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EXPLANAÇÕES SOBRE HEKATE

Descendente dos Titãs, Hécate não tem um mito próprio e foi uma das divindades mais
ignoradas da mitologia grega, mencionada apenas em outros mitos, tal como o mito de
Perséfone e Deméter. Hécate é deusa dos caminhos e seu poder de olhar para três direções ao
mesmo tempo sugere que algo no passado pode interferir no presente e prejudicar planos
futuros.
A deusa grega nos lembra da importância da mudança, ajudando-nos a libertar do passado,
especialmente do que atrapalha nosso crescimento e evolução, para aceitar as mudanças e
transições. Às vezes ela nos pede para deixar o que é familiar e seguro para viajarmos para os
lugares assustadores da alma. Novos começos, seja espiritual ou mundano, nem sempre são
fáceis mas Hécate está lá para apoiar e mostrar o caminho.
Ela empresta sua clarividência para vermos o que está profundamente esquecido ou até mesmo
escondido de nós mesmos, ajudando a encontrarmos e escolhermos um caminho na vida. Com
suas tochas, ela nos guia e pode nos levar a ver as coisas de forma diferente, inclusive vermos
a nós mesmos, ajudando-nos a encontrar uma maior compreensão de nós mesmos e dos outros.
Hécate nos ensina a sermos justos e tolerantes com aqueles que são diferentes e com aqueles
que tem menos sorte, mas ela não é demasiadamente vulnerável, pois Hecate dispensa justiça
cega e de forma igual. Apesar de seu nome significar "a distante", Hécate está presente nos
momentos de necessidade. Quando liberamos o passado e o que nos é familiar, Hécate nos ajuda
a encontrar um novo caminho através de novos começos, apesar da confusão das ideias, da
flutuação dos nossos humores e às incertezas quando enfrentamos as inevitáveis mudanças de
vida.
A poderosa deusa possuia todos aspectos e qualidades femininos, tendo sob seu controle as
forças secretas da natureza. Considerada a patrona das sacerdotisas, deusa das feiticeiras e
senhora das encruzilhadas, Hécate transita pelos três reinos, a todos conhece mas nenhum
domina. Os três reinos são posses de figuras masculinas, mas ela está além da posse ou do ego,
ela é a sábia, a anciã. A senhora do visível e do invisível, aguarda na encruzilhada e observa: o
passado, o presente e o futuro. Ela não se precipita, aguarda o tempo que for preciso até uma
direção ser tomada. Ela não escolhe a direção, nós escolhemos. Ela oferece apenas a sua
sabedoria e profunda visão, acima das ilusões.
Os gregos sempre viam Hécate como uma jovem donzela. Acompanhada frequentemente em
suas viagens por uma coruja, símbolo da sabedoria, a ela se atribuia a invenção da magia e da
feitiçaria, tendo sido incorporada à família das deusas feiticeiras. Dizia-se que Medéia seria a
sacerdotisa de Hécate. Ela praticava a bruxaria para manipular com destreza ervas mágicas,
venenos e ainda para poder deter o curso dos rios e comprovar as trajetórias da lua e das estrelas.
Como deusa dos encantamentos, acreditava-se que Hécate vagava à noite pela Terra, sempre
acompanhada por seu espíritos e fantasmas. Suas lendas contam que ela passava pela Terra ao
pôr do Sol, para recolher os mortos daquele dia. Como feiticeira, não podia ser vista e sua
presença era anunciada apenas pelos latidos dos cães. Na verdade, as imagens horrendas e
chocantes são projeções dos medos inconscientes masculinos perante os poderes da deusa,
protetora da independência feminina, defensora contra a violência e opressão das mulheres,
regente dos seus rituais de proteção, transformação e afirmação.
Em função dessas memórias de repressão e dos medos impregnados no inconsciente coletivo,
o contato com a deusa escura pode ser atemorizador por acessar a programação negativa que
associa escuridão com mal, perigo, morte. Para resgatar as qualidades regeneradoras,
fortalecedoras e curadoras de Hécate precisamos reconhecer que as imagens distorcidas não são
reais nem verdadeiras. Elas foram incutidas pela proibição de mergulhar no nosso inconsciente,
descobrir e usar nosso verdadeiro poder.
Para receber seus dons visionários, criativos ou proféticos, precisamos mergulhar nas
profundezas do nosso mundo interior, encarar o reflexo da deusa escura dentro de nós, honrando
seu poder e lhe entregando a guarda do nosso inconsciente. Ao reconhecermos e integrarmos
sua presença em nós, ela irá nos guiar. Porém, devemos sacrificar ou deixar morrer o velho,
encarar e superar medos e limitações. Somente assim poderemos flutuar sobre as escuras e
revoltas águas dos nossos conflitos e lembranças dolorosas e emergir para o novo.
A conexão com Hécate representa um valioso meio para acessar a intuição e o conhecimento,
aceitar a passagem inexorável do tempo e transmutar nossos medos perante o envelhecimento
e a morte. Hécate nos ensina que o caminho que leva à visão sagrada e que inspira a renovação
passa pela escuridão, o desapego e transmutação. Ela detém a chave que abre a porta dos
mistérios e do lado oculto da psique. Sua tocha ilumina tanto as riquezas, quanto os terrores do
inconsciente, que precisam ser reconhecidos e transmutados. Ela nos conduz pela escuridão e
nos revela o caminho da renovação.
As Moiras teciam, mediam e cortavam o fio da vida dos mortais, mas Hécate podia intervir nos
fios do destino. Muitas vezes foi representada com uma foice ou punhal para cortar as ligações
com o mundo dos vivos. O cipreste está associado à imortalidade, intemporalidade e eterna
juventude. Sendo a morte encarada como passagem transformadora e não o fim assustador e
definitivo, essa significação tem origem na própria terra que dá vida, dá a morte e transforma
os frutos em novas sementes que irão renascer.

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