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Abstract: This work consists of the preliminary researches on the songs of Jongo da
Serrinha, object of the future dissertation. Checking the African heritage, as well as
musician-instrumental, also in the repertoire, with notorious influence of the Bantu
language. The present study is aimed at promoting the activities of the Africanias - UFRJ
research group, which seeks to understand the African presence in vocal music.
1 Mestranda em Musicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bacharel em Flauta transversa e
licenciada em Educação Musical, Professora da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ PI – Ed. Musical.
anadanirufino@gmail.com
O presente artigo, com vista à construção de dissertação, se destina ao
fomento das atividades do Grupo de Pesquisa Africanias2 – UFRJ, que busca o
entendimento da presença africana nos diferentes gêneros da música brasileira,
através das ações de pesquisa e extensão, contando coma a participação de
pesquisadores de diferentes áreas e instituições. Para tanto, conta com o trabalho
de pesquisa não só no baú do cancioneiro nacional, como aporte na literatura oral e
demais expressões rítmicas e musicais de raiz negra africana e de diáspora.
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Grupo de Pesquisa assim batizado devido ao objeto de estudo e em homenagem a mentora
intelectual e parceira do projeto, a etnolinguista baiana Yeda Pessoa de Castro. O grupo conta com
diversos profissionais, como: cantores líricos, instrumentistas, educadores musicais - tanto da rede
pública de ensino quanto particular - de vários segmentos, historiadores, entre outros.
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Cantora lírica e Professora do Departamento Vocal da UFRJ, Doutora em Educação pela UFMG,
onde defendeu a tese Vissungo: o cantar banto nas Américas. Como pesquisadora investiga, desde
2004, a presença de africanias na música vocal brasileira.
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Segundo Nei Lopes (2003:123), jongo deriva do vocábulo umbundo onjogo, que designa uma dança
dos ovimbundos.
dos jongueiros que era dançada pelos escravos, que a transmitiram aos seus
descendentes.” (GANDRA, 1995:17).
Ponto de abertura
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Língua da região central da Angola.
De acordo com o relato dos participantes, chamados de jongueiros, e também
de material acadêmico pertinente, o jongo é de origem banto 6. “A partir da metade
do século XVI e início do século XVII, o Brasil recebeu os primeiros negros bantos
para o trabalho com os engenhos de cana-de açúcar no nordeste brasileiro. Com o
cultivo e a produção comercial do algodão e do fumo, e principalmente com a
descoberta do ouro e o cultivo do café para as terras mais ao sul do país, a partir do
final do século XVII e início do século XVIII, as migrações internas de negros no
Brasil e também a vinda de novos escravos africanos se acentuaram.” (LOPES,
1992:02). No fim do século XIX verifica-se grande movimento migratório dos ex-
escravizados rumo à cidade do Rio de Janeiro, sobretudo vindos da região do Vale
do Paraíba. Em torno de 1900 chegam os primeiros ocupantes ao sopé do Morro da
Serrinha, estabelecendo moradia e trazendo a prática jongueira como uma de suas
bagagens culturais.
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Denominação da grande família linguística africana, e por extensão, dos seus falantes, que
compreende mais de cem milhões de indivíduos concentrados em territórios ao longo de toda a
extensão ao sul da linha do equador, entre eles Congo, Angola, Moçambique, Quênia, Zimbábue,
Zâmbia, África do Sul. (Ver CASTRO, 2005, p.169)
atividades socioculturais para a comunidade e difusora de arte, como em função do
Grupo Musical Jongo da Serrinha - com cantores, músicos e aparelhagem profissionais -
com a finalidade de shows, produção de álbuns, inserções nos circuitos culturais e afins.
Dessa forma obtendo remuneração e captação de recursos.
