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RESUMO DA UNIDADE

O mais importante a ter em mente quando se fala em reabilitação de danos ou


disfunção cerebral na infância, é que o cérebro é um sistema em constante
desenvolvimento, e pode vir a apresentar uma capacidade de adaptação
espetacular. Para isso, o papel do neuropsicólogo é essencial, uma vez que o seu
conhecimento do desenvolvimento do cérebro e manifestações de dano ou
disfunção cerebral, oferece às crianças a oportunidade de serem beneficiadas por
um programa de reabilitação, que pode levar à aquisição de habilidades cognitivas,
manipulativas, linguísticas, vísuo-espaciais, o que não viriam a adquirir sem ajuda
especializada. A Reabilitação Neuropsicológica é responsável pelo tratamento de
dificuldades cognitivas, comportamentais, emocionais ou adaptativas da criança ou
adolescente. A intervenção neuropsicológica, portanto, caracteriza-se por seguir
uma abordagem global, que compreendem as dificuldades cognitivas,
comportamentais e emocionais, bem como a situação familiar, escolar e social da
criança ou adolescente. O objetivo final da Reabilitação Neuropsicológica da Criança
e do Adolescente busca reduzir a diferença entre as habilidades deles e as
RECUPERAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
demandas atuais de seu ambiente, para alcançar o melhor nível de qualidade de
vida.
ADULTO E INFANTIL
Palavras-chave: reabilitação; neuropsicologia; criança e adolescente.

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .........................................................................................3


CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO À REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NOS
TRANSTORNOS, PSIQUIÁTRICOS, NEUROLÓGICOS E NEUROPSIQUIÁTRICOS
....................................................................................................................................................5
1.1 A neurorreabilitação cognitiva: a música como instrumento ..............................5
1.2 Funções cerebrais.................................................................................................. 12
CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E O DESENVOLVIMENTO
DE PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA............................... 21
2.1 Planejamento de um Programa de Reabilitação Neuropsicológica............... 21
2.2 Técnicas e estratégias........................................................................................... 31
2.3 Escola filosófica neuropsicológica ....................................................................... 32
CAPÍTULO 3 – INSTRUMENTOS DE AUXÍLIO NA IDENTIFICAÇÃO, DESENHO,
ELABORAÇÃO E MONITORIZAÇÃO DOS PROGRAMAS ........................................ 37
3.1 Avalição neuropsicológica como instrumento ................................................... 37
3.2 Instrumentos de medição de inteligência e habilidades .................................. 47
REFERENCIAS..................................................................................................................... 55

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APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

O neuropsicólogo infantil é responsável pelo estudo do comportamento da


criança através do cérebro. Para a criança, sua vida diária está centrada na
aprendizagem e no desenvolvimento do novo motor, habilidades sensoriais,
cognitivas e sociais. Os danos no Sistema Nervoso Central (SNC) têm um efeito
negativo sobre a sua capacidade de adquirir e consolidar conhecimentos. É
essencial conhecer os efeitos do dano cerebral e da plasticidade, para entender
como a criança amadurece e, também, entender o desenvolvimento normal, para
poder evoluir no conhecimento do desenvolvimento alterado. O neuropsicólogo,
sabendo como agir, escolherá quais modelos de intervenção serão os necessários
para iniciar a sua atividade profissional.
O neuropsicólogo infantil se encarrega do estudo do comportamento da criança
através de seu cérebro, o estudo da deficiência do cérebro causada por um ataque
ao sistema nervoso em uma idade precoce. Isso é essencial para saber que o
cérebro da criança não é uma réplica do cérebro adulto em miniatura, mas um
cérebro em desenvolvimento contínuo, crescente, por vezes estonteante, e sujeito a
inúmeras modificações e conexões devido à contínua estimulação que fornece o
ambiente em que se desenvolve.
Os danos cerebrais das crianças podem ocorrer em diferentes momentos, de
modo que suas repercussões também podem ser muito diferentes: durante a
gravidez, durante o período perinatal ou durante a infância. Elas também podem ser:
 Malformações cerebrais, devido a alterações no desenvolvimento cerebral
embrionário: por exemplo, hidrocefalia.
 Distúrbios com base neurológica com ou sem dano cerebral
demonstrável: dificuldades neuropsicológicas de aprendizagem (dislexia,
dislalia, disgrafia, doenças não-verbal de aprendizagem etc.), distúrbios
de linguagem (disfagia), transtorno de déficit de atenção com ou sem
hiperatividade, distúrbios psicomotores, transtornos invasivos do
desenvolvimento de aprendizagem, crianças com baixo peso ao nascer.
 Transtornos devido à evidentes danos cerebrais neurologicamente
baseados em: traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais

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tipo perinatal anóxica-isquêmica ou adquiridas, epilepsias sintomáticas


etc.
Desse modo, o neuropsicólogo da criança deve conhecer o desenvolvimento
normal e o patológico do SNC para poder atuar sobre as possíveis alterações
cognitivas decorrentes de danos cerebrais, como: memória, linguagem, habilidades
motoras, atenção, visuo-percepção, impulsividade, hiperatividade. Assim, são
lançadas uma série de atividades destinadas a aumentar a estimulação, a fim de
tentar compensar os déficits em áreas cognitivas nas crianças em risco de
desenvolvimento atípico, compreendendo: o raciocínio, a lateralidade, as habilidades
motoras finas e as habilidades motoras grossas.
Logo, os objetivos da avaliação neuropsicológica durante a infância ou
adolescência são:
 Determinar o desenvolvimento cognitivo, comportamental e emocional da
criança/adolescente;
 Identificar, descrever e quantificar os pontos fortes (áreas de maior
desempenho) e os pontos fracos (áreas de menor desempenho);
 Conhecer as implicações do perfil cognitivo da criança ou adolescente em
seu funcionamento dentro da família, escola e ambiente social.
 Ajudar no diagnóstico clínico
 Conceber e supervisionar o programa de intervenção (reabilitação
neuropsicológica)
 Avaliar a eficácia de qualquer tratamento em particular
 Prevenir (especialmente nos casos de risco biológico)
Sendo assim, também abordaremos, neste estudo, a respeito da Introdução à
Reabilitação Neuropsicológica nos transtornos psiquiátricos, neurológicos e
neuropsiquiátricos. Trataremos do tema da Avaliação Neuropsicológica, do
desenvolvimento de programas de Reabilitação Neuropsicológica e, por fim,
abordaremos a questão dos instrumentos de auxílio na identificação, desenho,
elaboração e monitorização dos programas.

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO À REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NOS


TRANSTORNOS, PSIQUIÁTRICOS, NEUROLÓGICOS E NEUROPSIQUIÁTRICOS

1.1 A neurorreabilitação cognitiva: a música como instrumento

O conhecimento da plasticidade cerebral e os numerosos estudos de


neuroimagem dos últimos anos permitiram um avanço na compreensão do processo
cerebral dos estímulos musicais. Isso tem despertado o interesse em analisar e
estudar sua aplicação no tratamento não invasivo de certas disfunções ou doenças,
a fim de contribuir para a melhoria da qualidade de vida. (TEMUR, 2010)
A música é uma linguagem organizada com base em um sistema de regras que
coordenam os diferentes elementos que a compõem, como melodia, ritmo e
harmonia. Outra definição, que considera os efeitos no receptor, é que "a música é o
som organizado e estruturado no tempo, pretendido ou percebido como uma
experiência estética. A pesquisa neurocientífica fornece teorias e explicações sobre
o funcionamento do nosso cérebro em relação a uma ampla variedade de estímulos
e, entre eles, a música é o objeto a ser trabalhano nesta unidade. As alterações
neurofisiológicas causadas pelo processamento sonoro musical mostram que a
música favorece a plasticidade cerebral e, portanto, pode ser concebida como um
estímulo potencialmente reabilitador. (TEMUR, 2010)

FIQUE ATENTO
O objetivo de facilitar a integração social se dá através, não só da formação de
pessoas com deficiência, mas também da adaptação funcional ou adaptação
razoável ao meio ambiente.

É, portanto, uma ferramenta útil para a reativação e restauração das funções


cognitivas afetadas após um dano cerebral adquirido, seja passivamente (escuta
musical) ou ativa (interpretação musical). O objetivo desta unidade é apresentar as
estratégias técnicas ou musicais usadas para neurorehabilitation (reabilitação
neurológica) cognitiva baseada em musicoterapia neurológica, de acordo com o
conhecimento científico atual sobre o processo cérebro musical. Dado que sua

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implementação é bastante recente, na última década, há a necessidade de continuar


investigando e avaliando os resultados que essas novas técnicas oferecem nos
diferentes casos especificados. (TEMUR, 2010)
Podemos definir a estimulação cognitiva como um conjunto de técnicas que
visam otimizar a eficiência do funcionamento de diferentes habilidades e funções
cognitivas através de uma série de situações e atividades específicas estruturadas.
Uma das bases neurobiológicas da estimulação cognitiva é a plasticidade cerebral,
que implica uma grande variedade de mecanismos. Ela representa a capacidade do
cérebro para recuperar e reestruturar, adaptando-se, assim, à nova situação
tentando restaurar o equilíbrio perturbado, seja por um dano cerebral secundário ou
por uma doença neurodegenerativa. (TEMUR, 2010)
Desse modo, a plasticidade cerebral consiste na capacidade do sistema
nervoso de mudar sua estrutura e funcionamento ao longo da vida como uma reação
à diversidade do ambiente. Se as técnicas de estimulação cognitiva são baseadas
nas características intrínsecas da música, podemos falar sobre a estimulação
cognitiva musical. A aprendizagem, estabelecendo novas conexões neuronais,
baseia-se na plasticidade, e um de seus requisitos fundamentais é a repetição, pois
leva a uma maior eficácia sináptica e melhor consolidação das conexões neuronais.
(TEMUR, 2010)
Portanto, as técnicas musicais que serão descritas mais adiante são baseadas
em uma prática e repetição sistematizadas para melhorar o desempenho das
habilidades cognitivas. Ao mesmo tempo, a atenção é necessária para a memória,
para as funções executivas e para a comunicação. Assim, é essencial trabalhar
nisso como uma prioridade através de intervenções específicas. (TEMUR, 2010)

IMPORTANTE
A participação de pessoas com deficiência física, suas famílias e as comunidades
em que vivem, no planejamento e implementação de serviços relacionados à
reabilitação.

