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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

II-403 - AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE PÓS-TRATAMENTO PARA OS


EFLUENTES DOS REATORES UASB DA ETE ONÇA (BELO HORIZONTE,
1.000.000 hab)

Carlos Augusto de Lemos Chernicharo(1)


Engenheiro Civil e Sanitarista. Doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de Newcastle upon Tyne
– UK, Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
Marcos von Sperling
Engenheiro Civil e Sanitarista. Doutor em Engenharia Ambiental pelo Imperial College, Universidade de
Londres. Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG.
Túlio Antônio Silva Monteiro
Engenheiro Químico. Mestre em Biotecnologia pela Ecole Nationale d’ Ingénieurs du Genie Chimique,
INP – Toulouse – França. Engenheiro de Projetos e Obras da COPASA.

Endereço(1): Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG; Av. do Contorno, nº 842 – 7º andar –
Centro – Belo Horizonte – MG – Brasil – CEP 30.110-060– Tel: (31) 3238-1020 – e-mail:
calemos@desa.ufmg.br

RESUMO

A ETE Onça, atualmente em fase final de construção na cidade de Belo Horizonte, se constitui em uma das
maiores estações no mundo utilizando o processo de reatores anaeróbios de fluxo ascendente e manta de lodo
(UASB). Em virtude do desejo de se aumentar a eficiência global do tratamento, foram efetuados estudos
técnico-econômicos e ambientais entre duas alternativas de pós-tratamento: lodos ativados convencional e
filtros biológicos percoladores. O trabalho sintetiza, de forma comparativa, os principais aspectos e dados de
interesse relativos às duas alternativas. Os itens considerados são: (i) aspectos ambientais; (ii) áreas e volumes
requeridos; (c) itens de implantação e operação; (iv) custos totais (absolutos) e (v) custos unitários (relativos).
Os estudos de impacto no Rio das Velhas foram efetuados com base em simples diluição. Para os grandes
itens analisados (potencialmente diferentes entre as duas alternativas), os maiores custos de implantação
recaem sobre o FBP. Todavia, em termos de custos anuais de operação, a alternativa de FBP é amplamente a
mais favorável, enquanto a alternativa de LA convencional é a com maior gasto energético em função do
fornecimento de oxigênio para a nitrificação (ausente no FBP).

PALAVRAS-CHAVE: Estudo de alternativas; filtros biológicos percoladores; lodos ativados; pós-


tratamento; tratamento de esgotos.

INTRODUÇÃO
A ETE Onça atualmente em fase final de construção na cidade de Belo Horizonte e com início de operação
previsto para 2006, se constitui em uma das maiores estações no mundo utilizando o processo de reatores
anaeróbios de manta de lodo e fluxo ascendente (UASB). Com a capacidade instalada de 2,05 m3/s pretende
atender uma população de até 1.030.000 habitantes, sendo prevista sua duplicação em segunda etapa. A ETE

Onça será operada pela COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).


No momento, a ETE está sendo implantada apenas com a etapa anaeróbia. No entanto, em virtude do desejo
de se aumentar a eficiência global do tratamento, foram efetuados estudos sobre a melhor alternativa para o
pós-tratamento dos efluentes anaeróbios. Nesta seleção de alternativas, alguns pressupostos para o processo de
pós-tratamento foram seguidos: (i) necessidade de processos compactos; (ii) desejabilidade de se ter processos
aeróbios; (iii) expectativa da remoção de DBO média global do sistema igual ou superior a 85%. Em função
destes aspectos, foram analisadas as seguintes alternativas de pós-tratamento:

ƒ Lodos ativados com idade do lodo convencional (com nitrificação) - LA


ƒ Filtros biológicos percoladores de alta taxa, com enchimento de escória de alto-forno (sem nitrificação) –
FBP

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DESCRIÇÃO DAS ALTERNATIVAS ESTUDADAS


A Figura 1 ilustra o fluxograma previsto para a ETE Onça, após a inclusão do pós -tratamento. Conforme pode-se
perceber, para qualquer alternativa de pós-tratamento a ser implantada, o fluxograma da estação prevê o retorno do
lodo aeróbio excedente para adensamento e digestão nos próprios reatores UASB. Dessa forma, todo o lodo
produzido na estação será descartado a partir dos reatores anaeróbios e daí encaminhado para desaguamento em
centrífugas.

