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Internet para o desenvolvimento das rádios no interior e as


implicações no jornalismo local
Ricardo CAMPOS JÚNIOR1

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

INTRODUÇÃO

A modernidade produziu modos de vida diferentes dos tipos tradicionais de


ordem social, mudanças sem precedentes que contribuíram para o estabelecimento
de novas interconexões sociais a nível global (Giddens, 1991). Reflexo desse
processo, a globalização descontrói a ideia de soberania nacional, provoca
mudanças e a criação do que Kerbauy e Truzzi (2007) chamam de cidadania pós-
nacional, em que há necessidade de que o processo de internacionalização seja
estendido às pessoas. Esse fenômeno intensifica, em escala mundial, as relações
sociais, em “que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a
muitas milhas de distância” (GIDDENS, 1991, p.76). Há uma mudança no sentido de
pertencimento dos indivíduos com a criação de laços mundiais (GIDDENS, 2002).
Para o autor, entre as transformações espaço-temporais que levaram à
modernidade, está o surgimento de tecnologias que aos poucos, no decorrer da
historia, abriram espaço ao acúmulo de inovações que levaram aos meios de
comunicação de massa.

Os meios informativos foram os avanços mais significativos e nesse mundo


das telecomunicações e dos computadores, criam-se novas maneiras de pensar e
conviver, de forma que as relações humanas, diante dessa revolução, dependem da
metamorfose dos dispositivos informacionais de todos os tipos, tendo em vista que
são afetadas as velhas formas de produção de conteúdo e percepção (Manovich,
2001 e Lévy, 1993). Expansão e difusão de tecnologias, aliadas à rede mundial de
computadores, permitiram a disseminação de informações e deram origem a novas
possibilidades técnicas, como plataformas e programas, que podem ser utilizadas
tanto pelo público como dentro das redações jornalísticas, tornando necessário
aperfeiçoamento e surgimento de novos perfis profissionais por conta das mudanças

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Jornalista profissional formado pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal,
repórter do site G1MS e mestrando em comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
ricardojr.campos@gmail.com
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nos meios tradicionais de informação (SILVA, 2008; JORGE e PEREIRA, 2009;


FERRARI, 2009 e AMADORI e MARQUES, 2009).

Desenvolvido no final do séxulo XIX e aperfeiçoado durante o século XX, o


rádio foi o primeiro meio eletrônico de difusão de conteúdo em massa. Para Cordeiro
(2005), o veículo, conhecido por ser imediato e irrepetível, pode redefinir-se com o
advento da internet.

“A introdução de sistemas multimídia vem alterar a natureza da rádio,


podendo transformá-la de tal forma que nos obrigue a reequacionar o
conceito, questionando a validade da definição do que é a rádio e a sua
comunicação. Sendo a rádio o meio que ao longo da história da
comunicação mais facilmente se adaptou aos novos cenários tecnológicos,
absorvendo-os para renovar a tecnologia de comunicação radiofónica, como
será que o desafio do digital está a ser enfrentado por este meio?”
(CORDEIRO, 2005, p.443).

A passagem da rádio do sistema analógico ao digital e sua recente veiculação


também por meio da internet tratam-se de rupturas de fronteiras, pois o veículo, a
partir dessas revoluções, pode ser acessado em qualquer parte do mundo e
ingressa dentro de um contexto interativo com outros suportes midiáticos, o que
requer que antigas premissas sejam repensadas a partir desse novo modelo de
difusão, como a democratização de informações por conta das variadas fontes
disponíveis, a criação e consumo diversificados das emissões, além de uma maior
aproximação com a audiência. (URIBE, 2006 e KUHN, 2000). Entre essas quebras
de paradigmas está um reforço na identidade das rádios, e da imprensa, de um
modo geral, localizadas na periferias do país. Há certo preconceito com relação a
esses tipos de veículos questionando, principalmente, a qualidade dos produtos que
veicula. Dentro da academia, muitas vezes os próprios estudantes de jornalismo são
levados a pensar na pequena imprensa como uma realidade superada, decadente e
muitas vezes os trazem como última opção na busca por vagas no mercado de
trabalho, ainda que esses veículos possam oferecer mais possibilidades que os
grandes jornais, uma vez que estes já estão saturados de funcionários (BUENO,
2013).

Diante desse cenário, surgem as perguntas: quais as implicações, mudanças


e como a internet muda as rádios no interior do país? Quais os recursos que a
inserção na rede mundial de computadores proporcionaram para esse meio? Como
isso pode refletir-se no radiojornalismo? Para responder a esses questionamentos,
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este estudo, de caráter bibliográfico, analisa a opinião de diversos autores sobre o


tema para verificar quais os efeitos da web nas rádios interioranas e implicações das
tecnologias no jornalismo exercido nesse cenário.

Mídia no interior e localismo: conceitos

A imprensa localizada no interior do país, em regiões periféricas, distantes


dos grandes centros, tem suas particularidades. Ela se fundamentam no fato de que
elas são voltadas a pessoas de uma comunidade geográfica específica e limitada
(DORNELLES, 2013). Em 1960, o pesquisador Luiz Beltrão sistematizou as
características dos jornais localizados em cidades interioranas, tendo sido,
possivelmente, o primeiro texto sobre o assunto (ASSIS, 2013). As ideias do autor
baseiam-se em uma premissa bem simples.

“Naturalmente, o povo que vive em comunidades com população de menos


de cem mil habitantes está interessado nos seus problemas tanto quanto
nas ocorrências nacionais e mundiais. Por isso, precisa de um meio de
comunicação que reflita os seus ideais e atitudes, seus costumes e
convenções, seu nível de vida e sua atitude intelectual. Assim, o diário ou
semanário regional presta um serviço que não pode ser prestado por algum
outro instrumento da informação de da opinião pública” (BELTRÂO, 2013).

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REFERÊNCIAS

AMADORI, Rosane; MARQUES, Márcia Gomes. A instantaneidade e a construção


da notícia no jornalismo online. In: Congresso de Ciências da Comunicação da
Região Centro-Oeste, 11., 2009, Brasília. Anais.

ASSIS, Francisco de. Imprensa do interior: conceitos a entender, conceitos a


desvendar. In: ASSIS, Francisco de (org). Imprensa do interior: conceitos e
contextos. Chapecó: Argos, 2013.

BUENO, Wilson da Costa. Jornal do Interior: conceitos e preconceitos. In: ASSIS,


Francisco de (org). Imprensa do interior: conceitos e contextos. Chapecó: Argos,
2013.

CORDEIRO, Paula. Rádio e internet: novas perspectivas para um velho meio. In:
Actas do III SOPCOM, IV LUSOCOM e II IBÉRICO, Covilhã, 2005,

DORNELLES, Beatriz. O futuro do jornalismo em cidades do interior. . In: ASSIS,


Francisco de (org). Imprensa do interior: conceitos e contextos. Chapecó: Argos,
2013.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2009. 120p.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp,


1991.

JORGE, Thaís de Mendonça; PEREIRA, Fábio Henrique. Jornalismo on-line no


Brasil: reflexões sobre o perfil do profissional multimídia. Revista Famecos, Porto
Alegre, n. 40, 2009.
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KERBAUY, Maria Tereza Miceli; TRUZZI, Oswaldo. Globalização, migrações


internacionais e novos desafios à cidadania. Perspectivas, São Paulo, v. 31, 2007, p.
123-135.

KUHN, Fernando. O rádio na internet: rumo à quarta mídia. Campinas: Unicamp,


2000. 137 p. Dissertação, Mestrado em multimeios, Instituto de Artes, Unicamp,
Campinas, 2000.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da


informática. Tradução, Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.

______. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

MANOVICH, Lev. The language of new media. Cambridge: Mit Press, 2001.

SILVA, Fernando Firmino. Jornalismo live streaming: tempo real, mobilidade e


espaço urbano. VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, nov. 2008.

URIBE, Esmeralda Villegas. O rádio digital em internet: além das transformações


tecnológicas. UNIrevista, v. 1, n. 3, 2006.

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