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RESUMO:
O presente artigo verticaliza uma questão do Projeto de Pesquisa iniciado em maio de 2017,
financiado pelo Programa de Apoio à Publicação Qualificada – PAPQ. Os escritos quanto
socializados, quanto transmitidos nos mais variados formatos formam opiniões, moldam
comportamentos sociais e culturais, alargam o conhecimento, e expandem a esfera pública. O
artigo tem a preocupação de rastrear a cultura escrita em Divinópolis durante o século XX. No
nosso artigo e, também com base nos estudos de cultura escrita, queremos investigar tanto a
autoria dos textos, quem é o autor? Qual a sua rede de sociabilidade? Quais são seus critérios
valorativos? Quais é seu lugar institucional, social, cultural? Quanto às formas pelas quais os
textos são transmitidos, quais seriam as marcas materiais contidas no escrito, quais são os
atores que a fizeram? Nosso artigo está preocupado com a materialidade do texto e as formas
que ele foi lido. Estamos procurando formas de interpretar a vida tanto individualmente
quanto em sociedade, os sentidos da leitura dos objetos escritos que alteram a realidade das
pessoas, formando consensos e dissensos, formando uma maneira de ver o mundo. O artigo
está vinculado ao Núcleo EmRedes do CEMUD, atende dois objetivos do respectivo Centro: a
preservação documental e os estudos sobre a história e memória da região. O projeto
seleciona, higieniza, organiza e analisa jornais divinopolitanos da primeira metade do século
XX, dentre eles estão os jornais não seriados que possuem poucos exemplares no acervo
físico do Centro de Memória da unidade UEMG/Divinópolis. Desvendar as formas e as
leituras da cultura escrita na nossa cidade fará com que compreendamos melhor a circulação
das ideias, as redes de sociabilidade construídas, os contatos interpessoais, as interpretações
da realidade operadas pelos grupos sociais que nos compõem.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura Escrita. História. Leitura. Jornais. Divinópolis.
1
Bolsista PAPq e graduando em História – Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG – Unidade
Divinópolis – natalia.silva615@gmail.com.
2
Mestre em História pela UFMG. Professor de História da Unidade Divinópolis/UEMG e coordenador do
projeto PAPq em questão – joao.pires@uemg.br.
1- INTRODUÇÃO
O conceito de cultura escrita é um campo de estudo denso que vem sendo trabalhado
dentro da historiografia em que o escrito ocupa um lugar social e cultural e que engloba
determinados grupos, comunidades e sociedades. No entanto tal conceito não é estático e
estabelecer correlações entre pertença social e um único lugar para o escrito em uma
determinada sociedade ou grupo social é deveras reducionista. É neste sentindo que toda
leitura é ao mesmo tempo, individual e coletiva, nem o leitor lê completamente como quer,
livre de injunções e coerções e nem a leitura é determinada pelos padrões sociais e culturais
completamente. De acordo com Chartier (2001, p.20) “todo autor, todo escrito impõe uma
ordem, uma postura, uma atitude de leitura”, em que existem protocolos de leitura definidos
pelos construtores dos textos e livros a qual podem ser definidos como um conjunto de regras,
que define a interpretação correta e o uso adequado do texto, ao mesmo tempo em que esboça
seu leitor ideal.3
É a partir de tais argumentos que o presente trabalho 4 se constituiu. Buscou-se,
portanto, rastrear a cultura escrita em Divinópolis no início do século XX, especificamente
nas décadas de 1920 a 1940. As análises foram feitas em jornais da época e é com base nos
estudos dos conceitos de cultura escrita que surgiu algumas indagações: Quem é o autor?
Qual a sua rede de sociabilidade? Quais são seus critérios valorativos? Quais é seu lugar
institucional, social, cultural? Quanto às formas pelas quais os textos são transmitidos, quais
seriam as marcas materiais contidas no escrito, quais são os atores que a fizeram? A partir de
tais questionamentos analisou-se também quem era os leitores da época, uma vez que as
relações com o livro ou o texto e as possibilidades de construir sentido se dão por meio das
atitudes do leitor.5
As “marcas” do leitor foram devidamente analisadas, tais como escritos em margens,
recortes feitos nos jornais e as cartas direcionadas aos redatores dos jornais. É importante
pois, ressaltar que a forma livro é diferente da forma jornal e essa diferença produz uma
cadeia de significados distintos, uma cadeia de leituras distintas. É preciso realçar que
escolhemos nos primeiros anos dessa pesquisa tratar da forma jornal:
3
Ver em: CHARTIER, R. Prefácio. In: Práticas da Leitura. 2.ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. P. 20.
4
O presente artigo verticaliza uma questão do Projeto de Pesquisa iniciado em maio de 2017 e financiado pelo
Programa de Apoio à Publicação Qualificada – PAPQ
5
Ver em: GOULEMOT, J. M. Da leitura como produção de sentidos. In: Práticas da Leitura. 2.ed. São Paulo:
Estação Liberdade, 2001. P. 109
O jornal apareceu, trazendo em si o gérmen de uma revolução. Essa revolução não é
só literária, é também social, é econômica, porque é um movimento da humanidade
abalando todas as suas eminências, a reação do espírito humano sobre as fórmulas
existentes do mundo literário, do mundo econômico e do mundo social. (ASSIS,
2011, p. )
A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objeto identificar o
modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é
construída, pensada, dada a ler. Uma tarefa deste tipo supõe vários caminhos. O
primeiro diz respeito às classificações, divisões e delimitações que organizam a
apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de
apreciação do real. Variáveis consoante as classes sociais ou os meios intelectuais
são produzidas pelas disposições estáveis e partilhadas, próprias do grupo... As
representações do mundo social assim construídas, embora aspirem a universalidade
de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de
grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos
proferidos com a posição de quem os utiliza. As percepções do social não são de
forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares,
politicas) que tendem a impor uma autoridade a custa de outros, por elas
menosprezados, a legitimar um projecto reformador ou a justificar, para os próprios
indivíduos, as suas escolhas e condutas. Por isso esta investigação sobre as
representações supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de
concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de
dominação. As lutas de representações tem tanta importância como as lutas
económicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta
impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e o seu
domínio. (CHARTIER, 1998, p. 16-17).
