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A M A L A D O S S , Michael: da Igreja.

Entretanto, o horizonte te-


Makitig ali things new. ológico em que passeia 6 o do Reino
Mission i n Dialogue. — de Deus, da vontade salvífica univer-
A n a n d (índia): Gujarat sal de Deus. É desde esse pano de
fundo mais vasto que as questões sáo
S a h i t y a Prakash, 1990. 284
trabalhada.s. Há uma preocupação
p p . , 21,3 X 14,3 c m . (Jesuit
constante com o diálogo inter-religio-
T h e o l o g i c a l F o r u m Refle-
so, que, na semântica do A., deveria
ctions, XI/4) ser substituído pelo termo "encon-
t r o " . O conceito diálogo conota que
O livro é escrito na perspectiva alguém já tem uma verdade e vai
da missão na índia, em que o cristia- negociar. Encontro explicita a idéia
nismo é uma religião minoritária e de que se sai de si em busca do que
entra em diálogo com grandes tradi- está diante de todos.
ções religiosas, Apesar de ser, por-
tanto, u m contexto praticamente O u t r o eixo f u n d a m e n t a l desta
antípoda do nosso, o contacto com o busca de encontro inter-religioso que
l i v r o é e x t r e m a m e n t e útil e i l u - atravessa o livro é o cuidado em i n -
minador para u m leítor latino-ame- sistir no seu caráter concreto. Náo se
ricano. trata de discutir sobre religiões em
abstraio, como sistemas que se con-
Sob trís conceilos-chave: missão, frontam em busca de ver e provar
diálogo e pluralismo, o A. organiza qual é o melhor, mas do encontro de
uma .série de artigos que publicara fiéis que vivem sua fé dentro de uma
cm diferentes revistas e em diversos religião e em que a religião conserva
momentos. Não se trata, pois, de u m sua dimensão de compromisso.
l i v r o escrito dentro de u m plano
anterior, mas cujo plano nasce depois Náo se traia de uma discus.são o u
de terem-se os artigos prontos. Ape- estudo abstrato das religiões, mas de
sar dessa condição do texto, percorre u m diálogo entre fiéis. Todos estão
o livro uma unidade e harmonia em busca de escular o mistério de
m u i t o grande. Em cada tema, mal Deus ativo na história e na vida dos
grado as inevitáveis repetições em povos. O foco do diálogo inter-reli-
livro dessa natureza, o leitor vai des- gioso não são as religiões, mas o
cobrindo novidades e se enriquece. mistério de Deus que se comunica
Nunca se lé u m capitulo que seja com as pessoas. Nesse contexto, apa-
pura repetiçáo do já visto. Cada u m rece a relevância da Encamação como
traz u m aspecto novo. a expressão máxima da auto-comu-
nicação de Deus.
O A , situa-se n u m h o r i z o n t e
muito amplo. Em vários momentos O A. procura ao longo do texto
reflete sobre a atividade missionária contrapor-se às duas posições extre-
m i s t a s do e x c l u s i v i s m o e d o Nessa perspectiva aparece a nos-
pluralismo das religiões. Na primei- sa missão e contribuição ao plano
ra, qualquer v e r d a d e i r o encontro divino para a humanidade, escutan-
inter-religioso se torna inviável, já do os outros, lendo os sinais dos tem-
que só a Igreja Católica possui a ver- pos, ediíicando comunidades de fé,
dadeira revelação. A posição promovendo a liberdade e a justiça,
pluralista propugna por uma igual- dando testemunho de nossa esperan-
dade de todas as religiões como rios ça, proclamando os valores do Rei-
que confluem para u m mesmo mar. no, Nós cristãos te.stem unham os per-
ceber que a vontade salvífica univer-
N a posição pluralista, todas as sal de Deus em Cristo se faz através
religiões mundiais estariam em igual de Jesu.s, mas respeitamos o mistério
dignidade diante da ação salvífica de da livre relação de Deus com os ou-
Deus. O centro do sistema religioso tros homens e vice-versa, o
e da história salvífica e o ponto de pluralismo das manifestações da l i -
partida para o diálogo entre as reli- berdade de Deus e dos homens, como
giões seria somente Deus como mis- indivíduos, comunidades ou tradi-
tério. Em torno dele voluteariam to- ções, Esta posição não se preocupa
dos os outros astros religiosos, entre em estruturar as religiões em u m sis-
os quais Cristo. Adotar-se-ia, portan- tema único,
to, uma perspectiva teocêntriea da
história e das religiões.
Amaladoss julga que se trata de
novo paradigma interprefativo da
O A. lambem não se satisfaz com
vontade salvífica universal de Deus
D inclusivismo da posição rahneriana
ativa em todas as partes por diver-
do cristão anônimo. Tenta encontrar
sos caminhos. Este plano se realiza
uma quarta v i a , que consiste, em
progressivamente na história e cami-
última análise, n u m inclusivismo for-
nha em direção à unificação de tudo
temente fecundado pelo pluralismo.
até que Deus seja tudo em todos (1
Pluralista em relação à Igreja e à
Cor 15,28), Processo que vai da cria-
pessoa de Jesus, inclusivista em rela-
ção a escatologia final passando pelo
ção a Cristo. A inclusão se dá no nível
mistério pascal que é a livre oferta
do mistério de Deus e Cristo, cuja
de Deus e a resposta livre da huma-
universalidade é afirmada pela nos-
nidade em Jesus Cristo,
sa fé.

Perpassa todo o livro u m profun-


Tenta, portanto, superar u m do respeito e uma .séria percepção
inclusivismo estreito, ao estabelecer teológico-salvífica das tradições reli-
distinções entre o Verbo e o Espírito, giosas, Esta posição básica se funda-
Jesus e Cristo, Cristo e Igreja. Assim menta em axiomas teológicos que o
no nível histórico-fenomenoiógico A, freqüentemente retoma e
das religiões, admite manifestações aprofunda, tais como:
plurais de Deus na história através
do Verbo eterno e encarnado, do 1, A vontade salvífica de Deus é
Espírito, N o nível da experiência universal e estende-se a todos os
pessoal religiosa, percebe-se que o povos de maneiras freqüentemente
pluralismo de manifestações de E>eus desconhecidas para nós;
está e s t r u t u r a d o n u m a u n i d a d e
escatológica a ser construída e bus- 2, Todos os povos participam de
cada na história. Sua verdadeira rea- uma origem e f i n a l i d a d e de v i d a
lização pode transcender a história. comum, a saber. Deus;

{J23
3. A busca humana por Deus, ao simbólico é sempre pluralista. O
dada a natureza sodal do ser huma- Absoluto é sempre experimentado e
no, não pode ser limitada à liberda- expresso em mediações relativas, com
de secreta de cada consciência i n d i - maior ou menor pertinência (228-
vidual, mas encontra expressão so- 230).
cial e visível;
Uma preocupação central do l i -
4. Deus atrai todos os povos por vro é clarificar o conceito e a realida-
meio das religiões; de de missão. Observa o A. que até
recentemente, missão era identificada
5. Todos os fiéis das diferentes exclusivamente com a proclamação
religiões são chamados a unirem-se da Boa Nova levando à conversão em
na promoção e defesa de ideais co- regiões onde a Igreja e o cristianismo
muns de liberdade religiosa, frater- não estavam plenamente presentes,
nidade universal, educação, cultura, de tal m o d o que seu objetivo era
bem-estar social e ordem cívica (pp. estabelecer aí a Igreja (117). A ativi-
225s}. dade social, a luta pela justiça, a par-
ticipação na transformação do m u n -
Sobre esta base teológica, estabe- do serviam de estágio preparatório,
lece o encontro com as outras tradi- e a inculturaçáo não passava de meio
ções religiosas. Estas são plurais. Pois, para comunicar o evangelho de modo
apesar de o plano de Deus para a adequado aos ouvintes. Hoje se fala
humanidade ser u m e ser o mesmo de dimensões integrantes da evange-
Deus que está presente e ativo levan- lização.
do este plano a seu cumprimento, o
pluralismo, como tal, surge de várias N o fundo, estão em jogo duas
fontes. Deus só pode revelar-se em concepções de missão. N u m a primei-
determinado contexto histórico, cul- ra, pensava-se mais sociológica e
tural, lingüístico. Os seres humanos geograficamente a Igreja, de maneira
percebem e exprimem a revelação de que a missão lhe estendia as frontei-
Deus a partir de seu ponto de vista ras. A outra entendia a Igreja em
limitado pessoal, social, cultural e continuidade com a missão do Filho,
historicamente. Essa expresão, por enviado pelo Pai, presente e atuante
sua vez, necessita contínua interpre- pelo Espírito na Igreja e no m u i n d o .
tação conforme as mudanças históri- Missão e evangelização confundiam-
cas das situações. O u t r a raiz da se semanticamente.
plurahdadc das tradições religiosas
ê a própria vontade de Deus querer Ele percebe que a problemática do
comunicar-se de modos variados, diálogo inter-religioso têm questiona-
quer para mostrar sua riqueza, como do altamente o conceito de missão
para responder às condições de liber-
da Igreja católica. Disse-se que as
dade e criatividade com que Deus
missões entraram em crise, em gran-
dotou as suas criaturas. O próprio
de parte, porque lhes tiraram o fun-
fato de haver uma ordenação para
damento soteriológico. As outras re-
uma eventual unificação implica u m
ligiões são caminhos de salvação. O
pluralismo. A capacidade humana de
experimentar e exprimir a única rea- cristocenlrismo f o i relativizado. O
lidade divina é limitada, ambígua e diálogo parece opor-se ao espírito de
marcada pelo pecado. Mais. As rea- missão. E finalmente, se o missioná-
lidades reveladas são expressas de rio não vai mais levar a necessária
maneira simbólica. E a aproximação salvação, de modo que sua ausência
já não significa a condenação dos
pagãos, então para que ainda mis- plexa - náo convergem para uma l i -
sionar? bertação holística da pessoa humana
na comunidade e sociedade, ela seria
A partir do lado da experiência inadequada e aUenante. N o fundo, é
pode-se encontrar alguma luz. Assim a realização do plano de Deus de
uma vez que alguém descobre e ex- reconciliar tudo em Cristo (Ef 1,3-14)
perimenta uma boa notícia, quer logo (p.120).
partilhá-la com os outros. Além do
convite de Cristo a que se anuncie o Faz, portanto, girar a missão em
evangelho por todas as partes, está torno de três eixos; inculturaçáo, d i -
na ba.se da missão a convicção de que álogo e libertação. N o referente à l i -
tal boa nova é u m bem para a huma- bertação, ele se remete expUcitamen-
nidade. Tal bem não chegará às pes- te à teologia da libertação da Améri-
soas se não houver comunidade de ca Latina. Percebe que aí há uma
evangelizadnres que o anuncie. Ser fonte para enriquecer o conceito de
comunidade implica respeito pela missão. Em muitos momentos, fala
dignidade e individualidade de cada do papel libertador da religião e sua
pessoa, independentemente de sua missão em países de enorme injusti-
casta, credo e etnia, sentido do outro ça social, como a índia.
partilhando sem egoísmo, sentido de
pertença e participação no diálogo e A o tratar da inculturaçáo, elabo-
colaboração. Faz-se mister criar es- ra reflexões extremamente ricas e
truturas econômicas, sociais e políti- inspiradoras. In.siste na conhecida
cas que, de u m lado, emerjam desses idéia de que o evangelho não se iden-
valores e atitudes, e, d o u t r o , os tifica com nenhuma cultura, mas é
viabilizem. capaz de animar todas as culturas.
Encarna-se numa cultura dando-lhe
novo sentido e unidade, nova orien-
Procura chegar ao cerne da con-
tação e abertura, transformando-a no
cepção de missão hoje. Ela é o ato
poder do Espírito e cnnduzindo-a a
de anunciar u m Evangelho que seja uma plenitude "catõlica" da nova
boa nova libertadora, que conte.ste e criação. O evangelho encontra nova
questione uma cultura, ao criticar-lhe expressão que irradia novos aspec-
as estruturas injustas e limitantes. É- tos e recursos de sua mensagem
Ihe u m chamado ã conversão. É o libertadora, e a cultura tem um novo
momento profético de denúncia e de princípio de vida que lhe dá nova
anúncio. Supõe identificar situações identidade e a conduz ao seguimen-
de pecado, tais como, desigualdade, to universal dos dLsdpuIos de Cristo (62),
consumismo, violência, fundamenta-
lismo, etc. Ela questiona os limites e
A t r i b u i importância à comunida-
falhas da outra rehgião, cultura e sta-
de viva no proce.s.so de inculturaçáo
tus quo. U m mero diálogo de mútua
e náo a con.sidera tarefa simplesmen-
compreensão não é propriamente
te dos peritos e da liderança eclesiás-
mi.s.são. N o sentido mais amplo, a
tica,
missão abarca diálogo-encontro en-
tre religiões, inculturaçáo e liberta-
A inculturaçáo é propriamente o
ção, não como três atividades sepa-
resultado de um encontro de duas
radas, mas como uma ação mutua-
culturas, uma em que o evangelho
mente envolvente que é, ao me.smo
vem proposto e a outra a que ele é
tempo, evangelização e promoção do
proposto. Portanto toda evangeUza-
Reino. Se a incuUuração, diálogo e
ção é u m encontro de culturas. Isso
libertação - ação evangelizadora com-
implica que se descubra que:
— o evangelho vem já encarnado Tipográfica mente é pobre com alguns
numa cultura; erros de impressão. Reflete certamen-
te a condição de pobreza de seu país
— entra n u m processo de inter- de origem, Mas é imensamente rico
pretação e re-expressão numa nova no conteúdo e inspiração,
íorma cultural.
J. B. Libanio
Esta reinterpretação, re-expressão
náo se refere a afirmações sem mais,
como se o evangelho fosse um centào L A P I D E , P i n c h a s : Filho de
de frases, mas a u m complexo de José? Jesus nojudaísmo./ Tra-
atitudes, de modos de pensar, viver, dução (do francês) Eunice
agir e celebrar, de estruturas de vida Grunian; Marcos Marcioni-
comum. A inculturaçáo implica que
10, — S ã o P a u l o : L o y o l a ,
se realize u m reembasamenio das
1993.143 p p . 2 1 x 1 4 c m . C o -
atitudes e valores do evangelho em
novas formas culturais. l e ç ã o : Jesus e Jesus C r i s t o ,
1 1 . I S B N 85-15-00750-9
Muitos outros elementos impor-
tantes do livro podem ser salienta-
dos. Original pareceu-me trabalhar a Esta obra de Pinchas Lapide (P,L.)
relação do cristianismo com as ou- vem somar-se a u m conjunto de es-
tras tradições religiosas desde a cate- tudos contemporâneos que mostram
goria da ação simbólica direta e i n d i - o interesse atual dos judeus pela f i -
reta, evitando-.se assim os binômios gura de Jesus (cf. Pers/jectiva Teológi-
mais usados: parcial/pleno, implíci- ca n . 64 (1992) 382-383; Sinlese n . 21
to/explídto, anônimo/reconhecido, (1981) 101-104). E constitui, ao mes-
primeiro/final, provisório/definitivo, mo tempo, uma importante contribui-
promessa/cumprimento. Vale a pena ção ecumênica, u m exemplo notável
conferir (pp. 211-223). do que poderá e deverá ser o novo
espírito (pp. 11-12) do diálogo enire
É u m livro realmente inspirador, judeus e cristãos. O A. é uma pessoa
que traz muita novidade. Para a pro- credenciada para tanto, não só como
blemática, que o Encontro estudioso judeu e professor em d i -
Intereclesial de CEBs em Santa Ma- versas universidades, mas também
como participante assíduo em não
ria (set. 1992) e São Domingos levan-
poucos debates atuais sobre temas
taram, o A. oferece excelentes pistas
que afetam as relações judaico-cristás,
de reflexão. Defende posições corajo-
sas, mas teológica mente muito bem
fundadas, equilibradas e nas pegadas Este livro se insere, poi.s, no mo-
abertas pelo Concilio Vaticano 11. vimento que a própria imprensa de
Reflete o clima novo do diálogo inter- Israel quaUficou como a "onda Jesus",
religioso. Tenta avançar teologica- mas tem características peculiares,
mente o que significou simbolicamen- Não se trata propriamente de u m
te o fato de João Paulo 11 rezar junto estudo técnico sobre a doutrina de
com repre.sentantes de outras tradi- Jesus ou sobre o N o v o Testamento
ções religiosas no mês de outubro de (como os já conhecidos de D, Flusscr
1986 em Assis, ou de C, Vermes), P,L, nos oferece
u m livro testemunhai. Através dele
Infelizmente é u m livro de difícil chega até nós o eco de tantos judeus
acesso, já que publicado na índia por que, ao longo da história, buscaram,
editora praticamente desconhecida. dilacerada, mas apaixonadamente,

