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2019
Um velho livro aqui folheio:
De Atenas a Oraibi, sempre primos!
28/7/1923
Aby Warburg
longo de seus textos, e por isso a edição consultada "Histórias de Fantasma para
1893 e 1929, período que abrange toda sua vida intelectual, desde os primeiros
Suas ideias mais correntes podem ser introduzidas em uma breve elucidação
que é esta forma pungente que atravessa o tempo e o espaço, povos e civilizações,
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experiências e comoções intensas que penetram na subjetividade e permanecem
foram, são e serão utilizadas nas formas da arte, seja ela pura ou aplicada, nas
imagens de modo geral. E por fim, a familiarização com os termos de Warburg deve
palavras de Warburg (2015, p.365), "O Atlas Mnemosine pretende, com seu material
de imagens, ilustrar esse processo, que se poderia designar como uma tentativa de
em movimento." O autor trabalhou intensamente nos painéis do Atlas até sua morte
na Biblioteca Warburg, fundada por ele mesmo, que nesta altura já integrava o
governada pela "lei de boa vizinhança" instituída por Warburg na classificação dos
Gombrich, responsável pela biografia intelectual do autor, Erwin Panofsky, Fritz Saxl
e Gertrud Bing, que assumiram a direção do Instituto após sua morte, Edgar Wind,
multiplicação de textos que tratam da obra do autor, com maior e menor grau de
fidelidade, e culmina no que José Emílio Burucúa (2012, p.252), historiador da arte
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argentino influenciado pelo autor e analisa a profusão leituras e releituras na
outros, alcançando figuras como Peter Burke (2004), Carlo Ginzburg, Giorgio
escritos, que de tal modo hibridizam as ciências humanas, que se julgou ter
Global1, em oposição aos modelos de História Nacional, em uma linha do tempo que
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O caráter multifacetado da obra de Aby Warburg permite que seja inserido em várias linhas do
tempo. Por exemplo, Peter Burke (2004, p.13) insere-o na cronologia de historiadores que se utilizam
de imagens, em um percurso que é iniciado com Francis Haskell em "A história e suas imagens" e se
dirige a Jacob Burckhardt e Johan Huizinga, aos quais é dada a denominação de historiadores
culturais, e desemboca em Warburg, que é seguido por Gilberto Freyre, Philippe Ariès, Michel
Vovelle, Maurice Agulhon, e continua com o que chama de "virada pictórica" em autores como
William Mitchell, Raphael Samuels e Simon Schama.
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atribuição, descrição de artefatos, para caracterizá-los em parâmetros nacionais. Ao
crítico das fontes, uma abordagem nacional. Karl Lamprecht é citado como um autor
e seu trabalho marginalizado na academia alemã. Aby Warburg, que estudou com
Lamprecht, é apresentado neste panorama como uma notável exceção, também por
sua recepção positiva pelos historiadores da arte. Ainda assim, não ocupou uma
traduções de seus poucos textos tenham se alastrado, o interesse sobre sua obra
detimento nos veículos de transmissão que operam nos intercâmbios culturais, que
lhes parece negligenciada pelos historiadores da arte. No Brasil, estas questões são
abordadas por autores como Cássio Fernandes (2014), que se debruça sobre o
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tardia de Warburg no meio editorial brasileiro, ganhando sua primeira tradução ao
contaminação cultural propostas pelo autor. Para tal, serão analisados excertos dos
Estados Unidos da América feita 27 anos antes para a região dos índios pueblos do
Novo México, com subtítulos que sinalizam seu interesse: "materiais para uma
E espero que com isso obtenham uma impressão do problema que é tão
decisivo para a historiografia da cultura como um todo: em que medida
podemos observar os traços característicos essenciais da humanidade
pagã primitiva? A arte plástica dos pueblos, com sua ornamentação
simbólica e sua dança mascarada, deve nos fornecer balizas provisórias
para a resposta. (WARBURG, 2015, p.200)
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humanidade pagã primitiva" pressupõem a existência de uma comunhão entre as
sociedades pagãs ditas primitivas, um elo de ligação global que, ao passo que une
comum entre as sociedades pagãs primitivas deve aflorar nos produtos culturais
objetos ou gestos. Por esta razão que a resposta é encontrada nos índios pueblos,
que atravessam o tempo e espaço, e resiste mesmo aos fluxos culturais com
Warburg: "É sem dúvida possível detectar, na cerâmica dos pueblos (inclusive como
é hoje praticada), a influência da técnica espanhola medieval, tal como foi trazida
aos índios pelos padres espanhóis, no século XVI" (WARBURG, 2015, p.208), mas
"[...] ficou indiscutivelmente estabelecido que existia uma técnica mais antiga de
heráldico de pássaro, e além disso a serpente, que é venerada no culto dos mokis -
como em qualquer prática religiosa pagã - como o mais vivo dos símbolos"
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os sujeitos adquirem uma espécie de parentesco com o animal, em um processo de
que tinha este animal como símbolo, enrolado em seu bastão terapêutico
e os índios pueblos da virada do século XIX ao século XX, período que Warburg
transferência cultural apontada neste caso não diz respeito às fontes acessadas
outros textos de Warburg, a exemplo "O Déjeuner sur l'herbe de Manet", "O
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Warburg aponta, é fruto da diferença entre a cultura ocidental cristã introduzida e o
para o XX, de modo que seria anacrônica algumas expectativas em relação a seu
evolução levaria à uma sociedade nos moldes europeus (WARBURG, 2015, p.202),
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denotando um olhar eurocêntrico que é coerente com seu tempo, mas o qual
entre culturas.
estão disponíveis para todos, na Natureza, sendo um direito humano inalienável que
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Referências Bibliográficas
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru, SP: EDUSC, 2004.
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