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Artigo Científico
Resumo
Abstract
Considering the complexity of mental and psychic functioning, this article discusses the relations be-
tween beliefs and human thinking. It assumes that processes of human thinking involve not only cogni-
tion but also suffers the influence of other aspects such as affective or cultural (beliefs). The article
presents the results of a research that studied the possible influences of beliefs in human thinking. A
questionnaire was applied to four groups (Catholics, Adventists, Spiritualists and academic students
without considering the religious tendency), a total of 100 persons. The questions are concerning hu-
man sexuality themes; it was asked the personal positioning and subject’s religion positioning. Results
indicated the influence of beliefs and, simultaneously, the influence of other factors in human thinking,
that indicate the complexity of mental functioning and of relations between culture and subject. ©
Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 134-149.
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ando a maneira de ser, pensar, agir e sentir de relação deste conjunto como um todo junto ao
cada ser humano. meio.
Adotar este modelo como explicação Segundo a representação de Araújo
para o funcionamento psicológico do sujeito (2003: 156), a seguir, o sujeito psicológico é
implica considerar que em qualquer situação constituído por diferentes dimensões – cogni-
da vida cotidiana entram em ação diferentes tiva, afetiva, biológica e sociocultural – e seu
aspectos relativos às diferentes dimensões funcionamento se dá a partir das inter-
constituintes do sujeito: o funcionamento bio- relações destas entre si e com o mundo exter-
fisiológico do organismo, as estruturas cogni- no – físico, interpessoal e sociocultural – com
tivas, os sentimentos, emoções, valores, cren- o qual o sujeito interage:
ças, desejos do indivíduo, bem como a inter-
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ta à mente humana pela cultura. Desde o nas- De acordo com Vygotsky (1998), a in-
cimento, através da cultura familiar e, poste- ternalização é a reconstrução interna de uma
riormente, através da cultura social, o imprin- operação externa ao sujeito e implica uma sé-
ting vai impondo sua marca e, tal qual uma rie de transformações psicológicas, a seguir:
cicatriz, passa a fazer parte da constituição do
sujeito, sua individualidade, e com ele perma- a) Uma operação externa é reconstruída e co-
nece continuamente. meça a ocorrer internamente ao sujeito;
Entretanto, a cultura exerce suas influ- b) Um processo inicialmente interpessoal tor-
ências não apenas externamente, impondo sua na-se intrapessoal. As funções superiores
marca, mas também internamente, fazendo (como é o caso do pensamento), segundo
emergir do próprio sujeito o poder de suas Vygotsky, originam-se das relações entre
idéias, suas crenças e paradigmas. Em muitos os indivíduos e, no desenvolvimento da
casos, estas influências vão além, de modo criança, aparecem inicialmente no nível
que a cultura – através das idéias, de suas in- social, entre pessoas (interpsicológica) e
fluências no pensamento e na visão de mundo posteriormente no nível individual, no in-
– age também em outra direção: é ela que i- terior da criança (intrapsicológica).
gualmente “impede de aprender e de conhecer c) A transformação do processo interpessoal
fora dos seus imperativos e das suas normas, em intrapessoal vem como resultado de
havendo, então, antagonismo entre o espírito um longo processo de desenvolvimento.
autônomo e sua cultura” (Morin, 2002b: 35).
Assim, para Morin, a cultura passa a Nas palavras do autor,
fazer parte do sujeito e não imprime apenas
suas marcas, mas traz também uma consigna- “O processo, sendo transformado, con-
ção de como deve o sujeito organizar, conce- tinua a existir e a mudar como uma
ber, lidar com o mundo ao seu redor e com os forma externa de atividade por um lon-
demais seres humanos. go período de tempo, antes de internali-
Diante de tais considerações e partin- zar-se definitivamente. (...) [as funções]
do do pressuposto de que as crenças possuem somente adquirem o caráter de proces-
suas raízes na cultura, conforme colocamos sos internos como resultado de um de-
anteriormente, é possível afirmar que o sujei- senvolvimento prolongado. Sua trans-
to, ao mesmo tempo em que possui determi- ferência para dentro está ligada a mu-
nadas crenças e tende a agir de acordo com danças nas leis que governam sua ativi-
elas, é também, em certa maneira, tomado por dade; elas são incorporadas em um no-
suas crenças, passando assim a pensar e a en- vo sistema com suas próprias leis.” (Vy-
xergar o mundo através delas. Neste aspecto, gotsky, 1998: 75)
a crença é ao mesmo tempo uma forma de
guiar as condutas e também de limitá-las. As idéias de Vygotsky, como é possí-
Entretanto, é preciso considerar que, vel notar, auxiliam na compreensão dos pro-
se por um lado o imprinting imprime as mar- cessos psicológicos envolvidos na internaliza-
cas da cultura no sujeito, por outro, como já ção dos aspectos culturais pelos seres huma-
afirma o próprio Morin, o sujeito não é passi- nos, a qual está intimamente relacionada ao
vo nesta relação. Vejamos. próprio desenvolvimento do sujeito.
Adentrando mais especificamente o A partir dos estudos de Vygotsky,
campo da Psicologia, encontramos os estudos Martins e Branco (2001) abordam igualmente
do psicólogo russo Lev S. Vygotsky. Dentre o conceito de internalização, ao discutirem as
seus estudos sobre as relações entre cultura e relações entre cultura e sujeito. A partir de
sujeito, destacaremos, no presente trabalho, uma perspectiva sociocultural construtivista,
suas considerações acerca do conceito de in- propõem considerar a relação bidirecional que
ternalização. caracteriza a transmissão da cultura para o
sujeito. De acordo com estes autores, os parti-
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soas e relações ao seu redor, e também consi- A abstração de elementos ocorre uma
go mesmo. vez que o sujeito seleciona alguns elementos
Os Modelos Organizadores do Pensa- da realidade observada para que constituam o
mento – que influenciam a forma de agir, modelo organizador. Assim sendo, nem todos
pensar, ser e sentir do sujeito, assim como a os elementos da situação observada são ne-
própria construção do conhecimento – são cessariamente abstraídos e, ao mesmo tempo,
construídos com base em elementos estrutu- o modelo organizador pode contemplar ele-
rais internos ao sujeito, mas também externos mentos que não se encontram na realidade e
a ele, ou seja, os conteúdos da realidade. De que são, assim, inferidos pelo próprio sujeito.
acordo com as autoras, Na elaboração do modelo organizador, os e-
lementos que não são vistos como significati-
“Concebemos um modelo organizador vos ou pertinentes são desconsiderados e pas-
como uma particular organização que o sam a não fazer parte do modelo elaborado.
sujeito realiza dos dados que seleciona e Aos elementos que são abstraídos, o
elabora a partir de uma determinada si- sujeito atribui significados. Não há, portanto,
tuação, do significado que lhes atribui e no modelo organizador, elemento sem signifi-
das implicações que deles se originam. cado. Entretanto, segundo as autoras, contex-
Tais dados procedem das percepções, tos diferentes podem levar um mesmo sujeito
das ações (tanto físicas como mentais) e a atribuir significados diferentes a um mesmo
do conhecimento em geral que o sujeito elemento, da mesma forma que, a este mesmo
possui sobre uma certa situação, assim elemento, sujeitos diferentes podem atribuir
como das inferências que a partir de tu- significados diferentes.
do isso realiza. O conjunto resultante é O estabelecimento de implicações e/ou
organizado por um sistema de relações relações diz respeito às conseqüências que o
que lhe confere uma coerência interna, a sujeito atribui na relação entre elementos e
qual produz, no sujeito que o elaborou, significados do modelo em questão.
a idéia de que mantém também uma co- A construção do modelo organizador
erência externa, ou seja, uma coerência depende de como estes três processos, que
com a situação do mundo real que re- ocorrem simultaneamente, são articulados in-
presenta.” (Moreno et al., 1999: 78) ternamente pelo sujeito: um determinado ele-
mento é abstraído em função do significado
De acordo com o trecho acima, é pos- que lhe é atribuído no contexto da construção
sível verificar que, como se baseiam na repre- de um determinado modelo, e destes dois as-
sentação e interpretação do sujeito, os mode- pectos dependem as implicações estabeleci-
los organizadores nem sempre correspondem das.
exatamente à situação do mundo real. Desta Um aspecto importante a ser ressalta-
forma, embora confiram ao sujeito uma “coe- do é que a construção dos modelos organiza-
rência interna”, a qual, por sua vez, “produz dores permite a imaginação do sujeito, a infe-
a idéia de uma coerência externa”, isso não rência de novos elementos (Arantes, 2000),
significa que o modelo construído correspon- pois o modelo organizador pode ser constituí-
da exatamente à realidade que representa. do também de alguns elementos não necessa-
Segundo Moreno e colaboradores riamente presentes na realidade. Tais elemen-
(1999), o sujeito constrói os modelos organi- tos passam a integrar o modelo organizador
zadores a partir da avaliação que faz diante de construído, adquirindo tanta importância
determinada situação do mundo real, processo quanto os demais na constituição do modelo.
em que estão envolvidas as seguintes ativida- A imaginação do sujeito pode se basear em
des cognitivas: abstração de elementos, atri- aspectos da razão, de natureza lógico-
buição de significados e estabelecimento de matemática, mas também de outra natureza.
implicações e/ou relações. Vejamos: E, desta forma, podemos dizer que a Teoria
dos Modelos Organizadores avança no senti-
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do de considerar que a organização do pen- lher?” e Questão B – “Para sua religião, qual
samento está relacionada não apenas a aspec- o papel da relação sexual no relacionamento
tos (e processos) cognitivos, mas também aos entre um homem e uma mulher?”.
sentimentos e emoções, desejos, fantasias, Para a análise dos dados, foram identi-
representações sociais, crenças, que influenci- ficados os modelos organizadores aplicados
am os próprios processos mentais de seleção pelos sujeitos, a partir das respostas dadas em
de elementos, atribuição de significados e es- cada uma das questões. De posse destes da-
tabelecimento de implicações. dos, foram analisadas as relações entre a dis-
É neste sentido que a Teoria dos Mo- tribuição dos modelos organizadores dentro
delos Organizadores do Pensamento permite- de cada um dos grupos entrevistados, bem
nos considerar que as crenças pessoais podem como as relações entre o posicionamento de
exercer tanta influência no pensamento hu- um mesmo sujeito diante de ambas as ques-
mano quanto os aspectos cognitivos. É neste tões.
contexto, portanto, que se desenvolveu a pes-
quisa apresentada a seguir. 7. Resultados e discussões
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Modelos Organizadores %
Modelo 1 Relação sexual pautada em princípios religiosos tradicionais (criação de 37
Deus, casamento, procriação)
Modelo 2 Relação sexual como elemento que define a continuidade ou não do relacio- 8
namento entre o casal
Modelo 3 Relação sexual como fator de união entre o casal 24
Modelo 4 Relação sexual como complemento do relacionamento entre o casal 24
Modelo 5 Relação sexual valorada de diferentes maneiras, em função do tipo de rela- 7
cionamento entre o casal
Tabela 1 - Modelos organizadores e freqüência (%) considerando o total de sujeitos na Questão A.
Gráfico 1 - Distribuição dos modelos organizadores referentes à Questão A nos diferentes grupos.
• Análise da Questão B: “Para sua religião, qual o papel da relação sexual no relacionamento en-
tre um homem e uma mulher?”
Analisando os dados da Questão B que aplicaram este modelo afirmaram ser ca-
podemos notar uma grande quantidade de su- tólicos, e que a maioria dos sujeitos do grupo
jeitos aplicando o Modelo 1, pautado em católico aplicou o Modelo 1, veremos que, em
princípios ligados tradicionalmente à religião, nossa amostra, uma mesma religião deu ori-
correspondendo a 61% da amostra como um gem a raciocínios diversos, orientados em di-
todo e à maioria dos sujeitos dos grupos cató- reções opostas. Este dado nos faz considerar
lico e adventista. que as crenças, relacionadas a uma cultura,
O que chama a atenção, entretanto, é o não são internalizadas de uma mesma maneira
grupo de estudantes, onde encontramos uma por todos os sujeitos, sendo que outros aspec-
parcela de 6 sujeitos aplicando o Modelo 5, tos subjetivos (ex: sentimentos, valores, co-
que considera a postura religiosa insuficiente nhecimentos do sujeito) parecem atuar na
e antiquada para explicar o papel da relação forma como os indivíduos incorporam suas
sexual. Ao notarmos que todos os estudantes crenças.
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Modelos Organizadores %
Modelo 1 Relação sexual pautada em princípios religiosos tradicionais (criação de Deus, 61
casamento, procriação)
Modelo 2 Relação sexual exige responsabilidade, pois traz conseqüências 12
Modelo 3 Relação sexual como fator de união entre o casal 7
Modelo 4 Relação sexual como complemento do relacionamento entre o casal 7
Modelo 5 A postura religiosa é insuficiente, antiquada, ortodoxa, para explicar o papel da 6
relação sexual
----- Não respondeu à Questão B 7
Gráfico 2 - Distribuição dos modelos organizadores referentes à Questão B nos diferentes grupos.
