Este suplemento é parte integrante do Jornal Expresso das Ilhas Nº 919 de 10 de Julho de 2019 e não pode ser vendido
separadamente
Projecto de informação Jurídica às
populações e à sociedade celebra
O direito à Informação ju-
rídica independentemente da
condição financeira da pes-
soa encontra-se plasmados
na Constituição da República
de Cabo Verde (n.º 3, arti-
go 22.º). Constata-se porém
que os direitos constitucionais
não são devidamente garanti-
dos se a aposta se resumir aos
bons serviços de manutenção
da ordem e o bom funciona-
mento dos tribunais. Sequer
são garantidos apenas com
a disponibilização de assis-
tência judiciária. É preciso,
em primeira instância que as
pessoas, quando confrontadas
com uma situação em concre-
to, tenham acesso à informa-
ção jurídica, prestada por pro-
fissionais competentes, que
lhes permita compreender, a
cada momento, quais são os
seus direitos e como garantir
que estes são respeitados, ou
repostos quando beliscados,
à luz das Leis do país e inde-
pendentemente das suas con-
dições económico-financeiras
do momento.
Foi nesse contexto que,
para além da reforma e refor-
ço da assistência judiciária, o
Ministério da Justiça, através
da Direção Geral da Politica
de Justiça, concebeu o projec-
to de informação Jurídica às
populações e à sociedade, que
visa proporcionar ao cidadão
a vivência plena da sua cida-
dania num Estado de Direito
Democrático.
O projecto foi desenhado de
forma a que essa informação
esteja facilmente disponível,
e de que este seja um serviço
efectivamente presente nas
comunidades, descentralizando
a informação jurídica e
permitindo o fácil acesso à
mesma a todas as populações
de Cabo Verde. Nesse sentido,
em Julho de 2017, foram
assinados protocolos com as
Câmaras Municipais e algumas
Organizações da Sociedade
Civil (ONGs), construindo-
se uma rede prestadores de
informação jurídica.
O Protocolo de Informação
Jurídica foi desde então
2
“
assinado com oito Câmaras
Municipais da Ilha de Santiago
(Tarrafal, Santa Catarina,
“O cidadão informado
São Miguel, Santa Cruz, São
é um cidadão mais Lourenço dos Órgãos, São
atento e esclarecido Salvador do Mundo, São
sobre seus direitos e Domingos e Ribeira Grande
de Santiago), com a Câmara
interesses, e, por essa
Municipal da Ilha do Sal, Boa
razão, não perde tempo, Vista, Maio, Fogo (os três
não gasta dinheiro Municípios, Santa Catarina,
despropositadamente São Filipe e Mosteiros),
São Nicolau (Município de
e, sabe aonde se dirigir
Tarrafal e Ribeira Brava),
para fazer valer as
Santo Antão (Município de
suas prerrogativas. Porto Novo, Ribeira Grande
Então o retorno será e Paúl) e a Câmara Municipal
da Ilha da Brava. O mesmo
imediato, a nível da
Protocolo foi celebrado com
promoção e reforço da cinco ONG´s, nomeadamente,
cidadania ativa e, num a ADECO, a Associação das
horizonte mais distante, Mulheres Juristas (AMJ), a
Morabi (Cidade da Praia e
isso contribuirá,
São Vicente), a Associação
seguramente para a Zé Moniz e o Instituto das
afirmação do Estado Adoradoras Escravas “Kreditá
de direito e do Estado na Bó” sediado no Mindelo
(São Vicente).
democrático”, Janine
Esse serviço de Informação
Lélis, Ministra da Jurídica é prestado por profis-
Justiça e do Trabalho. sionais do foro, de pleno direi-
anos
O projecto de Infor-
mação Jurídica é um
sistema integrado de
informação que permi-
te levar à sociedade e
à população em geral o
conhecimento de toda a
legislação produzida em
Cabo Verde, dotando-as
de conhecimentos bási-
cos e necessários que
lhes permitam reagir
quando os seus direitos
e interesses sejam vio-
lados.
to, por advogados, advogados
estagiários e juristas, através
dum contrato entre os muni-
cípios respetivos, as ONG´s e
os técnicos.