(JJT)
esse ' q u i n t o Jesus", que nSo é o dos ele: "Foi em hebraico, e muito prova-
quatro evangelistas, nem a "figura l u - velmente em Jerusalém, que nasceu
minosa, nobre e supraterrestre" d o a primitiva literatura sobre Jesus (...),
cristianismo, mas u m judeu profun- Desde entào e até o nosso século, náo
damente enraizado na tradição e na houve mais no próprio país de Israel
fé do seu povo ( p . 38). literatura judaica acerca de Jesus' (p.
13).
A intenção da obra é clara, como
aparece no título original (que, infe- Nesses escassos cinqüenta anos
lizmente, nem a tradução francesa P.L, opera u m corte transversal para
nem a brasileira conservaram). Resul- examinar duas amostras bem diferen-
ta difícil imaginar o que pode suge- tes: a primeira provém do âmbito das
rir a um eventual leitor esse enigmá- publicações literárias sobre Jesus; a
tico titulo "Filho de José?" N o origi- segunda se detém no modo como Ele
nal, porém, é evidente a alusão ã é apresentado em dez livros-texio do
polêmica judaico-crista, tal como ensino escolar em Israel. O terceiro
aparece em ]o 6,42. E.scandalizados campo de pesquisa é de natureza
com a "pretensão" de Jesus ("eu des- diferente: trata-se de u m corte longi-
ci do céu"), os judeus contra-atacam tudinal que resgata a imagem de Je-
com a "evidência" da sua conhecida sus tal como foi visto pelos rabinos
origem: "nao é este o filho de José?". desde os primeiros séculos até hoje.
Esse é o título original, A "volta a Três áreas de pesquisa que definem
Jesus" dos estudiosos judeus não é as três partes da obra, sondo que, por
exatamente a busca do "Jesus histó- razões óbvia.s, a terceira parle ocupa
rico" pela exegese cristã, O interesse mais da metade d o livro.
deles é, sem dúvida, reconduzir Je-
sus ao seu solo natal, mas, ao mesmo Várias amostras diversificadas da
tempo, é a contestação do monopó- hteralura judaica nos permitem des-
lio cristão sobre a interpretação de cobrir que o reencontro com o " i r -
Jesus, Jesus, não o Cristo. A velha m3o Jesus" eqüivale a resgatá-lo da
questão da "cristologizaçáo" de Je- história crislã para reconduzi-lo ãs
sus volta à tona. suas raízes judaicas. É a consciência
fraterna de uma comunidade de des-
N ã o menos clara é a o p ç ã o tino tão distante da busca de u m
metodológica. O A, escolheu três "Filho de Deus", como da caricatura
campos ou níveis de pesquisa desi- talmúdica do "sedutor herélico",
guais, quer pelo conteúdo, quer pelo
espaço de tempo que ocupam. Os Mas isso sup&e uma p r o f u n d a
dois primeiros se situam no período mudança de alitude com relação a
cujos limites começam com a funda- Jesus, Para poder repatriá-lo era ne-
ção do Estado de Israel, símbolo de cessário antes de tudo separá-lo da
uma liberdade de espírito impensável seita cristã, Porque essa é a outra face
sem a soberania nacional e capaz de da descoberta: a rejeição de u m cris-
destruir o velho tabu que significava tianismo que, ao longo dos séculos,
Jesus para os judeus. Eis a razão d o cometeu, em nome do Jesus, os mais
interesse por esse espaço de tempo horrendos crimes contra os judeus.
no qual " f o r a m escritos mais textos Por isso, p a r a m u i t o s deles,
hebraicos sobre Jesus que durante os Auschwitz constitui o vínculo entre
dezoito séculos precedentes" (p, 37). a cruz das igrejas e a cruz gamada:
E justifica que o A . .se concentre em "pegam a cruz pelo outro extremo e
en.saios publicados em hebraico. D i z a trasformam numa espada para nos
ferir com ela" (p. 19), faz dizer André ponto de vista de u m cristão!), assim
Schwartz-Bart a u m dos seus perso- como a abertura intelectual e emoci-
nagens no seu romance Le dernier áes onal com relação ao fenômeno cris-
justes. tão, quando teria sido m u i t o fácil
alimentar nas novas gerações, a par-
Jesus é "recuperado" como sím- tir dos traumas das história, o com-
bolo — irmão, esposo, pai — de to- plexo anti-cristão. É compreensível,
dos os judeus martirizados, para ser por isso, a reação indignada da d i -
"repatriado" n u m Israel finalmente reita ortodoxa diante dessa i n t r o d u -
independente {p. 20 s). Que contras- ção de "elementos cristãos" no ensi-
te entre a grandeza patética e trágica no judaico, que só podem facilitar a
do herói Jesus e a velha circunlocução "missão cristã" entre os judeus (p. 58
rabínica, resto da antiga polêmica me- s). O A. tem todo direito de desejar
dieval, que não ousava nomear "esse que esta atitude sirva como exemplo
h o m e m " ! A vontade decidida de re- na elaboração de uma imagem mais
cuperar Jesus não pode ocultar a autenticamente cristã do judaísmo (p.
necessidade vital de encontrar a iden- 68).
tidade nacional e religiosa. O "irmão
Jesus" é a expressão dessa comuni- A terceira parte é a mais comple-
dade histórica de destino. xa e delicada; u m corto longitudinal
em vinte séculos de uma tumultua-
Que imagem de Jesus o Estado da história, que pode ser lida como a
de Israel transmite aos jovens estu- história das tensões entre a Igreja e a
dantes? Na segunda parte são anali- Sinagoga (situação que começa, pelo
sados 10 manuais escolares {p. 44), menos, no século I I e terá que espe-
destinados aos cursos elementares e rar pelo Concilio Vaticano I I para
médios em Israel. Náo se trata pro- conhecer uma reviravolta decisiva);
priamente de ensino "rehgioso". O ou como a dolorosa " v i a sacra" da
tema "Jesus" é abordado como parte diSspora judaica que começa na cris-
da "História judaica". De maneira, tandade m e d i e v a l , esse " ú n i c o e
portanto, periférica e claramente se- mesmo c a m i n h o que c o n d u z do
parado da sua apropriação pelo cris- Gólgota até ás câmaras de gás de
tianismo. Tópicos como as origens de A u s c h w i t z " (p. 128), e que justifica a
Jesus, a sua formação, a sua mensa- afirmação de K. Jaspers: "os únicos
gem e a "fermentação messiãncia" que viveram a imitação de Jesus ao
que o levariam à morte, mostram o longo da Idade Média foram os j u -
esforço para reconduzir Jesus às suas deus" (p. 79); ou ainda como a ex-
raízes judaicas. pressão dessa dramática mistura de
questões teológicas com razões polí-
Apesar de tudo, são grandes as ticas, que "fazia da cruz o do crucifi-
diferenças (quantitativas e quaUiati- cado a arma mortal para vingar Je-
vas) entre os diferentes textos. Para sus dos deicidas" (p. 93). PoÜtica
náo expor a "objetividade científica" odienta que empurrou os rabinos da
à arbitrariedade dos professores, o Idade Média a projetarem sobre Je-
Ministério da Educação de Israel sus a imagem de sedutor, blasfemo,
publicou em 1971 u m guia básico idolatra, até reduzí-Io ã expressão-
sobre " O cristianismo p r i m i t i v o " , t a b u de "esse h o m e m " , o " i n o -
analisado com detalhes por P.L. (pp. minável". Curioso destino des.se ho-
53-66). O admirável nesse "progra- mem que, nos evangelhos, é desig-
ma" oficiai é o esforço de objetivida- nado mais de uma dúzia de vezes
de (cf. p.62: o conselho de assumir o como "Rabbi".
Será predso esperar pelo movi- deu, mas aceitar que seja "mais", que
mento iiumanista do século X V I e n ã o se esgote no j u d a í s m o . O
pelo judaísmo liberal do século XIX ecumenismo sincero de P.L. (pp. 11-
para que se começasse a colocar o 12) não lhe impede de conduir rea-
problema em outros termos: separan- listicamente: " o velho antagonismo
do as questões teológicas -relação entre o "Jesus dos judeus" e o "Cris-
cristianismo e judaísmo, o u seja a to dos cristãos" parece ter concluído
questão da cristologia 0esus-messias), uma trégua teológica, bem distante
e a questão da trindade (Jesus e o certamente dos enfrentamentos da
monotefsmo)-, das questões políticas, Idade Média, mas não menos distan-
sociais e até radais da marginaliza- te da comunhão em uma mesma fé
Ção (mas ainda estava por vir essa que o Nazareno dos evangelhos tão
unha divisória da história judaica ardentemente desejava" (p. 138).
moderna que foi a Segunda Guerra
mundial, com todas as suas conse- É impossível fechar este livro sem
qüências) e a questão de Jesus como interrogar-se sobre a evolução da
figura histórica. Esse trabalho abriu exege.se cristã nas últimas décadas, e
o caminho para o processo de "repa- mesmo séculos, na sua busca incan-
triação" que reconduziu Jesus às suas sável do que se deu em chamar "Je-
raízes judaicas: ele era u m judeu, so- sus histórico". A uma certa altura
lidário com os judeus (inseparável, Bultmann sentenciara, no seu famo-
portanto, do judaísmo); ele foi pro- so Jesus: " n á o podemos conhecer
funda e fundamenlalmenie judeu (con- nada sobre a vida de Jesus e a sua
tra a cristologia supraterrestre do personalidade". Pouco mais de qua-
cristianismo) e ele era só judeu (con- renta anos depois, D . Flusser, u m
tra a apropriação cristã e as preten- desses estudiosos judeus, abria o seu
sões universahstas da sua doutrina). l i v r o Jesus in Seibstzeugnissen
Ou seja, judeu e não cristão; homem (Hamburg, 1968) com estas palavras:
e não Deus. Assim seria pos.sfvel - "o objetivo principal do presente l i -
segimdo a esperança utópica do rabi vro é demonstrar que é possível es-
Enelow- " r e u n i r no homem Jesus crever uma vida de Jesus". E verda-
aqueles que estavam separados em de que hoje os exegetas estão longe
nome do Cnslo Je.sus" (p. 112). daquele ceticismo b u l i m a n n i a n o .
Basta pensar, por exemplo, no recém-
A Segunda Guerra m u n d i a l inau- saído Jesus dentro do judaísmo, de J.
gurou, paradoxalmente, uma nova H . Charlesivorth (Rio de Janeiro,
etapa nas relações entre judeus e cris- Imago, 1992). Mas onde desemboca
tãos: a luta contra o antisemiti.smo, a essa volta ao "Jesus histórico"? Em
constituição do Estado de Israel e o outras palavras: se Jesus não pode ser
novo ecumenismo abrem uma nova entendido fora do judaísmo, é possí-
etapa de aproximação e de diálogo. vel explicá-lo só a partir do judaís-
Depois de dois m i l anos de separa- mo? A memória crislã da vida de Je-
ção, a valorização das raízes comuns sus é mais do que a sua reconstrução
é uma promessa. Mas não a qualquer histórica.
p r e ç o . N e m p e l o c a m i n h o do
sincretismo. E predso descobrir o que
significa encontrar em Jesus um pon-
to de convergênda, o elo comum da
evolução: para o cristianismo, recu-
perar as suas raízes judaicas; para o
judaísmo reconhecer Jesus como j u - Carlos Palácio
P E S C H , O t t o H e r m a n n : To- corrente sobre u m Tomás aristotélico
más de Aquifío. hímile y gran- que sacrifica o dado teológico nas
aras do Estagirila; Tomás, como
deza de um teologia medieval.
cristão, está muito longe de a d m i t i r
I Tradução {do alemão)
sem reservas tudo o que os filósofos
Xavier M o l l ; Cláudio Gan- afirmam sobre Deus e o mundo: a
c h o . — Barcelona: H e r d e r , filosofia é que tem que submeter-se
1992. 546 p p . , 2 1 , 5 x 1 4 , 1 c m . ao veto da teologia" (99).
I S B N 84-254-1806-2
Tendo nos últimos decênios se
esgotado a tradição e s c o l á s t i c o -
O A. é u m dos maiores conhece-
tomista, Tomás se torna hoje uma
dores de Sanlo Tomás na atualidade.
figura estranha, em cujo universo não
Sua monumental tese de doutorado,
é fácil penetrar. Sua problemática,
com mais de m i l páginas, já o mos-
suas formas de expressão literária e
trava como u m teólogo promissor, conceptual e mesmo a estrutura de
capaz de, )á em seus primeiros pas- suas obras estão muito distantes de
sos, realizar com maestria um estu- nossa época, para que as pessoas se
do comparativo da teologia da justi- animem a ler Tomás. N e m se fale na
ficaçáo em Lutero e Tomás. Coisa rara dificuldade para as novas gerações
numa tese doutorai (ainda mais des- terem acesso ao l a t i m escolástico
se porte), mereceu uma segunda edi- medieval com sua conci.sào e suas
ção 18 anos depois da primeira (cf. fórmulas densas; tampouco se men-
Theologie der Rechlferligung hei Martin cione a não-confiabilidade das tradu-
Luíher und Thomas von Aqutn, Versuch ções, dilaceradas entre a fidehdade
eines s y s t e m a l i s c h - t h e o l o g i s c h e n ao original e a fluônda do vernáculo.
Dialogs, Mainz 1%7, '1985). Depois
de iniciar sua carreira já n u m ápice, Diante de tudo ís.so, uma intro-
Otto Ilermann Pesch continuou p u - dução à teologia de Tomás se faz
blicando Uvros e artigos de grande necessária, se náo quisermos perder
valor, especialmente sobre os dois sua herança inestimável. É mérito de
teólogos de sua especialidade; Lutero O i t o H e r m a n n Pesch oferecer-nos
e Tomás, Desde 1975, o A., permane- agora uma introdução inteligente e
cendo teólogo católico, é professor de atualizada. Não se propõe a fazer
Teologia Sistemática e Teologia de uma "apresentação" da obra de To-
Controvérsia iiu Faculdade de Teologia más, nem u m " r e s u m o " pretensa-
Evangélica de Hamburgo (Alemanha), mente fiel de seu pensamento, mas
através do estudo de casos particula-
A presente introdução à teologia res quer 'despertar o apetite de aven-
de Santo Tomás é fruto de u m curso turar-se a continuar lendo a T o m á s '
nessa Faculdade, o que explica tam- (20).
bém a constante referência ã teologia
evangéUca e especialmente a Lutero, O capitulo primeiro (27-51) tem
Tal introdução se fazia necessária, caráter introdutório com as pergun-
porque em geral se dá atenção ao tas: Por que Tomás? Que Tomás?
Tomás filósofo, quando ele foi p r i - ( n ã o o T o m á s p r i s i o n e i r o do
meiramente, por profissão, teólogo, tomismo, mas o Tomás verdadeiro),
e "acidentalmente" se dedicou á filo- Como se há de introduzir?
sofia como instrumento útil a sua
teologia. Aliá.s, uma das preocupa- Ê importante atendermos à per-
ções do A,, especialmente nos capí- gunta pela atualidade do teólogo
tulos inidais, é desmascarar a opinião Tomás, tal como o A. a coloca, pois é

