As desigualdades de gênero e raça são estruturantes da desigualdade social brasileira.
Não há, nesta afirmação, qualquer novidade ou qualquer conteúdo que já não tenha sido insistentemente evidenciado pela sociedade civil organizada e, em especial, pelos movimentos negro, feminista e de mulheres, ao longo das últimas décadas. Inúmeras são as denúncias que apontam para as piores condições de vida de mulheres e negros, para as barreiras à participação igualitária em diversos campos da vida social e para as consequências que estas desigualdades e discriminações produzem não apenas para estes grupos específicos, mas para a sociedade como um todo. Apesar das mudanças das últimas décadas, a inserção no mercado de trabalho segue sendo um fator central para a construção de identidade, a definição do padrão de sociabilidade e, sobretudo, para obter recursos que permitam suprir as necessidades básicas de forma autônoma. Para as mulheres, a conquista da autonomia econômica é condição essencial para que se possa projetar uma vida de autonomia plena. Para a população negra, o acesso ao mercado de trabalho é pressuposto para enfrentar uma realidade de pobreza e privação a que historicamente foi relegada. Quando se combinam as desigualdades de gênero e raça, percebe- se que as diferenças se acentuam: enquanto, em 2009, os homens brancos possuíam o menor índice de desemprego, as mulheres negras apresentavam o maior. As mulheres brancas, apesar de possuírem uma taxa de desemprego maior do que dos homens – tanto negros quanto brancos – ainda se encontram em melhor posição comparada às mulheres negras. É de conhecimento geral que, infelizmente, existe uma desigualdade muito grande entre o homem e a mulher devido ao sexismo. Já quando se fala sobre a mulher negra, além do sexismo também se tem a questão do racismo. Ou seja, essa mulher negra é duplamente afetada pela desigualdade, tanto da de gênero quanto da de raça. Pode-se dizer que a desigualdade de renda está diretamente ligada à desigualdade no mercado de trabalho. Se os negros e as mulheres são os que mais sofrem com o desemprego, logo, eles também serão os mais afetados no quesito de distribuição de renda. Com efeito, em 2007, enquanto as mulheres brancas ganhavam, em média, 62,3% do que ganhavam homens brancos, as mulheres negras ganhavam 67% do que recebiam os homens do mesmo grupo racial e apenas 34% do rendimento médio de homens brancos. Os dados evidenciam, mais uma vez, a dupla discriminação sofrida pelas mulheres negras nos múltiplos espaços sociais e, em especial, no mercado de trabalho. Crenshaw (2002) destaca que as discriminações de gênero e raça não são fenômenos mutuamente exclusivos, mas, ao contrário, são fenômenos que interagem, sendo a discriminação racial frequentemente marcada pelo gênero.