Dois anos volvidos, foi hora
de fazer um balanço deste
projecto e reforçar a forma-
ção dos prestadores de infor-
mação jurídica. A 11 de Junho
realizou-se, então, o Fórum
Nacional de Prestadores de
Informação Jurídica em Cabo
Verde.
 2\\
FÓRUM NACIONAL DOS PRESTADORES DE INFORMAÇÃO JURÍDICA
Um Fórum para balanço e preparação de
“nova largada” na Informação Jurídica
Prestadores de informação Jurídica de todo o país estiveram reunidos na cidade da Praia, no dia 11 de Junho, para fazer um balan-
ço do que já foi feito e partilhar experiências e conhecimentos. Mais do que isso, foi também momento “de reflexão sobre novas
estratégias a serem traçadas para se avançar rumo a uma nova largada visando alcançar novos patamares na prestação do serviço
de informação jurídica aos cidadãos”, conforme destacou a Ministra da Justiça e Trabalho, Janine Lélis, na abertura do evento.
“Sabendo que o direito de
acesso à justiça é uma prerro-
gativa que é melhor utilizada
pelo cidadão esclarecido acer-
ca dos seus direitos e interes-
ses, então, inscreve-se entre
as funções do Estado criar as
condições para que ao mesmo
sejam disponibilizados meca-
nismos ou um serviço que lhe
permita ter acesso à informa-
ção jurídica”, frisou a Ministra
da Justiça e do Trabalho.
Esta é a premissa por trás
do Projecto de Informação
Jurídica criado há quase dois
anos, em Julho de 2017. Des-
de então, o mesmo já percor-
reu um longo caminho: foram
assinados protocolos com 20
municípios e várias ONGs e
progressivamente a rede in-
formativa vai-se alargando,
através da divulgação do servi-
ço. Chegada a altura da avalia-
ção do projecto, reuniram-se
os intervenientes no Fórum
de Prestadores de informação
Jurídica para o balanço, mas
também para identificação
de eventuais lacunas e pro-
blemas no exercício das suas
atividades. O intuito foi ainda
promover, junto a esses juris-
tas, melhores condições para
prestar um melhor serviço às
comunidades que represen-
tam, e aglomerar recomenda-
ções com base na experiência
e expectativas actuais para
fortalecimento da prestação
do serviço de Informação Ju-
rídica.
“No momento, revela-se
de crucial importância que se
proceda a esta reflexão con-
junta sobre o trabalho feito
até agora, na medida em que
se trata de uma primeira ex-
periência nesse sentido”, es-
SUPLEMENTO
“
A boa informação
jurídica aos cidadãos
deve ser configurada
como uma espécie de
antecâmara destinada a
assegurar, no futuro, a
tutela dos seus direitos
e interesses legalmente
protegidos.” Janine
Lélis, Ministra da
Justiça e do Trabalho.
pecificou Janine Lélis no seu
discurso. “Por outro lado, im-
porta que sejam estabelecidas
novas metas e estratégias para
que as mesmas sejam prosse-
guidas da melhor forma possí-
vel”, acrescentou.
Numa primeira fase, “mer-
cê da vastidão dos domínios
onde se pode prestar o serviço
de informação jurídica, en-
tendeu-se como melhor me-
todologia a seguir, a definição
das determinadas áreas con-
sideradas as mais relevantes
ou prioritárias, para o efeito”,
explicou a Ministra da Justiça
e Trabalho, adiantando que o
objectivo é que essas áreas se-
jam alargadas.
Em representação do coor-
denador do Escritório comum
do PNUD, Adelaide Ribeiro,
por seu turno realçou a impor-
tância deste Fórum para dis-
cussão da eficácia do Projecto
de Informação Jurídica, bem
como da sua relação com a
assistência jurídica fornecida
pelo Governo através da Or-
dem dos Advogados de Cabo
Verde.
A mesma responsável des-
tacou ainda o facto do proto-
colo estabelecido com os mu-
nicípios permitir uma maior
aproximação do sistema ju-
diciário às comunidades e a
criação de condições para a
educação jurídica.
