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S3-C4T2

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x fns. 3:—
MINISTÉRIO DA FAZENDA
i-i CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS
TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO
T- -

Processo n0 18471.002524/2003-13
Recurso n° 149.457 Voluntário
Acórdão n° 3402-00.132 — 4' Câmara / r Turma Ordinária
Sessão de 02 de junho de 2009
Matéria IRPF
Recorrente GUILHERME DE ALBUQUERQUE
Recorrida 3TURMA/DRJ-RIO DE JANEIRO/RJ II

ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FISICA - IRPF


Exercício: 1999, 2000, 2001, 2002
DECADÊNCIA - AJUSTE ANUAL - LANÇAMENTO POR
HOMOLOGAÇÃO - Sendo a tributação das pessoas físicas sujeita a ajuste
na declaração anual e independente de exame prévio da autoridade
administrativa, o lançamento é por homologação, hipótese em que o direito
de a Fazenda Nacional lançar decai após cinco anos, contados de 31 de
dezembro de cada ano-calendário questionado.
AUTO DE INFRAÇÃO - ILEGITIMIDADE PASSIVA -
MOVIMENTAÇÃO DE CONTA BANCÁRIA EM NOME PRÓPRIO -
LANÇAMENTO NO TITULAR DA CONTA - Incabível a alegação de
ilegitimidade passiva, quando restar comprovado nos autos o uso de conta
bancária em nome próprio, para efetuar a movimentação de valores
tributáveis, situação que toma licito o lançamento sobre o próprio titular da
conta.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS - DEPÓSITOS BANCÁRIOS CONTA
CONJUNTA - Em caso de conta conjunta é obrigatório intimação de todos os
correntistas para informarem a origem e a titularidade dos depósitos
bancários. Impossibilidade de atribuir, de oficio, os valores como sendo renda
exclusiva de um dos correntistas. Ao atribuir a integralidade dos depósitos a
um único correntista, sem que o outro tenha sido intimado, o auto de infração
adotou base de cálculo diferente daquela estabelecida pela regra-matriz do §
6" do artigo 42 da Lei 9.430, de 1996.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS - JUSTIFICATIVA DE ORIGEM -
DEPÓSITOS BANCÁRIOS - É de se aceitar como origem de recursos,
justificando a existência de valores creditados em conta de depósito ou de
investimento de htularidade do contribuinte, as receitas da Sociedade Civil de
prestação de serviços de advocacia, do qual é sócio, incluídas no Programa
Especial de Parcelamento (PAES), instituído pela Lei if 10.684, de 30 de
maio de 2003.
HONORÁRIOS ADVOCATICIOS - REPASSE - OMISSÃO DE
RENDIMENTOS - Sujeitam-se à incidência tributária os rendimentos de
prestação de serviços de advocacia, quando o sujeito passivo da obrigação
tributária não lograr provar que os valores recebidos em decorrência de ações
trabalhistas, mediante depósitos em suas contas correntes, foram efetiva e
concretamente transferidos àqueles que alega serem os titulares dos
rendimentos.
MULTA DE LANÇAMENTO DE OFICIO E MULTA ISOLADA -
CONCOMITÂNCIA - É incabível, por expressa disposição legal, a aplicação
concomitante de multa de lançamento de oficio exigida com o tributo ou
contribuição, com multa de lançamento de oficio exigida isoladamente.

Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF


Exercício: 1999, 2000, 2001, 2002
DECADÊNCIA - AJUSTE ANUAL - LANÇAMENTO POR
HOMOLOGAÇÃO - Sendo a tributação das pessoas fisicas sujeita a ajuste
na declaração anual e independente de exame prévio da autoridade
administrativa, o lançamento é por homologação, hipótese em que o direito
de a Fazenda Nacional lançar decai após cinco anos, contados de 31 de
dezembro de cada ano-calendário questionado.
AUTO DE INFRAÇÃO - ILEGITIMIDADE PASSIVA -
MOVIMENTAÇÃO DE CONTA BANCÁRIA EM NOME PRÓPRIO -
LANÇAMENTO NO TITULAR DA CONTA - Incabível a alegação de
ilegitimidade passiva, quando restar comprovado nos autos o uso de conta
bancaria em nome próprio, para efetuar a movimentação de valores
tributáveis, situação que toma lícito o lançamento sobre o próprio titular da
conta.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS - DEPÓSITOS BANCÁRIOS CONTA
CONJUNTA - Em caso de conta conjunta é obrigatório intimação de todos os
correntistas para informarem a origem e a titularidade dos depósitos
bancários. Impossibilidade de atribuir, de oficio, os valores como sendo renda
exclusiva de um dos correntistas. Ao atribuir a integralidade dos depósitos a
um único correntista, sem que o outro tenha sido intimado, o auto de infração
adotou base de cálculo diferente daquela estabelecida pela regra-matriz do §
6 0 do artigo 42 da Lei nO. 9.430, de 1996.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS - JUSTIFICATIVA DE ORIGEM -
DEPÓSITOS BANCÁRIOS - É de se aceitar como origem de recursos,
justificando a existência de valores creditados em conta de depósito ou de
investimento de titularidade do contribuinte, as receitas da Sociedade Civil de
prestação de serviços de advocacia, do qual é sócio, incluídas no Programa
Especial de Parcelamento (PAES), instituído pela Lei n° 10.684, de 30 de
maio de 2003.
HONORÁRIOS ADVOCATICIOS - REPASSE - OMISSÃO DE
RENDIMENTOS - Sujeitam-se à incidência tributária os rendimentos de
prestação de serviços de advocacia, quando o sujeito passivo da obrigação
tributária não rogar provar que os valores recebidos em decorrência de ações
trabalhistas, mediante depósitos em suas contas correntes, foram efetiva e
concretamente transferidos àqueles que alega serem os titulares dos
rendimentos.

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Processo n° 18471.00252412003-13 S3-C4T2


Acórdão n.° 3402-00,132 Fl. 2

MULTA DE LANÇAMENTO DE OFICIO E NfULTA ISOLADA -


CONCOMITÂNCIA - É incabivel, por expressa disposição legal, a aplicação
concomitante de multa de lançamento de oficio exigida com o tributo ou
contribuição, com multa de lançamento de oficio exigida isoladamente.
Preliminares rejeitadas.
Recurso parcialmente provido.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os Membros do Colegiado, por unanimidade de votos,
REJEITAR as preliminares argüidas pelo Recorrente e, no mérito, por maioria de votos, DAR
provimento PARCIAL ao recurso para excluir da exigência os valores lançados nos anos-
calendário de 1999, 2000 e 2001, respectivamente e, com relação ao ano-calendário de 1998,
excluir da base de cálculo da exigência os valores lançados a titulo de omissão de rendimentos
caracterizada por depósitos bancários, bem como excluir da exigência a multa isolada, por falta
de recolhimento do camê-leão, aplicada concomitantemente com a multa de oficio, nos turnos
do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencidos os Conselheiros Nelson
Mallmann (Relator) e Pedro Anan Júnior, que proviam integralmente o recurso. Designado
para redigir o voto vencedor relativamente a parte mantida (omissão de rendimentos de
trabalho sem vinculo empregaticio recebido de pessoas físicas) o Conselheiro Antonio Lopo
Martinez.

NEL- ON Lfrilf—gresidénte e Relator

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A,7bNIO LOO A 'EZ — Redator-Designado

EDITADO EM:
) E 2;1;3
Participaram do presente julgamento, os Conselheiros Pedro Paulo Pereira Barbosa, Heloisa
Guarita Souza, Antonio Lopo Martinez, Rayana Alves de Oliveira França, Amarylles Reinaldi
e Hemiques Resende (Suplente convocada), Pedro Anan Júnior, Gustavo Lian Haddad e
Nelson Mallmann (Presidente).

Relatório

GUILHERME DE ALBUQUERQUE, contribuinte inscrito no CPF/MF sob


o ri.° 045.486.477-91, com domicilio fiscal na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de
Janeiro, à Rua Professor Nehemias Gueiros, n° 431 — apto 202, Bairro Recreio dos
Bandeirantes, jurisdicionado a DEI no Rio de Janeiro - RJ, inconformado com a decisão de
Primeira Instância de fls. 1112/1133, prolatada pela Terceira Turma de Julgamento da DRJ no

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Rio de Janeiro — RJ II, recorre, a este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, pleiteando
a sua refouna, nos termos da petição de fls. 1145/1210.

Contra o contribuinte acima mencionado foi lavrado, em 24/11/03, o Auto de


Infração de Imposto de Renda Pessoa Física (fls. 921/940), com ciência através de procurador
legalmente habilitado, em 26/11/03 (fls. 922), exigindo-se o recolhimento do crédito tributário
no valor total de R$ 3.847.615,63 (Padrão monetário da época do lançamento do crédito
tributário), a título de imposto de renda pessoa física, acrescidos da multa de lançamento de
oficio normal 75% e dos juros de mora de, no mínimo, I% ao mês, calculado sobre o valor do
imposto de renda relativo aos exercícios de 1999 a 2002, correspondente aos anos-calendário
de 1998 a 2001, respectivamente, bem como a aplicação da multa isolada por falta de
recolhimento do Imposto de Renda devido a titulo de camê-leão sobre os valores lançados a
titulo de omissão de rendimentos recebidos de pessoa fisica.

A exigência fiscal em exame teve origem em procedimentos de fiscalização


de Imposto de Renda, onde a autoridade lançadora entendeu haver as seguintes irregularidades:

1 — OMISSÃO DE RENDIMENTOS DO TRABALHO SEM VÍNCULO


EMPREGATÍCIO RECEBIDOS DE PESSOAS FÍSICAS: Omissão de rendimentos
recebidos de pessoas físicas, decorrentes do trabalho sem vinculo empregaticio, conforme
especificados no Termo de Constatação Fiscal e Demonstrativos anexos ao Auto de Infração.
Infração capitulada nos artigos 1° ao 3° e parágrafos, e 8°, da Lei n°7.713, de 1988; artigos 1°
ao 4°, da Lei n°8.134, de 1990; artigo 21 da Lei n°9.532, de 1997 e artigo 1° da Lei n°9.887,
de 1999.

2 — OMISSÃO DE RENDIMENTOS CARACTERIZADA POR


DEPÓSITOS BANCÁRIOS COM ORIGEM NÃO COMPROVADA: Omissão de
rendimentos caracterizada por valores creditados em contas correntes, mantidas nas instituições
financeiras abaixo identificadas, em relação aos quais o contribuinte, regularmente intimado,
não comprovou, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados
nessas operações, conforme detalhado nos Demonstrativos I ao VI e no Termo de Constatação
Fiscal Anexo e parte integrante ao presente Auto de Infração. Infração capitulada no artigo 42
da Lei n°9.430, de 1996; artigo 4° da Lei n°9.481, de 1997; artigo 21 da Lei n°9.532, de 1997,
alterado pela Lei n° 10.637, de 2002; e artigo I° da Lei 11° 9.887, de 1999.

3— MULTAS ISOLADAS — FALTA DE RECOLHIMENTO DO IRPF


DEVIDO A TÍTULO DE CARNÊ-LEÃO: Falta de recolhimento do Imposto de Renda da
Pessoa Física devido: a título de camê-leão, apurada conforme Demonstrativos de Apuração da
Multa Exigida Isoladamente (Carnê-Ledo). Infração capitulada no artigo 8' da Lei n°7.713, de
1988, combinado com os artigos 43 e 44, § 1 0 , inciso III, da Lei n°9.430, de 1996.

