Certa vez, uma senhora muito piedosa me perguntou: "Gabriel, qual é o remédio que os padres tomam para não sentir desejos?" Primeiro, eu segurei o riso para não constrangi- la. Depois, expliquei com calma que esse remédio não existe e nunca existirá. Sabendo eu que essa dúvida paira sobre a cabeça de muita gente, vou explicar o assunto de forma breve. (breve nada... o texto é longo). Os consagrados (padres e freiras) não são extra-terrestres. São pessoas normais, e experimentam na carne tudo aquilo que é próprio do ser humano, inclusive no que diz respeito à sexualidade. Porém, a Santa Igreja nos pede que, para se consagrar, é preciso renunciar à vida sexual, fazendo voto de castidade/celibato. Isso não seria coisa de louco? Não... isso é coisa de Deus. Vamos conferir na Bíblia: No Antigo Testamento não existia celibato. Pelo contrário: quanto mais filhos tivessem, mais abençoada seria a família. No entanto, quando as pessoas iam ter com o Senhor, precisavam fazer abstinência da relação sexual. Moisés, no livro do Êxodo, diz aos homens: "Estais prontos para depois de amanhã, não vos aproximeis de mulher alguma" (Ex 19,15). Quando Davi e seus companheiros pediram pão ao sacerdote Abimelec, este respondeu que só tinha os pães consagrados a Deus, e só poderia lhes dar se estivessem abstidos de mulheres (1Sm 21). Até aos sacerdotes, Deus pediu que vestissem uma túnica longa com uma calça por baixo, para que quando subissem às escadas do santuário, sua nudez não aparecesse, "sob pena de incorrerem numa falta mortal" (Ex 28, 40-43). No Novo Testamento, vemos que o celibato começa a ser observado com mais frequência. João Batista era celibatário. O próprio Jesus vai dizer que "existem eunucos que assim se fizeram por causa do Reino dos Céus" (Mt 19,12). E ainda diz: "Nem todos são capazes de compreender isto". Aos discípulos, ele pede que renunciem a tudo, para ganhar cem vezes mais (Mt 19,29). O apóstolo Paulo escreve: "O solteiro cuida das coisas do Senhor" (1Cor 7,32). Sobre as mulheres, ele diz: "Aquele que casa sua filha faz bem, e aquele que não a casa FAZ AINDA MELHOR" (1Cor 7,38). - Mas, seminarista, como é que vocês conseguem??? - Por graça e misericórdia de Deus. Primeiro que sexo não é a melhor coisa do mundo. Pelo contrário: é um meio que leva muitas almas à perdição eterna, por causa do mal uso que se faz do corpo. Segundo que a entrega de um consagrado é de CORPO E ALMA, ou seja, sem reservas. Tudo pertence à Cristo! É fácil? Não... Não é mesmo. Eu considero um pequeno martírio, pois como falei no início, a consagração não nos tira aquilo que é próprio da natureza. Porém, somos convidados a dominar nossos impulsos, para não sermos dominados por eles. O celibato deve ser vivido como um dom. Do contrário, será um fardo pesado, difícil de carregar. Diz o ditado: "amor com amor se paga". Pois bem: Jesus me amou na cruz. É carregando minha cruz de cada dia que irei amá-lo. - Ah, mas o pastor tem família. - Aí é com ele, Roberto Carlos e as baleias. Os padres são diferentes! Os filhos dos sacerdotes são todos vocês. A palavra 'padre' quer dizer PAI, e este faz tudo aquilo que um pai biológico deve fazer com seu filho (a). Dá o alimento (Eucaristia), dá banho (Batismo), dá abraços (confissão), não ensina a falar mais ensina a rezar, e ainda coloca muitos para dormir no seu sono derradeiro (extrema unção). Trocar as coisas do mundo por Deus, é como trocar um carrinho de mão enferrujado por uma Ferrari. Aproveito este texto para fazer um pedido: mulheres que frequentam as paróquias do Brasil, tenham juízo! Nada de ficar encostando a perna no sacerdote na hora da confissão. Nada de ir com decotes para a fila da comunhão. Lembrem-se que eles não são anjos de presépio e que levar um consagrado ao pecado, é caminhar para o Inferno junto com ele. Tem muito homem solteiro por aí. Deixem os consagrados em paz! É isso. Quem deixa tudo por Deus, é feliz. Muito feliz!