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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai

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-O ERVICO DE PROTE 'C AOAOS INDIOS


\

"HISTORIA DA GOLONISACAO DO ! BRAZIL"

POR

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L. B. Horta Barbaza

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R fO DE J ANEIRO
'J'yp. do Jornal do Oommercio, dP Rnrlr1g11e11 4 C!.

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SERVINDO DE PREFACIO

24 de Novembro de 1919

Sr. ftfi11istro

A 15 de Sete1nbro ultimo, esta Directoria


dirigiu á do ·Povoan1e11to o officio 11. 648 A, de
<.Jne vos aprese11to a inclusa copia.
Esse officio versa sobre un1 capitulo do 2º
volu111e da Historia da Colo11iza9ao do I3razil,
publica9ao official deste lVIinisterio, 11a qual o
autor escreveu sobre a i11i11l1a reparti9ao despre-
zando todas as fo11tes de informa9ao, i11clusive
os JJroprios relatorios a1111uaes dos Ministros
vossos predecessores. A minl1a Directoria achou
que era do seu dever constatar esse facto, afim
ele evitar que, silencia11do, f osse co11siderada
corresponsavel como atl'lor oste11sivo daquelle
li vro por tao clan1orosa omissáo.
No enta11to, veio ao 1neu conl1ecimento que
o autor da Historia da Coloniza9ao, o chefe de
séc9ao do Servi90 de Povoamento, Joaquiin da
Silva Rocha, mandou imprimir e a11d'a distri-
.. buindo, um opusculo que traz a dec1ara9áo de


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ser '"l{eplica ao officio 11. 6-!8 ...\ de lj de Sete111-
bro de 1919, do Director interino do Servico de ~

I>rolecvao aos I11dios, sobre o capitulo da Histo-


ria da Colo11iza~áo do Brasil "Catechese Leiga e
Catechese Catholica", dirigido ao Engenheiro Ci-
vil Dulphe Pinheiro Machado, .D irector do Ser-
vi90 de Povoamento". 15 de Seten1bro de 1919.
Ora, essa su pos la replica é redigida de f or- a
n1a a incutir 110 espirito de quen1 a lera falsa 110- Sr. Director do Servi~o de Povoamento.
c<lo d.e existii~em DO 111CU officio lllllllCl'O 648 .1.t\., Acenso o recebime11to do 2° volurne da
..
4'Ilistoria da Colonizavao do Brasil" que tivestes
ideias e assu1nptos que de nenhu1n n1odo nelle a bondade de enviar-me. Agradecendo penl10-
se encontram, e como dessa especie de falsifica- rado a offerta cabe-me a presentar a qui, por
<;ao do meu escripto podem resultar dan1nos f or~·a do cargo qu.e exervo, algu1nas considera-
para a 1ni11l1a reputac;ao de funccion~rio e de \Ües a proposito do capitulo intitulado - Ca-
hon1en1, venho pedir-vos Jicenc;a de ine defen- tcchese leiga e catechese catholica.
Parece-me antes de. ·tudo lamentavel que
der n1edia11te a publicac;ao pela imprensa., á 111i- n't1n1 n1esn10 Ministerio sejam as respectivas re-
nha custa e sem onus· de especie algun1a para os parti~oes urnas das out.ras ig.noradas até ao
cofres publicos, do meu n1encionado officio ponto revelado pelo livro em questáo. Consta-
048 A de 15 de Seten1bro ultimo. tado, porém, este facto, que é indisc11tivel 110
' caso de que me occupo, acho ainda la1ne11ta-
Yel que antes de escrever sobre a Directoria do
Sa ude e f rater11idade Servivo de Protecváo aos Indios nao procu-
rasse informar-se dos seus trabalhos o autor da
L. B. H orla Barbo:a "Historia da Ooloniza~áo". Além dos innurne-
Director interino ros esclarecimentos que, repito, por dever de of-
ficio vou a qui fornecer-vos, ficaria comprehen-
dido este. qu:e é essencial: o ~{inisterio republi-
cano da .A.gricultura nunca se occupou nem po-
dia, em f ace da 11ossa Gonstituic;áo,. occupar-se
Autorizo a publicac;5o nos termos do pe- · de caterhese, thema aliás já muitas vezes .e xpli-
dido. - 24 .. XI. 919. cado e, de que1n quer que lhe tenha prestado llm
Simóes Lopes pouco de atten~~ao, compr.ehendido. A palavra

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calec/1ese presupoe o proposilo de cb11Yersao
cn1 n1ateria espiritual; exige, portanto, preli- pore1n-se obstaculos á catechese cath~l~ca qu,e
n1inarme11te, urna do u trina, seja qual f ór, mas
e1zco1ilra a1nparo e suste11laculo dec1szvo 11as
disposicóes co11stitucio11aes, in serlas 1ios §~ 1º,
· un1a pelo menos, e como a Constitui9ao nao
rcconheceu 11enl1uma, (art. 72, § 7º) é claro que
3°, 7° e12° do art. 72'' (pag. 288 ) .
]~ i11ais adiante (pag. 290): "Essa· comple-
nao podía o Gover110 i11stituir ou custear ne- La separa<;áo de servi~os re~ativa1nen,te aos ha-
nhun1a especie de catechese. r\ssin1, tanto pelo bita11tes das selvas, a111da e urna prova que a
que effectivame11te fez o G0Yer110, dentro das
calechese, entregue aos represe11ta11tes do cle-
nor1nas constitucio11aes, c9mo pelos esclareci-
ro, ten1 prod uzido os in.elhore~ resultado~.
n1c111tos varias vezes dados do vcrdadeiro al- Nao a te11do e11·tend1do ass1n1 a autor1dade
cance do Servi<;o de Protec<;ao aos Indios, a republicana, é claro que, ao e11ve~ de permittjr
ninguem é n1ais licito applicar-lhe, de boa fé,
que os dois trabalhos f osse111 real1sados um ao
o titulo de catechese leiga, maximé em escripto
lado do outro, feria suppri1ni<lo o de ~a_teclzese
publico, e istb porque 11ao é possivel escrever ou entao fu11dido os dois nos dispos1t1vos do
sobre un1 assun1pto qualquer sem prévio co-
decreto ii. 8.072, de 20 de J unho de 1910'' .
nhecimento delle. O autor da "Historia da Co- ~-\ntes de tudo devo assignalar aqui a in1-
lonisa<;áo" f oi muito Jo11ge nesse po11to da in~
propriedade radical das palavras am ¡Jaro e
stitui~ao republicana do Servi<;o de Protcc<;ao,
suste11taculo: a caiteohese ca tholica, como
parecen do a quem o le, (e digo parece11do por- qualquer outra cat.echese religi9sa (pois. é
qu e rarame11te se póde apanhar na sua obr~ obvío e eleme11tar que a expressao - co11f 1s-
um pe nsamento claro) ora que o mes1no ser· sóes religiosas do § 3º, corno a outra czLlto ou
Yi~o oppoe á catechese catholica obstaculos,
ora que, contradictoria111ente aos seus deveres if¡reia ·d o § 7º citado, i1ao se .refere apenas ª?
en tholicis1no, mas pelo 111enos a -tod~s as ~~e.11
ou ao seu programma, admitte a concon1ita11- gioes conhecidas), a catechese cathohca, d1z1~­
cia dcssa catechese.
n1os, encontra 11esses paragraphos garanl~a
Na irnpossibilidade de entender con1pleta·· apenas e i1ao sustentaculo e a1nparo ~01no dtz
mente a opiniao ou seja a intc11<;áo do autor, o autor.
\ ' OU itranscreYcr suas palaYras num e 110 outro Ora, a essa garan tia 11unca oppoz o 111enor
1

caso, adduzindo-lhes os argu1nentos que sug- ohstaculo o GoYerno e, por n1otivo dessa ga-
gercn1 no sentido ern que os ton1a1nos, sentido ran tia, sempre o Servic;o de Protec~áo aos ln-
<lue aliás, dada a difficuldad e de comprehen- (~ ios f acultou aos religiosos d e qualquer cre~o
sao apontada, póde nao ser exacto. o accesso aos seus pos tos indigenas para o f 1n1
Diz elle: de exercerem ahí o seu culto.
Essa faculdade será semprc concedida
"J)en·tro do novo regimen politico, i1ovos d esde que os representantes dos diversos cre-
factos f oram discutidos e postos c1n seus ver .. <los se li1nitem_ao se.u officio religioso sem 11e-
dadeiros lern1os, co1no, por exe1n p'lo, o de op· nhuma imposi~ao ao selvicola. Em 1917, com

J
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o concurso do respectivo inspector levan lo u-se só se podiam fazer mediante pagamento, res·-
no Posto do Pancas - Espirito Santo - un1 ponderam os indios que os seus rezadores gua-
grande cruzeiro. Certo nao o teria f eito espon - ranys trabalhaYam de grava, o que aliás só ap-
tanean1ente, n1as te11do os indios pedido que parentemente é verdade, pois é certo que os
se erigisse a cruz com todas as ceri1nonias do rezadores e benzedores n u nea trabalham de
culto catholico, o inspector nao sómente con- gra~a, quer emp~·eguen;i o Jati1n, qu~r ? guara-
sentiu na obra como promoveu a ida , de u1n n~r. Este fa oto e, poren1, caracter1st1co por
padre ' áque]le posta para o benzimento e o n1ostrar qua11to é i11sufficien te a co11versáo dos
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resto. chan1ados indios christaos ou ca t11olicos.


Quer isto dizer que, respeil.an·d o as crenvas Quando em J unho <leste a~110 com a sl~a
dos seus protegid·o s e nada tendo officia l1nente nun1erosa comitiva, da qt1al f az1am parte d~s
a ver com ellas, o inspector, qu e e1n 11.enhuma ou inais padres salesianos, esteve na Povo~9ao
hypothese esponta11eamente levantaria cruzei- Indigena de S. Lourenvo, co11sultou o B1spo
ros ou chamaria padres. tudo isto deixou que D. Aquino se podia rezar n1issa 11a povoavao.
se fizesse em respeito á liberdade espiritual es · Sendo-ll1e respondido que sim. no dia segui11te
tatuida no art. 72 da Constituicáo. rezou-se a missa e fizeram -se baptisados, casa-
c:erto dia Uin frade franciscano de Penna- 111entos e confissoes. Nenhum indio, porém,
polis consul·tou o encarregado do Posto Indi -- to1nou parte alguma nessas cerimo11ias, ma_s
gena de Icatú se ll1e seria _permittido rezar 1nis- apenas os caboclos moradores n? e~tabelec1-
sa nesse posto. A concessao f oi im1nediatamen- 1nen'10 e seus empregados. Esses indios, antes
te dada e se o referido frade nao realisou o d·e serem recebidos pelo Servi90 de Protec<;:ao
seu desejo. 1udo, me,nos opposi9áo do Ser\ri<;:o aos Indios, tinham passado cinco annos em Sao
de Protec9ao aos Indios, terá contribuido para I~ourenvo sob a direcvao e administra9ao dos
isso. Ha quem pense que a viagem de 5 leguas salesianos. Todo esse ten1po nao bastou, como
a cavallo e á custa da Orden) nao pouco in · se v~, para deixar ao 1ne11os reminisce11cias do
fluiu para que aquel1e religioso desistisse do culto catholico no espirito desses a11tigos cate-
sen intento. chumenos dos salesianos!
O vigario de Jacutinga f oi á Povoa~ao In- Nas proximidades do Posta Indige11a do
digena de Araribá em companhia do respectivo l3ananal (~1atto Grosso) estabeleceu-se ha lon-
ins.pector e Já cl1egando pediu licenca _para gos annos, em terras e casas de sua proprieda-
consultar os indios se queriam conf essar-se, dc, urna missao protesta111le de ca-lechese. Gran-
ouvir missa, etc. Os indios responderam que ue ·11Umero de indios frequentam O culto des-
ouviriam de bom grado a missa, mas o que so- ses padres e ha entre esses indios um certo nu-
bretudo desejavam era que o padre benzesse • mero que se eré sinceramente convertido ao
as plqntacoes, as casas, o ribeiro e o ce1niterio. nrotestantisn10. ,A. Inspectoria do Servico de
,-\ s negoria~oes , entretan to. ficaram ahi, por-
1
Protecc;ao aos I11dios. cumprindo o sen dever,
que , tendo o padre allegado qne essas cousas d:-1-lhes inteira liberdade de assistirem, como
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quizerc1n, a taes actos velando apenas pela or'... n1óes ou ensinar doutrina. Os casos citados do
den1 e ·tcnd<? <?_cuid~do de nao deixar que a pre- Icalú e do Araribá sao n1uito elucidalivos deste
texto de rel1g1ao seJain elles explorados - cau - aspecto da questao.
sa. q~ie ali~s nunca f oi tentada por esses dignos Devemos citar aqui como typo de catecl1e-
n11ss1onar1os protestantes. se religiosa Yerdadeiramente digna desse 110111e
Para acabar de caracterizar o po11lo de Yis- a 111issao já 111e11cio11ada dos padres protestan-
la republicano, isto é, liberal do Servico de tes na aldeia do Ba11anal.
Protec~ao aos Indios, figuremos aqui urna hy- Es tes com prara1n terra fóra do peri1netro
pothese: das que pertence111 á tribu; ahi se estabelece- •
E' sabido que a totalidade ou quasi tota ran1 á sua custa e al1i se 111an ten1 á sua ou á
lidade dos boróros que se achavam i1as colo- custa de associavóes particulares.
nias salesianas. acabam de aba11donar essas co- Nao viven1 do suor dos seus catechu1nenos
lonias. Suppo11hamos, o que é aliás muito pro- i1e1n tao pouco de subven96es do Gover110 Bra-
vavel, que venham esses indios se estabelecer sileiro.
e!11 S. Louren~o ou noutro qualquer estabele- Por que 11ao f azen1 o n1esmo os pa.dres ca-
c1111cnto do Servico de Proteccao aos Indios e tholicos? Serao acaso n1ais pobres do que os
~dmitta1~os, para··. argumentar·: que elles dese .. protestantes?
1~1n continuar ah1 as praticas do culto catho . De tudo quanto aqui fica a proposito da
1

11.co. En1 t~l caso elles se cotizarao para anga- l iberdade espiritual no Servi90 de Protec~ao
r1ar os ine1os nec.essarios d·e terem u1n padre aos Indios ve-se que é inatacaYel a orienta9ao
a seu lado ou de o mandare1n chamar cruando republicana do respectivo regulame11to, ao pas-
crnizerem, 11ada tendo a ver corn isto o Servico so que si suppri111isse a catechese catholica,
ele Proter,vao aos Indios, que apenas se esfo'r co1no quer o autor, praticaria u1na tyrannia,
~·ará por evitar os disturbios, exploracoes e assin1 co1no tyrannia en1 sentido inverso seria
violencias que dahi se possa111 origi11ar ... o querer impór essa n1esma ou oulra qualquer
Eis em que consistiria a coexistencia do catecl1ese.
Servi90 de Protec<;ao aos Indios ao lado da ca- l~stas 110~6es sao tao corriquciras e tao re-
teches~. Ist<?, poré1n. 11ao passa de urna h~Tpo­ pisadas que 11enl1um com1nentario ctespertaria
these 1rreal1savel: 1º) porque nao l1a i11dios o que a respeito se escreveu na "Historia da Co-
que abandonem suas crenvas e cerimonias pa- ]011isaG5o", se nao se tratasse de um liYro offi-
ra ado.ptar. as dos padres, praticando-as quan- cial, impresso á custa do Governo e no proprio
do n1u1to s1multaneamente os raros indiYiduos l\1inisterio a que pertence o Servivo de Pro-
que acceita1n estas ultimas: 2°) porcrue por sua teccao
"
aos Indios.
con ta e risco, sem auxilio do Governo e se1n a Si no seu escripto tivesse ape11as o duplo
f aculdadc de transformar os indios ern colonos proposito de exaltar a catechese catl1olica e de-
scus, nao se conhece padre catholico que vá ás pri;nir este Servivo. outra nao teria ce~tamente
p~voa~óes indigenas dizer missas, prégar ser- sido a argun1enta9ao do autor da "Historia da
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Colonisa9ao". Daqui se deYe concluir, nao po si<lao e n1ais Yicios que infelizn1ente aco111pa-
deudo ser este o seu intuito, que suas i_n spira- n han1 o homem quando se degrada.
~óes foram pelo n1enos tao infieis quanto seria Os escraYos dos gregos e ron1anos era1n de
sincera sua vontade de acertar, o que mais con - ra~·a branca, e i1ao sei que a historia tenha con-
:corre para se lan1entar o nao ter o autor pro- servado noticia de ge11te peior.
curado inf orma96es onde podia tel-as co1n fa- Qual é o meio de ca·techisar co11venientc-
cilidade e exaotidao. n1ente o indio?
Elle encontra, por exen1plo, co11tradic9ao E' ensi11ar em cada tribu alguns i11enores
ent1~e a exposi9ao de rnotivos e o decreto co1n a ler e a escrever'. CO·n servando-lhes O conheci-
que se creou o Servi90 de Protec9ao aos Indios; 111ento da lingua mater11a, e sobretudo: 11ao al-
porén1, un1a ligeira explica~ao desta l)irectoria
1
deiar e 11e111 pretender governar a tribu selYa-
ter-lhe-ia n1ostrado, de un1 nlesn10 passo, 11ao 0·c111.
só que tal con•t radic9ao nao existe con10 que o n
l)eix·emol-os com seus costumes, sua a i·1-
trecho que lhe f orneceu motivo para esse juizo 1nenta9ao, seu modo de vida. A mudan9a mais
é nada .mais e nada n1e11os do que urna con- ra pida é aquella que só póde ser operada com
den1na9ao ele pessoa insuspeita aos processos o ten1po, ·e no decurso de mais de urna gera9ao,
da catechese caif.holica, de que o autor se mos- pela substitui9ao gradual das idéas e necessi-'
lra tao fervoroso advogado. dades, que elles possuem no. estado barbaro
O referido trecl10 é extral1ido do General cn1 eompara9ao com as que hao de ter d·esde
Cou lo de -:\1agalhá-es i1a carta a J oaqui111 Serra. que se civilisem. Limiten10-nos a ensi~ar-lhe~
apensa á prim·e ira edi9ao do "Selvage1n", e que nao deven1 matar aos de outras tribus. E
para bem conJprehe11der-se necessila de ser li- a unica cousa em qu·e elles divergem essencial-
gado ~o antecede11te ·e aos que se lhe segue1n. 1nente de 11ós.
J)iz assim o illustre e !iaudoso i11·d iophilo: Quanto ao n1ais, seus costu1nes, suas idéas
111oraes, sua f an1ilia, seu genero de trabalho
"Coitados f elles 11ao tém historiadores: o~ para ali1nentar-se, sao n1uito preferiv·eis, no
que lhes escrevem a historia ou sa·o aquelles estado de barbaria e1n que elles se acl1an1. aos
que, a pretexto de religiao e civilisa~ao queren1 nossos costurnes que elles repellem emquanto
YÍYer á custa do seu suor, reduzir suas n1ulhe- podem, e aos quaes se i1ao sujeitan1 senao
res e filhas a co11cubinas; ou sao os que os e11- quan<lo, enfraquecidos por continuas guerras,
contram degradados por um systema de cate- se vem entr·e gar a nós para evitar a morte e a
chese que, corn n1ui raras e honrosas excep~óes, dcstruicao."
é inspirada pelos moveis da ganancia ou da De .. ludo isto que ahi fica, o Sr. Rodol pho
lihertinagem hypocrita, e que dá ern re~ultado :\liranda, afim de salientar o absurdo dos que
un1a especie de escravidao que, f osse q~1al f os- pretenden1 governar as tribus, mudar os seus
se a ra~a, havia f or9osamente de produzir a costu1nes. sua ali1nentacao,
.. seu modo de vida,
pregui9a, a ignorancia, a embriaguez, a devas- etc., e para c~racterizar os intuitos do Servi.~o
,.
-14- -15 -

que ia fu11dar, o qual deYia limi lar-se á pro· Art. 15 - Cada u1n dos a11Ligos aldeian1e11-
Lec~áo rnaterial do indio e na orde1n espiritual Los ''reco11stituidos de accordo co111 o prese11te
apenas a e11sinar-lhes que ""nao dcvian1 n1atar regulan1cnlo", passará a denon1inar-se "Po-
os de outras tribus con1pletando esse pensa- voa9ao Ind.ige11a'', onde serüo estabeJecidas es-
111en-Lo co1n as provide11cias precisas para evi- colas para o ensino pri111ario, aulas de n1usica,
tar que os indios altentern igualmente contra a officinas, n1acl1inas e utensilios agrícolas, des-
vida e a propriedade dos civilisados", de tudo ti11ados a beneficiar o producto das culturas, e
isto, <lizia111os, o Sr. Rodolpho n1ira11da t.raus- can1pos apropriados á apre11dizage111 agricola.
screveu apenas o esse11cial, isto é, a phrase que, P·a ragrapho unico - Ndo será per11zillido,
o autor da "'Historia da Colonisa~ao ' ' , exan11na. sob pretexto algu1n, coagir os indios e seus f i-
]~ co1110 no arl. 15 do respectivo regula-- lhos a q1ialqL1er e11sino OLL apre1ulizage1n) de-
1r1ento se deler1ni11a a transforn1a9ao 'dos anti- ve1ulo li111itar-se a ac~ilo do in.spector e de seus
gos aldeian1entos en1 povoa9oes indígenas, au:riliares a procurar co1ive11cel-os, por 1neios
acha o autor que o .:\1inistro fo1 contradictorio! brandos, dessa 11ecessidade.
O espirilo do regulamento é, e11treta11to, A crca~ao do Servi90 de Protec9ao aos 111-
clarissimo e de facilima apprehe11sao: elle 11ao dios e11tre 11ós f oi u111a das n1elhores inspira-
prete11de gover11ar tribus, mudar seus costu- 96es que já teve o g0Yer110 republicano.
mes, suas cren~as, seu modo de vida, mas elle Qua11do elle para n1ais nao prestasse ser-
faculta livren1e11-te e gradualme11te o ensü10 <la viría, como tem servido, para evitar que os
leitura, da co11tagen1, da musica e de officios 11ossos selvi colas f osse1n 11a totalidad e calTir
rudin1e11tares. nas maos das diversas compa11l1ias que sob o
:Na orde1n intellectual, pois, o Servi~o de titulo de inissóes de catecl1ese viven1 da explo-
1~rolec9ao aos Indios dá aos nossos selvicolas 1 ra9ao do trabalho i11digena accrescido das sub-
se o quizerem e nao com nenl1um caracter de ve11~oes solicitadas aos governos e dos auxilios
obrigatoriedade, o ensino eleme11tar ao alcan- pedidos a particulares - tudo para a escravi-
ce da intel1igencia delles: na ordem moral ]~­ sa9ao dos selvagens, como tao nili·dan1e11te o
mita-se a ensinar~ ll1es que é um mal assassinar n1ostra um regula1ne11to colu1nbia110 de cate-
o seu se1nelha11te. Nao procura transformar a cl1ese catholica 11a pquco lempo publicado pelo
cabe9a do indio enchendo-a de opinioes ·e crcn- Sr. Alipio Bandeira no seu trabalho - Anti-
9as que elles nem siquer percebem, 11e111 cura
de afastal-os daqueJlas que lhes sño naturacs, guidade e actualidade indígenas.
como faz a catechese. l\fas o autor da "Historia da Colonisa9áo"
Ha, _porta11to, para quem quer entender, parece desconhecer por completo a utilidade
•ntlita diff erenca. deste servi<;o e a , tal po11to del le se all1eion que
.)

Transcrevamos integralm·e11te o art. 15 todas as vezes que em sua obra falla no Gene-
que o autor teria perf eitamente entendido si o ral Rondan é, nao para mostrar o papel desse
l1ouvera lid o com d·e spreocct1pa9áo: illustre official na historia inoderna dos i1ossos
-1G- I •
-17-
selvicolas, i11as para dizer que elle elogiou a cathecl1ume11os salesianos e que em 11enhuma
inissao salesiana de catechese. parte do paiz se sujeitou jamais a tal especie
Sim, elogiou con10 patriota que é, acredi· de bonus; 2º) que, segundo carta do capitao
tan do de boa f é que esses padres ·e stava1n real- Pitaluga, deputado estadoal ao inspector de
1nente promovendo a protec9ao do i11dio. Elle M~tto Grosso, todos ou quasi todos os indios
teve, porém, posterior1nente, a mais completa que trabalhavam nas fazendas salesianas aban-
desillusao a esse respeito e isto consta dos jor- donaram em fins de 1918 essas fazendas tendo
11aes desta capital e até do Relatorio do Sr. muitos delles declarado ao referido deputado
~1i11istro da Agricultura para o anno de 1912 que por nenhum motivo a ellas voltariam por
011d e o autor da "Historia da Colonisa9ao" en-
1
nao poderem mais aturar aquel les padres. ·,
co11trará a respeito da calechese dos pad:ves sa- ,E ssa catechese, pois, como todas as outras
lesia11os i11forma9oes ben1 differe11tes das qt1e f.alhou duplamente, já porque nao trouxe ne-
lhc f oram f or11ecidas. nhum beneficio 1naterial ao indio, já porque
Aqui sin1 ha perfeita e completa co11tradi- 11unca deixaram estes suas cren9as e ceremo-
~ao entre o que diz um ex-Ministro da Agricul- 11ias para adoptar as dos padr.es. N em mesmo
tura em 1912 e o que, e1n 1919 affirma t1m o b_a coróro, pratica essencialmente barbara:· de
f unccionario do l\1inisterio da Agricultura pos- commemora~ao fu11ebre, foi jamais abando·
to i1ao l1ouvesse 11e11humia IT1odifica9ao 110 11ada pelos boróros dos salesianos. Ha nesta
svsle1na a11terior. J)irectoria urna fotografia dessa ceremonia em
"
que um dos assistentes é nada menos do que
Kao é rneu proposito espla11ar este po11to
um dos padres da Colonia onde ella tem lugar.
já tambem forteme11te esclarecido i1a in1pre11- Esse duplo insucesso da catechese catho-
sa e documentadame11te examinado no referi-
lica é porem geral em todo o Brazil e em quasi '
do relatorio do l\1inistro da Agricultura Pedro toda a America, no passado e no prese11te.
de T·o ledo e 110 citado traball10 do Sr. Alipio Para comproval-o basta considerar, de
13andeira. .
uru lado, que nao se co11hece urna só tribu, das
Devo, porém, para elucidar as palavras do immensas que tivemos, em que a chamada
autor da "Historia da Colonisa9ao" accresce11- conversao ao catholicismo vá além de urna pas-
tar, lº) que o bo11us com que os sa.lesianos pa- siva acceitacao de certas ceremonias catholi-
~

gam o trabalho dos indios só tem curso dentro cas misturadas aliás co1n as que sao peculiares
da propria Colonia, só sao acceitos pelos pro- e .tradicionaes ao indio; e de outro lado, 11otar
prios padres, custam inuito ao indio e muito o atraso mental, a penuria e a d.egrada~ao em
pouco aos seus patróes, como tudo consta do que vivero as tribus trabalhadas pela catechese.
relatorio Pedro de Toledo. Esta situacao .. é cer· Quem quer que conhe9a essa especie de i11dios
lan1ente muito pouco co,m paravel com a do im- sabe que elles adaptam ás suas proprias cre11-
1nigrante estrangeiro a que o autor as~imila os 9as as praticas qu·e recebem do catl1olicismo e

-18- -19-

em nenhtuna l1ypothese cornprehenden1 ou Diz o Sr. J . Ouriques:



podem com prehen·d er a doutrina dos padres. "Sem o conve11iente preparo scientifico e
E quen1 conhece a historia da America nao moral, sem a fina percep<;ao e alto tino dos go-
pode deixar de accrescentar que o martyrio f oi vernativos dos jesuitas do Paraguay, que tao
a maior parte das vezes o resultado de tal ca- bem compreh,e nderam quanto era preciso tra-
tech·ese, já por nao se haverem os i11dios sujei- zer o indio ingenuo, sem inicia tiva propria e 1

tado a exigencias absurdas, já por se levanta- impr.evidente, sequestrado e sujeito ao regi-


rem contra violencias, desacatos e injurias a men d1e urna tutela protectora, mas absoluta
ell"e.s e. a f a·milia del
- les. Em ta es casos, salvo a té as 1ni11imas circumstancias da existencia,
rar1ss1mas excep<;oes, recorreram sempre os os missionarios carmelitas tiveram de assistir
padres á for<;a militar para castigar os revolta- á ruina e descalabro de suas · missóes, que de-
dos e dahi a maior parte das desgra<;as de que pois de chegarem a relativa prosperidade em
tem sido victimas os 11ossos selvico]as. 1798 definharam prof undamiente golpeadas
No seu opusc.:ulo intitulado "·C ommissao pela insurrei<;ao da "Praia do Sa11gue".
do l\1ad·e ira" conta o conego F. Bernardino de . . . . . ... . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . .
Souza o caso dorio Urubú (Amazonas) em que
os indios desse rio foram de tal modo atacados Mais de t1ma insurrei<;ao de indios f oi pro-
em 1664 por Pedi:-o da Costa Favella, que per- ·vocada p:e lo inepto e ingrato procedimento dos
deram 700 mortos, 400 prisioneiros e 400 malo- missionarios carmelitas, que assim f oram im-
cas devoradas pelo incendio. Deu motivo a plantando no animo do inqio, até entao confi-
essa hecatombe o f.acto de terem os indios do ante e leal, a retrac<;ao, desconfian<;a e odio
Urubú assassinado algumas pessoas da missao que comecaram a manifestar afastando-se pa-
de f rei Raymundo, da ordem das Merces, mis- ra sempre as trib.us mais f orles dessa civilisa-
sao que era, como de costume, escoltada por <;ao que assim lhes quería arrebatar a al,tivez,
f or<;a militar. independencia e liberdade tradicionaes em sua
No seu livro - "0 valle do Rio Branco" ra<;a e nos seus habitos d:e existencia".
., .;- narra o gen·e ral J acques Ouriques o caso da A ganancia e a impureza dos padres foram,
actual Praia da Desgra<;a outr'ora praia do em geral, as ·c ausas d·e levante de indios onde
Sangue, no Rio Branco - nome que etername11- quer que se organisou catechese catholica.
te Iernbrará o n1artyrio das tribus Paraviana; O já referido con ego Bernardino, que nao
Macuxi, Uapixana e Guayaca. Em 1798 urna pode ser susp·eito, f ala dos lucros dos jesuitas
expedi~ao ao mando do tenente Leonardo José
no "Cacaóal'Imperial", do rio Solimóes; da via-
Ferreira, trucidou nessa praia quasi todos os gem de um religioso capucl10 ao Tapajós para
homens dessas tribus, pelo facto de haverem o fim de permutar indios por mercadorias,
os indios assassinado, em represalia, os solda- commercio a que se recusaram os indios dessse
dados do destacamento e alguns moradores. rio e emfim do celebre aldeiame11to do Baca-
- 21 -
-20-
m~n~~ains et les franci.s cains e11 f urent des ad-
bal desl1uma11amente explorado por frei Peli- !111~1strateur.sdéplorables. Au Paraguay les
no de Castrovalva e composto de Mundurucús. 1nd1~ns ~~ d1sperserent rapideme11t et les "Re-
(V. 11ota á fls. 65). ~Esta é aliás mais urna prova duct1ons tomberent en décadence.
da ineficacia da catecl1ese catholica. Esses in- Les missions de Californie n'eurent pas un
dios ha mais de um seculo que sof f rem a ac<;áo sort plus heureux.
dos padres em diversos aldeia1nentos. Foram Il en fut de meme au Casanare et dans les
co11gregados em 11umero de 600 por frei Pelino llan?s de l'Ori11oque. On dut y remplacer la
ha 50 annos e, con1tt1do, ai11da hoje andan1 pe- gest1011 nefaste d·es Dominicains par celle
las ruas des ta Ca pi.tal o hispo de San tarem e a des Augustins et des Capucins, que ne donna
irma Coleta angaria11do rec11rsos para a cate- pas des resultats meilleurs".
chese dos ~1unduru cúsl
Si sahirmos da 11ossa Patria vamos encon- Par~ term!nar ·e ste já .tao lo11go officio res-
trar nos outros paizes americanos os mesmos ta-n1e a1nda d1zer aigum.as .Palavras a respeito
sinao peores resultados da catechese. Sao co- da catechese de fre1 Seg1smundo de Taggia e
11heci·d as as acusa<;6es do Sr. Roger Casement dos frades de S. Paulo e do Paraná,. catechese
a proposito das atrocidades commetidas contra de que tao grande conceito faz o autor da "His-
os indios peruanos qu.e os padres introduzi- toria da Colo11isa<;ao".
ram degradados na civilisa<;ao e para cujo mar- No seu Iivro "Viagem ao Araguaya" 0 Ge-
tyrio ainda hoje concorrem. Nao menos infeli- 11eral ~out o de Magalhaes affirma que em
zes sao na propria his_toria dos nossos dias os 1854, aJudado por 10 pra<;as de linha e 6 i11dios
colt1mbianos, os argentinos, os chilenos e os CI1avantes iniciot1 Frei Segismundo, por ordem
l>olivia11os. do governo de Goyaz, seus trabalhos d·e cate-
Do livro - "Bolivar et l'emancipatio11 des chese.
colonies espagnoles" é facil ver que no passa- Ell?- 1863, 9 annos. portanto, depois do es-
do nao eram melhores os intuitos da catechese tabelec1mento d·e frei Taggia, depois de 9 annos.
catholica. Diz .o escriptor desse livro, depois de de catechese, eis o que encontrou Couto de l\1a-
enumerar os expedientes e negocios em que se galhaes. Sao suas palavras:
mettiam os jesuitas para apurar dinheiro:
"L.es missions étaint une source de bén.é- "No ~ia seguinte, 14 de Outubro, sahimos
de manha cedo, a pé, para visitar o aldeiamen-
fices i11calculables, et les 170. 000 néopl1ites dt1 to de i11dios ?o Estiva qu~ jaz a m.e ia legua, ao
Paraguay travaillaient presq.u e u11iquement au norte do Sal111as, sob a d1rec<;ao do padre ca-
profit des Péres. puchinho .frei Segismundo de Taggia.
E mais adian te . A Estiva tem urna populacao de 200 almas
.......... au lendemain meme du départ des comp~sta de indios Chavantes, Carajás, dou~
Péres, (refere-se á expulsao <lestes por Aranda) Oanoe1ros e de alguns brazileiros (sic) .
les l\Iissions commencerent á déperir. Les do-
,. -23-
- 22-
, Qua11to a vestigios de cat.ecl1ese catl1olica
Fallemos em primeiro logar dos Chavan-
en1 S. Paul'? e po Paraná, eis aqui o que encon-
tes: A navao Chavante parece ser das mais nu- trou o Serv1vo de Protecváo aos indios: (Vide
merosas que existem no centro do Brazil. Os fls. 73) .
factos demonstram qu·e ella é menos bravía do
1º) Subvenvao estadoal de 10 contos de
que as outras, mas capaz de rivilisavao e me- réis paga durante 12 ou 13 an11os aos frades ca- ·
lhoramentos. Della tem havido nesta Provin- puchos descalvos para a ca.techese de indios do
cia diversos aldeiamentos dos quaes existem
t=stado. Esses padres ja1nais deram um só pas-
11oje este ·e o do rio do Som110. so quer em beneficio dos indios rna11sos -
Os Carajás que ahi existem estao ai11da em Guaranys - quer em proveito dos bravos -
toda a selvageria com que vieram do mato: Caingangs.
conserva~-se n?s e vivero de cava e pesca".
Inte~--pell.ados sobre o desti110 que davam a
. J?aqu1 se ve antes de tudo quao nulla ha- esse d1nhe1ro respond:e ram que elle ·e ra appli-
v1a sido dura11te 9 annos a acyao de frei Segis- cado á catechese de indios 110 Paraná pelo pa-
mundo, mas se estendermos as indicavóes até dre a que se refere o autor da "Historia da Co-
noss?s dias deba~de .procuraremos saber o que lon isa9ao" e ·d e cujos trabalhos nunca até hoje
é f e1to de taes indios, quaes os beneficios e teve noticias a respectiva Inspectorijl de Indios.
qua es os signa es de tal ca techese. A s~1b~envao éra, comtudo, ta~ativam~nte para
Os Carajás, indios aliás de excellente índo- os. indios do Estado d·e S. Paulo· e f oi sup·p ri-
le e moralidade notabilissima, conforme o at- m1da por ter ficado patente que estes i11dios
testam todos os que os conhecem e conforme nao tinham assistencia, auxilio ou catechese de
o declarou ha pot1co tempo em conferencia na qualqu er especie por parte desses frades.
1

Associavao Christa dos l\1oyos um missionario 2º) Em urna excursao a Campos Novos do
protestante, contihuan1 a viver com os seus ha- Paranapanema, f eita em 1916 pelo auxiliar da

bitos e. costum·e s inteiramen te alheios á religiao
1 Inspectoria do Servi~o de Protec9ao aos I11dios
cathol1ca e da, catechese de frei Segismundo e1n S. Paulo, José Ca11dido '"feixeira, f oi enco11-
nada lhes resta sinao o pavor que lhes ficou trado um qu,a dro a oleo levado em 1910 por
do rapto de creanvas para as escolas. Ainda um frade francisca110, que ;e steve no logar, di-
hoje, ao perce_b erem que das suas malocas se zendo aos moradores que a sua Ordem ia, m·e-
aproxim~m civilisados, escondem os Carajás dian te a catechese, acabar com as incursóes
os seus f ilhos pequen os com medo de que lh' os g uerreiras dos Oaingangs.
queiram roubar. No mais contint1am como an~ Esse quadro representava tres frades se
tes de terem qualquer contacto com os padres, approximan(io de um grupo de indios recente-
a receber hospitaleiramen.te os viajantes, pres- mente sahidos da matta e arn1ados de arco e
tando-lhes servivos, mas mantendo intransi- fl echa. Um dos frades tinha n·a mao direita
gentemente e com assignalavel dignidade sua urna garrafa, que coril o bravo estendido apre-
indepedencia nativa. sentava aos i11dios.
" -24- -25-

Toda a gente do logar interpretava a pin- haviam soffrido toda a sorte de priva~oes na
tura como sendo um offerecimento de cacl1ac;a 1natta .en1 que vagaram por n1uitos dias, perdi ·
que f aziam aos selvicolas os sa11los frades ca- dos, fugindo ás tontas dos dominios daquelles
techisadores. guerreiros. Houve prisoes, amea9as e persegui-
Felizmente nunca se offerecet1 á Ordem ~oes de toda a ordem, que deram logar á dis·
franciscana a occasiao de pór em pratica ·e sse persao da tribu co1n o abandono de suas terras~
deploravel systen1a de catechese. lavouras, etc.
E, todavia, é urna historia a contar-se ain-
3°) O convento e as terras do patrimonio da essa do martyrio do padre Claro Monteiro,
da cidade de Pen11apolis (Noroéste do Brasil) . cujas intenc;oes e cujos trabalhos só podem ser
f oram <loados aos f ra11ciscanos para que elles deduzidos do rumo que - leYava o padre pelo
tomassem a si a catechese dos indios Cain- Aguapehy e do que a réspeito contam os indios
gangs. A actual I)en11apolis cl1a1nava-se entao guarany.s.
Santa Cruz t'. os Cainga11gs eram conh·ecidos-
pelo no me de Coroados. Os frades guardararrt
o convento e as terras, que posteriormente re-
talharam .em lotes para a venda, mas nunca se T·a es sao, Sr. Director, as principaes recti-
approximaram das maltas dos indios, i1em ten-· ficac;oes que 1ne sugg eriu o capitulo - Cate-
1

tara;r:n um só passo para chamal-os sequer á chese leiga e catechese catholica - da "Histo-
paz. ria da Colonisac;ao", rectificac;oes que, por nao
alongar demasiadamente ·e ste officio, dou aqui
Esses frades sao allemaes. Por occasiao da por acabadas.
•e ntrada do Brasil na guerra deu a policia pau- Fac;o votos que ellas possam num futuro
lista urna busca ·D O co11vento delles ·e encontrou volume dessa historia servir ao seu autor como
,~arias c]avinas Winchester que os frades disse- base de um estudo mais. apurado senao mais
ran1 haver adquirido ao tempo em que alli se imparcial da questao indígena.
estabeleceram e para o f im de se defenderem
dos indios bravos, isto é, daquelles mesmos que Saude e f raternidade.
elles se propunham. catecl1isar e1n troca dos ·fa-·
vores recebidos ! /". B. H orla Bar boza,
4°) Noticia dada por dois i11dios guara11ys J)irector interino.
das torturas que ·e lles e sua tribu soff reram em
consequencia do mallogro da expedic;ao do pa- ·
dre Claro Monteiro em 1901 ao rio Feio.
Qu.e ria a policia provar á f orc;a que esses
dais indios sobrevive11tes daquiella expedic;ao
era1n os proprios assassinos do padre Claro,
quando elles, para escaparem aos Caingangs.

--
"'

..

APENDICE
RESUMO DO OPPielO 648·H
O leitor das pagi11as precedentes terá visto,
espero eu, que o meu officio 648-A se compoe
de duas partes essenciaes: na primeira,
mostro que o autor da Historia da Colonisa~ao
escreveu sobre o Servi~o de Protec~áo aos
Indios, sem i1ada saber e nada ter entendido
delle; na segunda demo11stro que nao menos
ignorante se revela o mesmo autor sobre os
trabalhos :e os resultados da Catechese Catho-

lica, que elle, levianamen te, :e rige em concur-
ren te e adversaria do Servi~o d e Protec~ao.
1

Tratando-se dos nossos indios, é .h abito


entre nós, sob o 11om1e ge111erico de Catechese,
conft1ndirem-se duas ac~oes distinctas: urna,
a d:e catechese propriame11te dita, isto é, o tra-
balho ou esfOT~o para conquistar a adezao es-
piritual de urna ou mais pessoas a um certo
numero de principios corporificado~ em dou-
trina; outra, a da protec~ao dada ás pessoas ca-
'tethisadas 'para ·a ssegurar-lhes as liberdades,
as propriedades etc. garantidas por leis a to-
dos os homens, mas postergadas pelos proséli-
tos dos proprios catechisadores.
No meu officio 648-A, acharo-se aponta-
·dos alguns exemplos de como a Catech·ese Ca-
tholica falhou, entre nós e em toda a America,
.. .-- 30 - -31-

sob ambos esses aspectos. Semell1ante indica- moines de la Conquete e11voyert:nl en paradis
~ªº só é urna novidade para quem nunca es- leurs ouailles récalcitran.ies" >- etc., e nesta
tudou a questao, como se · ve que acontece 11ota, da 1nesma pag., "Les n1oines baptis-
com a pessoa apressadame11te arvorada em saient en 111asse les indigenes qu'on massa-
historiador da "Colonisacáo .. ·d o Brazil". crait ou brulait ensuite e11 toute sére11ité. -
·C om effeito, sob o primeiro desses aspe- V. les recits de Garcilase de la \ 1ega. de Bernal
ctos, a constata~áo do facto que me vi obriga- Diaz del Castillo, ·e tc. ".
do a levar ao conl1ecimento do escriptor da • Estas monstruosidades foran1 praticadas
Historia da· C·olonisa~ao, racha-se f eita ha mui- por pessoas pertencentes a popula~óes prof un-
to tempo, por autores insuspei lissimos, como
1
damente Catholicas e em tempo en1 qu·e o clero
por exemplo, pelo de "Um manuscripto que Gatholico gosava de _prestigio social i11compa-
se conserva na Bibliotheca de S. 1\1. o Impe- ravelmente maior do que o qu·e hoje dcsfructa,
rador, ·etc. sem nome do autor - 1587" (ve- mesmo porque, nesse ten1po, cada n1embro
ja-se o 1<> tom·o da R. do l. H. e G. do B.), o desse clero era na verdad e um f unccio11ario do
qual escreveu, referindo-se aos Tupi11ambás: governo 011 do rei em c~jos estados exercita-
"'Em sua linguagem nao tem as letras F, va o seu mister: e este era urna fnncváo publi-
L e R, grande ou dobradas, circumstancia que ca, social e politica.
muitos notam, dizendo: - Qu·e nao tem F, Ora, si n·e ssas condic~óes, tao excepcio~
porqu.e lhes falta a Fé, e nao creem cousa 11alm·e nte favoraveis á intervencáo.. do clero a
alguma, nem adoram· de cora~ao, ainda ba- favor dos miseros autochtones da . :\ 1nerica, a
ptisq.dos e já nascidos no gremio . da i.greja, · ac~áo dos frades, monges, etc. mostrou-se a tal
adorando as imagens e crendo os m1ster1os da ponto fraca,- impotente e n egatiYa, enl<io o que
1

nossa religiáo, porque assim o veem fazer e mais ha a esp·erar della, n·e stes te111pos en1 que
lh'os ensinam, e nao por conpunc~ao inte- a Revolu~áo romp·e as ultimas cadciHs da dis-
. .... "
r1or; ciplina antiga e nada deixa de pé, ne1r1 mes1no
Sób o segu.n do aspecto, a Catechese Ca- as velhas regras, apezar de optin1as, do ven·e-
tholica f all1ou, 11ao só no Brazil, mas tambem rando H·e rodoto?
fóra do Brazil, como o attesta a seguinte pas- Mas, se ja con10 f ór, a verdad e é true o re-
sagem do historiador J t1les Manci ni, na pag. girnen implantado no Brazil em 1889, separou,
25 da sua obra "Bolivar et L'émancipation des para os effeitos da administra~ao publica,
Colonies Espagnoles, des origines a 1815": aquelles do is aspectos que aci1na referi acha-
"011 avait considéré des le deb·ut, que le rem-se habitualmen te sube11te11didos 110 ape-
1

meilleur moyen d'assuret l'obeissance des in- lativo - Catecl1ese; e, sem se preoccupar co1n
digenes, était d'en faire des chrétiens. Une saber quem quererá tomar para si a tarefa de
f ois convertis et se fut trop souvent avec une conquistar a adezao das almas a alguma das
/ 'ajf reuse désinvolture qize certains d' entre les doutrinas que entre si disputan1 o gover110 dos
- 32- ~ 33-

espirilos, limita-se a agir no se11tido de ampa- i11enlo u1n adversario do Catholicismo e do seu
rar os direitos de todos, catechistas, neophy- clero, posto que este Servic;o 11áo se lin1ite ape-
tos, catechum·enos, etc. - á vida, á proprie- nas a gu~rdar abstenc;ao de sustentar, ampa-
dade, á criac;ao e edt1cac;ao dos seus filhos, etc. rar e .n1u1to menos promover a catechese para
lransfor1nar os adeptos dos outros crédos em
direitos que constituen1 o fundamento mesmo
~·ath~licos, mas introduz no paiz cre11tes de
da sociedad·e civil, garantida no que lhe é mais
essencial, pela Constituic;ao de 24 de Fevereiro. 1greJas l1ecterodoxas e de relig16es mais extra-
nll~s ao. no~so ri1eio do que as crenc;as dos fe ti,
Semilhante acc;ao .tern de ser, por sua pro- chistas 1nd1genas. ·
p1·ia natureza, independente desta ou daquel-
. Or~, si promover e pr~ver á i1nn1igrac;ao e
la corporac;ao espiritual, visto dever ella co11-
~ f!xac;.ao dos colonos a·o solo, sem no entanto,
1
siderar-se corrio simples depositaria do patri-
1m1~cu1r-se com as tentativas qu·e o clero Ca-
monio que ha de p·e rtencer ao regimen social a
nascer da doutrina qu·e triumphar pelos seus thol1co, ou outro, possa f azer para convertel-os
proprios meritas, isto é: sem a falaz e incons- ao sen crédo, é cousa qu·e o Governo 11áo só
tante intervenc;ao dos ho1nens do governo, ar- pode, mas ta1nbem deve praticar, 11áo vejo co-
TYl ados tranzitoriam·e nte da f orc;a material do
1n? se ha de negar, a i1ao ser por simples ca-
pr1.ch?, que an~iogamen te elle promova e pro-
pa1z . que administram.
Na verdade, nao posso comprehender ~' eJ.ª a _prof eC{:aO dos 110SSOS selvicolas semse
como um principio tao simples e tao claro i1n1scu1r, ne1n· para amparar e sustentar i1em
como esse, custa tanto a ser comprehendido e I?ª~·a contrariar ou crear-ll1e ·o bstaculo ; cate-
acceito por pessoas qu·e estáo a usufruir os ch1sa~~o desses indigenas por membr~s do sa-
cerdocio catl1olico, ou otrlro.
resultados da st1a applicac;áo, e até vendo-o,
ou pelo m·enos, devendo vel-o posto em acc;áo Mas,. apreciar as coisas co1n espirito de
todos os días. E' assim, por exemplo, q11e o .c.oherenc1a, parece ~1er um in1possivel para
f unccionario-historia<lor da Colonisac;áo, si certas ~a?e~as, e en tao a do historiador
sabe d·o que vai pela repartic;ao em cujos qua- rnoder111ss1mo parece que só funcciona qua 11 -
dros tem inscripto o seu 11ome, deve ter nota- d~ i:iergul~ada numa athmosphera de co11tra-
d~cc;oes e disparates taes que fazem le1nbrar 0
do que, nos nucleos agri.~o~as, o Servic;o de. P~­
voam·e nto pauta a sua acc;ao por esse pr1nc1- d1tado de Sancho Panza - "si os duele la ca-
pio, e nao se mete a querer f azer de shintoistas, beza, untaos las rodillas"
de livres pensadores, etc., christáos; e d·e chris- . Na~ paginas q~e se vao seguir, o leitor en-
táos anabatistas, presbyterianos, etc. - Ca- eontrara restabel~c1da a. ve~·dade sobre algumas
~as _clan1orosas 1nv·e..nc10111ces de cuja propa-
tholicos. ~a~ao ·e m lettra de forma to1nou a responsabi-
No entanto, creio que ninguem, ne1n mes-
mo o autor da Historia da Colonisaváo, se l1da~e o §nr. Jo,aquim ~a Silva Rocha. I11feliz-
lembrou i1unca de ver no Servic;o de Pov.o a.. ..m ente nao. me e dado f azer analogo restabele-
.
" -34- - 35 ___.
ciinento para todo~ o~ po11tos en1 que se aprou- a los que tienen inata prope11sion a 11ablar
ve exerc1tar o genio 1nve11tivo do escriptor do contra la var<lad".
opusculo ''Catechese L·e iga e Catechese Catho-
J1ca '', porque esta 1ni11ha rectifica~ao sabe de
u111a typographia séria, que nao 0111itte o seu
non1e respeitavel 11em deixa de cobrar o seu A verdade scbre al~ul:t)as das clamorcsas
traball10 honrado. i nvencicnices
. ccl)tidas no cpusculc "CatecI,ese
Em ta es condivóes, só a in uito co11tragos- Leiga e CatecheseCatijelica
to (como é facil de imagi11ar ao leitor benevo-
lo) me co11formo a náo v,e r a inda mais red uzi- Na pa_g. ~ ·do opu.sculo, le-se: .·
do. do que fica, este folheto. No e11tanto ai11da "A pagina 5 do dito officio (refere-se ao
darei u~.a ex plica~ao previa, que n1e 'parece 648 A, i11serto na prin1eira parte <leste foll1e- ·
necessar1a. \T~rsa ~1la sobre .a s transcripvóe.s, to) se enco11trarri as rasóes aprese11tadas pelo
que talvez seJa_m Julgadas excessivas, de pen- seu sig11alario, ·para co11testar a possibilia.ad€.,
sa1nentos aur1dos no enor1ne inanancial de lle coexiste11cia da catecl1es.e catlzolica .ao lado ·
boas ideias que é a veridica historia dos feitos da protecrii.o ao selvicola" . ...
do "lnge11ioso Hidalgo Do11 Quixote de la iVIan- J-."'a~a-me o leitor o obsequio de recorrer a
cha" . Si o leitor cansar-se de minha recurren- pag. 7 deste folheto e verá que eu digo exa-
cia a tal fonte, queira pedoar-me e levar o iri- ctamente o contrario do que se acha aqui ex-
commodo á canta dos maleficios do escriptor presso pelas palavras por 1nin1 gripl1adas.
do opusculo. ~ que respon~o: foi el le que, por
n1e ter ~lass1f 1cad? de qu1xotesco, na pag. 9
do seu 11npresso, fez o 1neu pe11sa111ento escra-
vo das re1ni11isce11cias que guardo da leitura Nas paginas 9 e 10, o autor d,o opusculo,
daquelle excellente livro onde o tale11to de refcrindo-s'e á visita f eita este anno á Povoa-
Sa11cho brilha em pensame11 tos co1110 este: "110 . cao Indigena de S. Lourenvo, pelo• Snr. Presi-

ando a buscar pa11 de trastrigo por las casas dente de Matto Grosso, diz o segu1nte:
agenas" "A pessima impressao causada por essa vi-
. E si á peS$Oa qu·e, depois de mim, é o unico sita, onde tem predominio incontestav~l o Ser-
le1tor certo e obrigatorio do que se vae seguir vivo de Protecvao aos Indios, está ?escr1pta nos
fór f alta11do a calma em certos pontos, é bon~ jornaes de ~falto Grosso, e reaffirmada pelos
que lhe occorra o que D. Quixote disse a lestemunhos das pessoas acima ~!t,adas. .
Sancho: "Tien pacie11cia, l1ijo, y da gusto a es- "Para dar, porém, urna idea pall1da de
tos señores, }' n1uchas gracias al cielo por ha- como tem grande interesse pelos tra~a~hos. a
ber puesto tal virtud e11 tu perso11a que con sen cargo, aquelle ·d epartamento do l\11n1ster10
1.) exe1n plo-della Se de Ull gran escarmientÓ

.,

.,___
,.
--- 36 __.
da. Agricultura, I11dustria e Comn1ercio' referi-
re1, em synthese, o que observou allí a in1-
prensa .
.. }·lcnlu11na casa f oi enco11Lra<la que podes-
se 111erecer esse nome. Os indios estava1n entre-
gues á inais triste 1nadra~aria, conipletame11te
111ís os hon1e11s e cobertos ¡Jor andrajos 11ojen-
t os as 1nulheres!1. .. "
A isto, respondo con1 as segui11tes pl1oto-
graphias juntadas pelo I11spector Silveira.Lobo,
ao relatorio que apresentoü á Directoria do
Servi~o de Protec~áo aos Indios ,em 19 .d este
mez, sobre a priqieira parte da . commissiio· de
que foi encarr.egado pelo Snr. Ministro da Agri- ·
cultura,. na Povoa~áo. lnd.igena de S. Louren~o.
{V . gra v. ns ..1, 2, 3 e 4) . .. . ·

..

Sao Louren~o - Séde - Vista geral

I
t

,.

...

Sao Louren~o - Casa da administra~ao

'


-

'

Telheiro ao lado da casa. cla administracao


~


..

-

Sao Louren~o - Indios bol'oros

\
J/

Ainda nao satisfeito com isso, o autor du


opusculo escreve, á pag. 10:
"Nessa afan1ada Borororia que o Servi~o
de Prolec~áo aos Indios ten1 como seu 1nelhor
esfabeleci1ne11to ( o autor csqueceu-se de dizer
que similhante classifica~ao é da exclusiva la-
vra da sua f ertil imagina~ao), ha, além do qtte
já referin1os, grande quantidad'e de machinas
agrarias, enferrujadas, co1n varios machinis-
n1os de valor entregues á ac~ao dos tempos!i. .. "
Veja-se esta reproduc~ao de urna das pho··
tographias do citado relatorio do Inspector
Silv-eira Lobo. (V. gravura n. 5) .
.'

t
\

. •. • ' .;J .
l

. .
·.

..

..

O Inspector Silveira Lobo, vistorlando as machinas agricolas da


Povoa<;ao Indigena de Sao Louren~o. (Veern-se 2 bororos,
e no fundo, o Inspector)

I
... , .. ~~~


Na pag. 11 do opusculo, le-se:
I
"~esse i11terin1, segundo se affirn1a, a séde
da I11spectoria era inudada pelo Snr. i\dria110
1\1etello para Corun1bá. "
, . . Parece i11crivel que ún1 funccio11ario do
• •
Nlinisterio da Agricultura, que, alem disso, se
pretende dar como bem informado do que se
passa nun1a reparti9ao desse inesmo l\'1insite-
rio, nao esteja ben1 certo da localidade onde se
a cha a séde dessa repartiváo, e a ttribua ao ser-
ven tuario della um acto que emanou, e ~ó po- .
dia emanar, do ~1inistro, acto que f oi publica-
< •
do no Diario Official!

Das pags. 11, 12 e 13, tiran1os estes tre-


chos:
". . . . . affirmo que tnna profunda duv1-
da se estab·e lece e111 ineu ·e spirito, pois nao se1
(is to de 11ao saber, no Snr. Rocha, é enguivo J
l>en1 se devem preva]ecer as opini6es, do Dire·
clor do Servi90 de Protec9ao aos Indios que es-
laYa em l\1atto Grosso, Yisitando sempre (o
scn1 pre é demais) as obras dos sa lesia11os, . se
as que emittiu en1 seu relatorio de 1912, o ex·
ininistro Pedro de Toledo.
"Este contesta o valor das missoes salt~
sianas em relacao á catecl1esc dos s.elvicolas,
"
natural1nente baseado i1as infor-ma~oes da-
quel le.
"Como, porém, é possivel se1nelha11te du-
:plicidade de opinioes?"
-40- ~ 41-

E em seguida o escriptor, que nao sabe nagens, naquelle n1on1ento. Dessc escripto,
bem onde está a séde da reparlivao que pre- que é um ·offjcio expedido de Cuyabá em lº de
tende criticar e julgar, passa a transcrever, Noven1bro de 1912, extractamos as segui11tes
(nao dou muito pela fidelidade com que o faz) passagens:
as impress6es deixadas pelo General Rondon "Fiz observav6es relatiYamentc á falta de
no liYro de visitas das Colonias Salesianas. h~rgiene e conforto das casas dos indios, ....
Ora, na prin1eira das impressóes transcriptas,
acha-se isto: "Mostrei qtre era preciso conceder-lhes u111
vasto quintal, e1n que J)Udessem cultivar e
"N cssasco11di96es, ( escreve o General cre~r alguma cousa. . . . . O padre l\1a Jan res-
Rondon) ale1n dos conselhos verbaes que enzit- ponden-me que pretendia demarcar na colo-
ii á sua digna Directoria, no sentido de appro- nia do Sanaradouro, para cada nin dos indios
ximar a sua direcfao, ta11to quanto seja possi- casados e iá civilisados. urna area de 6 inetros
vel, do pla110 geral co11signado n.as instrucr.óes por 25 metros. ·
pela Directoria Geral" (do Servi90 de Prote- ''Provei-l he c~u e JSemelhante providienria
1

c~ao aos Indios), etc. nño resolvia a questao, visto' que ess~ pecrueno
Ora. quem sabe ler, ve que ahi está <lito lote encra.vado na ~rande pr0priedade salesia-
que o Ge11eral Rondon nao e11co11trou as coj- na. ale1n de insufficiente, era, apenas na ::lDpa-
sas 11é1s Colo11ias ;tao bóas como o pretende sn· rencia, urna posse do indio, sendo, de facto,
gerir o escriptor do opusculo, pois que o mes- nm terre110 de que nunca poderia lan9ar
mo General achou-se no dcver de dar conse- -
mao.
llzos verbaes á directoria do estabelecimento "Corno destacal-o. effectivamente. de den-
visitarlo. tro da colonia nertencente á Ordc1n? Con10
·~1as, com o que 11ao cont.a va a boa fé do a provPita 1-o em táo rf'd uzi das d in1()nsoes?
1

General, f oi com o partido qtre dessas pala- "Essa medida. pois. só aproveitará á mis-
vras iam tirar os interessados ;mestres egregios s?io " nunca ao indio onP por ella ficari:\ indr-
em equivocos, omiss6es e subentendidos, os finidamente preso á ~leba salesiana . ~'lostrei.
quais, abusan.do da desattenc;ao das pessoas a nelo rontr::lrio. que torla a terr::. trabaJhada pe-
quem se dirigem, quando dao a ler essas pala- lo gentio devia ser a·e propriedade sua ...... .
vras esquece1n-se se1npre de completar a infor· "Discordei da nratica de alu~aren1 in.dios
n1a~.ño dizendo em que consistira1n aquelles a f azendeiros. mediante nagamento que os alu-
conselhos. aadorrs recehem e nue. sef!unño a ffirm:-i1n 1
Pois bem. esses conselhos foram trans· rrastam em objectos destinados á com1nunida-
n1ittidos ao ~1inistro pelo General Rondon, e cle inif i~ena .......... .
o f oram oor escripto, pois outra 11ao podia ser , ~'E~tranhei n 11só de se pagar o traba]ho
a forma de communica~ao entre os dois perso- dos i11d1os com fichas .....
-· 4~ -,-. ....._, 43 . _

"Extranhei ta1npem que sé déssc aos "i11- qucn1 tiv·e sse a corage111 de acreditar que os
dios tao escassos e rudes ali1nen tos, quando seus· arnigos sao todos u11s cabe<;as duras, con10
dispunham os padres de tao grandes recursos, de rocl1a! Pois o leitor que julgue si os padres
aliás provenientes do trabalho indigena ..... . se equivocara1n em tal juizo sobre taes 110-
. . . . . Chamei a atte11<;ao do padre ~1alan mens!
para qS queixas geraes leva11tadas co11tra o pa-
dre Salveto, accusado de tratar os i11dios co1n
reprovavel violencia, clTegando ao ponto de
castigal-os a ponta-pés, e dirigil-os no servi<;o Si vallesse a pena tirar, para proYeilo des-
das ro<;as de carabina em punho, consoante sa ge11te, u mconceito qualquer da at1al~rsc que
informa<;ao que ti ve ..... acaba111os de fazer da petulancia co1n que se
"A proposito, disse-me o padre l\Ialan que Jeyanta a voz para accusar o General Rondon
aquelle seu companheiro só era rispido 11a ap- d·e "duplicidade de opinioes" eu pediría a D.
parencia, possui11'do, de facto, um cora<;fio Quixote este seu pensamento: . .
bondo'so, e cruanto á irrascibilidade que ]he :"De todo lo qtre 11e dicho has de infer1r,
era i1nputada, provi11ha . de ter sido soldado, Sancho, que és 111e11ester 11acer dif,e rencia de
profissao e1n que co11trahira 11abitos de an10 á 1nozo ·y de caballero á escudero".
1na11doI
"E, con10 eu insistisse p·e la necessidade de
lafastar semelhante n1issionario do convivio
dos indios, retrucou que nao podía dispensar Na pagina 16 do opusculo do Sn1. Rocha,
por s·e r excellente agronomo". (V. pag. 79) . le-se: ·
Bastam, parece-n1e, estas arnostras dos "Invoca aquelle f u11ccionario ( rcferc-se
conselhos uerbaes que o General Ro11do11 deu ao autor do officio 648 A) em favor da segun-
aos padres, por occasiao de .sua visita de 1911~ da questáo por elle referida, o teste111unl10 do
conselhos que elle i1ao enumerou, 11em tornot1 Ca pitao Pitaluga.
explicitos na pagina do livro de visitantes en1 "A testemunha é suspeita. O Capitao Pita-
que deixou a in1pressao de que tan1anl10 ca- luga n u nea visitou aquellas colonias".
vallo de batalha f azem os Salesianos e seus Para respo11der a este ·t opico, passei o se-
a1nigos para affirmarem que "hottve duplici- gu i nte telegramma:
dade de opinioes" 'da parte do General!
Ora, esta historia da duplicidade de opi.: · Telcgram1na nº 488 - 2, de Noven1bro
n ióes de Ro11do11, baseada em que elle torno u 1~J19. - Capitao Pitaluga - Deputado Esla-
conhecidas ao Ministro, por escripto, os canse~ doal - Cuyabá.
lizos verbaes que deu ao padve director da Numa publicaváo sal1ida aqui affirma-se
~1issao de Catechese, só poderia occorrer a que vosso testemunho sobre colonias Salesia ..
- 45-
··- 44 -
e o conforto de que vivem cercados os Sallesia-
nos, Séllla111 á vista <Je lJ. ualquer onservador, e
11as é suspeito e que n u nea estivestes em ne- quan to a verdade1i-a ~1luacao 1nora1 <Jos indios '
n h u111a dellas. .
uunca seria a1ta por aqueltes padres. Sei, por
.t\ffirma se i11ais que occasiao gripe indios 1!1lorn1a~oes posit1Yas e insuspeitas dos ir1ora-
S. Louren90 afluiran1 em massa para aquellas aores e iu11cc1011arios das esta~óes telegraphi-
colonias. Obsequio fornecer-me elementos cas 1-'reside11te ~VlurliI1ho e Ge11eral Car11eiro
responder ta es aff irmaroes. Cords. Sds. <1ue frequer1ta111 assidua111ente ditas Colonias:
que os Salesianos . ludo lhes difficultam ' afi111
Horla Bar boza, ae sere111 os ur11cos senhores do cornmercio de
Director P. Indios. toda aquelJa .regiao, ve11dendo productos por
pre~os extors1Yos e esca11dalosos .' J)evido ta1i--
E recebi a seg u in te resposta: tos abusos, o telegraphista da estacao Presiden-
Dr. Horta Barbosa. Director Indios - Rio te l\1urlinho insístenteme11te tem reclarnado aos
Telcgra1nma de Cuyal)á - 1022-5861592- ~eus chefes. a m udan~a da séde da esta~áo para
25-19: Sangradorz111ho ou para outro ponlo f óra .da
Sciente. respondo ao vosso 449 de 21. Em propriedade Salesiana. .
.T unho <le 191.7, quando em viagem até proxi- Naquelle auno de 1917, os indios exisle11les
mo á \ Tilla Registro do Araguaya, tive onpor- i1as citadas Colo11ias eram: 15 e1n S. José; 70
tunidade de conhecer ::.s colonias Sallesianas en1 Sagrado Cora~ao, e 40 em Immaculada Con-
fle S5o .José,. Sagrado Coracao e Immaculada
~ ~
cei~áo, c1uasi todos a11ciosos por deixare1n o
Concei~ao. esta apenas por informacoes por- jugo dos Salesia~1os. Ouvi do i11dio Capitao Bo··
nue fica fóra da estrada, na margem do rio das rego, desta t1lt1rna Colo.n ía, varias queixas
Gar(~as. As duas pritneiras estao situadas de tal amargas . sobre fa e los co11firn1ados pelos in o-
n1odo que qua]cruer viajante póde conhecel-as radores de· General Carneiro. Por occasiao da
no scu desenvolvimcnto niaterial, tanto pelo n1udan~a dessa colonia para o Rio das ~tortes
<·onjunrto dos. servivos de culturas e das bem- qua si todos f ugiram, e dos poucos qu~
feitorias que desde mui to longe se avistam.
1
acompanharam os Salesianos - alguns 1nor-
como tamben1 porque se é forvado a transitar rcran1; os demais ta1nbem abandonara1n
J1elo interior rlas 1nesmas Colonias na depen- c?mp1etame1!-te os Padres. Esses indios l1oje es-
nPncia até <le· favor nara ·p assagen1 pelas por- tao no alto r10 das Gar9as, onde qucren1 os Sa-
tPiras fechadas a cadeado. con10 acontece na lesianos installar-se, chamando-os de 11ovo ao
C:oJonia Sagrado Coracáo.
.. Na minha ida e vol- serYi~o para justificarem o reccbi1nento da
l~ nao quiz ser hospede IleSSas colonias, ape- subvencao. ·
zar de conYidado, porque nada adiantava para Quanto á ~egunda parte do Yosso telegram-
conbecer os aspectos material e moral do ser- ma, posso aff1rmar ser des~a_vad~ mentira. A
Yi~o da 1nissao, pois todos os melhoramentos
,. -46- -47-
grippe assolou a colo11ia de S. Louren~o em De- n.1uito me11os (os recebera1n) as Colonias Sale-
zemnro e Ja11eiro u1t11nos, qua11do me achava s1a11as, das quaes a mais proxima está a 50 le-
e1n excursao ao alto S. Louren~o, onde per1na- gua~ .de, S. L.oure11~0 (1->ovoa9ao Jndige11a).
11eci tres inezes. Sei, positiva1ne11te, que os in- l~ogo inf or1_ne1s_ qual o facto que deu 1notivo a
dios deixara1n S. Louren~o ( isto é: a séde da citada pnbl1ca~ao que se refere ao 1neu 11ome,
J)ovoafdO J11digen.a desse no111e) aos grupos, bcm como pe~o remessa dos jornaes que allu-
que se estabeleceram 110 rio Prata, prox1mo de d~1:i a este~ assu111ptos. - Sandacoes. - Ca-
}'oguraxoreu; i1a a11tiga aldeia Quedjara, 5 le- p1 tao Octavzo Pitaluga. ··
guas acima da colo11ia (séde da Povoar;ao J11-
<tige11a), 11a inargem direita do Poguba, ou Sao
l .. oure11co; 11a aldeia Aregbororeu, pouco aci-
1na do ~io Ver1nelho, 011 Rondonopolis; e nas Na pagina 17 do opuscu lo ha 6 seguinte:
aldeias do Corrego Areias e da Boa Vista. Aín-
da assim, o abando110 de S. Louren~o nao foi "Os triAstes acontecirnentos que, repetida-·
completo, have11do alli ficado muitos indios nlent~, se t~m dado na esla~ao teJegraphica de
que 11ada soffreram, e outros que se curaram. .T uruena, sao tlm atlestado cloquente do ne-
Para as Colonias Salesianas é que .i1enhum) nhu1!1 valor e do nenhun1 aproveitan1e11to do
absolutamente, foi, porque te.ria de vencer Serv1~0 de Protec~ao aos I11dios.
grande distancia para lá chegar, sem proveito . . "Os assassi!latos barbaros e J1:ai~oeiros, por
pratico algun1 qua11do é sabido por todos el~es 1nd1os Nl1amb1quaras, do telegraphista resi-
que os i11dios de lá foge1n sem ser preciso gr1p· dente e de um guarda da linha, ....
pe ou outro inotivo dessa 11atureza. . "O ~-hefe dessa co1nmissao (a de linhas Te-
Na aldeia Jardore, situada no alto Poguba, legraph1cas) 110 Rio de Janeiro, telecrrapl1ara
011de estive 11aquella época e tambero ero .J ulho 11rgenteme11te (o g~ipho é do origi11al) ao I11s-
nllimo, en.contrei muitos in.d ios fugidos da Co- pector Germa~10 Silva em Cuyabá, censura11-
lonia S. José, ex-n1t1sicos da celebre banda que do-o por fer dzvulgado zzn1 facto Qlle se deveria
esteve 110 Rio por occasiáo da Exposivao Nacio- 1na11ter e1n segre1o I!" (o gripho é do original).
nal de 1908. Elles allegam maus tratos, exces- Por se refer1r este trecho a aco11teci1nen-
so de trabalho e nenh un1a rem nneravao como t~s e pe~s.oas extranhas ao Servi~o de Protec-
n1otivo pelo qual voltaram a procurar os seus ~ªº'. ped1 inforn:a\oes sobre elles a quem m'as
parcntes. Esta aldeia Jardore, que é nlais pro- pod1a .d?r, e obt1ve em resposta a seguinte car-
xima (da Povoa~áo Indigena de S. l_¿ourenro) ta off1c1al:
do que as Colo11ias Salesianas, dista cerca de 15 CARTA OFFICIAL x. 551 - Rio de .Janeiro.
leguas da Colonia de S. José e está acima das 22 de Novembro de 19.19 - Ao Sr. Dr. Luiz
a ldeias Iren1ju Bororo e . i\rojare,
. as quaes nao Bueno Hort.a Barb9sa, D. Director do Servico
recebcram indios de ~. Louren~o; portan.t o de Protec~ao aos Indios: ~

-48- - 49- ·,

Attendendo immediatan1enle ao vosso ap- a 2ª "A ' Noite" de 5 de Junho de


pello, quanto á co11sulta que m_e dirigistes e111 1919 co11firma11do taes previsoes e
cartao ctatado de hontem, ao qua1 aco1npanhou informando ao publico ctas verda-
copia de tun trecho do opusculo intitulado deiras noticias, a pós rigoroso inque-
··caLechese Leiga e Catechese 1leligiosa", de rito a que foi proceder n'aquella es-
J oaqui111 da Silva 11oc11a, - opusculo e pessóa ta~ao o Sr. Telegraphista Germano
felizn1e11te ·para mi111 desco11hecidos - venl10 José da Silva.
prestar-vos o meu depoimento para bem escla-
recer o caso de que vos occu paes.
Estas d uas cartas, pe11so, esclarecem com -
1\ntes de tudo é evide11te, pelo trecho tra11- pletamente o assun1pto.
scripto, que o autor confu11de la1ne11taveln1e11-
te o Serv1co de Proteccao ·aos Indios con1 a pro- Estas agressoes dos i11dios, aliás perfeita-
lec~ao qt1e a "Co1nn{issao R.o ndon" dispensa mente parale~las ás que estamos acostumados
aos selvicolas habitantes da regiáo Noroeste do a assistir por parte dos ci vilisados, nao ob-
13razil, por onde corre a linha telegraphica a stante a existencia das cadeas, da policia, dos
cargo da mesma Comn1issáo. processos-crimes, dos flagrantes, etc. - 11ao
Qua.n to ao facto occorrido i1a esta~ao te- representam condemna~ao alguma aos pro-
le<rrapl1ica de Juruena ahi deveis possuir em cessos de Car11eiro e Rondo·n para pacifica~ao
vot>sso arcl1ivo as duas cartas que publiquei nos dos in.d ios, pr9cessos adoptados sabia e huma-
jor11aes desta Capital": nitaria1ne11te . pelo Servi~o de Protec~ao aos
· Indios, desde. sua crea~ao 110 Brazil, e de cuja
applica~ao ternos tirado os melhores resulta-
a lll) "A' Noile" de 17 de l\rlaio de dos, consegui11do 1nansame11te a aproxima~ao
1919, arrtes de cl1egar ao ineu conheci- de tribus qu•e 11unca se l1avia111 re11dido á vio-
1nento as causas deter1ninantes do lencia dos civilisados, para a penetra~ao em
ataque ]evado áquelJa esta~ao por seus dominios, a ferro e fogo. Exemplos os
·~ u1n nu1neroso grupo de Nl1ambiqua-
' possuis 11umerosos 110 patriotico acervo de ser-
ras, e i1a qual previa cu natt1raln1en- vi~os ora sob vossa patriotica direc9ao, bastan-
te que se deveria tratar de u1na repre- do-me citar aqui os dois casos culminantes dos
~alia qualquer, como bastas vezes· Oaingangs de S. Paulo e dos proprios Nhambi·
acontece, e111 99 ºIº dos casos, segun- quaras do Noroeste de ~fatto Grosso.
do a longa observa~ao qu·e de ta es fa- De modo que é ii1teiramente graciosa a
ctos tem feito o Sr. General Rondon e affirmativa de que o Clzefe da Commissiio ve-
todo o pessoal em servi~o da Com- rilicara que rziio /1aviarn surtido e/f eito os pro-
missao Telegraphica de que elle é tao cessos enfilo em¡Jregados para pacifica~ao dos
digno chefe; indios. ·

-50- - oí -
'Só se poderia admi ttir a fa11e11cia de taes 11a11tes lame11tavel occorrencia, infclizmente
processos se existis~e algum outro capaz de consequencia falta cumprime11to ordens se-
approximar os selvicolas do civilisado trans- veras Rd (abreviatura de Coronel Rondan) ti-
formando-os milagrosamente em sa11tidades; ve occasiao transmittir Cy-Pvl (abreviaturas
• emquanto, porém, o indio pacificado fór um de Cuyabá e Porto Velho, onde f unct:ionam as
homem ape11as tao bom ou mell1or do que os direc~oes da Parte Sul e da Parte Norte do
demais in·d ividuos existentes· no inundo, os Districto Te legra phico a cargo da Commissáo J
processos do Servi90 de Prolec9ao aos l11dios, resp·e ito minimo pessoal esta9oes sertao -
nao f alliráo. Co11fio vossas patrioticas providencias solu~áo
Qua11to ao detall1e final ·d essa transcri- caso preven~ao futuro, Sauda~oes cordiaes".
p~ao do opusculo, bem deveis co1nprehender
que o sigillo pedido ao telegra phista Germano "N. º 426 de 26 de Abril de 1919. - Snr.
11áo concordava de fórma alguma com o dese- . Germano - CUYABA':
jo de occultar o facto, mas com a n·e cessidade Jornal "A Noite" publicou telegramma
de o 11ao divulgar sem co11hecime11to das cau- seu correspon.d ente Dn (abreviatura de Dia-
sas determinantes, assim co1110 para evitar o n1antino) notician.d o marte telegraphista Ortiz
alarme que semelhantes noticias costumam le- gd Ju (abreviaturas de guarda-fio da esta~áo
var de chofve aos lares dos que trabalham J urue11a) . ·
comnosco no serta o. Rogo urgente detalhes motivos agressao,
Para melhor esclarecimento, abaixo lrans- assim como . co11firmacáo mortes. Lembro
,)

crevo o teor dos dois telegrammas rneus a que combineis Ale (abreviatura de Capitao Alen-
naturalmente se refere o autor do opusculo, a carliense Ferna11des da Costa, engenl1eiro-
quen1 co1npete ainda explicar a procedencia chefe do districto telegrapl1ico ·d a Commissáo)
da informa9ao que recebe u, caso 11ao prefira atitude <leve ser tomada faz,e r se11tir Nhambi-
com se11 silencio a ce usar os f unccionarios do quaras nosso desgosto. Sauda~óes cordiaes"
Telegrapho Nacional de teren1 commettido a Como vedes, nao houve ce-11sura por ter o
fraude de divulgar despachos, o que lhes é- telegra phista Germano divulgado o facto, pois
severamente vedado pelo regulamento. Sao que'" o telegramma em que eu pedia sigillo,
do teor seguinte os mens despachos sobre o pelos motivos já accentuados, é de data ante-
caso: rior á divulga~áo pelos jornaes; em segundo
'"N. º 414 de 22 de Abril de 1919 logar, nao é verdadeira tambem, pelo ex~osto,
que a Commissao Rondon tenha publicado
URGENTE - Sr. telegraphista Germano protestos contra a '-!eracida.de do~ factos. dos
-- CUYABA'. quaes tivera conhec1mento 1mmed1ato por tele-
Respo~t~ vos~os 1-10-141-142119conve1n grammas cryptographados do dia 19, auando
absoluto s1g1llo ate conhecer causas determi- "A Noite" publicava seu telegramma a 23.
.
5~
~

- - -- 53 -

Finalmente na 2ª com1nunica~ao que aquí de moradores visinhos; e o tal arrasamento de


• pubiquei nos jor11aes estao esclarecidas as quanto existía "nos 11ucleos" é f alsidade tao
provide11cias tomadas para que o proprio te- monstruosa que chega a nos causar pasn10,
legraphista Gern1a110 partisse de Cuyabá, para mesmo a nós, velhos conhecedores da cora-
proceder ao inquerito qtre foi f eito no proprio gem com que mentem, e fazem mentir aos
local do incide11te. seus portavózes, os embiocados at1tores das
Taes sao as explica~óes que tenl10 a dar- falsidades de c1ue o Snr. Rocha, com i11teira
-vos sobre o caso em questao. Saúde e Frater- inconsciencia do papel que está representa11-
nidade - Amilcar A. B. JV/agalhiies, Capitaó do, assume a responsabilidade de ser o propa-
de E11genheiros, Chefe <lo r~scrip~o1~io Central gador.
da Commisao .de Li11has 1"'elegraph1cas Estra- Ao 11ovel historiador, que lhe aproveite o
tegicas de l\1atlo Grosso ao Amazonas. ter assim reduzido a honorabilidade de sua pa-
\ayra áquillo - que hizo Sancho por bien de
paz y para salir de un terrible aprieto y an-
gustia.
Na pagina 19, le-se:
"Em J3arra dos 13 ugres, alem de S. Luiz )Do fim da pag. 20 ao da 43 o livreto do
de Caceres, existe u111 nucleo subordinado Snr. · Rocha transforn1a-se em · rescende11te
áquella repartivao do l\1inisterio da Agricul- bouquet de referencias elogiosas sahidas da
tura. . penna de inumeros cavalheiros do Rio e
"·Sao f requentes os assaltos á propriedade de Sao Pat1lo, aos trabalhos e aos meritas ca-
alheia pelos Indios; as martes provocadas pe- techistas, e outros, dos reverendos padres Sa~
los seus co11flictos com mora.d ores visinhos; o lesianos. E' ·d e esperar que numa proxima re-
arrasamento de tudo que existía nos 11ucleos." edi~áo, esse florilégio appare~a acrescido do
(sic; de um nucleo, passou para nucleos!). depoimento "jrrefragavel" e insuspeito, mas
A nao ser a existencia em Barra dos Bu- sobretudo insuspeito, do ]aureado historiador
gres do Posto de Pacifica~áo, a que o autor dá da Colonisa~ao do Brazil. Desnecessario .será
o nome de núcleo, tudo o n1ais que se le 1?ª~ dizer, que desde já fica subentendido que · ~sse
iinhas transcriptas é refalsad~ mentira. Desde depoimento, como os demais, baseia-se no éri-
o dia em que, pela prin1eira vez, os indios ~a­ tério de Sancho Panza: "No la conocí ~ro, p·e ro
quella regiao, os Barbados, travaram rela~oes crnien ine conto'este eve11to, me dijo que era
de paz e amiz~d~ co!11 os empreg~dos do Posto tan cierto y verdadero, qu; podia bien quandó
en1 qt1estao, ate hoJe, nun.c a ma1s se deu um lo contase á otro, afirmar y· jurar que lo había
assalto delles contra a "propriedade alheia"; visto todo".
nao houve conflictos e muito menos mortes

- 54 -- - 55-

Do fim da pag. 41 á 46, o autor do opus- Ora, o primeiro livro que me cahe sob ss
culo dá urna lista da~ cousas que ig11ora sobre Yistas, depois de ler essas palavras do opusculo
o Servi~o de Prote·c~ao aos Indios e sobre a po- do Snr. Rocha, é a "Viagem " de Joao Severia-
si~ao do problema indigena entre nós e em no da Fonseca. Abro-o na pagina 313, e leio:
nossos dias. Essa lista confirma de modo ine- " . . . o igarapé de Trocan,o, segundo sitio onde
quivoco a mi11ha affrmativa de ter o Snr. existi u a actual villa de Borba, . . . - Diz Baena
Rocha escripto sobre esses assu1nptos sem que, ao fundarem-n'a, os porluguezes encontra-
previo conhecimento delles. r~m ahi dois jesuitas allen1aes, cujos nomes
Tal facto é lan1entavel, já o dissemos e cita: os padres Anselmo Echast e A11to11io Meis-
repetimos; porem nao menos lamentavel é lerburg, que ahi viviam havia mezes, e ;tinl1am
que o Snr. R¡ocha 11ao tivesse Jido o escripto a por paramentos duaiS pe9as de artilliaria. .
que deu o seu nome afim de evitar o desastre "Parece-me. porém, ( acrescen'ta J . Seve-
de aparecer perante os seus concidadaos dan- riano) .que ha nisso engano por parte do erudi-
do de si a iná ideia de ignorar as rela~oes co11- to escriptor paraense, e que esses canhoes fo-·
stitucionaes dos Poderes Publicos de sua Pá- ram para ali levados pelos nossos missionarios
tria, até o ponto de atlribuir á Directoria de para conterem em respeito o gentio l\1ura. ''
um ,Servi~o a responsabilidade de ter ficado Viro a pagina,e encon tro referencia á l\fis-
sem resposta ( segu11do afirma~ao sua) um pe- sao de S. Francisco, ou do rio Preto, pouco aci-
dido de informa~oes dirigido pelo Legislativo ma da foz do Macl1ado, a qua 1 tinha a protegel-
ao Executivo! a contra os Parintintins t1m destacamento milí-
tar installado no logar en tao denominado S.
que, hoje Calama.
iD a pag. 46 ao firn da 70, o autor do opus- Essa missao "parecen" a .J. Severiano "bem
culo diverte-se a dar as opinioes que o S11r. disciplinada" - (pag. 315) - ; n1as de u111a ou-
Rocha poderia ter sob,r e systemas de Religiao. tra, sobre o Manicoré, eis o que elle escreve, na
Nao lh'as toquemos: "Pues, peor es maneallo, pag. 319:
amigo Sancho"! "Em sua margem esquerda ha u1na aldeia
de indios. . . já domesticados e ahi reunidos
por ser mais f acil a missao dos civilisados do
Na pagi11a 67 do opusculo ,affirma-se cie;- "' que a catechese dos selvagens. - Paramos
assombradamente que - "os missionarios· nao junto a ella: desceu um frade italiano, mas ne-
f oram a inda P.ara os lados do Rio Madeira, onde 11hum indio atreven-se a vir a bordo ... Diver-
estao as malocas dos Parintintius"-e a isso se samente da Aldeia do rio Preto, esta nao nos·
devem, explica o autor, as mortes e depreda- deixou boa impressao. Todos os seus .morado-· '
~oes ca usadas pelos indios nas pessoas " e ·pro- res, que apareceram em i1umero superior a um
priedades dos seringueiros do rio Machado - cento, ... revelavam o maior desprezo do ·mun·-
( Gy-Paraná).
-56- - 57-

~o no pouco asseio de suas roupas e mesmo de Con1 ludo, em quanto o Governo de Minas
seus corpos ... A falta de asseio, tao rara nos registra assim o apparecin1ento e o fracasso,
indios ribeirinhos, admirou-me sobremaneira, no territorio daquelle Estado, de urna catecl1e-
e pareceu -me introduzida pela n1issao." se leiga desconh·e cida nas de1nais unid·a des da
As Iii:ih~s que al1i fica1n, provam, i1ao só, Republica, e ve frustrarem-se os seus reitera-
qué os m1ss1onarios, ao contrario do que affir- dos esfor~os para installar a Catechese Catho-
mou o autor do opusculo, "foram para os lados lica, visto ha.ver "falta absoluta de frades que
do l\fadeira", e nelle, e no proprio :\:fachado ou a esse servi~o queiram entregar-se", o Servi~o
Gy-Paraná, estiveram estabelecidos, como lam- de Protec~ao co11tinua a sua tarefa, iniciada
bem que os n1issionarios de hon tern, como os em 1911 e até boje nunca descontinuada, mas
de hoje, só se dedicam á "facil missao dos civ1- sim perturbada e tolhida pela desorganisa~ao
lisados"-e f og·e m á ''catechese dos selvagens~', provenie11te das aperturas or~ame11tarias de
- cuja aproximavao tratam de evitar a todo o 1914 para cá, de dar assistencia aos selvicolas
transe, inclusive a canhao, que en1pregaram do rio Doce, 11a parte do seu curso pertencente
quando e enquanto poderam I a l\1inas. Pelas seguintes photographias, o lei-
lor ficará conhecendo esses indios, coro os
qua.es nao ha frade que se queira meter, apezar
de ser isso urna inj ustiva porque elles, como os
Na pag. 71 do inexg.o tavel opusculo, le- demais selvicolas brasileiros, sao de muito boa
se: indol e, amigos lea.es de quem o.s trata com
1

"E' o Vice-Presidente da R.epublca, Dr. brandura e bondade, e constantes nas suas


:Pelphim Moreira, quem. na ultima mensagem, amizades. (Gravs. ns. 6, 7, 8 e 9).
dirigida ao Congresso l\tlii1eiro, assim se ex-
press(:l:
· "Está demonstrado que a catechese leiga
náo dá resultado satis/actorio. A maior diffi-
culdade, pois, que se encontra, para estabele-
cer um servi<;o comoleto de catechese das pou-
cas tribus de indios nomades. ainda existentes
no Estado, provém da falta absoluta de frades
que, a esse s~rvico queiram entreg-ar-se. O Go-
verno nrocura obter dos Exmos. Snrs. Arce-
hisno de Diamantina e hispo de Arassua.hy a
a·e signacao de frades CTll·P ~p Pnr:::lrre.cruem ·da
catechese desses indios e da direccao desse no-
'rº nucleo''. "
.~ \

..

Grupo de Indios Crenaes, de Minas Geraes. Photographia. tirada em 1911, pelo Ins¡.>ector do Servi~o de
P. aos lntlios de entiio, o Te ncnt.e Anto1úo Est.igarribiia, que os paci1icou.
A photographia representa-os taes como viviam no interior das florestas, alheios a todo e
qualquer contacto pacifico com os ch•ilisados

6
..
.. . '
'
'• - - - .. .. ..,. . .. ' ' ... - - ... ~ . . .
- - - - .
• • ,,¡..., • ....... • ......

Os mcsnios iuclios photogra.p l1ados ein Mar<;o d e 1919 pelo Inspector Si1veira J,,obo. t]ue se ve
no centro do g1•upo de bra~o cln<lo ao Chete Muin
i,

\
,

..

,r:

'

.- ~ . . .' . .- . , . . ~
- - . ' . .
~ . . .
• ~ .. ' ·~· .~~ . . . ,-,., ........ .:~·~ .... ~ • • • _ .. . ., . .... - •• ........- ..... ~.-....-..~-·--·~· . . . . ._ . r¿

Outra photographia dos n1esmos indios , tirada na mesma occaslffw-, pelo Inspector
Silveira Lobo

8
'

Out.1:0 g1·upo de indiios da ~esm.a t"l·ihu, habitantes das ma.ttas do rio Doce, em Minas
Gerae~. Ph.ütogra.phia · tfrada. ern l\'lar<;o de 1919, pelo Inspector Silveir·a Lobo

9
"'
,.

Na pag. 72, o Snr. Rocha volta a e11dossar


inverdades, e o faz com urna dese11voltura de
ca usar dó. Agora, obrigam-n' o a asssumir a
responsabilidade de co11tradizer quanto escre-
vi em meu officio 648-A sobre o que l1avia em
S. Paulo, em ma terla de catechese ·de indios,
ao tempo da crea~áo do ·Servi~o de Protec~áo,
e o que alli se passou, e se está passando, a
esse respeito, daquella época para cá. O Snr.
Rocha, coitado! subscreve cousas como esta:
"Nao sao ellas, (as informa~oes por inim
dadas em officio, com a responsabilidade e
p or for~a do cargo de Director que occupo no.
Ministerio da Agricultura, e sobre assumpto de
que sou teste1nunl1a presencial!)' 11ao sao ellas
a expressao da verdad e, ou entao, qua11do o
1

. signatario daquelle officio escreve11 essa parle,


. nao tinha "previo conh.ecimenlo" (o gripho e
aspas sao do Snr. Rocha) do que eslava fazen-
d o '' . . / . ..