A Auditora-Fiscal da Receita Federal do Brasil, responsável pela constituição


do crédito tributário, esclarece, ainda, através do Termo de Constatação Fiscal de fls. 9421944,
entre outros, os seguintes aspectos:

- que a ação fiscal buscava, em síntese, compatibilizar os rendimentos


declarados com as variações patrimoniais, inclusive movimentações bancárias e, para tanto,
analisou os elementos apresentados em atendimento aos Termos de Intimação;

- que a extensa documentação apresentada foi numerada, catalogada e


estudada individualmente com todos os elementos disponíveis, para que, na melhor forma de
Direito, fossem consideradas as alegações apresentadas;
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- que os ingressos de recursos nas contas correntes anteriormente


especificadas, foram em parte vinculadas a recebimento de honorários advocatícios, conforme
Demonstrativos I, II, III, IV e VI, elaboradas pela fiscalização e anexo ao presente Termo,

- que alega o contribuinte em carta-resposta de 24/09/03, que os recursos


depositados nas conta correntes de sua titularidade individual ou em conjunto com esposa ou
filho, tratam-se de recebimentos por serviços prestados pela empresa Albuquerque & Barbosa
Lima e Miranda Advogados Associados S/C, CNP' no 02.788.043/0001-09, e para tanto junta
Contrato Social, cópias de algumas notas fiscais, declaração dos sócios, cópias de cheques
cujos beneficiários são os outros sócios;

- que a firma acima referida apresenta declaração de Inativa para o ano de


1998 e declaração com base no Lucro Presumido para os anos 1999, 2000 e 2001, cujos
faturamentos mensais podem ser observados no Demonstrativo VII, em anexo;

- que, após reiteradas intimações, o contribuinte não logrou apresentar os


contratos de prestação de serviços firmados (por inexistirem, segundo esclarecimento
apresentado), nem as notas fiscais emitidas pela sociedade civil nos anos de 1999 e 2000,
conforme carta-resposta de 03/11/03 e 13/11103. Igualmente não logrou identificar e
comprovar a vinculação do faturamento da sociedade com cada ingresso financeiro em suas
contas correntes;

- que se observe que embora alegue tratarem-se os depósitos de recursos da


empresa, o contribuinte nos anos de 1999 e 2000 deixou de apresentar as notas fiscais emitidas
nesses anos, o que impossibilitou que a presente ação fiscal expurgasse os valores já tributados
pela citada empresa, posto que procedemos a este expurgo no ano de 2001, quando verificamos
a vinculação entre a origem do depósito bancário e o destinatário da nota fiscal emitida,

- que a omissão na declaração de bens do ano-calendário de 2001 das


aquisições dos imóveis referentes aos itens 5, 6 e 7 do Demonstrativo VIII, que totalizam
investimentos imobiliários da ordem de R$ 732481,00. Tal omissão analisada com base na
declaração apresentada implica em Aumento Patrimonial à Descoberto da ordem de R$
705.460,35, confoune abaixo demonstrado. Entretanto, tal aumento patrimonial toma-se
justificado com a tributação ora procedida, com base nos depósitos bancários, posto que no
presente ano-calendário procedemos a tributação de R$ 818.746,78.

Em sua peça impugnatoria de fis. 988/1033, instruída pelos documentos de


fls. 1034/1110, apresentada, tempestivamente, em 23/12/03, o contribuinte, se indispõe contra
a exigência fiscal, solicitando que seja acolhida à impugnação para declarar a insubsistência do
Auto de Infração, com base, em síntese, nos seguintes argumentos:

- que com o propósito de permitir a exata compreensão dos fatos sobre os


quais versa o presente litígio, o impugnante esclarece, inicialmente, ser advogado especializado
nas áreas trabalhista e cível, atuando desde 15/03/1995 como sociedade não personificada, em
conjunto com os advogados Fernando Miranda dos Santos e André da Fonseca Barbosa,
conforme declarações de fis. 74 e doc. 3, em anexo;

- que decorridos dois anos de convívio proficuo, em 02/01/1997 os três


Barbosa Lima e Miranda Advogados Associados S/C, sociedade civil de prestação de serviços
de advocacia, doravante referida apenas por sociedade;

\k.
- que averbado e arquivado o Contrato Social no Conselho da Ordem dos
Advogados do Brasil. Seção do Estado do Rio de Janeiro sob o 2.785/97, a sociedade
adquiriu personalidade jurídica própria no dia 31/03/1997, pertencendo-lhe, a partir de então,
todas as receitas de honorários auferidos com o trabalho dos seus sócios, no exercício
individual ou conjunto da advocacia, salvo, excepcionalmente, quando um deles atuasse de
maneira individual, fel ações de clientes particulares e alheias à sociedade, e desde com
aprovação dos outros sócios, o que jamais ocorreu em toda sua existência, como comprovam as
petições exibidas à fiscalização, sempre cia papéis timbrados dos quais constam os nomes dos
três sócios e não raramente assinadas por mais de um sócio, as procurações outorgadas pelos
clientes, sempre designando todos eles seus procuradores, e a declaração de fls. 74 firmada
pelos mesmos sócios certificando a inocontencia dessa excepcionalidade;

- que diante de dificuldades encontradas à época para atender às exigências


fonnuladas para inscrição no CNPJ do Ministério da Fazenda — decorrentes da vinculação do
nome de dois sócios a pessoas jurídicas com atividades paralisadas, mas não baixadas daquele
cadastro, que somente foram superadas cru outubro de 1998 — a sociedade iniciou suas
atividades sem poder abrir conta bancária própria;

- que sendo, porém, impossível operar dessa maneira, sobretudo porque


geralmente as quantias recebidas pela sociedade resultam de levantamentos de depósitos
judiciais ou acordos celebrados cru nome dos seus clientes representadas por cheques,
deliberaram os sócios utilizar para este fim as contas bancárias pessoais do sócio-gerente;

- que as quantias arroladas no auto de infração, detidas pelo impug,nante na


condição de mero depositário, provinham de depósitos efetuados por todos os sócios, que a
sociedade recebia por conta e ordem dos clientes, pagos diretamente pela parte vencida ou
resultantes de levantamentos de depósitos judiciais, e de valores recebidos dos próprios clientes
a titulo de honorários ou para fazer face a custas e despesas judiciais;

- que naquelas contas bancárias encontram-se também debitadas quantias (i)


repassadas aos clientes, liquidas dos honorários devidos à sociedade, pois esta os havia
recebido, como demonstrado, por conta daquelas pessoas fisicas, (ii) correspondentes aos
pagamentos de participações dos demais sócios nos lucros da sociedade que lhes diziam
respeito, e (iii) pagamentos de dívidas da sociedade resultantes de suas despesas
administrativas, inclusive tributos por ela devidos;

- que, é fato que, mesmo depois de regularizada sua situação perante o CNPJ
os sócios continuaram a adotar os procedimentos descritos nos subitens 2.1.4 a 2.1.5 acima, o
que se reconhece deveria ter sido evitado, mas somente o foi a partir de março de 2003, quando
a sociedade começou a operar com conta bancária própria;

- que tal circunstância, no entanto, não permite alterar a realidade para


considerar ingressados definitivamente no patrimônio do impugnante valores que
evidentemente não o integraram, por força do Contrato Social acima transcrito, averbado r
arquivado no órgão competente para conferir personalidade jurídica à sociedade, salvo se a
fiscalização entender ter havido desfalque, o que seria um despautério, pois isso efetivamente
não se verificou, já que todos os demais sócios tinham pleno conhecimento e participavam da
forma pela qual se processava a movimentação financeira da pessoa jurídica;

- que, em 27/02/2003, o escopo da auditoria foi ampliado para alcançar


também os anos-calendário de 1998, 1999 e 2001, exigindo a fiscalização do impugnante a
apresentação dos extratos das contas bancárias de sua titularidade c comprovação da origem e
das movimentações financeiras nelas efetuadas, levando o impugnante, movido pelo mesmo
Processo n° 18471.002524/2003-13 S3-C4T2
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espirito, a voltar às instituições financeiras em que mantinha tais contas para reiterar o
fornecimento daqueles documentos, assim como solicitar os que estavam sendo intimado a
apresentar;

- que a maior parte da correspondência denotadora do fume propósito do


impugnante em permitir o acesso aos extratos de suas contas bancárias e aos documentos de
suporte dos lançamentos nelas realizados não foi juntada aos autos pela fiscalização, como
poderão constatar com relação aos docs. 4, 5, 7, 9, 10, 11, 12, 14, 15, 16 e 17;

- que existe nulidade no lançamento por erro na identificação do sujeito


passivo, já que os honorários recebidos em contrapartida pelos serviços prestados por membro
de sociedade de advocacia pertencem automaticamente à própria sociedade de que ele participa
e não do advogado•

- que se presumem pertencentes à pessoa jurídica que não possui conta


bancária os créditos sem comprovação da origem efetuados em conta do sócio-gerente que não
exerça outra atividade remunerada;

- que em adição a tudo o que foi aduzido nos itens precedentes, aflora a
impertinência de computar no lançamento de oficio a multa prevista no inciso III do § I° do
artigo 44 da Lei n° 9.430, de 1996, tendo em vista a ofensa notória que este dispositivo enseja
aos artigos 97, inciso V, e 113 do Código Tributário Nacional;

- que é vedado a Fazenda Pública efetuar ou rever de oficio o lançamento


após extinto o crédito tributário pelo transcurso do prazo decadencial. Assim, reportando-se a
autuação ao ano-calendário de 1998, ainda que o titular dos rendimentos tidos como omitidos
fosse efetivamente o impug,nante, dúvida não caberia quanto à impossibilidade de o
lançamento efetuado em 26/11/2003 compreender fatos geradores ocorridos até outubro
daquele ano;

- que, não obstante, desejoso de comprovar a origem de todos os depósitos


efetuados em suas contas, caso V. Sas ainda alimentem dúvida quanto à necessidade de deferir-
se esta impugnação de imediato, o impugnante requer, com arrimo no inciso IV do artigo 16 do
Decreto n° 70.235, de 1972, se digne essa Colmeia Turma converter o julgamento em
diligência intimando as instituições financeiras em que mantém as contas bancárias a fornecer
cópias do anverso e do verso de todos os documentos que acarretaram saques naquelas contas,
bem como dos comprovantes dos depósitos assinalados com a sigla "ONC".

Após resumir os fatos constantes da autuação e as principais razões


apresentadas pelo contribuinte a Terceira Turma da DRJ no Rio de Janeiro — RJ II conclui pela
procedência parcial da ação fiscal e pela manutenção, em parte, do crédito tributário, com base
nas seguintes considerações:

- que no que diz respeito à questão da decadência, cumpre esclarecer que o


IRPF é tributo cujo fato gerador não se dá instantaneamente em um momento exato, mas se
assenta ao longo do tempo. É fato gerador complexivo, com incidência anual, que se inicia em
primeiro de janeiro e termina em 31 de dezembro de cada ano data em que se considera
finalmente completo e ocorrido;

- que sendo o IRPF tributo de incidência anual, a contagem do prazo


decadencial deve tomar como data para o aperfeiçoamento de seu fato gerador o último dia do

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ano, não sendo válido o raciocínio de que a contagem do prazo decadencial deva ser feita de
forma parcelada, com inicio em cada mês, à medida que as receitas vão sendo apuradas. Assim
é que, no presente caso, a decadência referente ao ano-calendário de 1998 somente ocorreria
em 31/12/2003, não sendo aplicável ao lançamento de oficio ora apreciado, formalizado em
26/11/2003;

- que no que concerne à decadência ao lançamento da multa isolada por


insuficiência de recolhimento de camê-leão, há que se ressaltar que o imposto pago
mensalmente é, em sua essência, mera antecipação da incidência anual, sendo exatamente o
caso previsto no artigo 150 do CTN, cru que o sujeito passivo antecipa o pagamento do tributo
sem prévio exame da autoridade administrativa. Portanto, as hipóteses de decadência quanto ao
principal ajustam-se perfeitamente aos conceitos já analisados, onde se aplica como data da de
referencia para a contagem do prazo decadencial a data da entrega da declaração de Ajuste
Anual como entende a jurisprudência administrativa;

- que, por outro lado, especificamente quanto à multa isolada lançada de


oficio, esta não acompanha o principal e decorre de uma simples punição ao ato omissivo de
não se antecipar o imposto no momento correto. Ainda que no Ajuste Anual não tenha sido
apurado imposto a pagar, persiste a infração e é aplicável a penalidade;

- que, dessa coima, haja vista que os débitos relativos à multa isolada por
falta ou insuficiência de carrê-leão são lançados apenas de oficio, não há que se falar em
lançamento por homologação, não se podendo confundir o debito de camê-leão com o débito
de multa isolada por insuficiência de recolhimento de camê-leão, esse último decorrente de
lançamento de oficio, de modo que o prazo decadencial se desloca, nesse caso em particular,
para o artigo 173, inciso I, do Código Tributário Nacional;

- que, quanto aos depósitos bancários de origem não comprovada ; é de se


dizer que a simples alegação do autuado e o testemunho de seus sócios de que os valores
depositados nas contas bancárias daquele representavam a movimentação financeira da
sociedade civil Albuquerque 8c Barbosa Lima e Miranda Advogados Associados S/C não são
suficientes para afastar a presunção legal de omissão de rendimentos prevista no art. 42 da Lei
n°9.430, de 1996;

- que assim é que cabe exclusivamente ao contribuinte demonstrar, mediante


documentação hábil e idônea, a exata correlação individual entre cada valor depositado em
suas contas bancárias e a correspondente origem do recurso. Nesse sentido, também não se
pode desprezar a determinação do art. 400 do Código do Processo Civil, o qual prevê o
indeferimento da prova testemunhal para os fatos que só por documento possam ser provados.
Além disso, de acordo com o art. 220 do Novo Código Civil, não sendo admitida à prova
testemunhal, as presunções, que não as legais, também não podem ser admitidas. Logo,
incabivel é a alegação do contribuinte de que os créditos depositados nas contas do sócio-
gerente presumem-se pertencentes à pessoa jurídica que não possui conta bancária, pois não
decorre da lei, sendo uma mera alegação sem embasamento jurídico. Somando-se a isso, é de
se ressaltar que há diversas cópias de cheques juntadas ao processo que demonstram
claramente que o contribuinte movimentou em suas contas bancárias recursos que não
poderiam ser atribuídos a uma sociedade de advogados, sendo estranhos a verbas de processos
trabalhistas, corno é o caso da indenização de seguro à fl. 752 e outras relações financeiras com
seus familiares às fls. 735, 748, 750, 756, 764, 766 e 820;