A música, resultado da percepção do cérebro a partir de uma vibração física


com certas características específicas, é processada por diferentes áreas de ambos

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os hemisférios cerebrais: motor, linguagem e cognitivo (atenção, tomada de


decisão), além da emocional. O substrato neuronal da percepção musical não é
totalmente diferente de qualquer outro processo cognitivo. Memória e atenção, por
exemplo, compartilham processos equivalentes se a cognição é devida a um
estímulo musical ou a um diferente. (TEMUR, 2010)
Graças à implantação das técnicas de neuroimagem desenvolvidas nas últimas
quatro décadas, é possível observar, em tempo real - com pequeno atraso de 1/2
segundos - a ativação cerebral antes da exposição a vários estímulos, dentre eles os
musicais, que aumentou exponencialmente os estudos para conhecer a resposta
cerebral aos estímulos sonoros e musicais. (TEMUR, 2010)
Considerando que todo o processo de cérebro, quer sobre uma função
cognitiva ou motora, é derivado de uma sequência de impulsos nervosos temporária,
é possível intuir a importância que pode ter uma informação de som rítmico com
base no seu padrão temporal. De fato, estudos recentes destacam o impacto do
sistema auditivo como um modulador de funcionamento total do cérebro, como
deficiências auditivas correlacionadas têm influência nas habilidades perceptivas e
cognitivas. Deste modo, a perda de habilidades auditivas pode estar relacionada a
uma possível deterioração mental. (TEMUR, 2010)

Saiba mais:
Filme sobre o assunto: Para sempre Alice – Alzheimer (2014)
Filme sobre o assunto: Farol das Orcas – Autismo (2015)
Acesse os links: https://www.youtube.com/watch?v=U_RUDZx6vYM e
https://www.youtube.com/watch?v=Oe-5DNktmiE
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a relevância do
assunto dentro do seu campo de atuação.

Uma das teorias que explicam como a percepção musical ocorre, é baseada no
esquema modular mostrado, a seguir, na Figura 1. O estímulo sonoro, depois de
passar pela cóclea, viaja através do tronco cerebral e mesencéfalo para atingir o
córtex cerebral, onde é processado pelo córtex auditivo primário e secundário. Mais
especificamente, o processamento sequencial musical complexo é feito por dois

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subsistemas neurais diferentes: em primeiro lugar analisada a organização temporal,


e em segundo lugar, a organização tonal, na qual estão envolvidos ambos os
domínios auditivos e motores. (TEMUR, 2010)

Figura 1 – Modelo de processamento modular da música

Fonte: CENTRO SUZUKI (2014)

O cérebro realiza duas tarefas fundamentais para processar a organização


temporal de uma obra musical: dividir uma sequência em grupos de acordo com sua
duração temporal e extrair uma regularidade ou pulso temporal subjacente. Esses
processos envolvem, além das áreas auditivas, o cerebelo, os gânglios da base, o
córtex pré-motor dorsal e a área motora suplementar, responsáveis pelo controle
motor e pela percepção temporal. (TEMUR, 2010)
Em relação à importância da interpretação musical pelo paciente, deve-se
considerar que essa ação envolve diferentes tarefas, que combinam habilidades
motoras e cognitivas, nas quais componentes perceptivos, emocionais e de
memória, estão envolvidos. Isso resulta em uma interação motor-auditiva que
estimula uma diversidade de áreas cerebrais, uma vez que afeta tarefas de
coordenação, sequenciamento e organização espacial do movimento. (TEMUR,
2010)

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Vários estudos sugerem que a coordenação é controlada por regiões corticais


e subcorticais, incluindo o cerebelo, os gânglios da base, a área motora suplementar
e o córtex pré-motor dorsal. No caso do sequenciamento dos movimentos
necessários à interpretação, intervêm o cerebelo, os gânglios da base, as áreas
motoras pré-motoras e suplementares e o córtex pré-frontal. Finalmente, na
organização espacial dos movimentos, os córtices parietal, sensoriomotor e pré-
motor são ativados, integrando informações espaciais, sensoriais e motoras.
(TEMUR, 2010)
Os diferentes sons de uma melodia musical mantêm uma temporalidade e um
sequenciamento que podem ser úteis na formação de padrões temporais de funções
cognitivas, e constituem uma estrutura que facilita o aprendizado de processos
sequenciais de informação, por exemplo, de memória. A música, portanto, pode
atuar como um sinal de referência ou padrão que é muito útil em processos
cognitivos. (TEMUR, 2010)

FIQUE LIGADO
Reabilitação: Os Estados devem garantir a prestação de serviços de reabilitação
para pessoas com deficiência, a fim de alcançar e manter um nível ideal de
autonomia e mobilidade.

Não devemos esquecer as respostas emocionais da música, que podem


induzir a alterações fisiológicas e mentais devido ao seu envolvimento nos níveis de
segregação neurotransmissora. As áreas emocionais afetadas são o córtex pré-
frontal orbitofrontal e córtex ventromedial, cingulado anterior em conexão com áreas
sub-corticais, como a amígdala e o hipocampo, entre outros. (TEMUR, 2010)
A música é um estímulo multimodal muito importante que transmite ao cérebro
informações auditivas, motoras e visuais, e que possui uma rede específica para seu
processamento, não exclusiva, mas compartilhada com inúmeras funções, que
envolvem regiões temporais, frontais e parietais. Há sua consideração na
reabilitação de disfunções cognitivas. (TEMUR, 2010)
A musicoterapia é a utilização da música ou de seus elementos musicais (som,
ritmo, melodia, harmonia) por um profissional (musicoterapeuta) qualificado para

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proporcionar uma melhor qualidade de vida através da prevenção e reabilitação


terapêutica de um determinado tratamento. Em particular, o American Music Therapy
Association define a musicoterapia como o uso controlado da música, a fim de
restaurar, manter e aumentar a saúde mental ou física. É a aplicação sistemática da
música, liderada por um musicoterapeuta em um ambiente terapêutico, a fim de
alcançar mudanças comportamentais. Essas mudanças vão ajudar o indivíduo, que
participa dessa terapia, a ter uma melhor compreensão de si mesmo e do mundo ao
seu redor, podendo adaptar-se melhor à sociedade. (TEMUR, 2010)

Figura 2 – Musicoterapia

Profissional
• Qualidade

Reabilitação
• Terapia
Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Temur (2010) descreveu cinco factores-chave, como a capacidade da música


para melhorar a saúde tanto física como psicológica:
 Fator de atenção, quando a música é usada como distrator, por exemplo,
em casos de alto estresse.
 Fator emocional, quando modula emoções e afeta várias áreas corticais e
subcorticais. É amplamente utilizado no tratamento de depressão,
ansiedade ou estresse pós-traumático.
 Fator cognitivo, uma vez que a música envolve várias funções cognitivas
em processamento, como memória, por exemplo, vez que através dessa
função, o cérebro humano pode codificar, armazenar e recuperar
informações. Este fator é utilizado no tratamento de perturbações da
memória, como no caso de demência fronto-temporal.

ATENÇÃO
O estudo e o tratamento da deterioração das funções mentais, descritas pela OMS,
seriam enquadrados no campo de ação da neuropsicologia.

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 Fator de mecanismo de comportamento, quanto à sua capacidade para


evocar padrões de movimento, mesmo não intencionalmente, que permite
o uso de ritmo na reabilitação dos pacientes com danos cerebrais e no
tratamento de pacientes com desordens de movimento, como a doença
de Parkinson.
 Fatores interpessoais, como a música envolve a comunicação e, como tal,
pode ser usada para treinar habilidades de comunicação não-verbal, é útil
para distúrbios comportamentais ou afetadas por distúrbios do espectro
do autismo.
A musicoterapia neurológica foi introduzida no final dos anos de 1990. Como
indicado anteriormente, ela é diferente da terapia da música tradicional, as suas
técnicas são padronizadas e adaptadas às necessidades individuais dos pacientes,
a depender do seu objetivo, baseada em modelos neurocientificos que tratam sobre
a percepção do cérebro. Além disso, elas foram projetados para envolver funções
executivas, memória, atenção e percepção auditiva, bem como habilidades
psicossociais. (TEMUR, 2010)
A diferença que poderíamos mencionar em relação à musicoterapia tradicional,
é que suas técnicas são baseadas no conhecimento científico sobre a percepção
musical cerebral. Os objetivos tradicionais de musicoterapia têm sido os de alcançar
um bem-estar emocional, psicológico e social da pessoa, mas a musicoterapia
neurológica vai além da introdução de várias técnicas em linha com o conhecimento
da percepção musical, elas agem focando os mecanismos neurais envolvidos
nessas funções, que é um estímulo que pode levar a uma ativação ou melhora da
disfunção sofrida. (TEMUR, 2010)
Em resposta às funções que estimulam, as técnicas de musicoterapia
neurológica são classificadas nas categorias mostradas na Figura 3:

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Figura 3 – Métodos e técnicas de musicoterapia neurológica para reabilitação neurológica


cognitiva

Fonte: UFRJ (2019)

1.2 Funções cerebrais

Vejamos, de forma mais detalhada, de acordo com Toledo (2006), as funções


cerebrais pressupondo-se à música:

1) Treinamento de função executiva ou treinamento de função executiva


musical
O Treinamento de Função Executiva ou o Treinamento de Função Executiva
Musical consiste em uma série de exercícios de composição e improvisação que
podem ser aplicados individualmente ou em grupos, a fim de estimular funções
executivas superiores, como capacidade organizacional, resolução de problemas,
tomada de decisão, raciocínio, entre outros.
Nessa técnica, pede-se ao indivíduo em questão que planeje uma interpretação
musical em todos os seus aspectos: escolha do trabalho musical, o instrumento, a
duração mais apropriada etc. Caso a atividade deva ser realizada em grupo, o
paciente é solicitado a decidir quais são os instrumentos mais apropriados para cada
membro, a pensar nas instruções que devem ser dadas a cada membro para uma

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interpretação correta do grupo etc. Em suma, é atribuída uma tarefa em que o


paciente deve tomar uma série de decisões, com o objetivo de estimular o lobo pré-
frontal, a área do cérebro que intervém no planejamento das tarefas. (TOLEDO,
2006)
Diversos estudos indicam que a resolução de problemas levantados por meio
do Treinamento da Função Executiva ou do Treinamento de Função Executiva
Musical contribui para fortalecer as funções executivas superiores em pacientes com
AVC e transtornos psiquiátricos.

FIQUE ATENTO
Alexander Romanovich Luria, considerado o pai da neuropsicologia moderna,
definiu-a como um ramo da ciência cuja finalidade única e específica é investigar o
papel de determinados sistemas cerebrais em formas complexas de atividade
mental.

2) Atenção auditiva e treinamento de percepção


Existem diferentes modalidades de atenção, (seletiva, sustentada, alternada e
dividida) que podem ser adequadamente estimuladas. A atenção seletiva, por
exemplo, é a que dá prioridade a um estímulo quando ele é cercado por uma
variedade deles. Ouvir uma conversa de pessoas localizadas à distância em um
ambiente barulhento (por exemplo, em um bar) seria um exemplo da capacidade de
atenção seletiva. Essa habilidade se deteriora com a idade, mas há estudos que
mostram menos deterioração em pessoas com um mínimo de anos de experiência
musical.