Figura 1- Fluxograma de operações inerentes ao tratamento das fases líquida e sólida da ETE-Onça
(etapa com reatores UASB seguidos de pós-tratamento). Fonte: COPASA (2004).

Configuração da alternativa de pós-tratamento por lodos ativados (LA)


Uma alternativa bastante promissora e foco de várias pesquisas e implementações recentes em escala real é a
do processo de lodos ativados (com idade do lodo convencional – 6 a 10 dias), como pós-tratamento de
efluentes de reatores anaeróbios tipo UASB. Neste caso, ao invés de se ter o decantador primário, tem-se o
reator anaeróbio. O lodo aeróbio excedente gerado no processo de lodos ativados, ainda não estabilizado, é
enviado ao reator UASB, onde sofre adensamento e digestão, juntamente com o lodo anaeróbio. Como esta
vazão de retorno do lodo aeróbio excedente é bem baixa, comparada com a vazão afluente, não há distúrbios
operacionais introduzidos no reator UASB. O tratamento do lodo é bastante simplificado: não há necessidade
de adensadores e digestores, havendo apenas a etapa de desidratação. O lodo misto retirado do reator
anaeróbio, digerido e com concentrações similares às de um lodo efluente de adensadores, possui ainda ótimas
características para desidratação. A Figura 2 apresenta o fluxograma desta configuração.

Figura 2 - Fluxograma de um sistema composto por reator UASB seguido por lodos ativados (Fonte:
von Sperling et al, 2001)

Configuração da alternativa de pós-tratamento por filtro biológico percolador (FBP)


Estações de tratamento de esgotos que utilizam reatores UASB seguidos de filtros biológicos percoladores
apresentam um fluxograma bastante simplificado (Figura 3). Basicamente, além das unidades de tratamento
preliminar (gradeamento e desarenador), o fluxograma compreende as unidades de tratamento biológico
anaeróbio e aeróbio, em seqüência (reator UASB, filtro biológico percolador e decantador secundário), além
da unidade de desidratação. Notar que, nesta configuração, o lodo aeróbio excedente, retirado do decantador
secundário, é enviado de volta ao reator UASB para adensamento e digestão anaeróbia. Assim, com esse
fluxograma, são evitados os decantadores primários e as unidades isoladas de adensamento e digestão do lodo

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excedente aeróbio, como ocorre nas estações de tratamento convencionais que utilizam filtros biológicos
percoladores.

O lodo produzido no reator UASB já sai adensado e estabilizado, podendo ser enviado diretamente para
desidratação e disposição final.

Figura 3 - Configuração típica de uma ETE com reator UASB e filtro biológico percolador
Fonte: Gonçalves et al. (2001)

METODOLOGIA
Bases conceituais para o pré-dimensionamento da alternativa LA
O dimensionamento efetuado baseou-se no conhecimento mais recente disponível sobre a aplicação de lodos
ativados para o pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios, advindo, notadamente de pesquisas e
trabalhos conjuntos com diversos especialistas do setor, em todo o Brasil, centralizados pelo PROSAB
(Programa de Pesquisa em Saneamento Básico).

Os modelos matemáticos utilizados para o dimensionamento das unidades de tratamento representam uma
síntese compilada dos principais modelos estacionários disponíveis na literatura especializada. A descrição
detalhada dos modelos, com conceitos, fórmulas e exemplos de aplicação, encontra-se apresentada em von
Sperling (2002) e von Sperling et al. (2001).

O dimensionamento das unidades levou em consideração as vazões e cargas de DBO dos seguintes retornos
de líquidos: (a) lodo aeróbio excedente, retornado ao reator UASB, (b) líquido drenado da desidratação,
retornado ao tanque de aeração.

Critérios e parâmetros de dimensionamento da alternativa LA


Os parâmetros de projeto do sistema de lodos ativados com idade do lodo convencional como pós-tratamento
de reatores UASB são similares aos do sistema de lodos ativados convencional. A principal diferença reside
na menor concentração de SSTA usualmente assumida na variante de lodos ativados como pós-tratamento.

A Tabela 1 lista os principais parâmetros de projeto utilizados para o dimensionamento do sistema de lodos
ativados com idade do lodo convencional como pós-tratamento do efluente dos reatores anaeróbios (von
Sperling et a.l, 2001).

