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Educação indígena inclusiva e diferenciada no Brasil

A história da educação indígena no Brasil é marcada por diversos conflitos, problemas


e contradições. Tendo seu início com a chegada dos colonizadores europeus às terras onde
habitavam – que hoje chama-se Brasil –, pode-se afirmar que a partir daí, perpassando-se um
longo período histórico até chegarmos aos dias de hoje, os indígenas sofreram uma terrível
violência de aculturação, colonização e doutrinação, resultando na perca de muitos aspectos e
elementos culturais riquíssimos e fundamentais relativos aos seus conhecimentos, costumes,
rituais, etc. Neste processo, muitas tribos indígenas foram totalmente abolidas, isto é, entraram
em extinção, justamente por terem passado por esse processo cruel colonizador, onde o mesmo
fez com que se dissolvessem ao longo do tempo tudo aquilo (cultura) que caracterizava tais
grupos.

Nos estados da Amazônia Legal brasileira a população de pessoas indígenas, conforme


o Censo IBGE 2010, é de 433.363, ou seja, apenas cerca de 0,2% da população brasileira –
entre eles, 220 etnias, 180 línguas diferentes, 53 grupos que vivem isolados e 17 que correm
risco de extinção. Este número extremamente baixo, demonstra de modo inquestionável, como
foram severas e negativas as práticas “civilizatórias” e colonizadoras para com as sociedades
indígenas, desde o tempo dos jesuítas até os dias de hoje. Desse modo, mostra-se necessário,
evidentemente, a necessidade efetiva de que o Estado e Sociedade garantam a manutenção e
segurança do patrimônio histórico imaterial dos povos indígenas.
Sobre a garantia da manutenção e segurança da cultura indígena, ela é “assegurada” por
lei desde vários documentos que vieram antes da constituição de 1988, mas estes só se tornam
mais evidentes de modo mais pleno com a criação da mesma, e também através da Lei de
Diretrizes e Bases (LDB), no que se refere à uma educação de qualidade inclusiva e
diferenciada, à garantia, manutenção e segurança dos territórios habitados, à valorização étnica
e cultural das diversas tribos existentes, etc. Sobre a Educação Indígena, constituição federal de
1988 estabelece que:

Artigo 210 – Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira
a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos,
nacionais e regionais.
Este mesmo artigo, no inciso 2, especifica como deverá ser a educação indígena quando
afirma:

2 - O ensino fundamental será em língua portuguesa, assegurada às comunidades


indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem.

Em relação à LDB, nos artigos 78° e 79° há também uma defesa da conservação dos
aspectos fundamentais da cultura indígena:

Artigo 78 – O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais


de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados
de ensino e pesquisas, para oferta de Educação escolar bilíngue e intercultural aos
povos indígenas, com os seguintes objetivos: I – proporcionar aos índios, suas
comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências; II – garantir aos
índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos
e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias. Artigo
79º – A União apoiará técnica e financeiramente aos sistemas de ensino no provimento
da educação intercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas
integrados de ensino e pesquisa. § 1º - Os programas serão planejados com audiência
das comunidades indígenas. § 2º - Os programas a que se refere este artigo, incluídos
nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivo: - fortalecer as práticas
sócio-culturais e a língua materna de cada comunidade indígena; - manter programas
de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades
indígenas; - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os
conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades; - elaborar e publicar
sistematicamente material didático específico e diferenciado.

Nesse sentido, podemos afirmar que por lei os indígenas possuem pleno direito à
educação inclusiva e diferenciada de qualidade, que respeite seus costumes, diversidade
linguística e cultural, valores, etc. Diante de até onde discorremos, obviamente, pode-se surgir
a questão: por que educação inclusiva e diferenciada, e não apenas inclusiva? O termo
diferenciada refere-se justamente ao fato de que à Educação Indígena é ministrada e gerenciada
em escolas exclusivas para índios, isto é, em aldeias ou próximas a elas. Por isso, os professores
aqui devem ter uma formação também diferenciada, onde na maioria das vezes os mesmos são
índios, sendo que o cargo não é restrito apenas à índios, mas é acessível a qualquer cidadão
brasileiro, desde que passe pela formação adequada. Mas por que se faz necessário uma escola
específica para índios? Por que ao invés não coloca-os em escolas tradicionais-ocidentais? Para
responder a tal questão basta-se olhar para os documentos legais, ou seja, reconhecer que é um
direito deles ter acesso a este modelo específico de educação, isto é, à educação inclusiva
diferenciada. Mais especificamente, se faz necessário uma educação e escola inclusiva e
diferenciada indígena, porque apenas elas podem garantir que afirmem-se e assegurem-se a
cultura e história indígena, por meio, sobretudo, do ensino bilíngue, onde ao mesmo tempo,
paralelamente, também inclui-os na civilização ocidental, seja por aprender o idioma português,
seja por adquirir conhecimentos científicos e tecnológicos ocidentais, que também são direitos
deles, enquanto cidadãos e habitantes da população brasileira. Ao contrário desta, a escola
tradicional ocidental é excludente e forma o cidadão nos moldes ocidentais. Por mais que esta
ao longo dos anos venha ganhando mais autonomia no que concerne aos conteúdos que são
trabalhados no currículo, infelizmente, ainda não é plena o suficiente – e não se sabe se um dia
será – para acolher e receber bem o indígena, salvando seus valores culturais, históricos e
linguísticos, de modo geral. Portanto, podemos afirmar que, não apenas a educação inclusiva e
diferenciada para os indígenas é necessária, como também é direito deles terem tal acesso a este
modelo específico de educação.
O problema é que, infelizmente, o que é garantido por lei muitas vezes não efetiva-se
na prática, pois sabemos que o nosso contexto social-político é, em grande medida, corrupto e
cheio de contradições. Além de todos os problemas, que se referem, sobretudo, à investimentos
público, há muita demanda de professores para as escolas diferenciadas indígenas e ainda pouco
incentivo para a formação dos mesmos. Além disso, sabe-se que, grande parte da população
ainda mostra-se indiferente ou ignorante em relação às questões indígenas, o que é muito ruim,
pois além de contribuir, mesmo que indiretamente, para a manutenção da desigualdade e
injustiça com estes povos que tanto já sofreram, também faz com que perpetue-se o preconceito
que, infelizmente, ainda se faz presente fortemente na sociedade. Apesar de tudo, cabe a todos
o dever de conscientizar, na medida do possível, à população, para que assim, o governo seja
pressionado e, consequentemente, sejam reivindicados à garantia dos direitos das diversas
etnias indígenas ainda existentes na nossa população.

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