[237J
básico para entender a metodologia 80), partindo da pergunta de Tomás
desta obrar "Que tem Tomás a dizer- sobre como se salva o " h o m e m da
nos iioje, quando compreendemos selva", introduz na visão de m u n d o
com mais exatidão o modo próprio própria da época. O capítulo quarto
do pensamento bíblico, quando de- (81-95) traça uma rápida biografia de
senvolvemos u m a compreensão d o Tomás, a partir d o que ele mesmo
caráter histórico e também da evolu- diz sobre a Vida Religiosa no contex-
ção na reflexão teológica e, além dis- to da discussão sobre os graus de
so, estamos na Igreja e no m u n d o amor a Deus. O capítulo quinto (97-
perante problemas completamente 128) apresenta as obras de Tomás,
diferentes dos que havia no tempo informando sobre as diversas catego-
de Tomás?" (30) rias de obras e esclarecendo sobre
seus gêneros literários e a época pro-
A resposta nos dá o livro como vável de sua composição.
u m todo e poderia ser resumida em
duas palavras: "porque Tomás tem Esses capítulos constituem u m
algo a dizer" (35), apesar de sua atu- "preâmbulo histórico-biográfico" que, na
alidade não ser imediata. Pelo contrá- realidade, é mais do que mera infor-
rio, só se chega a captar a atualidade mação sobre a época e a vida de
de Tomás, tomando consciência de Tomás; já é introdução a seu pensa-
sua estranheza com relação a nós. mento. Tarefa nada fácil, pois os
"Nos.sas questões e também no.ssas acontecimentos históricos e culturais
questões teológicas não são as ques- de sua época não estão, à primeira
tões de Tomás. Partir daqui é o ca- vista, no centro das preocupações do
minho mais seguro, inclusive para grande Doutor, nem se refletem es-
dar acolhida aos estímulos e para pecialmente e m sua obra.
reconhecer secretas continuidades
nos problemas que nos oferece. [...] O cerne do livro apresenta temas
Tomás é u m exemplo clássico de escolhidos pelo A . para introduzir os
como os problemas fundamentais da leitores na teologia de T o m á s . A
teologia cristã, as questões básicas da metodologia, conseqüente com o que
vida do fiel, se mantêm, mudando já f o i observado acima sobre a dis-
somente suas formas de expressão. tância e continuidade entre Tomás e
Mas reconhecer esses problemas e os tempos atuai.s, consiste em estabe-
realizar a continuidade espiritual com lecer u m duplo distanciamento. O prí'
Tomás, não se consegue sem o esfor- meiro se obtém partindo da proble-
ço prévio por introduzir-se no pen- mática teológica atual e propondo a
samento e na vida de u m m u n d o Tomás nossas perguntas atuais. Evi-
estranho" (36). dentemente Tomás só responderá em
parte a essas questões, porque não
Os ífuatro capítulos seguinies que- eram as suas. Isso nos deixará per-
rem orientar o leitor por esse m u n d o plexos e, portanto, em condições de
estranho. O capitulo segundo (53-64) captar a diferença, mas também a
delineia a personalidade de Tomás, continuidade que existe entre Tomás
marcada por seu amor ã sabedoria, e nós. Dentre os problemas de hoje,
que é "a forma terrena da salvação, o A. seleciona temas a serem estuda-
assim como a visão de Deus, sem es- dos. As questões não são, portanto,
pelho n e m enigma, é a essência e o abordadas na ordem e perspectiva
fundamento da consumação em que Tomás as desenvolve; no
escatológica, da bem-aventurança entanto, o A. procura cada vez i n d i -
eterna" (58). O capítulo terceiro (65- car o contexto da abordagem tomana.
o segundo distandamento consiste em V I I : 171-195). "Justificação do peca-
que o A. entra de viés nos temas dor: A imagem de Deus" (cap. V I I I :
seledonados, isto é, não diretamen- 197-220). "Ressurreição da carne: A
te, mas através de outros temas es- imagem do h o m e m " (cap. IX: 221-
pecíficos de T o m á s . Desta f o r m a , 245). " ' O h o m e m i m p e d i d o ' : As
revela-se melhor a estrutura e o mo- conseqüências problemáticas do ven-
vimento básico do pensamento to austral" (Excurso sobre a mulher:
246-269). "Tomás sobre o sonho e o
toma no e se aprendem de passagem
banho: O amor e as virtudes" (cap.
também outros conteúdos doutrinais
X: 271-300). " O matrimônio do para-
de sua teologia, que não emergeriam
íso: A teologia do pecado" (cap, X I :
a partir da problemática hodierna.
301-336). "Lei e graça: Teologia da
história" {cap. X I I ; 337-376), " A 'ra-
Resultam, pois, três passos em
z ã o ' da c r u z : C r i s t o l o g i a e
cada capítulo: 1) o tema escolhido,
soteriologia" {cap. XIII: 377-407). " A
proposto na forma como a problemá-
arte de Deus: Sacramento e palavra;
tica hoje se apresenta á teologia; 2) a
a Igreja" {cap. XIV: 409-453). " O ho-
volta ao enfoque de Tomás, que hoje
m e m como imagem do Deus U n o e
nos parece exótico; 3) a comparação
Trino: O plano da Sutnma Theologiae
entre os dois para possibiUtar u m
como introdução à teologia de To-
juízo sobre a distânda e a continui-
más" (cap. XV: 455-477). "Tomás e o
dade entre Tomás e nós.
estudo" (Nota final: 479-481),