Ter uma atitude de leitura, na qual se impõe uma ordem e uma postura envolve
promover um gesto de leitura, de reflexão sobre o porquê da necessidade da leitura,
o para quê da leitura, o para quem da leitura. Também pensar quais os dispositivos
6
Ver em: COITO, R. F. O conceito de leitura: da polissemia epistêmica. Revista Linguasagem, São Carlos.
Disponível em: < http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao10/artigos_oconceitodeleitura.php> Acessado
em: 17 de julho de 2017.
lingüísticos, históricos, sociais e culturais da leitura que permitem de fato o ler como
ato, como gesto, como atitude e como prática. 7
É neste sentindo que analisando a cultura escrita por meio dos jornais em Divinópolis
que o presente trabalho contribuiu para decifrar parcela importante da cultura da nossa cidade.
O trabalho teve como objetivo investigar as formas e os sentidos da cultura escrita em
Divinópolis no século XX, relacionando e explicando as conexões sociais e culturais entre os
formatos da transmissão da cultura, os conteúdos do texto e os sentidos e apropriações pelos
indivíduos e pelas sociedades.
É também por meio deste trabalho que buscou-se relacionar e explicar a cultura
escrita, em seus formatos e sentidos de leitura, com a formação de uma esfera pública, de um
ambiente de debate social e político, em uma palavra, com o espaço da cidadania. Dessa
forma os escritos quanto socializados, quanto transmitidos nos mais variados formatos
formam opiniões, moldam os comportamentos sociais e culturais, alargam o conhecimento,
eles expandem a esfera pública. Desvendar as formas e as leituras da cultura escrita na nossa
cidade e região fará com que compreendamos melhor a circulação das ideias, as redes de
sociabilidade construídas, os contatos interpessoais, as interpretações da realidade operadas
pelos grupos sociais que nos compõem.
2- OBJETIVOS:
Objetivos Específicos:
7
Ver em: COITO, R. F. O conceito de leitura: da polissemia epistêmica. Revista Linguasagem, São Carlos.
Disponível em: < http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao10/artigos_oconceitodeleitura.php> Acessado
em: 17 de julho de 2017.
4- Coletar, organizar, descrever, higienizar, digitalizar e disponibilizar no portal EmRedes
(http://www.emredes.com.br/) com o apoio do corpo técnico e de pesquisadores do
CEMUD todo o material levantado pela pesquisa.
3 –DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
O projeto selecionou, higienizou, organizou e analisou jornais divinopolitanos da
primeira metade do século XX, dentre eles estão os jornais não seriados que possuem poucos
exemplares no acervo físico do Centro de Memória da unidade UEMG/Divinópolis. A seleção
desse material teve como premissa enfocar os artigos que apresentam questões relativas à
cultura escrita que podem ser identificadas em relação ao tipo de leitor e escritor do período.
De acordo com Jean Marie Goulemot (2001, p.113) “cada época constitui seus modelos e seus
códigos narrativos. No interior de cada momento existem códigos diversos segundo grupos
culturais”. Seguindo esta linha de pensamento, conforme o decorrer das análises, temáticas
foram escolhidas para serem trabalhadas, para que houvesse um enfoque metodológico mais
específico permitindo a possibilidade de uma conexão com as visões dos indivíduos em
Divinópolis no século XX e suas experiências de seus próprios espaços. A proposta
apresentada, parte do pressuposto de que a ação da universidade deve-se basear na
pesquisa/extensão. O trabalho realizado é um dos produtos do projeto vinculado ao Núcleo
EmRedes do CEMUD8 e atende dois objetivos do respectivo Centro: a preservação
documental no caso aqui em questão, com a organização, a digitalização e a divulgação
virtual de todo o material de cultura escrita levantado pelo projeto e os estudos sobre a
história e memória da região. O trabalho se desenvolveu nas seguintes etapas:
4- Higienização jornais; Elaboração das fichas catalográficas de cada unidade documental. (2º
ao 5º mês)
8
Agradecemos a toda equipe do Centro de Memória Prof.ª Batistina Corgozinho – CEMUD, pelo suporte e
incentivo a esta pesquisa.
5- Levantamento e descrição de algumas hipóteses sobre as formas de leitura do corpus
documental trabalhado. (5º ao 7º mês)
6- Elaboração do inventário das formas com já as possíveis características das leituras. (7º ao
8º mês)
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS:
ASSIS, M. O jornal e o livro. Rio de Janeiro, Ed. Penguin e Companhia das Letras, 2011.
BELO, André. História & Livro e Leitura. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
CHARTIER, R. Prefácio. In: Práticas da Leitura. 2.ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2001.
GOULEMOT, J. M. Da leitura como produção de sentidos. In: Práticas da Leitura. 2.ed. São
Paulo: Estação Liberdade, 2001.
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ANEXOS: