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MANIFESTO



mas é preciso disparar setas, flechas, canhões, cuspes, zagaias. Armas contra.
Nosso golpe: ironia e paradoxo, estranhamento e ressignificação. Em algum
lugar, um padre corre perigo. Um pensamento pelo avesso. Perplexidade?
Comemos gerânios no café da manhã. Reacionários de todas as vertentes são
o alimento da madrugada. A indigestão se dissolve em poemas, prosas, sons,
imagens. Porque, em tempo de barbárie, zagaia contra tudo, contra todos.
Uma arte contra si-mesma. Poesia do impossível após auschwitz.

Já nascemos velhos. O cansaço branco da ditadura da realidade. Mas


buscamos o sentido pelo novo. Usamos óculos – lente divergente, lente de ver
gente. E caminhando de um lado para o outro, tecemos nossas armadilhas.
Capturar a si mesmo. Estão vendo esta cicatriz profunda, obliqua, negra?
Fomos nós que fizemos em nós mesmos. Precisávamos extirpar do fundo da
existência tudo que era sagrado, intocável. Sim, a carne é triste. As certezas
nos abandonaram de uma vez só. Sangue no ralo. E agora tudo era mil versos
de infinitos significados possíveis. Multi-colorido, mas vermelho.

Pensar é pensar contra. A favor, já bastam os policiais de plantão, a censura


dos acomodados, a inércia dos puristas, a visão cega dos falsos gurus. Então,
zagaia a ponto de sonhar uma posição improvável: a esquerda da esquerda.
Nossa política é a estética do imponderável. Sejamos sinceros: joguemos
pedras nos porcos.

Nossa arte é o produto do parto sangrento de um ouriço do mar. Zagaia é


lança de arremesso curto, certeiro, mas voa no ar de maneira sinuosa. Porque
nomear algo que propositalmente foi colocado às escuras significa perder de
vista o próprio objeto. Para além da distorção, no blefe, acreditamos que a
arte é um acúmulo de tempos desiguais e combinados. Um salto livre sob o
céu da história. Nosso compromisso é com o agora, espaço fora do lugar, com
o não-lugar. Telas sem molduras. Está mais do que na hora de cumprir aquela
promessa radical. Não concordamos, não aceitamos, não acreditamos – enfim,
não vendemos. Estamos fartos daquela arte bem-comportada, imunizada,
higiênica. Às favas com a moderação e os bons costumes! Chega desta
cultura-consumo. Arte-mercadoria. Não comercializamos o sentimento.
Nosso ócio negado é o incesto. Nosso negócio é a imagem imoral de uma
mulher com flores nos cabelos. Uma música que toca ao contrário. Alguém
dançando no escuro.

Se as condições objetivas da vida não nos permitem viver qualquer utopia fora
do capitalismo, o que nos resta é sabotá-lo. Zagaia é terrorismo cultural.
Terror que espanta: o medo de sair do útero. Reconfiguração radical do
simbólico. Grito das quebradas e mundaréis. A maior imoralidade é a moral.
Sejamos libertos, libertários, libertinos: zagaiatos. Mas, sempre verdadeiros.
Nosso embate é estético. Para que possamos ocupar de vida o vazio das
palavras. Neste mundo de simulacros, nós queremos mais.

É chegado o momento de sermos arco, flecha e alvo. Signo, significado e


objeto. Instrumento-mensagem. Flecha contra todos, alvo de nós mesmos.

Um projeto anti-projeto. E ainda assim




















































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