O distandamento ou estranheza
que o A. considera essencial explidtar Será b o m chamar a atenção ao
para introduzir o leitor na teologia capítulo dédmo quarto que indica
de Tomás, se espelha muitas vezes como "porta e chave da teologia de
nos títulos dos capítulos. Dada a Tomás" a doutrina do Deus criador
impossibUidade de resumir, no bre- e, desta forma, encerra a tarefa que o
ve espaço de uma recensão, a com- livro se propusera de introduzir à
plexidade do conteúdo de cada capí- teologia de Tomás. Ela permite ao
tulo o elenco dos títulos será sufiden- mesmo tempo perceber a " p r o f u n d a
te para informar sobre os temas es- vi.sâo de espiritualidade que contém
tudados e .sugerir algo do enfoque a teologia tomana" (477),
dado a eles. Cada capítulo tem título
e subtítulo. O p r i m e i r o resume a Dois apêndices com informações
abordagem própria a Tomás (o "se- sobre as edições e traduções das
obras de Tomás (483-492) e u m pla-
gundo distandamento" adma men-
no de leitura para principiantes (493-
cionado), enquanto o subtítulo i n d i -
497) completam o livro que contém
ca a problemática moderna que está
ainda uma ampla bibhografia (499-
em q u e s t ã o ( " p r i m e i r o d i s t a n -
523) e índices onomá.stico (525-531) e
ciamento"). Como exemplo, o título analítico (533-546),
do capítulo décimo (cf. abaixo). Em
M l q. 38, a, 5, Tomás pergunta se é Uma obra que merece ser lida e
possível aliviar a tristeza com sono e estudada pelas novas gerações que
banhos. Esta questão, aparentemente nunca chegaram a conhecer Tomás
tão pouco teológica, permite introdu- teólogo, mas também pelas antigas
zir ao conceito tomano de virtude. que o conhecemos preferen tem ente
através do { n e o j t o m i s m o e antes
Eis, pois, os títulos e subtítulos como filósofo. O recenseador propõe
dos capítulos: " A compreensão da fé: às editoras católicas do Brasil o desa-
Fé e razão" (cap. V I : 129-169); " A pre- fio de traduzir este livro ao portu-
destinação-. A tarefa da teologia" (cap. guês, pois valeria a pena que fosse
acessível a todo estudante e profes- fundamento último e absoluto do
sor de teologia de nossas latitudes. sentido numa atitude de fé. Baseia-
se o A, em Santo Tomás que vê a
religião como u m a vinculação do
Francisco Taborda homem a uma realidade universal,
identificada com Deus pelo que crê.
É expressão da relação com o que nos
IMBACH, Josef: Breve afeta absolutamente (P. Tillich), Só se
teologia fundamental. / Tra- trata de religião quando isto que nos
dução (do alemão) M . afeta absolutamente é Deus, a saber,
tem u m caráter salvífico. A religião,
V i l l a n u e v a . — Barcelona:
diferentemente da religiosidade, tem
H e r d e r , 1992.220 p p . , 21,5 x uma dimensão sodal e comunitária.
14 c m . I S B N 84-254-1779-1
Nos segundo e terceiro capítulos,
É u m livro que se propõe ser u m o A, aborda o conceito de revelação.
breve curso fundamental da fé para De fato, toda religião termina invo-
o homem e mulher esclarecidos de cando uma revelação como sua ori-
hoje. Sensível ã experiência deste gem. Parte da experiênda humana de
homem moderno, o A . acompanha-o conhecimento de natureza intuitiva.
nos questionamentos que ele levanta Mostra que a revelação religiosa tem
ã fé, e procura numa Unguagem d i - a mesma estrutura, só que se modi-
reta, simples, clara e bem encontrada fica no referente ao conteúdo, N a re-
oferecer respostas. E u m novo tipo velação religiosa, o conteúdo se rela-
dona com o m u n d o divino, instânda
de apologética que perde o ranço da
superior ao homem, que lhe funda-
tradicional, mas náo capitula diante
menta e sustenta a vida. Exemplifica
dos desafios da problemática atual.
tal reflexão com o Antigo Testamen-
Reflete uma teologia bem atualizada.
to, com o Jesus histórico e com o
N o v o Testamento, mostrando as suas
Evidentemente o A . se restringe d i v e r s a s f o r m a s de r e v e l a ç ã o .
aos problemas que a modernidade do Aprofunda o estudo, recorrendo aos
Primeiro M u n d o levanta. Conhece ensinamentos dos Concílios Vatica-
unicamente os autores europeus, A no 1 e I I , explicando-lhes o sentido:
questão da pobreza, da injustiça so- tentam superar uma falsa intelecção
cial apenas aflora em passagens se- da relação entre o conhecimento na-
cundárias, É u m livro tipicamente da tural e revelado de Deus,
"ilustração européia". Mas como exis-
tem entre nós muitos que vivem e se
deixam questionar por tal problemá- N o capítulo q u a r t o , aborda a
tica, o livro responde a suas pergun- questão da fé. De novo, seguindo
tas, Tem a atualidade do Primeiro uma metodologia assumida desde o
M u n d o presente no Terceiro. início, começa a reflexão com anali-
ses de nossas experiências lingüísti-
Inicia procurando uma definição cas e afetivas em que estão envolvi-
de religião. Exclui como insuficiente dos os termos crer e fé para daí dar
uma descrição feita de fora, quer pelo o passo para a fé em E)eus. Em se-
filósofo, quer mesmo pelo teólogo. guida, o A, recorre à Escritura, so-
Também não toca o cerne da religião bretudo ao caso de Abraão, confron-
o fenomenólogo da religião que lhe ta-se com a posição luterana da fé
colhe a perspectiva funcionai. A pers- f i d u c i a l e com o ensinamento de
pectiva interna compreende-a como Trento para explidtar a dimensão teo-
uma relação com Deus, o Santo, o logal da fé. Articula m u i t o bem os
aspectos objetivo e subjetivo da fé, Há reflexões m u i t o bonitas sobre
mostrando como os Concílios de os fundamentos da oração, que, no
Trento e Vaticano I acentuam mais o íundo, se resumem na experiênda de
aspecto objetivo, enquanto o Conci- sua necessidade e da alegria de sua
lio Vaticano I I completa-os com refe- prática, como expressão verba! da fé.
rência explícita à dimensão subjetiva A fé é a protoforma da oração e a
da fé. oração é a forma originária da fé.
Expõe com muita pertinência as d i f i -
Em capítulo bastante matizado, o culdades teológicas, antropológicas e
A . trabalha a questão da certeza, sócio-éticas a respeito da oração de
dúvidas e crises da fé, do pluralismo petição, intentando dar-lhes uma res-
nas formulações, da identificação posta.
parcial do fiel com a Igreja. E u m
texto com bastantes distinções que se Para elucidar a questão f u n d a -
e q u i l i b r a m harmonicamente entre mental da tradição e sua interpreta-
uma ortodoxia rígida e u m laxismo ção ao longo da história, recorre ao
relativista. exemplo da cristologia, e acompanha
sua evolução desde os títulos bíbli-
O tema da verdade na Escritura é cos, passando pelos títulos helênicos
abordado de maneira clara, sugesti- e pelas definições conciliares, até a
va e iluminadora. Entretanto, não sei interpretação recente de K, Rahner,
se é problema de tradução, mas o A. Detalha em seguida as três etapas do
usa, para a solução da questão, uma processo de interpretação: compreen-
expressão que o Concilio Vaticano I I são inteledual, compreensão existen-
r e j e i t o u , a saber, " v e r d a d e s sal- d a l e apropriação.
víficas". De fato, assim estava no
esquema conciliar. Mas, por interven- Reflete em seguida sobre o pro-
ção de Paulo V I , mudou-se a expres- blema da relação entre a fé como
são para "verdade por causa de nos- ensinamento de verdade e o testemu-
sa salvação" que tem u m matiz mais nho de vida daquele que crê, N a
exato que a anterior, O A. omite tal ruptura entre os dois reside u m dos
questão que tem certa importância no escândalos do cristianismo, como já
assunto. observava Kierkegaard, E, em nosso
contexto, o documento de São Do-
mingos mais de uma vez se referiu a
Aprofundando a questão da fé, o esta ruptura escandalosa entre fé e
A, explicita a dialética de a fé ser, ao vida, de modo que existem estrutu-
me.smo tempo, individual - ninguém ras sodais tão injustas n u m continen-
crê por outro -, e comunitária - o fiel te que se diz na sua maioria cristão.
crê no seio de uma comunidade e crê Só através do testemunho se conse-
com a fé da comunidade, A comuni- gue transmitir uma experiência de fé
dade é o lugar da fé. Esta fé pede a uma outra pessoa a ponto de ela
inteligência de si, já que o ser que crê querer expermimentá-la, O testemu-
é inteligente. Daí a necessidade e nho só se faz possível se a testemu-
função da teologia com a liberdade nha se compromete vitalmente com
acadêmica necessária, ainda que sem- a realidade que anuncia, superando
pre dentro dos limites da fé da Igre- a dimensão estritamente jurídica do
ja. C o m m u i t a clareza, precisão e testemunho, E o testemunho se v i n -
desenvoltura, trata da função do cula, no caso do cristão, ao segulmen-
magistério ordinário e extraordinário to de Jesus.
na Igreja,e de sua relação com a teo-
logia. Ajuda o leitor com pequenos
quadros sinóticos bem didáticos. O A. termina o livro com u m es-
tudo sobre a relação entre fé cristã e
salvação, explicitando o caráter uni- questões que pessoas letradas levan-
versal da salvação desde sua base tam a respeito da revelação e fé cris-
escriturística. Discute com clareza a tã, Não tem pretensões de grandes
tensão entre a necessidade da (É ex- novidades. É uma exposição bem tra-
plícita em Cristo, da Igreja para a vada com muitas referências literári-
salvação e o seu caráter universal, as que tornam o livro mais leve e
que atinge também quem não teve interessante. Lê-se com gosto e pro-
acesso a Cristo nem à Igreja. Para tal veito.
recorre ao conceito de religiosidade
como uma relação positiva a u m f u n - J. B. Libanio
damento último e definitivo do sen-
t i d o das coisas que tudo abarca e B I N G E M E R , M a r i a Clara: O
determina. Tal relação é o elemento
segiedo feminino da Mistério.
constitutivo de toda religião e é pos-
Ensaios de t e o l o g i a na óHca
sível também dentro da realização
vital de toda pessoa. Assim, mesmo da m u l h e r . — Petrópolis:
não conhecendo a Deus, quando o V o z e s , 1991. 179 p p . , 21 x
ser humano procura conformar sua 13,6 c m , I S B N 85-326-0645-8
vida a partir de uma confiança últi-
ma e fundamental diante da realida- A A. é conhecida como represen-
de, pode-se falar, em sentido teológi- tante da corrente teológica que con-
co, de uma atitude religiosa. Explicita juga a tradição latino-americana da
tal idéia com uma belíssima passa- libertação com a perspectiva da m u -
gem de A Peste, de A. Camus, em lher. Neste volume, ela reúne uma
que o médico ateu Rieux e o padre série de trabalhos, em grande parte
jesuíta Paneloux unem-se numa mes- já publicados em diversas revistas
ma luta pelo ser humano na grave geralmente indicadas na p r i m e i r a
situação de peste, ainda que as moti- nota de rodapé de cada u m deles, N o
vações se formulem em termos dife- conjunto, há uma unidade de senti-
rentes. U m chama-a de Deus. O ou- do que o título sugere de forma po-
tro de amor à humanidade. U m res- ética: o Mistério de Deus tem u m
"segredo" que está sendo desvenda-
ponde explicitamente à voz de Deus,
do às mulheres que dele se aproxi-
o outro à de sua consciência (eco da
mam como teólogas, sem perder sua
voz de Deus). Mas no fundo, há em
identidade própria de mulheres,
ambos uma dimensão de profunda
religiosidade e uma mesma estrutu-
ra no alo de confiança na vida, O A . A obra está d i v i d i d a em quatro
retoma aqui a clássica posição do partes, cujos títulos jogam com as
cristão anônimo de K. Rahner desde palavras "segredo" e "Mistério", Para
sua perspectiva do existencial sobre- a racionalidade masculina, eles po-
natural. E neste contexto mo.stra a deriam ser decifrados como a emer-
função purificadora da fé em relação gência da mulher na Igreja e na so-
ciedade ( p r i m e i r a p a r t e ) , a me-
ã religião, em contraposição ã opi-
todologia própria à teologia da liber-
nião daqueles que simplesmente des-
tação feita na ótica da mulher (segun-
classificam a reUgião com suas críti-
da parte), exemplos do exercício des-
cas.
sa teologia (terceira parte) e da espi-
ritualidade correspondente (quarta
parte). O livro se torna, pois, como
Dentro dos limites de uma refle-
que u m ensaio de epislemologia teo-
xão tipicamente européia, o l i v r o lógica latino-americana na perspecti-
merece ser lido com proveito. Escla- va da mulher.
rece com clareza lúcida uma série de