O Fórum Nacional dos
Prestadores de Informação
Jurídica foi organizado pelo
Ministério da Justiça e Traba-
lho, através da Direção Geral
da Política de Justiça, em par-
Nº 919 • 10 de Julho de 2019
Matérias
prioritárias
dos serviços
de informação
jurídica
Uma vez que o domínio da In-
formação Jurídica é muito vas-
to, delimitou-se o serviço de
informação jurídica a determi-
nadas áreas consideradas mais
relevantes ou prioritárias.
- Matérias de natureza consti-
tucional
- Matérias de natureza laboral
ceria com a PNUD, a UNICEF - Alimentos
e UNFPA que financiou toda a - Família
atividade. - VBG
- Posturas
“
- Tráfico de seres humanos
São áreas e domínios que,
por via de regra, constituem
objeto de maior preocupação
ou curiosidade da parte dos
cidadãos e algumas delas dão
A justiça e a igualdade
azo a maiores demandas nos
são os pilares tribunais.
para a construção
de sociedades Matérias
equilibradas, consideradas no
economias resilientes
e democracias fortes,
futuro
entretanto constata- Num futuro próximo, outras
áreas poderão vir a ser igual-
se que mesmo em
mente objeto de informação
sociedades onde as jurídica, designadamente, as
leis são justas, a respeitantes a:
justiça foi negada aos - Tratados, acordos e conven-
ções internacionais;
mais vulneráveis”,
- Matéria administrativa;
Adelaide Ribeiro - Matéria fiscal;
em representação - Matéria comercial;
do coordenador do - Matéria societária;
- Matéria contraordenacional;
Escritório comum do
- Matéria registral;
PNUD (citada pela - Matéria notarial;
Inforpress). - Outros.
Nº 919 • 10 de Julho de 2019
SUPLEMENTO //3
FÓRUM NACIONAL DOS PRESTADORES DE INFORMAÇÃO JURÍDICA

Conclusões do Fórum Chegar a quem precisa….

Principais dificuldades encontradas pelos intervenientes: A aposta na divulgação,
Fraca adesão dos munícipes devido a pouca divulgação como mostram os testemunhos,
por parte das instituições e a falta de equipamentos para é um investimento que tem de
uma melhor prestação de serviço. ser feito para que os munícipes
possam usufruir deste serviço
que lhes é prestado. Uma divul-
Recomendações dos intervenientes do Fórum:
gação que deve ser feita tanto a
De modo geral, os intervenientes acreditam que é “… ne- nível local, como central. Aliás,
cessário fazer divulgação, no sentido de dar conhecimento desde o início, refere Benvin-
e para podermos ter munícipes com conhecimentos em to- do Oliveira, director-geral da
das ou quase todas as legislações cabo-verdianas…”. Política de Justiça, que a cons-
ciência de que para “um serviço
desta natureza entrar na ‘vida’
das pessoas era necessário fa-
zer a respectiva publicidade e
nós fizemos”.
Mas não basta divulgar, é
preciso descentralizar. Deslo-
car-se às comunidades, como
prestadores de informação jurí-
dica já fazem em vários muni-
cípios, para divulgar e prestar o
serviço nessas localidades. Esta
é aliás uma sugestão geral para
agilizar o serviço e permitir que
todos os munícipes acedam de
forma fácil ao mesmo.
A celebração dos protocolos
com as Câmaras Municipais
surge, inclusive, dentro do
mesmo objectivo de alcançar
toda a população vulnerável e
carenciada.

Testemunhos dos prestadores de Informação Jurídica

Nilton César Nunes
- CM de Santa
Catarina (Fogo)
Há cerca de um ano que
Nilton Nunes é prestador de
informação jurídica no âmbito
do protocolo assinado com a
Câmara Municipal de Santa
Catarina do Fogo. Durante esse
período de tempo, foram ainda
relativamente poucas as pessoas
que recorreram ao serviço. Desde
logo, o facto de ser um concelho
com localidades dispersas e
muitos munícipes carenciados
têm-se mostrado um entrave
à pretendida adesão. “Tudo
isso dificulta que as pessoas se
desloquem à CM simplesmente
para obter informação jurídica”,
explica o advogado.
