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PPGAC

ECO UFRJ



Projeto de Pesquisa para o Edital de Seleção para o Curso de Mestrado N.
55/2018












A COMPANHIA ATORES DE LAURA: 25 ANOS DE TEATRO
CARIOCA











AUTOR: PAULO HAMILTON SANTOS SILVA



INTRODUÇÃO

“Apesar do descaso do Estado e dos governos, da distância que, infelizmente,


separa, no Brasil, o teatro da sociedade, a companhia Atores de Laura persiste
em cena com um magnetismo semelhante ao das velhas pirâmides. A sua
humanidade profunda nos atrai e nos comove.1”

A Companhia de teatro Atores de Laura foi fundada em 1992 e continua ativa ainda
hoje, produzindo espetáculos, gerenciando um grande teatro na zona norte, editando
livros, oferecendo oficinas e cursos livres, além da manutenção de um projeto social
que oferece aulas de teatro para jovens de baixa renda.
Ao longo desses vinte e seis anos, a Companhia produziu vinte e três espetáculos,
ganhou mais de vinte prêmios e apresentou-se por várias cidades brasileiras e também
no exterior. O grupo possui ainda um trabalho autoral que consiste na produção de
mais de dez textos para seus espetáculos sendo seis destes já publicados.
A despeito de toda esta longevidade e produção, a Companhia ainda não foi objeto de
estudo de nenhuma dissertação ou tese que seja de nosso conhecimento, tendo sido
mencionada apenas em alguns trabalhos pontuais que estudaram o teatro carioca dos
últimos anos.
Sendo assim, este projeto visa traçar um panorama da Companhia Atores de Laura,
investigando suas origens, seus processos de criação de espetáculos e de textos, seus
modos de organização, produção e subsistência, sua linguagem cênica, formação de
seus atores e ainda o trabalho de formação de novos artistas pelos cursos e oficinas
oferecidos pela Companhia.


1 BRANDÃO, Tania. Atores de laura: a solidão e a companhia. In: Atores de Laura:

textos reunidos. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2017.



OBJETIVOS
O Objetivo geral do projeto é pesquisar a Companhia Atores de Laura dissertando
sobre sua história, seus modos de produção, de organização interna, de criação e, por
fim, situar a importância de sua obra e de sua influência dentro do contexto teatral do
Rio de Janeiro, desde a sua fundação em 1992.
Objetivos específicos:
- pesquisar definições e conceitos de grupo de teatro e companhias de teatro no
Brasil e no exterior nas últimas décadas e entender como a Companhia Atores
de Laura se enquadra, ou não, nestas definições;
- analisar histórico de companhias de teatro criadas na década de 1990 no Rio
de Janeiro;
- entender o fenômeno dos anos de 1990 que ficou conhecido como “teatro
jovem”, no qual a companhia foi inserida pela crítica e pela mídia nos
primeiros anos de sua existência;
- analisar a obra da Companhia procurando compreender os diversos modos de
criação de espetáculos que experimentou ao longo de sua trajetória,
procurando identificar se a Companhia desenvolveu, ou não, uma linguagem
visual, um estilo de interpretação, enfim um jeito próprio de fazer teatro,
apesar da pluralidade de estilos que, aparentemente, marcou sua trajetória;
- analisar os espetáculos de autoria textual da própria Companhia, ou de seus
parceiros, também sob o ponto de vista da criação destes textos, procurando
identificar quando estes processos podem ser enquadrados como criação
coletiva ou como processos colaborativos, ou, ainda, quando transitam entre
estas definições;
- investigar e compreender as relações de hierarquia e divisão de trabalho na
Companhia e suas transformações ao longo dos anos;
- investigar as estratégias de sobrevivência e manutenção do grupo ao longos
das décadas tanto do ponto de vista do financiamento e produção dos seus
espetáculos quanto da subsistência de seus artistas;
- investigar o aspecto de formação de novos artistas e trabalhadores da arte que
passam até hoje pelos muitos cursos e oficinas oferecidos pelos artistas da
Companhia.
JUSTIFICATIVA
O projeto se justifica pela história da Companhia Atores de Laura ao longo de
seus vinte e seis anos de existência com produção contínua e ininterrupta de
espetáculos inéditos, longas temporadas no Rio de Janeiro e também inúmeras
apresentações pelo Brasil e algumas no exterior.
Se justifica ainda pela ausência de estudos sobre a Companhia Atores de Laura, a
despeito de sua produção regular e com qualidade atestada pela crítica
especializada e pelos prêmios e indicações a prêmios que seus artistas receberam
ao longo de sua trajetória. Em nossa pesquisa preliminar, verificamos que ainda
há relativamente poucos estudos sobre companhias de teatro contemporâneas no
Rio de Janeiro. Sendo assim, acreditamos que com esta dissertação
contribuiremos no sentido de entender o panorama do teatro carioca nas três
últimas décadas.
Este estudo pretende ser amplo, procurando retratar a companhia sob todos os
seus aspectos. Por se tratar de um grupo de teatro de longa trajetória e a respeito
do qual, praticamente nada ainda foi estudado, nos pareceria incompleto realizar
um estudo sobre uma fase, uma época ou alguns de seus textos. Ou ainda, estudar
apenas um recorte como por exemplo a linguagem cênica do grupo e de seus
espetáculos pois, como observa Rosyane Trotta:

“ Um grupo não existe apenas na cena, mas principalmente nas condições que
cria para ela, em tudo que a cena pressupõe. O espetáculo é apenas a parcela
do trabalho do grupo que se torna pública. Portanto, o estudo do teatro que ele
produz, deve ser, antes de mais nada, o estudo de seu fazer teatral, de todas as
atividades que se desenvolvem antes, durante e depois da cena – do método
organizativo ao processo de criação, do convívio humano à luta pela
sobrevivência. Onde houver grupo haverá necessariamente uma forma
específica de fazer teatral que constitui a identidade do grupo e que deve ser
analisada do ponto de vista do processo, para além do resultado. A essência do
2
teatro de grupo situa-se no seu modo de produção”


2 TROTTA, Rosyanne. O paradoxo do teatro de grupo. Dissertação de Mestrado.

Rio de janeiro: Uni-Rio, 1995.


Tomando como referência estudos anteriores e atuais sobre grupos e companhias
de teatro no Brasil e no exterior, conforme referenciado na bibliografia deste
projeto, queremos traçar um retrato fiel e por isso mesmo abrangente da
companhia, levando em conta todas as questões que envolvem um grupo de teatro
nos Brasil das últimas três décadas: sua origem, seus modos de produção, de
organização e de hierarquização interna, as formas de subsistência de seus
membros e da própria companhia, a história de sua obra cênica e como ela foi se
transformando ao longo do tempo - relacionando essas transformações com
mudanças nos aspectos já mencionados - e ainda relacionando-as também com as
mudanças no teatro carioca das últimas décadas. Queremos ainda discutir as
questões de autoria e/ou escritura cênica que se colocam na contemporaneidade
tais como: autoralidade, criação coletiva, processo colaborativo, ator dramaturgo,
encenador ou diretor. Estas discussões são pertinentes porque a Companhia, ao
longo dos seus vinte e seis anos de estrada, já montou textos escritos por outros
autores especialmente para ela, escreveu textos de autoria própria em processos de
criação muitas vezes diferentes entre si, adaptou romances da literatura nacional e
montou clássicos como Molière, Shakespeare e Martins Pena. Algumas das
montagens destes clássicos buscaram uma “fidelidade” ao autor e sua época como
em “ As Artimanhas de Scapino”, de Molière em 2002 enquanto outras usaram a
obra de um autor clássico para construir, por exemplo, um espetáculo-evento
como em “Sonhos Shakespereanos de uma noite de Inverno” (espetáculo com 6
horas de duração realizado em todos os espaços da casa de cultura Laura Alvim,
nos ano de 1995 e que contou com mais de 30 cenas da obra de Shakespeare
encenadas por mais de sessenta atores).
Um outro aspecto ainda a ser analisado pelo projeto é a formação de atores,
diretores, produtores, enfim, trabalhadores das artes cênicas que passaram pelos
cursos livres de teatro oferecidos por integrantes da companhia e que hoje estão
no mercado de trabalho. Nascida de oficinas de teatro ministradas por Daniel Herz
e Susanna Kruger, a Companhia manteve e expandiu esta tradição. Hoje
praticamente todos os seus integrantes oferecem oficinas e cursos livres de teatro
com regularidade na Casa de Cultura Laura Alvim, zona sul do Rio de Janeiro, e
também no Teatro Miguel Falabella, zona norte da cidade.
METODOLOGIA
A pesquisa terá uma abordagem dialética comparando autores e conceitos do teatro
contemporâneo e, particularmente, aqueles autores que pensaram companhias e
grupos de teatro, procurando situar e descobrir quais os encaixes possíveis do trabalho