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Tabela 1 - Parâmetros de pré-dimensionamento adotados para o sistema de lodos ativados, como pós-
tratamento de efluentes de reatores anaeróbios
Item Parâmetro Valor
Idade do lodo (d) 8
Tanque de Concentração de SSVTA (mg/L) 1800
aeração Concentração de SSTA (mg/L) 2470
Relação SSV/SS no reator (-) 0,73
Requisitos O2 p/Qmax (incluindo nitrif) (kgO2/kgDBO rem no LA) 3,09
Sistema de
Eficiência de oxigenação padrão – ar difuso (kgO2/kWh) 1,93
aeração
Fator de correção: consumo O2 padrão / consumo O2 campo 1,67
Produção lodo aeróbio exced (retornado UASB) (kgSS/kgDBO rem) 1,04
Produção de Concentração de SS no lodo retornado ao UASB (mg/L) 5560
lodo Eficiência de remoção de SSV do lodo aeróbio no reator UASB 0,35
Concentração lodo misto (aeróbio + anaeróbio) retirado do UASB (%) 3,0
3 2
Taxa de escoamento superficial (Q/A) (m /m .d) 24
Taxa de aplicação de sólidos [(Q+Qr).X/A] (kgSS/m2.d) 106
Decantador
Altura da parede lateral (m) 3,5
secundário
Razão de recirculação (Qr/Q) 0,8
Concentração de SS no lodo recirculado ao tanque de aeração (mg/L) 5560
Tratamento Teor de sólidos (desaguamento mecanizado) (%) 25
do lodo Captura de sólidos no desaguamento (%) 90

Bases conceituais para o pré-dimensionamento da alternativa FBP


De forma similar ao sistema de lodos ativados, o dimensionamento efetuado baseou-se no conhecimento mais
recente disponível sobre a aplicação de filtros biológicos percoladores para o pós-tratamento de efluentes de
reatores anaeróbios, advindo, notadamente de pesquisas e trabalhos conjuntos com diversos especialistas do
setor, em todo o Brasil, centralizados pelo PROSAB (Programa de Pesquisa em Saneamento Básico).

Os modelos matemáticos utilizados para o dimensionamento das unidades de tratamento representam uma
síntese compilada dos principais modelos estacionários disponíveis na literatura especializada. A descrição
detalhada dos modelos, com conceitos, fórmulas e exemplos de aplicação, encontra-se apresentada em
Gonçalves et al. (2001).

O dimensionamento das unidades levou em consideração as vazões e cargas de DBO dos seguintes retornos
de líquidos: (a) lodo aeróbio excedente, retornado ao reator UASB, (b) líquido drenado da desidratação,
retornado ao FBP.

Critérios e parâmetros de dimensionamento da alternativa FBP


Os critérios e parâmetros adotados para o pré-dimensionamento dos filtros biológicos percoladores, aplicados
ao pós-tratamento dos efluentes dos reatores anaeróbios, seguiram as recomendações contidas em Gonçalves
et al. (2001), conforme apresentado na Tabela 2.

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Tabela 2 - Resumo dos critérios e parâmetros de dimensionamento dos filtros biológicos percoladores e
decantadores secundários
Critérios e parâmetros Valor
Filtros biológicos percoladores
Profundidade do meio suporte (m) 2,50
Taxa de aplicação hidráulica superficial (m3/m2.dia) 18
Carga orgânica volumétrica (kgDBO/m3.d) 0,55
Eficiência esperada de remoção de DBO (%) 50
Área de vazios para ventilação (como percentagem da área superficial) (mm) 15
Decantadores secundários
Profundidade útil junto à parede (m) 3,00
Taxa de aplicação superficial média no decantador (m3/m2.d) 24
Produção de lodo
Coeficiente de produção de lodo no FBP - Y (kgSST/kgDBOremovida) 0,75
Concentração esperada para o lodo de descarte do decantador secundário (%) 1,0
Percentual de sólidos voláteis no lodo (%) 75
Densidade do lodo (kg/m3) 1.020

Análise comparativa das alternativas


A análise comparativa das alternativas de pós-tratamento foi feita para a primeira e para a segunda etapa. Os
itens considerados foram: (i) aspectos ambientais; (ii) áreas e volumes requeridos; (c) itens de implantação e
operação; (iv) custos totais (absolutos) e (v) custos unitários (relativos).

Uma simplificação introduzida, principalmente na análise de áreas requeridas e custos de implantação e


operação, é que foram levados em consideração apenas os itens potencialmente diferentes entre si, nas duas
alternativas. Itens essencialmente comuns, como terraplenagem, tubulações, bombeamentos, gastos com
pessoal, monitoramento, iluminação etc, ainda que pudessem apresentar alguma pequena variação entre si, não
foram considerados. Portanto, os valores de custos não são os valores totais, mas sim aqueles que pudessem
contribuir para a análise de alternativas.

A Tabela 3 apresenta os principais critérios adotados no levantamento de quantitativos e custos das duas
alternativas estudadas.

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Tabela 3 – Resumo dos critérios adotados no levantamento de quantitativos e custos das alternativas
Critérios Valor
Estruturas de concreto
Espessura de parede do tanque de aeração (m) 0,30
Espessura de parede do FBP e dos decantadores secundários (m) 0,20
Espessura de laje de fundo do tanque de aeração (m) 0,30
Espessura de laje de fundo do FBP (m) 0,20
Espessura de laje do fundo falso do FBP (m) 0,30
Espessura de laje de fundo dos decantadores secundários (m) 0,30
Custo unitário de formas planas (R$/m2) 29,96
Custo unitário de formas curvas (R$/m2) 44,56
Custo unitário de concreto, sem ferragem (R$/m3) 420,27
Custo unitário de ferragem – aço CA-50 (R$/kg) 4,90
Densidade de ferragem – (kg aço por m3 de concreto) 120
Meio suporte
Custo de escória de alto forno (R$/m3) 25,00
Aeração
Custo implantação do sistema aeração (R$/CV instalado) 2.291,00
Custo do kWh (R$/kWh) 0,12
Outros equipamentos
Custo unitário de removedor de lodo para decantador secundário (R$/m) 8.000,00
Custo unitário de distribuidores rotativos para FBP (R$/m) 4.500,00
Disposição do lodo anaeróbio
Custo com transporte e aterramento do lodo (R$/m3) 15,00

RESULTADOS

Os resultados são apresentados na forma de tabelas-resumo (para a 1ª e para a 2ª etapas) e figuras (diagramas
de barra, apenas para a 1ª etapa). Deve-se notar que, a menos quando especificamente indicado, os dados
apresentados referem-se apenas à etapa de pós-tratamento, não incorporando, portanto, os reatores UASB.

Aspectos ambientais
A Tabela 4 apresenta uma síntese dos principais dados e resultados obtidos de interesse do ponto de vista
ambiental. Naturalmente que a alternativa de pós-tratamento por lodos ativados convencional conduz a um
melhor desempenho, refletido em uma maior carga de DBO e amônia removida, bem como menores
concentrações efluentes. No entanto, a diferença com a alternativa de filtro biológico percolador não chega a
ser suficiente para alterar a capacidade de cumprimento aos padrões ambientais. Em outras palavras, as duas
alternativas conduzem simultaneamente ao atendimento ou ao descumprimento aos padrões de lançamento e
aos padrões do corpo d’água (Rio das Velhas, Classe 3). Para a 1ª etapa, as concentrações resultantes no Rio
das Velhas são ainda bastante influenciadas pelo fato de se ter uma coleta incompleta dos esgotos nas bacias
do Arrudas e do Onça. Na 2ª etapa, assumindo-se coleta total dos esgotos, a situação naturalmente melhora.
No entanto, o cenário de atendimento ou não aos padrões para Classe 3 não se altera.