- que, portanto, dizer, de forma genérica, sem qualquer identificação da exata


procedência e sem qualquer apoio documental, que a titularidade dos recursos depos . tados em
sua conta bancária não lhe pertence não basta, pois não houve, conforme deteiunna o art. 42 da

')(;
Processo n" 18471.002524/2003-13 53-C4T2
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Lei n° 9.430, de 1996, o tratamento individualizado dos depósitos nem a comprovação da


origem apoiada em documentação hábil e idônea;

- que, quanto aos honorários advocatícios, é de se dizer que, inicialmente,


cabe esclarecer que a acepção da palavra origem utilizada no artigo 42 da Lei 9.430, de 1996,
não significa simplesmente demonstrar quem é o responsável pelo deposito, mas,
principalmente, identificar a natureza da operação e o titular do crédito;

- que a fim de que seja cumprida a ordem legal prevista no § 2° do art. 42 da


Lei n°9.430, de 1996, em que, uma vez comprovada a origem do depósito, este será submetido
às normas de tributação especificas, é necessário, para a correta tipificação do caso concreto,
que a definição de comprovação da origem inclua também a capacidade de se determinar, com
certeza absoluta, se os valores creditados são ou não rendimentos tributáveis na pessoa fisica
em razão de sua natureza e titulai-idade;

- que, desta forma, determinada a inversão do ônus da prova pelo art. 42 da


Lei n° 9.430, de 1996, é de responsabilidade exclusiva do contribuinte comprovar suas
alegações, demonstrando com documentação hábil e idônea que os recursos não lhe pertencem;
principalmente, quando se atribui a uma pessoa jurídica a responsabilidade por depósitos
efetuados em suas contas bancárias;

- que, nesse sentido, é importante ressaltar que, em se tratando de questão


tributária, para as pessoas jurídicas fazerem prova de suas operações, devem obrigatoriamente
manter escrituração de suas operações devidamente comprovada com a necessária
documentação;

- que se verifica, contudo, que o contribuinte não atendeu às solicitações do


fisco para a apresentação dos Balanços, Demonstrações de Resultado e contratos de prestação
de serviços firmados pela sociedade de serviços de advocacia, não havendo a comprovação de
que os recursos depositados nas contas bancárias pessoais do autuado, alegados como
decorrentes de honorários da pessoa jurídica, foram contabilizados nos livros fiscais da pessoa
jurídica e devidamente repassados a esta para o posterior cálculo do lucro a ser distribuído aos
sócios na exata proporção devida a cada um;

- que, ao mesmo tempo, deve-se registrar que as notas fiscais apresentadas


pelo autuado referem-se apenas ao ano-calendário de 2001, tendo a fiscalização já expurgado,
neste período de apuração, os valores em que havia a vincuIação entre o honorário depositado
na conta corrente do contribuinte e o destinatário da nota fiscal;

- que vale lembrar, também, que o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos


Advogados do Brasil — OAB (Lei n" 8.906/94), ao tratar das sociedades de advogados,
determina, em seu art. 15, § 3 0 , que as procurações outorgada devem indicar a sociedade da
qual faça parte o advogado. Assim, a existência de tais procurações seria prova incontestável
de que o autuado estaria atuando na condição de profissional pertencente a uma sociedade de
advogados. Entretanto, para quase uma centena de processos listados nos autos (fls. 965/970),
foram apresentadas procurações para menos de duas dezenas de casos (Anexo I), havendo aqui
uma formalidade prevista em lei não demonstrada pelo contribuinte;

- que no que se refere à argumentação de que os honorários advocatícios


seriam da Albuquerque &c BARBOSA Lima e Miranda Advogados Associados S/C, concordo
parcialmente apenas em relação àqueles listados no Anexo I, item I, pois nestes há ou prova
9
documental inequívoca da participação profissional efetiva dos demais sócios ou a
comprovação de que se atuava na fouria de sociedade de advogados, como se pode verificar
nas procurações, petições e outros documentos juntados aos processo;

- que quanto aos demais honorários, entendo que deve ser mantida a sua
tributação em nome do impugnante, visto que há uma presunção legal de que os valores
creditados em suas contas correntes lhe pertencem e, cai principio, ao contrário do que alega o
impugnante, não há nbnhuma prova ou indicativo real de que, nestes casos, o contribuinte agia
em nome da pessoa jurídica. Assim é que, se os honorários recebidos em suas contas correntes
não foram comprovadamente creditados à sociedade para posterior rateio dos lucros na exata
proporção a que cada participante do quadro social teria direito, e se também não há provas ou
quanto à participação dos demais sócios nos serviços profissionais prestados ou quanto à
atuação do impugnante como membro de urna sociedade de advogados, não se pode falar aqui
em erro na identificação do sujeito passivo;

- que com relação à afirmação do impugnante de que não podem coexistir as


multas isoladas pelo não recolhimento de camê-leão e a multa proporcional pela falta de
pagamento do imposto, dado que procedeu a lançamento em duplicidade sobre a mesma base
de cálculo, diga-se que tais argumentos não podem ser acatados;

- que a aplicação da multa isolada pelo não recolhimento mensal do came-


leão é decorrente de imposição legal conforme se depreende da leitura dos dispositivos
mencionados no enquadramento legal;

- que no diz respeito ao pedido de diligência, entendo que, se fossem


verdadeiras as alegações do contribuinte de que os valores depositados cru suas contas
bancárias pertenciam à sociedade civil da qual é sócio-gerente, todos documentos que
comprovariam suas alegações deveriam estar à sua disposição na pessoa juridica, pois esta teria
a obrigação legal de manter em boa guarda todos os documentos contábeis necessários e
suficientes para comprovar suas operações;

- que, portanto, sendo do autuando o ônus de provar que os recursos


depositados em suas contas bancárias não lhe pertencem ou não são tributáveis, não é aceitável
que se transfira à administração, mediante pedido de diligência, o encargo de trazer aos autos
provas de sua exclusiva responsabilidade.

As ementas que consubstanciam a presente decisão são as seguintes:


Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Fisica— IRPF

Ano-calendário: 1998, 1999, 2000, 2001

Ementa: DECADÊNCIA, IRPF, O direito de a Fazenda


constituir o crédito tributário, por intermédio do lançamento,
cessa apenas após o decurso do prazo de cinco anos, contados
da data da entrega da declaração de ajuste, se efetuada no
exercício financeiro em que deve ser apresentada.

DECADÊNCIA, CARNÊ LEÃO MULTA ISOLADA. Aplica-se à


multa isolada por falta ou insuficiência de pagamento do carie&
leão o disposto no artigo 173, inciso I, do Código Tributário
Nacional.

DEPÓSITOS BANCÁRIOS, OMISSÃO DE RENDIMENTOS


Caracterizam omissão de rendimentos os valores creditados em
conta de depósito mantida junto à instituição financeira, quando

\
Processo n° 18471.002524/2003-13 53-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 EL 6

o contribuinte, regularmente intimado, não comprova, mediante


documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados
nessas operações.

HONORÁRIOS ADVOCATICIOS. REPASSE. OMISSÃO DE


RENDIMENTOS, Sujeitam-se à incidência tributária os
rendimentos de prestação de serviços de advocacia, quando o
sujeito passivo da obrigação tributária não lograr provar que os
valores recebidos em decorrência de ações trabalhistas,
mediante depósitos em suas contas correntes, foram efetiva e
concretamente transferidos àqueles que alega serem os titulares
dos rendimentos.

ARGÜIÇÃO DE ILEGALIDADE. INCOMPETÊNCIA DAS


INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVAS PARA APRECIAÇÃO. As
autoridades administrativas estão obrigadas à observância da
legislação tributária vigente no Pais, sendo incompetentes para
a apreciação de argüições de ilegalidade de atos legais
regularmente editados.

DILIGÊNCIA. ÔNUS DA PROVA. Sendo do autuado ônus de


provar que os recursos depositados em suas contas bancárias
não lhe pertencem ou não são tributáveis, não é aceitável que se
transfira à administração tributária, mediante pedido de
diligência, o encargo de trazer aos autos provas de sua exclusiva
responsabilidade.

Lançamento Procedente em Parte.

Cientificado da decisão de Primeira Instância, em 14/06/04, conforme Termo


constante às fls. 1142/1144, e, com ela não se conformando, o contribuinte interpôs, em tempo
hábil (14/07/04), o recurso voluntário de fls. 1145/1210, instruido pelos documentos de fls.
1211/1345 no qual demonstra irresignação contra a decisão acima, baseado, em síntese, nas
mesmas razões expendidas na fase impugnatória, reforçado pelas seguintes considerações:

- que curioso notar que a Terceira Turma da DRDRJII reconheceu a


juridicidade dos argumentos suscitados pelo recorrente, tanto que, justamente por isso, excluiu
da imposição fiscal parte dos valores nela consignados pela fiscalização, mas manteve o
restante mediante suposições;

- que o argumento da pessoa jurídica se desfaz pela circunstância de que as


falhas na escrituração da pessoa jurídica não têm o condão de transmutar a realidade dos fatos,
qual seja, a de que os depósitos ou questão referem-se à receita da sociedade civil, conforme
exposto no subitem 3.1.1;

- que, no presente caso, a sociedade regularizou sua situação fiscal ao aderir


ao Parcelamento Especial (PAES), instituído pela Lei n° 10.684, de 2003, tendo observado
todos os requisitos exigidos pela legislação de regência, quais sejam: (i) formalizou sua opção
por aquela modalidade especial de parcelamento em 24/07/2003, isto é, três meses antes da
lavratura do auto de infração ora guerreado (ii) apresentou, em novembro de 2003, antes
também da autuação, as DIPJ com base no lucro presumido, relativas aos anos-calendário de
1999, 2000 e 2001 (anexo 03), como exigido pelo parágrafo único do artigo 2° daquela mesma
Portaria Conjunta PGFN/SRF n° 3/03, nelas incluindo, dentre outras, as mesmas receitas que

11
mais tarde foram atribuídas pessoalmente ao recorrente, bem como, no prazo legal, as
respectivas DCTF (anexo 04), e (iii) vem recolhendo mensalmente o valor do débito parcelado,
tendo quitado as 12 (doze) primeiras parcelas (anexo 5), nos termos do artigo 1°, § 3', inciso II,
da Portaria Conjunta/SRF if 1/03;

- que, não há como manter a acusação que contradiz a correta interpretação


das normas jurídicas aplicadas ao caso e nega a realidade, inexistindo argumento capaz de
justificar a desconsideração de todos esses elementos para convalidar a pretensão fiscal, sendo,
por conseguinte, nulo o auto de infração no particular, por erro na identificação do sujeito
passivo, já que aquelas receitas pertencem à sociedade, a qual, repita-se, as ofereceu à
tributação quando aderiu ao PAES antes da lavratura do presente Auto de Infração;

- que se há nos autos provas de que o contribuinte não era o beneficiário de


grande parte dos recursos movimentados em sua conta bancária, tendo sido constatado
documentalmente o repasse de quantias a clientes da sociedade, pa gamentos de despesas da
pessoa jurídica e reconhecida a distribuição de lucros aos demais sócios com recursos nela
depositados, não há como aplicar a presunção contida no artigo 42 da Lei n° 9.430, de 1996
sem que a fiscalização tivesse aprofundado as suas investigações, mormente diante da
constatação de que aquela pessoa jurídica não possuía conta bancária no período abrangido
pela autuação.

Na Sessão de Julgamento de 18 de outubro de 2006, os Membros da então


Quarta Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes acordou, por unanimidade de votos,
converter o julgamento em diligência para:

- que a autoridade administrativa examine os documentos n° 01 a 96 (fls.


1226/1350) e Anexos Ia III (fls. 01 a 331);

- que promova as diligências que entender necessárias, inclusive intimar o


contribuinte e/ou terceiros para esclarecimentos;

- que formule parecer conclusivo;

— que, após, conceda prazo de 10 (dez) dias ao contribuinte para, querendo, se


manifestar.

