O mais pobre era Obará. Os irmãos se reuniam sem Obará saber e
como eles tinham negócios e eram ricos, todos os anos procuravam um Babalawô. Chegaram na casa do sacerdote e pediram que ele botasse uma mesa. Está faltando uma pessoa da família aqui, quem é? Eles se entreolharam e disseram é Obará, nosso irmão mais pobre, nós nunca o procuramos para nada, é a ovelha negra da família. O sacerdote jogou, jogou e tirou os ebós necessários para os 15 irmãos. Como na África os Babalawôs dão sempre um presente à pessoa que vai consultar o sacerdote, virou-se e disse: eu, como no momento não tenho nada, vou dar a cada um uma abóbora, para vocês levaram. Entregou as abóboras e eles se retiraram. No caminho,uns comentavam com os outros que o Olowô não lhes tinha dado o valor merecido, pois dera a cada um apenas uma abóbora, presente insignificante, e gritavam dizendo que somente os porcos lá de sua casa é que comiam aquilo; um deles, falando bastante alto, disse: como faz muito tempo que não vamos visitar o nosso irmão Obará e ser já quase noite, pernoitaremos na casa dele e, ao amanhecer, iremos todos embora. Todos concordaram e o mais novo sugeriu que, ao saírem de lá, deixariam as abóboras para Obará comer. Ao chegarem na casa de Obará à noitinha, bateram na porta e quem veio atender foi a esposa de Obará. Os irmãos entraram e saudaram Obará. Obará ficou satisfeito com a visita dos 15 irmãos e perguntou o que era aquilo; eles olharam entre si e disseram: fomos a um Babalawô e ele nos declarou que este ano você vai morrer, então, como você é nosso irmão, viemos nos despedir. Obará abanou a cabeça, a mulher começou a chorar com os filhos. Obará, então, respondeu: como é ritual, quando se vai morrer, oferecer-se um jantar, neste caso, vocês jantarão aqui comigo. Os irmãos aproveitaram a oportunidade e comeram tudo da casa de Obará; no outro dia, bem cedo, se arrumaram, se despediram e, ao sair, cada um deixou sua abóbora para Obará. Aí começou a chover, chover e choveu três dias; a mulher de Obará reclamava e dizia que as caças tinham comido a carne seca, também as frutas, então ele, Obará, lembrou-se das abóboras, vá busca-las, vamos come-las, mas ao abrir a primeira, dentro dela só encontrou moedas de ouro, ao abrir a segunda só tinha brilhantes, na terceira só tinha pérolas e assim aconteceu com todas as outras abóboras, cada uma tinha uma riqueza dentro dela. Então uma voz gritou: não digas nada do que tens a ninguém, senão voltarás ao que eras. Obará prosperou, prosperou; passados meses os irmãos fizeram os ebós e nada resolveram. Então tiveram que procurar um novo Olowô, se reuniram e lá foram eles novamente. O sacerdote fez os preparativos e ao jogar os deloguns disse: falta uma pessoa de sua família aqui, quem é ? Eles responderam: é Obará. Vocês fizeram uns ebós e nada resolveram, cada um de vocês recebeu um grande presente, mas jogaram fora; eles responderam: de fato, o outro sacerdote deu a cada um de nós uma abóbora. Respondeu então o Olowô: vocês deram a riqueza que era de vocês a este seu irmão. Neste momento, eles escutaram toques de clarins na rua e o povo todo correndo e gritando que vinha um homem muito rico oferecer presentes ao rei.Os irmãos correram para a janela, viram, de longe, um homem todo de branco, que, montando num cavalo branco, de 100 em 100 metros mudava para outro cavalo da mesma cor. O cavalo tinha os seus arreios em prata, um séqüito de escravos e soldados o acompanhavam. Eles, surpreendidos, gritaram: é Obará, nosso irmão. O sacerdote então jogou os deloguns e gritou: é a riqueza que estava nas abóboras. Eles se entreolharam, coçaram a cabeça e disseram: amanhã vamos lá toma-la. O sacerdote, ao terminar o jogo, ofereceu uma moeda a cada um, dizendo que as guardassem, pois aquele ano nada seria bom para eles. Nem havia amanhecido o dia, os irmãos estavam na porta do palácio do Obará, que, antes, era uma pequenina casa de barro. O chefe da guarda perguntou a quem deveria anunciar; voltando, logo depois, o chefe da guarda trouxe, de parte de Obará, o seguinte recado: que não podia atende-los, porque estava com visitas importantes em casa e tinha vergonha de apresentá-los como irmãos, então eles gritaram que queriam as abóboras de volta. Obará, de cima, determinou que abrissem o chiqueiro dos porcos e devolvessem as abóboras que já estavam podres, pois os porcos já as haviam comido. Então a mesma voz respondeu: Obará, não digas nada do que tens a ninguém, senão voltarás ao que eras. Os irmãos respondiam: queremos as abóboras de volta, Obará respondeu: apodreceram. Por isso é que quem é deste Odú deverá dar-lhe comida dentro de uma abóbora todo início de mês. Obará é o Odú pobre que se torna rico; se a pessoa desse Odú falar do que tem aos irmãos (os outros Odús) tomam tudo e a pessoa volta de 2 a 6 vezes pior do que era. Em vista disso é que as pessoas de Obará usam o vintém com a coroa para frente e a cara para trás, a fim de que ninguém veja a cara de Obará. Merindilogun é o sistema através do qual se processa a consulta oracular, popularmente tratada por adivinhação. O oráculo baseia-se nos dezesseis principais Odù (caminhos), através dos quais Orunmila relata histórias e lendas cujos personagens normalmente enfrentam situações similares aquelas expostas pelo consulente. Mas a escolha da história a ser narrada compete à Divindade. No momento da consulta, Orunmila envia o Odù que será suficiente para orientar as dúvidas do consulente e esclarece de que forma tal caminho (positiva ou negativa) está influenciando a vida da pessoa. O Sacerdote interpreta a fala da Divindade, estabelece os pontos principais que devam ser modificados para restabelecer a tranquilidade ou o bem estar físico, financeiro, sentimental etc. A partir daí resta definir quais oferendas votivas (Ebò) devem ser realizadas para possibilitar a consecução do vatícinio, bem como aconselhar a respeito de atitudes ou comportamentos que facilitem o resultado pretendido. Assim, por exemplo, quando um indivíduo queixa-se de não conseguir emprego, mas insiste em continuar numa área onde o mercado de trabalho está completamente saturado, Orunmila pode esclarecer as suas dificuldades, recomendar os Ebò necessários e aconselhá-lo a tentar outra profissão para a qual tenha aptidão, ou simplesmente deslocar-se para outra região onde seja mais simples conseguir ocupação. Em outras palavras, o Céu sempre ajuda, mas a pessoa deve também fazer a sua parte. Os Odù de Ifá são completos e absolutos; cada um deles possui um lado claro e outro escuro, ou seja, um lado positivo e outro negativo, o Ing e o Iang, o masculino e o feminino e assim por diante, a feição de tudo o mais no Universo. Não existe Odú melhor que outro; depedendendo das circunstâncias, o melhor deles transforma-se no pior, e vice-versa..