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Tabela 4. Resumo comparativo das concentrações efluentes, eficiências e cargas removidas das duas
alternativas de pós-tratamento
Item 1ª etapa 2ª etapa
LA FBP LA FBP
Dados gerais
População (hab) 1.032.407 1.032.407 1.720.593 1.720.593
Vazão media (m3/s) 2,05 2,05 3,35 3,35
Concentrações efluentes
DBO (mg/L) 30 48 30 48
OD (mg/L) 2 2 2 2
Amônia (mg/L) 4,2 37,8 4,2 37,8
Fósforo (mg/L) 9,8 10,8 9,8 10,8
Coli fecais (termotolerantes) (NMP/100mL) 1,00E6 1,00E6 1,00E6 1,00E6
Eficiências de remoção
DBO (%) 91 85 91 85
Amônia (%) 90 10 90 10
Fósforo (%) 18 10 18 10
Coli fecais (termotolerantes) (%) 98 98 98 98
Cumprimento ao padrão de lançamento
DBO (< 60 mg/L) Sim Sim Sim Sim
Eficiência DBO > 85% Sim Sim Sim Sim
Eficiência DBO > 60% Sim Sim Sim Sim
SS (< 60 mg/L) Sim Sim Sim Sim
Amônia (< 20 mg/L) Sim Não Sim Não
Cumprimento ao padrão do corpo d’água (R. Velhas –
Classe 3), em Q7,10
OD (> 4,0 mg/L) Sim Sim Sim Sim
Amônia (<13,3 mg/L) Sim Sim Sim Sim
Fósforo (<0,15 mg/L) Não Não Não Não
Coli fecais (termotolerantes) (< 4.000 NMP/100mL) Não Não Não Não
Cargas removidas
Carga de DBO5 removida (kgO2/d) 11.673 8.489 19.098 13.889
Carga de DBO última remov (kgO2/d) 17.509 12.734 28.647 20.834
Carga de amônia remov (kg amônia/d) 6.332 389 10.359 637
Carga de O2 equiv a amônia (kgO2/d) 27.226 1.673 44.544 2.737
Carga total demanda C + N rem (kgO2/d) 44.735 14.407 73.191 23.571

Áreas e volumes requeridos


A Tabela 5 apresenta o resumo do número das unidades principais (reatores aeróbios e decantadores
secundários), suas dimensões e áreas e volumes requeridos. A Figura 4 sintetiza as áreas e volumes totais para
a 1ª etapa.

O FBP requer uma maior área para implantação, em virtude de ser composto essencialmente por unidades
circulares. Tal não se constitui em problema, uma vez que a área disponível é suficiente para acomodar todas
as unidades. Em termos de volume total das unidades, as alternativas de LA convencional e FBP conduzem a
volumes totais similares.

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Tabela 5 - Resumo comparativo das dimensões, áreas e volumes das principais unidades das três
alternativas de pós-tratamento
Item 1a etapa 2a etapa
(sem Isidoro) (com Isidoro)
LA FBP LA FBP
DIMENSÕES DAS UNIDADES
Tanque de aeração
. número de unidades 3 5
. comprimento (m) 90,00 90,00
. largura (m) 20,00 20,00
. profundidade útil (m) 5,50 5,50
. profund total (com borda livre) (m) 6,10 6,10
Filtro biológico percolador
. número de unidades 8 12
. diâmetro (m) 41,00 41,00
. profundidade útil (m) 2,50 2,50
. profundidade total (c/ borda e fundo) (m) 3,80 3,80
Decantador secundário
. número de unidades 6 8 10 12
. diâmetro (m) 40,00 32,00 40,00 32,00
. profundidade útil (m) 3,50 3,00 3,50 3,00
. profundidade total (com borda livre) (m) 4,00 3,50 4,00 3,50
ÁREAS DAS UNIDADES
Área superficial útil total das unidades
. reator aeróbio 5.400 10.562 9.000 15.843
. decandador secundário 7.540 6.434 12.566 9.651
. Total 12.940 16.996 21.566 25.494
Área superficial total (incluindo área de influência entre unidades)
. tanque de aeração (m2) 5.400 9.000
. filtro biológico (m2) 14.792 22.188
. decantador secundário (m2) 10.584 9.248 17.640 13.872
. Total (m2) 15.984 24.040 26.640 36.060
Resumo das áreas
. útil 12.940 16.996 21.566 25.494
. influência 3.044 7.044 5.074 10.566
. Total 15.984 24.040 26.640 36.060
VOLUMES DAS UNIDADES
Volume total das unidades (m3)
. reator aeróbio 32.940 40.136 54.900 60.204
. decantador secundário 30.159 22.519 50.266 33.778
. Total 63.099 62.655 105.166 93.982
Volume útil das unidades (m3)
. reator aeróbio 29.700 26.405 49.500 39.608
. decantador secundário 26.389 19.302 43.982 28.953
. Total 56.089 45.707 93.482 68.561