Q42)
No conjunto da obra, a primeira mas seria pena deixá-lo passar, pois
parle constitui uma espÉcie de " v e r " exemplifica como o excesso de zelo
a realidade da emergência da mulher p o r u m a causa pode v i r antes a
como sujeito histórico na Igreja e na prejudicá-la que a favorecê-la.
sociedade. O artigo n " 1 (15-30) abor-
da a questão da m u l h e r na Igreja A segunda parte propõe, em dois
como portadora de esperança em artigos de desigual valor, uma carac-
meio ao "mal-estar cristão" (Carlos terização da teologia repre.sentada
Palácio). O artigo n* 2 (31-46) é mais pela A. De acordo com o primeiro
amplo, não só por tratar também da (artigo n " 3, 49-74), a teologia da l i -
mulher na sociedade, mas por estar bertação na ótica da mulher é uma
ele mesmo estruturado em ver-julgar- teologia que se realiza como u m "pro-
agir, este último momento numa for- jeto coletivo, comunitário" (54), resul-
ma mais descritiva que propositiva. ta do desejo e pensa os grandes te-
A referência à Campanha da Frater-
mas perenes da fé na perspectiva da
nidade sobre a mulher e a estrutura
mulher. A A . exemplifica com a leitu-
geral do texto levam a pensar que se
ra bíblica, a mariologia, a Trindade e
trata de uma contribuição da A. ao
a eucaristia. U m texto que vale a pena
texto-base da CF-90. É u m texto pas-
toral, simples, oferecendo uma boa ser lido.
visão de conjunto sobre a temática.
Entretanto, é preciso criticar a inexa- O seguinte artigo (75-85) apresen-
tidão ao tratar de Maria. A A. escre- ta por outro caminho uma caracteri-
ve: "Entre as mulheres que seguem e zação da teologia latino-americana na
servem Jesus, os Evangelhos nos men- perspectiva da mulher. Ela se distin-
cionam muitas vezes Maria, sua mãe" gue da teologia feminista do Primei-
(42, grifo do recenseador). E a nota ro M u n d o , agressiva e excludente,
19 remete a essas "muitas vezes": "Lc preferindo não ser chamada de "fe-
8,1-3; Jo 19,25 etc". Só o enigmático minista" nem sequer de " f e m i n i n a " ;
"etc." poderia justificar a afirmação é uma teologia a partir da mulher
do texto, pois Lc 8 menciona mulhe- pobre e procura desenvolver a forma
res que seguem e servem a Jesus, mas própria da mulher de "sentír" e ex-
entre elas não está sua mãe; Jo 19
perimentar a Deus, tratando de ser
menciona Maria, mas nada indica
uma teologia feita "no feminino p l u -
sobre seu seguimento (ao contrário
ral", ou seja: uma teologia feita em
do texto correspondente em M c
mutirão pelas mulheres. Salvo me-
15,40s, que fala de mulheres que
a c o m p a n h a v a m Jesus desde a lhor juízo, o recenseador julga esse
Galiléia, mas justamente não se refe- tipo de afirmações, também comum
re a sua mãe). Quando a A. adiante em outras teologias latino-america-
afirma que Maria "não hesita em sair nas, como uma idealização que ex-
de sua casa, em seguir e participar pressa a boa vontade dos teólogos de
do movimento de seu Filho, colocan- aproximarem-se do povo.
do-se até mesmo em contradição com
ele" (42), ultrapassa novamente o que O quinto artigo do conjunto (86-
os textos bíblicos permitem afirmar, 96) é a conhecida reflexão da A. so-
até porque a referência que mencio- bre Maria, como aquela que "soube
na na nota 20 (Mc 3,31-35), é antes dizer ' n ã o ' " . Em seu núcleo mais
uma cruz para a interpretação dos original, já fora substancialmente re-
mariólogos, do que u m título de gló-
produzido como chave-de-ouro do
ria para M a r i a . Essas observações
livro escrito pela A. juntamente com
criticas tocam u m pormenor de pou-
Ivone Gebara: Mãe de Deus e mãe das
ca importância no conjunto do livro.
pobres, Petrópolis: Vozes, 1987, 191-

