Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Lars Svendsen
Filosofia do tédio
Tradução:
Maria Luiza X. de A. Borges
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
CDD 152.4
06-3956 CDU 159.942
Sumário
Prefácio 7
1. O problema do tédio 11
O tédio como problema filosófico, 11 | Tédio e modernidade, 21 |
Tédio e significado, 27 | Tédio, trabalho e lazer, 35 | Tédio e morte, 39 |
Tipologias do tédio, 43 | Tédio e novidade, 47
2. Histórias do tédio 52
Acédia: Tédio pré-moderno, 52 | De Pascal a Nietzsche, 55 | Tédio
romântico, de William Lovell a O psicopata americano, 64 | Sobre tédio,
corpo, tecnologia e transgressão: Crash, 87 | Samuel Beckett e a
impossibilidade do significado pessoal, 102 | Andy Warhol: A renúncia
ao significado pessoal, 110
Posfácio 167
Notas 170
Índice onomástico 189
Prefácio
Minha razão para escrever este livro foi ter passado algum tem-
po profundamente entediado. O que me fez compreender a
importância do tópico, no entanto, foi a morte, relacionada ao
tédio, de um grande amigo. Cheguei ao ponto de ser obrigado
a concordar com Rimbaud: “O tédio não é mais o meu amor.”1
Estar entediado não era mais uma mera pose inocente ou uma
adversidade menor. De repente, a queixa de Rimbaud de
“morrer de tédio”2 – que, mais tarde, seria repetida em muitas
músicas de pop e rock, de “Bored to death” de G.G. Allin a
“Something to do” de Depeche Mode – tornou-se real. Tais
músicas destacaram-se como a trilha sonora de nossas vidas.
Eu acreditava que essa experiência não estava restrita a um pe-
queno círculo de amigos, mas que, na verdade, indicava um
sério problema com relação a significado em nossa cultura con-
temporânea como um todo. Investigar o problema do tédio é
tentar compreender quem somos e como nos ajustamos ao
mundo neste dado momento. Quanto mais eu pensava sobre
isso, mais o tédio me parecia inspirador para a compreensão da
cultura contemporânea. Vivemos numa cultura do tédio, e
} 7 {
8 } FILOSOFIA DO TÉDIO {
“João ama Maria se, e somente se...” Nesse ponto, parei de ler.
Essa abordagem formalizada era imprópria para tratar um
assunto como o amor, porque o fenômeno real, com toda a pro-
babilidade, ficaria perdido no processo. Assim, o leitor não deve
esperar afirmações do tipo: “Pedro está entediado se, e
somente se...” Como Aristóteles assinala, não podemos procu-
rar alcançar o mesmo nível de precisão em todos os assuntos;
temos de nos contentar com aquele que o próprio assunto per-
mite. O tédio é um fenômeno vago, multiforme, e acredito que
um ensaio longo, e não uma dissertação estritamente analítica,
seja a forma mais adequada para investigá-lo. Assim, não pre-
tendo apresentar uma argumentação coesa, mas uma série de
esboços, na esperança de que nos aproximem de uma maior
compreensão do tédio. Sendo tão diverso, o fenômeno pede
uma abordagem interdisciplinar. Baseei-me, portanto, em tex-
tos de diversas áreas, como filosofia, literatura, psicologia, teo-
logia e sociologia.
O livro consiste em quatro partes principais: Problema,
Histórias, Fenomenologia e Ética. Na primeira, faço uma ampla
exposição dos vários aspectos do tédio e sua relação com a
modernidade. A segunda é dedicada a uma apresentação de cer-
tas histórias referentes a esse sentimento. Uma tese central aqui
é que o Romantismo constitui a base mais importante, em ter-
mos da história das idéias, para uma compreensão do tédio
moderno. A terceira seção focaliza as investigações fenomenoló-
gicas empreendidas por Martin Heidegger, e na quarta discuto
posturas que podemos adotar diante do tédio, bem como razões
para não o fazermos. Um fio tênue percorre essas quatro seções,
embora cada uma possa ser lida de maneira independente.
Tentei escrever este livro em estilo não-técnico, pois mui-
tos são os afetados pela experiência do tédio e quero que o texto
seja acessível a todos. Apesar disso, algumas passagens são bas-
tante árduas – isto se deve simplesmente ao fato de que o
10 } FILOSOFIA DO TÉDIO {