desenvolvido pelos Atores de Laura nestas abordagens e tentando descrever os fatos à
luz da teoria teatral dos dias de hoje.
Como métodos de procedimento teremos:
- pesquisa bibliográfica na qual abordaremos autores e pesquisadores da teoria
teatral contemporânea para entender o contexto histórico e artístico em que se
insere a Companhia e ainda categorizar, classificar e comparar a cena e os
métodos de produção dos Atores de Laura com o teatro que se fez nos últimos
trinta anos no Brasil;
- pesquisa documental: documentos, cartas, contratos, e-mails, fotos, vídeos de
sala de ensaio, entrevistas, matérias publicadas em jornais, revistas sites e
blogs, matérias veiculadas na televisão e em outras mídias digitais,
documentários feitos sobre a companhia e, ainda, todo o vasto material de
críticas especializadas publicadas ao longo de todos estes anos por
profissionais do Brasil do exterior;
- pesquisa de campo: entrevistas com os integrantes da Companhia Atores de
Laura, com seus colaboradores, seu público, seus funcionários e seus alunos.
EVIDÊNCIAS DE INTERESSE PARA O PPGAC/URJ E PARA A LINHA DE
PESQUISA ESCOLHIDA
Acreditamos que o projeto se enquadre nos interesses do PPGAC pois vai estudar a
história de um grupo teatral brasileiro investigando os contextos sócio-históricos em
que ela ocorreu. Um grupo que trouxe à cena muitos trabalhos caracterizados pelo
hibridismo e a transversalidade, colocando em cena romances e poemas, trabalhando
com outras linguagens como vídeo e performance, e experimentando, em muitos
casos, espaços diferentes para a cena. A pesquisa terá uma abordagem dialética,
enquadrando-se, a meu ver, na linha de pesquisa de POÉTICAS DA CENA pois vai
levantar questões estéticas e de metodologia de criação da cena, considerando os
novos desafios da cultura teatral contemporânea.
Obviamente, se esta pesquisa for aceita no PPGAC, qualquer dos professores que
orientar este trabalho terá em mim um orientando muito grato e dedicado, entretanto,
gostaria de mencionar algumas professoras cujo trabalho ou histórico parecem ter a
ver com este projeto. A primeira é a professora doutora Carmen Gadelha, de quem
fui aluno na graduação, e que orientou a dissertação de mestrado de João Bernardo
Caldeira que se encontra nas referências bibliográficas deste projeto. Suas pesquisas
sobre a máscara trágica e cômica na cena contemporânea dialogam em muitos
aspectos com alguns assuntos que desejamos abordar aqui. A segunda é a professora
doutora Alessandra Vannucci cuja linhas de pesquisa incluem historia e historiografia
do teatro brasileiro e cujas pesquisas atuais envolvem Augusto Boal e o Teatro do
Oprimido. E, finalmente, a professora doutora Adriana Schneider que, apesar de não
se encontrar na linha de pesquisa de Poéticas da Cena, fez parte da história da
Companhia Atores de Laura, tendo sido, inclusive, uma das fundadoras do grupo.
Além disso, seu trabalho como criadora e coordenadora do Coletivo Bonobando de
certa forma dialoga com as questões que serão tratadas neste projeto.
Porém quero reiterar que são apenas sugestões a partir de uma pequena pesquisa feita
sobre os assuntos pesquisados pelos professores do PPGAC, qualquer professor que
puder acolher este projeto será muito bem-vindo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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- _________________Autoralidade, grupo e encenação. In Sala Preta, Revista


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