3) Treinamento de Orientação Sensorial Musical


O treinamento de orientação sensorial musical usa a música, gravada ou ao
vivo, para trabalhar em estado de alerta (excitação), facilitar a orientação temporal e
espacial e manter os níveis de atenção do usuário. Dependendo do estado do
paciente, diferentes níveis de intervenção e objetivos são diferenciados:

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Nível I. O paciente está praticamente imóvel (estado vegetativo) e a


intervenção só persegue uma mudança nos níveis de atenção através da
estimulação sensorial. O musicoterapeuta profissional pode abordar essa
estimulação através do canto, da performance musical ou do toque.
Nível II. O paciente é capaz de manter os olhos abertos e pode fazer
movimentos limitados. Nesse caso, excitação, orientação e funções cognitivas,
especialmente atenção, são trabalhadas. Pode-se atuar, por exemplo, aproximando
um instrumento musical (guitarra) e acompanhando a mão do paciente para que ele
possa vibrar as cordas do violão e perceber seu som. Isso visa trabalhar na função
motora e atenção.

Figura 4 – Treinamento de orientação sensorial

Música

Gravada

Ao vivo

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Nível III. O paciente está em estado de vigília, mas precisa de ajuda para
manter seus níveis de atenção. Uma vez que o estado de alerta de intervenção e
atenção é sustentado por meio de exercícios com práticas instrumentais, por
exemplo, por um instrumento de percussão, isso instrui o paciente a tentar seguir ou
sincronizar com o ritmo da interpretação do musicoterapeuta.
Com isso, há a tentativa de fazer com que o paciente participe ativamente de
exercícios musicais simples para que se possa ativar seu estado de vigília e manter
sua atenção. A prioridade é dada para alcançar um número maior de respostas do
que para a qualidade delas.

4) Treinamento Musical Heminegligente


O treinamento musical heminegligente aborda as pessoas com
heminegligência, ou seja, o envolvimento de um hemicampo visual devido a uma

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lesão no hemisfério contralateral. Embora a lesão no hemisfério direito seja mais


frequente, também existem casos no hemisfério esquerdo.
O objetivo dessa técnica, com base na causa da hemineglect (hemiagnosia ),
também conhecida como negligência hemispatial ou negligência unilateral, (é de
atenção, de redirecionar o atendimento do paciente à metade do campo visual
afetado por uma série de exercícios musicais estruturados no tempo e no ritmo, e
equipados com uma configuração espacial especificamente projetada para
redirecionar seu foco de atenção. Esse treinamento também funciona como escuta
passiva, estimulando o hemicampo afetado por sons, a fim de reestruturar as áreas
adjacentes à lesão e recuperar o deficit (TOLEDO, 2006).
A duração e a frequência das sessões variam de acordo com a gravidade do
caso. Quando a afetação é séria, são realizadas sessões diárias, com duração de 10
a 15 minutos. Nos casos mais leves, as sessões são reduzidas a um mínimo de
duas semanas e o tempo de intervenção é prolongado de acordo com a capacidade
de cuidados do paciente.

IMPORTANTE
Como disciplina clínica, a neuropsicologia concentra-se no atendimento da
população, tanto das crianças como dos adultos, que sofrem de deterioração
orgânica do cérebro devido à lesões do sistema nervoso central, especificamente do
cérebro. Nesse sentido, o neurologista francês Roger Gil cita três objetivos básicos
perseguidos pela neuropsicologia: diagnósticos terapêuticos e cognitivos.

A intervenção pode ser organizada com base em duas premissas: através da


produção de estímulos sonoros, de modo em que há a tentativa do paciente em
“localizar” ou através do desempenho musical. No primeiro caso, deseja-se facilitar a
reorganização espacial afetada. No segundo caso, é aconselhável que o paciente
saiba a melodia ou o padrão musical, de modo que o musicoterapeuta profissional
ad hoc vai selecionar o repertório favorito do paciente Dessa forma, é possível
aumentar sua motivação e estimular sua memória. (TOLEDO, 2006)m.
Um exemplo possível de aplicação, no caso de envolvimento da origem
hemicampo atencional visual esquerdo seria: frente xilofone do paciente e uma

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limpeza de tubos de metal seu lado esquerdo (campo visual afetado) se encontra. O
musicoterapeuta profissional move a cortina ativando sua vibração sonora para que
o paciente possa percebê-la. Então, este profissonal deve desempenhar um padrão
melódico no xilofone, que é fácil e familiar, mas indicando que sempre deve terminar
ativando os tubos de cortina. Isso está estimulando a existência de um objeto que
produz som e que está no hemicampo visual deficitário. (TOLEDO, 2006)

5) Treinamento de Percepção Auditiva


A Formação de Percepção Auditiva utiliza vários exercícios musicais, a fim de
obter o resultado e para que o paciente possa discriminar e identificar diferentes
atributos de som musicais, como tempo, duração, altura, timbre, ritmo, etc.
Essa técnica também busca uma integração sensorial global (visual, tátil e
cinestésica) durante os exercícios musicais. Por exemplo, é comum pedir aos
pacientes para interpretar um trecho musical a partir de certos símbolos ou gráficos
codificados, para trabalhar elementos motores e raciocínio ou recebidos pela
vibração de um instrumento de percussão em contato com o corpo para melhorar a
sensibilidade do organismo , ou que integre seu movimento com a música.
(TOLEDO, 2006)
Essa aplicação é indicada, principalmente, em transtornos do espectro autístico
e em certos déficits sensoriais de origem neurológica.

IMPORTANTE
Como suporte para neuroimagiologia, o treinamento de percepção auditiva avalia e
diagnostica dano cerebral orgânico a partir de procedimentos não invasivos, tais
como a observação da conduta explícita do doente, correlacionando-os para o
sistema nervoso e possíveis danos na sua estrutura para propor uma sistematização
sindrômica do comportamento e pensamento do sujeito.

6) Treinamento de Controle de Atenção Musical


O Treinamento de Controle da Atenção Musical consiste em uma série de
exercícios musicais estruturados, que podem ser ativos ou receptivos e são
baseados em performances musicais improvisadas. Essa técnica possui diferentes

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parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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respostas relacionadas à atenção, através do uso deliberado dos elementos


musicais que aparecem no trabalho de improvisação, que atuam como 'sinais' ou
'indicações'.
Uma possível modalidade na aplicação terapêutica de Treinamento de Controle
de Atenção Musical é que o paciente interpreta alguns padrões melódicos pré-
definidos de ser interrompido quando você ouve uma certa combinação de notas
tocadas pelo terapeuta profissional da música. Por sua vez, o paciente deve reiniciar
a interpretação ao ouvir outro 'sinal' determinado por uma combinação diferente de
notas. Essa situação obriga o paciente a desviar parte de sua atenção para a
atividade musical do musicoterapeuta profissional, para saber quando interromper
ou reiniciar sua interpretação de acordo com as indicações acordadas. (TOLEDO,
2006)
Essa técnica é útil para estimular e ativar processos de atenção, que são
alteradas em uma variedade de distúrbios, tais como do espectro do autismo, déficit
de atenção/hiperactividade, acidente vascular cerebral, demência, distúrbios
psiquiátricos, etc. (TOLEDO, 2006).

Figura 5 – Treinamento e controle musical

Padrões Melódicos Pré-definidos

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

7) Treinamento de Memória
Esse conjunto de técnicas é indicado para ativar a memória através do uso de
diferentes artes musicais, especialmente cantando. Sabe-se que, diferentemente da
palavra, há uma maior diversidade de áreas cerebrais envolvidas no canto,
principalmente no hemisfério direito, o que facilita maior acesso às memórias.

8) Treinamento musical mnemônico


No treinamento musical mnemônico, sons ou palavras são usados como
elementos mnemônicos para facilitar o aprendizado e lembrar as informações
incluídas em uma música ou ritmo. As músicas são geralmente estruturadas com

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uma letra ajustada às lacunas de memória específicas de cada paciente (nomes dos
parentes mais próximos, atividades que precisam ser feitas durante o dia etc.), a fim
de incentivar o aprendizado de informações não musicais por meio de
sequenciamento e organização do conteúdo em padrões musicais.
Uma aplicação com instrumentos de percussão para praticar a memorização
dos nomes dos participantes em uma sessão de grupo seria a seguinte: cada
indivíduo pronuncia seu nome várias vezes enquanto é acompanhado por uma
breve interpretação rítmica. Então, os outros membros do grupo repetem seus
nomes em uníssono várias vezes enquanto o observam. Uma vez que todos tenham
dito seu nome, individualmente, devem tentar lembrar o nome de cada um de seus
colegas.
Esse tipo de terapia é aplicada em pessoas com demência, acidente vascular
cerebral, esclerose múltipla, distúrbios psiquiátricos, etc. (TOLEDO, 2006)

FIQUE LIGADO
Com relação aos objetivos terapêuticos, busca-se projetar e implementar planos de
intervenção que permitam reeducar, compensar e/ou substituir as funções
psicológicas superiores deterioradas em pacientes com lesões cerebrais.

9) Treinamento Musical Onomatopaico


A memória sensorial é aquela relacionada à via auditiva e geralmente é muito
breve, mais ainda do que a memória operacional. É necessária para o discurso:
quando uma palavra é articulada, deve ser a memória sensorial do primeiro fonema
pronunciada para continuar com o segundo, e assim por diante até que a palavra se
complete. Essa técnica utiliza principalmente a voz e sua aplicação é simples. Por
exemplo, o paciente entoa uma canção e, de tempos em tempos, é instruído a parar
e repetir a última palavra ou vogal que ele cantou.
Em contextos de grupo, cada participante geralmente é convidado a dizer seu
nome e depois pede a um membro do grupo para repeti-lo. Recomenda-se que os
participantes realizem movimentos corporais ou exagerem na prosódia enquanto
pronunciam seu nome, uma vez que esses elementos adicionados e pertencentes a
outras modalidades sensoriais promoverão a consolidação da memória desejada.

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Esse método tem sido utilizado principalmente em pessoas com dano cerebral
adquirido. (TOLEDO, 2006)

10) Treinamento Associativo de Humor e Memória


É baseado em técnicas musicais cujo objetivo é o paciente acessar memórias
suscetíveis de induzir um estado emocional positivo. O objetivo é trabalhar na
memória de longo prazo usando as emoções evocadas enquanto ouve músicas que
são familiares para ele. Essa técnica é muito útil em demências, em doenças
neurológicas que apresentam déficits de memória e até mesmo no déficit de
memória associado à idade.

Figura 6 – Humor e memória

Memórias
Sucestíveis

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

11) Psicoterapia Musical e Aconselhamento


É uma técnica de terapia psicológica que utiliza a interpretação musical para
favorecer a exploração e expressão emocional do paciente. Através da escuta ou
interpretação musical (se o paciente é músico), é induzida a emergir e fluir emoções.
Através de diferentes gêneros musicais, tenta-se influenciar o humor e canalizar as
emoções que o paciente manifesta e experimenta. Pode ser realizada em grupos,
atribuindo diferentes padrões ou gêneros musicais que se combinam para trabalhar
aspectos ou fatores sociais. Essa modalidade é aplicada principalmente em
transtornos psiquiátricos e demências.
Desse modo, nas últimas décadas, uma grande quantidade de pesquisas
concentrou-se em analisar como o cérebro processa a música e como ela responde
a esses estímulos. Estudos mostraram a ativação de uma ampla variedade de áreas
(motora, linguagem, atenção, emoções e tomada de decisões), e a musicoterapia
neurológica é baseada no conhecimento para desenvolver uma variedade de

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técnicas ou estratégias para a sua implementação na neurorreabilitação cognitiva.


(TOLEDO, 2006)
Atualmente, quando uma pessoa começa com um processo de reabilitação
neurológica, qualquer que seja a etiologia de sua doença, ela encontra muitos
profissionais envolvidos no seu tratamento (neurologistas, neuropsicólogos,
fisioterapeutas etc.) que oferecem um atendimento multidisciplinar e abrangente.
Muitos esforços para desenvolver novas técnicas de intervenção com dispositivos
sofisticados de alto custo, o desenvolvimento de terapias inovadoras, mas não deve
ser ignorado o fato de que a ferramenta principal para essas técnicas ainda é a
música. (TOLEDO, 2006)

ATENÇÃO
Esse tratamento começou profissionalmente após a Primeira Guerra Mundial. Duas
figuras essenciais dessa área foram A.R. Luria e O.L. Zangwill, que propuseram a
metodologia de três abordagens: compensação, substituição e reaprendizagem.

Devemos lembrar também, o baixo custo e a facilidade de aplicação dessa


terapia, executada, obviamente, por profissionais qualificados; bem como o seu alto
grau de aceitação, por utilizar métodos pouco ou nada invasivos. Logo, as técnicas
musicais para reabilitação cognitiva propostas pela musicoterapia neurológica deve
ser considerada uma ferramenta capaz de intervir em processos cognitivos como
função executiva, atenção e memória, e habilidades psicossociais. Essas terapias
devem ser aplicadas de forma estruturada, com objetivos específicos e um
procedimento claro, para que seus resultados possam ser quantificados e as
conclusões tiradas sobre a intervenção realizada. (TOLEDO, 2006)

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CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E O DESENVOLVIMENTO


DE PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

2.1 Planejamento de um Programa de Reabilitação Neuropsicológica

Com relação a outra das principais patologias de lesão cerebral que requerem
reabilitação precoce e especializada, os acidentes vasculares cerebrais têm uma
prevalência muito alta na Espanha, por exemplo. Os dados recentemente publicados
pelo Boletim Epidemiológico, são considerados como a primeira causa de
mortalidade na Espanha, nas mulheres e a segunda nos homens. (TATE, 2014)
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença vascular cerebral
representa a terceira causa de morte e a primeira causa de incapacidade em
adultos. Todos os anos, meio milhão de pessoas sofrem de um distúrbio
cerebrovascular, e dois terços delas sobrevivem e enfrentam uma doença
prolongada e incapacitante. Sendo essa mortalidade importante, é mais o grau de
incapacidade que produzem com o consequente custo sócio-sanitário. O acidente
vascular cerebral provoca uma incapacidade prolongada e as sequelas de caráter
mental são mais incapacitantes do que sequelas físicas. (TATE, 2014)
A qualidade de vida dessas pessoas é altamente dependente do grau de
envolvimento neuropsicológico. As seqüelas intelectuais incapacitam a reinserção
social e ocupacional em um grau maior que as seqüelas físicas. Entre os
sobreviventes de um traumatismo cranioencefálico, um número considerável deles
ficam com sequelas importantes que impedem o retorno às atividades anteriores ou
impossibilitam o progresso acadêmico, profissional e social. Essas repercussões são
diferentes, dependendo do estágio de desenvolvimento, de acordo com Tate (2014):
I. Em crianças, o desempenho escolar é insuficiente, apesar de ter níveis
intelectuais normais ou mesmo superiores.
II. Os adolescentes, além de fracassarem em seu desempenho acadêmico,
o fazem na vida social (amizades, relações interpessoais) e profissional
(permanência no emprego).

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III. Os adultos têm dificuldades em voltar a entrar no mercado de trabalho e


são frequentemente demitidos dos seus empregos após a tentativa de
reintegração.
IV. O risco de deterioração acelerada na velhice devido a um histórico de
TCE (traumatismo crânio encefálico) também foi documentado.

FIQUE ATENTO
Pessoas que sofreram um traumatismo cranioencefálico (TCE), resultantes de um
golpe severo, queda, acidente de carro, ferimentos por arma de fogo, e outros, terão
alterações físicas no material que compõe o cérebro e suas conexões, e são
passíveis de neurorreabilitação.

Esses números nos obrigam a refletir sobre a necessidade de abordar,


efetivamente, a avaliação, o tratamento e a incorporação dessas pessoas na
sociedade, dando-lhes independência e recuperando a maior funcionalidade
possível. Para isso, temos que nos juntar ao número crescente de neuropsicólogos,
no campo acadêmico, clínico e social, que nos leva a considerar a possibilidade de
projetar uma Reabilitação da Avaliação de Programas da Neuropsicologia no
contexto universitário, como uma das possíveis ações que poderiam ser
desenvolvidas pelo Serviço de Aconselhamento Psicológico. (TATE, 2014)
Os resultados da avaliação neuropsicológica representa o ponto de partida
para o tratamento e reabilitação. Isso porque, a avaliação traçará o perfil das
capacidades preservadas e determinará o grau de influência desses déficits quando
da realização de atividades diárias. O mais antigo documento conhecido sobre o
tratamento de pessoas com danos cerebrais foi descoberto em Luxor, em 1862, e
data de 3.000 anos atrás. Itard já descreveu a maioria das técnicas atuais no século
XVIII, quando trabalhou com a criança selvagem. (TATE, 2014)
A era moderna de reabilitação começou durante a Primeira Guerra Mundial na
Alemanha, como resultado da tentativa de aumentar o número de soldados com
danos cerebrais que sobreviveram. Luria considerado por muitos o pai da
neuropsicologia, fez a reabilitação mais rigorosa e científica da abordagem de danos
cerebrais, com base em um modelo abrangente da função cerebral, seguindo a

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tradição da psicologia soviética e das obras de Vygotsky, em particular. (TATE,


2014)
Esse autor nos forneceu uma das maiores bagagens no campo da
neuropsicologia clínica e experimental com seus estudos com combatentes russos.
Um dos pioneiros, que teve grande influência no Reino Unido, foi o professor de
Cambridge O.L. Zangwill, que sugeriu três abordagens principais: compensação,
substituição e aprendizagem. Atualmente, um dos centros mais importantes do
mundo da reabilitação é o que leva seu nome em Londres. (TATE, 2014)
O interesse, a respeito da reabilitação neuropsicológica, tem sido tão
importante que apareceram numerosos artigos e livros publicados nos últimos anos
e o surgimento, em 1991, de uma revista especializada no assunto, a Revista de
Reabilitação Neuropsicológica.

Figura 7 – Reabilitação neuropsicológica

Substitui-
Compen- ção
sação

Aprendizagem

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Achamos importante definir o que é a reabilitação neuropsicológica, pois a


conceituação e a crença que se tem sobre ela condicionarão frequentemente os
desenhos de intervenção. A reabilitação neuropsicológica é um processo terapêutico
que visa aumentar ou melhorar a capacidade de um indivíduo para processar e usar
corretamente as informações (nível cognitivo), bem como para melhorar o seu
funcionamento em suas vidas diárias (nível comportamental). É considerada como
"um processo através do qual as pessoas com danos cerebrais trabalham com

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profissionais de serviços de saúde para remediar ou aliviar déficits cognitivos que


surgem após uma condição neurológica”. Esse conceito inclui técnicas orientadas
para a restauração e a compensação de déficits. (TATE, 2014)
Um conceito importante, com vista para a reabilitação neuropsicológica, é a
plasticidade neuronal, por meio da qual os neurónios adjacentes à lesão podem,
gradualmente, "aprender" a função de neurónios danificados. (TATE, 2014)
Para Luria, a lesão cerebral produz, em primeiro lugar, uma inibição temporária
das tarefas intactas. Essa inibição ocorre através do sistema colinérgico. As funções
alteradas por essa inibição podem ser restauradas por meio de terapia
farmacológica desinibida ou desbloqueadora. Junto com isso, uma intervenção
psicológica pode ajudar a desinibição ocorrer em um ritmo mais rápido. Em segundo
lugar, a lesão produz alterações funcionais que são consequência da destruição
direta do tecido cerebral.
Somente em alguns casos a destruição do cérebro leva a efeitos irreversíveis,
na maioria dos casos, a atividade do sistema nervoso pode ser reabilitada. De
acordo com Luria, a reabilitação só é possível se for criado um novo sistema
funcional baseado nos elementos nervosos que permanecem incólumes, isto é, a
reestruturação do sistema funcional em novas bases. A reorganização pode ser
intrasystemic (iintrassistêmico) (treinando o assunto para executar tarefas usando
conhecimentos básicos ou avançados dentro do mesmo sistema funcional) ou
intersistêmicos (treinar o paciente a usar outros sistemas funcionais). (TATE, 2014)
A reabilitação neuropsicológica pode ter dois objetivos gerais, portanto,
segundo Tate (2014):
(i) promover a recuperação de funções, ou seja, a recuperação da função
em si, significa, competências ou habilidades necessárias para atingir
certos objetivos e
(ii) para promover a recuperação de objetivos, trabalhar com o paciente para
que ele possa retornar para alcançá-los usando meios diferentes
daqueles usados antes da lesão.
No primeiro caso, o objetivo é a restituição da função e, no segundo, é a
substituição ou compensação. O objetivo geral do Programa de Avaliação e
Reabilitação Neuropsicológica está focado na identificção das possíveis alterações

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das funções reguladas pelo córtex cerebral, bem como das necessidades de
tratamento de pessoas afetadas por alterações nas funções cerebrais superiores,
contribuindo para facilitar ao máximo a independência física, intelectual e emocional,
que é possível para cada pessoa em seu ambiente particular, possibilitando um
maior grau de autonomia, de reintegração sócio-trabalhista e do aumento da
qualidade de vida do paciente. (TATE, 2014)

IMPORTANTE
Além disso, as pessoas que sofreram asfixia, hipóxia, intoxicação por gás,
afogamento, perda súbita de consciência, coma e outros, provavelmente terão
problemas de memória a curto ou longo prazo.