[243^
196 (cf. recensão: PT 20 [1988] 243- unidade lógica com os demais. U m
246). N a opinião do recenseador, este dos estigmas de obras do gênero são
artigo caberia melhor na terceira par- as repetições. Conceda-se que são ine-
te, onde a A. procura exemplificar a vitáveis, mas reconheça-se também
abordagem dos temas tradicionais da que a A. exagerou: as pp. 126-129
teologia numa perspectiva nova, des- repetem literalmente e quase integral-
de a mulher. mente as p p . 104-107 e 108-109; a
mesma estória é contada duas vezes
Os seguintes dois artigos, que na nota 36 da p. 72 e na nota 10 da
constituem a II! parle, discorrem so- p . 153; lembre-se ainda a transcrição,
bre dois temas fundamentais: Cristo acima indicada, de u m artigo já apro-
e a Trindade. N o artigo de cristologia veitado em outra obra. Nada mais
(99-112), que parece bastante inspi- natural que u m autor reutilize tre-
rado na teóloga feminista norte-ame- chos inteiros de u m trabalho em o u -
ricana Roscmary Radford Ruether, a tro, ainda mais atualmente com a
A. defende que a cristologia é a facilidade que oferece o computador,
"kénosis do pat ri arcai ismo" (111). O mas o recenseador julga que se abu-
artigo sobre a Trindade (113-137) sa, quando n u m mesmo livro ocor-
conta, sem dúvida, entre o que a A. rem repetições literais de páginas
produziu de melhor. inteiras. O leitor tem o direito de
exigir que o A. ou a A. .se dê ao tra-
A quarta parte traz duas medita- balho de u m mínimo de adaptação
ções sobre a espiritualidade da e dos artigos originais. Uma melhor
desde a m u l h e r . A m b a s f o r a m revisão de pormenores também teria
publicadas anteriormente. A primei- impedido, p. ex., que a mesma crôni-
ra (141-155) em Vida Pastoral 31 ca de T. Cavalcanti aparecesse na p .
(1990/n= 150) 10-17, como o leitor 141, nota 2, como a ser publicada,
infere da nota 13, p. 161; a segunda quando na nota 18 da p. 81 já cons-
(156-179), sobre a mulher na evange- tava sua publicação.
lização, em PT 22 (1990) 289-309,
embora não seja indicado. Nesta úl- • À p . 133 é citado o X I Concilio de
tima reflexão, uma belíssima e Toledo. Não é indicada a fonte (ali-
in.spiradora meditação bíblico-espiri- ás, de fácil acesso: DS 526/Dz 276) e
tual, a A. f o i muito feliz, tanto na o leitor não sabe o que poderá signi-
abordagem do tema (estrutura do ficar o número 65 entre parênteses.
artigo) como na escolha dos textos Será um erro de digitação para a data
bíblicos que lhe servem de base para do Concilio, iniciado no ano de 6757
a reflexão.
Deixando de lado essas quinqui-
A presente obra tem a grandeza lharias, vale a pena ressaltar a lese
e a miséria de todas as coletâneas de geral da A. A mulher vem hoje "tra-
artigos: a grandeza, porque, selecio- zer e propor, para dentro da Igreja,
nando os artigos que a própria A. uma nova maneira de ser, mais inte-
considera mais significativos em sua grada e integradora, resgatando o p r i -
produção teológica, possibilita que o mado do afetivo, banido e relegado
leitor perceba a coerência de seu pen- a segundo plano até bem recentemen-
samento; a miséria, porque nesse tipo te, em nome de uma mal-compreen-
de obras os capítulos dificilmente se dida racionalidade" (16), "temperar
enquadram bem na composição ge- a luta com a festa, a força com a ter-
ral, já que não foram escritos origi- nura, o rigor com o desejo" (51). Con-
nalmente para constituírem u m a seqüentemente, a teologia feita por
ela "traz de volta para a Igreja o p r i - cristã. É uma dessas "evidêndas" que
mado do afetivo, do simbólico e do envolvem tudo e que ninguém dis-
poético como estilos e gêneros literá- cute. A tal ponto ela constitui algo
rios privilegiados para dizer o misté- central. Parafraseando o "caro cardo
rio de Deus, que é amor" (45). Esta salutis" de Orígenes, poderíamos d i -
teologia "não coloca a racionalidade zer que "a salvação é o cerne da re-
como única mediadora, mas [...] bro- velação" ("salus cardo revelationis").
ta do coração e das entranhas, res- Apesar de tudo, é inegável que a
taurando o espiritual, o poético, o soteriologia não encontrou ainda o
sapiencial e o simbólico como gêne- seu devido lugar na teologia contem-
ros literários privilegiados para ex- porânea. O que não deixa de ser pa-
p r i m i r seu pensar e sentir" {8]). Ela radoxal, tratando-se de algo tão es-
p r o p õ e assim " u m a n o v a slste- sencial, e cria inevitavelmente u m
maticidade que brota do impulso do mal-estar, tanto do ponto de vista
desejo que habita o mais profundo teológico como pastoral.
do ser humano e que inclui e mistu-
ra sensibilidade e r a c i o n a l i d a d e , São muitas as explicações que se
gratuidade e eficácia, experiência e podem encontrar para esse fato. D o
reflexão, desejo e rigor" (26s). ponto de vista teológico é evidente
que as transformações pelas quais
Sem dúvida, todo u m programa passou a cristologia moderna com
teológico que vale a pena sublinhar. relação à cristologia clássica não po-
N a opinião do recenseador, no en- diam deixar de ter o seu reflexo na
tanto, antes u m "desejo" do que uma s o t e r i o l o g i a . A f i n a l , o que é a
mela já alcançada, seja pela A., seja soteriologia senão a reflexão sobre o
por qualquer outra teóloga. Indepen- aspecto salvífica do acontecido em
d e n t e da d i s c u s s ã o sobre a Jesus Cristo? Mas isso não significa
factibilidade da proposta, a teologia que a sistematizaçào e o estatuto te-
na ótica da mulher já tem seu mérito ológico da soteriologia tradicional
pela denúncia do sexismo, por levan- sejam evidentes: nem na linguagem
tar a suspeita ideológica de patriar- utilizada nem nos esquemas ou mo-
calismo e sexismo, pelo convite a delos interpreta ti vos.
abordar novos temas e repensar an-
tigos de forma nova. A todos, m u - Essa é uma das razões do m a l -
lheres e homens, resta o desafio de estar atual. A outra é de natureza
renovarmos a teologia dentro desses pastoral, e diz respeito ao contexto
parâmetros. no qual tem que ser proclamado o
anúndo cristão, a boa nova da salva-
Francisco Taborda ção: a mentalidade dos destinatários
do anúncio. O que também não é
W E R B I C K , J ü r g e n : evidente: nem cultural, nem sodal,
nem reügiosamenfe. E, portanto, exis-
Soteriologia / Tradução (do
tendalmente. De que salvação se tra-
alemão) Cláudio Gancho. —
ta? E o que evoca e.s.se anúncio nas
Barcelona: H e r d e r , 1992. 360 pessoas? O mínimo que se pode d i -
p p . , 19,5 X 12,5 c m . C o l e ç ã o : zer é que o anúncio cristão da salva-
b i b l i o t e c a de t e o l o g i a , 17. ção não pode mais pressupor uma
I S B N 84-254-1780-5 experiência imediata, unívoca e evi-
dente. O que constitui outra fonte de
A salvação é o pressuposto e o desafios para a reflexão teológica
ponto de partida de toda experiênda sobre a salvação hoje.
Tudo isso explica a proliferação vontade de Deus para a história h u -
de estudos sobre este tema. E a i n - mana. Para a redução racionalista do
clusão desta problemática na coleção cristianismo na filosofia moderna, a
'Biblioteca de teologia" da Herder, vontade de Deus só pode aparecer
que se apresenta como u m panorama como arbitrária, como algo que anu-
aluai do pensamento cristão, abordan- la a liberdade humana e provoca a
do monograficamente os diversos auto-afirmação do homem. For isso,
temas da teologia. É a esse conjunto J.W. se detém no anúncio que Jesus
que p e r t e n c e a o b r a de J ü r g e n faz do Reino de Deus, e do que sig-
Werbici; (].W.) aqui apresentada. De nifica a irrupção dessa soberania nos
alguma forma, o A . retoma os dois gestos p o d e r o s o s e nas a ç õ e s
âmbitos acima mencionados: começa s a l v í f i c a s de Jesus: e x p e r i ê n c i a
situando a crise da soteriologia no con- libertadora de u m Deus-Pai, huma-
texto do m u n d o moderno (cap. 1), e no e muito próximo. Nesse sentido a
trata de responder aos desafios que morte de Jesus é con.seqüência da
dele nos vêm desenvolvendo uma realização presente do Reino nele e
reflexão que deve mostrar o bem- através dele. Mas que significa o " r e i -
fundado da sua referencia ao aconteci- nado de u m crucificado"? Que sobe-
do em Jesus Cristo (cap. 2 e 3), para rania de Deus é essa no meio de u m
retomar depois de maneira crítica os mundo dominado por outros pode-
modelos interpretaiivos e a linguagem da res reais? Que relação existe entre
tradição {cap. 4, 5 e 6). essa antedpaçào da salvação e uma
plenitude que ainda não chegou?
Para J.W., a Ilustração do século
X V I I I e a crítica da religião do século Os outros três capítulos da obra
XIX abalaram os fundamentos de a n a l i s a r ã o a l g u n s dos m o d e l o s
todo discurso cristão sobre a reden- interpretativos que a tradição desen-
ção. Esse seria o contexto da crise volveu para explicar a relação entre
atual da soteriologia. N o fundo, a ra- a irrupção do redentor e o futuro da
cionalização da revelação e do que ela salvação, ou entre a presença do rei-
nos diz sobre a vontade salvífica de nado de Deus em Cristo e as relações
Deus, e o questionamento do pressu- de poder nete mundo. N o capítulo
posto de toda soteriologia, ou seja, a quarto é examinado o campo meta-
necessidade da redenção por parte do fórico da "vitória sobre os poderes"
liomem. E esses serão, portanto, os e a existenda cristã como luta e l i -
interlocutores prioritários de J.W.: berdade. O capítulo quinto se detém
Lessing, K a n t , H e g e l , S c h e l l i n g , no modelo da "relação redentora e
Schopenhauer, Nietzsche. Sobretudo da participação o u do intercâmbio"
no capítulo primeiro. A o longo do {"communio naturae", proximidade
livro aparecerão também a psicolo- transformante e pertença a Deus), O
gia e a preocupação com a " N e w capítulo sexto examina, para termi-
Age". nar, o campo metafórico da "expia-
çâo".
N o segundo e terceiro capítulos
o A, apresenta a vida de Jesus como As características da coleção ã que
expressão do acontecimento da sobe- pertence este l i v r o podem explicar
rania de Deus, do reinado de Deus u m pouco a insatisfação que ele pro-
em ação. E a morte e ressurreição de duz. Não é fácil unir o conteúdo tra-
Jesus como realização da vontade didonal, as novas perspectivas que
divina. A preocupação é responder à abrem a teologia e a exegese moder-
visão deturpada do desígnio e da nas e o diálogo com o m u n d o mo-

[746)
derno. Tudo de maneira introdutória, m a r c o u de m a n e i r a i n d e l é v e l a
sem renunciar, porém, ã informação soteriologia tradicional e está presen-
necessária e a uma linguagem acessí- te ainda hoje de muitas maneiras na
vel. O risco é deixar de lado coisas experiência cristã.
fundamentais, tanto no que se refere
ao contexto atual como no que diz Não se explicariam, do contrário,
respeito ã teologia propriamente dita. os esforços feitos pela teologia atual
para superar tais impasses. As várias
Não parece que o primeiro e fun- cristologias contemporâneas ofere-
damental problema que nos coloca a cem elementos i m p o r t a n t e s nesse
teologia da redenção sejam os obstá- sentido. Primeiro, porque recuperam
culos que a fé encontrou a partir da a morte de Jesus como acontecimen-
Ilustração no m u n d o moderno. A n - to histórico. Antes de ser uma cate-
tes haveria que perguntar-se por que goria teológica, a morte de Jesus é
caminhos se chegou a essa visão de- u m acontecimento que tem cau.sas
turpada do cri.stianismo e da reden- históricas e que exige ser interpreta-
ção. Antes de pensar o problema a do, em primeiro lugar, à luz de toda
partir do homem moderno, é preciso a vida de Jesus. E dela que deverá
saber se o nosso anlincio correspon- v i r o sentido mais profundo que Je-
de à experiência fundante e à tradu- sus lhe deu. O que .significa u m gol-
ção que dela nos dá o Novo Testa- pe mortal para a divisão tradicional
mento. A crise da soteriologia não co- entre cristologia e soteriologia. E além
meça com a Ilustração. Basta conhe- disso a impossibiüdade de conside-
cer u m pouco a história deste pro- rar a cruz sem o crucificado real, fa-
blema para reconhecer a distância zendo dela uma categoria e u m sím-
que se foi criando entre a experiên- bolo passível de .ser manipulado em
cia e linguagens originárias e as todos o sentidos.
sitematizaçftes ulteriores da tradição,
sobretudo a partir do século X I . O Mas a contribuição da cristologia
problema não é só de linguagem, mas contemporânea não deu ainda todos
a linguagem não é, certamente, ino- os resultados que se poderiam espe-
cente. rar para uma renovação da teologia
da redenção numa perspectiva teoló-
E aqui aparece outra dificuldade. gica mais abrangente, que situe a sal-
Nos três modelos ou campos meta- vação do homem e da história como
fóricos escolhidos, teria sido neces- o gesto mais originário do d o m de
sária uma análise prévia dos mesmos, Deus na criação e, inseparável, por-
para evitar o curtocircuito de uma tanto, da respon.sabilidade humana
linguagem que cria dificuldades ao pela história através da qual atinge a
homem de hoje, talvez porque detur- sua plenitude, Apesar das objeções
pa e obscurece o que é a intenção do que possam levantar, é preciso reco-
N T . Sem uma crítica séria da lingua- nhecer o mérito inegável que têm,
gem da tradição (e sem levar em como reinlerprelações globais da re-
conta, portanto, a mudança de hori- denção, as duas tentativas mais o u -
zontes, de visão do mundo, etc.) é sadas nesse sentido da teologia con-
impossível "traduzir" essa Unguagem temporânea: a lotalizanle teologia da
para hoje. Não só idéias como sacri- "reconciUação" de K. Barth e a mo-
fício, expiação, substituição viçaria, n u m e n t a l " t e o d r a m á t i c a " de H .
etc, mas a própria concentração da U,von Balthasar, De qualquer forma,
salvação na morte de Jesus, são indí- o que está em jogo nessas tentativas,
cios de uma visão unilateral que e o que desafia hoje uma teologia res-

