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Aluno: Miguel Tassinari Ferreira.

Turma: A2N.

ESTUDO DE CASO: O crime da cavalaria e a insegurança pública


Cerca de 200 assassinatos foram cometidos no Carnaval de 1999, alguns deles em chacinas
(assassinatos em grupos). Não estivesse a opinião pública tão acostumada com a violência e
as chacinas, teria ficado muito mais chocada do que ficou com uma delas, ocorrida na cidade
de São Vicente, no litoral de Sã Paulo. Somente por insistência de parentes das vítimas as
autoridades movimentaram-se, para comprovar que o assassinato de três adolescentes era
oba de policiais militares, que os haviam detido na saída de um baile, para matá-los a sangue
frio algumas horas depois, sob o comando de um oficial.
Esse episódio somou-se a outros na história de uma organização supostamente dedicada a
proteger o cidadão. Criada nos anos 70, a polícia militar funcionou como tropa de assalto
durante a ditadura militar, sendo autorizada para reprimir passeatas e invadir escolas e
sindicatos. Seus integrantes, naquela época, eram doutrinados para acreditar que estudantes e
operários eram “o inimigo”.
Até os anos 70, existiam diversas organizações policiais fardadas nos Estados do Brasil. O
sistema jamais funcionou satisfatoriamente. Em diversas ocasiões, foram feitas propostas para
unificar as diferentes corporações, que nunca prosperaram. Além disso, a existência das
milícias estaduais, como a Força Pública em São Paulo, era motivo de preocupações para as
autoridades federais, especialmente para o Exército, que sempre temeu sua utilização como
instrumento de independência dos Estados.
A situação permaneceu assim até os anos 70. Nessa época, a ditadura militar, iniciada em
1964, fundiu todas as organizações policiais fardadas e transformou-as nas policias militares,
abrangendo os bombeiros. As PMs estaduais foram subordinadas ao Exército, que criou um
órgão para seu controle. Ficaram as PMs responsáveis pelo policiamento ostensivo fardado e
foram virtualmente separadas das secretarias de Segurança Pública, que passaram a
administrar a chamada polícia civil, responsável pelo policiamento judiciário.
As duas organizações, durante todo o período da ditadura, funcionaram como órgão de
repressão. Os militares (Exército, principalmente) controlavam as secretarias estaduais de
segurança. Isso assegurava certa unidade de comando das duas corporações, que se perdeu
completamente, quando o país foi redemocratizado, em meados dos anos 80. Quando uma
nova Constituição foi promulgada, no final dessa década, o lobby dos militares conseguiu
preservar a independência das PMs.A criação das policias militares e sua separação das
autoridades civis tornou mais agudo o problema que havia antes dos anos 70. O que
funcionava de forma relativamente mais bem integrada, quando havia diversas corporações
fardadas, transformou-se em um conjunto sem unidade. Polícia militar e polícia civil tornaram-
se organizações concorrentes, praticamente sem nenhuma interação. Diversos fatores
contribuíram para que, no limiar do século XXI, a criminalidade se tornasse uma das grandes
preocupações da sociedade brasileira, agravada pela ineficiência das duas corporações. 