Em coerência com o objetivo supracitado, antes de iniciar o programa de


reabilitação, os pacientes serão, inicialmente, avaliados neuropsicologicamente.
Essa avaliação será realizada ao final do programa, para que os avanços obtidos
pela reabilitação possam ser objetivados, e comparar diretamente o desempenho de
um paciente antes e após o tratamento.
Com base nessa avaliação, um programa de reabilitação será projetado com o
objetivo de fornecer o máximo grau possível de independência e maximizar suas
capacidades, por meio da reabilitação cognitiva. O tratamento será realizado a partir
de uma abordagem unitária, integrativa e multidisciplinar, para que a reabilitação
atinja seu potencial máximo.
Antes de iniciar um programa de reabilitação, é necessário saber que
mudanças ou melhorias são explicadas pela recuperação espontânea, e elas não
podem ser atribuídas à nossa intervenção. Qualquer lesão cerebral é sempre
acompanhada por um determinado grau de recuperação funcional espontânea,
como superar o processo traumático que acompanha a lesão (edema), pois uma
reorganização das sinapses ocorre em áreas que não foram danificadas. É um
processo que pode durar vários anos, mas é mais eficaz após os primeiros meses
decorrentes do dano cerebral. Logicamente, as chances de recuperação espontânea
serão menores no caso de lesões mais extensas e graves. Segundo Sohlberg
(2010), a partir do oitavo mês de trauma, nenhuma mudança espontânea é

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esperada, para a qual as mudanças observadas a partir dessa data podem ser
atribuídas à intervenção desenvolvida.
Em termos gerais, pode-se afirmar que o principal objetivo da reabilitação é a
otimização do funcionamento físico, profissional e social. Após uma doença ou dano
neurológico propõe-se como objetivos básicos de um programa de reabilitação
neuropsicológica:
I. Fornecer um modelo que ajude o paciente e sua família a entender o que
aconteceu.
II. Ajudar o paciente a enfrentar o que o dano cerebral significa em sua vida.
III. Fornecer estratégias de treinamento e habilidades para recuperar e
compensar déficits cognitivos.
IV. Melhorar o desempenho do paciente em diferentes situações sociais.
V. Ajudar o paciente a estabelecer compromissos realistas de trabalho e
relacionamentos interpessoais.
VI. promover um ambiente de esperança realista. (SOHLBERG, 2010)
Os programas que projetados devem ser individualizados e focados nas
necessidades de cada pessoa, previamente detectada na avaliação
neuropsicológica. De acordo com esse autor, é conveniente realizar sessões
individualizadas para trabalhar certos aspectos cognitivos (treinamento de cuidado),
emocionais (aceitação de dificuldades presentes e futuras) e aspectos
comportamentais (agressividade).
Esses, segundo o mesmo autor, devem ser combinados com sessões grupais
nas quais são aprovadas as técnicas e estratégias que foram testadas
individualmente e que servem para generalizar os resultados para situações mais
ecológicas e comuns. Embora as avaliações e os processos de reabilitação devam
ser individualizados e personalizados, as intervenções em grupo não podem ser
ignoradas. (SOHLBERG, 2010)

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Figura 8 – Avaliações e processos

Intervenções

Reabilitação

Aprendizado

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Já as intervenções em grupo, podem ser, de acordo com Sohlberg (2010):


I. É ideal quando o objetivo do tratamento centra-se no comportamento
social, uma vez que a situação própria grupo é uma situação real, como a
aprendizagem é incentivada e facilitada, por outro lado, a reprodução de
situações sociais são fictícias.
II. é uma poderosa fonte de reforço.
III. a presença de outros membros com dificuldades semelhantes tranquiliza
e desinibe o assunto, e ajudando a melhorar sua consciência da doença.
IV. fornece uma ampla variedade de modelos e fatores que melhoram a
aprendizagem, a generalização e o enfrentamento.
V. representa uma economia significativa de tempo e dinheiro possibilitar o
atendimento simultâneo de vários pacientes com um ou dois terapeutas.
Os programas de reabilitação devem ser caracterizados como programas
holísticos desenvolvidos por profissionais especializados, interdisciplinar, com
validade ecológica, usando tanto a avaliação quantitativa quanto a qualitativa. Eles
têm que atender a vários aspectos fundamentais:
 Reabilitação das funções cognitivas: os déficits cognitivos, que na maioria
das vezes são vistos em lesões na cabeça, são: a orientação, a memória,
a atenção, a linguagem, o funcionamento executivo; destacando entre
todos, os distúrbios atencionais, os visoperceptivos e a resolução de
problemas e tomada de decisão. O mais favorecido por áreas cognitivas,
de intervenção são: atenção de memória e funcionamento executivo.
(SOHLBERG, 2010)

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28

FIQUE LIGADO
A reabilitação neuropsicológica também é dirigida a adultos com comprometimento
cognitivo leve ou demência nos estágios iniciais da doença. O programa deve ser
focado em preservar o máximo possível as habilidades cognitivas da pessoa doente
e para ajudar seus familiares a se adaptarem à deterioração progressiva de seu
paciente.

 A reabilitação das funções executivas fornecem uma declaração de


princípios gerais que emergem das hipóteses atuais sobre o
funcionamento dos lobos frontais:
I. aplicar uma estratégia RPIEAL (I: Identificar, D: definir, E: Escolha,
a: Aplicar L: Veja realização),
II. intervir sobre as variáveis cognitivas relacionadas a um bom
funcionamento executivo (memória de trabalho, atenção dividida,
habilidades pragmáticas, motivação),
III. usar técnicas da modificação do comportamento, síndrome de
influência relacionada (especialmente impulsividade, desinibição e
preservação,
IV. (iv), utilizar técnicas de reforço diferencial (preferivelmente custo-
resposta),
V. as variáveis situações devem ser levadas em conta em um bom
programa de reabilitação (internos da atividade, apresentação de
distratores externos, velocidade de apresentação dos estímulos),
VI. os programas de reabilitação devem ser ecológicos, portanto, devem
conter estratégias de generalização específicas.
Simão (2010) propõe um modelo de tratamento para pacientes com síndrome
dysexecutive1 (disexecutiv) com base em três áreas como:
I. seleção e implementação de planos cognitivos (seleção de
comportamentos tendentes a um alvo),
II. gestão adequada de tempo (estimativa de tempo, criação de escalas de
tempo, adaptação ao tempo estabelecido) e
1
A síndrome dysexecutive é um grupo de sintomas decorrentes de dano cerebral, que fazem parte as
categorias cognitiva, comportamental e emocional e geralmente a ocorrem juntos.

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29

III. auto-regulação (autoconhecimento, controle de impulsos, perseverança).


As funções executivas multimodais de tratamento abrangente são como
exercícios relacionados a discriminação visual/reação de inibição/inibição,
discriminação auditiva de ritmos e tons de suportar, sem suporte visual e exercer
flexibilidade cognitiva. (SIMÃO, 2010)
Em pacientes com dano cerebral, é comum a ocorrência da anosognosia, que
é a falta de consciência da pessoa em reconhecer as limitações do seu corpo,
podendo ser mais ou menos grave, bem como pode ser considerada a própria
patologia ou o sintoma de outra doença. Essa falta de "insight" sobre as mudanças
se estabeleceram após uma lesão nos lobos frontais e a falta de consciência da
doença e das limitações que vêm com as sequelas residuais, todavia os pacientes
com essa falha não reconhecem verbalmente a percepção de uma mudança, motivo
pelo qual não pensam nela negativamente, é como se não alterasse nada, apesar
de quão incapaz pode ser considerado, do ponto de vista funcional ou social.
Esse é um dos principais pontos que devem ser estudos e trabalhados, porque
se o paciente não está ciente de que ele tem problemas, não vai funcionar pois ele
não vai querer participar de um programa de reabilitação que visa melhorar
dificuldades que ele não tem. A consciência das consequências aparece como uma
variável de grande importância porque afeta a motivação e o grau de cooperação
dos pacientes em sessões de reabilitação, sendo um pré-requisito necessário para o
sucesso duradouro dos esforços rehabilitators (reabilitadores), mantendo os ganhos
de longo prazo e de aplicação na vida diária, das estratégias compensatórias
aprendidas na fase de reabilitação. (SIMÃO, 2010)
Além disso, baixa consciência dos déficits cognitivos e comportamentais é um
fator determinante para a selecção dos instrumentos de avaliação mais apropriados
para o estudo das pessoas com lesão cerebral. O treinamento em habilidades
sociais é um elemento essencial na reabilitação neuropsicológica. A redução do
nível de habilidades sociais observada nesses indivíduos é significativamente
condicionada pelo nível de funcionamento cognitivo da pessoa afetada. A
intervenção nessa área se concentrará em três dimensões: treinamento na solução
de problemas sociais, treinamento em habilidades de comunicação pragmática e
treinamento em autocontrole. (SIMÃO, 2010)

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30

SE LIGA
A reabilitação neuropsicológica também é destinada a jovens, adultos e idosos com
comprometimento cognitivo leve ou demência (do tipo Alzheimer, de Huntington,
Lewy Body, vascular etc.) Também deve ser notada que a reabilitação
neuropsicológica deve ser realizada por meio de neuropsicólogos clínicos, ou seja,
um profissional de saúde especializado na área do psicólogo, psicomotor, médico e
terapeuta ocupacional.

Modificação de comportamentos desadaptativos e intervenção em alterações


comportamentais e emocionais causadas por dano cerebral através do uso de
técnicas de modificação de comportamento e distúrbios emocionais que persistem
como sequelas de traumatismo crânio-encefálico, familiar difícil, social e integração
profissional de pacientes e em grande parte determinam o prognóstico de
reabilitação, isso explica por que é outra importante área de ação.
Reabilitação do trabalho, orientada e direcionada à adaptação de um posto de
trabalho adaptado às funções cognitivas preservadas, potencializando as
habilidades psicossociais necessárias para isso. O retorno à atividade de trabalho
oferece muitas vantagens, e também expõe a pessoa ao estresse, à
competitividade, ao medo do fracasso, às frequentes mudanças no ambiente, que
podem afetam o grau de satisfação no emprego e a permanência nele.
Portanto, nessas circunstâncias, o paciente não pode ser deixado ao acaso,
assim, a volta ao trabalho deve ser acompanhada por um especialista para, se
necessário, haver intervenção precoce com intuito de reduzir experiências falhas,
comportamento inadequado e perda da auto-estima. Tais situações acarretam na
perda ou abandono do emprego, isso porque a integração passa por dificuldades e,
às vezes,pode não ser alcançada.
O aconselhamento familiar e a terapia são requisitos essenciais tanto para
facilitar o processo de reabilitação da pessoa afetada quanto para o bem-estar e
adaptação à nova situação do ambiente familiar.
O apoio psicossocial tem efeitos decisivos na saúde mental. Uma vez
reconhecida a importância do apoio social na saúde e no bem-estar, diferentes
estratégias de intervenção foram concebidas para incentivar o apoio psicossocial.

