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Superior Tribunal de Justiça

AgRg nos EDcl nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 704.933 - SP


(2005/0146450-2)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


AGRAVANTE : MARIA DALZIZA PIMENTEL
ADVOGADO : ARISTIDES FRANCO E OUTRO
AGRAVADO : WALTER DE JESUS RODRIGUES
ADVOGADO : CLEBER DE JESUS FERREIRA E OUTRO(S)
EMENTA
LOCAÇÃO. PROMITENTE COMPRADOR. PARTE LEGÍTIMA PARA
FIGURAR NO POLO ATIVO DA AÇÃO DE DESPEJO. PROVA DA
PROPRIEDADE OU DO COMPROMISSO REGISTRADO.
DESNECESSIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL SUPERADO.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1 - A priori, a inexistência de prova da propriedade do imóvel ou do
compromisso registrado não enseja a ilegitimidade do promitente comprador
em propor o despejo da locatária que não adimpliu os aluguéis.
2 - Comprovada, na espécie, a condição de locador através do respectivo
contrato de locação, assinado pela ora agravante, compete à locatária o ônus
de comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor, nos termos do art. 333, II, do CPC, o que não ocorreu.
3 - Fere a boa-fé objetiva a conduta da locatária que, após exercer a posse
direta do imóvel por mais de duas décadas, alega a ilegitimidade do locador em
ajuizar a ação de despejo por falta de pagamento.
4 - Embora a ora agravante tenha demonstrado a existência da divergência
jurisprudencial, verifica-se que este Superior Tribunal de Justiça recentemente
asseverou que o ajuizamento da ação de despejo pelo promitente comprador
prescinde de prova da propriedade do imóvel locado, a evidenciar a superação
do dissídio
5 - Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por
unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do
TJ/SP), Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE) e Nilson Naves votaram
com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.

Brasília, 24 de agosto de 2009(Data do Julgamento)

Ministra Maria Thereza de Assis Moura


Relatora

Documento: 906493 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/09/2009 Página 1 de 5
Superior Tribunal de Justiça
AgRg nos EDcl nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 704.933 - SP
(2005/0146450-2)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


AGRAVANTE : MARIA DALZIZA PIMENTEL
ADVOGADO : ARISTIDES FRANCO E OUTRO
AGRAVADO : WALTER DE JESUS RODRIGUES
ADVOGADO : CLEBER DE JESUS FERREIRA E OUTRO(S)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relator):

Cuida-se de agravo regimental, interposto por MARIA DALZIZA


PIMENTEL, contra decisão monocrática proferida pelo MINISTRO HÉLIO QUAGLIA
BARBOSA, em que negou provimento ao agravo de instrumento, nestes termos:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. LOCAÇÃO. ALEGAÇÃO DE


MALTRATO AOS ARTIGOS 87, 249, 366 e 535, II do CPC, BEM
COMO 233, 385, 386 530, 531, 534, 668, 806, 856, III, PARÁGRAFO
ÚNICO, 860, 861 e 1.291 do CC e ARTIGO 167, n. 9, da Lei 6.015/73.
ARTIGOS DE LEI NÃO PREQUESTIONADOS. SÚMULA 211 DO
STJ. NO QUE SE REFERE AO PROVIMENTO 896/2004 DO
CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, BEM COMO AO
DISSÍDIO APONTADO, NOVA ANÁLISE DO ESPECIAL É
VEDADA, ANTE O DISPOSTO NO ENUNCIADO DA SÚMULA 07
DO STJ. ARTIGO 4º DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45.
COMPETÊNCIA AFETA AO PRETÓRIO EXCELSO. AGRAVO NÃO
PROVIDO."

Inconformada, a ora agravante opôs embargos de declaração, alegando


omissão do decisum quanto à divergência jurisprudencial apontada no recurso especial.
Ao apreciar os declaratórios, o Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA
decidiu acolher os embargos, sem lhes conceder efeito modificativo, apenas para integrar a
decisão embargada, no sentido de que a ausência de coincidência entre locador e proprietário,
na espécie, ocorreu em virtude da chamada legitimação extraordinária, de maneira que o
compromissário comprador do imóvel locado teria legitimidade para propor o despejo.
Irresignada, a ora agravante opôs novos embargos de declaração, sustentando
que haveria omissão na análise da legitimidade ativa ad causam da ação de despejo.
Os embargos foram rejeitados, sob o fundamento de que o recurso pretendeu
rediscutir matéria já decidida.
Não se dando por vencida, a ora agravante interpõe agravo regimental,
aduzindo que o acórdão recorrido teria violado o artigo 535, inciso II, do CPC, e que o
promitente comprador não teria legitimidade para ajuizar a ação de despejo, por lhe faltar a
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capacidade de "ceder a outrem o uso e gozo do bem a ser locado".
É o relatório.

