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PROCESSO Nº: 0807110-36.2015.4.05.

8400 - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA


APELANTE: BANCO DO BRASIL SA
ADVOGADO: Clenildo Xavier De Souza (e outros)
APELADO: ITALO GIUSEPPE GOMES DE OLIVEIRA
ADVOGADO: Tuyra Do Vale Maximino Mota
RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Rubens De Mendonça Canuto Neto - 4ª Turma

RELATÓRIO

O Sr. Des. Federal RUBENS CANUTO (RELATOR):

Trata-se de Reexame Necessário e Apelação Cível interposta pelo Banco do


Brasil SA contra a Sentença (Id. 4058400.1373280) proferida pelo Juízo da 4ª Vara Federal da
Seção Judiciária do Rio Grande do Norte que concedeu a segurança pleiteada, condenando a
Autarquia a imediata contratação do Impetrante para o emprego público em que fora aprovado,
com lotação na agência de Parnamirim - RN.

O Apelante suscita, em preliminar, a extinção do feito sem julgamento do mérito,


pelo fato de o ato impugnado não se enquadrar dentro daqueles praticados por delegação do
Poder Público; bem como a incompetência da Justiça Federal em processar e julgar o feito.
Afirma ser da competência da Justiça Estadual o mandado de segurança impetrado contra ato de
gestão de uma sociedade de economia mista, com como o Banco do Brasil. Transcreve
jurisprudência para reforçar sua tese.

Sustenta que a convocação para que se proceda à posse de um aprovado em


seleção externa não configura o exercício de função delegada pelo poder público federal, mas
sim de um mero ato de gestão da própria sociedade de economia mista.

Registra que na inicial do Mandado de Segurança, o impetrante em momento


algum questiona o fato de não ter sido considerado PPP, ou seja, não atender ao requisito do
fenótipo, situação que de fato culminou na sua exclusão no certame, busca apenas com o
mandumus a vaga através da ampla concorrência.
Defende que o Impetrante prestou declaração não condizente com a realidade no
momento, e que a ato do Banco do Brasil, que findou em eliminar o candidato do concurso está
amparado no Parágrafo único do art. 2º da Lei nº 12.990/14, que possibilita a eliminação do
candidato que não se enquadrar aos seus requisitos no momento em que se autodeclarar preto
ou pardo no ato da inscrição de concurso público.

Aduz que o fato de o candidato ter obtido pontuação suficiente para se enquadrar
no emprego público de escriturário, nas vagas obtidas pela ampla concorrência, não gera o direito
à convocação e à posse, posto que o impetrante se inscreveu nas vagas destinadas a cotista
(pardos e negros) e não se enquadra devidamente nesta condição, conforme a Lei 12.990/14. E
que na hipótese não se deve falar em preterição, pois os candidatos convocados com colocações
inferiores à do Impetrante, estão dentro das regularidades previstas no edital 2014/002.

Por fim, afirma que caso mantida a sentença, ocorrerá violação dos princípios de
igualdade, da isonomia, e do instrumento convocatório, entres outros. Requer a reforma da
sentença para que se julgue totalmente improcedente os pedidos aduzidos no Mandado de
Segurança (Id. 4058400.1632588).

A parte recorrida apresentou contrarrazões em face do recurso interposto. Requer


a manutenção da sentença pelos próprios fundamentos de fato e de direito (Id. 4058400.168860).

É o relatório.

PROCESSO Nº: 0807110-36.2015.4.05.8400 - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA


APELANTE: BANCO DO BRASIL SA
ADVOGADO: Clenildo Xavier De Souza (e outros)
APELADO: ITALO GIUSEPPE GOMES DE OLIVEIRA
ADVOGADO: Tuyra Do Vale Maximino Mota
RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Rubens De Mendonça Canuto Neto - 4ª Turma

VOTO
O Sr. Des. Federal RUBENS CANUTO (RELATOR):

O Mandado de Segurança, objeto da presente apelação, tem como pedido


principal a concessão imediata contratação do Impetrante no emprego público de escriturário na
Agência do Banco do Brasil de Parnamirim, por ter sido ele aprovado dentro das vagas
reservadas à ampla concorrência. E, subsidiariamente, a concessão de medida liminar para
reserva de vaga até o final do mandamus.

O Impetrante sustenta que independentemente de não ter preenchido os


requisitos necessários para tomar posse no emprego público de Escriturário como cotista, obteve
nota suficiente para ser classificado entre os aprovados na ampla concorrência, em 10º lugar na
Microrregião 53, para a qual estavam previstas 30 (trinta) vagas. Sustenta que a exclusão errônea
e arbitrária do Impetrante do certame e a posse de candidatos posteriores à colocação do
Impetrante na lista final de ampla concorrência pelo Banco do Brasil S.A. configura preterição à
ordem classificatória do certame.