Partindo agora para uma análise das suas respostas às questões A e B, primeira-
respostas dadas por um mesmo sujeito às di- mente considerando o total da amostra e, em
ferentes questões, temos os gráficos a seguir, seguida, levando em conta os diferentes gru-
que apresentam a freqüência de sujeitos que pos entrevistados:
mantiveram ou alteraram seu raciocínio em
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Gráfico 4 - Distribuição, por grupo entrevistado, dos sujeitos que aplicaram o mesmo modelo
organizador e modelos diferentes nas questões A e B
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na forma de pensar e de posicionar-se frente xidade dos processos que envolvem o pensa-
às situações cotidianas, o que indica que, de mento humano e as relações entre o sujeito e a
uma maneira geral, os aspectos culturais, in- cultura:
ternalizados pelos indivíduos em sua relação
com os grupos e com a sociedade, podem in- • Uma mesma situação apresentada aos su-
fluenciar a própria organização de seu pensa- jeitos da investigação deu origem a racio-
mento. Tal fato, portanto, confirma, em parte, cínios diversos, de modo que foram en-
a hipótese central, de que as crenças influen- contrados, em cada uma das questões ana-
ciam a organização do pensamento humano. lisadas (Questão A e B), cinco modelos
Assim sendo, como já propôs Morin, é organizadores diferentes, dentre os quais
possível dizer que as crenças e a cultura – nem todos haviam sido elaborados levan-
que, confirme vimos, relacionam-se ao “pen- do em conta aspectos relativos a crenças
samento mítico”, da criação, do imaginário e religiosas. Tal fato pode ser explicado pe-
das analogias – são aspectos de fato tão im- la própria Teoria dos Modelos Organiza-
portantes para o ser humano quanto a esfera dores do Pensamento, e demonstra que a
do “pensamento racional”, já consagrado e elaboração dos modelos organizadores
exaltado desde a Modernidade, com as idéias passa pela interpretação do sujeito, o qual
Iluministas e o pensamento cartesiano. (re)organiza internamente a realidade ob-
Nesse sentido, consideramos que os jetiva a partir daquilo que, estando ou não
resultados contribuem com uma perspectiva presente no contexto, considera significa-
recente, dentro dos estudos da Psicologia, que tivo.
busca compreender os processos do pensa-
mento para além dos aspectos e processos • Uma mesma “cultura religiosa” deu ori-
cognitivos da mente humana. gem a raciocínios diversos. Mais especifi-
Entretanto, como um trabalho de Psi- camente, diferentes indivíduos que se de-
cologia que adota o referencial da Teoria da clararam Católicos incorporaram, nos mo-
Complexidade, a análise dos dados obtidos delos organizadores aplicados, elementos
com nossa investigação contempla não apenas relativos a esta religião, integrando, con-
as regularidades presentes, mas atenta tam- tudo, raciocínios orientados em direções
bém para as não-regularidades, as incertezas e opostas. É o que pudemos observar ao
aleatoriedades que regem os fenômenos ob- comparar os Modelos 1 e 5 da Questão B:
servados. enquanto um deles fundamentava-se em
Desta forma, o que chama a atenção princípios religiosos tradicionais para ex-
na investigação é o fato de que, mais do que plicar o papel da relação sexual, o outro
as regularidades, as permanências, foram en- considerava a postura religiosa como insu-
contradas mudanças, variações, tanto na for- ficiente para explicar tal papel. Nos dados
ma com a qual os sujeitos organizaram seu apresentados, verificamos que 23 sujeitos
pensamento quanto no grau de influência e- do grupo católico (92%) aplicaram o Mo-
xercida pelas crenças religiosas nos modelos delo 1 em suas respostas à Questão B. Por
organizadores identificados. Sendo assim, em outro lado, o Modelo 5 foi aplicado por 6
busca de compreender as relações entre as sujeitos do grupo de estudantes, sendo
crenças e a organização do pensamento, foi que, deste total, 5 deles afirmaram ser Ca-
encontrado um número maior de hipóteses e tólicos. Assim, diferentes sujeitos de uma
de novos questionamentos do que propria- mesma religião, ao responderam à mesma
mente respostas e/ou considerações conclusi- questão, fundamentados em suas crenças
vas. religiosas, partiram para direções comple-
A seguir, discutiremos rapidamente tamente diferentes. Estes dados deixam
cada uma das não-regularidades identificadas claro que a internalização dos elementos
diante dos dados apresentados, as quais vêm, da cultura ocorre de forma não-linear, e
do nosso ponto de vista, confirmar a comple- em meio a outros processos subjetivos