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AgRg nos EDcl nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 704.933 - SP
(2005/0146450-2)

EMENTA
LOCAÇÃO. PROMITENTE COMPRADOR. PARTE LEGÍTIMA PARA
FIGURAR NO POLO ATIVO DA AÇÃO DE DESPEJO. PROVA DA
PROPRIEDADE OU DO COMPROMISSO REGISTRADO.
DESNECESSIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL SUPERADO.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1 - A priori, a inexistência de prova da propriedade do imóvel ou do
compromisso registrado não enseja a ilegitimidade do promitente comprador
em propor o despejo da locatária que não adimpliu os aluguéis.
2 - Comprovada, na espécie, a condição de locador através do respectivo
contrato de locação, assinado pela ora agravante, compete à locatária o ônus
de comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito do autor, nos termos do art. 333, II, do CPC, o que não ocorreu.
3 - Fere a boa-fé objetiva a conduta da locatária que, após exercer a posse
direta do imóvel por mais de duas décadas, alega a ilegitimidade do locador em
ajuizar a ação de despejo por falta de pagamento.
4 - Embora a ora agravante tenha demonstrado a existência da divergência
jurisprudencial, verifica-se que este Superior Tribunal de Justiça recentemente
asseverou que o ajuizamento da ação de despejo pelo promitente comprador
prescinde de prova da propriedade do imóvel locado, a evidenciar a superação
do dissídio
5 - Agravo regimental improvido.

VOTO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relator):

O recurso não merece prosperar.


Inicialmente, cumpre salientar que não é correta a afirmação da ora agravante
de que o Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, relator da decisão agravada, teria
reconhecido a existência de omissão no julgamento realizado pelo Tribunal a quo.
Na realidade, o saudoso Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA apenas
reconheceu, nos embargos de declaração opostos pela ora agravante, que a decisão que
negou provimento ao agravo de instrumento teria sido omissa em relação ao tema que a ora
agravante insistia em alegar que não teria sido examinado pela Corte de origem.
Prova disso, é que o e. Ministro asseverou na decisão de fls. 419:

"Vale relembrar, uma vez mais, que o ponto nodal da demanda consiste
em saber se o embargado, locador, é parte legítima a intentar a demanda de
desalijo em face da locatária, ora embargante, visto não se tratar do
proprietário do imóvel objeto da locação.
Tal questionamento já fora objeto de análise por ocasião do
pronunciamento do juízo "a quo", consoante se confere:
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'Além disso, a locação tem mais de vinte anos, é admitida pela
locatária, há contratos escritos, o primeiro de 1979 e o segundo de
1982. Em tais instrumentos o locador está representado por ANGARÁ
- Administradora de Bens Ltda., a quem a locatária efetuava o
pagamento dos encargos da locação. Assim, aplicável o princípio da
aparência, para reconhecer que a administradora representava o
locador, por sua vez compromissário comprador do imóvel, constando
em seu nome recibos de IPTU emitidos pela Prefeitura de Guarulhos'."

Como se vê, é inadmissível a alegada violação ao art. 535 do CPC, porquanto


a questão suscitada foi apreciada pelo acórdão recorrido
No que se refere à ilegitimidade do promitente comprador ajuizar ação de
despejo, melhor sorte não socorre a ora agravante.
De acordo com o artigo 60 da Lei nº 8.245/91, em três hipóteses caberá ao
autor da ação de despejo instruir a petição inicial com prova da propriedade do imóvel ou do
compromisso registrado, verbis:

"Art. 60. Nas ações de despejo fundadas no inciso IV do art. 9º, inciso
IV do art. 47 e inciso II do art. 53, a petição inicial deverá ser instruída
com prova da propriedade do imóvel ou do compromisso registrado."

Eis as hipóteses, segundo o referido dispositivo legal:

"Art. 53 - Nas locações de imóveis utilizados por hospitais, unidades


sanitárias oficiais, asilos, estabelecimentos de saúde e de ensino autorizados
e fiscalizados pelo Poder Público, bem como por entidades religiosas
devidamente registradas, o contrato somente poderá ser rescindido.
(...)
II - se o proprietário, promissário comprador ou promissário
cessionário, em caráter irrevogável e imitido na posse, com título
registrado, que haja quitado o preço da promessa ou que, não o tendo feito,
seja autorizado pelo proprietário, pedir o imóvel para demolição, edificação,
licenciada ou reforma que venha a resultar em aumento mínimo de
cinqüenta por cento da área útil."

"Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e como prazo


inferior a trinta meses, findo o prazo estabelecido, a locação prorroga - se
automaticamente, por prazo indeterminado, somente podendo ser retomado
o imóvel:
(...)
IV - se for pedido para demolição e edificação licenciada ou para a
realização de obras aprovadas pelo Poder Público, que aumentem a área
construída, em, no mínimo, vinte por cento ou, se o imóvel for destinado a
exploração de hotel ou pensão, em cinqüenta por cento;"

"Art. 9º A locação também poderá ser desfeita:

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(...)
IV - para a realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder
Público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência
do locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a consenti - las."

Em nenhuma dessas hipóteses legais está inserido o caso discutido no presente


feito, logo, a inexistência de prova da propriedade do imóvel ou do compromisso registrado, a
priori, não enseja a ilegitimidade do promitente comprador em pretender o despejo do
locatário que não adimpliu os aluguéis.
A respeito do tema, merece transcrição o seguinte precedente desta Corte:

"DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


LOCAÇÃO. EXECUÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO
LOCADOR. PROVA DA PROPRIEDADE. DESNECESSIDADE. FATO
IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO
AUTOR. ÔNUS DA PROVA DO RÉU. CONTRATO DE LOCAÇÃO
PRORROGADO POR TEMPO INDETERMINADO. TÍTULO
EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. PRECEDENTES. LIQUIDEZ E
CERTEZA. EXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. O contrato de locação gera uma relação jurídica entre locador e
locatário, razão pela qual, em princípio, é dispensável a prova da
propriedade do imóvel locado.
2. Tendo o recorrido, na espécie, demonstrado sua condição de
locador mediante a apresentação do respectivo contrato de locação,
assinado, inclusive, pelos recorrentes, na condição de fiadores, competiria a
estes últimos comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor, conforme disposto no art. 333, II, do CPC.
3. Constitui título executivo judicial o contrato de locação escrito,
devidamente assinado pelos contratantes, ainda que o contrato tenha se
prorrogado por tempo indeterminado. Inteligência do art. 585, IV, do CPC.
Precedentes.
4. O exame da liquidez e certeza do crédito pleiteado demandaria o
revolvimento de matéria fático-probatória, impossível pela via especial, por
atrair o óbice da Súmula 7/STJ.
5. Recurso especial conhecido e improvido." (REsp 953150/SP, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em
07/10/2008, DJe 01/12/2008)

Nos casos que se assemelham ao ora em tela, a exigência de prova da


propriedade do imóvel ou do compromisso registrado é afastada, porque a relação jurídica
estabelecida entre locador e locatário possui conotação obrigacional, de maneira que
comprovada a existência de contrato de locação válido, as prestações dele oriundas deverão
ser cumpridas pelas partes contratantes.
Na espécie, o promitente comprador apresentou com a inicial do pedido de
despejo o contrato de locação assinado pela ora agravante.
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A ora agravante, por seu turno, visando comprovar fato impeditivo do direito
do locador, apresentou certidões que demonstravam que ele não detinha a propriedade do
imóvel locado.
Em réplica, o locador juntou aos autos documentos que o Tribunal a quo julgou
aptos a comprovar sua condição de promitente comprador do imóvel locado e, por
conseguinte, sua legitimidade para figurar no polo ativo da ação de despejo.
Dessarte, verifica-se que a ora agravante não foi capaz de comprovar a
existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, nos termos do art.
333, II, do CPC, que assim dispõe:

Art. 333. O ônus da prova incumbe:


...................................................................................................
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou
extintivo do direito do autor.