[247]
ponsável da redenção, é a necessida- dos diversos níveis da vida humana,
de de resgatar o que há de mais sim- o A. faz uma resenha dos aspectos
ples e revolucionário na mensagem mais significativos e das personali-
originária do cristianismo: a paixão dades mais originais que contribuf-
com a qual Deus se volta e se "der- r a m à configuração da fisionomia
rama" sobre o homem, desde a ori- edesial e teológica desse período,
gem, e de maneira irreversível. levando em consideração a diversi-
dade de culturas e as diferenciações
Carlos Palácio das consciêndas humanas. Ademais,
mantém o enfoque ecumênico, apre-
sentando o amplo e articulado leque
V I L A N O V A , Evangelista: das teologias cristãs de expressão
Histoi-ia de Ia teologia cristiana, confessional diversa, uma vez que o
I I I (siglos X V I I I , X I X y X X ) . desconhecimento do pluralismo de
/ T r a d u ç ã o (do catalão) Joan expressões poderia significar o des-
L l o p i s . — Barcelona: H e r - conhecimento da grandeza de Deus
der, 1992. 1060 p p . , 21,6 x e dos caminhos que permitem balbu-
dar alguns aspedos de seu mistério.
14,1 c m . C o l e ç ã o : Biblioteca
H e r d e r , 182. I S B N 84-254-
Para compreender a importância
1757-0 das mudanças de mentalidade que se
produziram e repercutiram na teolo-
Finalizando sua descrição e aná- gia cristã, o A. recorre à colaboração
lise da história da teologia cristã. do franciscano Josep Hereu i Bohigas,
Evangelista V i l a n o v a , m o n g e de u m especialista no pensamento filo-
Montserrat e professor da Faculdade sófico moderno. Tal colaborador evi-
de Teologia da Catalunha, oferece aos dencia a impUcação profunda da re-
leitores de nível universitário, o ter- flexão filosófica com o pensamento
ceiro e último volume de sua obra teológico dos últimos séculos (capí-
(cf. recensão do v o l . I : Perspectiva tulos 1 e 2 da primeira parte; 1-4 da
Teológica 21 (1989) 398-401; e do v o l . segunda parte; 1-4 e 6 da terceira
11: Perspecüva Teológica 22 (1990) parte).
396-398).
Segundo o A., a etapa histórica
Neste terceiro volume o A. apre- que, em seu desenvolvimento cultu-
senta uma síntese histórica da evolu- ral e literário, considera este volume,
ção do pensamento teológico cristão poderia ser caraderizada como rei-
nos séculos X V I I I , XIX e XX, eviden- nado da razão; no entanto, não deixa
ciando a pluralidade teológica na tra- de ressalvar que esta aventura não
jetória da "intellectus fidei". A inter- começa nem ocorre sincro nica mente
rogação sobre a desproporção entre em todos os países. Para ele, o pen-
os volumes -o primeiro abarca quin- samento m o d e r n o representa, ao
ze séculos, ao passo que o terceiro mesmo tempo, ruptura e continuida-
apenas três-, o A . justifica-se com a de com as épocas precedentes: r u p -
afirmação de que quanto mais nos tura, porque a cosmovisão dos medi-
aproximamos do tempo atual, sabe- evais e antigos é diferente da do
mos melhor daquilo que falamos. homem moderno; continuidade, pois
os temas suscitados pelo h o m e m
Concebendo a teologia como
moderno são fundamentalmente os
compreensão e vivência da palavra
mesmos que o homem sempre esta-
de Deus que atua no m u n d o , e a
beleceu, embora com óticas diversas.
história como conhecimento global
N a primeira parle (39-122) focali- não participaram ativamente nessa
za-se os inícios da era da razáo (sé- tergiversação da época moderna; sua
culo XVII), Para o A. cristianismo e atitude defensiva assinalou u m atra-
cullura ilusirada não somente coexis- so histórico.
tem, como também, em alguns repre-
sentantes (Leibniz, Muratori), chegam A anemia teológica propiciou a
a uma simbiose. Esta pré-ilusiração representação de u m Deus que esta-
caracteriza-se pela busca de uma belece eternamente as leis cons-
nova ciènda, de uma nova filosofia e titutivas da ordem do m u n d o , que
de uma nova crítica (maurinos e governa com imperturbável p r o v i -
boi an distas). dènda, ante o qual a docilidade mais
ou menos passiva dos seres huma-
A Uustraçáo e sua problemática nos garante a estabilidade social e a
teológica é o assunto da segunda autoridade. Tal lefsmo, que foi a ideo-
parte (123-344). O processo da ilus- logia da burguesia do século XIX,
tração, de inspiração ocidental e deixou marcas na espiritualidade,
eurocêntrica, caracterizado pela de- que chegou a suspeitar da bondade
sagregação das imagens religiosa e do m u n d o . Esse teísmo escolástico,
metafísica do m u n d o t r a d i c i o n a l , que foi u m caminho rápido em dire-
determinou constantemente a época ção ao aleismo, favoreceu uma ideo-
moderna. N o ocidente a modernida- logia desprovida de sensibilidade
de levou a cabo a secularizaçào das pelo drama da humanidade e perdeu
insllluições, do pensamento e da toda referência ao messianismo evan-
vida. Mas isto não .significou o aban- gélico. A pregação da resignação
dono do sentido do sagrado e da obstaculizou o discernimento e a
religião. Pelo contrário, assumiu-o denúnda do pecado de um m u n d o
nos novos modelos de racionalidade. que desintegrava os direitos sodais
O sagrado e o rehgioso passaram da da pessoa.
Igreja h sociedade, da fé à razão. A
noção de autonomia da razáo, em A trajetória teológica cristã do
contraposição à de "ancílla", é uma Vaticano 1 ao Vaticano 11 é o tema da
das chaves para se entender o núcleo quarta parle, por sinal, a mais exten-
do pensamento moderno; a outra sa do livro (565-943). A teologia leve
chave é a a u t o s u f i c í ê n c í a da que debater-se com as contestações
imanôncia. Em muitas de suas expo- de sua inocência histórica e sodal; tais
sições a filosofia moderna é uma te- contestações foram provocadas pelo
ologia crislã secularizada. historiasmo e pelas versões burgue-
sa e marxista da crítica da ideologia.
Na terceira parte a trajetória teo- A problemática hislórica e sodal pe-
lógica crislã segue o percurso do ro- netrou alé o seu centro e exigiu uma
mantismo à restauração (345-563). análise rigorosa e comprometida.
Uma conseqüência da força radona-
lisla na teologia íoi a redução dos Enquanto a teologia católica em
elementos simbóUco e sentimental, geral foi reticente em relação à filo-
dado este que explica a reação do sofia moderna, a teologia protestante
r o m a n t i s m o . Ilustração e r o m a n - teve uma atitude mais dialogai. Isto
lícismo sublinham a afirmação da se deveu, entre outros motivos, pelo
razão e do sentimento como únicas fato de ter surgido de seu seio. A
formas de estabelecimento da verda- filosofia moderna tem uma de suas
de. A história deste período mostra origens remotas na secularizaçào de
como a Igreja Católica e sua teologia um princípio da fé luterana: a certe-

(24?)
za do sujeito referente à salvação, ' É entre as diversas civilizações, e i n -
esta alitude dialogante que a teolo- clusive entre as diversas religiões. A
gia católica deveria adotar, enfrenta- teologia, como intellectus fidei, pôs-
do os desafios que a modernidade lhe se a ouvir além das fronteiras medi-
coloca" (p. 34). terrâneas. N a eclosão das Igrejas
pobres a teologia procura compreen-
O i m p a d o da modernidade na der a graça de Deus como libertação
teologia supõe a influencia, tácita ou total do homem.
confes.sa, de u m determinado pensa-
mento filosófico, A teologia orientou- N a presente obra o A, mantém as
se mais pela "essênda antropológi- mesmas características de estilo apre-
c a " d o que pela " e s s ê n c i a d o g - sentadas nos dois volumes anterio-
mática", U m indído desla mudança res: clareza, objetividade e caráter
encontra-se no fato do Vaticano 11 ter didático. Deve-se também ressaltar a
se absiido de proclamar definições riqueza das notas e indicações biblio-
dogmáticas. gráficas, que remetem o leitor aos
textos originais e aos comentaristas e
O A, termina sua obra com u m especialistas, N o mais, resta íelidtar
balanço e perspectivas da teologia o A . por ter completado sua obra com
católica nos primeiros vinte anos do esle terceiro v o l u m e , p e r m i t i n d o ,
pós-concílio (945-1011), Como fato desta maneira, que os leitores pos-
edesial e como data para conduir sua sam desfrutar de uma visão panorâ-
história da teologia cristã, escolheu o mica de como se fez teologia ao lon-
Stnodo Extraordinário dos Bispos, do go da história da Igreja.
ano de 1985, Para ele o tema religio-
so c o n v e r t e u - s e em o p i n á v e l e Danilo Mondoni.
efêmero, justamente nu momento em
que a ignorância reli^osa estendia- B I N G E M E R , M a r i a Clara L . :
se de maneira notória, A causa e o AUeridade e vulnerabilidade.
efeito do fenômeno foi a desobjcti- E x p e r i ê n c i a de D e u s e
vaçào dos conteúdos religiosos tra- pluralismo religioso no m o -
dicionais, carentes de evidênda cole- d e r n o e m crise, — S à o P a u -
tiva. A teologia entrou numa situa-
lo: L o y o l a , 1993.103 p p . , 20,8
ção de minoria cognosdtiva, ao pon-
lo do conhedmenio teoló^co ter-se X 14 c m . ( C o l e ç ã o : c r i s t i a n i s -
tomado esotérico. Diante deste fato, m o e m o d e r n i d a d e , 6). ISBN
três posturas se enuclearam: 1) resis- 85-15-00772.X
tência, com a intenção de proclamar
e defender velhas objetividades n u m A modernidade e a pós-modernj-
mundo que as rechaça; 2) rendição dade estão em foco. Seu confronto
("suiddio institudonal"); 3) caminhos com a religião, de modo espedal com
médios, difíceis e ambíguos, em fun- o cristianismo, tem atraído as penas
ção de problemas epislemológicos e dos teólogos e pensadores. As posi-
estratégicos que podem converter o ções assumem direções bem diferen-
povo Eíeus em "cooperativa de con- tes. Flá os que ainda acreditam ter a
sumidores". modernidade l i q u i d a d o definitiva-
mente, no seu m o v i m e n t o eman-
Após o Vaticano I I o f i m do cipatório, a religião, o cri.stiani.smo,
monocentri.smo europeu na teologia nas pegadas dos mestres da suspei-
abriu novos caminhos de assimilação ta, dos escritos programáticos de B,
frutuosa e de inspiração recíproca Russell, B, Croce e S. Freud. Outros,
a partir da perspectiva cristã, julgam curso moderno na sua preten.são de
a modernidade insanável nas suas autonomia e de encafumar o discur-
raízes e portanto não há como recon- so de Deus ao m u n d o das projeções
ciUar-se ou mesmo dialogar com ela, humanas. O u se quisermos, o fim do
sem que se processe uma conversão humanismo antropocêntricô, gerado
radical da mesma. Maria Clara nesse na modernidade, abre espaço para
livro segue a via média do discerni- nova percepção do Mistério. A crise
mento. " O projeto cristão não ape- da modernidade está a alertar para a
nas sobrevive à modernidade, mas dissolução de uma sociedade que
com ela pode conviver sem perder rejeita seu fundamento em I>eus. Por
sua identidade nem deixar de exis- isso, a pergunta sobre Deus inquieta
t i r " (p. 43). Esta lese central do livro tanto hoje o coração humano.
leva a A. a um diálogo crítico mútuo
entre cristianismo e modernidade, e A A. pretende fazer teologia.
condu-la a aprofundar a questão pri- Apesar de que as páginas realmente
mordial do Deus do cristianismo e teológicas sejam .somente as tinais {a
seu perfil. partir da p. 60), com uma longa pre-
paração analítico-descritiva da reali-
Preparando o caminho para esse dade, a sua beleza e densidade justi-
capítulo central sobre Deus, o livro ficam o caráter teológico da obra. A
apresenta rápido quadro da realida- experiência de Deus é apresentada
de atual , sob o prisma da crise da com traços, ao mesmo tempo profun-
modernidade e seu avatar imprevis- dos, precisos e p o é t i c o s , na sua
to do surto rehgioso, quer n u m espa- especiticidade cristã.
ço cultural mais amplo, quer no con-
texto de Brasil. Sâo tocados rapida- Não se pode falar de experiência
mente alguns elementos que caracte- de Deus sem o critério joanino da
rizam a modernidade no plano cul- verificabilidade, que não faz a expe-
tural, econômico, político, filosófico. riênda, mas discerne-lhe a verdade e
Entre eles, atribui-.se importância à autentiddade. E a A. termina o capí-
idéia de progres.so, animada pelo tulo evocando tal critério e articulan-
desejo emancipatório e de conquista, do assim o agir d i v i n o e o agir h u -
como eslruluradora do tempo e da mano, sobretudo em relação aos mais
ética do homem moderno. E nesse pobres e desprovidos, com dareza e
contexto situa-se a explosão religio.sa predsão. Poder-se-ia, porém, ressen-
do momento e sua repercussão sobre tir no texto uma compreensão u m
o cristianismo hi.stórico. Assinalam- pouco negativa e reducionista de
se os movimentos ecológico, feminis- ideologia. Opõe a A . , de maneira,
ta, negro, das culturas indígenas para m i m , incorreta, experiênda de
como novos parceiros questionadores Deus e tentação ideológica, ética e
do cristianismo. ideóloga (p. 68). A oposição não se
dá entre estas realidades em abstra-
to, mas no concreto, em que há op-
No capítulo quarto, ponto central
ções ideológicas que se concretizam
do hvro, a A. aprofunda o conceito
em práticas éticas ou a-éücas, conso-
de Deus, a partir da experiência em
antes ou não com uma autêntica ex-
contraste com a vertente moderna,
periência de Deus. Todas as práticas
que des-conslróí toda possibilidade
têm uma dimensão ideológica inevi-
de dizer o Absoluto inefável, como
tável. Trata-se, pois, de discernir a
uma pretensão de unversaiização e
qualidade da opção ideológica, já que
totalização inaceitável. A experiênda
pode determinada prática ideológica
radical do Mistério questiona o dis-

