.
Fiquei magoado. Fiquei no meu lugar.
Continuamos silenciosos. Continuamos a manifestação.

Veja que, nas primeiras, os verbos: estar, andar, ficar e continuar são verbos
de ligação, pois funcionam como um elo entre o sujeito e o predicado. Já nas
segundas, são verbos significativos, que indicam uma ação.
Fonte: as autoras.

Às vezes, no interior de uma oração, ocorre a possibilidade de um adjetivo tam-


bém poder funcionar como predicador. Isso significa que esse adjetivo selecionado
pode, igualmente, ter uma estrutura argumental. Vejamos:

A terra é redonda.

Nesse caso, o verbo de ligação é apenas um suporte de tempo; é o adjetivo o


predicador da oração. Por isso mesmo ele é considerado o núcleo do predicado
nominal. Nos exemplos anteriores, “estudioso”, “chateada”, “calado”, “irritado,
“acamado”, “bicho” são considerados os núcleos do predicado nominal.
Esses núcleos possuem um nome específico: predicativos. Chamamos “pre-
dicativo” o termo que indica um estado, ou uma qualidade ligada ora ao sujeito,
ora ao objeto. O predicativo do sujeito ocorre no predicado nominal e pode

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


69

apresentar algumas estruturas, tais como:

A terra é redonda. (adjetivo)


A mesa é de madeira. (locução adjetiva)
O amor dela é de mãe. (locução adjetiva equivalente a materno)
Eu não sou você. (pronome em função predicativa)
A cidade é aqui. (advérbio/pronome dêitico)

Os exemplos anteriores não vão contra a ideia de que o predicativo tem um núcleo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

nominal, visto que o predicativo é uma função sintática e não uma classe gramati-
cal, ou seja, a realização do predicativo pode ocorrer, também, por outras classes
que não a do adjetivo ou a do substantivo. Nesse caso, interpreta-se que tais classes
foram “recategorizadas”, isto é, assumiram o papel de nomes. Recategorizar uma
classe significa, portanto, atribuir-lhe as mesmas categorias centrais de que ela dis-
põe. Assim, temos o pronome você, um pronome pessoal normalmente sujeito em
outros contextos, funcionando como predicativo. Observe os exemplos a seguir:

Você deve ficar em casa hoje. (Aqui, “você” funciona como sujeito).

Eu não sou você. (Nesse caso, “você” funciona como predicativo).


Enfim, como você deve ter notado, a condição essencial para que haja um
predicado nominal é a presença de um verbo de estado explícito ou de ligação.
Já o predicado verbal, como o próprio nome sugere, é o predicado que tem
um verbo como elemento predicador, isto é, o verbo é o seu núcleo. Em outras
palavras, esse verbo, que é o núcleo do predicado, indica ação. Por isso, constrói-
-se com os verbos transitivos e os intransitivos. Em seu interior estarão as funções
ou argumentos internos do verbo. São elas: objeto direto, objeto indireto, adjun-
tos adverbiais etc. Vejamos como isso ocorre nas frases a seguir:

João vendeu seu carro. (“vendeu” é o núcleo do predicado verbal; “seu carro”
é o argumento interno desse verbo, ou seja, seu objeto direto).

Tipos de Predicado
70 UNIDADE II

João vendeu seu carro ao irmão. (“vendeu” é o núcleo do predicado ver-


bal; “seu carro” e “ao irmão” são argumentos internos desse verbo, ou seja, seu
objeto direto e seu objeto indireto, respectivamente).

Ana canta e João dança. (“canta” e “dança” são núcleos de dois predicados
e são verbos intransitivos nesse contexto).

João chegou em casa tarde. (verbo intransitivo).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O predicado verbo-nominal é o predicado que tem como núcleos um verbo
e um nome. Um deles está representado por um verbo predicador, e o outro
está representado por um adjetivo predicador. Por isso mesmo são chamados
de predicados verbo-nominais. Observe que, nesses casos, é possível separar as
orações em duas outras:

Eu acho a saia balonê esquisita.

1ª. Oração: Eu acho (predicado verbal/predicado primário).


2ª. Oração: A saia balonê é esquisita. (predicado nominal/predicado
secundário).

Diante disso, podemos afirmar que o predicado verbo-nominal é o predi-


cado cujos núcleos são constituídos, ao mesmo tempo, de um verbo que indica
ação e um predicativo.
O predicado verbo-nominal pode ser formado por:

I. Verbo intransitivo + predicativo do sujeito:


O trem chegou atrasado.
(“o trem chegou” e “o trem estava atrasado”)

II. Verbo transitivo + objeto + predicativo do sujeito:


O réu deixou a sala abatido.
(“o réu deixou a sala” e “o réu estava abatido”)

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


71

III. Verbo transitivo + objeto + predicativo do objeto:


Eu acho a Denise bonita.
(A palavra “bonita” refere-se ao objeto direto “Denise”, portanto é pre-
dicativo do objeto).
Alguns verbos, como “considerar”, “julgar”, “chamar”, “apelidar”, “nomear” etc,
constroem predicados verbo-nominais com predicativo do objeto. Entendemos
por predicativo do objeto a atribuição de estado ou uma característica ligada ao
objeto direto ou indireto.
Na oração “Encontrei Paulo doente” temos dois núcleos: um verbo – encon-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

trar – e um adjetivo predicador – doente – que se liga ao objeto direto “Paulo”.


Desse modo, temos duas orações: encontrei Paulo e Paulo está doente.
Enfim, os predicados nominais contemplam os verbos de ligação e os verbos
de estado. Já os predicados verbais contemplam verbos intransitivos e transitivos
(diretos e indiretos). Enquanto os predicados verbo-nominais consideram ver-
bos de ação. O predicativo do sujeito pode ser encontrado tanto no predicado
nominal quanto no predicado verbo-nominal; o predicativo do objeto é encon-
trado apenas no predicado verbo-nominal.
Para aprofundar mais nossos estudos, entendemos como pertinente apre-
sentar a explicação dos gramáticos Abaurre e Pontara (2006) sobre o predicado:

Para que servem o sujeito e o predicado?


Sujeito e predicado são estruturas linguísticas fundamentais da linguagem
verbal. Para nos referirmos ao mundo que está a nossa volta – aos seres que
existem, aos fatos que acontecem, aos sentimentos e ideias que temos, às
ações que realizamos etc. – e interagirmos com outras pessoas, quase inevi-
tavelmente lançamos mão do sujeito e do predicado.
Sujeito e predicado estão diretamente relacionados à necessidade que o ser
humano tem de verbalizar o que pensa e sente: sobre o mundo, sobre si
mesmo e sobre suas relações.
Fonte: Cereja e Magalhães (2013, p. 224).

Tipos de Predicado
72 UNIDADE II

Quadro 1 - Tipos de predicado

TIPOS DEFINIÇÃO EXEMPLOS


Predicado “é aquele que apresenta um verbo como núcleo”. “- [...] limpei o
Verbal gelo de minha
máscara de
oxigênio [...]”.
Predicado “é aquele que tem como núcleo uma forma nomi- “- Guerra é
Nominal nal (substantivos, adjetivos, locuções adjetivas) ou absurdo.”
pronominal. Os verbos que ocorrem nos predica-
dos nominais são sempre de ligação. Os termos
que constituem o núcleo dos predicados nominais

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denominam-se predicativos do sujeito”.
Predicado “é aquele que apresenta dois núcleos: um núcleo “- Quem fez as
Verbo- verbal (verbo transitivo ou intransitivo, que ex- montanhas
Nominal pressam ação) e um núcleo nominal (substantivos, brilhantes?”
adjetivos, locuções adjetivas) ou pronominal, que
atua como predicativo do sujeito ou do objeto a
que se refere”.
Fonte: Abaurre e Pontara (2006).

As definições para os tipos de predicado, apresentadas por Abaurre e Pontara


(2006), representam bem o que a grande maioria das gramáticas tradicionais
e demais livros didáticos utilizados nas escolas, durante as aulas de Língua
Portuguesa, professam e prescrevem aos nossos alunos com relação a esse
conteúdo.
Ao que diz respeito ao predicado verbal, explica-se, de fato, que este é for-
mado por um verbo de ação (transitivo ou intransitivo), o qual funciona como seu
núcleo. Não há base nominal significativa, constituída por predicativos (assunto
que será mais detalhado na próxima unidade deste livro), como nos outros dois
predicados. Os demais termos que podem aparecer nesse tipo são complementos
verbais (objetos) ou adverbiais. No exemplo citado, pelo fato de o sujeito apre-
sentar-se oculto (eu), o predicado refere-se a todo o enunciado exposto: “[...]
limpei o gelo de minha máscara de oxigênio [...]” e o núcleo do predicado é o
verbo transitivo “limpar”. O trecho “o gelo de minha máscara de oxigênio” cor-
responde ao complemento do verbo “limpar”, ou seja, ao objeto da oração (os
objetos também serão tratados na Unidade III deste livro).

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


73

No exemplo do predicado nominal: “Guerra é absurdo”, o sujeito é simples:


“Guerra”, e o predicado é formado pelo verbo de ligação “é” e pelo predicativo do
sujeito: “absurdo”, que funciona como núcleo de tal predicado. Este é o único tipo
de predicado que apresenta explícito um verbo de ligação, ou seja, aquela cate-
goria de verbo, como o “ser”, do exemplo, que não possui conteúdo referencial
no sentido estrito do termo, servindo apenas como elo entre o sujeito da oração
e o predicativo deste. Tal predicativo corresponde a uma característica atribuída
ao sujeito; no exemplo, a característica “absurdo” é atribuída ao sujeito “guerra”
e o verbo “é” faz a ligação entre tais elementos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Em se tratando do predicado verbo-nominal, temos o exemplo: “Quem


fez as montanhas brilhantes?”. Neste, o pronome relativo “quem” representa o
sujeito e o restante da oração forma, assim, o predicado. Esse predicado cons-
titui-se, portanto, mediante dois núcleos: o verbo transitivo, de ação “fazer”, e
o predicativo: “brilhantes”. Neste caso, é predicativo do objeto e não do sujeito,
visto que apresenta uma característica das montanhas – estas que estão funcio-
nando como objeto, complemento do verbo “fazer” nessa oração.

Tipos de Predicado
74 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pois bem, encerramos a segunda Unidade deste livro. Buscamos, aqui, trazer
até você noções importantes sobre os chamados termos “essenciais” da oração.
Todos os conceitos e questões relacionadas a esses temas são imprescindíveis para
o seu trabalho futuro como professor(a) de Língua Portuguesa, por isso, apesar
da existência de outras abordagens com relação ao sujeito e predicado, é impor-
tante que conheçamos, primeiramente, a perspectiva tradicional.
Conhecemos, com detalhes, os dois termos “essenciais” da oração, ou seja,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os termos que, normalmente, aparecem em toda oração: sujeito e predicado.
Podemos salientar, entre os pontos mais marcantes observados, o destaque que
a GT dá à identificação e classificação dos tipos de sujeito e predicado. Sendo o
sujeito o ser de quem se diz alguma coisa ou o termo a que se refere o predicado,
caracterizando-se como o termo que rege ou comanda o verbo; o predicado é tudo
aquilo que se informa a respeito do sujeito e contém verbo que concorde com ele.
A partir disso, você pôde observar que o sujeito está subcategorizado em sim-
ples, composto, oculto ou elíptico; sujeito indeterminado e oração sem sujeito.
Nessa estreita relação entre os termos essenciais de uma oração, vimos que o pre-
dicado está subdividido em: predicado nominal, pois seu núcleo é constituído
a partir de uma base nominal; predicado verbal: é assim denominado porque
o núcleo do predicado é uma base verbal nocional; e, por fim, você pôde notar
que o predicado verbo-nominal apresenta dois núcleos, um é o núcleo verbal e
o outro o nominal. Vale lembrar que mesmo diante da existência da oração sem
sujeito, não há oração sem predicado. Vimos, assim, uma relação intrínseca fun-
cionando entre os dois termos na oração.
Espero que, com todas as informações, exemplos e conceitos abordados nesta
unidade, tenhamos colaborado com a ampliação de seu conhecimento acerca
dos chamados termos “essenciais” da oração.

TERMOS “ESSENCIAIS” DA ORAÇÃO


75

1. Leia a oração a seguir:


“Gente, consegui adotar um gatinho!”
Quem é o sujeito desta oração? Analise-o sob a perspectiva tradicional.
2. Destaque o sujeito e o predicado na oração a seguir. Na sequência, classifique-
-os:
“A sociedade era anônima, mas o desfalque no caixa tornou-a famosa.”
3. Leia o excerto a seguir extraído do poema de Alphonsus de Guimarães:
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.
[...]
Em “Lembrando-se daquela que os colhia”, o sujeito do verbo “colher” é:
a. Tela.
b. Os (4º. verso).
c. Que (no lugar de aquela).
d. Indeterminado.
e. Oração sem sujeito.
4. Assinale a alternativa que contém um predicativo do objeto:
a. Os vencedores saíram contentes.
b. Julgou-se perfeita a execução.
c. Acharam o ambiente saudável.
d. O trem chegou atrasado.
e. A bandeira é símbolo da Pátria.
5. Classifique os sujeitos e os predicados nas orações a seguir:
a. Mandaram arrancar os trilhos da ferrovia.
b. Os trilhos de uma ferrovia são um monumento à civilização.
c. Julgo selvagem o comportamento do motorista brasileiro.
d. O fracasso da equipe deixou boquiabertos os torcedores.
e. Os tutores cumprimentaram a comissão do MEC.
76

Sujeito semântico ou sujeito sintático?


Conforme estudamos durante esta unidade, sujeito e predicado são os termos essen-
ciais da oração. Os dois estão em paralelismo sintático – reiteração de uma estrutura
sintática – então colocar o sujeito e omitir o predicado constitui-se numa quebra desse
paralelismo. O conceito em torno do sujeito varia de autor para autor. Alguns afirmam
que é o ser que pratica a ação, sendo essa definição válida para alguns casos; há frases
em que o sujeito é paciente, há outras, ainda, em que o sujeito não pratica nem sofre a
ação. Observe:
A torcida do Santos aplaude Robinho. (sujeito agente)
Robinho é aplaudido pela torcida do Santos. (sujeito paciente)
Robinho é um craque. (o sujeito é caracterizado, recebe uma qualidade)
Robinho emocionou-se com os aplausos. (sujeito experienciador psicológico)
Há, também, quem defina o sujeito como o ser do qual se fala alguma coisa. A definição
é válida, porém há frases em que o assunto do qual se fala não ocupa a posição de sujei-
to. Além disso, existem, ainda, frases em que se discute um assunto, mas não há sujeito,
por exemplo:
Há muito sangue no solo árabe. (o sujeito é inexistente – oração sem sujeito)
Como, então, identificar tão importante termo da oração? Primeiramente, há de se dis-
tinguir o sujeito semântico do sujeito sintático. O sujeito semântico está no nível da
interpretação do texto, enquanto o sintático está no nível da análise sintática (o termo
da oração que cumpre a função de sujeito sintático, estando em relação de concordân-
cia com o verbo). Compare:
[Robinho recebeu a notícia ontem à noite]
[nos próximos dias, ele viajará para a Espanha]
Temos duas orações. Na primeira, o sujeito sintático e o sujeito semântico são os mes-
mos: “Robinho”. Na segunda, o sujeito semântico é Robinho (“ele”=”Robinho”), mas o
sujeito sintático é o pronome pessoal do caso reto “ele”. É esse pronome que cumpre
a função de sujeito da forma verbal “viajará”. Desse modo, o substantivo próprio “Robi-
nho” é sujeito sintático apenas da primeira oração, visto não estar presente na segunda
oração, senão semanticamente por meio do pronome que o representa. Veja mais este
outro exemplo:
[Ronaldo, Romário e Rivaldo também foram eleitos os melhores do mundo];
[os craques ganharam o prêmio, aliás, com a mesma camisa do Barcelona].
77

Na primeira oração, o sujeito sintático e semântico é o mesmo: “Ronaldo, Romário e Ri-


valdo”. Na segunda, o sujeito semântico é o mesmo da primeira frase, “Ronaldo, Romário
e Rivaldo”, mas o sujeito sintático é o substantivo “craques”. É esse substantivo que está
em relação de concordância com o verbo “ganharam” da segunda oração.
A mudança de sujeito sintático, nos dois exemplos discutidos, é um fato estilístico, isto
é, tal procedimento evita a repetição do sujeito. A noção de sujeito nas gramáticas liga-
-se ao sujeito sintático, que, para ser identificado, deve passar pelas verificações citadas
anteriormente.
Não se esqueça, ainda, de que o sujeito pode ser expresso por uma única palavra ou
ter significado ampliado por meio de outras palavras que giram em torno da palavra
central, que é o núcleo:
As inocentes crianças sobreviveram ao ataque aéreo.
Sujeito – todo complexo (o sujeito como um todo) – “As inocentes crianças”
Núcleo – palavra central do todo complexo – “crianças”

Fonte: as autoras.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Sintaxe, sintaxes – uma introdução


Gabriel de Ávila Othero e Eduardo Kenedy
Editora: Contexto
Sinopse: diferentes abordagens teóricas tentam
explicar o que é e como funciona a sintaxe de
determinadas línguas. Algumas delas são muito
complexas, por sinal. Esse livro apresenta, ao estudante
universitário da área de Letras e Linguística, onze
capítulos que ilustram diferentes maneiras de conceber
e de fazer sintaxe. Reúnem-se aqui as principais abordagens que se vêm mostrando influentes e
produtivas nos estudos de sintaxe desenvolvidos no Brasil nas últimas décadas. Assim, essa obra
oferece a possibilidade de comparar sistematicamente as noções básicas de onze paradigmas em
sintaxe, ao mesmo tempo que aponta direções para aprofundamento, abrindo espaço para os
primeiros passos na formação de novos sintaticistas.