A Juíza "a quo" concedeu a segurança pleiteada, condenando a Autarquia a


imediata contratação do Impetrante para o emprego público de escriturário em que fora aprovado,
com lotação na agência de Parnamirim - RN.

Quanto a preliminar de incompetência da Justiça Federal para processar e julgar


o feito, registro que o Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que a fixação da
competência para julgar mandado de segurança deve levar em consideração à natureza ou
condição da pessoa que pratica o ato "ratione auctoritatis", e não a natureza do ato em si, e que o
"dirigente de sociedade de economia mista", ao praticar atos administrativos para ingresso de
empregados públicos nos quadros da estatal, está a desempenhar ato típico de direito público, o
que implica na competência da Justiça Federal para processar e julgar o feito.

Neste sentido, os seguintes precedentes da Superior Corte de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCURSO DA TRANSPETRO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A competência para julgamento de Mandado de
Segurança é estabelecida em razão da função ou da categoria funcional da autoridade apontada
como coatora. 2. Hipótese em que o mandamus foi impetrado contra o Diretor Presidente da
Transpetro/S.A., sociedade de economia mista. 3. É pacífico no Superior Tribunal de Justiça o
entendimento de que compete à Justiça Federal julgar Mandado de Segurança no qual se
impugna ato de dirigente de sociedade de economia mista federal. 4. Agravo Regimental não
provido. (AGRCC 201304037044, HERMAN BENJAMIN, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:10/12/2014 ..DTPB:.).

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA.


PRESIDENTE DO BANCO DO AMAZONAS S/A. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
LICITAÇÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Na hipótese, cuida-se de conflito
negativo de competência instaurado entre o Juízo de Direito da 3ª Vara da Fazenda de Belém -
PA e o Tribunal Regional Federal da 1ª Região nos autos de mandado de segurança, com pedido
de liminar, ajuizado contra o Presidente do Banco do Amazonas S/A (Sociedade de economia
mista). 2. A fixação da competência para julgar mandado de segurança deve levar em
consideração a natureza ou condição da pessoa que pratica o ato, e não a natureza do ato
em si. 3. Em sede de ação mandamental, a competência é estabelecida em função da
natureza da autoridade impetrada (ratione auctoritatis), considerando, para esse efeito,
aquela indicada na petição inicial. Precedentes: CC 98.289/PE, Rel. Min. Castro Meira, Primeira
Seção, DJe 10.6.2009; AgRg no CC 97.889/PA, Rel. Min. Humberto Martins, Primeira Seção, DJe
4.9.2009; AgRg no CC 109.584/PE, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, DJe
7.6.2011; AgRg no CC 97.899/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe
17.6.2011. Agravo regimental improvido. ..EMEN:
(AGRCC 201102140673, HUMBERTO MARTINS, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:29/11/2011).

Se tratando de Mandado de Segurança contra o Dirigente do Banco do Brasil


S.A., concernente a ato administrativo que impediu o ingresso de empregado público no quadro
da estatal, é de se julgar competente a Justiça Federal para processar julgar o feito e afastar a
preliminar arguida pelo Banco do Brasil.

Uma vez afastada a preliminar arguida, passo ao exame do mérito.

Conforme documentos acostados aos autos o impetrante fora aprovado no


Concurso Público realizado pelo Banco do Brasil para provimento de vagas para o emprego
público de escriturário, obtendo a 10ª (décima) colocação para a microrregião 53, onde estavam
previstas 30 (trinta) vagas, e 12ª (décima segunda) colocação para a macrorregião 14, que tinha
a previsão de 81 vagas.

Contudo, fora excluído do certame por não se enquadrar as regras previstas na


Lei nº 12.990/14.

Da análise dos autos e da legislação em vigência, observa-se que a conclusão da


"Comissão Específica" designada pelo Banco do Brasil, quanto ao não enquadramento do
candidato à condição de "pardo", não é motivo suficiente para exclusão do agravado do certame.

É que não obstante tenha o impetrante sido excluído da concorrência às vagas


destinadas ao sistema de cotas, tem ele o direito de concorrer às vagas de ampla concorrência,
nos termos do subitem 4.18.4.5 do Edital do certame, e do art. 3º da Lei nº Lei nº 12.990/14, in
verbis:

Art. 3º "Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas


reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no
concurso".

Assim sendo, não poderia a autoridade coatora proceder à exclusão do impetrado


do Concurso.