Em virtude disso, não há como se afastar a legitimidade do promitente


comprador em ajuizar a ação de despejo.
Por outro lado, insta observar que a ora agravante, em 1979, estipulou o
primeiro contrato de locação do referido imóvel com o ora agravado, permanecendo na posse
direta do imóvel por mais de 20 anos.
Com efeito, fere a boa-fé objetiva a conduta da locatária que, após exercer a
posse direta do imóvel por mais de duas décadas, alega a ilegitimidade do locador em ajuizar a
ação de despejo por falta de pagamento.
Sabe-se que uma das funções da boa-fé objetiva é impedir que uma das partes
contratantes retorne sobre seus próprios passos depois de estabelecer relação cuja seriedade
o outro pactuante confiou, pois a ninguém é dado contrariar os próprios atos.
A respeito do tema, Anderson Schreiber, na obra A Proibição de
Comportamento Contraditório - Tutela da confiança e venire contra factum proprium,
(Editora Renovar, 2ª edição, pág. 96), esclarece:

"A terceira função geralmente atribuída à boa-fé objetiva é a de impedir


o exercício de direitos em contrariedade à recíproca lealdade e confiança
que deve imperar nas relações privadas. Trata-se de uma aplicação da
boa-fé em seu sentido negativo ou proibitivo: vedando comportamentos
que, embora legal ou contratualmente assegurados, não se conformem aos
standards impostos pela cláusula geral. Aqui, a doutrina utiliza
freqüentemente a expressão exercício inadmissível de direitos, referindo-se
ao exercício aparentemente lícito, mas vedado por contraria a boa-fé." (in
A Proibição de Comportamento Contraditório - Tutela da confiança e venire
contra factum proprium, Renovar, 2ª edição, pág. 89)

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De fato, na concepção da boa-fé objetiva assume papel de fundamental
importância o binômio lealdade e confiança (Treu und Glauben) consagrado no § 242 do
Bürgeliches Gesetzbuch (BGB), de maneira que, na relação obrigacional, há de prevalecer um
comportamento de colaboração recíproco entre os parceiros contratuais, a fim de que o objeto
do contrato seja alcançado da forma mais benéfica ao credor e menos onerosa ao devedor.
In casu, a ora agravante, na qualidade de locatária, estabeleceu contrato de
locação com o promitente comprador do imóvel, permaneceu pacificamente com a posse
direta do bem por mais de duas décadas, pagou mês a mês os aluguéis, e, somente quando
passou à condição de inadimplente, resolveu alegar a ilegitimidade do locador em ajuizar a
ação de despejo.
Como se vê, o pagamento dos aluguéis, por mais de duas décadas, configurou
conduta apta a transcender a esfera da locatária para refletir fática e objetivamente sobre o
promitente comprador, estimulando-o a criar legítima confiança de que a obrigação continuaria
sendo adimplida.
A propósito, cumpre transcrever as seguintes ementas de julgados proferidos
por este Superior Tribunal de Justiça:

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


CIVIL. LOCAÇÃO. IMÓVEL LOCADO PELO NU-PROPRIETÁRIO.
BOA-FÉ OBJETIVA. LEGITIMIDADE DO LOCADOR PARA
EXECUTAR OS ALUGUÉIS EM ATRASO. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO.
1. Na espécie, não se aplicam os Enunciados 5 e 7 da Súmula do
Superior Tribunal de Justiça, porquanto a decisão agravada, ao decidir a
matéria, não interpretou cláusula contratual nem reexaminou o quadro
fático dos autos, pois cingiu-se a analisar a legitimidade do nu-proprietário
para executar débitos relativos a contrato de locação de imóvel objeto de
usufruto.
2. Uma das funções da boa-fé objetiva é impedir que o contratante
adote comportamento que contrarie o conteúdo de manifestação anterior,
cuja seriedade o outro pactuante confiou.
3. Celebrado contrato de locação de imóvel objeto de usufruto, fere a
boa-fé objetiva a atitude da locatária que, após exercer a posse direta do
imóvel por mais de dois anos, alega que o locador, por ser o nú-proprietário
do bem, não detém legitimidade para promover a execução dos aluguéis
não adimplidos.
4. Agravo regimental improvido." (AgRg no AgRg no Ag nº
610.607/MG, de minha relatoria, julgado na sessão do dia 25/06/09)