Em 15 de maio de 2008, a Delegacia da Receita Federal de Fiscalização no


Rio de Janeiro, através da Auditora Fiscal da Receita Federal do Brasil autuante, emite o
Relatório Fiscal de fls. 1376/1378, acompanhado dos demonstrativos de fls. 1379/1383,
manifestando-se, em síntese, sobre as seguintes considerações:

- que analisando-se o Recurso Voluntário de fls. 1145/1210, observamos que


o mesmo fundamenta-se na justificativa de que a origem dos recursos relacionados no Auto de
Infração refere-se à receita da atividade da empresa Albuquerque & Barbosa Lima e Miranda
Advogados Associados S/C — CNPJ 02.788.043/0001-09, tendo havido nulidade por erro na
identificação do sujeito passivo;

- que pretende o contribuinte que os institutos da responsabilidade pelas


obrigações do Imposto de Renda, sejam "confundidos" por simples alegações a posteriori, sem
qualquer comprovação fática e documental. Ao contrário, os fatos referem-se a uma empresa
civil com declaração de [NATIVA para o ano de 1998 e com base no Lucro Presumido para os
anos de 1999, 2000 e 2001, cujos faturamentos apresentavam-se, sipifieativamente, inferiores
aos depósitos bancários em nome da pessoa fisica do contribuinte, conforme Demonstrativos
do Termo de Constatação Fiscal, fls. 971 do presente processo;
12
.+1??
Processo n°18471.002524/2003-13 S3-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 Fl. 7

que, as mesma forma, o contribuinte pessoa física, apesar de possuir grande


-
movimentação financeira em contas correntes de sua titularidade (individual e conjunta com a
esposa e/ou filho, e ainda, diversas operações de aquisição mobiliárias, não apresentou, nem
rendimentos compatíveis em suas declarações de Ajuste Anual, nem informou nas declarações
de bens as respectivas operações imobiliárias (aquisições) ocorridas em seu patrimônio nos
anos de 1998 e 2001; e, uma vez instado a esclarecer tal incompatibilidade (em 27/02/2003),
procrastina na apresentação dos documentos comprobatorios, pois, só então, inicia um lento
processo de busca justo às Instituições Judiciais onde possivelmente militou para levantamento
de tais documentos de guarda obrigatória. Paralelamente, promove a alteração da configuração
econômico-fiscal declarada e, providencia alteração dos resultados da empresa civil de que
participa, através de Declarações Retificadoras em nov/2003 — DIPJ e DC7F, almejando
confundir os institutos jurídicos do sujeito passivo e dasagravar-se das conseqüências fiscais do
IRPF mais oneroso;

- que altera os valores originalmente declarados pela empresa Albuquerque &


Barbosa Lima e Miranda Advogados S/C, pretendendo, de forma genérica, então, transferir
para fins tributários, a quase totalidade dos recursos constantes dos extratos bancários, em seu
nome individual e/ou em conjunto (esposa e filho), para a pessoa jurídica — sociedade civil, de
que participa. Declara-os, tardiamente, como rendimentos tributáveis pelo Lucro Presumido,
com intenção de justificar indiretamente a origem dos depósitos tributados;

- que o contribuinte, em recurso de 2' instância, insiste em sua forma, no


mínimo confusa, de defesa, quando, desordenadamente, faz juntar extensa documentação de
processos judiciais (mais de 1000 folhas) sela, entretanto, individualizá-las e relacioná-las
objetivamente a demais documentos oficiais e/ou bancários de prova da efetiva liberação e
destinação última dos valores que alega serem, apenas em parte, ganhos seus. E ainda, de
forma genérica, dificultando a análise e conclusão do mérito, pretende sejam tais valores,
ideologicamente, considerados da Sociedade Civil de que participa;

- que após examinarmos a extensa documentação apresentada nesta instância


(1060 folhas), efetuamos um resumo discriminando nos Quadros Demonstrativos 1 a 4 (folhas
1376/1379), anexos, onde verificamos que tais documentos não servem de suporte documental
hábil para desoneração do lançamento efetuado, posto que o contribuinte procura fazer, tão
somente, uma comprovação "ideológica", não havendo qualquer documento emitido por
terceiros, coincidentes em datas e valores que efetivamente, comprove as alegações do
interessado, caso a caso;

/3
- que repisamos que não há qualquer documentação hábil que justifique a
transferência dos rendimentos omitidos da Pessoa Física tributada para a Pessoa Jurídica
controlada pelo autuado, a não ser a ligação ideológica como pretendido no recurso.

É o relatório.

14
Processo n° 18471.002524/2003-13 S3-C412
Acórdáo ri? 3402-00.132 Fl. 8

Voto Vencido

Conselheiro NELSON MALLMANN, Relator

O presente recurso voluntário reúne os pressupostos de admissibilidade


previstos na legislação que rege o processo administrativo fiscal e deve, portanto ser
conhecido por esta Tu: ina de Julgamento.

A matéria em discussão neste colegiado administrativo se restringe as


seguintes irregularidades:

1 — Omissão de rendimentos recebidos de pessoas fisicas, decorrentes do


trabalho sem vinculo empregatício, apurado através da analise individualizada dos depósitos
bancários, onde a autoridade lançadora entende que o contribuinte justifica a origem dos
depósitos através de rendimentos recebidos de causas judiciais (serviços de advocacia).

2 — Omissão de rendimentos caracterizada por valores creditados em contas


correntes, mantidas nas instituições financeiras, em relação aos quais o contribuinte,
regularmente intimado, não comprovou, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos
recursos utilizados nessas operações.

3 — Aplicação da multa de oficio isolada de 75% em razão da falta de


recolhimento do Imposto de Renda da Pessoa Física devido a titulo de camê-leão. Sendo que a
base de cálculo da multa são os mesmos valores lançados de oficio a titulo de carne-leão
(aplicação concomitante da multa de oficio com a multa isolada).

Inconformado, em virtude de não ter logrando êxito total na instância inicial,


o contribuinte apresenta a sua peça recursal a este E. Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais pleiteando a reforma da decisão prolatada na Primeira Instância argüindo, em síntese,
as mesmas razões da peça impugnatória.

Assim, a pedra angular da questão fiscal de mérito trazida à apreciação desta


Turma de Julgamento, se resume, como ficou consignado no Relatório, à omissão de
rendimentos recebidos de pessoas fisicas, omissão de rendimentos em razão de depósitos
bancários cuja origem não foi justificada e cobrança de multas de oficio (juntamente com
imposto e isolada). Por outro lado, existem, ainda, questões preliminares como decadência e
ilegitimidade passiva.

Quanto à decadência do direito de a Fazenda Pública constituir crédito


tributário estou filiado a corrente que defende que a modalidade de lançamento a que se sujeita
o imposto sobre a renda de pessoas fisicas é a do lançamento por homologação, cujo fato
gerador se completa no enceramento do ano-calendário, ou seja, em 31 de dezembro de cada
ano-calendário.

15
A decadência em matéria tributária consiste na inércia das autoridades fiscais,
pelo prazo de cinco anos, para efetivar a constituição do crédito tributário, tendo por inicio da
contagem do tempo o instante em que o direito nasce. Durante o qüinqüênio, qualquer
atividade por parte do fisco em relação ao tributo faz com que o prazo volte ao estado original,
ou seja, no caso de um tributo cujo prazo para sua decadência esteja para ocorrer faltando um
dia, e ocorrendo o lançamento por parte do fisco, não há mais que se falar em decadência.

Inércia em matéria tributária é a falta de iniciativa das autoridades fiscais em


tomar urna atitude para reparar a lesão sofrida. Tal inércia, dia a dia, corrói o direito de agir, até
que ele se perca — é a fluência do prazo decadencial.

É de se esclarecer, que os fatos geradores das obrigações tributárias são


classificados como instantâneos ou complexivos. O fato gerador instantâneo, como o próprio
nome revela, dá nascimento à obrigação tributária pela ocorrência de um acontecimento, sendo
este suficiente por si só (imposto de renda na fonte). Em contraposição, os fatos geradores
complexivos são aqueles que se completam após o transcurso de um determinado período de
tempo e abrangem um conjunto de fatos e circunstâncias que, isoladamente considerados, são
destituídos de capacidade para gerar a obrigação tributária exigível. Este conjunto de fatos se
corporifica, depois de determinado lapso temporal, em um fato imponível. Exemplo clássico de
tributo que se enquadra nesta classificação de fato gerador complexivo é o imposto de renda da
pessoa física, apurado no ajuste anual.

Aliás, a despeito da inovação introduzida pelo artigo 2' da Lei n' 7.713, de
1988, pelo qual estipulou-se que "o imposto de renda das pessoas fisicas será devido,
mensalmente, a medida em que os rendimentos e ganhos de capital forem recebidos", há que se
ressaltar a relevância dos arts. 24 e 29 deste mesma diploma legal e dos arts. 12 e 13 da Lei n°
8.383, de 1991 mantiveram o regime de tributação anual (fato gerador complexivo) para as
pessoas físicas.

Não há dúvidas, que a base de cálculo da declaração de rendimentos abrange


todos os rendimentos tributáveis recebidos durante o ano-calendário diminuído das deduções
pleiteadas.

Não é sem razão que o § 2' do art. 2" do decreto n°3.000, de 1999— RIR/99,
cuja base legal é o art. 2" da lei n° 8.134, de 1990, dispõe que: "O imposto será devido
mensalmente na medida em que os rendimentos e ganhos de capital forem percebidos, sem
prejuízo do ajuste estabelecido no art. 85". O ajuste de que trata o artigo 85 do RIR/99 refere-
se à apuração anual do imposto de renda, da declaração de ajuste anual, relativamente aos
rendimentos percebidos no ano-calendário.

Em relação ao cômputo mensal do prazo decadencial, como dito,


anteriormente, é de se observar que a Lei n°7.713, de 1988, instituiu, com relação ao imposto
de renda das pessoas físicas, a tributação mensal à medida que os rendimentos forem auferidos.
Contudo, embora devido mensalmente, quando o sujeito passivo deve apurar e recolher o
imposto de renda, o seu fato gerador continuou sendo anual. Durante o decorrer do ano-
calendário o contribuinte antecipa, mediante a retenção na fonte ou por meio de pagamentos
espontâneos e obrigatórios, o imposto que será apurado em definitivo quando da apresentação
da Declaração de Ajuste Anual, nos termos, especialmente, dos artigos 9° e 11 da Lei n°8134,
de 1990. É nessa oportunidade que o fato gerador do imposto de renda estará concluído. Por ser
do tipo complexivo, segundo a classificação doutrinária, o fato gerador do imposto de renda
surge completo no ultimo dia do exercício social. Só então o contribuinte pode realizar os
devidos ajustes de sua situação de sujeito passivo, considerando os rendimentos auferidos, as

16
Processo n° 18471.002524'2003-13 S3-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 Fl. 9

despesas realizadas, as deduções legais por dependentes e outras, as antecipações feitas e,


assim, realizar a Declaração de Imposto de Renda a ser submetida à homologação do Fisco.

Ora, a base de cálculo da declaração de rendimentos abrange todos os


rendimentos tributáveis recebidos durante o ano-calendário. Desta footia, o fato gerador do
imposto apurado relativamente aos rendimentos sujeitos ao ajuste anual se perfaz em 31 de
dezembro de cada ano.

No caso em discussão, vale a pena traçar alguns comentários acerca do


denominado lançamento por homologação, previsto no art. 150, caput, do Código Tributário
Nacional, no qual o contribuinte auxilia ostensivamente a Fazenda Pública na atividade do
lançamento, cabendo ao fisco realizá-lo de modo privativo, homologando-o, conferindo a sua
exatidão. Verifica-se, que o grau de participação do particular nesta espécie de lançamento
atinge nível de suficiência capaz de compor a pretensão tributária limitando-se a autoridade
administrativa competente tão-somente a uma atividade de controle a posteriori do
procedimento de apuração exercido.

No lançamento por homologação, o direito subjetivo da Fazenda Nacional em


constituir créditos tributários decai em cinco anos a contar da ocorrência do fato imponivel, nos
termos do art. 150, § 4" do Código Tributário Nacional.

A jurisprudência pacificou-se no sentido de que o prazo decadencial para


Fazenda Pública constituir crédito tributário no lançamento por homologação é de 5 (cinco)
anos a contar da ocorrência do fato gerador, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude
ou simulação.

Por outro lado, nos precisos termos do artigo 150 do Código Tributário
Nacional, ocorre o lançamento por homologação quando a legislação atribui ao sujeito passivo
o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, a qual,
tomando conhecimento da atividade assim exercida, expressamente a homologa. Inexistindo
essa homologação expressa, ocorrerá ela no prazo de 05(cinco) anos, a contar do fato gerador
do tributo. Com outras palavras, no lançamento por homologação, o contribuinte apura o
montante e efetua o recolhimento do tributo de forma definitiva, independentemente de ajustes
posteriores.

Ora, o próprio Código Tributário Nacional fixou períodos de tempo


diferenciados para atividade da administração tributária. Se a regra era o lançamento por
declaração, que pressupunha atividade prévia do sujeito ativo, determinou o art. 173 do
Código, que o prazo qüinqüenal teria início a partir "do dia primeiro do exercício seguinte
àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado", imaginando um tempo hábil para que
as informações pudessem ser compulsadas e, com base nelas, a administração tributária
preparasse o lançamento. Essa é a regra básica da decadência.

De outra parte, sendo exceção o recolhimento antecipado, fixou o Código,


também, regra excepcional de tempo para a prática dos atos da administração tributária, onde
os mesmos cinco anos já não mais dependem de uma carência para o início da contagem, uma
vez que não se exige a prática de atos administrativos prévios. Ocorrido o fato gerador, já nasce
para o sujeito passivo à obrigação de apurar e liquidar o crédito tributário, sem qualquer
participação do sujeito ativo que, de outra parte, já tem o direito de investigar a regularidade
dos procedimentos adotados pelo sujeito passivo a cada fato gerador, independente de qualquer
informação ser-lhe prestada. E o que está expresso no § 4', do artigo 150, do CTN.
17
Nesta ordem, é de se refutar, também, o argumento daqueles que entendem
que só pode haver homologação se houver pagamento e, por conseqüência, como o lançamento
efetuado pelo fisco decorre da falta de recolhimento de imposto de renda, o procedimento
fiscal não mais estaria no campo da homologação, deslocando-se para a modalidade de
lançamento de oficio, sempre sujeito à regra geral de decadência do art. 173 do Código
Tributário Nacional.