• Ora, Snr. Rocha, sinto muito ter -de dizer-


( lhe, mas nao ha outro remedio sináo o f azer,
que ao ler essas suas palavras senti-me saltea-
do da impressáo d·e espanto e de engulho que
fez D. Quijote perguntar ao seu fiel escudei-
ro: - Qué rumor es ese, Sancl10 ?" e depois
- 60-

acrescentar, -- '•con tono algo gangoso: -


Pareceme, Sa11cho, que tienes n1 u cho miedo".

Deixando o Snr. Rocha nessa situa<;áo,


passo 8 occupar-me de coisa mais séria, qual
a de dar co1~heci1ne11to ao publico brasileiro,
pela transcrip<;ao que aqui fac;o do Decreto nº DEeRETO Ji. 614
·614 de 13 de Abril d·e 1918, do Governo da Co-
.Jombia, do estado de escravisa<;áo legal a que ( 13 de Abril de· 1918)
ficam reduzidos os miseros indigenas nos pai-
zes ainda 11ao trabalt1ados pelas ideias que Sobre gobierno y proteccion de los indige-
tornaram possivel ·e i1ecessaria entre nós a in- nas no civilisados de la region del Waupés.
stitui<;áo do Servi<;o die Protec<;áo. El Preside11te ,d e la Republica de Colom-
Para melhor comprehensáo da n1onstruo- bia,
sidade legal que se impla11tou na republica vi- En uso de sus facultad es legales y visto lo
1

sin ha com a execu<;ao desse Decreto, é preciso dispueto en el articulo 1º de la I"'ey 89 de 1890
saber-se que o nome dos indios nelle referidos . y 2º de la Ley. 72 de 1892; y oido el parecer de
é tirado do rio Auapés, contribuinte do Negro los Misio11eros católicos que oficialmente
e, num pequ eno trecl10 do seu curso, linha. di-
1
actuan en la precitada region del vVaupés,
visoria dos territorios Brazileiro e Columbia.-
no. A regiao é coberta de florestas ricas de cau- . DECRE'I'.A.:
cho, e a extracc;ao do respectivo leit e se faz,
1

quasi toda, com o auxilio do trabalho desses Articulo l P - Los indios salvages de las
mesmos indios. De sorte que o Decreto, cujas regiones del Waupés, no civilisados aun, pero
disposi<;óes se váo ler, faz nada mais, nada me- si reducidos a . Misiones, no estaram sujeitos a
nos do que isto: installa os M;.~innPros nomo·· las leyes comunes de la Republica y serán go-
no polio f or<;ado, legal e discricionario d.a ex- bernados en forma extraordinaria por los Mi-
plora<;áo do brac;o dos trabal11adores existen- sioneros encargados de su reduccion, de acu-
tes em toda aquella regia o! erdo con las facultades que para el ejercicio de
la autoridad civil, judicial y penal se les otor-
ga por este Decreto.
Articulo 2° - Los Su peri ores de las Misio-
nes i11digenas del vVaupés ejercerán las fun-
ciones de Directores y Protectores de los indi-
. " -6~ - -63-
genas, y las ejercerán sobre todos los indios f uéra de los términos j urisdicionales de los
colo1nbianos reside11tes en las riberas de aquel respectivos ~lisioneros bajo CU)' O cuidado s_c
rio y de sus afluentes. encuentren, a me11os que se trate d·el cumpli-
Articulo 3° - Son atribuciones de dichos mento de contratos debidamente celebrados
Misioneros en su caracter de Directores y Pro- con la intervenció11 de éstos últimos.
tectores de indígenas, las seguientes: g) Dar informe a las autoridades . civiles
a) A traer los indige11as a fin de que se sobre calquiera violación d·e los dir8ichos -Y
agrupen para ~ormar centros de poblacion; prerogativas d.e ·los indige11as y que . ellós mis-
hacer las demarcaciones · d e ·estos en sitios ade- mos no hayan podido suspender o corregir
cuado~; designar de entre los mismos indige- con su sola autoridad, a fin de que las ~utori­
11as los capita11es y age11tes de Policia que de- dades superiores adopten las provide11cias de
bam regirlos, y cambiarlos cuando las circun1- su resorte.
sta11cias lo exijam. h) Impedir que los llamados civilisados
b) Castigar con trabajo correcional suav-e especialmente los que 110 sean colombianos,
de uno a cinco dias, segun la gravedade del vayan a estabelecerse y pernoitar en las re-
caso, a los indígenas que se presentero en luga- ducciones o pueblos de indios que hayan for-
res publicos e11 estado d·e ebriedad, a los que mado los Misioneros, siI1 la expressa licencia
reña11 y .a los que cometam qualquiera otra de éstos.
falta que no revista gravedad contra la moral i) Dirimir las querellas o disputas que
publica. pt1edan surgir entre los indige11as de su redu-
c) Remetir con las _seguridades n·ecessa- cción, y tambie11 las que ocurran entre los in-
rias a la autoridad civil más imm ediata a los
1
dígenas )' los civilisados.
individúos que haya11 cometido algun delito o Articulo 4º - El Cornmissario del Wau-
falta grave, con la instruccion probatoria e in- pés y demás autoridades civiles de aquella re-
forn1e correspondientes, para que sean jusga- gion prestara11 su concurso a los Misio11eros
dos por las autoridades competentes. en la labor de reducir y civilisar a los indige-
d) Cuidar d e la pontual asistencia · a las
1
11as; harán que se resp·e ten e cumplan las deci-
escuelas de los niños de uno e otro sexo. siones que estos profieran en el ejercicio de
e) Proteger a los indígenas contra los abu- las facultades que les están conferidas.
sos de los civilisados que vayan a las reduéio- El Comisario mantendrá en los sitios que
nes o poblaciones de indios, e intervenir en los le indique el Superior de las Misiones los Agen-
contratos que celebren unos y otros afin de tes de Policía n·e cessarios para lograr el cumpli-
evitar que los primeros sean ·e stafa dos o enga- mento de sus mandatos, y este ·n ombramiento
ñados por los ultimos. podrá recaer en las mismas personas designa-
f) Impedir ·q ue los indígenas sean lleva-. das por los Misioneros para el gobierno de los
dos a trabajar en caucheras e ejecutar labores indios.

.
1 " -64-

Articulo 5° - Del presente Decreto se hará


una edicion especial en hojes su·e ltas para que
cada Misionero tenga sufficiente numero de
ejemplares en su poder, que sera11 fijados en •
Jugares publicos, afin de que debidamente •

llegue
. a conocimiento de los civilisados de la
reg1on.
Communiquese e publiquese.
Dado en Bogotá a 13 de Abril de 1918 - HOTH SOBRE 05 MUHDUSUeús
José Vicente Concha.
El Ministro de Gobierno - Miguel A radia A respeito <lestes indios ·e da missao entre
Me11dez. elles fundada pelos franciscanos da Prelazia
de Santarem, 11a urna noticia no "Relatorio
apresentado ao Snr. Coronel Dr. Candido l\Ia-
riano da Silva R;ondon, Chefe da Commissáo
d·e Linhas Telegraphicas", pelo notanico F. C.
Hoene, publicado como Anriexo ao 3º V. do
Relatorio .d~quelle Chefe. Dessa noticia, ex-
tratamos o s·e guinte:
. . . . "sal1imos .e m demanda do rio Cururú~
primeiro tributario do Tapajoz abaixo do S.
Manoel, ond·e . vive a maior parte dos i11dios
Mundurucús. Dura11te a subida <leste rio, visi- ·
tamos diversas malócas : .. ; estudamos as
con·dic~oes do indio, o estimulamos fazendo-
lhe ver que sao livres .e que se ·n ao dev·e riam
prestar ao regime11 feudal dos seri11gueiros,
q~e outra causa nao querem sinao ·e scravisal-
os, arrancando-os de seus lares e lavouras ... ·..
Os indio_s ~1undurucús sao dignos de nossa at-
ten~a·o, sim, talvez mais que muitas tribus ain-
da completamente alheias á cultura, porque
nao é justo qtle consintamos que o ga11ancioso
seringueiro se aproveite. destes pacatos ~bori­
genes .... No rio Cururú quasi todos os indics
sao devedores de grandes quantias aos ·seri11~
,. ..:__ 66 - - 67-

gueiros. . . . O Ca pitao Apomp·eu é um indio rencia sobre a Catechese dos Indios Munduru-
bonanchao e pacato em extremo; mor~ com cús" de D. r". Amado Q. F. M., Bispo-IPrelado
sua familia em urna boa vivenda, mu1to as- de Sa11tarem., impressa na Bahía, 1916: .
seiada e bem installada nas mai:gens de um ... "os Missi(o narios (Fs. Rugo e Luiz MeusJ
pequeno igarapé, trib~tario do Curu~ú. Cir: tiveram noticias dos indios Mandurucús; que
cundando as casas esta a bella ro~a 011d·e se ve viveín i1os campos geraes entre os grandes
de tudo: bananeiras, laranjeiras, abacate, can- rios Tapajoz e_Xingú. Estes indios nos Campo~,
na, algodao, mandioca, milho, mamao, .... ; chamados .Ca1nponeiros, a inda 11ao f ala1n a
mais adia11te se extendem as mattas 011de teem lingua brazileira ... : ...
os seus sering~;es cortados P'Or boas picadas e Os Missionarios, portanto, resolv·e ram pe-
estradas e nestes trabalham diariamente du- ..netrar i1os Campos para terem contacto corr1 os.
rante a saffra e extraem muitas arrobas de indios campon.eiros ......... .
gomma todos ' os annos. Nos mezes que nao - Os dois padres resolveram su·b ir este rio
trabalham no seringal f abricam f arin~a, pol- (o Cururú) . Depois de urna viagem de quasi
vilho e tapioca; ....... Entre os recibos de u·m a semana, ...... deixaram a canoa 'é pro-
gomina e tapioca e farinha, vi algu11s que ac- curaram encontrar os indios. Caminhando pe-
cusavam quantidades bem grandes, ass1m. co- los campos, finalmente acertaram com um
mo noventa arrobas de gomma, setenta e cinco grupo de i11dios ...... .
paneiros d·e f arinha, etc. , que f oram entre- O indio. . . nao trabalha na ro~a, nao cui-
gues .d e tima só vez ao regatao ...... ·, . . da da planta~_ao .....
A nossa explora~áo no rio Cururu fo1 ate Os nossos l\1undurucús mostram para
á maloca Capepi o.u "Capepi-uat" onde os con111osco muita confian~a e até o presente
Francisca11os Frei Rugo e Luiz Meus, funda- nao parece, que baja perigo de urna insurrei- \
ram a sua missao. Estes missio11arios 11ao es- ~ao. Possivel é, isso 11ao se póde negar. Isso se
tavam 11a occasiao (mar~o de 1912) ·e m que lá ve tambem dos acontecimentos, que ha uns 14
chegamos· encontram-0s apenas um camarada an11os tiveram lugar na ·l\1issao da Barra lla
delles qu~ tomava con ta das bagagei:s. Existe Corda no interior do Maranhao. Os indios ahi,
alli urna ca pella f eita dé f olhas de p111doba ... . . . . se levantaram contra os Missionarios ....
A maloca é a mais decahida das que encontra- os indios rebeldes mataram 5 Padres e as 9
mos; a iniseria apparece alli em ca~a canto ... Irmas.
Disseram as poucas mulheres que la encontra- Nós tambero. . .. . . <levemos sempre con-
mos, que exist_em ro~as e plantac;óes mas 9ue tar com alguma trai~ao,. que tambero entre ps
nao sao grandes." (Pags. 170 e 1.71, da publ1ca- Mundurucús · será possivel ....
~ao nº 23, da Commissao ~o~don ~ . Que nao se póde, aliás, deixar a descon-
Compare-se o que ah1 f1ca d1to p·elo Snr. fianca em alguns i11dios, isto se ve de aco~te­
I-Ioene, com o que vamos extractar da "Confe- cime"nto qtíe teve lugar na Missao do Mara-
1
'

-68- -69-

nhao. . . . . ( um) indio trouxe ao ~1issionario ctor i~terino do Servi~o de Protec~áo aos In-
um -presente, um bom peda~o de carne de urna dios, pelo Snr. Dr. l\ilurillo de Camp.os, medico
ca~a preciosa. Q Missio11ario agradece u m u1- da Commissao Rondon e companhe1ro do Sn-r~
to mas desconfiado,. . . . . deu um pedavo au Hoene na expedicvao ao rio Oururú: . .·
ca'c.horr~, que rneia hora depois estava morto. Os indios Mundurucús - "for11ecem mu1-
..\. carne tinl1a sido enve11enada. ta farinha d'agua, canna, milho e borracha a
Cousa sem:ell1a1ite póde tambem aconte- troco do que mais nec~ssitarn,. _ . . .
cer..11a nossa l\1issao do Ct1rurú ..... "As malocas nao tem a f e1vao pr1m1t1va .:.__
Pouco a pouco elles imitam tan1bem .os sao amplos e mag11ificos barracóes, .tendo as
!)adres ..... , que tem nas suas rovas mu1to . ~berluras protegidas por tel~s me~al~1cas.
f eijaó, milho, batata doce,. . . etc. "Usam redes 11ossas e mosqu1te1ros. Ser-
. . . . . O Gover110 ainda nem nos deu o titt1lo Yem-se de armas de f ogó com pericia e man-
do terreno, :e m que fundamos a Missao, o que tem grandes cria~óes de gallinhas. . _
aliás o Governo já devia ter dado. Quem oc-- "Conservam a inda a sua orga111sa~ao so-
cu pa terra devoluta e beneficia, póde pedir o cial o tuchaua sendo o intermediario das ne-
titulo e tero direito d·e obtel-o ...... . gocÍa~óes dos civilisados com os indios. ·.
IE' verdad e, que N osso Senhor é a nossa "Todos estes tuchauas acharo-se ma1s ot1
gara11tia, mas precisa tambem empregar os 1ne11os individados. Devem na media de 5 a 6
meios ordinarios, que a prude11cia humana contos de réis cada um e sao · home.ns muito
aconselha. serios. · •
. . . . ,. se 110 f utt1ro f or construido urna :estrada "'A maloca - Sa11to Anto·n io Sentou o Pe
de ferro de Santarem a Cuyabá, como já ficou :__ tem 40 indios mais ou menos., e11tre adultos,
sancionada 110 Congresso federal, guantas mullTeres e crean~as.
vantagens nao resultariam da existe11cia de urna "Andam todos vestidos e poucos sao os
ii.lissáo b·e m desen·v olvida nos Campos gerae.s <1ue cornprel1endem o portuguez. ·
entre o TapaJoz e o Xingú! ...... " . "Tem por tuchaua o indio Joaquim Affon-
Damos aqui por terminados os extractos so m uito moco a inda e dotado de grande in,-
da "Conferencia sobre a Catechese dos Mun- teiligencia -e . affabilidade. E' aviado pela
<lurucús" - de D. F. Amando, Bispo-Prelado casa Siqtreira & Comp. e deve de 4 a 5 contos.
cte Santarem. Gra~as a elle nos f oi possivel, a mim e.ªº bo-
t~nico Hoene, emprehendermos a subida do
Cururú em visita ás outras malocas.
"O Cururú, riquissimo de recursos natu-
A essas informa~óes, juntamos as seguin- raes constitue a l\1undurucurania. Ao longo
tes, extrahidas de urna nota escripta fornecida de s~as margens. em malocas de 40 a 50, vivem
~lO Dr. José Bezerra Cavalca-n ti, quando Dire- dispersos mais ou me11os 1. 500 indios. Sao
;