2º Ciclo de Conferências - “Para quem se faz uma gramática”


Caro(a) aluno(a), sugiro que assistam ao vídeo que se trata de uma conferência intitulada “Para
quem se faz uma gramática?” Tema bastante pertinente para você refletir sobre a gramática.
Essa conferência tem como conferencista o gramático Evanildo Bechara, dentre outros
estudiosos da língua Portuguesa. Assista ao vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=wOj1Y3XnwtA>.
79
REFERÊNCIAS

ABAURRE, M. L.; PONTARA, M. Gramática: texto: análise e construção de sentido.


São Paulo: Moderna, 2006.
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Editora Lu-
cerna, 2004.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
CUNHA, C; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6. ed. Rio
de Janeiro: Lexikon, 2013.
______. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5. ed. Rio de Janeiro: Le-
xikon, 2007.
GABARITO

1. Na frase, o sujeito não aparece explicitamente na oração, mas conseguimos


identificá-lo com facilidade por meio do verbo: refere-se à primeira pessoa do
singular (eu). Tradicionalmente, tal sujeito é conhecido como oculto ou elíptico.
2. Primeira oração: A sociedade (sujeito simples) era anônima (predicado nomi-
nal).
Segunda oração: O desfalque no caixa (sujeito simples) tornou-a famosa (pre-
dicado nominal).
3. C.
4. C.
5.
a) Sujeito indeterminado e predicado verbal.
b) Sujeito simples e predicado nominal.
c) Sujeito oculto e predicado verbo-nominal.
d) Sujeito simples e predicado verbo-nominal.
e) Sujeito simples e predicado verbal.
Professora Me. Fátima Christina Calicchio
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine de Nardo

III
Professora Me. Valéria Adriana Maceis

TERMOS “INTEGRANTES ”

UNIDADE
DA ORAÇÃO

Objetivos de Aprendizagem
■ Conceituar os chamados termos “integrantes” da oração, sobretudo
os objetos, e caracterizar esses complementos verbais.
■ Apresentar e exemplificar o complemento nominal.
■ Compreender e exemplificar o predicativo.
■ Analisar o agente da passiva.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Complementos verbais: os objetos
■ Complemento nominal
■ O predicativo
■ O agente da passiva
83

INTRODUÇÃO

Também chamados de termos “associados” ao nome, os termos “integrantes” da


oração completam verbos e nomes que necessitam da presença de outros termos
para terem sua significação completa. Entre esses termos “integrantes”, tradicio-
nalmente, temos: o objeto direto, o objeto indireto, o complemento nominal, o
predicativo e o agente da passiva. Com base nesse conteúdo, organizamos esta
unidade da seguinte maneira.
A princípio, trataremos dos complementos verbais – os objetos. Segundo a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tradição, estes são diretos quando não estiverem acompanhados de preposição,


e indiretos quando a exigirem. Traremos, também, uma discussão sobre o objeto
direto preposicionado que ocorre quando um verbo transitivo direto apresenta
um objeto direto precedido de preposição.
A seguir, veremos o complemento nominal, termo que integra orações em
que há substantivos abstratos ou adjetivos ou advérbios necessitando de comple-
mentação, ou seja, veremos as palavras que completam nomes. Tais complementos
sempre são regidos por preposições.
Na sequência, estudaremos o predicativo, complemento que apresenta esta-
dos, características, atributos para o sujeito ou para o objeto da oração. Em se
tratando de predicativo do sujeito, este será indicado por um verbo de ligação, o
qual, como o próprio nome diz, forma um elo entre o sujeito e o seu predicativo.
Por fim, o último termo a ser estudado, considerado também “integrante”
da oração, é o agente da passiva. Este, que integra apenas orações escritas na
voz passiva analítica, corresponde ao termo que age, executa a ação, quando o
sujeito a recebe.
Como já afirmei anteriormente, apesar de criticados, os conceitos defendidos
pela GT, tais como os que serão vistos nesta unidade, precisam ser conhecidos a
fundo por futuros professores de Língua Portuguesa, assim como você! Boa leitura!

Introdução
84 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
COMPLEMENTOS VERBAIS: OS OBJETOS

Termos que completam verbos de ação, os chamados transitivos. Acredito que


em sua vida escolar você já tenha estudado os complementos verbais, certo? Se
sim, com as informações expostas aqui, você ampliará seu conhecimento acerca
deles e será instigado(a) a refletir sobre outras propostas de ensino que você
venha a se deparar durante a vida acadêmica ou profissional, referentes a esses
termos considerados integrantes da oração. Caso você ainda não conheça ou
então não se recorde dos objetos diretos e indiretos, esta é uma ótima oportuni-
dade para que os conheça, afinal, você, em breve, será professor(a) de Língua de
Portuguesa; precisará, portanto, estar a par desses conceitos que, embora sejam
tradicionais, ainda merecem significativa atenção dos profissionais de Letras.
Tradicionalmente, costuma-se denominar de objetos os complementos dos
verbos nocionais ou significativos (de ação) que exigem alguma complementa-
ção para serem entendidos, sobretudo, quando se encontram fora de contexto.
Os que recebem o nome de objetos diretos completam verbos sem auxílio de
preposição, apresentam apenas artigos, pronomes, adjetivos ou numerais acom-
panhando o núcleo da função que, em geral, é um substantivo.
Já os chamados objetos indiretos também completam verbos, mas diferente-
mente dos diretos, estes apresentam sempre uma preposição; caso sejam usados
sem tais preposições, tornarão a frase um tanto agramatical.
Vejamos estes exemplos:

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


85

I. “Ainda bem / Que agora encontrei você.”


(Ainda bem – Marisa Monte)
II. “[...] Falei como um palhaço, mas jamais duvidei da sinceridade da pla-
teia [...].”
(Charles Chaplin)
Note que em (I) “você” é o complemento do verbo “encontrar” e entre esse verbo
e tal complemento não há preposição, ou seja, o “trânsito” entre o verbo e “você”
é direto, sem intermédio de preposição. Já em (II), “da sinceridade da plateia”
completa o verbo “duvidei” que, por sua vez, é transitivo indireto. Com isto,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

exige a preposição “da” (junção da preposição “de” com o artigo “a”) para que
haja sentido no período. Note que, sem “de”, a frase ficaria um tanto incompleta:

Falei como um palhaço, mas jamais duvidei sinceridade da plateia [...].

Para embasar ainda mais nossas reflexões, procuramos, assim como fizemos na
unidade anterior, alguma GT para verificar como os objetos são apresentados
pela tradição gramatical. Desta vez, visitamos a Gramática Escolar da Língua
Portuguesa, escrita pelo famoso gramático Evanildo Bechara. Essa obra, atuali-
zada em 2010, é considerada mais didática, já que se trata de uma versão escolar.
Para objeto direto, Bechara (2010, p. 29) aponta a seguinte definição: “O
complemento verbal não introduzido por preposição, [...] chama-se objeto direto:
em Eduardo viu o primo – o primo é objeto direto”. O autor apresenta, também,
semelhanças entre o sujeito e o objeto direto. Ele afirma que há pontos de con-
tato entre essas duas funções quando estes estão representados por substantivo,
como em: “O caçador feriu o leão” ou “O leão feriu o caçador”.
Além disso, Bechara (2010) traz quatro estratégias de como se identificar o
sujeito e o objeto direto.

Complementos Verbais: os Objetos


86 UNIDADE III

Quadro 1 - Estratégias de identificação do sujeito e do objeto direto, segundo Bechara (2010)

1.
A substituição por pronomes oblíquos – o objeto direto pode ser substituído
pelos pronomes átonos - o, a, os, as - que marcam o gênero e o número do subs-
tantivo objeto direto:
O caçador feriu o leão. O caçador feriu-o.
2.
A voz passiva – quando fazemos a transposição da voz ativa para a voz passiva
analítica, o sujeito passa a agente da passiva precedido da preposição “por” e o
objeto direto passa a sujeito:
O caçador feriu o leão (voz ativa). O leão foi ferido pelo caçador (voz passiva

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
analítica).
3.
Perguntas que ajudam na identificação – o objeto direto responde às perguntas
“a quem”? (para pessoa) e “que” ou “quê”? (para coisa) feitas depois da sequência
sujeito + verbo:
O caçador viu o companheiro. / O caçador viu a quem? O companheiro: objeto
direto.
O tiro acertou o muro. / O tiro acertou o quê? O muro: objeto direto.
4.
O deslocamento à esquerda – reconhecemos o objeto direto quando topica-
lizamos, ou seja, transpomos este para a esquerda do verbo. Tal ação pode ou
não promover a repetição do objeto direto transposto mediante um pronome
pessoal – o, a, os, as – junto ao verbo:
O caçador viu o lobo. / O lobo, viu-o o caçador.
Nestes casos, quando utilizamos objeto deslocado à esquerda, consciente ou
inconscientemente, queremos enfatizá-lo. Alguns gramáticos nomeiam esse
objeto, repetido por meio do pronome, de objeto direto pleonástico. Bechara,
no entanto, não menciona essa possibilidade de nomeação, nem trata dessa
questão da ênfase.
Fonte: adaptado de em Bechara (2010, p. 32).

A seguir, Bechara (2010) disserta, também, sobre o objeto direto preposicionado.


Este, que se trata do objeto, o qual mesmo sendo direto, apresenta preposição.
O autor ressalta que “[...] às vezes, a preposição aparece sem ser necessária, e
assim pode ser dispensada. Diz-se, então, que o objeto direto é preposicionado”
(BECHARA, 2010, p. 32). Porém, também há casos em que a preposição apre-
senta-se como obrigatória, ainda que o objeto seja direto, como veremos a seguir.

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


87

O autor acrescenta os principais casos em que o objeto preposicionado pode


ocorrer:
Quadro 2 - Principais casos de ocorrência do objeto preposicionado

Casos em que a preposição é dispensável no objeto direto preposicionado:


a) Quando o verbo exprime sentimento ou manifestação de sentimento, e o
objeto direto designa a pessoa ou ser animado:
Amar a Deus sobre todas as coisas.
b) Quando se deseja assinalar claramente o objeto direto nas inversões:
A Abel matou Caim.
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Casos em que a preposição junto ao objeto direto é obrigatória:


a) Quando este está representado por um pronome pessoal oblíquo tônico:
Não vejo a ela há meses.
b) Quando está representado pela expressão de reciprocidade “um ao outro”:
Conhecem-se um ao outro.
c) Quando o objeto direto é composto, sendo o segundo núcleo representado
por substantivo:
Conheço-o e ao pai.
Fonte: adaptado de Bechara (2010, p. 32).

Bechara (2010) encerra suas explanações acerca de objeto direto informando que
podemos, ou não, usar preposição no objeto direto naqueles casos em que este
está enfatizado, deslocado à esquerda e, por vezes, sendo repetido por um pro-
nome pessoal, exemplo: “Ao meu amigo não o prezo” (com preposição “ao”); “O
meu amigo não o prezo” (sem preposição). Ele acrescenta, também, que algu-
mas preposições que, segundo o autor, “dão certo colorido semântico ao verbo”,
são chamadas de posvérbio, como em: “Chamar por Nossa Senhora”.
Em se tratando de objeto indireto, Bechara (2010, p. 33) chama-o de comple-
mento preposicionado e afirma que, segundo a tradição gramatical, confirmada
pela Nomenclatura Gramatical Brasileira, o objeto indireto corresponde a todo
complemento verbal introduzido por preposição necessária. Ele cita, primeira-
mente, os exemplos:

Complementos Verbais: os Objetos


88 UNIDADE III

1. “Diva gosta de Teresópolis”.


2. “Marcio assistiu ao jogo”.

E depois mais estes três exemplos:


3. “O escritor dedicou o romance à sua esposa”.
4. “Certos alunos escrevem poesias à namorada”.
5. “O jogador reclamou a falta ao juiz”.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O autor diferencia os complementos preposicionados citados em (1) e (2), pri-
meiramente, dos outros três, como em (3), (4) e (5) citados depois. Segundo
ele, os exemplos (1) e (2) podem ser chamados de complementos relativos e os
outros três (3), (4) e (5) de objetos indiretos.
Bechara (2010) afirma que os primeiros exemplos são – complementos
relativos – como em: “Diva gosta de Teresópolis” e “Marcio assistiu ao jogo”
diferenciam-se dos outros (3), (4) e (5) por três razões:
i) Por apresentarem uma delimitação imediata da significação ampla do
verbo: gosta de x; assiste a x;
ii) Por também demonstrarem uma possibilidade de acompanhamento
por qualquer preposição exigida pela significação do verbo: “de” em “gostar de”
indica a “origem” do afeto, “a” em “assistir a” indica “direção” ao ser visualizado;
e, por fim,
iii) Por não poderem ser substituídos pelo pronome pessoal átono “lhe”,
sendo essa substituição permitida somente mediante os pronomes pessoais do
caso reto: “ele”, “ela” e seus plurais. Veja!
■ “Diva gosta dela” (da cidade).
■ “Mário assistiu a ele” (ao jogo); são consideradas, segundo o autor, ina-
dequadas as construções: “gosta-lhe” e “assiste-lhe”.

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


89

No que diz respeito aos outros exemplos, como:


■ “O escritor dedicou o romance à sua esposa”.
■ “Certos alunos escrevem poesias à namorada”.
■ “O jogador reclamou a falta ao juiz”.

São denominados, por Bechara (2010), de objetos indiretos, o autor também


apresenta suas particularidades. Diferenciam-se dos objetos relativos anterior-
mente mencionados por estas razões:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

i) Por denotarem o destinatário ou beneficiário do processo designado pelo


conjunto verbo + objeto direto (no primeiro caso, por exemplo, este conjunto
seria “dedicou o romance”);
ii) Por apresentarem o uso exclusivo da preposição “a” (raramente “para”)
como introdutora de tais complementos; e
iii) Pela possibilidade de uso do pronome pessoal átono “lhe” para fazer a subs-
tituição do complemento verbal, como em: “O escritor dedicou-lhe o romance”.
Bechara (2010) traz, ainda, uma informação histórica referente aos complementos
verbais que antes eram preposicionados e hoje não são mais e vice-versa, como o
complemento do verbo “socorrer”, que antes apresentava a preposição “a” e hoje
não mais: antes era “socorrer aos pobres”, e hoje pode ser corretamente utilizado
como “socorrer os pobres”. Atualmente, alguns verbos, às vezes, são usados com
preposição em situações nas quais se prioriza o que ele denomina de “norma do
registro exemplar” – “assistir ao jogo” – e sem preposição em situações nas quais
se usa a “norma de registro informal” – “assistir o jogo”.
Segundo Bechara (2009), a omissão dos complementos é possível por pres-
sões coercitivas do discurso. Essas influências discursivas permite “que se omita
o complemento direto ou relativo, permanecendo na oração apenas o indireto
[...]” (BECHARA, 2009, p. 422).

Complementos Verbais: os Objetos


90 UNIDADE III

Você já ouviu falar em “apagamento do objeto”?

O apagamento do objeto é muito comum quando queremos ser concisos e


breves. Observe a piada a seguir que servirá de exemplo:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
- Abra a boca! Mas não precisa abrir tanto que eu vou ficar do lado de fora.

Veja que em “não precisa abrir tanto”, o objeto direto “boca” está elíptico,
tornando a piada breve. Em certos casos, o apagamento do objeto pode
dar ao verbo uma maior abrangência. Imagine um político que não queira
comprometer-se com a população:

- Senhores eleitores, eu prometo que vou investir!

Note que o prefeito pode investir em educação, em saúde, em segurança ou


, até mesmo, em suas propriedades!
Por isso, é importante que estejamos sempre bem atentos às construções
da linguagem.
Fonte: as autoras.

Enfim, estimado(a) aluno(a), espero que você faça um bom uso de todas as
informações vistas nesta seção acerca dos objetos. A seguir, estudaremos o com-
plemento, não mais dos verbos, mas sim dos nomes de nossa língua. Continue
sua leitura!

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


91
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

COMPLEMENTO NOMINAL

O complemento de substantivos abstratos, de adjetivos e de advérbios. Assim


como há em nossa língua verbos que, como vimos, exigem um complemento
para que a oração em que estão sendo utilizados faça sentido, seja compreendida,
também há nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) que precisam ser com-
plementados. O complemento nominal, como o próprio nome diz, corresponde
a esse termo que vem a completar determinados nomes da Língua Portuguesa
que necessitam de complementação. Tais complementos de nomes possuem uma
característica importante: tal qual o objeto indireto, o complemento nominal
também é sempre regido por preposição. Vejamos estes exemplos:

i) Os atletas brasileiros necessitam de patrocínio.


ii) Os atletas brasileiros têm necessidade de patrocínio.