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gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
31

O processo de reabilitação é, muitas vezes, tão longo como a vida, portanto, o


paciente deve fazer parte de uma família saudável e de um ambiente social onde a
cooperação e a colaboração são dois fatores importantes. (SIMÃO, 2010)

2.2 Técnicas e estratégias

Na concepção do plano de reabilitação uma série de estratégias e técnicas


individualizadas devem ser combinadas de acordo com o neuropsicológica e com as
necessidades educacionais identificadas na avaliação neuropsicológica. Vários
autores descrevem os diferentes instrumentos e técnicas que nos permitem
desenvolver uma avaliação neuropsicológica. Nesse contexto de reabilitação, os
recursos fornecidos pelas novas tecnologias, que estão em constante progresso,
podem ser muito úteis. (SIMÃO, 2010)
Sendo assim, a ação terapêutica pode enfocar os pontos fracos que são
mostrados no perfil neuropsicológico, nas habilidades intactas que são pontos fortes,
ou em ambos. Distingue-se diferentes orientações no processo de reabilitação
neuropsicológica: restauração da função danificada, função de compensação de
perda e de optimização das funções residuais.
Segundo Simão (2010) técnicas e estratégias podem ser agrupadas, portanto,
em três níveis diferentes:
I. Restauração: funções cognitivas alteradas são estimuladas e melhoradas
pela ação direta sobre elas.
II. Compensação: presume-se que a função alterada não pode ser
restaurada e, portanto, pretende-se promover o uso de diferentes
mecanismos alternativos ou habilidades preservadas.
III. Substituição: o aspecto central da intervenção é baseado em ensinar ao
paciente diferentes estratégias que ajudam a minimizar os problemas
resultantes de disfunções cognitivas, como é feito, por exemplo, quando
se ensina indivíduos a usar diferentes auxílios externos.

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parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
32

Figura 9 – Compensação

Função Alterada Restaurada


Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Uma das abordagens que melhor capturam essas técnicas é para a


intervenção de funções cognitivas. Esse modelo multimodal enfatiza a interação do
conhecimento, a experiência, a emoção, e assume três tipos de variáveis que
afetam o funcionamento cognitivo:
a) Ativa: referem-se às operações cognitivas que podem ser aprendidas e
que afetam o conteúdo da informação. Por exemplo: estratégias de busca
de informações relevantes, resolução de problemas.
b) Passivo: são variáveis que não afetam diretamente o que é aprendido ou
lembrado, mas que estão disponíveis para aprendizado. Por exemplo,
estado geral de saúde e condição física, falta de sono, nível de motivação
etc.
c) Apoio: inclue variáveis externas ao assunto que permitem substituir certas
funções cognitivas. Por exemplo: pedir a alguém para ser lembrado de
algo.
A sequência e a frequência da reabilitação são fatores importantes para
maximizar o sucesso funcional do paciente. Tradicionalmente, os programas
terapêuticos são realizados em sessões de uma hora ou uma hora e meia, uma vez
por semana; sessões de quarenta minutos duas vezes por semana e sessões de
uma hora, três vezes por semana. O número e a duração das sessões serão, em
última análise, condicionados pela disponibilidade e motivação do paciente e dos
responsáveis por ele. (SIMÃO, 2010)

2.3 Escola filosófica neuropsicológica

A escola neuropsicológica desenvolvida por A.R. Luria e seus sucessores tem


um aparato metodológico teórico que não só permite descrever as alterações
sofridas pelos pacientes, mas analisar e identificar a sua causa, com base em um
programa desenvolvido especificamente para cada paciente. A reabilitação

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neuropsicológica na escola histórico-cultural foi, inicialmente, ligada à resolução de


um problema prático: reabilitar pacientes da Segunda Guerra Mundial, com
ferimentos de bala.
Isso permitiu o desenvolvimento de princípios teóricos e metodológicos
subjacentes ao trabalho terapêutico, incorporando as contribuições da psicologia,
neurociência e psicofisiologia, entre outras disciplinas. A partir do próprio aparato
conceitual da neuropsicologia foi possível resolver o problema das possibilidades e
da formas de reabilitação das funções mentais em pacientes com lesões locais do
cérebro. De acordo com Simão (2010) a neuropsicologa histórico-cultural é
fundamental para que exista coerência entre os seguintes aspectos:

Figura 10 – Neuropsicologia histórico-cultural

Bases teóricos-metodológicas

Instrumentos de avaliação

Interpretação de resultados e Programas de


Intervenção

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Em relação ao primeiro aspecto, o aparelho teórico inclui o seguinte:


a) As funções psicológicas são conceituadas como formas complexas de
atividade psíquica,, processos sociais históricos de auto-regulação diante
da sua natureza e a comportamento consciente de uma pessoa a partir
das suas funções mentais.
b) O complexo sistema funcional como base psicofisiológica das funções
psicológicas. Os sistemas de funções formam o conjunto unificado de
segundos em que o cérebro trabalha, que estão geograficamente
separados, mas estão ligados para executar uma tarefa comum,
invariante, mas que pode ser feita com meios diferentes, cada setor
cerebral contribui e tem o seu papel específico.

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c) A concepção sobre a localização sistêmica e dinâmica das funções


psicológicas no cérebro, se baseia, por sua vez, na concepção da
estrutura complexa das funções psicológicas e inclui os conceitos de
fator, sintoma e síndrome.
Por outro lado, a avaliação, longe de ser realizada com testes padronizados
tradicionais, é feita utilizando instrumentos sensibilizados, cujos resultados são
interpretados basicamente por meio de análise qualitativa, tomando conhecimento
sobre o desenvolvimento das funções psicológicas, mas também contribuições que
os seguidores de Vygotsky e Luria fizeram sobre a estrutura psicológica da
atividade. (SIMÃO, 2010)
Desse ponto de vista, uma lesão cerebral não produz a perda de uma função,
mas sua desintegração, ou seja, a lesão afeta um dos elos (fator) do sistema
funcional, que altera não apenas uma função psicológica, mas todos aqueles que
estão inclusos no dito fator. Luria chamou essa forma de afetação de efeito
sistêmico, que se manifesta em todos os sistemas funcionais que requerem o fator
afetado. A ausência ou fraqueza funcional de áreas cerebrais altamente
especializadas (fatores) leva a um efeito sistêmico e produz a alteração do trabalho
de todos os sistemas funcionais. (SIMÃO, 2010)
Luria desenvolveu o princípio da qualificação de dificuldades, que permite a
identificação do fator que subjaz às alterações. Com base nisso, os sintomas
primários e secundários e os elos conservados do sistema funcional afetados são
identificados. De acordo com essas abordagens, elaborou-se uma forma alternativa
para a reabilitação de funções psicológicas. A identificação da causa das alterações
possibilitou orientar o trabalho de correção ou reabilitação não para funções
psicológicas específicas, mas para os aspectos funcionais (fatores), a fim de
reorganizar os complexos sistemas funcionais. (SIMÃO, 2010)
Esse modo de trabalhar tem efeitos não sobre aspectos particulares (funções
ou comportamentos psicológicos), mas sobre as diferentes esferas da vida psíquica
do paciente (cognitiva, afetivo-emocional, personalidade). Obviamente, a avaliação e
o diagnóstico são essenciais como um primeiro passo para a recuperação, porque
eles são orientados para a identificação dos mecanismos psicofisiológicos de fator
subjacente às dificuldades apresentadas pelo paciente. O conceito de fator

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neuropsicológico refere-se ao trabalho específico realizado por um setor cerebral


especializado. (SIMÃO, 2010)
Um aspecto positivo do conceito de fator é que ele não é reduzido à estrutura
ou à área do cérebro, porque a simples existência de uma determinada área
anatômica ou um conjunto de zonas, não garante o trabalho necessário para a
execução de qualquer ação ou tarefa que um sujeito executa. (SIMÃO, 2010)
Por outro lado, nenhuma ação ou tarefa pode ser realizada com a participação
de um único fator, ou com a ativação de uma única área do cérebro. O desempenho
de cada ação ou tarefa requer a participação de vários fatores neuropsicológicos,
isto é, a ativação de diferentes áreas do cérebro, que constituem um sistema
funcional complexo. (SIMÃO, 2010)
Cada sistema funcional inclui um conjunto de fatores distribuídos, tanto no
córtex cerebral quanto nas estruturas subcorticais que estão funcionalmente ligadas
para realizar a ação. Assim, para a neuropsicologia histórico-cultural, o cérebro não
localiza ações ou funções psicológicas como tais, mas, ao invés disso, localiza os
fatores neuropsicológicos, isto é, os mecanismos psicofisiológicos que garantem as
ações. Esses fatores estão sujeitos à ação (objetivo consciente dado) e estão unidos
em sistemas funcionais, os quais, por sua vez, constituem a base psicofisiológica da
ação do sujeito. (SIMÃO, 2010)
Luria, por seu trabalho com adultos com danos cerebrais, identificou sete
fatores neuropsicológicos: fonêmicos ouvido, organização sequencial de
movimentos e ações, retenção de áudio-verbais, retenção visual, programação e
controle, análise e síntese e análise cinestésico-tátil síntese espacial simultânea
(figura 11). Todos eles relacionados ao trabalho de áreas corticais secundárias e
terciárias.