- 70 ":"""""" -71-

ell~s os habitantes exclusivos desse igarap~, .e do seu transporte até Itaituba. Nessas via-
nao consentindo até hoje que os seringueiro~ gens, dada a sua susceptibilidade aos nossos
ahi penetreni para explora~ao da industria. ex- males, facilmente adoeciam e muitos mor-
tractiva. · riam. De 60 indios que desciam, resistiam uns
. "Esse facto com certeza é ·que os preser- 10 óu 12. Eram precisos novos contingentes e
vou da infeliz sorte do~ Apiacás. Todos os l1a .. nestes, novas e mais numerosas baixas se da-
bitantes do Cururú reconhecem a autoridade vam. Quando f rei Peli110,. e11riquecido pela se-
suprema do tachaua Pomp·eu, que 1nora no ringa, deixou a colonia· do Bacabal e, muito
igarapé Rotirarini. . bem de f ortu11a, se installou em Roma, a po-
"Deve 1Pompeu ao ·seringueiro Josué An- ula~ao mundurucú eslava reduzida á meta-
drad e 6 :000$000. . · e. O governo ·d o Pará chegou a mandar f azer
·"Pela sua situa~ao, bem estar e asseio, é s'ndi~ancias a respeito desses factos, nao ten-
a melhor maloca.· . dq passado do papel. Estes factos, relata-os o
"·Pompeu assignala no Cururú a existen- Corone] R. P. Brazil.
cia d·e 18 malocas - (aqµi o Dr. Murillo dá os "Dahi vem o pouco sucesso da missao
nomes dessas ·malocas, que omittimos). actual. - Acresce que nao só os indios como
"Na maloca do Capipi-uat f omos e11con- tambem os seringueiros accusam os frades"
trar a igreja provisoria ahi construida em Ju- - de causas e em ·termos que revellam nao
·nl10 d·e 1909, mais ou men·os, por urna missao lhes votarem estima nem respei to.
religiosa allemá, chefiada por frei Rugo Meus,

·" Notamos que a missao nao era hem ac:
oeita pelos i11dios, que pouco a pouco se vao
n1u.dan·d o e deixan.do a igreja isolada. . ..
"Os tuchauas Pompeu e Joáo Affonso di-·
zem nao qt1erer negocios co·m os padres que
nem se animam a chegar ás suas malócas.
. ·" O motivo dessa repulsa parece estar no
horror que os mundurucús ficaram tributa·n -
do ás missóes desde urna que, de 1881 a 84,
chefiada por f rei Pelino de Castro valva, se es-
tabeleceu no Bacabal, proximo ao lga pó-assú,
na margem direita do Tapajoz.
"Ahi estiveram reunidos 800 indios mu11-
durucús, que fizeram a colonia muito prospe-
ra . Della, porem, só restam ca poeiras. Os in-=
dios foran1 obrigados ao trabalho da sering~

7.3
. ~

....

,

BOTH 508.R.E ff eHtEeHESE EM 5. PHULO


C·s francisca11os antes de se estabelecerem
:em Pennapolis, estiveram em Campos Novos
do Paranapan·e ma, nas immediavoes da villa
de Platina. Ali construiram duas casas de ína-
·d.e ira, urna destinada á escola, para as crianvas
do logar, e outra para moradia dos missiona·-
rios. Esta possuia porao, em cujas paredes ha-
via aberturas, como seteiras, pelas quaes os re-
spectivos 1noradores podiam atirar contra
eventuaes assaltantes. - Semelhante precau-
vao parece nao ter sido inutil, visto como
essas casas acabaram assediadas por morado-
res do lugar; em 1916, o auxiliar do Servivo de
Protec~ao, José Candido Teixeira, vi u a pri-
meira inteiramente destruida e a segunda con1
numerosos signaes de ter soffrido fórte tiro-
- teio.
A estadia dos frad~s alli nao s.e traduziu
em beneficio de especie alguma para os mise-
ros indios habitantes daquelles sertoes. Em
Platina residía um dos n1ais odiosos bugreiros,
ou matadores de indios , de que jámais te11ho
tido noticia em todo o Brazil. Elle vinha, desde
muitos an11os atraz, perseguindo e ext.ermi-
nando os indios Otis, vulgarmente denomina-
dos Chavantes, gente inoffen si va, que ·nem
-74- -75-

urna só vez se lembrou de reagir contra os seus para nos prevenir de que nao nos d·evemos ad-
f erózes matadores. Essa matan~a continuo u mirar de ser ella igual1nente impotente para
pelo tempo em que os frades estiveram naquel- produzir analoga modifica~ao nas popula~óes
las duas casas e com tao diabolicos resultados pertencentes a outras civilisa~óes. ·
qu.e, em 1911, quando o e11tao tenente l\fanuel As indias, e tres indios, que viviam em Pla-
Rabello, Inspector do Servi~o de Protec~ao, es- ti11a como eséravos do Coronel Sa11ches, só fo-
teve em Can1pos Novos para obstar nova bati- ram restituidos á liberdade em 1911, pelo Capi-
da do alludido bugreiro contra os Caingangs tao l\1anuel Rabello, nessa epoca. T·eil'ente .e In-
do rio do Peixe, soube estar.em os miseros Otis spector do Scrvi~o de Protec~ao em Sa·o Paulo,
reduzidos a 3 mulheres, que vagavam perdidas o qual tambem conseguio o que n u11ca 11aviam
pelos campos! .co11seguido os n1issionarios d:e Platina, isto é':
· Analogam,e nte, continuaram-se as batidas qu·e cessassem as deshuma11as expedi~óes de
ou dadas do mesmo bugreiro contra os Cain- exterminio contra as aldeias dos Oaingan·g s.
gangs, ou Coroados, habitantes da floresta que No e.n tanto, o or~ame11to do Estado d:e Sao
se levantava na borda daqu.elles campos e es- Paulo continuava a consignar urna verba· de
tendia-se para a regiao regada pelos rios do Pei- 10:000$000, ·110 titulo Auxilios e Subven~óes,
xe e Aguapel1y - (Feio). destinada á - "Catechese dos. indios
. '
no Esta-
Esse bugreiro, o · Coronel Sanches, era Ghe- · do". ·
fe politico. ·e a1nigo ou, pelos n1enos, relaciona- Em 1912, tratei de me 'informar no Th e-
1

do com os frades em questao. No emtanto, es- souro do Estado si essa verba era entregue a al-
tes nao conseguiram, ou nao procuraram con- guem e, no caso affirmativo, quem a recebia. .
seguir, que o bugreiro ·suspe11desse o seu Verifiquei entao, que ella era regularmente e~­
criminoso e truculento modo de agir contra os tregue a Frei Bernardi110 de L.avalle, Superior
in offensivos Otis, e mi1ito me11os que se absti- dos Franciscanos, que prestava co11tas ao Tl1e-
vesse das batidas contra os Caingangs. Mas zouro da applica~ao que dava ás respectiva_s
tambem os miesmos frades nem siquer modifi- importa11cias mediante a apresenta~ao de reci-
cara1n os h·a bitos irregulares de vida desse civi- bos de varios f ornecimentos de niateriaes ad-
lisado, que tinha, e continuou a ter na residen- quiridos para os indios de sua Catechese. -
cia de sua propria familia, urnas indias aprisio- Nesse tempo eu já co11hecia touo o Estado de
11adas por occasiao das batidas contr~ os ~ain­ S. Paulo, do ponto de vista que interessava ao
gangs, e das quaes fizera suas concubinas. Este Servi~o dos Indios, de que era, desd·e J aneiro de
caso, inostrando que a catechese é impotente 1912, o Inspector. As informacóes directas que
para modificar até mesmo os pensamentos, os possuia, davam-me a convic~ao de nao existir
senlimentos e actos das pessoas nascidas, crea- contacto de esp:ecie alguma, nem tentativa de
das e ma11tidas no seio da Igreja a que perten- contacto, entre membros do Clero Catholico~ ou
cem o~ catechisadores, parece muito proprio de qualquer outro, e indio ou indios de qual-
t
'

-76- -77-
• •
quer denominaváo. Comtudo, nao me pareceu mandando-me carta de apresentavao para os
licito ter desde logo como certas essas informa- respectivos Superiores.
~oes, já que el,Ias parecian1 desm entidas pelo
1 A esta 111spectoria occorre o dever de nao
facto de Freí Bernardino receber do "fhesouro á só-secu11dar 05 esfor~os de V. Reved1na. na ob-
inencionada subVienváo e entregar ao mesmo tenvao e manutenvao das terras actualmente
Thesouro docun1entos comprobatorios de tel-a occupadas pelo indios da missáo ou missóes de
applicado de accordo coma i11tenvao do gover- catech·ese, como tambero de auxiliar a ac~áo
no, manifestada no titulo da leí orvamentaria. de V. Revdma. com ro upas, f erramentas, se-
Para esclarecer a situavao, escrevi a se- n1entes e o 1nais que f or necessario para o in-
guinte carta, que mandei entregar por um por- cren1ento de obra tao n1eritoria como é essa da
tador de conf ianva, 110 co11vento dos Fra11cisca- civilisa~ao dos nossos selvicolas.
nos: Agtiardando a resposta de V . Revdma.
"S. Paulo, 26 de Deze1nbro de 1912. fenho a honra de a presentar a V. Revdma. os
Reverendissimo Freí Bernardino de La- protestos de mi11ha alta estima .e disti11cta co11-
valle. sidera<;-ao.
D . Superior dos Franciscanos. SAÚDE E FRATERNIDADE. O INSPECTOR (assº)
L. B. Horta Barbosa". ··
Na qualidade de Inspector do Servi~o .d e •
Prolecvao aos Indios 11este Estado, e deseja11do Na manha do dia 4 de Janeiro a.e 1913 vie-
conh ecer a missáo ou missoes de catechese
1
ra111 á sala do Palacete Bricola, onde f uncciona-
ma11tidas e dirigidas pela Ord~m de que é V. va a lnspectoria do Servivo de Prot.ecvao, dois
Reved111a . dig110 Superior; afim de prestar ao frades, dos qua es um, f rei Boa ventura, era meu
MiI1isterio da Agricultura as infor1na<;oes neces- antigo conhecido, e o outro aparecia-m·e pela
sarias ao ·e xacto cumprime11to do disposto no primeira V·ez, e disseram-m·e que vi11l1am a
Art. 2º e seus paragraphos, do Regula1ne11to mandado de Freí Benardi110 de Lavalle para
baixado com o decreto Nº 8. 072, de 20 de .T unho trazer resposta á n1inha carta egue essa respos-
de 1910, venho pedir a V. Revedma. o obsequio ta consistía no seguinte: Antigam·e nte (nao pre-
-· de me informar quaes e qua11tas sao as aludi- cisaram a epocha) tiveram urna missao no Es-
das missoes de catechese, a navao ou na~óes a tado do Paraná, a qual cessara com a morte de
que perte11cem os indios sobre que ellas ac- frei Timotheo; no momento em que falavam,
tuam, os pontos do Estado em que s e acharo tinham urna missao na foz do rio Verde, afflu-
ellas localisadas, e, em geral, quaesquer outras ente da margem direita do Paraná, e, portan-
informavóes. que V. Revedma. en tend,er se_r to, no Estado de Matto Grosso; e, finalmente,
de utilidade para o fim que se te1n em vista. que no Estado de Sao Paulo e com indios pau.
Outrosi1n, rogo a V. Revedma. o obsequio listas, nao tinham servivo de especie alguma.
de autorisar-me a ir visitar as ditas missóes, No projecto de or~amento organizado em
..

-78- ,,

l913 para 1914, o Governo nao incluio a sub-


venvao de 10 contos que até entao pagara a
}""rei Bernardino "para a Catechese dos Indios •
no Estado". - · l\1as 11a sessao da camara dos de-
putados de 15 de Dezembro de 1913, varios de-
putados apresentara1n duas e111endas, n1a11da11-. ,•,

do restabelecer aquella subvenvao. En tao eu


prestei a esses dept1tados, ao Snr. Se11ador Luiz,
Piza e ao publico, por intermedio do Jornal "O NOTH SOBRE HS eoLONIHS SHLESIHNH 5 EM 191 t
Estado de S. Paulo" - esclarecime11tos sobre a
verdadeira situavao do problema i11digena na-
quelle Estado. As duas emendas cahiram no 'Trechos do telegramma do te11ente Coro-
Senado, e assim o orvamento para 1914 nao nel Rondon, ao Sr. Dr. Pedro de Toledo, Mi-
trouxe a verba da rubrica - "Para catechese nistro da Agricultura, expedido de Coron.el
dos Indios no Estado" . Ponce, a 17 de Julho de 1911, e recebido no Rio
a 23 do mesmo mez.
. .. ..
. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..
• Deixei expressos como .Director do S. de
P. aos Indios as mi11has congratulavóes pelos
resultados obtidos, embora deficientes; os meus
votos pelo progresso .real dos indios e a espe-
ranva que nutro pelo melhoramento da condi-
~ao daquelles assim aldeiados, desde que os
missionarios observem os conselhos que pes-
soalmente dei a cada director e :especialmente
ao Inspector Geral da Missao, Padre Malan.
"O processo que os padres insti tuiram pa-
ra alimentar e vestir os indios é vicioso por-
qu.e os induz a nao conhecerem jámais a nossa
moeda, levando-os a falsificar o bilhete que
e1nittem. Fazem larga emissao de pequenos
cartoes de papelao e rodelas de f olhas de flan-
dres, dando a cada bilhete desses o titulo de
- um dinheiro -, com o valor simt1lado de
250 réis. O indio ou india que mais trabalha,
ganha 4 dinheiros, com os quaes adquire o seu

-80-

_alimento diario: 3 espigas de milho, 2 raizes


de ma11dioca, dois p·eda~os de canna e, ás ve-
zes, pequena por~ao de car11e de vacca.
.. . . . •. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Os objectos que a missao obtem por cari-
, 1

dade publica ou compra com a subve11~ao dos


governos Estad ual e F·e deral, sao cotados por ...... ....._
pre~os fabulosos; por exemplo: um machado
custa 100 dinheiros; 11m cobertor outro ta11to.;.
um facao mais do ·q ue isso; .duas pe~as de rou-
pa grossa 45 dinheiros, etc .
.. .. . . . . .. . . . . .. . . .. .. .. .. . . .. ..
~1uito a desejar deixam ainda taes colo- J

nias. Como porém sao ellas particulares e ne-


nhuma interven~ao nos cabe além die fiscali-
sal-as para que o indio 11ao seja ·escravisado,
nada mais do que conselhos pu·d e emittir, espe-
rando qu;e produzarri effeito a favor dos indios
e garantia das proprias colonias.
.. .. .. .. • • • • • • • • • • • • • • • • • •

..' .

- - --

...

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai I

www.etnolinguistica.org ..
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