Observe que os termos grifados completam os seus antecedentes: “necessitam”


e “necessidade”, respectivamente. No primeiro exemplo, temos o termo “de
patrocínio” completando o verbo necessitar, com a presença da preposição “de”.
Conforme fora estudado na seção anterior, casos como este são classificados

Complemento Nominal
92 UNIDADE III

como objeto indireto. Já no segundo exemplo, também com auxílio da prepo-


sição “de”, o termo “de patrocínio” completa o substantivo abstrato: necessidade.
Como nesse caso, completa-se um nome – substantivo – e não um verbo, como
no primeiro exemplo; temos, portanto, um complemento nominal.
Além de substantivos, especificamente, abstratos, o complemento nominal
completa também as outras duas classes de palavras consideradas como nomes
da Língua Portuguesa: os adjetivos e os advérbios. Veja:

a) “No caso do IPM, a Justiça já concedeu decisão favorável aos municipiá-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rios” (FOLHA UOL - on-line)1.
Note que a palavra em negrito é um adjetivo, o qual tem seu sentido com-
pletado por “aos municipiários”, ou seja, por um complemento nominal, regido
pela preposição “ao”.

b) “Tudo que você precisa está dentro de você”


(Gabriel O Pensador)

Observe que, neste exemplo, a palavra “dentro” é um advérbio de lugar. Tal vocá-
bulo é completado por “de você”, que corresponde, portanto, ao complemento
nominal da oração, contendo a preposição “de”.
Acerca do complemento nominal, Bechara (2009, p. 454), em sua obra,
Moderna Gramática Portuguesa, define suas diferenças com relação ao adjunto
adnominal (que será melhor trabalhado na próxima unidade deste livro) e faz
a seguinte afirmação:
De modo geral, a gramática tradicional tem apontado complementos
nominais restritos a processos de nominalizações que envolvem subs-
tantivos (desejo de vitória → desejar a vitória), a adjetivos (desejoso de
vitória → desejar a vitória), ou a advérbios (referentemente ao assunto
→ referente [adjetivo] ao assunto → referência [substantivo] ao assunto).
Mas há outros que devem sua presença a traços semânticos do núcleo
nominal, independentes de nominalizações (BECHARA, 2009, p. 454).

Você entendeu o que o autor quis dizer com nominalização? Trata-se do fenômeno
que forma nomes a partir de verbos. Vemos que o autor apresenta o substan-
tivo “desejo”, referente ao verbo “desejar”. E o interessante é que tanto “desejo”

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


93

– substantivo – quanto o verbo “desejar” solicitam um complemento, no caso,


“de vitória”. A palavra “desejo” será completada por um complemento nominal,
que é um substantivo abstrato; já “desejar” é um verbo, portanto, seu comple-
mento será um objeto, no caso, direto por não ter preposição.
O autor acrescenta, também, que o complemento nominal pode ser represen-
tado por uma oração; nos termos mais tradicionais, por uma oração subordinada
substantiva completiva nominal.

O desejo de tua vitória é constante.


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(complemento nominal: de tua vitória)

O desejo de que venças é constante.


(complemento nominal em forma de oração: de que venças)

Complemento Nominal
94 UNIDADE III

Para compreender bem o complemento nominal, você precisa saber reco-


nhecer devidamente os substantivos abstratos, os adjetivos e os advérbios,
certo? Portanto, caso você ainda esteja encontrando alguma dificuldade
para identificar essas classes de palavras, leia as informações contidas nos
seguintes sites:
Substantivos <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/substan-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tivo-2-concreto-ou-abstrato.htm>
Adjetivos
<https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/analise-morfossintati-
ca---adjetivo-natureza-morfologica-e-sintatica.htm>
Advérbios
<https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/adverbio-conheca-es-
sa-classe-de-palavras.htm>
Fonte: as autoras.

Com isso, concluímos nossas considerações acerca do complemento nominal. A


seguir, você conhecerá um pouco mais sobre o predicativo. Bom estudo!

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


95

O PREDICATIVO

Caracteriza, qualifica, desqualifica, insere atributos


ao sujeito e ao objeto. Você se recorda desta função
sintática, o predicativo? Ele também é considerado
um termo “integrante” da oração. Assim como
existem os complementos dos verbos de
ação – verbos nocionais ou significativos –
(transitivos e intransitivos), os predicativos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

também são uma espécie de complemento


verbal, mas eles completam outro tipo de verbo,
os verbos não nocionais ou de ligação, que indi-
cam estados, características. E são justamente essas
características que o predicativo representa.
Analise o exemplo a seguir:

“transpiração contínua prolongada.”


(Nome de um dos álbuns da banda Charlie Brown Jr.)

Veja que a palavra em destaque, “prolongada”, informa o estado do sujeito, “trans-


piração”. Portanto, nesse caso, temos um predicativo do sujeito.

Existe, também, o predicativo do objeto. Observe o exemplo que segue:

“Alberto Babo considerou difícil a partida contra o Interclube.”


Fonte: Angop (2017, on-line)2

Neste caso, o termo “difícil” atribui uma característica ao objeto “a partida con-
tra o Interclube”. Logo, não se trata de predicativo do sujeito, mas sim do objeto.
Com relação ao predicativo, Bechara (2010, p. 39), em sua gramática esco-
lar, afirma o seguinte:

O Predicativo
96 UNIDADE III

Outro tipo de complemento verbal é o predicativo, que delimita a natu-


reza semântico-sintática de um reduzido número de verbos: ser, estar,
ficar, parecer, permanecer e mais alguns, conhecidos como verbos de
ligação. Às vezes, vem introduzido por preposição: Brasil é a capital.
Minha casa é aquela. Suas dúvidas são duas. A situação não está assim.
A casa ficou em ruínas. A criança parecia triste. A tarde permaneceu
chuvosa (grifos nossos).

Além disso, o autor aponta algumas particularidades deste com relação aos outros
complementos verbais, apresenta o que ele denomina de “mais um tipo de pre-
dicativo” e trata da posição do predicativo (normalmente, à direita do verbo).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
As características que Bechara (2010) apresenta a respeito do predicativo
são: a) que ele é sempre expresso por substantivo, adjetivo, pronome, numeral
ou advérbio; b) que concorda com o sujeito em gênero e número, quando fle-
xionável, exemplos: “O aluno é estudioso” → “Os alunos são estudiosos” (no
primeiro exemplo, vemos que o sujeito – “aluno” – está no masculino e no sin-
gular, por isso o predicativo também assim está; no segundo exemplo, com o
sujeito no masculino/plural, o predicativo “estudiosos” também se flexiona); c)
segundo o autor, o predicativo pode ser comutado pelo pronome invariável “o”:
“O aluno é estudioso” → “O aluno o é”.
Bechara (2010) afirma também que, mesmo não apresentando sujeito, algu-
mas sentenças podem apresentar predicativo, como em: “Já é noite”, em que o
sujeito inexiste, mas ainda assim, segundo o autor, o termo “noite” funciona
como predicativo.
O autor traz informações sobre um tipo de predicativo que não acompanha
os verbos de ligação explícitos na oração; eles acompanham qualquer tipo de
verbo, a nosso ver, são mais comuns acompanhando os verbos intransitivos. Este
tipo de predicativo também é conhecido por “anexo predicativo”, “predicativo
atributivo” ou “atributo predicativo”. Nessa obra, Bechara (2010, p. 41) afirma:
“optamos por seguir a tradição e chamá-lo simplesmente predicativo”. Vejamos
alguns exemplos expostos por Bechara (2010), referentes a esses predicativos:

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


97

“O vizinho caminha preocupado.”

“Encontraste a porta aberta.”

“Nós lhe chamávamos professor.”

Note que os predicativos: “preocupado”, “aberta” e “professor” acompanham os


verbos “caminha”, “encontraste”, “chamávamos”, respectivamente. E tais verbos
não são de ligação. O primeiro é intransitivo – sem complemento; o segundo é
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

transitivo direto, apresentando o objeto sem preposição: “a porta”, e o último,


neste caso, é transitivo indireto, tendo o seu complemento representado pelo
pronome “lhe”.
Apesar de não haver informações na gramática de Bechara (2010) sobre isso,
a nosso ver, em determinadas situações, é como se houvesse um verbo de liga-
ção oculto no período, formando outra oração, por exemplo, no primeiro caso,
é como se fosse: “O vizinho caminha (e está) preocupado”.
Embora Bechara (2010) não ressalte a questão do predicativo do objeto, é
importante que você saiba que outras GTs denominam predicativos como os
que aparecem em: “Encontraste a porta aberta” e “Nós lhe chamávamos pro-
fessor” de predicativos do objeto, já que atribuem estados e/ou características
para “a porta”, complemento verbal de “encontrar” e para “lhe” (a ele), comple-
mento verbal de “chamar”.
Por fim, entre as principais informações sobre o predicativo encontradas na
gramática de Bechara (2010), também consideramos relevante destacar a ques-
tão da posição desse termo, já que, como o autor mesmo explicita,
quando constituído por substantivo ou pronome, o predicativo pode
deslocar-se para antes do verbo, e o sujeito para depois deste: ‘A capital
é Brasília’; ‘Brasília é a capital’ em que ‘Brasília’ é, em ambos os casos,
sujeito, e ‘capital’, predicativo (BECHARA, 2010, p. 41).

O Predicativo
98 UNIDADE III

Você sabe identificar um verbo não nocional ou de ligação?


São os verbos que não expressam ações; eles indicam características, esta-
dos, atributos do sujeito. São mais conhecidos como verbos de ligação por,
justamente, fazerem uma espécie de “ligação” entre o sujeito e uma carac-
terística, estado ou modo de ser deste. Os principais verbos que funcionam,
em determinadas situações, como verbos de ligação são: ser, estar, perma-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
necer, ficar, continuar, tornar-se, virar, andar, achar-se, passar, acabar, persis-
tir, parecer. Exemplo:
- “Aristóbulo decide entrar na pensão de Risoleta e todos ficam espantados.”
(FOLHA UOL, 2017, on-line)3.
Vemos que, nesse caso, o verbo “ficar” é não nocional ou de ligação porque
indica o estado “espantados” do sujeito “todos”. Já a outra oração do período,
“Aristóbulo decide entrar na pensão de Risoleta [...]”, apresenta uma locução
verbal de ação, “decide entrar”, cujo verbo principal, “entrar”, é intransitivo; o
trecho “na pensão de Risoleta” é adjunto adverbial de lugar. Há casos em que
o verbo “ficar” não é considerado de ligação, por não indicar características
ou estados, como em: “Os alunos ficarão no colégio até às 17h”.
Fonte: as autoras.

Seguiremos para o estudo do agente da passiva, função sintática também con-


siderada integrante da oração. Aproveite ao máximo todas essas informações!

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


99

O AGENTE DA PASSIVA

Não deve ser confundido com o sujeito; é o elemento que age na voz pas-
siva, onde o sujeito recebe a ação.
Esse termo “integrante” da oração só se faz presente se a voz ver-
bal é passiva. Você se recorda do que é voz passiva? Vamos
a ela: é a voz verbal na qual o sujeito da oração sempre
é paciente, ou seja, ele sofre, recebe ou desfruta da ação
expressa pelo verbo. Nesses casos, em que o sujeito recebe a
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ação, o termo que se encarrega de mostrar quem executa a


ação verbal é, justamente, o agente da passiva, que como o
próprio nome diz, é o termo que age na voz passiva. Vamos analisar um exemplo:

As atividades foram realizadas pelos alunos.

Note que o sujeito “as atividades” recebe a ação verbal enquanto que “pelos alunos”
refere-se ao termo responsável por executar a ação, ou seja, realizar as ativida-
des; agir, sendo, portanto, o agente da ação – o agente da passiva.
Se a oração estivesse na voz ativa, o agente da passiva passaria a sujeito da
oração. Veja: Os alunos realizaram as atividades (o termo “atividades”, que era
sujeito paciente na voz passiva, na ativa torna-se complemento verbal, nesse
caso, objeto direto).
O agente da passiva define-se como um complemento regido por uma pre-
posição junto a um substantivo ou a um pronome. Em geral, é acompanhado
pela preposição “por” (ou suas flexões: “pelo”, “pela” e respectivos plurais).
São duas as modalidades de voz passiva que existem em nossa língua, a pas-
siva analítica e a sintética, também conhecida como pronominal. O agente da
passiva integra somente orações que apresentam voz passiva analítica, como é
o caso daquela que utilizamos há pouco: “As atividades foram realizadas pelos
alunos”, em que há: sujeito paciente + uma locução verbal com o verbo princi-
pal no particípio + o agente da passiva. A voz passiva sintética nunca apresentará
o agente; ela é formada apenas pelo verbo + o pronome apassivador + o sujeito
paciente. Exemplo: “Realizaram-se as atividades”.

O Agente da Passiva
100 UNIDADE III

É bom lembrar que, mesmo na passiva analítica, em alguns casos, não encon-
traremos o agente da passiva. Este, por vezes, estrategicamente, estará oculto.
Vejamos um exemplo de passiva analítica em que tal termo não aparece:

“Túneis secretos de 800 anos foram descobertos no centro da China.”


(PORTAL VERMELHO, 2013, on-line)4.

A ocorrência apresenta voz passiva analítica: o sujeito é “Túneis secretos de 800


anos”, há a locução verbal “foram descobertos”, e “no centro da China” é um adjunto

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adverbial de lugar. Penso que o mais importante, nessa situação comunicativa, era
informar o acontecimento, algo que, em tal caso, de fato, chama a atenção, por-
tanto, não se deu destaque ao agente da ação, ou seja, a quem descobriu os túneis.
Analisando o modo como as GTs abordam tal termo integrante, recorremos
mais uma vez a Bechara (2010) e, além do que já descrevemos anteriormente,
encontramos mais algumas informações relevantes acerca do agente da pas-
siva. O autor afirma que tal termo aproxima-se à noção de circunstância – de
natureza adverbial – e assim o define: “é chamado complemento de agente da
passiva o termo pelo qual se faz referência a quem pratica a ação sobre o sujeito”
(BECHARA, 2010, p. 42).
O autor lembra-nos de que, como tal termo passa a sujeito na voz ativa e o
sujeito da passiva passa a objeto direto, a voz passiva analítica, onde o agente da
passiva é utilizado, só pode ocorrer em orações com verbos transitivos diretos,
tal qual o verbo “realizar”, presente na oração analisada anteriormente.
Bechara (2010) acrescenta que em orações nas quais são usados verbos que
indicam sentimento, a preposição “de” em vez de “por”, ou “pelo/pela”, pode ser
utilizada, como em: “O professor é estimado de todos”.
É interessante observar e discutir o uso recorrente e, consequentemente, o
funcionamento do agente da passiva e também da voz passiva nos jornais e demais
meios de comunicação. Sabemos que, em se tratando de veículos de massa, jor-
nais e revistas tendem a criar uma linguagem própria, que consiga atingir os mais
diferentes leitores. Com isso, tais meios de comunicação encontram, na voz pas-
siva e na partícula apassivadora “se”, grandes aliadas na transmissão de notícias
que procuram ser impessoais, já que não dão ênfase ao agente da ação verbal.

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


101

Observe as duas manchetes a seguir:

“Câmara aprova, em segundo turno, PEC do Orçamento impositivo” (G1


GLOBO, 2013, on-line)5.

“PEC do Orçamento Impositivo é aprovada em segundo turno” (adaptada


de CÂMARA, 2015, on-line)6.

Podemos observar que ambas tratam de um mesmo assunto, contudo intencional-


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mente, ou não, o fato é que o primeiro, por usar a voz ativa, focalizou “Câmara”, o
agente da ação, trazendo-o topicalizado, deslocado à esquerda, no início da frase.
Já o segundo jornal, propositadamente, ou não, optou pela voz passiva, deixando
em foco o paciente da ação verbal: “PEC do Orçamento impositivo”. Nesse caso,
há ênfase também recaindo sobre o fato, o acontecimento, ou seja, a aprovação
da PEC. Nesse segundo exemplo, inclusive, o agente não chega a ser mencionado
– o jornal opta pelo uso de um adjunto adverbial de lugar “na Câmara”, em vez
de uma estrutura própria do agente da passiva, como: “pela Câmara”. Agindo
dessa maneira, o jornal, talvez, queira reiterar sua imparcialidade.
Em se tratando especificamente de mídias e demais jornais, sabemos que
estes devem tentar priorizar a imparcialidade ao divulgar os fatos. No entanto,
ainda que de forma implícita, fazendo uso de recursos linguísticos – como a voz
passiva, por exemplo – muitos jornais e revistas acabam sendo pouco imparciais
e o modo como constroem seus textos acaba evidenciando sua posição favorá-
vel, ou não, com relação a determinado assunto.
Viu como é importante o conhecimento acerca da voz passiva e de seu agente?
O uso da voz ativa ou da voz passiva nem sempre se trata apenas de uma questão
de escolha; a opção por uma ou por outra pode evidenciar determinadas posi-
ções sociais, políticas, opiniões, crenças, valores. Ou, então, pode, até mesmo,
funcionar como estratégias argumentativas, as quais acabam induzindo o leitor
a pensar de determinada maneira.
Com isso, encerro esta seção acerca de agente da passiva e espero que você apro-
veite bastante o que encontrou aqui, passando para seus futuros alunos não só os
preceitos da GT acerca desse termo, mas também olhares mais modernos sobre ele.

O Agente da Passiva
102 UNIDADE III

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pois bem, encerramos a terceira Unidade deste livro. Sempre tentando aven-
tar os conceitos pertinentes à Gramática Tradicional, buscamos, aqui, trazer até
você noções importantes sobre os chamados termos “integrantes” da oração.
Conhecemos, com detalhes, primeiramente, os complementos verbais: os
objetos diretos e indiretos. Analisamos tais complementos sob a perspectiva tra-
dicional e seus respectivos exemplos. Com o estudo dos objetos diretos, você
observou que são aqueles que se ligam diretamente a um verbo transitivo. Pelos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
objetos indiretos, você notou que são caracterizados por se ligarem, indireta-
mente, a um verbo transitivo, por intermédio de uma preposição.
O segundo termo estudado foi outro complemento, nesse caso, complemento
de nomes: substantivos abstratos, adjetivos e advérbios, conforme já mencio-
nado anteriormente. Estamos nos referindo ao complemento nominal. Termo
que sempre está preposicionado, podendo ser substituído, se necessário, por cer-
tos pronomes, como “lhe”.
Estudamos, também, informações importantes sobre predicativo, termo
que indica atributos, características, estados do sujeito ou do objeto da oração.
Conferimos que ele funciona como um complemento para os chamados verbos
não nocionais ou de ligação.
E, por fim, ao tratar do agente da passiva, isto é, o termo o qual integra
somente orações com verbo na voz passiva analítica, buscamos explicitar que o
aparecimento ou não do agente e a escolha pelo uso de voz ativa ou voz passiva
correspondem a fatos linguísticos que merecem atenção, análise e estudo; não
podem ser encarados como simples opções de uso, já que podem denotar até
mesmo estratégias de argumentação.
Esperamos que, com todas as informações, análises e conceitos abordados
nesta unidade, nós tenhamos colaborado com a ampliação de seu conhecimento
acerca dos chamados termos “integrantes” da oração.