É fantasioso. Em primeiro lugar, porque não é isto que está escrito no caput
do art. 150 do CTN, cujo comando não pode ser sepultado na vala da conveniência
interpretativa, porque, queiram ou não, o citado artigo define com todas as letras que "o
lançamento por homologação (...) opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando
conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa".

O que é passível de ser ou não homologada é a atividade exercida pelo sujeito


passivo, em todos os seus contornos legais, dos quais sobressaem os efeitos tributários. Limitar
a atividade de homologação exclusivamente à quantia paga significa reduzir a atividade da
administração tributária a um nada, ou a um procedimento de obviedade absoluta, visto que
toda quantia ingessada deveria ser homologada e, a contrário sensu, não homologando o que
não está pago.

Em segundo lugar mesmo que assim não fosse, é certo que a avaliação da
suficiência de uma quantia recolhida implica, inexoravelmente, no exame de todos os fatos
sujeitos à tributação, ou seja, o procedimento da autoridade administrativa tendente à
homologação fica condicionado ao "conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado,
na linguagem do próprio CTN".

Faz-se necessário lembrar, que a homologação do conjunto de atos praticados


pelo sujeito passivo não é atividade estranha à fiscalização federal.

Ora, quando o sujeito passivo apresenta declaração com prejuízo fiscal num
exercício e a fiscalização reconhece esse resultado para reduzir matéria a ser lançada em
período subseqüente, ou no mesmo período-base, ou na área do IN, com a apuração de saldo
credor num determinado período de apuração, o que traduz inexistência de obrigação a cargo
do sujeito passivo. Ao admitir tanto a redução na matéria lançada como a compensação de
saldos em períodos subseqüentes, estará a fiscalização homologando aquele resultado, mesmo
sem pagamento.

Assim sendo, ainda que não haja pagamento, ocorrendo o fato imponível, isto
é, nascida à obrigação tributária, após o decurso de 5 (cinco) anos considera-se homologado o
lançamento e definitivamente extinto o crédito tributário se a Fazenda, nesse período,
pennanecer silente, privilegiando o principio que o direito não socorre ao que dorme.

Não há dúvidas, de que o legislador tributário com a criação do lançamento


por homologação, procurou uma forma de contornar a problemática da estrita vinculação do
ato de lançamento à autoridade administrativa (dai a impossibilidade no direito pátrio de se
falar no impropriamente denominado "autolançamento") a despeito da existência de tributos
cuja natureza exige a sua apuração, quantificação c, conforme o caso, o seu recolhimento, sem
prévia manifestação da administração (exs: tributos sujeitos à retenção na fonte e os impostos
indiretos, tais como o ICMS e o I13 1). A doutrina, no entanto, diante à insuficiência da
construção normativa engendrada pelo legislador tributário, identifica contradições e
incoerências no tratamento da Matéria.

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Processo n°18471.002524,2003-13 53-C4T2
Acórdão nf 3402-00.132 Fl. 10

Da mesma forma, não há dúvidas, que a homologação expressa ou tácita


termina sendo a forma pela qual o fisco, concordando com a apuração realizada pelo
contribuinte, realiza o lançamento tributário.

Assim, objeto da homologação é a atividade de apuração, e não o pagamento


do tributo.

É a atividade que, diante de determinada situação de fato, afirma existente o


tributo e apura o montante devido, ou afirma inexistente o tributo e assim ausente a
possibilidade de constituição de crédito tributário. É aquela atividade que, sendo privativa da
autoridade administrativa, é em certos casos, por força de lei, desenvolvida pelo contribuinte e
assim, para que possa produzir os efeitos jurídicos do lançamento carece da homologação.
Com esta a autoridade faz sua aquela atividade de fato desempenhada pelo contribuinte. Assim,
se o contribuinte fez a apuração e informou o valor do tributo ao fisco, prestando a informação
(DCTF, GIA, etc.), a autoridade administrativa pode fazer o lançamento, simplesmente
homologando aquela apuração feita pelo contribuinte, e se não houve o pagamento, notificá-lo
para pagar, tal como se houvesse terminado um procedimento administrativo de lançamento de
oficio.

Não obstante o art. 150, em seu parágrafo primeiro, refira-se à homologação


do lançamento, e em seu parágrafo quarto contenha a expressão "considera-se homologado o
lançamento", na verdade não se homologa o lançamento, pois o lançamento, nesta hipótese,
consiste precisamente na homologação.Homologação da atividade de apuração ou
determinação do valor do tributo e, sendo o caso, da penalidade, que a final consubstanciam o
crédito tributário. O que existe antes da homologação não é, em termos jurídicos, um
lançamento. Toda a atividade material desenvolvida pelo contribuinte para a determinação do
valor devido ao fisco não é, do ponto de vista rigorosamente jurídico, o lançamento, pois esta é
atividade privativa da autoridade administrativa. Atividade que, em se tratado de lançamento
por homologação, consiste simplesmente na homologação. (É certo que o § 1 0 , do art. 150,
referindo-se à homologação do lançamento, parece admitir que se deve considerar a atividade
de apuração, desenvolvida pelo contribuinte, como lançamento. Cuida-se, porém, de simples
impropriedade terminológica. A palavra lançamento, ai, está empregada no sentido de apuração
do valor do tributo. Não no sentido técnico jurídico de constituição do crédito tributário).

Neste momento, acreditamos ser interessante fazer uma abordagem nas


formas de interpretações existentes:

A) Sujeito passivo apura e recolhe integralmente ou parcialmente o


tributo devido: Quando o sujeito passivo apura o valor devido, e recolhe integralmente o
tributo, trata-se da situação fática ideal que o legislador previu ao contemplar com um lapso
temporal mcnor para a ocorrência da decadência. É a própria essência do lançamento por
homologação. O cites a guo, ou o termo inicial para contagem do prazo decadencial, é a partir
do fato gerador. Como suporte fático no do artigo 150, § 4.° do CTN. Quando o recolhimento é
menor que o valor devido, ou seja, é parcial o posicionamento predominante na doutrina leva a
considerar a hipótese como similar à anterior. Ou seja, independente se o recolhimento for
integral ou parcial, o termo inicial para contagem se inicia da ocorrência do fato gerador.

B) Sujeito passivo apura e não recolhe o tributo devido: Essa hipótese


provoca divergência na doutrina dependendo do entendimento adotado com relação ao objeto

SAICAKIHARA, 1999, p. 584


19
da homologação. Quando o objeto da homologação é o pagamento, e não ocorrendo, a regra a
ser aplicada é do artigo 173, I do CTN, sendo o termo inicial para contagem do prazo
deeadeneial o primeiro dia do exercício seguinte. Se, por acaso, o objeto da homologação é o
procedimento realizado pelo sujeito passivo inclina-se a aceitar que o tendo inicial obedecerá
ao artigo 150, § 4.° do CTN.

C) Sujeito passivo não apura e não recolhe o tributo devido: Nessa


situação, independentemente do posicionamento adotado com relação ao objeto da
homologação, existem aqueles, que entendem que não há o que se homologar e nestes casos o
Fisco deveria utilizar o lançamento de oficio, onde o dies a quo, para contagem do prazo
deeadencial é o primeiro dia do exercício seguinte, na forma do artigo 173, I do CTN.

Entretanto, a minha posição pessoal é que objeto da homologação é a


atividade exercida pelo contribuinte, e não o procedimento de apuração ou o pagamento do
tributo. Aliás, esta é a posição majoritária no Conselho de Contribuintes do Ministério da
Fazenda, órgão julgador de segunda instância dos processos em matéria tributária na área
federal, confoinie os acórdãos abaixo relacionados:

TREF - DECADÊNCIA — TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO


POR HOMOLOGAÇÃO - A regra de incidência de cada tributo
é que define a sistemática de seu lançamento. O pagamento do
tributo é irrelevante para a caracterização da natureza do
lançamento tributário. O imposto de renda pessoa física é tributo
que se amolda à sistemática prevista no art. 150 do C1711
chamado lançamento por homologação, de forma que o prazo
clecadencial é o previsto no parágrafo 4 do referido dispositivo.
Recorrente : FAZENDA NACIONAL. Recorrida : 4' CAMARA
DO 1° CONSELHO DE CONTRIBUINTES. Sessão de : 22 de
setembro de 2005. Acórdão n° CSRE/04-00.125.

DECADÊNCIA — LANÇA MEATO POR HOMOLOGAÇÃO — Os


tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de
antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa amoldam-se à sistemática de lançamento por
homologação, prevista no art. 150 do CTN, hipótese e m que o
prazo decadencial tem como termo inicial à data da ocorrência
do fato gerador. A ausência de recolhimento não desnatura o
lançamento, pois o que se homologa é a atividade-exercida pelo
sujeito passivo, da qual pode resultar ou não o recolhimento de
tributo. Preliminar de decadência acolhida. Recurso especial cla
Fazenda Nacional conhecido e não proviclo.Sessão de: 11 de
agosto de 2003. Acórdão n° CSRF/01-04.603.

Necessário ressaltar, que o art. 150 § 4° do CTN excepciona de sua contagem


os casos em que se constatarem procedimentos dolosos, fraudulentos ou de simulação. Nestes
casos não se observará a contagem do prazo a partir do fato gerador.

No que tange à fraude, merece transcrição à lição de SÍLVIO RODRIGUES


(Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 226):
Age em fraude à lei a pessoa que, para burlar principio cogente,
usa de procedimento aparentemente licito. Ela altera
deliberadamente a situação de Lato em que se encontra, para
fugir à incidência da norma. O sujeito se coloca simuladamente
em uma situação em que a lei não o atinge, procurando livrar-se
de seus efeitos.

20
Processo n° 18471.002324/2003-13 S3-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 Fl. 11

A simulação consiste na "prática de ato ou negócio que esconde a real


intenção" (SILVIO DE SALVO VENOSA. Direito Civil. São Paulo: Atlas, 2003, p. 467), sem
necessidade de prejuízo a terceiros (2003, p. 470).

A verificação do fato de determinada vontade tendente a ocultar a ocorrência


do fato gerador ou encobrir suas reais dimensões, manifestada de forma efetiva na consecução
distorcida das obrigações formais do contribuinte, serve como base material para a verificação
da existência de dolo, fraude ou simulação.

Assim, a configuração desse ilícito interessa ao direito tributário na medida


em que colabora na deteiminação da regra da decadência aplicável ao caso concreto.

O fato jurídico da existência ou não de dolo, fraude ou simulação (parte final


do art. 150, § 4"., do CTN) deve, para consecução dos objetivos estabelecidos nestes
dispositivos, ser constituída na via administrativa, detenninando, desse modo, a
obrigatoriedade do lançamento de oficio (art. 149, VII, do CTN) ou a impossibilidade da
extinção do crédito pela homologação tácita. Deve-se observar que a ocorrência de dolo, fraude
ou simulação só é relevante nos casos de efetivo pagamento antecipado. Se não houver
pagamento antecipado, seja porque o contribuinte não o efetuou, ou porque o tributo por sua
natureza se sujeita ao lançamento de oficio, o dolo, a fraude e a simulação hão de ser apurados
no procedimento administrativo de fiscalização realizado de oficio, não servindo como
hipóteses determinantes no prazo diferenciado de decadência.

Nestes casos o Código Tributário Nacional não fixa um prazo especifico para
operar a decadência, exigindo um esforço enorme do hermeneuta para a solução dessa questão
sem deixar, no entanto, de atender, também, o principio da segurança nas relações jurídicas, de
modo que os prazos não fiquem ad eternum em aberto. Os prazos do Direito Civil são
inaplicáveis por serem específicos às relações de natureza particular.

A solução mais adequada e pacifica nos tribunais superiores é no sentido de


se aplicar à regra do art. 173, 1 (exercício seguinte) para os casos do art. 150, § 4° do CTN
(lançamento por homologação); e a regra do art. 173, parágrafo (mico do CTN nos demais
casos — lançamento não efetuado em época própria ou a partir da data da notificação de medida
preparatória do lançamento pela Fazenda Pública.

Embora o prejuízo a terceiro, que, no caso, é a Administração Pública, não


seja requisito desses vícios, o fato é que, conforme já dito acima, não se concebe que alguém
deles se utilize sem interesse econômico.

Por isso, ainda que tenha havido pagamento, a existência de dolo, fraude ou
simulação causa suspeita, razão pela qual o Código Tributário Nacional impede a extinção do
crédito tributário no caso da ocorrência desses ilícitos.