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Figura 11 – Fatores neuropsicológicos

Fonte: PROFLUDMILA(2015)

No entanto, seus seguidores identificaram outros fatores, entre os quais


incluem as estruturas do primeiro bloco funcional, isto é, zonas subcorticais, e o
trabalho que está relacionado à interação dos hemisférios cerebrais. A figura 11
mostra os fatores neuropsicológicos propostos, suas contribuições e sua correlação
anatômica.
Desse modo, é evidente que a partir dessa visão sobre a participação de
diferentes fatores neuropsicológicos para a realização das diferentes ações, a ideia
de que avaliação e reabilitação são direcionadas para funções ou habilidades
isoladas, deve ser modificada. Primeiro, a avaliação neuropsicológica deve avaliar o
estado funcional dos setores cerebrais altamente especializados (fatores), a fim de
estabelecer quais ou mais deles foram afetados e quais permanecem intactos.
Em segundo lugar, a reabilitação neuropsicológica deve ser direcionada não
para a reabilitação das funções em si, mas para a reorganização dos diferentes
sistemas funcionais afetados, a fim de reincorporar os pacientes ao seu trabalho,
vida familiar e social, ou seja, a reabilitação neuropsicológica deve ter um efeito
sistêmico. (SIMÃO, 2010)

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CAPÍTULO 3 – INSTRUMENTOS DE AUXÍLIO NA IDENTIFICAÇÃO, DESENHO,


ELABORAÇÃO E MONITORIZAÇÃO DOS PROGRAMAS

3.1 Avalição neuropsicológica como instrumento

Os instrumentos de avaliação psicológica são as técnicas por meio das quais


os dados referentes às características psicológicas das pessoas estudadas são
coletados. Existem muitos instrumentos que servem a esse propósito e também
existem várias formas que os testes adquirem, a maneira como são apresentados, o
material com o qual são feitos, o objetivo que buscam etc, o número de instrumentos
utilizados é muito amplo. Existem aqueles que são classificados em diversas
categorias, e todos eles constituem um arsenal tecnológico e metodológico com o
qual nossa ciência conta para realizar suas medições; esses instrumentos
constituem a base sobre a qual repousam os fundamentos da exploração e análise
do comportamento do homem, concebidos de tal forma, que surge a necessidade de
avaliar as diferenças humanas. (NIKAEDO, 2015)
Os instrumentos psicológicos são construídos com base em teorias
psicológicas que tentam explicar o comportamento humano. Os resultados desses
estão integrados no processo de avaliação e tomada de decisão em relação à
pessoa em estudo; de tal forma que a aplicação de instrumentos de medição seja a
fase mais importante do processo de avaliação psicológica. O mesmo acontece em
qualquer outro campo da atividade humana, onde o uso correto ou incorreto dos
instrumentos de medição determina a qualidade da informação obtida e, portanto,
das conclusões finais a serem alcançadas a partir desses dados. (NIKAEDO, 2015)
Para falar da origem e do desenvolvimento histórico dos instrumentos de
avaliação psicológica, devemos voltar ao tempo em que a Psicologia se constituiu
como uma ciência independente. Esse fato está intimamente ligado ao nome de
Wilhelm Wundt (1832-1920), um psicólogo alemão, que alguns autores consideram
o pai da psicologia. Wundt, no final do século XIX, criou o primeiro laboratório de
psicologia experimental (1879). Nesse laboratório ele estudou as qualidades e
processos psíquicos de maneira isolada, por meio de técnicas laboratoriais.
(NIKAEDO, 2015)

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No entanto, ao mesmo tempo, e também antes de Wundt, havia outras idéias


sobre o estudo dos fenômenos psíquicos, mas de uma perspectiva diferente da
proposta pelo psicólogo alemão; essas outras ideias afirmavam que, embora todas
as pessoas sejam muito semelhantes em termos de seus processos psíquicos -
memória, atenção, inteligência, emoções, etc. - elas também são diferentes em
relação aos mesmos processos psicológicos em que são semelhantes. Um grupo de
psicólogos estava interessado no estudo de processos psicológicos como Wundt, e
outros estavam inclinados a estudar as diferenças observadas nesses mesmos
processos psíquicos, de uma pessoa para outra. É precisamente essa ideia sobre as
diferenças entre as pessoas e como medir essas diferenças que dá origem ao
surgimento de instrumentos de avaliação psicológica. (NIKAEDO, 2015)

FIQUE ATENTO
Tratamento
As tarefas neuropsicológicas que são colocadas para as pessoas devem ser focadas
em seu estilo de vida, a validade ecológica e as necessidades e habilidades atuais
da pessoa que requer tratamento.

A respeito da ideia sobre “as diferenças entre as pessoas”, verifica-se que


existe material escrito sobre este tema muito antes de Wundt. Como é apreciado,
tais idéias têm estado presentes desde a antiguidade, mas a avaliação psicológica
não se constitui em conhecimento e disciplina independentes até o último século.
Nikaedo (2015) ao falar sobre a história do Psicodiagnóstico, diferencia suas fontes
de sua constituição como disciplina científica. Distingue história pré-história de
acordo com certos eixos de referência: o primeiro são os grandes paradigmas do
conhecimento humano. os míticos, racionais especulativos e científicos, os grandes
modelos psicológicos, e o segundo experimental, correlacional e aplicado.
O período místico trata da astrologia e do horóscopo como o estágio mais
antigo da avaliação psicológica. Esse período é seguido pelo racional-especulativo,
em que os esforços para descrever e determinar o comportamento das pessoas são
baseados na fisionomia. Essas idéias aparecem em pessoas tão distantes no tempo
como Hipócrates (a. C) e outros tão próximos de nossos dias quanto os trabalhos

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tipológicos de Kretschmer, 1923; Sheldon, 1940; Thomas, 1970 e outros autores.


(NIKAEDO, 2015).
Ao falar da constituição da avaliação psicológica como disciplina científica, com
as contribuições feitas por esses pesquisadores, as bases conceituais,
metodológicas e tecnológicas do psicodiagnóstico parecem estar estabelecidas.
Os primórdios da avaliação científica das diferenças humanas são, em parte,
devido aos esforços de Galton (1822-1911), que fundou em Londres, em 1884, um
laboratório antropométrico, que realizava medições em pessoas sobre altura, peso,
capacidade auditiva, acuidade visual, capacidade sensorial discriminativa e uma
série de avaliações sensoriais, perceptuais e motoras. Teve como principal
contribuição a sistematização da coleta de dados e seu tratamento estatístico.
(NIKAEDO, 2015)
Desse modo, introduz as bases da avaliação quantitativa das diferenças
humanas e inicia o estudo psicológico das diferenças individuais em comparação
com a psicologia experimental do final do século XIX. Alguns autores consideram
isso como o ponto de partida dos testes mentais. Galton é considerado o fundador
da psicologia diferencial, enquanto outros autores dão esse mérito a W. Stern, que
em 1900, publicou a obra "Sobre a psicologia das diferenças individuais".
(NIKAEDO, 2015)

Figura 12 – Avaliação científica

Diferen
Galton
ças

Humanas

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

M. Cattell, psicólogo americano, (1861-1934), é outro dos grandes poderes da


avaliação psicológica: ele introduziu o conceito de testes mentais em 1890; publicou
vários testes sobre desempenhos específicos de sujeitos nos níveis sensorial,

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perceptivo e motor, destacando-se no estudo diferencial dos tempos de reação;


rejeitou a introspecção como método de estudo e se pronunciou sobre a
necessidade das medidas obtidas nos testes serem objetivas Para isso, propôs o
uso de baterias de teste para avaliação psicológica, no ano de 1896, introduzindo,
desse modo, o conceito de teste de bateria. (NIKAEDO, 2015)
As principais contribuições desse autor são: o conceito de teste mental como
instrumento para medir certas características psicológicas; a criação de técnicas de
avaliação das funções sensoriais, perceptivas e motoras, agrupadas em duas
baterias de teste, sendo o primeiro autor a usar o termo "bateria de testes" e sua
ênfase no uso de medidas objetivas em testes mentais.
O trabalho de Alfred Binet, (1857-1911), na França, marca um importante
avanço qualitativo no estudo das diferenças individuais. Esse autor propõe uma
nova abordagem na avaliação psicológica. Seu objetivo não são as diferenças de
funções sensoriais, perceptivas e motoras propostas por Galton e Cattell, seu
interesse em diferenças individuais é direcionado para a avaliação de funções
psíquicas superiores.
Para atingir o objetivo de avaliar as funções psíquicas, ele propôs o método
dos testes mentais e, preocupado com a objetividade desses instrumentos,
recomenda, segundo Nikaedo (2015):
 que esses testes devem ser simples,
 que pouco tempo é gasto em sua aplicação,
 que são independentes do examinador,
 e que os resultados obtidos podem ser contrastados por outros
observadores.
No trabalho realizado com as crianças, como o estudo diferencial de crianças
normais e deficientes mentais, considera três métodos: exame médico, o exame
escolar realizado pelo professor e o diagnóstico psicológico que avalia os processos
mentais superiores do assunto. Quando executou o teste, deu origem, juntamente
com seu colega Theodore Simon, ao primeiro teste de inteligência, em 1905.
(NIKAEDO, 2015)
Dessa forma, Binet introduz o primeiro conceito claro de diagnóstico
psicológico. Ele introduziu o conceito de idade mental, considerando que a

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inteligência aumenta com o desenvolvimento e o conceito de retardo mental também


está intimamente relacionado ao seu trabalho.

IMPORTANTE
O programa de reabilitação neuropsicológica pode ser estendido, envolvendo a
família, para continuar o tratamento em casa, e não apenas no consultório ou no
centro de saúde onde eles contataram o especialista.

A escala Binet foi tão decisiva para o psicodiagnóstico, que tem sido
argumentado que a publicação da escala de Binet-Simon marcou o passo final da
avaliação psicológica como disciplina.
A transcendência de Binet para a avaliação psicológica atinge nossos dias; sua
escala de inteligência foi adaptada, em 1916, para a população dos EUA e, desde
então, tornou-se conhecida como o Stanford Test - Binet, sendo revista várias vezes
para adaptação e ajustes. A análise do teste realizada em 1960 e 1973, deu origem
a um novo instrumento que adotou o nome de Terman Merrill.
Esses três autores são os iniciadores da constituição da nossa disciplina, e
compartilham o mérito com outros cientistas, por exemplo, os primeiros psicólogos e
matemáticos Pearson e Spearman que, na última década da liderança do século
XIX, pensavam que para técnicas significativas é necessário o uso da estatística,
que é a base matemática necessária para os estudos de grupo da Psicologia
Diferencial, através dos quais os testes psicológicos serão construídos. (NIKAEDO,
2015)
Outra figura importante é Lightner Witmer (1867-1956), iniciador da aplicação
clínica da avaliação psicológica, criador da primeira clínica psicológica voltada para
o diagnóstico e tratamento de problemas acadêmicos e comportamentais em
crianças. Ele é um dos fundadores da disciplina de avaliação psicológica como
método científico. Seu trabalho não se limitou ao uso de testes, ele utilizou outras
técnicas, dentre elas destaca-se o método de observação. (NIKAEDO, 2015)
A compreensão e a valorização das contribuições desses pioneiros da
disciplina ainda hoje é motivo de revisão e estudo, pois permite entrar nos
fundamentos da própria disciplina.