TERMOS “INTEGRANTES ” DA ORAÇÃO


103

1. Em sua opinião, é importante para o professor de Língua Portuguesa o co-


nhecimento a respeito dos termos “integrantes” da oração? Por quê?
2. Tendo em vista o que foi estudado nesta unidade acerca dos complementos ver-
bais, explique a diferença entre objeto direto e indireto.
3. Observe as frases seguintes:
i) Por obediência às leis, o réu deteve-se.
ii) No julgamento, o réu obedeceu às leis.
iii) As leis foram obedecidas pelo réu.
iv) O réu demonstrou interesse pelas leis.
Duas delas apresentam complemento nominal e as outras duas apresentam ou ob-
jeto indireto ou agente da passiva. Identifique tais termos nas orações em ques-
tão e, a seguir, justifique sua classificação.
4. Como vimos, os predicativos são características, qualidade ou estado do sujeito
ou do objeto da oração. Considere o que foi estudado nesta unidade sobre
esse termo e reescreva e classifique os predicativos encontrados nas ora-
ções seguintes.
a) “A gente parece formiga / Lá de cima do avião.”
(Sonho de uma flauta – O Teatro Mágico)
b) “Mãe encontra filho afogado em piscina e consegue reanimá-lo.”
(G1 GLOBO, 2013, on-line)7.
c) “E João de Santo Cristo ficou rico / [...].”
(Faroeste Caboclo – Legião Urbana)
d) A professora da disciplina viu os alunos satisfeitos com a aprovação.
e) “Taxa de desemprego em Portugal permanece estável nos 11,1%” (JORNAL
DE NOTÍCIAS, 2011, on-line)8.
104

5. Analise os textos 1 e 2 e faça o que se pede.


Texto 1
“Doações de alimentos para famílias de vítimas da Kiss foram encontradas com
prazo de validade vencido em Santa Maria.
Texto 2
Os produtos foram arrecadados desde 30 de janeiro e ainda não foram distribu-
ídos” (Diário de Santas Maria, 2013, on-line)9.
Vemos que tal trecho é formado por orações cuja voz verbal é passiva. No en-
tanto, o agente da passiva não aparece, ou seja, encontra-se omitido nas ora-
ções. Por que, em sua opinião, o agente não foi utilizado nesses períodos?
105

Você sabe o que são verbos transitivos e intransitivos?


Bem, para entender devidamente o que são e qual é uso dos objetos, antes de mais
nada, você precisa saber o que a tradição gramatical determina como verbo transitivo e
verbo intransitivo. Você consegue distingui-los? Se sim, que bom! Se você ainda não tem
esse conhecimento, não tem problema. Eles formam o que a gramática denomina de
verbos nocionais ou significativos. A seguir passarei, de forma resumida, uma breve expli-
cação sobre esses verbos para que você consiga identificá-los sem maiores dificuldades.
Podemos dizer que os verbos transitivos são aqueles que, de modo geral, necessitam
de uma complementação para serem compreendidos. Já os intransitivos têm este pre-
fixo “in” no nome, “intransitivos”, justamente para indicar negação, ou seja, são os verbos
que, em geral, não exigem complementos e, ainda assim, são compreendidos. E é nesta
questão de ter ou não complementos que entram os objetos, já que estes nada mais são
do que complementos verbais; complementos de verbos transitivos.
Os verbos intransitivos podem ser acompanhados de advérbios, mas não de objetos. Os
transitivos subdividem-se em três: diretos, indiretos e diretos e indiretos ao mesmo
tempo (bitransitivos). Os transitivos diretos apresentam complemento sem preposição
(o que pode aparecer nesses complementos são artigos, pronomes e numerais, mas não
preposições). Já os verbos transitivos indiretos apresentam complemento com preposi-
ção. Os verbos diretos e indiretos apresentam dois complementos: um sem e outro com
preposição, isto é, um complemento direto e outro indireto. Veja alguns exemplos:
- “Com gol no fim, Inter e Atlético-PR empatam no RS.”
O verbo em destaque é intransitivo nesta situação, por não exigir a presença de objetos
para ser compreendido. O termo que o acompanha, “no RS”, trata-se de um adjunto ad-
verbial de lugar – função que será melhor trabalhada na Unidade IV deste livro.
- “Menores fazem rebelião em duas unidades da Fundação Casa.”
Aqui, o verbo “fazer” é considerado transitivo direto por apresentar o complemento “re-
belião” sem o intermédio de uma preposição. O trecho “em duas das unidades da Funda-
ção Casa” não é objeto, mas sim outro adjunto adverbial de lugar.
- “Pensem nas crianças mudas telepáticas.”
(Rosa de Hiroshima – Vinícius de Moraes)
O verbo “pensar” é transitivo indireto por exigir a presença da preposição “em” em seu
complemento: “nas crianças mudas telepáticas”. Quem pensa, pensa em algo, em algu-
ma coisa ou em alguém.
- “É você, é você… / [...] que trouxe paz pro coração.”
(Duas metades – Jorge e Mateus)
O verbo “trazer” é transitivo direto e indireto, já que tem dois complementos: “paz” – ob-
jeto direto e “pro coração” – objeto indireto. Quem traz, traz algo a/para alguém).
Fonte: as autoras.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Transitividade e seus contextos de uso


Maria Angélica Furtado da Cunha e Maria Medianeira de Souza
Editora: Cortez
Sinopse: a transitividade tem sido investigada sob diferentes olhares
teóricos, afiliados a correntes formalistas ou funcionalistas. Nesse
livro, a ótica adotada é a funcionalista, tomando-se a língua como
uma atividade social enraizada no uso cotidiano e condicionada por
pressões advindas de situações de interação variadas, e a gramática
como uma estrutura dinâmica e maleável, que emerge das situações
cotidianas de interação. Com o objetivo de trazer a público, em uma linguagem clara e acessível,
análises e reflexões a respeito da transitividade no português brasileiro, as autoras põem à disposição
de leitores e leitoras iniciantes nos estudos do funcionalismo linguístico um conjunto de conceitos e
perspectivas de análise relativos à transitividade, bem como propostas para a aplicação prática desses
conceitos e perspectivas, tendo como pano de fundo textos de natureza variada , produzidos nas
modalidades oral e escrita da língua. Primeiro livro da Coleção Tópicos em Linguagem destinada a
alunos e professores de Letras, Linguística, Educação, Antropologia, Sociologia, Psicologia e demais
interessados nos estudos da linguagem. O objetivo da coleção é contemplar temas e indagações de
interesse para o estudo e a pesquisa sobre língua e linguagem nos seus diversos planos.

Linguística Aplicada ao Português – Sintaxe


Maria Cecília P. de Souza-e-Silva e Ingedore Villaça Koch
Editora: Cortez
Sinopse: nesse livro, Souza-e-Silva e Koch descrevem as funções
sintáticas da Língua Portuguesa e apresentam sugestões práticas para
o ensino, voltando-se aos conceitos pertinentes à teoria linguística e à
gramática gerativa transformacional. Pretende-se também realizar um
estudo aprofundado dos principais aspectos sintáticos sob o olhar da GT.

Objeto Direto e Indireto


Assista aos vídeos que seguem e aproveite para reforçar e/ou ampliar os conceitos gramaticais
estudados até o momento, nesta unidade. No primeiro deles, você encontrará uma videoaula
acerca do objeto direto. Além disso, há breves explicações sobre voz passiva. A seguir, no segundo
vídeo indicado, você terá acesso a mais uma videoaula, ministrada pelo mesmo professor
responsável pelo vídeo anterior; desta vez, as informações são sobre objeto indireto. O professor
aproveita para tratar de objeto direto representado por pronome oblíquo, objeto indireto
pleonástico e objeto indireto oracional. Não deixe de assistir-lhes!
Disponivel em:
<http://www.youtube.com/watch?v=B_g8USP2ZyU>.
<http://www.youtube.com/watch?v=7zSGvRfQXXE>.
107
REFERÊNCIAS

______. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2009.
______. BECHARA, E Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2010.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ribeiraopreto/2013/08/1324459-ca-
mara-de-ribeirao-preto-tem-recorde-de-comissoes-de-estudo.shtml>. Acesso em:
02 ago. 2017.
2
Em: <http://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/desporto/2011/3/15/Alber-
to-Babo-considerou-dificil-partida-contra-Interclube,0d1688ca-c7c5-4173-8d0f-
-1b762aa3af9e.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
3
Em: <http://f5.folha.uol.com.br/televisao/2013/08/1320728-novela-amarilys-con-
firma-que-perdeu-o-bebe-em-amor-a-vida.shtml>. Acesso em: 02 ago. 2017.
4
Em: <http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=218244&id_secao=9>.
Acesso em: 02 ago. 2017.
5
Em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/08/camara-aprova-em-segundo-
-turno-pec-do-orcamento-impositivo.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
6
Em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/481683-CA-
MARA-APROVA-PEC-DO-ORCAMENTO-IMPOSITIVO-EM-2-TURNO.html>. Acesso
em: 02 ago. 2017.
7
Em: <http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2013/04/mae-encontra-filho-
-boiando-na-piscina-e-consegue-reanima-lo.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
8
Em: <http://www.jn.pt/economia/interior/taxa-de-desemprego-em-portugal-per-
manece-estavel-nos-111-1840284.html?id=1840284>. Acesso em: 02 ago. 2017.
9
Em: <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/dsm/19,18,4221685,Doacoes-de-ali-
mentos-para-familias-de-vitimas-da-Kiss-foram-encontradas-com-prazo-de-valida-
de-vencido-em-Santa-Maria.htm>. Acesso em: 02 ago. 2017.
GABARITO

1. Expectativa de resposta.
O conhecimento cabal de todos os conteúdos da Língua Portuguesa torna-se rele-
vante e necessário ao profissional dessa língua. Assim, o conhecimento do professor
sobre os termos integrantes da oração são importantes, uma vez que esses termos
cumprem a função de exprimirem a capacidade dos sujeitos (seres humanos) de agi-
rem no e com o mundo que o cerca. Portanto, os termos integrantes da oração reali-
zam um importante papel no plano da linguagem humana.
2. Ambos completam verbos considerados transitivos, ou seja, aqueles que exi-
gem complemento. A diferença é que o indireto apresenta preposição e o di-
reto não.
3. Os itens i) e iv) apresentam complemento nominal. São eles: às leis, em i), já
que, dispondo da preposição “às” (a/preposição + as/artigo = às/preposição,
com acento indicador de crase), completa o substantivo abstrato “obediência” e
pelas leis, em IV uma vez que, dispondo da preposição “pelas” (por/preposição +
as/artigo = pelas/preposição), completa o substantivo abstrato “interesse”.
No item ii), o trecho às leis não é complemento nominal, mas sim objeto in-
direto, pois, nesse caso, complementa o verbo “obedecer” e não o substantivo
“obediência”.
Em iii), as leis é o sujeito passivo, que recebe a ação de ser obedecido, e o trecho
pelo réu tem função sintática de agente da passiva – refere-se ao termo que age,
pratica a ação na voz passiva (quando o sujeito recebe).
4.
a) Formiga: predicativo do sujeito.
b) Afogado: predicativo do objeto.
c) Rico: predicativo do sujeito.
d) “satisfeitos”: predicativo do objeto.
e) “estável”: predicativo do sujeito .
5. Expectativa de resposta:
Acredita-se que o agente da passiva foi omitido nos enunciados referidos porque,
possivelmente, a presença de quem executou as ações expressas não era relevante
neste contexto. Quis se dar ênfase aos acontecimentos citados e não em quem re-
alizou as ações que os envolviam. Na primeira, o destaque foi para a ação de se ter
encontrado alimentos vencidos entre as doações para vítimas da Kiss; na segunda,
enfatizou-se a arrecadação dos produtos e também a data desde quando isso vem
ocorrendo e, na terceira, em foco estava a não distribuição de tais produtos arreca-
dados. Quem encontrou tais alimentos neste estado; quem os arrecadou e quem
não os distribuiu, tudo isso é menos relevante do que os acontecimentos em si.
Professora Me. Fátima Christina Calicchio
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine de Nardo

IV
Professora Me. Valéria Adriana Maceis

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA

UNIDADE
ORAÇÃO

Objetivos de Aprendizagem
■ Expor as características do adjunto adnominal.
■ Categorizar o adjunto adverbial.
■ Compreender e exemplificar o funcionamento do aposto.
■ Discutir e ilustrar o vocativo.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ O Adjunto Adnominal
■ Os Adjuntos Adverbiais
■ O Aposto
■ O Vocativo
111

INTRODUÇÃO

Percorrendo as unidades anteriores, conferimos, entre outras coisas, os conceitos


e especificidades próprias dos termos “essenciais” como o sujeito e o predicado
e os termos “integrantes” como os tradicionalmente denominados de o objeto
direto, o objeto indireto, o complemento nominal, o predicativo e o agente da
passiva da oração.
Nesta unidade, conheceremos um pouco mais dos chamados termos “aces-
sórios” da oração. Você os conhece? Ou você se lembra deles? Esses termos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

referem-se às funções sintáticas dos adjuntos (adnominal e adverbial), do aposto


e do vocativo – o qual, também, é conhecido como termo “independente” da ora-
ção, pois, como você observará, esse termo não se relaciona nem com o sujeito,
nem com o predicado.
Inicialmente, apresentaremos o adjunto adnominal. Esse termo, como o pró-
prio nome já significa, refere-se aos nomes da Língua Portuguesa – “ad” vem do
latim e significa “junto”, “ao lado”, portanto, adnominal significa: junto ao nome;
é utilizado ao lado de um nome.
Na sequência, dedicar-nos-emos aos adjuntos adverbiais. Esses também apre-
sentam o prefixo “ad” em sua nomeação. Logo, permitem-nos o entendimento
de que estão ao lado dos verbos (adverbiais), junto deles, certo? Sim, mas não se
referem somente aos verbos. Conforme veremos no decorrer da unidade, tais
adjuntos modificam, incidem, não somente a formas verbais, mas também aos
adjetivos e aos advérbios.
Por fim, voltaremos a nossa atenção ao estudo do aposto e ao vocativo. Este
vem do latim “vocare”, que significa “chamar”, funcionando, portanto, como um
termo usado quando se quer invocar, chamar algo ou alguém; aquele, em suma,
explica ou especifica melhor outro termo da oração. Tais funções sintáticas, como
veremos a seguir, apresentam estreita relação com as vírgulas.
Vamos, então, ao estudo do primeiro termo citado, ou seja, o adjunto adno-
minal. Bons estudos!

Introdução
112 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O ADJUNTO ADNOMINAL

Acompanhando, caracterizando, especificando os nomes. Tradicionalmente, o


termo adjunto – seja ele adnominal, seja ele adverbial – é encarado como “um
termo sintático não obrigatório, cuja missão é ampliar nossa informação ou nosso
conhecimento do núcleo que integra o sujeito e o predicado com seus comple-
mentos [...]” (BECHARA, 2010, p. 50).
Em se tratando especificamente de adjunto adnominal, Bechara (2010)
afirma que este se refere a uma expansão do núcleo substantivo e é, sobretudo,
representado por um adjetivo, locução adjetiva ou unidade equivalente. O autor
traz como exemplo:

Os bons ventos o tragam!


Palavra de rei não volta atrás.

Os termos em destaque são considerados adjuntos adnominais. No primeiro


exemplo, vê-se que o artigo “os” e o adjetivo “bons” acompanham o núcleo do
sujeito, ou seja, o substantivo “ventos”. A função do artigo, também chamado
de determinante, nesse caso, é, de fato, acompanhar o substantivo. Já o adjetivo

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


113

“bons”, além de acompanhar, também caracteriza o substantivo em questão. A


mesma função de caracterizar, especificar, é atribuída à locução adjetiva “de rei”,
apresentada no segundo exemplo e que se refere também ao núcleo do sujeito,
isto é, o substantivo “palavra”.
Bechara (2010), quando trata dos chamados determinantes, cita, ainda, os
predeterminantes e os pós-determinantes, os quais também funcionam como
adjuntos adnominais. Vejamos os exemplos:

Todos os amigos viajaram.


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Nesse caso, temos o pronome indefinido “todos” funcionando como adjunto


adnominal predeterminante por ser utilizado antes – à esquerda do determi-
nante “os”. Observe o próximo exemplo:

Os meus bons amigos viajaram.