Face a este constrangimen-
to, iniciou-se a deslocação às
comunidades. Há divulgação,
nomeadamente nas redes so-
ciais e a CM manda funcioná-
rios informar da data que o
prestador de informação jurí-
dica estará presente na comu-
nidade. Todas essas iniciati-
vas tem levado a que o serviço
“funcione melhor”, mas este
ainda é marcado, na opinião
de Nilton Nunes, pela “pouca
adesão das pessoas”.
A ideia é insistir e familia-
rizar a população. A aposta
na divulgação vai continuar,
de forma mais intensa, bem
como as visitas às comunida-
des. Será ainda criada uma
calendarização para essas visi-
tas, estabelecendo uma rotina
que as pessoas reconheçam.
“Por exemplo, na primeira
segunda-feira de cada mês, a
localidade de Achada Furna,
segunda, Estância Roque, e as-
sim por diante”. Serão também
encetados contactos com asso-
ciações locais para uma divul-
gação mais incisiva.
Entretanto, no balanço des-
te ano, sabe-se que o serviço foi
procurado essencialmente por
mulheres. “Mulheres com difi-
culdades nos relacionamentos
[pessoais] e matérias de foro
familiar. Divórcio, união de
facto, VBG e pensão de alimen-
tos - pais que não cumprem
com essa a obrigação de pres-
tar alimentos”, especifica.
Chegam com um problema
e são então informadas da lei e
do que podem fazer para repor
os seus direitos e interesses. É
também indicada a instituição
competente para prestar as-
sessoria jurídica (Ordem dos
Advogados), para seguimento
do processo de acesso à justiça
que se visa universalizar.
Éder Brito, ADECO
A Associação para Defesa do
Consumidor (ADECO) foi uma
das Organizações da Socieda-
de Civil com que o governo as-
sinou o protocolo de Informa-
ção Jurídica.
Trata-se de uma associação
que tem, como salienta o pres-
tador de informação jurídica
Éder Brito, a peculiaridade de
conseguir “alcançar um vasto
nicho social a nível de Cabo
Verde inteiro”.
“Não prestamos informação
somente a nível presencial, te-
mos os programas de rádio e
televisão e acabamos por emi-
tir essa informação  por todo o
país”.
Aliás, já antes da assinatura
do protocolo a ADECO presta-
va, de alguma forma, informa-
ção jurídica, mas dirigida ape-
nas à matéria de defesa do con-
sumidor. Com este protocolo
o cenário alargou-se. “Presta-
ção [de informação] jurídica é
muito mais vasto. É qualquer
tema” que seja importante
“para pessoas que têm carên-
cias económicas”, indica.
Embora este protocolo de
prestação de informação ju-
rídica com a ADECO tenha
como meio principal a rádio
e Televisão, também é presta-
do a nível presencial e através
das redes sociais. Ao serviço
recorrem então pessoas “que
não têm capacidade financei-
ra, que têm alguma falta de co-
nhecimentos, mas que sabem
da existência da ADECO”.
Muitos desses beneficiários
desconhecem porém o âmbito
da Informação Jurídica. Pro-
curam a ADECO “procurando
soluções jurídicas, que não po-
demos prestar, não faz parte
do nosso estatuto”. Nesses ca-
sos são enviados para a Ordem
dos Advogados, para assistên-
cia jurídica. 
Quanto às matérias mais
comuns, apareceram já vários
casos da área da propriedade,
nomeadamente pessoas que
vão ser despejadas da casa
onde moram, e da área laboral,
mormente casos de despedi-
mento. “Temos muito essas
duas situações”, diz.
Presente no Fórum, Éder
Brito faz um balanço positivo,
destacando que toda a partilha
proporcionada pelo evento foi
muito boa no sentido de projec-
tar uma “rede de cooperação”.
Da parte da ADECO, o pro-
jecto é para continuar, preten-
dendo-se “adicionar novos te-
mas”, que foram abordados no
Fórum,destacando entre eles a
formação de micro-empresas.