ÁREA TOTAL REQUERIDA VOLUME TOTAL DAS UNIDADES

30,000 80,000
25,000
60,000
Volume (m3)
Área (m2)

20,000
15,000 40,000
10,000
20,000
5,000
0 0
LAconv FBP escória LAconv FBP escória
Influência 3,044 7,044 Dec.sec. 30,159 22,519
Útil 12,940 16,996 Reator aeróbio 32,940 40,136

Figura 4 – Áreas e volumes requeridos (1ª etapa)

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Itens de implantação e operação


A Tabela 5 e a Figura 5 apresentam a comparação de itens de importância associados à implantação
(estruturas, aeração, meio suporte) e à operação (aeração, disposição do lodo) das duas alternativas de pós-
tratamento.

VOLUME DE CONCRETO

10,000

8,000
Volume (m3)
6,000

4,000

2,000

0
LAconv FBP escória
Dec.sec. 2,865 2,493
Reator aeróbio 2,352 6,064

POTÊNCIA INSTALADA PARA AERAÇÃO VOLUME DIÁRIO DE LODO A SER DISPOSTO


3000
2500 100
86
2500 90
76
80
Volume (m3/d)
Potência (CV)

2000 70
60
1500 50
40
1000
30
500 20
0 10
0 0
LAconv FBP escória LAconv FBP escória

Figura 5 – Itens de implantação e operação – volume de concreto, potência instalada e volume de lodo
a ser disposto (1ª etapa)

A alternativa de FBP conduz a maiores volumes de concreto, pelo fato de se ter maiores unidades e duas lajes
(fundo-falso e fundo).

A alternativa de LA está associada às maiores potências instalada e consumida, em virtude do elevado


consumo de oxigênio para a nitrificação, a qual não ocorre na alternativa FBP. Obviamente que, no caso do
FBP, a aeração é natural, não havendo, portanto, potência instalada ou consumida.

A produção de lodo total (aeróbio + anaeróbio) desaguado não varia muito entre as duas alternativas, embora
a menor produção corresponda à alternativa de FBP.

Custos de implantação e operação


Custos globais
A Figura 6 apresenta a comparação entre os custos de implantação (estruturas dos tanques, sistema de aeração
por ar difuso no LA, distribuidor rotativo no FBP, removedores de lodo nos decantadores secundários, meio
suporte no FBP) e operação (consumo de energia para aeração, e transporte e disposição do lodo) das duas
alternativas de pós-tratamento. São também apresentados os custos em valor presente, considerando um
horizonte de 10 anos e uma taxa de juros de 12% ao ano.

Não se pretendeu aqui fazer um orçamento detalhado, mas tão somente uma estimativa de custos dos grandes
itens. Para a composição dos custos, foram utilizados custos unitários disponibilizados pela COPASA MG e
Construtora Andrade Gutierrez, bem como obtidos de projetos recentes com participação dos autores. Os
principais quantitativos e os custos unitários foram detalhados mas não são apresentados neste trabalho.

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Conforme comentado, os itens de custo analisados são apenas aqueles potencialmente diferentes entre as duas
alternativas, não tendo sido computados itens comuns. Portanto, os custos não representam os custos totais a
incidirem na implantação e durante a operação.

CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO
15,000,000

Custo (R$)
10,000,000

5,000,000

0
LAconv FBP escória

Distrib. FBP 0 1,476,000

Remov . lodo 1,920,000 2,048,000

Meio suporte FBP 0 660,129

Aeração 5,727,500 0

Concretagem 5,704,064 9,543,961

CUSTOS ANUAIS DE OPERAÇÃO CUSTOS (VALOR PRESENTE)


2,500,000
30,000,000
2,000,000 25,000,000
Custo (R$/ano)

Custo (R$)

1,500,000 20,000,000
15,000,000
1,000,000
10,000,000
500,000
5,000,000
0 0
LAconv FBP escória LAconv FBP escória
Aeração 1,829,118 0 Operação 12,995,334 2,351,058
Disposição lodo 470,850 416,100 Implantação 13,351,564 13,728,090

Figura 6 – Custos de implantação e operação (1ª etapa)

O sistema com maior custo de implantação foi o FBP, ligeiramente superior ao de LA. O item de maior peso
na composição dos custos de implantação das duas alternativas foi o concreto, responsável por
aproximadamente 75% dos custos na alternativa de FBP (maior número de tanques circulares, laje de fundo e
laje de fundo-falso). Devido aos menores tanques, a alternativa de LA foi a com menor custo de implantação.

