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(1674-1835): modelo de
interpretação de uma sociedade
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agrária
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Este trabalho c o m p e n d i a os resultados das pesquisas apresentadas em Contribuição
para a História Agrária de Minas Gerais; séculos XVIII e XIX. M a r i a n a : E d u f o p , 1999e
Agricultura e Pecuária na Capitania de Minas Gerais; 1674-1807. R i o de J a n e i r o : U F R J ,
1997 (tese de d o u t o r a d o ) e foi em p a r t e apresentado no XI C o n g r e s s o N a c i o n a l
de História, realizado entre os dias 22 e 25 de agosto de 2 0 0 0 em B o g o t á , C o l ô m b i a .
G r á f i c o 2 . P o p u l a ç ã o total d a C a p i t a n i a d e M i n a s Gerais ( 1 7 4 2 - 1 8 0 8 )
F o n t e s : C o s t a , Iraci del N e r o da. Populações Mineiras: sobre a estrutura populacional de alguns núcleos
mineiros no alvorecer do século XIX. São P a u l o , I n s t i t u t o de Pesquisas E c o n ô m i c a s , 1 9 8 1 . p. 2 5 1 / 2 8 7 /
2 9 7 / 3 0 9 / 3 2 5 / 3 2 9 . L u n a , F r a n c i s c o V i d a l & C o s t a , Iraci del N e r o da. Minas Colonial: economia e
sociedade. São P a u l o : F I P E / P i o n e i r a , 1 9 8 2 . F o n t e : Revista do Arquivo Público Mineiro,Vols.2 ( 1 8 9 7 ) , p .
5 1 1 e 4 ( 1 8 9 9 ) , pp 2 9 4 - 5 ; . M a t o s , J o s é R a i m u n d o da C u n h a . Corografia Histórica da Província de
Minas Gerais.Belo H o r i z o n t e : A r q u i v o P ú b l i c o M i n e i r o , 1981 [ 1 8 3 7 ] , p a r t e I I I , c a p . 1.
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As categorias "espaço e c o n ô m i c o " e "capital m i n e r a l circulante" foram t o m a d a s
do capítulo "La m i n e r í a andina colonial", in: A s s a d o u r i a n , Carlos S e m p a t et alii.
Minería y Espacio Económico en los Andes: siglos XVI-XX. Lima, Instituto de Estudios
P e r u a n o s , 1980. O e m p r e g o desta idéia para i n t e r p r e t a r a e c o n o m i a m i n e r a d o r a
l a t i n o - a m e r i c a n a n ã o é nova. Em 1977, o professor H e r a c l i o Bonilla,na apresentação
da edição em e s p a n h o l do Minas y Mineros en el Peru Colonial; 1776-1826, de J o h n
Fisher (Lima: IEP, 1977), já falava de um "espaço p e r u a n o " . T a m b é m o professor
A s s a d o u r i a n j á havia p u b l i c a d o "La p r o d u c c i ó n d e l a m e r c a n c í a d i n e r o e n l a
formación del m e r c a d o i n t e r n o colonial", in Florescano, E n r i q u e (comp.) Ensayos
A c a p i t a n i a d e M i n a s G e r a i s (1674-1835): m o d e l o d e i n t e r p r e t a ç ã o d e u m a s o c i e d a d e a g r á r i a I 51
fosse em barras ou em p ó , independia de financiamentos externos para
se implantar.
Por serem incapazes de se auto-abastecerem de gêneros alimentícios,
as unidades de produção escravistas do setor minerador (como de sorte
a quase totalidade da população vilareja), i n d e p e n d e n t e m e n t e de abri-
garem ou não em seu interior roças de mantimentos, demandavam das
unidades de produção escravistas do setor agrário aqueles produtos que
lhes faltavam. Em razão disso, parte do setor escravista agrário consolidou
u m a produção agrícola e pastoril voltada para o abastecimento dos
gêneros demandados pela maioria da população dos núcleos mineradores.
Desde a primeira hora em que a arrecadação dos quintos (e, em decor-
rência, a produção mineral) c o m e ç o u a cair, todas as demais atividades,
dependentes da mineração, começaram t a m b é m a arrefecer, o que era
manifesto nas curvas declinantes: a) da importação de mercadorias (re-
presentadas pela queda do rendimento dos contratos das entradas); e b)
da produção agrícola e pastoril (dadas pela queda do valor dos contratos
dos dízimos). Esta proposição, válida para a Capitania de Minas Gerais
considerada em seu conjunto, tende todavia a obscurecer as variações
regionais.