Temas que aparentemente vão
além do que uma pessoa ca-
renciada poderia querer, “mas
que na verdade são já assun-
tos de utilidade pública, temas
pertinentes” sobre os quais a
informação jurídica disponibi-
lizada é importante.
Anete Borges, AMJ
Há muito que a Associação de
Mulheres Juristas presta infor-
mação jurídica e surge, portanto,
como parceira lógica do Projecto
de Informação Jurídica.
“Para nós não é novidade
prestar essa informação, di­
fe­ren­temente das CM que
agora estão a fazer este tipo
de serviços, através dos
prestadores de informação que
são advogadas ou advogados
estagiários”, explica a presidente
Anete Borges. A diferença é
que neste momento a AMJ já
não presta Assistência Jurídica
como outrora, delimitando-se à
Informação Jurídica.
Sem surpresa, os consul-
tantes da AMJ são maiorita-
riamente mulheres, e entre as
matérias sobre as quais pro-
curam informação destacam-
-se três: Violência Baseada no
Género (VBG), problemas la-
borais e Pensão de alimentos.
No Fórum foi possível per-
ceber como o serviço está a
funcionar nas outras entidades
que celebraram o protocolo. E
um dos problemas é, para Ane-
te Borges- que tem já ampla
experiência jurídica - a inex-
periência de grande parte dos
prestadores, aos quais tam-
bém não é facultado material
suficiente “para que possam
prestar um atendimento credí-
vel ao consultante”, principal-
 4\\
FÓRUM NACIONAL DOS PRESTADORES DE INFORMAÇÃO JURÍDICA
mente ao nível dos municípios.
A fraca adesão ao serviço foi
outra queixa que recorda ter
ouvido no Fórum. Aliás, uma
das recomendações saídas do
evento foi precisamente “te-
mos de ver outras formas de
informar o utente de que exis-
te” este serviço.
A afluência de utentes de al-
guns munícipes do interior de
Santiago à sede da AMJ (Praia)
comprova de facto desconheci-
mento da existência do serviço
também nesses concelho. É
uma divulgação que cabe pri-
meiramente ao municípios fa-
zer, considera a jurista.
Jaqueline Rocha
- CM Porto Novo  lestras que Jaqueline Rocha
Quando os utentes chegam
ao gabinete disponibilizado
pela Câmara Municipal de
Porto Novo, por norma, “não
têm a mínima noção dos seus
direitos”.
São casos, como o de uma se-
nhora que após viver em união
de facto por cerca de 20 anos,
considera não ter direito à casa,
uma vez que ela foi construída
com o dinheiro ganho pelo ex-
-companheiro, conta Jaqueline
Rocha, prestadora de informa-
ção jurídica do município.
“’Ele é que construiu a casa
porque ele é que trabalhava, e
ele agora quer que eu saia da
casa e eu não tenho para onde
ir’”, queixava-se a referida se-
nhora. Cabe então à jurista
explicar o que a lei diz sobre
a questão apresentada. Este é
pois, no entender de Jaqueline
Rocha, um serviço importante
para a população. Até porque
muitas pessoas acabam por
perder os seus direitos por
desconhecimento da lei. “Só
SUPLEMENTO Nº 919 • 10 de Julho de 2019
para dar um exemplo: lei diz
que quando há união de facto Formação
e esta termina as pessoas tem O Fórum teve também uma vertente forma- nar aos participantes informações pertinentes
até 3 anos para requererem os tiva, contemplando cinco apresentações dividi- sobre temas importantes para o cabal desem-
seus direitos junto ao tribunal. das em quatro painéis, que visaram proporcio- penho da Informação Jurídica.