Todavia, deve-se enfatizar a possibilidade de redução dos custos de implantação dos FBP, a ser conseguida
com a utilização de meio suporte sintético (bem mais leve e com área superficial bem mais elevada que o leito
considerado no presente estudo - escória de alto forno). Embora de custo mais elevado (da ordem de
R$250,00 a R$300,00/m3), a adoção de meio suporte sintético poderá acarretar em uma economia substancial
de concreto, não só devido à redução das espessuras das lajes e paredes, mas também devido à possibilidade
de utilização de outros tipos de materiais (ex.: engradamento de madeira para o fundo e alvenaria cintada para
as paredes). Ademais, o uso de meio suporte sintético repercutirá na redução dos volumes dos filtros, devido à
maior área superficial deste material de enchimento. Todavia, para que esses benefícios sejam alcançados será
necessário trabalhar com filtros de maior altura, da ordem de 5 a 6 metros.

Em termos de custos anuais de operação, a alternativa de FBP é amplamente a mais favorável, devido ao fato
de não se ter gastos energéticos com aeração. Como seria de se esperar, a alternativa de LA é a com maior
gasto energético, especialmente em função do fornecimento de oxigênio para a nitrificação. A disposição do
lodo não é um fator decisório na análise comparativa, uma vez que a produção total de lodo é similar entre as
duas alternativas. Sabe-se que os custos de disposição são essencialmente dependentes da distância de
transporte do lodo. No entanto, mesmo que os custos unitários de transporte venham a ser bem diferentes dos
assumidos (R$15,00 por m3 transportado), a influência na análise comparativa não será expressiva.

Com relação aos custos em valor presente, a alternativa de maior custo é a de LA. O custo do FBP é
substancialmente menor do que o de LA.

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Custos unitários
A Figura 7 apresenta o resumo dos custos unitários, relativos a itens de implantação e operação das principais
unidades das duas alternativas de pós-tratamento. Deve-se lembrar que os custos unitários não são os custos
totais a incidirem na implantação e operação, por terem sido considerados apenas os grandes itens
potencialmente diferentes entre as duas alternativas.

De particular interesse na presente análise são os custos por kg de DBO removida. Nestes cálculos, é
considerada a DBO total removida, correspondente à demanda carbonácea (oxidação da matéria orgânica) e à
demanda nitrogenada (oxidação da amônia, ou nitrificação, a qual gera também consumo de oxigênio). O
sistema com maior custo absoluto (LA) passa a ser o sistema com menor custo relativo, ou unitário, em
virtude de sua elevada eficiência na remoção da DBO e da amônia. O resultado é coerente: gasta-se mais para
se ter uma maior carga removida de poluentes. Como a eficiência de remoção não é proporcional aos custos, o
sistema de LA acaba sendo aquele com menor relação custo/benefício.

CARGAS DE DBO (C+N) REMOVIDAS

50,000

40,000
Carga (kgO2/d)

30,000

20,000

10,000

0
LAconv FBP escória
Demanda nitrogen 27,226 1,673
Demanda carbon 17,509 12,734

CUSTOS POR kgDBO (C+N) REMOVIDO CUSTOS POR kgDBO(C+N) REM


(VALOR PRESENTE)
0.30
0.26 0.35
0.25 Implant (R$/kg)
0.30 Oper (R$/kg)
Custos (R$/kgDBO)

Oper (R$/kg) 0.04


Custos (R$/kgDBO)

0.20 0.25 Impl (R$/kg)

0.14 0.20
0.15
0.15
0.10 0.08 0.08 0.08 0.26
0.10
0.05
0.05 0.08
0.00 0.00
LAconv FBP escória LAconv FBP escória

Figura 7 – Comparação entre custos por kgDBO (carbonácea e nitrogenada) removida (1ª etapa)

CONCLUSÕES

A alternativa de pós-tratamento por lodos ativados convencional conduz a um melhor desempenho, refletido
em uma maior carga de DBO e amônia removida, bem como menores concentrações efluentes. No entanto, as
duas alternativas conduzem simultaneamente ao atendimento ou ao descumprimento aos padrões de
lançamento e aos padrões do corpo d’água (Rio das Velhas, Classe 3).