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(ex: valores, estruturas cognitivas, senti- mais acentuada. Isso fica claro quando ob-
mentos, representações sociais) que po- servamos, por exemplo, que, ao contrário
dem levar o sujeito a aceitar ou contestar, do que encontramos nos grupos religiosos,
de forma mais ou menos intensa, aquilo nenhum dos sujeitos do grupo de estudan-
que lhe é sugerido pela cultura (Martins e tes (entrevistados no espaço da Universi-
Branco, 2001). Desta maneira, a organiza- dade) fez referência às suas crenças reli-
ção do pensamento do sujeito não neces- giosas ao responderem à Questão A; den-
sariamente é determinada por aquilo que é tro deste grupo, entretanto, mais da meta-
veiculado pela cultura da sociedade ou de dos sujeitos declarou vincular-se a al-
grupo do qual este participa. guma religião. Ao mesmo tempo, as dife-
rentes crenças religiosas com as quais tra-
• Diante de temáticas de sexualidade apre- balhamos influenciaram de formas e em
sentadas de formas diferentes, a tendência níveis diferentes o pensamento dos sujei-
dos sujeitos foi de alterar seu raciocínio, tos entrevistados. Basta verificarmos, den-
isto é, de uma maneira geral, um mesmo tro de cada grupo religioso, a quantidade
sujeito aplicou modelos organizadores di- de sujeitos que, influenciados por suas
ferentes ao responder às questões apresen- crenças religiosas, aplicaram o mesmo ra-
tadas. Resgatando os dados encontrados, ciocínio ao responderem às questões A e
temos que, ao compararmos as respostas B: enquanto que, no grupo católico, 80%
dadas pelos sujeitos às questões A e B, dos sujeitos mantiveram a coerência, nos
39% mantiveram o mesmo tipo de racio- grupos adventista e espírita, esta porcen-
cínio – isto é, aplicaram modelos organi- tagem corresponde a 48% e 24%, respec-
zadores análogos nas duas respostas –, ao tivamente. Assim, consideramos que a in-
passo que a maioria, 54%, aplicou racio- fluência exercida pelas crenças na organi-
cínios diferentes. Este dado indica que a zação do pensamento humano pode ser
influência das crenças na organização do mais ou menos acentuada, a depender de
pensamento, no caso dos sujeitos que par- seu conteúdo e da maneira com a qual o
ticiparam de nossa investigação, não foi sujeito relaciona-se ao grupo cultural no
tão intensa a ponto de garantir uma coe- qual se insere.
rência no pensamento dos mesmos. O que
fica evidente, portanto, é que a influência A partir dos pontos aqui discutidos,
das crenças religiosas no pensamento não podemos afirmar que os resultados obtidos
foi determinante, e isso, por sua vez, con- com a pesquisa que aqui se coloca, embora
duz-nos para o fato de que os modelos or- confirmem a hipótese inicial, também trazem
ganizadores elaborados pelos sujeitos di- indícios para considerar que as relações entre
ante de situações semelhantes podem va- as crenças – e por extensão os aspectos cultu-
riar de acordo com o contexto, influencia- rais – e o pensamento humano são permeadas
dos por outros fatores como os sentimen- por uma série de outros fatores que atuam si-
tos, os valores, as experiências anteriores multaneamente durante a organização do ra-
do sujeito, apenas para citar algumas hipó- ciocínio, isto é, na elaboração dos modelos
teses. organizadores. Tais fatores podem ser de or-
dem inter e intrapsíquica, sendo que, neste
• Foi possível verificar variações no grau de último caso, podem estar relacionados, supo-
influência das crenças no pensamento dos mos, a diferentes dimensões constituintes do
sujeitos, de acordo com os diferentes con- sujeito: afetiva (através da atuação de senti-
textos sociais e também com o conteúdo mentos e valores); biológica (com o próprio
da própria crença. Assim foi que, no caso funcionamento cerebral); cognitiva (influen-
dos sujeitos que estavam em contato com ciada pelos esquemas de ação e estruturas
seu grupo e espaço religioso, a influência cognitivas) e até mesmo outros aspectos da
das crenças no pensamento parece ter sido
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xercem sua parcela de influência, orientando tal e a influência da cultura podem contribuir
o modo de pensar dos sujeitos e sua atuação para uma compreensão ainda maior destes
no mundo e que, no pensamento humano, tais processos.
aspectos adquirem tanta importância quanto
outros, de ordem cognitiva ou afetiva, por e- 9. Referências bibliográficas
xemplo.
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constituição da individualidade do ser huma- estudo exploratório sobre a resolução de con-
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