Deixam passar o tempo, por-
que desconhece os prazos”. E
perdem os direitos… PAINEL 1
Em Porto Novo, tal como
outros municípios, a maior O Papel da Banca no Desenvolvimento das Empresas e do País
parte dos utentes que recorre
ao serviço de informação jurí- Denise Santos, Diretora Comercial da Caixa Económica de Cabo Verde.
dica são mulheres, geralmente
com pouca instrução. Os pro- Educação Financeira/Literacia Financeira
blemas são do foro da Família,
destacadamente as referidas João Chantre, representante da EMPRESA AGMVM- Auditoria Geral de Mercado de Valores Mobiliários
Uniões de Facto, mas também
O primeiro painel recaiu sobre questões relacionadas com o sistema bancário e o sistema
algumas de matéria laboral.
financeiro e seus produtos. Mais concretamente, foram abordados tipos e formas de regime
Também aqui há queixas de
dos contratos bancários, tipos e formas de créditos, a tramitação dos pedidos de créditos, a
pouca adesão. Contudo, avalia
banca no contexto do sistema financeiro, os produtos financeiros em geral e os bancários que
a jurista, aos poucos começam
estimulam a poupança e investimento e a Gestão do Risco do Crédito.
a aparecer mais utentes. Para
A literacia financeira e a cultura financeira em Cabo Verde foram outros itens abordados,
isso terão contribuído as pa-
tendo como base a consciência de que a prosperidade de Cabo Verde como Nação depende da
prosperidade financeira de cada um.
e a Vereadora Joana Delgado
começaram a fazer, no mês de
Março, no interior do concelho.
Palestras que deverão prosse- PAINEL 2
guir em breve. Apesar da fraca
procura, até ao momento já foi Plataforma Digital da Legis-Palop
prestada informação jurídica a
mais de 150 munícipes. Adriano Afonso, Director de serviço da Plataforma Legis - Palop
Entretanto, há um constran- Neste painel foi a apresentada a plataforma digital, instrumento que irá permitir dispor de
gimento na ilha de Santo Antão um conjunto de vantagens para o trabalho de dia a dia dos juristas, e prestadas informações
que delimita que a Informação sobre a possibilidade de acesso à base de dados. Este instrumento, como explicou o Director
Jurídica possa ser a alavanca de serviço da Plataforma Legis – Palop, permite ter acesso em tempo real às leis publicadas e
para outro patamar do acesso conhecer todas as suas vicissitudes, sendo portante de grande utilidade e importância para os
à justiça: na ilha não há repre- juristas. Estes profissionais podem aceder à Plataforma através de uma inscrição no sistema
sentação da Ordem dos Advo- e aquisição de uma assinatura anual.
gados, pelo que a assistência
jurídica prestada deve ser soli-
citada em São Vicente.
“Temos esse grande proble- PAINEL 3
ma. Quando se chega ao ponto
em que as pessoas devem pro- Directrizes da Informação Jurídica
curar a Ordem dos Advogados,
indico o número de telefone, José Lopes da Graça, Director de Serviço do Gabinete de Estudos Planeamento Estratégico e Coopera-
ou entro eu em contacto dire- ção Institucional da Direção Geral da Politica de Justiça
tamente com a delegação em
Foi apresentado o documento que estabelece as directrizes da Informação Jurídica, fazendo
São Vicente, explico a situa-
o enquadramento constitucional do direito à informação jurídica e explicando directivas bem
ção, e o representante” solicita
como os parâmetros para a prestação do serviço de informação jurídica. Foram igualmente
sempre que a pessoa vá pre-
propostas e explanadas temáticas e matérias para os serviços de informação jurídica. Um
sencialmente à ilha vizinha,
outro tópico da apresentação foi o objeto e método da Ciência Jurídica.
para explicar a situação e para
que a Ordem possa nomear-
-lhe um advogado. O Papel do Estado na Proteção dos Direitos das Crianças e do
Contudo, tratando-se de
pessoas sem recursos, a ida
Adolescente
a São Vicente é um esforço Daniel Monteiro, Procurador da República e Vice-Presidente do Conselho Superior do Ministério Público
financeiro que muitas vezes
não podem comportar. A apresentação teve como base o ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, que o apre-
“A pessoa fica um bocado sentador cogitou com o Código Civil vigente, realçando as diferenças e as similitudes com o
limitada, porque recebe a in- Sistema de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente. Foram enumerados os prin-
formação mas não tem como cipais direitos fundamentais dos menores e o sub-tema do poder paternal este em evidência
se deslocar a São Vicente para neste painel, tendo em conta a realidade nacional e, inclusive, as matérias mais frequentes de
tratar do assunto…”, lamenta. recurso ao serviço de prestação de informação jurídica.