A alternativa de FBP conduz a maiores áreas e volumes de concreto, pelo fato de se ter maiores unidades e
duas lajes (fundo-falso e fundo). Todavia, se considerada a utilização de enchimento sintético, existe a
possibilidade de redução substancial dos volumes de concreto e dos custos de implantação.

A alternativa de LA está associada às maiores potências instalada e consumida, em virtude do elevado


consumo de oxigênio para a nitrificação. Obviamente que, no caso do FBP, a aeração é natural, não havendo,
portanto, potência instalada ou consumida.

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A produção de lodo total (aeróbio + anaeróbio) desaguado não varia muito entre as duas alternativas, mas a
menor produção corresponde à alternativa de FBP.

Para os grandes itens analisados (potencialmente diferentes entre as duas alternativas), custos de implantação
ligeiramente maiores recaem sobre o FBP. Todavia, em termos de custos anuais de operação, a alternativa de
FBP é amplamente a mais favorável, enquanto a alternativa de LA convencional é a com maior gasto
energético em função da aeração (ausente no FBP).

A disposição do lodo não é um fator decisório na análise comparativa de custos, uma vez que a produção total
de lodo é similar entre as duas alternativas.

Com relação aos custos em valor presente, a alternativa de maior custo é a de LA convencional, sendo que a
alternativa de FBP apresenta custos substancialmente menores.

Pelo fato de trabalhar com uma maior eficiência de remoção (matéria orgânica e amônia), a alternativa de LA
convencional, apesar de ter os maiores gastos, é a que possui o menor custo por kg DBO (carbonácea e
nitrogenada) removida.

Para as duas alternativas de pós-tratamento há suficiente experiência em escala real no Brasil para dar sustento
à implantação na escala proposta da ETE-Onça.

Em função do balanço de vantagens e desvantagens de cada alternativa, acredita-se que, no presente caso, a
opção de pós-tratamento mais recomendada seja a de filtros biológicos percoladores.

AGRADECIMENTOS
Os autores contaram com o apoio da COPASA MG e da Construtora Andrade Gutierrez no desenvolvimento
deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. BRASIL (1986). Resolução CONAMA no 20, 18 de junho de 1986. Dispõe sobre a classificação das
águas doces, salobras e salinas do Território Nacional.
2. BRASIL (2005). Resolução CONAMA no 357, março de 2005. Dispõe sobre a classificação das águas
doces, salobras e salinas do Território Nacional.
3. COPASA MG (2003). Memorial Descritivo da Estação de Tratamento de Esgotos do Ribeirão do
Onça. Fundação Christiano Ottoni, março/2003, 53 p.
4. COPASA MG (2004). Estudo de alternativas de pós-tratamento para os efluentes dos reatores
anaeróbios da ETE Onça. Fundação Christiano Ottoni, janeiro/2004, 72 p.
5. GONÇALVES R.F., CHERNICHARO C.A.L., ANDRADE NETO C.O, ALEM SOBRINHO P.,
KATO M.T., COSTA R.H.R., AISSE M.M. & ZAIAT M. (2001). Pós-tratamento de efluentes de reatores
anaeróbios por reatores com biofilme. Cap. 4. In: CHERNICHARO C.A.L. (coordenador). Pós-tratamento
de efluentes de reatores anaeróbios. FINEP/PROSAB, Rio de Janeiro, Brasil, 544 p.
6. VON SPERLING M., VAN HAANDEL A.C., JORDÃO E.P., CAMPOS, J.R., CYBIS, J.F., AISSE,
M.M. & ALEM SOBRINHO P. (2001). Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios por sistema de
lodos ativados. Cap. 5. In: CHERNICHARO C.A.L. (coordenador). Pós-tratamento de efluentes de
reatores anaeróbios. FINEP/PROSAB, Rio de Janeiro, Brasil, 544 p.
7. VON SPERLING M. (2002). Lodos Ativados. Princípios do Tratamento Biológico de Águas
Residuárias. Vol.4, DESA/UFMG, 2ª ed, 428 p. Belo Horizonte.

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