Nesse segundo caso, vemos que o pronome possessivo “meus” encontra-se depois
– à direita - do determinante “os”, sendo, por tal razão, considerado um adjunto
adnominal pós-determinante.
Seguindo com a análise dos adjuntos adnominais, é importante saber que
há, ainda, outras classes de palavras além das já apresentadas (adjetivo e locução
adjetiva, artigo, pronome indefinido, pronome possessivo), que podem repre-
sentá-los. Confira:

O Adjunto Adnominal
114 UNIDADE IV

Quadro 1 - Algumas das classes de palavras que representam o adjunto adnominal, segundo a GT

EXEMPLOS
Dois homens te procuraram. O numeral adjetivo “dois”, também conside-
rado um determinante nesse caso (às vezes,
funciona também como pós-determinante),
acompanha o núcleo do sujeito: o substanti-
vo “homens”.
Aqueles homens te procuraram. O pronome demonstrativo “aqueles” é consi-
derado um determinante que acompanha o
núcleo do sujeito: o substantivo “homens”.
Roubaram-me o carro. O pronome pessoal oblíquo “me” equivale

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ao possessivo “meu” (“Roubaram meu carro”)
que, por sua vez, estaria acompanhando o
núcleo do objeto “carro” (substantivo) (Al-
guns gramáticos não consideram apropriado
classificar o pronome pessoal oblíquo como
adjunto adnominal).
O homem que sonha progride. Nessa situação, temos uma oração subordi-
nada adjetiva funcionando como adjunto
adnominal que caracteriza o núcleo do
sujeito “homem” (substantivo). Equivale a
“sonhador”.
Fonte: as autoras.

Outras características marcantes no adjunto adnominal são a indicação de posse


e o fato de, muitas vezes, praticar a ação expressa pelo nome a que se refere.
Além disso, esta função sintática sempre aparece dentro de outras funções,
como sujeito, objeto etc. – fato que também particulariza o adjunto adnominal.
Analise mais este exemplo:

O amor da mãe era incondicional.

A locução adjetiva que está dentro do sujeito “O amor da mãe”, acompanhando e


caracterizando seu núcleo, o substantivo “amor”, funciona também como adjunto
adnominal. Além disso, indica posse: de quem era o amor? Era da mãe, era dela,
e o termo “mãe”, presente no adjunto adnominal, pratica a ação de amar.

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


115

Que a regência da paz sirva a todos nós. Cegos ou não, que enxerguemos o
fato de termos acessórios para nossa oração. Separados ou adjuntos, nomi-
nais ou não.
(Fernando Anitelli - O Teatro Mágico)

ADJUNTO ADNOMINAL X COMPLEMENTO NOMINAL


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De modo geral, muitas são as confusões que ocorrem na hora de classificar adjunto
adnominal e complemento nominal. Isso porque, quando representado, sobretudo, por
uma locução adjetiva, o adjunto adnominal, de fato, parece-se com o complemento.
Há, no entanto, diferenças precisas entre tais funções sintáticas. O quadro a seguir
expõe tais diferenças, a fim de ajudá-lo(a) a não confundir adjunto e complemento.
Quadro 2 - Principais diferenças entre o adjunto adnominal e o complemento nominal

ADJUNTO ADNOMINAL COMPLEMENTO NOMINAL


Refere-se somente a substantivos, Refere-se tanto a substantivos quanto a
sendo eles concretos ou abstratos. adjetivos e a advérbios. E, em se tratan-
do de substantivos, refere-se apenas
aos abstratos.
Pode praticar a ação expressa pelo Pode receber a ação expressa pelo
nome a que se refere. nome a que se refere.
Pode indicar posse. Nunca indica posse.
Fonte: as autoras.

Observe estes exemplos que marcam bem a diferença entre adjunto adnominal
e complemento nominal:
- “Alguns alimentos e bebidas podem causar desgaste nos dentes. É o caso
dos refrigerantes, sucos ácidos e algumas bebidas alcoólicas, como espumante
e vinho, que causam erosão ácida nos dentes. A recomendação dos dentistas é
de que eles sejam consumidos com moderação.”
(Fonte: adaptado de Gazeta Online).

- “O alerta com relação à Gripe Suína também vem sendo feito pela Sociedade
Brasileira de Odontologia (SBO). Segundo a entidade, diante do risco que a

O Adjunto Adnominal
116 UNIDADE IV

epidemia traz, a recomendação aos dentistas é adiar a consulta do paciente que


é caso confirmado da gripe ou apresenta sintomas.”
(Fonte: adaptado de Jornal do Brasil Online).

No primeiro, a locução adjetiva destacada corresponde a um adjunto adno-


minal, já que os dentistas recomendaram, praticaram a ação de recomendar.
Além disso, há uma ideia de posse, uma vez que a recomendação é dos dentistas,
é deles. Já no segundo exemplo, temos em destaque um complemento nominal,
pois os dentistas receberam a recomendação, ou seja, receberam a ação expressa

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
pelo substantivo abstrato “recomendação” e não há ideia de posse – a recomen-
dação não era deles, nesse caso, mas chegou até eles.

ADJUNTO ADNOMINAL X PREDICATIVO

Há, também, quem confunda adjunto adnominal e predicativo, visto que ambos
podem indicar características; podem ser representados por adjetivos. Vejamos
um quadro que traz as diferenças entre tais funções sintáticas:
Quadro 3 - Principais diferenças entre o adjunto adnominal e o predicativo

ADJUNTO ADNOMINAL PREDICATIVO


É considerado um termo acessório da É considerado um termo integrante da
oração. oração.
Apresenta, em geral, características Apresenta, em geral, características
mais definitivas, inerentes ao substanti- mais momentâneas, passageiras ao
vo a que se refere. substantivo a que se refere.
Sempre acompanha (dentro de outra De modo geral, apresenta-se ligado a
função sintática) o substantivo a que se um substantivo por meio de um verbo
refere, sem necessidade de um verbo de ligação (não nocional).
de ligação.
Fonte: as autoras.

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


117

Veja estes exemplos:

- Independentemente de nossa vontade, sempre haverá problemas econô-


micos em nosso país.

- Os maiores problemas de nosso país são os econômicos.

No primeiro exemplo, temos o adjetivo “econômicos” funcionando como adjunto


adnominal. Sem exigir a presença de um verbo de ligação, ele caracteriza o subs-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tantivo “problemas”, o qual se refere ao núcleo do objeto direto do verbo “haver”.


Vemos que há a possibilidade de esse adjetivo “econômicos” ser retirado da ora-
ção sem que esta perca o seu sentido total (Independentemente de nossa vontade,
sempre haverá problemas em nosso país).
No segundo exemplo, temos em destaque um predicativo. Isso porque ele
complementa o verbo de ligação “são” e, ao contrário da oração anterior, neste
caso, ficaria sem sentido o período se o trecho “os econômicos” fosse retirado da
oração (Os maiores problemas de nosso país são). É possível observarmos que há
um adjunto adnominal dentro do predicativo “os econômicos”, ou seja, o artigo
(determinante) “os”. Ele acompanha o substantivo “problemas” que, embora esteja
oculto, funciona como núcleo do predicativo (tal substantivo não fora exposto
talvez para se evitar redundância).

Segue uma indicação de leitura para você. Para que não lhe reste quaisquer
dúvidas sobre adjunto adnominal, visite a página, a seguir, e confira mais
explicações e exemplos acerca dessa função sintática. Além disso, leia, tam-
bém, informações sobre o adjunto adverbial, a fim de fixar ainda mais as
diferenças existentes entre esses dois termos da oração.
Para saber mais, acesse o link disponível em: <http://brasilescola.uol.com.
br/gramatica/adjunto-adverbial-adjunto-adnominalpontos-divergentes.
htm>.
Fonte: Brasil Escola (2017, on-line)1.

O Adjunto Adnominal
118 UNIDADE IV

OS ADJUNTOS ADVERBIAIS

Indicando circunstâncias diversas.


Os adjuntos adverbiais correspondem aos termos da oração que indicam uma
circunstância do verbo ou intensificam o sentido de um verbo, de um adjetivo
ou de outro advérbio.
Como já mencionado na introdução desta unidade, embora o nome dessa
função sintática seja “adverbiais”, o que poderia levar-nos a pensar que são ter-
mos usados ao lado (ad) dos verbos (verbais), não podemos nos esquecer de que

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esses adjuntos referem-se, também, aos adjetivos e aos advérbios.
Exemplos:

- Joaquim trabalha muito.

- Joaquim é muito dedicado.

- Joaquim mora muito longe de seu trabalho.

Nos três exemplos, nota-se a presença do adjunto adverbial “muito”, que expressa
a circunstância de intensidade. No primeiro caso, intensifica o verbo “trabalhar”;
no segundo, refere-se ao adjetivo “dedicado”; e, por fim, no último exemplo,
intensifica o advérbio “longe”.
Segundo a tradição gramatical, muitas são as circunstâncias que os adjun-
tos adverbiais podem indicar. Citaremos, aqui, as principais, tais como: tempo,
modo, lugar, meio ou instrumento, intensidade, afirmação, negação, dúvida,
causa, assunto, finalidade e companhia. Vejamos alguns exemplos:

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


119

Quadro 4 - Principais circunstâncias adverbiais

CIRCUNSTÂNCIAS EXEMPLOS
ADVERBIAIS
“Linha 7 — Rubi da CPTM ganha nova estação nesta segun-
Tempo da-feira.”
Fonte: R7TV, 2013 (on-line)2.

“Saiu sem destino, saiu às pressas.”


Modo
Fonte: adaptada de Cereja e Magalhães (2013, p. 232)

“Músico Champignon é encontrado morto em SP.”


Lugar
Fonte: Estadão (2013, on-line)3.
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“Homem faz compras com cheques clonados e é preso em


Meio ou instru-
Ibaté.”
mento
Fonte: São Carlos Agora (2011, on-line)4.

“Google pagou demais por YouTube, diz Schmidt.”


Intensidade
Fonte: Boa dica (2009, on-line)5.

Afirmação Tal decisão, sem dúvida alguma, é passível de recurso.


Negação Tal decisão, de modo algum, é passível de recurso.
“Celulares são possivelmente cancerígenos, segundo OMS
Dúvida (Organização Mundial de Saúde).”
Fonte: Hype Science (2017, on-line)6.

Causa Por você, todas as bocas emudecem.


“Napoli busca informações a respeito de Leandro Damião
Assunto para substituir uruguaio Cavani.”
Fonte: Colorado Zero Hora (2013, on-line)7.

“Napoli busca informações a respeito de Leandro Damião


Finalidade para substituir uruguaio Cavani.”
Fonte: Colorado Zero Hora (2013, on-line)7.

“Caio Castro assume que ‘saiu’ com Monique Alfradique.”


Companhia
Fonte: Os Paparazzi (2011, on-line)8.

Fonte: as autoras.

Os Adjuntos Adverbiais
120 UNIDADE IV

Aluno(a) você sabe a diferença entre adjunto adverbial com advérbio


ou locução adverbial? A esse respeito, leia a seguinte explicação.
Não se deve confundir adjunto adverbial com advérbio ou locução
adverbial: o advérbio é a classe gramatical; adjunto adverbial é a
função sintática. Em outras palavras, advérbio é o nome da palavra;
adjunto adverbial é a função que a palavra exerce na oração (ENEM

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VIRTUAL, 2017, on-line)9.
Como podemos observar pela leitura anterior, a diferença entre esses ter-
mos reside no critério de classificação. Assim, podemos constatar que o
adjunto adnominal, por exercer uma função sintática na oração, tem essa
denominação, a partir do critério quanto a sua função. O advérbio é assim
chamado, pois integra o grupo das classes gramaticais, revelando um princí-
pio/critério morfológico para a sua denominação como “advérbio”.
Fonte: as autoras.

O gramático Bechara (2010, p. 53) apresenta a seguinte informação para adjunto


adverbial:
[...] a expansão do núcleo pode dar-se mediante um adjunto adverbial,
representado formalmente por um advérbio ou expressão equivalente.
Semanticamente exprime uma circunstância e sintaticamente repre-
senta uma expansão do verbo, do adjetivo ou do advérbio.

A seguir, o autor cita os exemplos:


a) Paula estudou muito.
b) Antônio chegou cedo.
c) O mar está muito azulado.
d) Bebel dançou muito bem.

Vemos que em a), o termo “muito” intensifica a ação expressa pelo verbo “estu-
dar”; em b), “cedo” refere-se ao tempo em que chegou; em c), “muito” intensifica

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


121

o adjetivo “azulado”; e, em d), novamente o termo “muito” aparece, desta vez,


intensificando o advérbio de modo “bem”.
Bechara (2010) define as circunstâncias como “unidades linguísticas que,
referindo-se à significação do verbo, assinalam o modo, o tempo, o lugar, a causa
e outras mais [...]” (BECHARA, 2010, p. 53).
Vale lembrar que há orações as quais podem não apresentar nenhuma cir-
cunstância dessas citadas. Já outras orações podem apresentar várias, como
ocorre no exemplo a seguir:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

- Jantamos ontem, no clube, com nossos amigos, devido ao aniversário da


Fernanda (BECHARA, 2010, p. 53).

Circunstâncias presentes em tal frase:


- ontem: circunstância de tempo;
- no clube: circunstância de lugar;
- com nossos amigos: circunstância de companhia;
- devido ao aniversário da Fernanda: circunstância de causa.

Caro(a) aluno(a), você sabe para que servem os adjuntos adverbiais?


As nossas ações humanas não ocorrem por si só. Elas acontecem por algum
motivo, em algum tempo e lugar, de um determinado modo, com uma in-
tensidade maior ou menor; as ações/interações humanas acontecem ao vi-
sar alguma finalidade, alguma dúvida, podem indicar alguma causa, uma
negação ou afirmação etc. Para expressar essa complexidade de circunstân-
cias em que se dá a ação humana (o processo verbal) sobre o mundo é que
existem os adjuntos adverbiais.
Fonte: as autoras.

Os Adjuntos Adverbiais
122 UNIDADE IV

É importante saber que, diferentemente de muitos gramáticos, Bechara (2010)


apresenta uma distinção, a nosso ver, bastante pertinente. Tal autor diferencia
o que ele denomina de “complementos relativos” dos “adjuntos adverbiais”. Em
outras palavras, para tal gramático, tanto um quanto outro exprimem circuns-
tâncias. No entanto, o primeiro citado, ou seja, o complemento relativo (também
conhecido como complemento adverbial) é tido como obrigatório na oração; já
o segundo – o adjunto adverbial – encontra-se, de acordo o autor, com função
mais acessória, isto é, pode ser eliminado da oração sem que esta perca seu sen-
tido. Observe este exemplo citado por Bechara (2010, p. 42):

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Marcelinho pôs o livro na pasta ontem.

Vemos que os termos indicam circunstâncias de lugar e de tempo, respectiva-


mente. A primeira (na pasta), porém, é considerada um complemento relativo,
pois é obrigatória para a completude da função predicativa, ou seja, não pode ser
eliminada da oração. Já a segunda é encarada pelo autor como adjunto adverbial,
uma vez que pode ser eliminada do período sem prejuízos de sentido.
Analise:
- Marcelinho pôs o livro ontem.
(Dessa forma, a impressão que temos é de que falta algo no período. Pôs o
livro onde?)

- Marcelinho pôs o livro na pasta.


(Porém, se escrita dessa outra maneira, não sentimos tal ausência; o perí-
odo encontra-se bastante compreensível, mesmo sem o termo “ontem”).

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


123

Na seção seguinte, serão tratadas as seguintes funções sintáticas: aposto e


vocativo. Porém, antes de chegar lá, dê uma olhadinha no link que segue;
ele te convida a conhecer um pouco mais o adjunto adverbial.
disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/hand-
le/10183/60689/000862455.pdf?sequence=1>
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O texto contido no link apresenta um artigo que trata da distinção que há


entre complementos verbais e adjuntos adverbiais. Tal artigo disserta, ain-
da, a respeito da influência desses termos no uso de ordem indireta no dis-
curso do Português Brasileiro. Boa leitura!
Fonte: as autoras.

O APOSTO

De acordo com a Gramática Tradicional, o aposto é o termo o qual explica, escla-


rece, desenvolve, resume ou identifica outro termo da oração. Observe a frase:

Desejo-te muitas coisas: amigos queridos por perto, saúde sempre, alegria
todo dia, sabedoria, paciência e muito amor!

Você observou que há um trecho na oração usado para explicar um determi-


nado termo dentro do período? Estou falando do trecho: “amigos queridos por
perto, saúde sempre, alegria todo dia, sabedoria, paciência e muito amor!”. Toda
essa parte da oração explica o que o interlocutor deseja, isto é, o que seriam as
“muitas coisas” que ele deseja.
Uma das funções do aposto é explicar algo dentro de determinado período.
Com isto, fica-nos claro que o aposto presente na frase citada corresponde ao
trecho: “amigos queridos por perto, saúde sempre, alegria todo dia, sabedoria,
paciência e muito amor!”.
Podemos chamar esse tipo de aposto presente após os dois-pontos (ou então,

O Aposto
124 UNIDADE IV

entre vírgulas, entre parênteses ou após um travessão) de aposto explicativo.


Porém, em geral, tal classificação não é exigida; o simples reconhecimento do
trecho que corresponde ao aposto dentro de uma oração é o que, normalmente,
é cobrado dos alunos. Observe mais este exemplo de aposto explicativo:

“Rodrigo Santoro, ator brasileiro mais conhecido no exterior, acaba de


fechar mais um grande trabalho internacional.”
(Fonte: texto adaptado de Bol Notícias Online)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Além desse tipo de aposto, temos também outro que não vem separado por sinais
de pontuação. Trata-se do aposto especificador que, como o próprio nome diz,
tem a função de especificar um termo da oração. Exemplo:

- Eu moro na cidade de Maringá.

- O livro Código Da Vinci já foi lido por muitos.

- Vamos assistir ao filme Os Vingadores?