(25T)
conflitar com as exigências de uma que, porém, conseguiu articular com
experiênda de Deus, sobretudo quan- a radonalidade e linguagem huma-
do esta prática se arroga o caráter nas o significado das realidades h u -
absoluto e desconhece a dimensão de manas ã luz do projeto salvífico de
respeito à dignidade da pessoa h u - Deus.
mana e sobretudo dos pobres. A A.
sabe disso e, de fato, refere-se a esta Acrescentou-se ao final u m texto
ambigüidade ao falar da prática. que fora já pubhcado pelo Centro
Deveria tê-lo feito talvez também em João X X I l l em Caderno AtuaUdade
relação à ideologia, para não refor- em debate n . 1 sobre a Sedução do
çar "a p r i o r i " tão comum entre ecle- sagrado (1990). Trata-se de u m texto
siásticos de opor opção evangélica anterior. Lá se encontram muitas das
pelos pobres e opção ideológica, i d é i a s que f o r a m r e t o m a d a s e
como se a opção evangélica não fos- explidtadas. Posto no f i m do livro,
se também ideológica, e como se a serve-lhe de brilhante síntese,. Está
opção ideológica não pudesse ser escrito com muita beleza e vigor.
evangélica ou an ti-evangélica. Aliás qualidades que a A. culfiva nos
seus textos.
N a condusão, a A. retoma a ques-
tão do objeto da teologia. Com muita L i v r o pequeno que merece ser
pertinência, recorda que a teologia lido. Traz luz e discernimento teoló-
nunca pode esquecer da primazia de gicos para d e n t r o da c o n f u s ã o
Deus. Entretanto, uma leitura rápida plurali.sta religiosa presente. Ajuda o
do texto pode induzir facilmente a cristão a perceber a originalidade e
erro, ao pensar-se que Deus, como identidade de sua experiência de
conteúdo e objeto material, é neces- Deus, para não deixar-se embalar
sariamente o objeto central e quase facilmente pelos encantos de outras
único da teologia. Deus é o objeto da propostas menos consistentes.
teologia no sentido formal, isto é,
uma reflexão só é teológica, se a rea- J. B. Libanio
lidade é considerada à l u z do projeto
salvífico de Deus. Corre-se o risco de,
ao querer superar o antropocentrismo BARROS S O U Z A , Marcelo
moderno, voltar a u m teocentrismo de; Celebrar o Deus da vida.
conservador pré-moderno, que não é
Tradição litúrgica e incul-
solução para nada. A teologia pre-
turação. / Prefácio Q o d o v i s
tende pensar a totalidade das reali-
dades à luz do projeto salvífico de Boff. - São Paulo: L o y o l a ,
Deus. E Deus é u m Deus apaixonado 1992. 199 p p . , 19 X 13,5 c m .
pelos homens. A teologia deve apai- I S B N 85-15-00505-0
xonar-se pelos homens com a paixão
de Deus, Só assim ela fala d'Ele. E O A., monge beneditino, é bem
não o contrário. Ameaça ã insistên- conhecido no país por sua atuação
cia de uma centraUdade objetai de na pastoral popular e no campo da
Deus certo escapismo mistérico e ine- liturgia (Ofício Divino das Comunida-
fável em detrimento do pensar siste- des). Já por esses dois títulos se pode
mático e especulativo de modo que a esperar muito desta obra. O grande
teologia se dissolveria na mística. É tema do l i v r o é a inculturaçáo da
verdade que na ba.se das grandes liturgia que o A. entende como uma
teologias e dos insignes teólogos há "prática litúrgica que une a tradição
uma profunda experiênda mística. htúrgica das Igrejas â sensibilidade
religiosa e cultural de nossos povos" racterizado pela comunicabilidade e
(16, nola 1). Reelaborando conlribui- pela narratividade.
ções já publicadas na Revista de Litur-
gia, o Ã. quer colaborar para que a O capítulo terceiro (39-61) funda-
liturgia se torne de novo " u m misté- menta na Bíblia a inculturaçáo da h -
rio de amor cheio de encanto, como turgia, mostrando que inculturaçáo
são as folias para os foliões devotos e base bíblica do cullo não se opõem,
e as romarias para os romeiros" (16). pois a própria Escritura, desde o
Antigo Testamento, é lodo u m pro-
O capítulo primeiro (17-28) trata cesso de inculturaçáo teológica e l i -
da espiritualidade litúrgica, enfocando túrgica,
a difídl relação entre compromisso e
celebração. Ressalta o desafio de ce- Tendo u m a longa c a m i n h a d a
lebrações engajadas e inculturadas ecumênica, não estranha que o A,
que, mais que "exuberantes em co- dedique u m capítulo, o quarto (63-
municação e criatividade de símbo- 73), ã ecumenicidade da liturgia. Sob
los e palavras", sejam "expressivas esse termo o A, defende que ' a op-
da profundidade do encontro com o ção pela unidade dos cristãos, a re-
Invisível e Inefável Mistério do no.s- núncia a todo sectarismo e a qual-
so Deus, que não pode ser reduzido quer visão parlicularisia" norteiem
a quaisquer categorias nossas" (28). nossas celebrações (66). Ecumenismo
É uma preocupação muito presente não se faz por mínimo denominador
no livro, jã que no cristianismo não é comum, mas na coragem de sermos
o ser humano que vai a Deus pela nós mesmos e, ao mesmo lempo, com
oração (como nas religiões naturais), "a sensibilidade para renunciarmos
mas Deus que vem a nós pela graça ou, pelo menos, relativizarmos oS
(Cf. 54).
parlicularismos desnecessários" (67).
Mas essa atitude só atingirá a litur-
gia, quando tiver permeado toda a
No capítulo segundo (29-37) en- vida da Igreja.
conlra-se um elemento fundamental
da reflexáo do A.: a distinção entre rito
O capítulo quinto (75-90) desenha
e estilo. Não basta adaptar ou atuali-
os traços afro-americanos, ameríndios e
zar os rito.s, é preciso celebrá-los n u m
libertários que deveriam caracterizar
estilo que fale ã comunidade. Estilo a liturgia latino-americana, Ela exi-
"é o que torna o rito uma coisa viva. ge, ao mesmo lempo, uma leitura
É o jeito ou modo de realizar o rito, afro-americana {ameríndia, liber-
dando-lhe hoje uma vida própria. O tadora) da té. O A. adianta algumas
rito sem o estilo é como uma cami.sa- características do estilo afro de cele-
de-força: limita o movimento e freia brar: o caráter comunitário e partici-
a espontaneidade. O estilo regula o pativo da celebração; a exuberância,
nosso modo de agir, a partir de uma alegria e espontaneidade; a partici-
verdade que é interior. As normas pação do corpo todo (dança); alguns
prescritas se tornam critérios do esti- gestos e símbolos. Também são evo-
lo, Esle, por sua vez, cria ambiente cados alguns traços da cultura indí-
celebra ti vo e torna os ritos vivos e gena que poderiam ,ser incorporados
eloqüentes" (30). ",.,o que faz um á celebração. A inculturaçáo supõe
estilo litúrgico é o E.spírito e o que ainda que "a Igreja assuma a valiosa
esle suscita em nós" (32). O A. plei- experiênda e o novo modo de cele-
teia não a criação de um rito latino-ame- brar das Comunidades Eclesiais de
ricano, mas a celebração do rito romano Base e dos movimentos populares e
também que incorpore elementos do
em estilo latino-americano. Este é ca-
eslilo dessas celebrações da liberta- o ofício das comunidades é o tema
ção ao conjunto de nosso modo co- do capítulo nono (167-171). Não se
m u m do celebrar" (87), U m excurso traia de uma oração monástica, mas
(91-%) Iraz propostas litúrgicas de de "devolver ao povo a liturgia das
horas" (170) que lhe perlenda o r i g i -
u m encontro de religiosos, semina-
nalmente. Salienta-se a necessidade
ristas c padres negros para u m eslilo de, através dele, preencher " u m a cer-
afro-brasileiro na celebração de al- ta lacuna do elemento místico e da
guns sacramentos, dimensão orante" na pastoral católi-
ca (168), A isso somos interpelados
O capítulo sexlo (97-108) aborda pelo cresdmenio de novos movimen-
a questão dos ministérios, como sem- tos religiosos ("seitas"). O excurso
pre com sugestões muito concretas. (173-176) traz ritos e símbolos para a
celebração do ofício popular,
O ano litúrgico é tema do capítulo
sétimo (109-131), A problemática, O capítulo dédmo (177-193) f o i
como sempre, é muito bem apresen- escrito em preparação para a Confe-
tada, salientando a sobreposição de rência de Santo Domingo e, n u m p r i -
calendários, a falta de sentido festivo meiro momento, dá a impressão de
dos agentes de pastoral, a inversão ultrapas.sado. Na realidade, resume
do calendário (calendário do hemis- muito do que foi dito nos capítulos
fério norte transposto para o hemis- anteriores,
fério sul). O A . apresenta uma pro-
posta bastante d e t a l h a d a para U m apêndice final (195-199) traz
reformulação do calendário latino- sugestões da Assodação dos Litur-
americano (brasileiro) dentro da pers- gistas para uma liturgia latino-ame-
pectiva geral do rito romano (pois ricana, texto igualmente escrito em
não se trata de criar u m rito brasilei- vista da IV Coníerênda do Episco-
ro ou latino-americano, mas de i n - pado Latino-Americano,
troduzir u m estilo espedfíco dentro
do r i t o r o m a n o ) . Seguem-se dois Os c a p í t u l o s e s t ã o s e m p r e
excursos: o primeiro (133-136) relata estruturado.s, partindo de algum ele-
uma experiênda muito interessante mento da e x p e r i ê n d a pessoal o u
de inculturaçáo do tríduo pascal; o pastoral do A. A .sensibilidade litúr-
segundo (137-138), de símbolos e r i - gica do A, e sua sensibiUdade face ã
tos populares da ressurreição do Se- religião do povo lornam o livro m u i -
nhor numa paróquia do Nordeste. to valio.so. O estilo é fluente e de agra-
dável leitura, mas por vezes um tan-
to desordenado, n u m a lógica por
O capítulo oitavo (139-159) trata saltos. Os "excursos" sâo antes ane-
da eucaristia, t r a z e n d o sugestões xos ou apêndices aos capítulos, do
m u i t o boas e práticas para a celebra- que propriamente excursos, Mas é
ção. Adverte do perigo de "cair em uma questão de nome. Não tira o
celebrações m u i t o racionalislas e valor que possam ter, como f o i apon-
exteriorizadas, em contraste com o tado adma. Por u m cochilo do A,, a
eslilo verdadeiramente simbólico e exortação apostólica EvangeUi
lírico das religiões populares" (146). nuntiandi se torna a primeira encíchca
Novamente u m excurso completa o de Paulo V ! {177s). N e m era encíclica
nem f o i a primeira, embora tenha
capítulo (161-165) com ótimas suges-
sido u m dos documentos mais signi-
tões para uma liturgia dominical sem
ficativos daquele pontificado,
celebração eucaríslica ( l i t u r g i a da
palavra ou hturgia de pré-san ti fica-
dos). Valeria a pena transformá-la em O l i v r o de Marcelo de Garros
prática. Souza pode ser recomendado vee-
mentemente a todas as pessoas que
lidam com lilurgia. Haveria muitas
sugestões que poderiam ser postas
em prática, outras que mereceriam
ser divulgadas para ulterior aprofun-
damento, segundo o conselfio do A.:
"Náo estou propondo que vocês lei-
am e corram a praticar o que sugiro.
É importante realizar o que já nos é
permitido e nos manter na comuniiáo
de uma busca comum. Não ajudaria
nossas comunidades, nem o conjun-
to da Igreja, avançar demais na fren-
te dos outros e transformar a busca
em ato apenas i n d i v i d u a l " (147). E
acrescenta que uma pastoral de con-
j u n t o é uma aquisição da Igreja do
Brasil que náo se deveria perder.

Francisco Taborda

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