É de se ressaltar que, ao contrário do que defende Apelante, a palavra


"concomitantemente" utilizada no subitem 4.18.4.5 do edital do certame significa justamente a
possibilidade de o candidato concorrer simultaneamente às vagas destinadas ao sistema de cotas
e às de ampla concorrência.

Considerando a possibilidade de o candidato inscrito no vaga de cotista concorrer


concomitantemente com as vagas da livre concorrência, e constatando que o Impetrante fora
aprovado dentre as vagas oferecidas para o emprego público de escriturário do Banco do Brasil,
é de se assegurar a contratação do empregado para ocupar a vaga para qual concorreu.
Diante do exposto, nego provimento à apelação e à remessa oficial.

É como voto.

PROCESSO Nº: 0807110-36.2015.4.05.8400 - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA


APELANTE: BANCO DO BRASIL SA
ADVOGADO: Clenildo Xavier De Souza (e outros)
APELADO: ITALO GIUSEPPE GOMES DE OLIVEIRA
ADVOGADO: Tuyra Do Vale Maximino Mota
RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Rubens De Mendonça Canuto Neto - 4ª Turma

EMENTA

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA


DIRIGENTE DE SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
CANDIDATO APROVADO E EXCLUÍDO DO CERTAME POR NÃO SE ENQUADRAR NA
CONDIÇÃO AUTODECLARADA. IRRAZOABILIDADE. CONCORRÊNCIA CONCOMITANTE AS
VAGAS DE AMPLA CONCORRÊNCIA. ART. 3º DA LEI Nº 12.990/14. APELAÇÃO E REMESSA
DESPROVIDAS.

1 - Reexame Necessário e Apelação Cível interposta pelo Banco do Brasil SA contra a Sentença
que concedeu a segurança pleiteada, condenando a Autarquia a imediata contratação do
Impetrante para o emprego público escriturário em que fora aprovado, com lotação na agência de
Parnamirim - RN.

2 - Quanto a preliminar de incompetência da Justiça Federal para processar e julgar o feito,


registro que o Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que a fixação da
competência para julgar mandado de segurança deve levar em consideração à natureza ou
condição da pessoa que pratica o ato "ratione auctoritatis", e não a natureza do ato em si, e que o
"dirigente de sociedade de economia mista", ao praticar atos administrativos para ingresso de
empregados públicos nos quadros da estatal está a desempenhar ato típico de direito público, o
que implica na competência da Justiça Federal para processar e julgar o feito (AGRCC
201304037044, HERMAN BENJAMIN, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE DATA:10/12/2014 /
AGRCC 201102140673, HUMBERTO MARTINS, STJ - PRIMEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:29/11/2011).

3. Em se tratando de Mandado de Segurança contra o Dirigente do Banco do Brasil S.A.,


concernente a ato administrativo que impediu o ingresso de empregado público no quadro da
estatal, é de se julgar competente a Justiça Federal para processar e julgar o feito. Preliminar
afastada.

4. Na hipótese, o impetrante fora aprovado no Concurso Público realizado pelo Banco do Brasil
para provimento de vagas para o emprego público de escriturário, obtendo a 10ª (décima)
colocação para a microrregião 53, onde estavam previstas 30 (trinta) vagas, e 12ª (décima
segunda) colocação para a macrorregião 14, que tinha a previsão de 81 vagas. Contudo, fora
excluído do certame por não se enquadrar as regras previstas na Lei nº 12.990/14, ou seja, por
não atender ao requisito do fenótipo declarado.

5. Não obstante tenha sido o apelado excluído da concorrência às vagas destinadas ao sistema
de cotas, tem ele o direito de concorrer às vagas de ampla concorrência, nos termos do subitem
4.18.4.5 do Edital do certame, e do art. 3º da Lei nº Lei nº 12.990/14, que prevê que "Os
candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e às vagas destinadas à
ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso".

6. Reconhecimento do direito líquido e certo do Impetrante a contratação, para ocupar o emprego


público de escriturário, na vaga destinada a livre concorrência.

7. Apelação e remessa oficial desprovidas.

PROCESSO Nº: 0807110-36.2015.4.05.8400 - APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA


APELANTE: BANCO DO BRASIL SA
ADVOGADO: Clenildo Xavier De Souza (e outros)
APELADO: ITALO GIUSEPPE GOMES DE OLIVEIRA
ADVOGADO: Tuyra Do Vale Maximino Mota
RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Rubens De Mendonça Canuto Neto - 4ª Turma

ACÓRDÃO

Vistos, etc.

Decide a Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar
provimento à apelação e a remessa oficial, nos termos do Relatório, Voto e notas taquigráficas constantes dos autos,
que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

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