Nesses exemplos citados, os trechos em destaque especificam a cidade, o livro e


o filme, respectivamente.
Há, ainda, um terceiro tipo de aposto – o resumidor ou recapitulativo.
Exemplo:

- Coragem, determinação, sabedoria e paciência... tudo isto é necessário


para vencer na vida.

Em geral, o aposto é representado por um substantivo, por uma oração ou,


então, por um pronome substantivo. Note que o trecho em destaque resume,
por meio de pronomes (normalmente, pronomes indefinidos), o que foi men-
cionado anteriormente.
Resumir, bem como especificar e explicar, são, portanto, funções do aposto.

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


125

Bechara (2010), ao tratar do aposto, afirma que este corresponde a um termo


de natureza substantiva, usado para explicar ou explicitar outro termo de natu-
reza substantiva dentro de uma oração. O autor também o caracteriza como
expansão explicitadora. Cita como exemplo:

- Titio, irmão do papai, chega hoje de Porto Alegre.

Neste, segundo o gramático, o termo em destaque funciona como aposto do


núcleo “Titio” – núcleo denominado por Bechara (2010) de fundamental – “[...]
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

o aposto serve para explicar o conceito do fundamental titio. Neste caso, sepa-
ra-se do fundamental por pausa, marcada na escrita por vírgula ou equivalente
(como parênteses ou travessão)” (BECHARA, 2010, p. 56).
Quando trata de casos de aposto especificador, explicado anteriormente, o
autor afirma que, nestes, o aposto liga-se diretamente ao seu fundamental, como
em “O rio Amazonas”, onde o trecho destacado corresponde ao aposto e “res-
tringe o conteúdo semântico genérico do fundamental rio. Vale como que um
modificador de rio, sendo substantivo, e não adjetivo” (BECHARA, 2010, p. 56).
Bechara (2010) apresenta, ainda, tipos secundários do aposto explicativo,
como você pode conferir no quadro a seguir:

O Aposto
126 UNIDADE IV

Quadro 5 - Tipos secundários do aposto explicativo, segundo Bechara (2010)

APOSTOS EXPLICATIVOS EXEMPLOS


Aposto enumerativo “Tudo – alegrias, tristezas, preocupações – ficava
estampado logo no seu rosto.” (Desdobra-se o funda-
mental representado por substantivos ou pronomes
como o indefinido “tudo”. Tal aposto pode, também, vir
precedido de locuções explicativas, como “a saber” em:
“Duas coisas o incomodavam, a saber, o barulho da rua
e o frio intenso”).
Aposto distributivo “Machado de Assis e Gonçalves Dias são os meus escri-
tores preferidos, aquele na prosa e este na poesia.”

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Aposto circunstancial “As estrelas, como grandes olhos curiosos, espreita-
vam através da folhagem.”
(O aposto acrescenta um dado a mais acerca do fun-
damental; pode ou não ser introduzido por: como, na
qualidade de, quando).
Fonte: adaptado de em Bechara (2010, p. 56-57).

Por fim, o autor marca a diferença entre aposto e adjunto adnominal e expõe
o modo como o aposto pode referir-se a toda uma oração, como no exemplo:

- “Todos saíram contentes do cinema, sinal de bom filme.”

Em tal caso, vê-se que o trecho em destaque refere-se a todo o conteúdo da ora-
ção anterior. Em apostos como este, que se referem a toda uma oração, é muito
comum o uso de substantivos, como: coisa, razão, motivo, fato, sinal etc.

[...] a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas... E estar en-
tre vírgulas pode ser aposto. E eu aposto o oposto: que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples. Um sujeito e sua oração.
(Fernando Anitelli - O Teatro Mágico)

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


127
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O VOCATIVO: UM TERMO A PARTE

Em se tratando de vocativo, podemos dizer que temos aí uma função diferen-


ciada e de fácil entendimento.
O vocativo nada mais é do que aquele tipo de termo, presente em certas
orações, por meio do qual chamamos ou interpelamos nosso interlocutor, real
ou imaginário. Geralmente, é isolado por vírgulas e, às vezes, acompanhado de
uma interjeição. Exemplo:
- “Vem cá, Luiza, me dá tua mão / O teu desejo é sempre o meu desejo.”
(Luiza – Chico Buarque)

Vemos que o termo “Luiza” fora usado como uma espécie de chamamento, como
uma maneira de se falar, conversar, chamar a Luiza.
Observe outros exemplos:

- “E agora, José? / A festa acabou [...].”


(Carlos Drummond de Andrade)

O Vocativo: um Termo a Parte


128 UNIDADE IV

- “Minha Nossa Senhora do Final Feliz, não se atrase nem um dia.”


(Minha nossa – Adriana Falcão)
O vocativo é um termo bem mais que acessório, é considerado independente,
já que não se liga ao nome, nem ao verbo e não faz parte nem do sujeito nem
do predicado.
Bechara (2010, p. 460) o denomina como uma unidade à parte e acrescenta:
Desligado da estrutura da oração e desta separado por curva de en-
tonação exclamativa, o vocativo cumpre uma função apelativa de 2ª
pessoa, pois, por seu intermédio, chamamos ou pomos em evidência

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a pessoa ou coisa a que nos dirigimos: José, vem cá! Tu, meu irmão,
precisas estudar! Felicidade, onde te escondes?

O autor detalha também que, às vezes, o vocativo pode vir precedido de “ó” (inter-
jeição), exemplo: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?”.
Ademais, Bechara (2010) traz as seguintes informações, contidas no qua-
dro, a respeito do vocativo.
Quadro 6 - Algumas particularidades do vocativo, segundo Bechara (2010)

1. Pode constituir, por si só, uma frase exclamativa à parte ou um fragmento de


oração, à semelhança das interjeições.
2. Às vezes, aproxima-se do aposto explicativo.
3. Na função apelativa, o vocativo está ligado ao imperativo ou conteúdo volitivo
da forma verbal.
4. Pode ser representado por substantivo ou por pronome, podendo apresentar
adjuntos adnominais, orações adjetivas etc.
Fonte: adaptado de Bechara (2010, p. 58).

TERMOS “ACESSÓRIOS” DA ORAÇÃO


129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pois bem, estimado(a) aluno(a), estamos concluindo mais uma unidade! Nesta,
espero ter colaborado com a ampliação de seu conhecimento acerca dos chama-
dos termos “acessórios” da oração.
Para iniciar a unidade IV, voltamo-nos ao estudo do adjunto adnominal e
conferimos como este é abordado pela Gramática Tradicional. Por essa dimensão,
você pôde notar que esse termo pode modificar um nome, seja para qualificá-lo,
especificá-lo ou determiná-lo. Além disso, analisamos as formas de diferenciar tal
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

função sintática de outros termos, como o complemento nominal e o predicativo.


Logo após, estudamos os adjuntos adverbiais. Ainda que de modo breve, tam-
bém o investigamos por meio de um olhar mais tradicional. Assim, você pôde
observar que esse termo cumpre a função de indicar as circunstâncias em que
se dá a ação, o processo verbal. Você pôde ver, também, que o adjunto adverbial
pode expressar diferentes valores semânticos, como causa, companhia, dúvida,
instrumento, finalidade, intensidade, lugar, modo afirmação ou negação.
E, para finalizar o estudo dos denominados termos “acessórios” da oração,
conhecemos melhor o aposto – o qual pode explicar, esclarecer, desenvolver,
resumir ou identificar outro termo da oração a que se refere, de maneira mais
precisa. Quanto ao termo – vocativo, termo independente, - vimos que ele se
refere à função sintática de uma palavra quando esta está sendo utilizada para
chamar, para clamar, às vezes, por algo e, sobretudo, por alguém.
E, então, está gostando de entender um pouco mais sobre a sintaxe de nossa
Língua? Nós gostamos muito! Continue estudando! Torcemos para que você
consiga aproveitar bastante esse estudo, não somente na condição de gradu-
ando(a), mas também em sua futura prática docente com todos os princípios
discutidos aqui.

Considerações Finais
130

1. Aponte e explique as características principais do adjunto adnominal.


2. Classifique os termos destacados das orações a seguir em adjunto adnominal,
complemento nominal e predicativo.
a) A homenagem do diretor foi aplaudida por todos.
b) A homenagem ao diretor foi aplaudida por todos.
c) Os torcedores fizeram uma previsão otimista para o jogo.
d) A previsão dos torcedores era otimista.
e) Os ataques da natureza são respostas aos maus tratos do homem.
3. Identifique os apostos encontrados nas frases que seguem:
a) Nasceu, neste ano, meu primo mais novo: Bernardo.
b) A cidade de São Paulo é a mais populosa do Brasil.
c) “Anderson Silva, o campeão de artes marciais mistas que adora imitar Michael
Jackson, estreia nos videoclipes ao lado de um dos maiores nomes da música
brasileira: Marisa Monte.”
(Fonte: Youtube, 2011, on-line)10
d) Hoje, pela manhã, Juliana comprou todos os ingredientes necessários para
fazer um delicioso bolo de chocolate: farinha de trigo, açúcar, leite, chocolate
em pó, fermento e ovos.
e) Farinha de trigo, açúcar, leite, chocolate em pó, fermento e ovos... tudo isso foi
comprado por Juliana, hoje, pela manhã.
4. Por que o vocativo pode ser considerado um “termo independente”?
5. Os termos acessórios referem-se às funções sintáticas dos adjuntos, seja adno-
minal, seja adverbial, do aposto e do vocativo da oração. Considere o estudo
sobre os termos acessórios da oração e compare os textos 1 e 2, após isso,
explique a função sintática dos termos sublinhados.
Texto 1
O gatinho Teodoro viveu os primeiros meses da vida dele nas ruas.
Texto 2
As travessuras do gato Teodoro trouxe alegria à gata Minerva.
131

Aluno(a), você sabe utilizar a vírgula em suas produções no plano da escrita? Se sim,
você terá uma oportunidade de (re)ver esse conteúdo; se não, você terá mais uma opor-
tunidade de se aproximar dele. Assim, relevante é a você, estudante da estrutura, não
preponderantemente, mas especialmente, da língua e futuro profissional dela, a discus-
são que apresentamos a seguir.
O adjunto adverbial e o uso das vírgulas
A ordem clássica dos termos na oração é:
Sujeito → Verbo → Complemento (se houver).
Como em:
Meu pai → comprou → um carro novo.
(Suj. verbo complemento – objeto direto)
Porém é claro que podemos alterar tal ordem, usando, por exemplo, um sujeito em po-
sição posposta, ou seja, após o verbo. Veja:
Acontecem muitos acidentes na Avenida Colombo.
Neste caso, o sujeito é “muitos acidentes” e foi utilizado após o verbo “acontecer”.
E o termo “na Avenida Colombo” refere-se a qual função sintática?
Se você pensou em adjunto adverbial, você acertou. O segmento “na Avenida Colombo”
é considerado um adjunto adverbial de lugar.
Como a ordem canônica da oração é aquela descrita anteriormente, com sujeito + verbo
+ complemento, o adjunto adverbial, em geral, está no fim da oração. Porém, se quiser-
mos, podemos utilizá-lo no início da frase. Só devemos nos atentar ao uso das vírgulas
nestas situações, pois quando você “desloca” o adjunto adverbial para o início ou meio
da frase, é interessante que ele seja isolado por vírgulas. Para facilitar-lhe a leitura a esse
respeito, vejamos este exemplo:
Na Avenida Colombo, acontecem muitos acidentes.
O uso da vírgula só será facultativo quando se tratar de um adjunto adverbial de curta
extensão. Por exemplo, na frase a seguir, podemos usar o adjunto adverbial “ontem” se-
guido ou não de vírgula:
Ontem, aconteceu mais um acidente na Avenida Colombo.
Ontem aconteceu mais um acidente na Avenida Colombo.
O uso de vírgulas também é aconselhado quando há uma sequência de elementos de
uma mesma função sintática. Portanto, se usarmos seguidamente dois adjuntos adver-
biais, também devemos separá-los por vírgula. Observe este exemplo!
Ontem, na Avenida Colombo, aconteceu mais um acidente.
Como você pôde notar, aluno(a) o emprego da vírgula cumpre um importante papel no
plano da linguagem escrita.
Fonte: as autoras.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Iniciação à sintaxe do português


José Carlos Azeredo
Editora: Zahar
Sinopse: examinando os mecanismos internos da Língua
Portuguesa, esse livro apresenta análises puramente gramaticais e
também rediscute conceitos mais tradicionais. Além disso, aborda
ainda o tema “Sintaxe e Discurso”. Pode-se dizer que “Iniciação
à sintaxe do português” corresponde a uma obra bastante
interessante para quem se dedica ao estudo da Língua Portuguesa, uma vez que objetiva investigar a
GT e, em um reexame crítico desta, tenta apontar rumos e soluções de análise, em um texto valoroso.

Introdução à Linguística II – Princípios de Análise


José Luiz Fiorin (org.)
Editora: Contexto
Sinopse: essa obra traz aos estudantes que se dedicam ao estudo
da Língua Portuguesa os princípios da Análise Linguística, em seus
diferentes níveis e em suas várias perspectivas. Entre os temas
trabalhados no livro, encontram-se fonética, fonologia, morfologia,
sintaxe, semântica, pragmática e os estudos do discurso. Tal obra, que
dá continuidade ao que consta no Introdução à Linguística I – Objetos teóricos, pretende levar o
aluno à compreensão da descrição e da explicação dos fatos linguísticos, de maneira científica.

Aposto, adjunto adverbial, vocativo e emprego da vírgula


Segue um link que dá acesso a uma interessante paródia da música Garota de Ipanema para
explicar o aposto e vocativo. Assista-o e aumente ainda mais seus conhecimentos acerca tanto
de aposto quanto de vocativo. Além desses dois temas, tal vídeo apresenta informações sobre os
usos das vírgulas, os quais estão bem relacionados com o aposto e com o vocativo. Aproveite!
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x9HidhfqWd4>.
133
REFERÊNCIAS

BECHARA, E. Gramática Escolar da Língua Portuguesa. Rio de janeiro : Nova Frontei-


ra, 2010.
CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
1
Em: <http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/adjunto-adverbial-adjunto-adno-
minalpontos-divergentes.htm>. Acesso em: 02 ago. 2017.
2
Em: <http://noticias.r7.com/sao-paulo/linha-7-rubi-da-cptm-ganha-nova-esta-
cao-nesta-segunda-feira-08092013>. Acesso em: 02 ago. 2017.
3
Em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,musico-champignon-e-encontra-
do-morto-em-sp,1072833>. Acesso em: 02 ago. 2017.
4
Em: <http://www.saocarlosagora.com.br/policia/noticia/2011/10/23/23315/ho-
mem-e-preso-apos-fazer-compras-com-cheques-clonados-em-ibate/>. Acesso em:
02 ago. 2017.
5
Em: <https://www.boadica.com.br/noticia/87080/google-pagou-demais-por-you-
tube-diz-schmidt>. Acesso em: 02 ago. 2017.
6
Em: <http://hypescience.com/oms-diz-que-celulares-sao-possivelmente-canceri-
genos/>. Acesso em: 02 ago. 2017.
7
Em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/esportes/inter/noticia/2013/05/napoli-bus-
ca-informacoes-a-respeito-de-leandro-damiao-para-substituir-uruguaio-cava-
ni-4155739.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
8
Em: <http://www.ospaparazzi.com.br/celebridades/caio-castro-assume-que-saiu-
-com-monique-alfradique-5814.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
9
Em: <http://www.enemvirtual.com.br/adjunto-adverbial/>. Acesso em: 02 ago.
2017.
Em: <https://www.youtube.com/watch?v=5pGpbi2ctTE&list=FLSZaDAHh-HZjtO-
10

Q1Uvu7Qtw&index=2>. Acesso em: 02 ago. 2017.


GABARITO

1. Resposta:
Tradicionalmente, como características do adjunto adnominal, podemos listar: o
fato de ser considerado um termo sintático não obrigatório na oração, ou seja, que
pode ser retirado sem prejuízos de sentido para o contexto. Outra particularida-
de diz respeito ao seu aparecimento no período, ou seja, sempre dentro de outras
funções como sujeito, objeto etc. Além disso, vimos também que ele pode ser re-
presentado por um adjetivo, locução adjetiva ou unidade equivalente quando é
utilizado para caracterizar e ainda por artigos, numerais e pronomes quando usado
apenas para acompanhar os substantivos, sejam eles concretos ou abstratos.
Ademais, o fato de poder indicar posse e também de, muitas vezes, praticar a ação
expressa pelo nome a que se refere correspondem a outras características marcan-
tes do adjunto adnominal.
2. Resposta:
a) adjunto adnominal.
b) complemento nominal.
c) adjunto adnominal.
d) predicativo do sujeito.
e) adjunto adnominal / adjunto adnominal.
3. Respostas:
a) Bernardo
b) São Paulo
c) o campeão de artes marciais mistas que adora imitar Michael Jackson / Marisa
Monte
d) farinha de trigo, açúcar, leite, chocolate em pó, fermento e ovos
e) tudo isso
4. Resposta:
Porque, dentro da oração, tem uma presença acessória ainda maior que o adjunto
adnominal, o adjunto adverbial e o aposto; o vocativo não se liga ao nome, nem ao
verbo e não faz parte nem do sujeito nem do predicado da oração.
5. No contexto do texto 1, o termo “Teodoro” é um aposto, uma vez que cumpre a
função de especificar, individualizar o felino. Já no contexto do texto 2, o termo
“Teodoro” equivale a um adjetivo, como as travessuras “teodorianas”, por assim
dizer, e funciona, portanto, como um adjunto adnominal.
Professora Me. Fátima Christina Calicchio
Professora Me. Raquel de Freitas Arcine de Nardo

V
Professora Me. Valéria Adriana Maceis

SINTAXE DE

UNIDADE
CONCORDÂNCIA

Objetivos de Aprendizagem
■ Explicar o princípio sintático de dependência entre o verbo e o
sujeito.
■ Compreender a dependência das palavras para sua harmonização.