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Darcy Monteiro, nasceu em 1932 no Morro da Serrinha, em Madureira, filho de Pedro Monteiro e
Maria Joanna Monteiro – a Vovó Maria Joanna - e uma das dinastias mais importantes do jongo no
Brasil. Desde cedo começou a fazer trabalhos comunitários na Serrinha, ingressando na carreira de
músico aos 16 anos. Tornou-se um genial percussionista, acompanhando diversos músicos de
destaque na Rádio Nacional e no Cassino da Urca nas décadas de 40 e 50, além de ter integrado a
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turnê brasileira do jazzista Dizzy Gillespie. Com sua familiá fundou o Jongo da Serrinha, no final da
década de 60, inovando ao criar arranjos para o jongo com cordas, coro com diversas vozes e
introduzindo crianças nas rodas, atéentão permitida apenas para os mais velhos, levando o jongo
para além da Serrinha. Pode-se considerar Mestre Darcy como um verdadeiro agente transformador
do jongo.
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Na coordenação executiva da ONG Associação Grupo Cultural Jongo da Serrinha está a artista
plástica Dyonne Boy, que conheceu o Jongo em uma apresentação na PUC-Rio, campus da Gávea.
Dyonne, filha da classe média branca carioca, é o que chamamos “de fora” da comunidade.
Histórico e Artístico Nacional – em 2005 como o primeiro Patrimônio Imaterial9 do
Estado do Rio de Janeiro.
Ao tratar com material sonoro, outros aspectos podem ser levantados, muito
além da prosa e poesia: aspectos rítmicos, melódicos, harmônicos, sociais, por
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De acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, aprovada pela
Unesco em 17 de outubro de 2003, entende-se por ”patrimônio cultural imaterial” as práticas,
representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com instrumentos, objetos, artefatos e
lugares que lhes são associados – que as comunidades, alguns grupos e individuoś reconhecem com
parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio imaterial, que se transmite de geração em
geração, éconstantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua
interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade,
contribuindo assim para promover o respeito àdiversidade cultural e àcriatividade humana. De acordo
com o Decreto no 3.551, de 4 de agosto de 2000, foram registrados os sete primeiros Bens Imateriais
do pais:́ Arte Kusiwa, a Festa do Cirió de Nazaré, Jongo no Sudeste, Modo de Fazer Viola-de-Cocho,
Ofició das Baianas de Acarajé, Ofició das Paneleiras de Goiabeiras e o Samba de Roda no
Recôncavo Baiano (IPHAN, 2004).
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Consiste em um processo pelo qual as colônias adquirem ou recuperam a sua independência política,
econômica e cultural. Todo percurso de dominação e colonização se deu, além dos campos sociais de
vivencia, também no campo das ideias, do pensamento. A imposição por parte do colonizador de sua
cultura, regras e normas de convívio veio a se chocar e, por assim, aniquilar as tradições nativas,
causando dessa forma apagamentos históricos e danos no plano mental dos colonizados.
exemplo. Que podem receber, dentro deste trabalho, tratamento destacado, ou não.
Ampliando os olhares e perspectivas quanto ao material musical. São possibilidades
que serão discutidas em orientações futuras.
Referências
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Etnografia, do grego ethnos: gente, povo e graphien: escrita. (Ver SEEGER, 2008:238)
https://www.academia.edu/31886126/Sociologia_da_Música_entre_o_rigor_historicis
ta_e_a_crítica_de_arte_versão_preliminar_ Acesso em 04 out. 2018.
J79 Jongo no Sudeste. Brasília, DF: Iphan, 2007. 92p il. color. 25cm + CD ROM
– (Dossiê Iphan; 5).
GANDRA, Edir. Jongo da Serrinha: Do terreiro aos palcos. Rio de Janeiro: GGE-
Giorgio Gráfica e Editora / UNI-RIO, 1995.
LOPES, Nei. O Negro no Rio de Janeiro e sua Tradição Musical: partido alto, calango,
chula e outras cantorias. Rio de Janeiro: Pallas, 1992.
RAMOS, Arthur. O Folclore Negro do Brasil. WMF Martins Fontes, Ed. 3ª, 2007.
SILVA, Marília T. Barboza da & OLIVEIRA FILHO, Arthur L. de. Silas de Oliveira, do
jongo ao samba enredo. Rio de janeiro, FUNARTE, 1981.
TINHORÃO, José Ramos. Os Sons dos Negros no Brasil. Cantos danças, folguedos:
origens. São Paulo, Ed. 34, 2008.