A cada dia, ocorrem 23 assassinatos, 330 furtos e roubos de carros e cerca de 1500 roubos de
outros tipos somente na Grande São Paulo. O mais perturbador da violência no Brasil é o fato
de contrariar a tendência de declínio de longo prazo em outras sociedades civilizadas.
A polícia, em vez de solução, tornou-se parte do problema. E a violência policial, apenas um
grande problema dentro de uma coleção de grandes problemas. Um estudo publicado em 1999
sobre a polícia apresentou um panorama de seriíssimas distorções:
• A PM de São Paulo, com 83 mil integrantes, transformou-se em uma usina de desperdícios.
Contra 1400 sargentos na ativa, mantém 14.000 reformados. Para 35 coronéis na ativa,
sustenta mais de 1.000, precocemente aposentados, que recebem pensões de 11.00 reais. A
banda da PM tem 620 músicos. Suas tropas de choque imobilizam 3.595 homens e 300
veículos, o triplo do necessário, e 10 vezes mais do que o efetivo das forças equivalentes da
polícia de Nova Iorque. Milhares de homens e mulheres fardados não trabalham em qualquer
atividade de segurança pública, mas como cozinheiros, garçons, motoristas, guarda de honra,
sentinelas de quartéis, enfermeiros, mecânicos etc. Mais de 200 homens fardados trabalham
como barbeiros.
• A atividade fim, o policiamento, não é valorizada. As unidades operacionais que prestam
serviços à população são consideradas local de castigo para os expulsos das castas
superiores, os ociosos que ficam no quartel-general. Estes são promovidos muito mais por
apadrinhamento, apoio político ou algum talento diferenciado. Um oficial tem duas vezes mais
probabilidade de ser promovido no quartel-general, mesmo em atividades sem importância,
como relações públicas, do que arriscando a vida em uma unidade operacional. 
• Jovens recém-saídos da academia militar, onde não tiveram que se preocupar com
alimentação, vestuário e outras despesas semelhantes, sem experiência profissional, são
transformados em oficiais que podem chegar aos postos mais elevados sem nunca prestar
qualquer serviço à população. Ao começar a carreira, tentam compensar sua incompetência
com o uso da disciplina militar rigorosa, em relação a soldados mal remunerados, que estão há
mais tempo na rua, enfrentando a criminalidade.
• A incompetência dos oficiais e a excessiva valorização dos princípios militares produz
distorções gravíssimas. Para um policial militar, é mais fácil ser punido por chegar atrasado do
que por assassinar ou torturar. No regulamento disciplinar da PM “ o uso desnecessário de
violência no momento da prisão” é ofensa menor do que “criticar as ações dos superiores e as
autoridades em geral.”
• A violência policial tem raízes históricas. Criada em 1831, as primeiras forças policiais tiveram
como uma de suas principais tarefas a recaptura de escravos fugidos. A polícia recebia
pagamento para açoitar escravos, por encomenda dos proprietários. Essa foi uma época em
que o medo das “classes perigosas” assolava a Europa e contaminou o Brasil, quando a família
real portuguesa aqui se refugiou. “Classes perigosas” formavam a “população hostil e perigosa”
do Rio de Janeiro da época, com seu “espaço público dominado pelos africanos em servidão”.
Falavam do ilustre povo brasileiro.
Em 1997, todo o Brasil viu na televisão um destacamento da PM cometendo atrocidades na
Favela Naval, em Diadema, São Paulo. Poucos meses depois, as polícias militares em sete
Estados do Brasil entraram em greve, por questões salariais. Esses episódios reforçaram as
propostas de extinção da PM, ou de fusão das duas polícias. Mudanças na legislação foram
feitas, de modo que os crimes cometidos pela PM, contra civis, fossem julgados em tribunais
civis. No entanto, as propostas de desmilitarização da segurança pública não prosperaram. No
final de 1998, o relatório da Ouvidoria da Segurança Pública de São Paulo revelou a dimensão
da violência policial. Abuso de autoridade era a principal reclamação da população. Outros
relatórios mostravam o descompasso entre as denúncias contra policiais e as punições a eles
aplicadas. Soldados são punidos com muito mais freqüência do que coronéis. O dado mais
alarmante, no entanto, não estava nos relatórios. Muitos soldados da PM haviam morrido –
mais por suicídio do que mortos em ação. As explicações estavam nos baixos salários, nas
condições precárias de trabalho e no mau tratamento recebido dos oficiais. Nenhuma
providência foi tomada a respeito desse fato.Nos meses que se seguiram ao massacre de São
Vicente, a criminalidade continuou em seu ritmo norma, dentro e fora da polícia. Todas as
propostas para unificar as duas corporações e para torná-las mais eficientes continuaram
esbarrando nos impedimentos constitucionais e em obstáculos como a falta de poder da
Secretaria da Segurança e a falta de vontade dos políticos de resolver a situação e a inércia
das duas corporações.
No início de 2002, todos os autores do massacre de São Vicente foram condenados à prisão e
expulsos da PM. 

Questões para reflexão 

1 - Use o enfoque sistêmico para explicar as principais variáveis que produzem a violência na
sociedade brasileira.
2 – Use o enfoque sistêmico para explicar a violência da polícia em relação à população.
3 – Em sua opinião, quais são as desvantagens de haver duas corporações (Militar e Civil), na
mesma base geográfica, responsáveis pela segurança pública? Há alguma vantagem?
4 – Há alguma vantagem quando o exército cuida da segurança pública? Quais as
desvantagens?
5 – Você acha que seria possível haver, no Brasil, polícias municipais como há nos Estados
Unidos, com chefes eleitos pela população? O que você pensa do argumento de que “o povo
brasileiro não está preparado para isso”?
6 – Em sua opinião, é viável um sistema de segurança único, para um país tão diversificado
como o Brasil, ou seria melhor que cada Estado pudesse organizar seu próprio sistema? Nesse
caso, como se faria a integração de todos os sistemas?
7 – Qual sua sugestão para diminuir a violência no Brasil?
Respostas:

1) As principais variáveis que produzem a violência na sociedade brasileira são a falta de


oportunidade e de emprego, as diferenças sociais e nos sistemas educacionais.

2) Os principais motivos que levam a polícia usar a violência em relação a população é o


abuso de autoridade além de falta de uma boa formação acadêmica.

3) A vantagem seria a fiscalização de uma com a outra na tentativa de diminuir com a


corrupção, já as desvantagens aparecem quando a corporação não é unida, e isso
pode acabar gerando mais violência.

4) Sim há vantagens pois com a presença de uma corporação militar, isso inibe a ação
dos bandidos, trazendo mais segurança para a população. As desvantagens seriam
caso a corporação não fosse bem preparada, o que poderia gerar mais violência.

5) Acho que não seria possível, pois a população brasileira já mostrou que é bastante
influenciada elegendo sempre políticos com históricos de erros e corrupções, por isso
acredito que a população brasileira não estaria preparada para isso.

6) Em minha opinião não, pois o Brasil é um dos maiores países do mundo em território e
um dos mais diversos culturalmente para cada região, e uma padronização do sistema
de segurança acabaria piorando a situação pois seria difícil administrar, por isso seria
melhor que cada estado ou até mesmo região pudessem organizar o seu próprio
sistema.

7) Minha sugestão seria a criação de projetos sociais a fim de atingir as crianças e


jovens, principalmente de baixa renda e permitindo a eles a pratica de esportes,
educação etc. Para que então ela possa crescer longe do caminho que a violência
traz.

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