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■ Concordância Verbal
■ Concordância Nominal
137

INTRODUÇÃO

E, então, aluno(a)! Sente-se pronto(a) para iniciar a última unidade do livro?


Você já percorreu um bom caminho até aqui. Você já estudou sobre os tipos de
gramáticas, sobre os conceitos de frase, oração, período e sobre a pontuação. Se
aproximou um pouco mais da sintaxe ao estudar os termos essenciais e inte-
grantes da oração pela ocasião do seu contato com as três primeiras unidades
deste material didático. Na unidade IV, finalizamos o estudo dos termos da ora-
ção sob o viés da Gramática Tradicional, ou seja, conhecemos melhor sobre os
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

termos “acessórios” da oração.


Nesta última unidade, continuaremos estudando a Sintaxe, a partir da abor-
dagem tradicional, mas voltaremos a nossa atenção para o princípio sintático
de dependência, primeiramente, entre o verbo e o sujeito e, na sequência, entre
os nomes.
Conforme será apresentado no decorrer da unidade, veremos que esse prin-
cípio sintático de dependência divide-se em dois grupos, isto é, há, na língua
portuguesa, a concordância verbal e a concordância nominal. A concordância
é o princípio sintático segundo o qual as palavras dependentes se harmonizam,
nas suas flexões, com as palavras de que dependem.
Assim, na primeira seção desta unidade, conheceremos melhor a concor-
dância verbal, em que o verbo concordará com o sujeito da oração em número
e pessoa.
A seguir, propomos um estudo da concordância nominal, em que os adje-
tivos, os pronomes, os artigos e os numerais concordam em gênero e número
com os substantivos a que se referem.
Como você verá, a concordância é o verdadeiro processo morfossintático,
uma vez que, devido às relações sintáticas, as formas se flexionam de acordo com
as necessidades de adaptação aos termos regentes. Isso significa que a concor-
dância é um princípio linguístico que orienta a combinação das palavras na frase.
Concentre-se agora, então, na concordância verbal. Boa leitura!

Introdução
138 UNIDADE V

CONCORDÂNCIA VERBAL

Você já aprendeu na unidade destinada à análise dos termos “essenciais” da oração


que o verbo e o sujeito estão sempre ligados pelo mecanismo de concordância.
De acordo com essa relação, verbo e sujeito concordam em número e pessoa.
A todo momento utilizamos a concordância verbal e, não seguir algumas
regras básicas da Gramática Tradicional prejudica, muitas vezes, a imagem de
quem enuncia. Há uma regra geral e há regras específicas. A primeira é a mais
cobrada e a mais empregada. Segundo a Gramática Tradicional, como já men-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cionamos, o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito. Por exemplo:

“[...] esse teu vestido de pregas te vai muito bem.” (Cecília Meireles)

Na frase citada, o verbo “ir” concorda com o núcleo do sujeito “vestido” em


número (singular) e pessoa (3ª.). A falta de concordância é comum na lingua-
gem oral, veja este fragmento de “Saudosa Maloca”, música de Adoniran Barbosa:

“[...] veio os homens das ferramenta que o dono [...]”

No trecho da música, o equívoco de concordância verbal – o verbo “vir” no


singular e o sujeito “homens” no plural – e o de concordância nominal (“das
ferramenta”) revelam a condição social das personagens, em que a linguagem
empregada é compatível com o falar popular, pois a enunciação faz crer que
se trata de pessoas simples. Na linguagem adequada às regras da Gramática
Tradicional, teremos:

“[...] vieram os homens das ferramentas que o dono [...]”

Diante disso, ao tratarmos da concordância verbal, veremos que o verbo assume


os traços de número e pessoa do seu sujeito. Dentre os inúmeros casos menciona-
dos pela Gramática Tradicional, citaremos os mais comuns, dada a complexidade
e abrangência do assunto.
Vamos lá, prezado(a) aluno(a)! Vejamos as regras básicas da concordância verbal:

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
139

1. Com sujeito simples: embora a regra seja relativamente simples – o


verbo concorda em número e pessoa com o sujeito – é possível encon-
trar algumas dificuldades no momento de determinar a concordância
com o verbo, já que existem algumas situações em que o sujeito simples
é constituído de formas que fazem o falante ficar em dúvida. Existem
algumas situações que a concordância exclusivamente gramatical é afe-
tada pelo significado de expressões que conduzem a uma noção de
plural, mesmo tendo forma de singular ou vice-versa. Por isso, é neces-
sário analisar com precaução algumas expressões.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a) Expressões de sentido quantitativo: a maior parte de, grande parte de, a


maioria de etc., a concordância se faz com o núcleo do sujeito.

Grande parte das linhas já estava com os carros extras quase cheios.
Em um número menor de casos, a concordância se faz com o complemento
e essa é uma tendência cada vez maior:
Um grande número de velas branquejavam sobre as águas da baía.

b) Locuções como cerca de, menos de, perto de: essas expressões apenas modi-
ficam o núcleo do sujeito. A regra geral é que o verbo concorde com o
núcleo do sujeito.
Cerca de quinze empresários participaram da reunião.

c) Expressão mais de um: o verbo concorda com o núcleo do sujeito.


Mais de um carro apresentou problemas na largada.
No entanto, quando a expressão mais de um se associar a verbos que expri-
mem reciprocidade, o plural passa a ser necessário:
Mais de um aluno se ofenderam na competitiva gincana escolar.

d) Expressões como um dos que, uma das que: na mídia escrita, a concor-
dância varia entre singular e plural. Mas você deve estar se perguntando:
qual a forma mais adequada? Conforme podemos encontrar na grande
maioria das Gramáticas Tradicionais, o verbo costuma assumir a forma
plural.

Concordância Verbal
140 UNIDADE V

Bernardinho é um dos que mais entendem de vôlei.


O que se quer dizer na oração anterior é que, dentre as pessoas que enten-
dem de vôlei, Bernardinho é uma delas. Existe sempre o pressuposto de que o
“um” destaca um indivíduo em um conjunto de vários indivíduos.

e) Caso em que o sujeito é um plural aparente: casos de substantivos que


só se apresentam no plural, a concordância é feita sempre com o verbo
no singular.
Minas Gerais produz queijo de primeira.

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Se os substantivos estiverem acompanhados de artigo, ficarão no plural:
Os Girassóis de Van Gogh alcançaram 40 milhões de dólares no leilão.
Os Estados Unidos determinam o fluxo de atividade econômica no mundo.

Alguns casos são tratados como especiais na concordância verbal. De acor-


do com Cegalla (2002), com títulos de obras é comum deixar o verbo no sin-
gular, principalmente com o verbo “ser” seguido de predicativo no singular:
“As Férias de El-Rei é o título da novela.” (Rebelo da Silva).
“As Valkírias mostra claramente o homem que existe por detrás do mago.”
(Paulo Coelho).
“Os Sertões é um ensaio sociológico e histórico [...]” (Celso Luft).
A concordância, neste caso, não é gramatical, mas ideológica, porque se efe-
tua não com a palavra (Férias de El-Rei, Valkírias, Sertões), mas com a ideia
por ela sugerida (obra ou livro). Porém, é importante ressaltar que é também
correto usar o verbo no plural:
“As Valkírias mostram claramente o homem...”.
“Os Sertões são um livro de ciência e de paixão, de análise e de protesto.”
(Alfredo Bosi).
Fonte: as autoras.

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
141

f) Casos em que os sujeitos são pronomes interrogativos ou pronomes inde-


finidos no plural seguidos de pronomes pessoais no plural: o verbo pode
concordar com esses pronomes interrogativos ou indefinidos pela regra
geral. Mas é mais comum a concordância com o pronome pessoal.

Alguns de nós aqui somos contemporâneos da época de Jeca Tatu. Quantos


de nós aceitam a afirmação: que é melhor ver a pátria derrotada em guerra do
que usá-la para promover crimes, injustiças, violações de direitos humanos?

g) Números percentuais: quando o sujeito é formado por uma expressão


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

que indica número percentual seguida de substantivo, o verbo concorda


com o substantivo.
Sessenta por cento dos entrevistados reprovam a conduta do governador.
Vinte e cinco por cento do orçamento do país deve destinar-se à Educação.

h) Números fracionários: o verbo concorda com o núcleo do sujeito.


Um quarto dos soldados saiu ferido.
Quando a oração está na voz passiva ou apresenta predicativo, a concordân-
cia pode ser feita com o complemento do número fracionário:
As ruas não apresentam situação melhor. Apenas um pouco mais de um
quarto delas, contando-se as legais e ilegais, são pavimentadas.
Observe que obedecer à regra geral nesse caso pode parecer estranho:
Um quarto das ruas é pavimentado.

i) Pronomes relativos que e quem como sujeitos: quando o pronome relativo


“que” é o sujeito, o verbo concorda com o antecedente desse pronome.
Nós, que vamos morrer sabe-se lá quando, não suportamos a ideia do fim.
Quando o pronome relativo “quem” é o sujeito, o verbo fica na terceira pes-
soa do singular:
Não sou eu quem navega / Quem navega é o mar. (Paulinho da Viola)

Concordância Verbal
142 UNIDADE V

j) Sujeito cada um de + elemento no plural: a regra geral propõe que o


verbo deva concordar com o núcleo do sujeito (um = subentende-se
elemento daquele grupo).
Cada um dos alpinistas levava consigo uma lanterna.

2. Com sujeito composto:


a) Anteposto ao verbo: a concordância se faz, obrigatoriamente, com ambos
os sujeitos. Veja o exemplo:
O deputado e o secretário desceram pela escada da frente do avião.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Caso o sujeito venha posposto ao verbo, a concordância pode ser feita tanto
com os dois sujeitos quanto com o mais próximo, por exemplo:
Desceram o deputado e o secretário pela escada da frente do avião.
Desceu o deputado e o secretário pela escada da frente do avião.
Quando ocorre ideia de reciprocidade, no entanto, a concordância é feita,
obrigatoriamente, no plural.
Abraçaram-se vencedor e vencido.

b) Vários sujeitos são resumidos em um pronome indefinido (tudo, nada,


outro, ninguém, alguém): o verbo fica no singular, concordando com o
pronome.

Habilidade, força, esperteza, tudo é permitido no amor.

c) O sujeito é a locução “um e outro” ou “nem um nem outro”: o verbo pode


ir para o singular ou para o plural.

Um e outro falou a verdade.


Um e outro falaram a verdade.

d) Com núcleos do sujeito antecedidos pelo pronome indefinido “cada”: o


verbo fica no singular.

Cada homem, cada mulher deve pesar bem o seu voto.

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
143

e) Com sujeitos ligados pela conjunção “ou”: o verbo concorda com o termo
que vier depois do último “ou”.

Angela ou Cristina se casará na próxima semana.


Ele ou eu serei presidente.

f) Sujeitos unidos por expressões correlativas “não só... mas também...”;


“não só... mas ainda...”; “tanto... como” etc.: essas expressões são utiliza-
das para criar efeitos argumentativos. A concordância deve processar-se
sempre de acordo com a regra geral, levando o verbo para o plural. O
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

verbo afeta ambos os sujeitos.

Tanto o ministro quanto o presidente sabiam dos desvios de verba.

3. Concordância do verbo ser:

Alguns casos merecem um destaque particular. De acordo com Cipro Neto e


Infante (2003, p. 474), o verbo ser, em várias situações, deixa de concordar com
o sujeito para concordar com o predicativo. Em outras situações, pode concor-
dar com um ou com outro, de acordo com o termo que se queira enfatizar.
a) Se o sujeito for formado por um dos pronomes isso, isto, tudo, aquilo,
o e o predicativo estiver no plural, o verbo ser, de preferência, irá para
o plural. Não é raro o verbo ser aparecer também no singular (concor-
dando com o sujeito), mas o mais usado é o verbo no plural.

Aquilo são mentiras jamais esquecidas.


Isso são marcas do passado.
Tudo é memórias jamais esquecidas.

b) Quando o sujeito for um nome de coisa e o predicativo estiver no plu-


ral, o verbo concordará no plural com o predicativo.

Minha felicidade são suas conquistas.


Minha paixão eram seus abraços.

Concordância Verbal
144 UNIDADE V

O verbo ser poderá ser utilizado no singular, para enfatizar o sujeito.


Minha felicidade é suas conquistas.
Minha paixão era seus abraços.

c) Se o sujeito ou o predicado for formado por pronome pessoal do caso


reto, o verbo concordará com o pronome pessoal.
Você é meu anjo da guarda.
Quem deu o primeiro beijo foi ele.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
d) Se o sujeito expressar quantidade numérica, o verbo ser concordará
com o predicativo.

Seis meses foi pouco.


Dois mil é suficiente para quitar a dívida.

e) Na indicação de horas, distância e datas o verbo ser é impessoal (não há


sujeito) e o verbo concordará com a expressão de horas, distância e datas.

Agora são duas horas.


Foram cinco quilômetros de caminhada para te encontrar.

4. Concordância dos verbos impessoais.


As construções impessoais com verbos que exprimem fenômenos da natureza
com os verbos haver, fazer e ser estão relacionados à ideia de tempo, assim como
ocorre com o verbo haver no sentido de existir. Havendo um verbo auxiliar, este
assume a terceira pessoa do singular:
Choveu ontem.
Faz dez anos.
Deve ter chovido.
Deve fazer dez anos.
Os verbos dar, soar e bater indicando horas concordam com o número de
horas, que é o sujeito da oração:

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
145

Deram quatro horas.

Mas quando o sujeito for outro, a concordância se fará com ele:

O relógio da igreja bateu dez horas.

Muitos gramáticos discutem sobre a concordância com infinitivo em orações


finais. Quando o sujeito de uma oração final for o mesmo da oração principal, o
infinitivo da oração final não se flexiona, uma vez que, em português, o sujeito
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

desse tipo de oração é cancelado quando for igual ao da oração principal. Analise
o exemplo a seguir:
Os bancos têm um alto custo operacional para fazer o controle dos depó-
sitos e das retiradas.
Observe que, neste caso, o sujeito “bancos” é o mesmo para o verbo ter (ora-
ção principal) e para o verbo fazer (oração final).
No entanto, é preciso ficar atento aos verbos chamados factivos, tais como
mandar, ordenar e fazer, e os sensitivos como ver, ouvir e sentir. Esses verbos
podem ter como complementos orações substantivas:
[O governo mandou que] [os integrantes do BC investigassem a denúncia.]
Transformando essa oração em oração substantiva reduzida de infinitivo,
teremos:
O governo mandou os integrantes do BC investigarem a denúncia.
(ou)
O governo mandou os integrantes do BC investigar a denúncia.
Assim, finalizamos o tópico sobre concordância verbal apresentando os prin-
cipais casos. Veja, caro(a) aluno(a), que, mesmo diante de tantas ocorrências, é
possível encontrar ainda outras situações em diferentes gramáticas. Por isso, é
importante estar pesquisando sempre. Vamos lá! Continue sua leitura!

Concordância Verbal
146 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONCORDÂNCIA NOMINAL

A concordância nominal estuda as relações estabelecidas entre os nomes, ou


seja, entre as classes de palavras que compõem o chamado grupo nominal:
substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e numerais. Para compreender o fun-
cionamento dessa relação, é essencial lembrar que adjetivos e palavras de valor
adjetivo podem funcionar como adjuntos adnominais ou predicativos dos subs-
tantivos a que se referem.
Por isso, caro(a) acadêmico(a), no estudo que você fará a partir de agora, é
necessário considerar que o comportamento dos adjetivos é extensivo às outras
palavras de emprego adjetivo.
De modo geral, a regra diz que o artigo, o pronome, o numeral e o adjetivo
concordam em gênero e número com o substantivo ao qual se referem:
“De Petrópolis datam as minhas velhas reminiscências.” (Manuel Bandeira)
No exemplo anterior, o artigo (as), o pronome (minhas) e o adjetivo (velhas)
concordam em gênero e número com o substantivo (reminiscências).
Assim como na concordância verbal, estudaremos cada caso em particu-
lar. Vamos lá!

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
147

1. Com adjetivos: concordam com o substantivo determinado em gênero e


número, ou apenas em número quando invariável em gênero, com algu-
mas exceções:
a) Anexo e incluso: concordam com o substantivo a que se referem em
número e gênero.

Seguem anexos os documentos solicitados.


Está inclusa à documentação uma fatura.
Fique atento! A expressão “em anexo” é invariável!
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Seguem, em anexo, os documentos.


Seguem anexos os documentos.
Seguem anexas as fotografias.

b) Dado e visto:

Dado (visto) o fato acontecido, fica suspensa a reunião.


Dada (vista) a falta de dinheiro, viajamos de trem.

c) Meio, bastante, caro, barato, muito, pouco: podem exercer função adje-
tiva ou adverbial. No primeiro caso, concordam com o substantivo ao
qual se referem; no segundo, permanecem no masculino singular (inva-
riável). Em síntese, refere-se:
- ao substantivo, ao pronome substantivo: sofre variação.
- ao verbo, ao adjetivo, ao advérbio: não sofre variação (masculino singular).

Os dirigentes estão meio equivocados (advérbio).


Os alunos estudaram (verbo) bastante.
As roupas naquela loja custam (verbo) caro.
Carros custam (verbo) muito dinheiro.
Os exemplos a seguir são aqueles em que passam por variação:
Era homem de meias palavras (substantivo).
Há bastantes alunos (substantivo) com nota zero.