"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


CONTRATO DE COMPRA E VENDA DOS DIREITOS FEDERATIVOS
DE ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL. VÍCIO NA
CONSTITUIÇÃO DO TÍTULO EXEQÜENDO. AUSÊNCIA DA
ASSINATURA DO VICE-PRESIDENTE FINANCEIRO DO CLUBE.
IMPOSIÇÃO DO ESTATUTO. FORÇA EXECUTIVA RECONHECIDA.
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TEORIA DA APARÊNCIA. BOA-FÉ OBJETIVA. RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.
1. Incensurável o tratamento dado ao caso pela Corte de origem, não
só pela distinção feita entre a natureza do contrato exeqüendo (art.
585, II, do CPC), face aos títulos executivos extrajudiciais
relacionados na regra estatutária, cujo descumprimento teria o condão de
inviabilizar o processo executivo, mas, principalmente, pela repulsa à
invocação de suposto vício na constituição do pacto, levado a efeito pelo
próprio executado, uma vez havendo o recorrido agido de boa-fé e
alicerçado na teoria da aparência, que legitimava a representação social por
quem se apresentava como habilitado à negociação empreendida.
2. Denota-se, assim, que a almejada declaração de nulidade do título
exeqüendo está nitidamente em descompasso com o proceder anterior do
recorrente (a ninguém é lícito venire contra factum proprium).
3. Interpretação que conferisse o desate pretendido pelo recorrente, no
sentido de que se declare a inexeqüibilidade do contrato entabulado entre as
partes, em razão de vício formal, afrontaria o princípio da razoabilidade,
assim como o da própria boa-fé objetiva, que deve nortear tanto o ajuste,
como o cumprimento dos negócios jurídicos em geral.
4. Recurso especial não conhecido." (REsp 681.856/RS, Rel. Ministro
HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em 12/06/2007,
DJ 06/08/2007 p. 497)

Pelo eloquente brilhantismo, ganha relevo o seguinte excerto do voto do


Ministro HÉLIO QUAGLIA BRABOSA proferido no julgado acima reportado:

"Denota-se, assim, que a almejada declaração de nulidade do título


exeqüendo está nitidamente em descompasso com o proceder anterior do
recorrente, valendo trazer à liça, o magistério de PONTES DE MIRANDA,
segundo o qual “a ninguém é lícito venire contra factum proprium, isto é,
exercer direito, pretensão ou ação, ou exceção, em contradição com o que
foi a sua atitude anterior, interpretada objetivamente, de acordo com a lei”
(cf. Tratado de Direito Privado, Campinas: Bookseller, 2000, p. 64).
Já se disse, a propósito, que as relações obrigacionais são, em verdade,
uma "fila" ou uma "série" de deveres de conduta e contratuais ("Reihe von
Leistungspflichten und weiteren Verhaltenspflichten"), vistos no tempo,
ordenados logicamente, unidos por uma finalidade, portando esta um
sentido único ("sinnhaftes Gefüge"), que une e organiza a relação
contratual, que é a realização dos interesses legítimos das partes
("vollständigen Befriedigung der Leistungsinteressen aller Gläubiger"), ou,
em última análise, a realização do objetivo do contrato e o posterior
desaparecimento da relação ("Erloschen") (LARENZ, "Lehrbuch des
Schuldrechts", 1987, ps. 26/28, apud CLÁUDIA LIMA MARQUES,
"Contratos no Código de Defesa do Consumidor", ed. R.T., São Paulo,
1999, ps. 107/108)."

Dessarte, interpretação que conferisse o desate pretendido pela ora agravante,


no sentido de que se declare a ilegitimidade do promitente comprador em ajuizar a ação de
despejo, afrontaria o princípio da própria boa-fé objetiva, que deve nortear toda relação
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obrigacional, do seu nascedouro até a fase pós-contratual.
Por derradeiro, no que se refere à alínea "c" do permissivo constitucional, o
recurso não comporta trânsito.
Embora a ora agravante tenha demonstrado a existência da divergência
jurisprudencial, verifica-se que este Superior Tribunal de Justiça recentemente asseverou que
o ajuizamento da ação de despejo pelo promitente comprador prescinde de prova da
propriedade do imóvel locado, a evidenciar a superação do dissídio.
Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg nos EDcl nos EDcl no


Número Registro: 2005/0146450-2 Ag 704933 / SP

Números Origem: 17301 77347234

EM MESA JULGADO: 24/08/2009

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NILSON NAVES
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO FRANCISCO SOBRINHO
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : MARIA DALZIZA PIMENTEL
ADVOGADO : ARISTIDES FRANCO
AGRAVADO : WALTER DE JESUS RODRIGUES
ADVOGADO : CLEBER DE JESUS FERREIRA E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Locação de Imóvel

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : MARIA DALZIZA PIMENTEL
ADVOGADO : ARISTIDES FRANCO E OUTRO
AGRAVADO : WALTER DE JESUS RODRIGUES
ADVOGADO : CLEBER DE JESUS FERREIRA E OUTRO(S)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Og Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP),
Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE) e Nilson Naves votaram com a Sra.
Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves.

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Brasília, 24 de agosto de 2009

ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA


Secretário

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