É nessa linha que autores como JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES,


mencionado por EURICO MARCOS DINIZ Dl SANTI (Decadência e Prescrição no Direito
Tributário. São Paulo: Max Lomonad, 2001, p. 165), assinala que ao direito tributário o que
importa não é o dolo, a fraude ou a simulação, mas seu resultado.

Quanto a isso, vale lembrar o que dispõe o art. 136 do Código Tributário
Nacional, verbis:

21
Art. 135 Salvo disposição de lei em contrário, a
responsabilidade por infrações da legislação tributária
independe da intenção do agente ou do responsável e da
efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.

Isso, obviamente, não afasta a aplicação de eventuais sanções


especificamente pelas condutas dolosas, fraudulentas ou simuladas, conforme se infere, por
exemplo, da Lei Federal n.° 8.137, de 1990, e do art. 137 do próprio Código Tributário
Nacional.

Sem embargo da exposição feita nesse tópico, costuma-se apontar nessa parte
final do § 4.° do art. 150 do CTN uma lacuna, uma vez que não haveria tratamento legal quanto
ao prazo para lançar quando presente dolo, fraude ou simulação (LUCIANO AMARO. Direito
Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 356; p. 394).

Seguindo esse entendimento, alguns doutrinadores defendem que se deveria


aplicar, por analogia, a rega do art. 173, I, do CTN.

Assim, por exemplo, PAULO DE BARROS CARVALHO (Curso de Direito


Tributário. São Paulo: Saraiva,1996, p. 291):

b) falta de recolhimento, integral ou parcial, de tributo, cometida


com dolo, fraude ou simulação — o trato de tempo para a
formalização da exigência e para a aplicação de penalidades é
de cinco anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que o lançamento poderia ter sido realizado.

Assim sendo e tendo em vista, que o Código Tributário Nacional, como


norma complementar à Constituição, é o diploma legal que detém legitimidade para fixar o
prazo decadeneial para a constituição dos créditos tributários pelo Fisco e inexistindo rega
especifica, no tocante ao prazo decadencial aplicável aos casos de evidente intuito de fraude
(fraude, dolo, simulação ou conluio) deverá ser adotada a regra geral contida no artigo 173 do
CTN, tendo em vista que nenhuma relação jurídico-tributária poderá protelar-se
indefinidamente no tempo, sob pena de insegurança jurídica.

No caso UM exame, considerando que houve a aplicação de multa de


lançamento de oficio nonual de 75% e o fato gerador ocorreu em 31/12/1998, o lançamento
poderia ter sido efetuado a partir do ano-calendário de 1999, tendo o prazo decadeneial
iniciado em 31/12/1998, vencendo-se em 31/12/2003 e a ciência do lançamento se deu em
26/11/2003 (fls. 922), afastada está a preliminar de decadência suscitada pelo recorrente.

Quanto a preliminar de nulidade do lançamento argüida pelo suplicante, sob


o entendimento de que tenha ocorrido ofensa aos princípios constitucionais do devido processo
legal em razão da não aplicação dos §§ 5' da Lei n°9.430, de 1996, alteração esta introduzida
pelo artigo 58 da Lei n° 10.637, de 2002. Ou seja, quando provado que os valores creditados na
conta de depósito ou de investimento pertencem à terceiro, evidenciando interposição de
pessoa, a deteminação dos rendimentos ou receitas será efetuada em relação ao terceiro, na
condição de efetivo titular da conta de deposito ou de investimento (ilegitimidade passiva)
esta, da mesma forma, deve ser rejeita, pelos motivos que se seguem:

Sustenta o suplicante, que os valores depositados em suas contas bancárias,


representam, de fato, a movimentação financeira da sociedade civil Albuquerque Barbosa
Lima e Miranda Advogados Associados S/C. Sendo que, por si só, este fato justificaria a

22
Processo n° I 8471.002524/2003-13 S3-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 Fl. 12

origem de todos os depósitos creditados em suas contas mantidas junto às instituições


financeiras.

Como visto, no presente processo, o suplicante, quer na impugnação, quer no


recurso voluntário, limitou-se a perfilhar pontos de vista acerca da validade e da eficácia do
lançamento, pertinentes aos procedimentos da fiscalização no curso da ação fiscal. Para ele, o
lançamento é nulo pelos argumentos que desenvolveu.

A extremar-se o formalismo, como desejado, a ação fiscal haveria de ter-se


desenvolvido em duas frentes: (a) junto à pessoa jurídica (sociedade civil), relativamente às
provas de prestação de serviços (origem dos recursos); (b) perante o sócio, no tocante as contas
em seu nome (depósitos bancários). Porém, das peças processuais, observa-se que suplicante,
foi intimado a comprovar documentalmente o alegado, apresentando documentos hábeis
pertinentes, tais como escrituração contábil, notas fiscais de venda, vinculação entre a atividade
da empresa e as receitas em questão, etc. Na ocasião, também, foi intimado a especificar
detalhadamente as fontes produtoras dos rendimentos (contratos de prestação de serviços).
Entretanto, não logrou identificar e comprovar a vinculação do faturamento da sociedade com
cada ingresso financeiro em suas contas correntes.

Ora, não restam dúvidas, que só a pessoa jurídica estaria, em principio, apta a
comprovar os ingressos, recorrendo a seus assentamentos contábeis e respectivos documentos,
assim como somente o sócio titular das contas correntes envolvidas poderia colher e fornecer
os comprovantes relativos às operações ou negócios particulares de que participou e que deram
origem aos recursos utilizados nos depósitos bancários efetuados.

Entretanto, não é essa a prática que a jurisprudência administrativa


testemunha. Pois como se sabe, desde remotíssima data tem-se entendido que a intimação deve
ser feita ao próprio titular da conta bancária, seja quanto à apresentação de documentação hábil
e idônea seja quanto à origem dos recursos questionados.

Com efeito, qualquer procedimento fiscal digno do nome há de estar


suficientemente instruido para possibilitar ampla defesa do contribuinte contra quem for
instaurado. No caso, os elementos de prova, informações, etc., necessários e suficientes para
embasar o lançamento contra o titular das contas bancárias estão nos autos.

Não tenho dúvidas de que a comprovação de origem, nos termos do disposto


no artigo 42 da Lei n° 9.430, de 1996, deve ser interpretada como a apresentação pelo
contribuinte de documentação hábil e idônea que possa identificar a fonte do crédito, o valor, a
data e, principalmente, que demonstre de forma inequívoca a que título os créditos foram
efetuados na conta corrente. Há necessidade de se estabelecer uma relação harmoniosa entre
cada crédito em conta e a origem que se deseja comprovar, com coincidências de data e valor,
não sendo possível à comprovação de forma genérica com indicação de uma receita ou
rendimento em um determinado documento a comprovar vários créditos em conta. Ou seja,
esta comprovação deverá ser feita com documentação hábil e idónea, devendo ser indicada à
origem de cada depósito individualmente, não servindo como comprovação de origem de
depósito os rendimentos anteriormente auferidos ou já tributados, se não for comprovado a
vinculação da percepção dos rendimentos com os depósitos realizados.

Ora, observa-se que em nenhuma das fases do procedimento administrativo


(fiscalização, impugnatória ou recursal), o recorrente anexou de maneira satisfatória e

23

inquestionável, que os depósitos bancários realizados em contas bancárias de sua titularidade
fossem de fato da pessoa jurídica (sociedade civil) do qual é sócio.

Analisando-se os autos, verifica-se que a diversificação de movimentação é


notória e de certa forma até reconhecida pelo próprio contribuinte, quando tenta de todas as
formas vincular documentos a operações da sociedade civil, carecendo, entretanto, no seu bojo,
definir com exatidão valores que realmente expressem com clareza a espécie de procedimento
realizado.

O que não se pode, a meu ver e com a devida vênia, é se eleger como sujeito
passivo, principalmente para fins de gozar de tributação minorada pelo imposto de renda, tudo
o que, "lato sensu", todo o contribuinte entenda ser conveniente para si e quando estiver com
-vontade de fazê-lo.

Ademais, é de bom alvitre que aqui se relembre que, no ano-calendário de


1998, a sociedade civil do qual o recorrente é sócio majoritário (Albuquerque Barbosa Lima
e Miranda Advogados S(C) apresentou declaração de inativa (fls. 971). Ou seja, declarou,
formalmente, a Secretaria da Receita Federal que não tinha auferido nenhuma receita e, após
apresentar a declaração de inativa, nada fez para modificar esta situação o que confirma que, ao
menos para este ano-calendário, a sociedade não poderia ter auferido as receitas questionadas
no Auto de Infração.

As ações praticadas pelos contribuintes para ocultar sua real capacidade


econômica, e assim se beneficiar indevidamente de algum tratamento diferenciado, deve
merecer sempre a ação saneadora contrária, por parte da autoridade fiscal, em defesa até dos
legítimos beneficiários daquele tratamento.

Na perquirição do fato de relevância econômica capaz de caracterizar a


ocorrência do fato gerador do tributo, a ação fiscal jamais se deterá na superficialidade dos
aspectos formais dos atos, fatos e negócios jurídicos dos contribuintes, aceitando-os como eles
se apresentam e sem poder investigar o que realmente aconteceu.

Muito pelo contrário, a função precípua do Fisco é a de examinar a essência e


a natureza dos fatos e dos negócios jurídicos, nada se importando com a nomenclatura que os
contribuintes lhes tenham emprestado.

Assim sendo, entendo que está correta eleição do sujeito passivo, tendo em
vista que Guilherme de Albuquerque (o autuado) foi responsável pela administração de suas
contas correntes, praticando as transações levantadas, mesmo que em alguns casos os depósitos
pudessem estar vinculados à sociedade civil do qual e sócio e que foram, devidamente,
excluídas da tributação pela decisão de Primeira Instância, não houve, por parte do interessado,
a apresentação de documentação hábil e idónea que comprovasse de forma irrefutável o fato,
restam alegações, que por si só, não tem o condão de modificar o sujeito passivo da obrigação
tributária.

Todavia o dever do oficio nos arrasta, no sentido de que se restabeleça a


justiça fiscal de que, nestes autos, está carente, não só por culpa da autoridade lançadora e sim
pela situação peculiar estabelecida nestes autos.

Em primeiro lugar, verifica-se que as contas bancárias questionadas são


mantidas em conjunto. Em segundo lugar, o autuado, titular das contas bancárias, é sócio
majoritário (sócio com 70%) de sociedade civil de advocacia sem conta bancária.

24
Processo n° 18471.002524/2003-13 53-C4T2
Acórdão n." 3402-00.132 Fl. 13

Ora, é mansa a jurisprudência deste Tribunal Administrativo no sentido de


que quando se tratar de contas bancárias em conjunto se faz necessário que todos os titulares e
co-titulares sejam intimados para prestar as inforinações inerentes aos depósitos bancários, para
que não seja alegado erro de metodologia e base de cálculo.

Observa-se da análise dos autos que o Auto de Infração tem como suporte as
contas bancárias abaixo relacionadas:

a) — Caixa Econômica Federal — c/c n° 0198.00179904-1 — conta conjunta


de titularidade de Guilherme de Albuquerque e Sonia Maria V.
Albuquerque — CPF 854.190.877-15, cônjuge do contribuinte, que
apresentou Declaração de Ajuste Anual em separado, declarando R$
13.801,33; R$ 35.338,65; R$ 21.552,23 e R$ 28.673,86 nos anos-
calendário de 1998, 1999, 2000 e 2001, respectivamente (fls. 7/9; 10/11;
13/15; 16/18 e fls. 129/181);

b) — Banco Itair — c/c n° 0703-95809-0 - conta conjunta de titularidade de


Guilherme de Albuquerque e Sonia Maria V. Albuquerque — CPF
854.190.877-15, cônjuge do contribuinte, que apresentou Declaração de
Ajuste Anual em separado, declarando R$ 13.801,33; R$ 35.338,65; RS
21 552 23 e R$ 28.673,86 nos anos-calendário de 1998, 1999, 2000 e
2001, respectivamente (fls. 7/9; 10/11; 13/15; 16/18 e fls. 232/319);

c) — Banco Itaá — c/c n° 3820-25372-6 - conta conjunta de titularidade de


Guilherme de Albuquerque e Sonia Maria V. Albuquerque — CPF
854.190.877-15, cônjuge do contribuinte, que apresentou Declaração de
Ajuste Anual em separado, declarando R$ 13.801,33; R$ 35.338,65; R$
21 552 23 e R$ 28.673,86 nos anos-calendário de 1998, 1999, 2000 e
2001, respectivamente (fls. 7/9; 10/11; 13/15; 16/18 e fis. 182/224);

d) — Citibank — c/c n° 00053096304 - conta conjunta de titularidade de


Guilherme de Albuquerque e Sonia Maria V. Albuquerque — CPF
854.190.877-15, cônjuge do contribuinte, que apresentou Declaração de
Ajuste Anual em separado, declarando RS 13.801,33; R$ 35.338,65; R$
21.552,23 e R$ 28.673,86 nos anos-calendário de 1998, 1999, 2000 e
2001, respectivamente (fls. 7/9; 10/11; 13/15; 16/18 e fls. 226/231).

Em situações como a dos autos se faz necessário examinar de oficio a


aplicação do parágrafo 6° do artigo 42, da Lei n°9.430, de 1996, in verbis:

Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de


rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de
investimento mantida junto a instituição financeira, em relação
aos quais o titular, pessoa fisica ou jurídica, regularmente
intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idónea,
a origem dos recursos utilizados nessas operações.

§ 6 0 Na hipótese de contas de depósito ou de investimento


mantidas em conjunto, cuja declaração de rendimentos ou de
informações dos titulares tenham sido apresentadas em
25
separado, e não havendo comprovação da origem dos recursos
nos termos deste artigo, o valor dos rendimentos ou receitas será
imputado a cada titular mediante divisão entre o total dos
rendimentos ou receitas pela quantidade de titulares.

O dispositivo acima transcrito foi acrescentado ao artigo 42 pelo art. 58 da


Medida Provisória n° 66, de 29 de agosto de 2002, convertida na Lei n° 10.637, e 30 de
dezembro de 2002. Como se vê, o citado parágrafo já se encontrava em vigor desde
29/08/2002, portanto deveria ter sido observado pela autoridade fiscal quando da lavrahira do
presente Auto de Infração.

É inquestionável que a melhor interpretação para o caput deste dispositivo,


combinado com o seu parágrafo 6°, é no sentido de que se faz necessária a intimação do titular
(se a conta for individual) ou dos titulares das contas de depósito ou de investimento (se a
conta for conjunta) para que comprovem a origem dos depósitos bancários identificados.

Conforme citado acima,constata-se de forma clara nos extratos das contas-


correntes, que motivaram o lançamento, que as contas eram conjuntas e mesmo conhecendo o
fato, deixou a autoridade administrativa de intimar o outro titular.

Não restam dúvidas, que a omissão de rendimentos caracterizada por


depósitos bancários não comprovados é uma presunção legal. No entanto, para que se valide a
presunção de omissão de rendimentos, o lançamento deve-se conformar aos moldes da lei.
Reza o caput do art. 42, da Lei n°9.430, de 1996, que a omissão de rendimentos se caracteriza
quando o titular da conta, regularmente intimado, não comprova a origem dos recursos
depositados. Logo, é óbvio, que no caso de conta-corrente conjunta, toma-se imprescindível
que todos os titulares sejam intimados a comprovar a origem dos depósitos.

Nas contas-correntes mantidas em conjunto, presume-se, obviamente, que os


titulares possam utilizar-se das mesmas para crédito/depósito dos seus próprios rendimentos e a
movimentação dos recursos financeiros pode ser feita por todos os titulares. Desta forma, a
responsabilidade pela comprovação da origem dos recursos, para efeito do disposto no artigo
42 da Lei n° 9.430, de 1996, deve ser imputada a todos os titulares da conta-corrente.

Ora, a atividade do lançamento é vinculada e obrigatória, nos precisos termos


do parágrafo único do artigo 142, do Código Tributário Nacional, que impõe à autoridade
lançadora a obediência às formalidades previstas na legislação, com vistas à constituição do
crédito tributário. Assim, não poderia a autoridade lançadora ter deixado de intimar os outros
titulares daquelas contas-correntes, pois não tem o poder discricionário para agir em desacordo
com a lei, sob pena de macular o lançamento.

É bem verdade que existe um estreito relacionamento entre o recorrente e o


outro titular (são cônjuges), porém tal circunstância não permite presumir que as intimações
contra um deres tenha plenos efeitos em relação ao outro. Ou seja, a intimação a apenas um dos
titulares não supre a imposição legal de intimar os demais co-titulares das contas mantidas em
conjunto, pois a presunção de omissão de rendimentos, baseada em créditos bancários, somente
se consuma na medida em que o contribuinte, regularmente intimado, não comprova, com
documentação hábil e idônea, a origem dos referidos créditos.

Com a devida vênia, o auto de infração ao adotar como base de cálculo o


valor integral, sem a intimação de um dos titulares das contas-corrente em debate para se
manifestar sobre a origem dos mencionados depósitos havidos na conta bancária que também
lhe pertence, está eivado de vicio.

26
Processo n`' 18471.002524/2003-13 S3-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 El, Ist

Em se tratando de conta conjunta, não se pode debitar a um dos correntistas o


valor integral do montante depositado sem que se verifique o que se constitui em renda de cada
uru dos titulares da citada movimentação financeira. Por outro lado, quando não é possível a
comprovação da origem dos recursos, o valor dos rendimentos ou receitas, nos tennos do § 6°.
do art. 42 da Lei n°. 9430, de 1996, deve ser tributado mediante divisão entre o total dos
rendimentos ou receitas pela quantidade de titulares.

Tal critério legislativo de apuração da base de cálculo confere liquidez e


certeza ao lançamento e, agindo de forma diversa, conforme ocorreu no caso em questão, há
claro desrespeito ao artigo 42, caput e parágrafo 6°, da Lei n° 9430, de 1996 e ao artigo 142 do
Código Tributário Nacional. Assim sendo, voto pelo provimento integral do recurso.

Além disso, como argumentação complementar da ineficácia do presente


lançamento, é de se dizer que se verifica que a decisão de Primeira Instância em alguns casos
aceitou que determinados depósitos bancários estariam atrelados à receita da sociedade civil do
qual o recorrente é sócio majoritário. Ou seja, o relator aduziu que: "Destarte, no que se refere
à argumentação de os honorários advocatício seriam da ALBUQUERQUE & BARBOSA
LIMA E MIRANDA ADVOGADOS ASSOCIADOS S/C, concordo parcialmente apenas em
relação àqueles listados no Anexo I, item 1, pois nestes há a prova documental inequívoca da
participação profissional efetiva dos demais sócios ou a comprovação de que atuava-se na
forma de sociedade de advogados, como se pode verificar nas procurações, petições e outros
documentos juntados ao processo" (fls. 1127).

Como visto, a decisão de Primeira Instância decidiu tomar conhecimento da


impugnação por apresentação tempestiva para, no mérito deferi-Ia, em parte, determinando o
cancelamento dos créditos tributários constituídos relativo à parcela de depósitos bancários
cuja origem, no entender do relator, provinha de valores que transitaram nas contas bancárias
do autuado, oriundos de receitas da sociedade civil do qual era sócio, já que os autos continham
elementos seguros de provas de que o valor tributado como depósito bancário não justificado
tinha origem nestas operações (receita da sociedade civil de advogados).

Nesta seqüência, se faz necessário mencionar, que a presunção criada pela


Lei n° 9.430, de 1996, é uma presunção relativa passível de prova em contrário, ou seja, está
condicionada apenas à falta de comprovação da origem dos recursos que transitaram, em nome
do contribuinte, em instituições bancárias. A simples prova em contrário, Ónus que cabe ao
contribuinte, faz desaparecer a presunção de omissão de rendimentos. Por outro lado, a falta de
justificação faz nascer à obrigação do contribuinte para com a Fazenda Nacional de pagar o
tributo com os devidos acréscimos previstos na legislação de regência, já que a principal
obrigação em matéria tributária é o recolhimento do valor correspondente ao tributo na data
aprazada.

O recorrente, no texto do seu recurso, postulou, à guisa de matéria de mérito,


que a sociedade regularizou sua situação fiscal, nos anos-calendário de 1999, 2000 e 2001, ao
aderir ao Parcelamento Especial (PAES), instituído pela Lei ri° 10.684, de 2003, tendo
observado todos os requisitos exigidos pela legislação de regência, quais sejam: (i) formalizou
sua opção por aquela modalidade especial de parcelamento em 24/07/2003, isto é, três meses
antes da lavratura do auto de infração ora guerreado (ii) apresentou, em novembro de 2003,
antes também da autuação, as DIN. com base no lucro presumido, relativas aos anos-calendário
de 1999, 2000 e 2001 (anexo 03), como exigido pelo parágrafo único do artigo 2° daquela
mesma Portaria Conjunta PGEN/SRF n° 3/03, nelas incluindo, dentre outras, as mesmas

27
receitas que mais tarde foram atribuídas pessoalmente ao recorrente, bem como, no prazo legal,
as respectivas DCTF (anexo 04), e (iii) vem recolhendo mensalmente o valor do débito
parcelado, tendo quitado às 12 (doze) primeiras parcelas (anexo 5), nos termos do artigo E§ §
3', inciso II, da Portaria ConjuntalSRF n" 1103.

Inicialmente, se faz necessário se ressaltar, que esta argumentação não foi


levantada na fase impugnatória, razão pela qual a decisão de Primeira Instância não fez
referências sobre o assunto.

De fato. O suplicante nada citou, sobre o assunto, em sua peça impugnatoria.


A decisão, na realidade, nem lhe examinou a qualidade ou a pertinência para os efeitos
pretendidos pelo contribuinte. Nem podia, já que as argumentações só ocorreram na peça
recursal.

É claro que o meu entendimento pessoal é no sentido de que não deve ficar
ao alvitre do contribuinte, a estipulação de valores quaisquer para a regularização de suas
operações, ainda mais quando busque reduzir a tributação. Mas, por outro lado, em nome da
segurança jurídica que deve reinar em tenros de tributação, é absolutamente indispensável que
o imposto exigido repouse em base sólida, nunca em mera presunção fiscal, ou que remanesça
alguma dúvida quanto à exigência fiscal. Nesse sentido entendo que cabem, aqui, os conceitos
de justiça invocados na peça recursal.

Além disso, entendo que o contribuinte pode apresentar a documentação que


entender necessária à sua defesa. Ou seja, toda matéria útil pode ser acostada ou levantada na
defesa, é também direito do contribuinte ver apreciada essa matéria, sob pena de restringir o
alcance do julgamento. Se a retificação da declaração do imposto de renda da sociedade
Albuquerque &:, Barbosa Lima e Miranda Advogados Associados S/C não puder ser examinada
em seu mérito, de nada terá valido o direito de elege-1a como peça de defesa. Esse direito à
ampla defesa estaria, assim, esvaziado de todo conteúdo, porque embora se reconheça que pode
ser exercido, não se reconhece que possa ser apreciado, justamente porque apresentado na fase
recursal.

No caso em exame, a Albuquerque 8c Barbosa Lima e Miranda Advogados


Associados S/C resolveu regularizar sua situação fiscal, nos anos-calendário de 1999, 2000 e
2001, aderindo, em 24/07/2003, ao Parcelamento Especial (PAES), instituído pela Lei n°
10,684, de 2003, bem como resolveu apresentar, em novembro de 2003, as Declarações de
Imposto de Renda Pessoa Jurídica Retificadoras com base no lucro presumido, relativas aos
anos-calendário de 1999, 2000 e 2001. Como visto, esta regularização foi durante a fase
fiscalizatória do sócio majoritário da sociedade civil em questão (o autuado).

Os dispositivos legais de regência da matéria se manifestam da seguinte


forma:

Lei tf 10.684, de 30 de maio de 2003:

Art. .1 c Os débitos junto à Secretaria da Receita Federal ou à


Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, com vencimento até
28 de fevereiro de 2003, poderão ser parcelados em até cento e
oitenta prestações mensais e sucessivas.

1"0 disposto neste artigo aplica-se aos débitos constituídos ou


não, inscritos ou não como Divida Ativa, mesmo em fase de
execução fiscal já ajuizada, ou que tenham sido objeto de

28
Processo n° 18471.002524/2003-13 S3-C412
Acórdão n.°3402-00.132 Fl. 15

parcelamento anterior, não integralmente quitado, ainda que


cancelado por falta de pagamento.

§ 2' Os débitos ainda não constituídos deverão ser confessados,


de forma irretratável e irrevogável.

Portaria PGFN/SRF n° 3, de 01 de setembro de 2003:


Art. 1° Fica instituída declaração — Declaração Paes — a ser
apresentada até o dia 31 de outubro de 2003 pelo optante do
parcelamento especial de que trata a Lei 10.684/03, pessoa
fisica ou, no caso de pessoa jurídica ou a ela equiparada, pelo
estabelecimento matriz, com finalidade de:

I — confessar débitos com vencimento até 28 de fevereiro de


2003, não declarados ou não confessados a SRF, total ou
parcialmente, quando se tratar de devedor desobrigado da
entrega de declaração especifica;

— confessar débitos em relação aos quais houve desistência de


ação judicial, bem assim, prestar informações sobre o processo
correspondente a essa ação;

III — prestar informações relativas aos débitos e aos respectivos


processos administrativos, em relação aos quais houve
desistência do litígio;

IV — confessar débitos, não declarados e ainda não confessados,


relativos a tributos e contribuições correspondentes a períodos
de apuração objeto de ação fiscal por parte da SRF, não
concluída no prazo fixado no caput, independentemente de o
devedor estar ou não obrigado à entrega de declaração
especifica.

Do texto do dispositivo legal transcrito extrai-se a conclusão de que fazendo
parte do universo alcançado pela Lei, a pessoa jurídica Albuquerque & Barbosa Lima e
Miranda Advogados Associados S/C aderiu ao que preceitua a Lei em data de 24/07/2003,
conforme consta do documento de fls. 03 do Anexo 1 e confirmado pelos documentos de fls.
06/156 do Anexo 1.

Verifica-se que a adesão ao Programa de Parcelamento Especial não se deu


em virtude do procedimento fiscal em si e sim por atendimento específico dos requisitos da Lei
e sua regulamentação.

Nesta linha de raciocínio, verifica-se, claramente, que a pessoa jurídica


Albuquerque & Barbosa Lima e Miranda Advogados Associados S/C enquadra-se nos
requisitos da Lei.

Não há dúvidas, como o seu sécio majoritário estava sob ação fiscal no
período da vigência da Lei n°10684, de 2003, a pessoa jurídica Albuquerque & Barbosa Lima
e Miranda Advogados Associados S/C tinha o prazo até 28 de novembro de 2003 (Portaria
PGFN/SRF n° 5, de 23 de outubro de 2003) para proceder à inclusão de débitos não declarados.

29
Para o PAES tanto faz, se que havia um procedimento de fiscalização em
andamento (do sócio majoritário ou da própria sociedade), já que a Lei n° 10.684, de 2003,
deve ser encarada, como norma especial em relação à regra geral, ela veio estabelecer uma
outra realidade, de forma temporária e em caráter de exceção.

É notório, que o Programa Especial de Parcelamento — PAES, instituído pela


Lei n° 10.684, de 30 de maio de 2003, abrange confissão de débitos com vencimento até 28 de
fevereiro de 2003, não declarados e ainda não confessados, relativos a tributos e contribuições
correspondente a períodos de apuração objeto de ação fiscal por parte da SRli não concluída no
prazo da vigência da lei, independentemente de o devedor estar ou não obrigado à entrega de
declaração especifica.

Como visto, a matéria é extremamente dificil de se decidir porque o Direito


Tributário exige do intérprete da lei que este se coloque dentro do principio da estrita
legalidade, o que significa não poder estender nem coartar o âmbito da lei. Para quem sempre
raciocina dentro do principio da tipicidade cerrada, em que cada hipótese está prevista na lei,
depara-se, por vezes, instransponivel a barreira criada pelo artigo 42 da Lei ni 9.430, de 1996,
onde, ao invés de uma norma exemplificativa, o legislador elegeu a via mais dificil da cláusula
geral. Ou seja, caracteriza-se omissão de receitas ou de rendimentos os valores creditados em
conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos
quais o titular, pessoa fisica ou juridica, regularmente intimado, não comprove, mediante
documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Resumindo a
questão ao pé da letra "sem a comprovação da origem dos recursos, nasce a presunção de
omissão de receitas ou rendimentos".

Por outro lado, quando julgador se depara com prova documental em


harmonia com os fatos alegados pela parte (autuado), e, por outro lado com simples alegação
de que a situação não ocorreu conforme descrito pela outra parte (autoridade lançadora),
indubitavelmente, maior validade probante contém quem apresenta a documentação exigida
nas circunstâncias, no caso presente, em favor do contribuinte e em detrimento da posição
assumida pela autoridade lançadora.

Assim sendo, é de lembrar que no nosso sistema tributário consaga o


principio da reserva absoluta da lei em matéria de tributação, somente admitindo o nascimento
da obrigação tributária naquelas situações perfeitamente tipificadas corno pressupostos de fato
à incidência da norma abstrata.

Não tenho duvidas de que no Direito Público o objeto da limitação é a


conduta do poder, à vontade dos órgãos de aplicação do direito; e essa conduta, e essa vontade
são precisamente limitados por via da submissão à lei, a divida de imposto só nasce quando se
preenche integralmente o modelo, tipo previsto na lei, o que não restou caracterizado no caso
presente em não se tratando de depósitos bancários passíveis de tributação na pessoa física do
autuado sócio majoritário da sociedade, tendo em vista que a Albuquerque & Barbosa Lima e
Miranda Advogados Associados S/C confessou tais valores e aderiu ao PAES cumprindo os
parâmetros determinados pela legislação de regência.

Assim, se a adesão ao Programa Especial de Parcelamento foi realizado


dentro do prazo da vigência da lei e antes da lavratura do Auto de Infração na figura do sócio
majoritário (titular de direito das contas bancárias) é de se excluir da base de cálculo da
exigência o valor confessado. Ou seja, caso não houvesse o vicio insanável apontado
anteriormente, este relator votaria pela exclusão da exigência tributária os anos-calendário de
1999, 2000 e 2001, que são equivalentes às importâncias incluídas no Programa Especial de
Parcelamento — PAES.

30
Processo n° 1847 [ .002524/2003-13 S3-C4T2
Acórdão n.° 3402-00.132 Fl. 16

Quanto ao lançamento da multa de lançamento de oficio exigida de forma


isolada pelo recolhimento em atraso do carnê-leão, se faz necessário destacar que o lançamento
da multa isolada engloba valores recebidos de pessoas (bicas, mensalmente, apurados cujos
valores foram lançados de oficio, através da constituição de crédito tributário via Auto de
Infração.

É de se observar, que a pessoa física ou jurídica que apura resultados


positivos (rendimentos ou receitas tributáveis), sofre a incidência da aliquota normal. Se omitiu
rendimentos, receitas ou apresentou declaração de rendimentos inexata, sujeita-se a multa de
lançamento de oficio. Parece tranqüilo o raciocínio de que o imposto cobrado em virtude desse
lançamento continua sendo tributo e que a multa constitui sanção pelas irregularidades
levantadas pelo fisco.

Ora, o tributo cobrado através de procedimento de oficio do fisco segue tendo


por origem fato gerador concretizado pela atividade do contribuinte, ainda que este, por ação
ou omissão, tenha contribuído para o ocultamente, total ou parcial, do fato tributado. Não é o
comportamento incorreto do contribuinte, eventualmente descoberto pelo fisco, que determina
o fato gerador. O fato gerador preexistiu. O fisco apenas sancionou, com multa legal, esse
comportamento.

A Lei n.° 9,430, de 27 de dezembro de 1996, ao tratar do Auto de Infração


com tributo e sem tributo dispôs:

Art. 43 — Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário


correspondente exclusivamente à multa ou juros de mora,
isolada ou conjuntamente.

Parágrafo único — Sobre o crédito constituído na forma deste


artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de
mora, calculados á taxa a que se refere o § 3" do art. 5°, a partir
do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até
o mês anterior ao pagamento e de um por cento no mês de
pagamento.

Art. 44— Nos casos de lançamento de oficio, serão aplicadas as


seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de
tributo ou contribuição:

I — de setenta e cinco por cento, nos casos de pagamento ou


recolhimento após o vencimento do prazo, sem acréscimo de
multa moratória, de falta de declaração e nos de declaração
inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte,.

(omissis).

§ I° - As multas de que trata este artigo serão exigidas:

I — juntamente com o tributo ou contribuição, quando não


houverem sido anteriormente pagos;

— isoladamente quando o tributo ou contribuição houver sido


pago após o vencimento do prazo previsto, mas sem o acréscimo
de multa de mora;

31
— isoladamente, no caso de pessoa física sujeita ao
pagamento mensal do imposto (carnê-leão) na forma do art. 8°
da Lei n.° 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar cle fazê-
lo, ainda que não tenha apurado imposto a pagar na declaração
de ajuste.

Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e


contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal
cujos fatos geradores ocorrerem a partir de I° de janeiro de
1997, não pagos nos prazos previstos na legislação especifica,
serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e
três centésimos por cento, por dia de atraso.

§ 1° Á multa de que trata este artigo será calculada a partir do


primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto
para o pagamento do tributo ou da contribuição até o dia em que
ocorrer o seu pagamento.

§ 2 0 0 percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte


por cento.

§ 3° Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros


de mora calculados à taxa a que se refere o § 3' do art. 5°, a
partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do
prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no
mês de pagamento.

Da análise dos dispositivos legais retro transcritos é possivel se concluir que


para aquele contribuinte, submetido à ação fiscal, após o encerramento do ano-calendário, que
deixou de recolher o "camê-leão" que estava obrigado, existe a aplicabilidade da multa de
lançamento de oficio exigida de forma isolada.

É cristalino o texto legal quando se refere às normas de constituição de


crédito tributário, através de auto de infração sem a exigência de tributo.

Do texto legal conclui-se que não existe a possibilidade de cobrança


concomitante de multa de lançamento de oficio juntamente com o tributo (normal) e multa de
lançamento de oficio isolada sem tributo, ou seja, se o lançamento do tributo é de oficio deve
ser cobrada a multa de lançamento de oficio juntamente com o tributo (multa de oficio nounal),
não havendo neste caso espaço legal para se incluir a cobrança da multa de lançamento de
oficio isolada.

Por outro lado, quando o lançamento de exigência tributária for aplicação de


multa isolada, só há espaço legal para aquelas infrações que não foram levantadas de oficio, a
exemplo da apresentação espontânea da declaração de ajuste anual com previsão de pagamento
de imposto mensal (camê-leão) sem o devido recolhimento, caso típico da aplicação de multa
de lançamento de oficio isolada sem a cobrança de tributo, cabendo neste além da multa
isolada a cobrança de juros de mora de folina isolada, entre o vencimento do imposto até a data
prevista para a entrega da declaração de ajuste anual, já que após esta data o imposto não
recolhido está condensado na declaração de ajuste anual.

32
Processo n° 18471.00252472003-13 S3-C4T2
Acórdão It .' 3402-00.132 Fl, 17

Diante do conteúdo dos autos e pela associação de entendimento sobre todas


as considerações expostas no exame da matéria e por ser de justiça, voto no sentido de
REJEITAR as preliminares suscitadas pelo Recorrente e, no mérito, DAR provimento
PARCIAL ao recurso.

r •SJ I • driSeV77.

33
Voto Vencedor

Conselheiro ANTONIO LOPO MARTINEZ, Redator-Designado

Inobstante o respeitável entendimento desenvolvido pelo Ilustre Conselheiro


Relator, Dr. Nelson Mallmann, no caso em análise, no entanto e com sua venta, a convicção
deste julgador não permite acompanhá-lo, exclusivamente e apenas tão somente, no tocante a
omissão de rendimentos de trabalho sem vinculo empregaticio recebido de pessoas físicas.
Deve-se, entretanto, frisar que acompanho o voto do relator nos demais pontos.

Entende o Ilustre Conselheiro Relator, neste ponto de divergência que diante


do conjunto a autuação não tem condições de prosperar, por estar calcada em bases frágeis.

No entanto, a convicção das provas me encaminhe em sentido diferente no


relativo a omissão de rendimentos de trabalho sem vínculo empregaticio. O que importa para
os rendimentos recebidos das pessoas fisicas é o valor recebido. No caso concreto, diante da
inatividade da referida empresa, Albuquerque & Barbosa Lima e Miranda Advogados S/C, esta
não poderia ter as receitas alegadas pelo recorrente.

Acrescente-se, por pertinente, que sujeitam-se à incidência tributária os


rendimentos de prestação de serviços de advocacia, quando o. sujeito passivo da obrigação
tributária não lograr provar que os valores recebidos em decorrência de ações trabalhistas,
mediante depósitos em suas contas correntes, foram efetiva e concretamente transferidos
àqueles que alega serem os titulares dos rendimentos.

Em suma, da apreciação das provas, penso que os elementos trazidos aos


autos são suficientes para demonstrar que o Contribuinte omitiu rendimentos recebidos de
pessoas fisicas.

Ante o exposto, voto por DAR provimento PARCIAL ao recurso para excluir
da exigência os valores lançados nos anos-calendário de 1999, 2000 e 2001, respectivamente e,
com relação ao ano-calendário de 1998, excluir da base de cálculo da exigência os valores
lançados a titulo de omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários, bem como
excluir da exigência a multa isolada, por falta de recolhimento do camê-leão, aplicada
concomitantemente com a multa de oficio.

•jm 4••

• . TONIO LOPC8MAR INEZ


34
MINISTÉRIO DA FAZENDA
4-Srge- CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS
2' CAMARAJ2 a SEÇÃO DE JULGAMENTO

Processo 110: 18471.002524/2003-13


-
Recurso n°. 149.457

TERMO DE INTIMAÇÃO

Em cumprimento ao disposto no § 3 0 do art. 81 do Regimento


Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria
Ministerial no 256, de 22 de junho de 2009, intime-se o (a) Senhor (a) Procurador (a)
Representante da Fazenda Nacional, credenciado Junto à Segunda Câmara da Segunda
Seção, a tomar ciência do Acórdão n° 3402-00.132

Brasília/DF, 18 MA[ ";

'

EVELINE COËLHO DE MELO HOMAR


Chefe da Secretaria
Segunda Câmara da Segunda Seção

Ciente, com a observação abaixo:

( ) Apenas com Ciência


( ) Com Recurso Especial
( ) Com Embargos de Declaração

Data da ciência:

Procurador(a) da Fazenda Nacional

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