Concordância Nominal
148 UNIDADE V

Lojas (substantivo) caras vendem roupas de grife.


Eram muitas meninas (substantivo) cantando.
Se tiverem valor de adjetivo ou numeral fracionário se flexionam:
Encontro você meio-dia e meia. (meia hora)

Só funciona como advérbio se sinônimo de “apenas” e como adjetivo se

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sinônimo de “sozinho”. A expressão a sós é invariável se acompanhada de
preposição:
só elas cantavam
os dois estavam sós
deixe-os a sós
(As autoras)

Coloque apenas meia colher de sopa por xícara na receita.


d) Mesmo e próprio: essas palavras devem concordar com o nome a que
se relacionam:

Nós mesmos faremos o serviço.


Ela mesma quis dar a notícia.
Os próprios alunos invadiram a escola.

e) Possível: de modo geral, tem concordância regular em número:

Encontramos alguns possíveis obstáculos.

Há casos, porém, em que ora flexiona, ora não. Bechara (1999, p. 550) orienta
a questão da seguinte forma: com o mais possível, o menos possível, o melhor
possível, o pior possível, quanto possível, o adjetivo “possível” fica invariável,
ainda que se afaste da palavra mais – Paisagens o mais possível belas; paisagens

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
149

o mais belas possível; paisagens quanto possível belas. Com o plural, o adjetivo
“possível” vai para o plural – Paisagens as mais belas possíveis. Neste caso, o
artigo orienta a flexão.

f) É proibido, é necessário, é preciso, é bom: podem variar ou não.


- Se o sujeito apresentar um determinante (artigo, pronome ou numeral),
a expressão irá concordar com o determinante.

É proibida a entrada de crianças neste espaço.


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Será necessária a compreensão de todos para analisar o caso.


- Se o sujeito não apresentar um determinante, a expressão será invariável.

É proibido entrada de crianças neste espaço.


Será necessário compreensão de todos para analisar o caso.

É proibido entrada.
É proibida a entrada.
É necessário autoridade para comandar.
É necessária a nossa atuação.

g) Menos: tanto o adjetivo quanto o advérbio são invariáveis:

Paula trouxe menos bagagem.


Andréia anda menos apreensiva.

h) Alerta: como advérbio, é invariável; como adjetivo, varia em número:

Todos permanecem alerta.


Precisamos de soldados alertas.

i) Substantivos ligados por “ou”: substantivos de gêneros diferentes liga-


dos por “ou” podem levar o adjetivo a:

Concordância Nominal
150 UNIDADE V

- concordar no masculino plural:

Deveríamos entrar de calção ou camiseta marcados.


- concordar com o substantivo mais próximo:

Deveríamos entrar de camiseta ou calção marcado.


Deveríamos entrar de calção ou camiseta marcada.

j) Dois adjetivos para um substantivo: quando há dois adjetivos para um


substantivo, o critério é o seguinte:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
- se o substantivo estiver no plural, não haverá artigo diante do segundo
adjetivo:

O comitê olímpico puniu as delegações russa e japonesa.


- se o substantivo estiver no singular, haverá artigo diante do segundo
adjetivo:

O comitê olímpico puniu a delegação russa e a japonesa em função da deso-


bediência diplomática.
A utilização do artigo, no segundo caso, é necessária para que não haja uma
interpretação indevida. A construção “a delegação russa e japonesa”, sem o artigo
diante do segundo adjetivo, poderia dar a impressão de que se trata de uma única
delegação, com a participação de indivíduos de um mesmo país.

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
151

Esses são apenas alguns exemplos de concordância nominal. Assim como a con-
cordância verbal, o uso vai permitindo uma grande variedade de possibilidades
que só os bons dicionários poderão ir registrando de modo sistemático.

É bom lembrarmos que o uso da concordância projeta, em alguns casos, o


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tipo de variante utilizada, se popular ou culta. Observe o fragmento a seguir


de “Saudosa Maloca”, música de Adoniran Barbosa:
“[...] nas grama do jardim nóis cantemos assim.” = variante popular
A falta de concordância entre o artigo e o substantivo, a alteração fonética
no pronome e a conjugação verbal revelam um enunciador pertencente a
uma classe social que não teve muito acesso à linguagem culta, tratando-se,
por isso, de uma variante popular. Os desvios, por se tratar de uma obra
artística, criam um efeito de realidade, isto é, fazem crer que as personagens
pertencem àquela realidade. Transpondo o enunciado para a linguagem
culta, teremos:
“[...] na grama do jardim, nós cantamos assim.” = variante culta
Se o desvio de concordância não for proposital, ele deve ser evitado em situ-
ações que exigem uma linguagem culta, pois prejudica a imagem do enun-
ciador ao dar a impressão de que este não possui competência linguística.
Fonte: as autoras.

Concordância Nominal
152 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início desta unidade, conhecemos um pouco mais sobre a concordância


verbal – um processo morfossintático em que o verbo assume os traços de
número e pessoa do seu sujeito. Diante disso, o princípio básico da concor-
dância verbal na variedade padrão da língua é o verbo concordar com o sujeito
em número e pessoa.
Vimos, nesse tópico, que há regras básicas e casos que merecem mais desta-
que e atenção. Com sujeito simples, precisamos atentar para algumas expressões

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de sentido quantitativo; uso de locuções específicas; casos em que o sujeito é
um plural aparente; situações em que os sujeitos são pronomes interrogativos,
indefinidos ou relativos, como também é preciso ter atenção no uso de núme-
ros percentuais e fracionários.
Há casos de sujeito composto que merecem um estudo particular, tais como:
sujeito composto anteposto ao verbo; vários sujeitos resumidos em um pronome
indefinidos; casos também em que os sujeitos estão ligados por conjunções ou
sujeitos unidos por expressões correlativas etc.
Enfim, com relação à concordância verbal, tivemos particular interesse, pri-
meiramente, no verbo “ser” e, em seguida, em alguns verbos como “dar”, “soar”
e “bater”, indicando horas. Vimos também casos de indicações de tempo e o
emprego do infinitivo. Finalizamos o tópico de concordância verbal dando aten-
ção para os verbos factivos e sensitivos.
Com relação à concordância nominal, estudamos que a regra geral baseia-se
na concordância dos termos determinantes (artigos, adjetivos, pronomes adjeti-
vos e numerais) com um núcleo substantivo. Completamos esse conhecimento
tratando das expressões e palavras que merecem estudo particular na concor-
dância nominal, como é o caso do uso do “anexo” e “incluso”; “dado” e “visto”,
“meio”, “bastante”, “caro”, “barato”, “muito”, “pouco”, entre outros.
Esperamos que tenha sido válido e interessante para você o estudo da con-
cordância verbal e nominal.

SINTAXE DE CONCORDÂNCIA
153

1. “A concordância é o princípio sintático segundo o qual as palavras dependentes


se harmonizam, nas suas flexões, com as palavras de que dependem.” Sobre a
sintaxe de concordância, leia os textos 1 e 2, a seguir e faça o que se pede.
Texto 1
Grande parte dos alunos participaram da Semana de Conhecimento Gerais.
Texto 2
Grande parte dos alunos participou da Semana de Conhecimentos Gerais.
Qual dos textos apresenta a concordância verbal de acordo com a norma-pa-
drão? Justifique sua resposta.
2. Leia este texto.
“Cerca de 30 trabalhos dos alunos de pós-graduação da Unicesumar foram expostos
nesta quinta-feira, 8, na 2ª Mostra Científica de 2017 da Unicesumar.”
(Fonte: Unicesumar, 2017, on-line)1.
Qual é o princípio gramatical que justifica a flexão da forma verbal “foram”, em
destaque, no texto?
3. Leia as assertivas, a seguir, e assinale a alternativa que apresenta uma justi-
ficativa que explique, corretamente, a sintaxe de concordância verbal com
sujeito composto.
I) Em: Alegria e gratidão faziam parte daquela família. (Sujeito composto ante-
posto à forma verbal, obrigatoriamente, a concordância deve acontecer com
os dois elementos da forma composta).
II) Em: “Faziam parte daquela família alegria e gratidão” e “Fazia parte daquela
família alegria e gratidão” apresentam a concordância adequada, uma vez
que, caso o sujeito composto ocorra posposto a forma verbal, a concordância
pode ser feita com os dois elementos do composto ou com o elemento mais
próximo.
III) Em: “Faziam parte daquela família alegria e gratidão” revela um exemplo de
sujeito composto posposto ao verbo, logo, a rigor gramatical, a forma verbal
“Faziam” deve concordar apenas com o sujeito mais próximo a esse verbo.
IV) Em: “Alegria e gratidão faziam parte daquela família” a concordância verbal
“Faziam”, obrigatoriamente, deve concordar com os dois elementos da forma
composta.
154

Está(ão) correta(s):
a. Apenas I.
b. Apenas I e II.
c. Apenas I, II e III.
d. Apenas III e IV.
e. Todas as assertivas.
4. “A concordância nominal estuda as relações estabelecidas entre os nomes, ou
seja, entre as classes de palavras que compõem o chamado grupo nominal:
substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e numerais”. Considere a sintaxe de
concordância nominal e indique a alternativa cujas palavras estabelecem
e completam adequadamente a concordância nominal no texto a seguir:
A coordenação da biblioteca acadêmica já informou _________ vezes que, para em-
préstimo de livros __________ do acervo da biblioteca, é __________ a apresenta-
ção da carteirinha de identificação do acadêmico.
A alternativa correta é:
a. bastante, antigos, obrigatório.
b. bastantes, antigos, obrigatório.
c. bastantes, antigos, obrigatória.
d. bastante, antigos, obrigatória.
e. bastante, antigo, obrigatório.
5. No texto a seguir, existe uma inadequação referente a sintaxe de concordância
nominal.
Era meio-dia e meio na ocasião que cheguei à escola municipal. Precisei esperar,
pois estava proibida a entrada antes das 13h30min.
a) Reescreva-o com a adequada concordância nominal.



b) Explique a correção que você realizou.



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Você sabe o que é uma concordância ideológica?


Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você, muito possivelmente, pôde observar que a con-
cordância é um princípio linguístico que orienta a combinação das palavras nas frases,
nos períodos, nos enunciados, contudo haverá situações de comunicação linguística
que você perceberá que esse princípio não se aplica. Referimo-nos à concordância ideo-
lógica, você se lembra desse tipo de relação linguística? Para facilitar-lhe a compreensão
referente a esse conceito, relevante é esta explicação dos professores Cereja e Maga-
lhães!
Concordância ideológica
É inadequada a concordância verbal na frase seguinte?
Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exem-
plo a ninguém.
No caso dessa frase, a concordância é ideológica, ou seja, é feita não com a forma gra-
matical da palavra, mas com o seu sentido, com a ideia que ela expressa. Trata-se de
um caso de silepse, palavra de origem grega que significa “ação de reunir, de tomar em
conjunto”.
Na frase anterior, ocorre silepse de pessoa, pois seu autor se inclui no sujeito de 3ª pessoa
(os modernistas), e o verbo fica, por isso, na 1ª pessoa do plural.
Há ainda:
• silepse de gênero, como na frase “Senhor presidente, Vossa Excelência é muito ge-
neroso”, em que o adjetivo generoso concorda com a ideia de masculino de Vossa
Excelência, e não com sua forma feminina.
Bechara (2009) explica que as expressões de tratamento quando se juntam a adjetivos,
estes assumem a concordância na forma de tratamento. Veja este exemplo extraído da
gramática desse autor:
Sua Majestade fidelíssima foi contrariado pelos representantes diplomáticos.
Voltamo-nos a outro caso de silepse:
• silepse de de número, como na frase “Esta equipe está muito bem fisicamente. Cor-
rem em campo e não perdem um lance de bola”, em que os verbos correm e per-
dem, no plural, concordam com a ideia de vários jogadores e não com o substantivo
coletivo da equipe. (MESQUITA & MAGALHÃES, 2013, p. 340)
Diante dessa leitura, caro(a) estudante, podemos compreender que a concordância ide-
ológica se apoiou em recursos como concordar verbos com o sentido que uma palavra
pode expressar e não com a forma gramatical.
Fonte: as autoras.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Norma culta brasileira: desatando alguns nós


Carlos Alberto Faraco
Editora: Parábola Editorial
Sinopse: Este livro foi publicado para destacar e analisar
fenomenologicamente os conceitos de norma, norma culta,
norma-padrão e norma gramatical, e assim revelar o enredo
de sobreposições e incoerências, anacronismos e preconceitos
envolvidos nos usos que delas fazemos.

Para que você possa complementar os seus estudos sobre a Sintaxe e concordância nominal,
sugiro que assista ao vídeo da banda “Sujeito Simples”, no link a seguir:
<https://www.youtube.com/watch?v=CErv_aGM8YI>
Aluno(a), sobre a Sintaxe de concordância verbal, sugiro este vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=-q0zvJHfNmo>
157
REFERÊNCIAS

BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2009.
________. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.
CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 45. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2002.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. Gramática Reflexiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
CIPRO NETO, P.; INFANTE, U. Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione,
2003.

REFERÊNCIA ON-LINE

1
Em: <https://www.unicesumar.edu.br/pos-graduandos-expoem-trabalhos-na-2a-
-mostra-cientifica-da-unicesumar/>. Acesso em: 02 ago. 2017.
GABARITO

1. Expectativa de resposta
A rigor gramatical, a concordância verbal se faz com o núcleo do sujeito apresen-
tada no texto. Assim, a forma verbal “participou” concorda com o núcleo do sujeito
“Grande parte”. Dessa forma, a concordância verbal, conforme a norma-padrão, está
no texto 2.
2. Expectativa de resposta
O princípio que justifica a flexão verbal em “foram” reside no fato de o sujeito ser
formado por uma expressão que indica percentual, seguido de substantivo. Nesse
sentido, a forma verbal em destaque concorda com o substantivo “trabalhos”.
3. Letra “b”.
4. Letra “c”.
5. Expectativa de resposta
a) Era meio-dia e meia na ocasião que cheguei à escola municipal, mas precisei
esperar, pois estava proibida a entrada antes das 13h30min.
b) Nesse contexto, a palavra “meio” é um numeral e concorda com hora que sig-
nifica metade de uma hora.
159
CONCLUSÃO

Caro(a) aluno(a), você chegou ao fim da leitura deste livro! Que bom! A disciplina
de Língua Portuguesa II, a qual guia o conteúdo deste material, tem o objetivo de
levar a seu conhecimento informações e conceitos importantes no que diz respeito,
sobretudo, aos termos da oração (período simples) e aos princípios sintáticos de
dependência.
Vamos relembrar, então, rapidamente, tudo o que você estudou por aqui? Acom-
panhe-me!
Na primeira unidade do livro, primeiramente, tratamos da Gramática Tradicional; vi-
mos um pouco de sua história e apresentamos os diferentes tipos de gramáticas. A
seguir, voltamo-nos às questões relativas à Sintaxe, procurando entender seu obje-
to de estudo e seus componentes.
Além disso, ainda na Unidade I, detivemo-nos a estudar um assunto aparentemente
simples, mas que muitos apresentam dificuldades no momento de utilizá-los: os
sinais de pontuação. Procuramos apresentar os mais recorrentes e suas aplicações.
Na segunda unidade do livro, detivemo-nos à investigação de como são apresen-
tados os constituintes considerados essenciais em uma oração, são eles: o sujeito
e o predicado. Procuramos apresentá-los sob o olhar tradicional, exemplificando o
funcionamento de cada um dentro dos usos da língua.
Em se tratando da terceira unidade do livro, trabalhamos os termos considerados
“integrantes” da oração. Vimos, portanto, sempre procurando apresentar a visão tra-
dicional acerca dos constituintes da oração, os “integrantes”: objetos (direto e indi-
reto), o complemento nominal, o predicativo e o agente da passiva.
Na quarta unidade, procuramos expor, do modo mais claro possível, as caracterís-
ticas que definem os chamados termos “acessórios” da oração, ou seja, o adjunto
adnominal, os adjuntos adverbiais, o aposto e o vocativo (termo independente). E,
ao tratar de tais termos, encerramos o estudo do período simples.
E, então, você já está apto(a) para identificar e, no futuro, ensinar estes conteúdos
voltados ao período simples a seus futuros alunos? Espero que, de alguma maneira,
tudo o que fora estudado aqui acerca dos constituintes da oração enriqueça sua
prática docente, futuro(a) professor(a)!
Ao fim do livro, chegando à última unidade, discutimos o verdadeiro processo mor-
fossintático: a sintaxe de concordância. Discorremos acerca da concordância verbal,
em que o verbo assume os traços de número e pessoa do seu sujeito; e da concor-
dância nominal, em que ocorre a concordância dos termos determinantes com um
núcleo substantivo.
Pois bem, por fim, como já afirmamos em outras passagens ao longo de todo o li-
vro, esperamos que todas as informações contidas neste material sejam muito bem
aproveitadas por você, prezado(a) aluno(a). Escrevemos este livro com muito cari-
nho e empenho, tentando sempre apresentar clareza nas palavras, para que nos
CONCLUSÃO

fizéssemos entender. A todo momento, pensávamos em você, nosso leitor, e em


como todo o conteúdo estudado poderia ser-lhe útil de alguma forma.
Uma vez mais deixamos a nossa torcida pela sua realização profissional e enfatiza-
mos, novamente, a importância de você ainda buscar outros meios de informação!
Estude sempre e não desanime jamais!
Abraços e muito sucesso a você!
Professoras Raquel Arcine, Valéria Maceis e Fátima Christina Calicchio

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