Evidentemente, as unidades de produção escravistas não abarcavam
toda a população da Capitania. Parte significativa da população rural
estabeleceu também desde o primeiro m o m e n t o um padrão de produção
rural que se adequa ao conceito d e ' e c o n o m i a camponesa', conforme o
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resumo da matéria procedido pelo professor C i r o Flamarion Cardoso.
Desse, m o d o , a partir da perspectiva do caráter do processo de produção,
as unidades produtivas são aqui classificadas segundo a maneira de
produzir de cada uma, i. e., segundo um m o d o de produção escravista
(com seus dois setores — minerador e agrário — responsáveis pela
maior parte da circulação mercantil da Capitania de Minas Gerais) e
um m o d o de produção camponês, ou familiar,ou parcelar, e que também
tinha, na figura do faiscador, o sucedâneo do 'setor minerador'.
Ora, tanto a produção aurífera, quanto a produção agrícola ou pecuária
escravistas encontravam-se maximamente concentradas no que respeita
à riqueza gerada, e que se destinava em sua maior parte à sustentação e
à reprodução do próprio setor, isto é, às compras de escravos, fazenda
seca, ferragem, gêneros alimentícios, serviço de oficiais mecânicos e
jornais de escravos. Isto significa que os movimentos de importação de
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C a r d o s o , C i r o F. S. Agricultura e Capitalismo. Petrópolis: Vozes, 1979. p. 5 1 .
Gráfico 4 . I m p o r t a ç ã o d e m e r c a d o r i a s n a C o m a r c a d e R i o das M o r t e s — 1 7 6 5 - 1 8 1 8
Q u a d r o 1 . Valor a n u a l d o s d í z i m o s p o r c o m a r c a d a C a p i t a n i a d e M i n a s G e r a i s
e m libras d e o u r o e m p ó — 1722-1750
\Períodos 1722-5 1725-8 1728-31 1731-4 1734-7 1737-8 1738-41 1741-4 1744-50
Comarcas\
Total 240,3 403,6 335 409 536,1 468,7 536 533,3 471
G r á f i c o 6.Valores anuais d o s d í z i m o s n a C a p i t a n i a d e M i n a s G e r a i s ( 1 7 2 2 - 1 7 5 0 )
Produção e concentração
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Para os dados p o r m e n o r i z a d o s disponíveis para o t e r m o de C a m p a n h a no p r i m e i r o
q u a r t e l do século X I X , cf. Carrara, A. A. Contribuição para a História Agrária de
Minas Gerais; séculos XVIII e XIX. M a r i a n a : E d u f o p , 1999, p p . 8 3 - 5 .
Escravismo e campesinato
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Arquivo Nacional, Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto, avulsos, cx. 2 4 7 , g r u p o 0 1 .
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Cf. Carrara, A n g e l o Alves. Estruturas Agrárias e Capitalismo: contribuição para o estudo
da ocupação do solo e da transformação do trabalho na zona da Mata mineira (séculos XVIII
e XIX). M a r i a n a : E d u f o p , 1 9 9 9 .
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Identificamos os seguintes espaços regionais vigentes d u r a n t e o p e r í o d o c o l o n i a l
as freguesias m i n e r a d o r a s dos t e r m o s das Vilas de Sabará, C a e t é , M a r i a n a e O u r o
P r e t o ; o C a m i n h o N o v o ( d o rio Paraíba do Sul até C a r a n d a í ) ; a serra das Vertentes,
o C a m i n h o Velho e os t e r m o s das Vilas de São J o ã o e São José del R e i ; os currais:
os vales dos rios das Velhas e Paraopeba; o S e r r o e arraial do T i j u c o ; o ' c o n t i n e n t e '
de M i n a s Novas; as m i n a s e os c a m i n h o s de Goiás: os vales do Pacuí e do M a n g a i .
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S o b r e os r i t m o s da o c u p a ç ã o do solo cf. Carrara, Â n g e l o A. Contribuição para a
História Agrária de Minas Gerais, séculos XVIII e XIX. M a r i a n a : E d u f o p , 1 9 9 9 .