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Universidade Federal de Pelotas

Instituto de Ciências Humanas


Curso de Bacharelado em História

História do Rio Grande do Sul I

Lucas Abel Abdala


Luís Pchara

Pelotas, 2018.
O filme ​Netto Perde Sua Alma se passa em um hospital de Corrientes
onde o Coronel Netto está internado para tratar de um ferimento de guerra,
ocorrido durante a Guerra do Paraguai. A proposta do filme é contar a história
da Guerra dos Farrapos na visão do Coronel Netto, e as consequências desta
guerra na vida dele. O filme mostra um coronel ferido, e seus delírios com
lembranças da Guerra.

Podemos ver uma Revolução Farroupilha idealizada, romantizada para


que o Netto seja a figura do herói da Revolução, e um grande companheiro dos
negros. Conseguimos fazer algumas ligações do filme com os textos da
Revolução Farroupilha, porém como é uma visão romantizada, fica muito difícil
fazer comparativos a literatura acadêmica da guerra. O filme nos mostra cenas
de algumas batalhas, a cena da proclamação da República pelo Netto, e de
como não foi algo que de princípio ele aceitaria, porém como era algo que
todos ali queriam ele acatou. O filme nos mostra também a consequência da
batalha dos Porongos e como abalou o Netto aquela atitude tomada.

Podemos fazer correlações com os textos, mas sempre com a ressalva,


pois o filme, como é uma obra ficcional com base em fatos reais não podemos
usá-la como fonte primária de estudos, mas sim, como um suporte para
entendimento temporal.

No filme ​Anahy de las missiones ​temos logo de ínicio outro exemplo de


romantização, não querendo menosprezar os acontecimentos mas a
declaração ​“A economia da região foi arruinada pela guerra. A morte e a fome
conduziam os destinos no Continente de São Pedro do Rio Grande.” ​é de fato
um tanto dramática. Mesmo levando em conta o tamanho reduzido de
habitantes da época quando comparados a hoje, colocando em pauta o
contingente máximo alcançado pelas tropas farroupilhas, comentado em sala
de aula, não pode-se dizer algo tão assertivamente.
É também sabido que não fora propriamente dita a guerra que causou
todos os danos, ambos os lados praticavam ativamente o confisco dos bens
que encontravam fossem os donos aliados ou contrários.

O tirar seu sustento do saque dos corpos dos mortos em batalha é um


tipo de atividade antigo, praticado em basicamente todo o mundo. Para efetuar
tal tipo de atividade é necessário um certo nível de desprendimento de alguns
valores que podem ser denominados hoje em dia como “morais cristãs”. Logo
no início vemos exemplos de contradições, com a “falta de costume com a
morte” mas não com os mortos.

Mesmo sabendo a origem dos materiais negociados por Anahy ambos os


lados acabam por negociar com ela pela escassez de tais equipamentos.
Permanecer para coletar os itens dos mortos é uma tarefa perigosa uma vez
que o inimigo pode retornar com reforços, então usam da forma mais passiva
para adquirir ou readquirir equipamentos.

Os farroupilhas são demonstrados como amigáveis, mas mesmo assim


com uma parcela de “personagens” agressivos. Apesar de comentar que ela
transita pelos dois lados acabamos por ver apenas o farroupilha.

Conclusão

Utilizando-me do trabalho de conclusão de curso ​“Diferentes Abordagens


Historiográficas sobre a Escravidão Negra Durante a ‘Revolução Farroupilha’”
(Venço, 2015, UNIVATES, p. 16-17) começo minhas reflexos sobre os
contextos farroupilhas abordados nos dois filmes.

Paralelo ao trabalho nas estâncias, Flores informa que, com o


início da Farroupilha, os escravos passaram a desempenhar funções
no exército farroupilha: “o governo republicano usou negros e mulatos
nos altos escalões, tanto no exército quanto na burocracia” (FLORES,
2004, p. 28). Para o autor, com o objetivo de aumentar o contingente
de soldados, os líderes farroupilhas passaram a se utilizar de seus
escravos. Motivados pelo ideal de libertação, muitos escravos
acabaram por aderir ao movimento republicano, compondo, segundo
Flores, principalmente a ala dos lanceiros, onde eram colocados na
linha de frente do combate.

O autor argumenta, então, que apesar do engajamento dos


farroupilhas em um movimento revolucionário que se supunha ter por
base os ideais liberais, verifica-se que na prática isso não era
seguido, na medida em que os grandes estancieiros tratavam o
escravo como uma propriedade e acabavam por infringir estes
princípios. Salienta-se que a abordagem produzida por Flores é
focada nos aspectos políticos da “Revolução Farroupilha” e a
narrativa a respeito do papel do negro no movimento político expõe a
incoerência entre o ideário liberal das lideranças farroupilhas e a
manutenção do status de escravo para os negros.

A exposição de negros ocorre apenas no filme que trata do Coronel Netto,


como um ponto de fazer pensar ao carregar um peso tremendo de culpa para
ele. Anahy têm principalmente a participação de brancos e poucos pardos que
trazem um sentimento de integração com os povos que aqui já existiam antes
dos bancos.

Tidas hoje como de grande proporção os embates nem sempre o eram,


com algumas pontuais como a ​Batalha de Porongos.​ Ambos são
representações romantizadas, com bravos guerreiros, personagens
sanguinários e sem esquecer a presença de alguns poucos loucos. O pouco
visto sobre as reais estruturas farroupilhas e imperiais não deixa muito a ser
analisado em relação às batalhas, foco secundário de ambas as obras.
Bibliografia

Venço, Andressa. ​“Diferentes Abordagens Historiográficas sobre a Escravidão


Negra Durante a ‘Revolução Farroupilha’”. ​2015, U
​ NIVATES, p. 16-17.
Lajeado.

Neumann, Eduardo e Grijó, Luíz (organizadores). ​O Império e a Fronteira A


Província de São Pedro no oitocentos​. 2014, Editora Oikos. São Leopoldo.

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