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A constituição da avaliação psicológica como disciplina abrange um período


aproximado de 1890 a 1910, período em que o conceito de Avaliação Psicológica é
delineado como uma disciplina da Psicologia Científica, dedicada à exploração e
análise da individualidade, através da medição de aptidões e características da
personalidade, para a qual utiliza instrumentos de medida que adotam o nome de
"testes mentais". (NIKAEDO, 2015)

Figura 13 – Avaliação psicológica

Testes
Psicologia Científica
mentais
Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Depois de Binet, e na primeira metade do século XX, houve um grande


desenvolvimento na criação de instrumentos de avaliação psicológica seguindo a
linha psicométrica. Eventos internacionais favorecem esse aumento: a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) favorece o surgimento de instrumentos de avaliação
psicológica. Pede-se aos psicólogos que classifiquem os soldados com base em
dois aspectos de utilidade para os propósitos do concurso:
1. A ordenação de homens com base na capacidade intelectual, o que
motivou o desenvolvimento de testes de inteligência: o Alpha e o Beta.
2. A tipificação dos soldados quanto à possibilidade de sofrerem colapsos
nervosos, essa necessidade motivou o psicólogo americano Robert
Woodworth a elaborar a "Folha de Dados Pessoais", que é considerada,
por alguns autores, como antecedente de testes de personalidade
modernos.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) traz aos psicólogos as mesmas
tarefas, o que permite o surgimento de novos instrumentos. Entre a Primeira Guerra
Mundial e a Segunda, eles mantiveram a fase em que as hostilidades entre os
participantes de países em guerra, em que um grande número de testes
psicológicos com o modelo psicométrica era utilizado. Os instrumentos psicométricos
não são os únicos que surgem na primeira metade do século XX. De uma
perspectiva diferente e do trabalho de Freud, A interpretação dos Sonhos, publicado

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em 1900, existem algumas técnicas para o estudo da personalidade que são


chamadas de técnicas projetivas. Alguns exemplos de técnicas projetivas:
 1906: Teste de associação de palavras de C. Jung 1921: Rorschach de
Hermann
 1926: Teste do desenho da figura humana de Goodenough. 1938: Teste
de Murray
 1944: O Teste de tolerância à frustração, Rosenzweig

FIQUE LIGADO
Nas duas últimas décadas, a atenção tem se concentrado, principalmente, em
pessoas que sofreram danos cerebrais. Isso é devido ao aumento nas taxas de
sobrevivência nos últimos anos. Tal aumento foi possível graças a um maior
conhecimento médico e neuropsicológico das consequências dos danos, bem como
a criação de tratamentos mais avançados e métodos de diagnóstico que nos
permitiram chegar mais rápido e com um diagnóstico preciso.

De um modo geral, pode-se dizer que na primeira metade do século XX os


modelos psicométricos e projetivos se originam e se consolidam em sua concepção
teórica, ocorrendo um aumento considerável na produção de instrumentos e
técnicas de avaliação psicológica.
Utilizamos o termo “instrumentos psicométricos” no processo de avaliação
psicológica. Os termos psico e métricas significam: medida dos fenômenos
psíquicos. Portanto, testes psicométricos tentam medir habilidades cognitivas ou
traços de personalidade nas pessoas estudadas. Os testes psicométricos são
instrumentos estruturados, isto é, neles a pessoa tem que escolher, entre
alternativas de possíveis respostas, aquela que considera mais adequada em seu
caso particular. Por exemplo:
1. No Teste de Matrizes Progressivas de Raven, a pessoa é apresentada a
uma caixa que está faltando uma parte, a pessoa deve escolher a parte
que falta entre 6 ou 8 alternativas possíveis.
2. No teste de 16 PF de Cattell, a pessoa é apresentada a uma série de
perguntas e ela tem que escolher, para cada questão, uma das três

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respostas alternativas possíveis, a que melhor se encaixa em seu caso


particular.
A utilização dessas técnicas psicométricas vincula a avaliação psicológica a
outra disciplina no campo da Psicologia Científica, que trata da construção e
desenvolvimento de instrumentos de medida: a Psicometria. A psicometria garante
que os instrumentos de medida sejam devidamente padronizados e tenham a
validade necessária para tornar essas medidas possíveis e, ainda, possibilitar a
diferenciação de algumas pessoas em relação a outras em uma dada população.
(NIKAEDO, 2015)
Técnicas psicométricas estão incluídas no processo de avaliação psicológica.
O processo avaliativo utiliza testes psicométricos como instrumentos de medida,
com o objetivo de alcançar um assunto mais amplo, permitindo ao pesquisador criar
hipóteses de trabalho, que orientem seus procedimentos avaliativos e diagnósticos.
O modelo psicométrico de avaliação psicológica, como vimos, surge da
influência da psicologia diferencial, dada a necessidade de realizar o trabalho de
diagnóstico ou diferenciação de algumas pessoas em relação a outras. Ou seja, a
avaliação das diferenças individuais é obtida através da execução, pelos sujeitos,
em diferentes testes ou instrumentos de avaliação. (NIKAEDO, 2015)
Dessa forma, identificam-se traços ou dimensões que têm a ver com as
funções intelectuais ou com características de personalidade do sujeito estudado.
Uma vez definidas essas características, elas adquirem valor explicativo para apoiar
o estudo realizado. Esses tipos de instrumentos têm em sua base as contribuições
de Galton, Cattell e Binet anteriormente referidas. (NIKAEDO, 2015)
A fundamentação teórica que explica o modelo psicométrico considera que o
comportamento é determinado por atributos intrapsíquicos estáveis, portanto a tarefa
avaliativa consiste na busca das manifestações externas do comportamento, que
servem como indicadores do estado interno dos ditos atributos não diretamente
avaliáveis. A relação entre os atributos internos e as manifestações externas (que
são as respostas aos testes) é baseada nas técnicas correlacionais fornecidas pela
estatística; uma vez que essa relação é conhecida, e dado que os atributos internos
são estáveis, pode-se prever como será o comportamento futuro de uma pessoa.
(NIKAEDO, 2015)

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Para esses atributos internos, com base nos quais o comportamento é


explicado, dá-se o nome de traços. As características são construções teóricos,
hipotéticos, inferidos a partir da observação da covariação de comportamentos
simples.

Figura 14 – Atributos internos

Traços Construções Covariação

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Esses fundamentos teóricos podem ser explicados da seguinte maneira: todas


as pessoas têm a tendência de avaliar as outras com base em certos traços ou
aptidões que observam nelas. Por exemplo, diz-se que Pedro é muito inteligente e
João é menos inteligente que Pedro. A manifestação externa do comportamento diz
que Juan é inteligente, mas que Pedro é muito mais (notar a atribuição de atributos
estáveis a João e a Pedro, usando a manifestação externa do comportamento).
(NIKAEDO, 2015)
Diz-se também, que Pedro ainda não desenvolveu sua capacidade para a
matemática, ou seja, é sabido que Pedro tem habilidade para a matemática mas,
com base na observação, ele ainda não desenvolveu o seu maior potencial para a
matemática. Portanto, acredita-se que Pedro deveria estudar matemática, mas João
não deve estudar matemática (neste caso, considera-se, desde a manifestação
externa do comportamento de Pedro, como o atributo ou atributos internos, que
possibilitam suas habilidades em matemática e infere-se o estado da capacidade
interna, não observável, em João). Portanto, foi realizada uma "classificação" e uma
"prevenção" de um ponto de partida para o comportamento externo observado.
(NIKAEDO, 2015)
O modelo psicométrico parte de critérios semelhantes, mas usa a "objetividade"
dos instrumentos de medida. Os seguidores desse modelo acreditam que a
personalidade é formada por traços ou habilidades estáveis do indivíduo, tornando-
se sua estrutura básica de personalidade, pois eles representam: Se se tem um

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instrumento de medição projetado para mostrar a magnitude "objetiva" do traço


apresentado por cada pessoa em seu comportamento externo, pode-se predizer seu
comportamento futuro. (NIKAEDO, 2015)
As técnicas psicométricas são instrumentos que permitem avaliar em que
medida um traço interno está presente em cada pessoa; isto é, em todos os
momentos Pedro terá capacidade igual para matemática, por exemplo. O critério da
estabilidade das características é o que permite predizer o comportamento, uma vez
que a característica tenha sido medida. (NIKAEDO, 2015)

ATENÇÃO
A reabilitação neuropsicológica tem uma longa história. O início dessa disciplina têm
sido associado às guerras mundiais, em que os combatentes sofreram diferentes
tipos de lesões e/ou danos cerebrais que necessitavam de tratamento imediato e de
uma rápida recuperação.

Os resultados dos testes de inteligência e aptidão podem ser bons indicadores


do desempenho futuro do indivíduo em outros contextos, como foi comprovado, por
exemplo, no domínio do desempenho acadêmico; mas a tarefa de avaliação com
essas técnicas permanece no objetivo "qualificável e preditivo".
Dessa forma, conclui-se nesse modelo, segundo Nikaedo (2015):
 que as manifestações externas nos testes servem como indicadores do
estado interno dos atributos ou características não diretamente avaliáveis,
e que, dada a estabilidade dos atributos internos, os resultados dos testes
servem para classificar as pessoas em relação à característica estudada e
para prever seu comportamento futuro.
 que o critério do produto intrapsíquico estável dos atributos está
desenvolvendo construções hipotéticas, teóricas, inferidas a partir da
observação de comportamentos simples.
Esse modelo apresenta uma série de limitações que serão vistas adiante. O
modelo psicométrico apresenta dois aspectos em seu desenvolvimento: testes de
inteligência e aptidão e questionários de personalidade. A medição das diferentes
variáveis, em qualquer um desses dois aspectos, repousa sobre a mesma base

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cujas características já foram indicadas e que consistem na avaliação dos sujeitos


por uma série de variáveis (traços ou aptidões) consideradas estáveis no indivíduo.
Então, pode-se prever o comportamento deles depois de medidos esses traços.
(NIKAEDO, 2015)
O tipo de análise de personalidade que é feito a partir do modelo psicométrico
pretende ser objetivo e molecular, sendo a "objetividade" o aspecto mais destacado
pelos seguidores desse modelo. A objetividade é buscada com o apoio da
matemática, especificamente na psicometria, enfatizando os aspectos quantitativos
da avaliação. Realmente, os desenvolvimentos feitos na metodologia da avaliação
por essa abordagem foram significativos e definiram a tarefa diagnóstica. Os
conceitos de confiabilidade e validade têm sido e são critérios fundamentais para
julgar testes psicológicos. (NIKAEDO, 2015)

3.2 Instrumentos de medição de inteligência e habilidades

Na primeira metade do século XX, estudos psicométricos foram realizados


sobre a inteligência, dando origem a uma polêmica transcendental sobre a estrutura
fatorial da inteligência. Por um lado, a teoria dos fatores de Spearman, que
considera a existência de um fator "G". O fator "G", para o autor, é uma função ou
grupo de funções comuns a qualquer atividade intelectual. E a teoria da pluralidade
de fatores Thurstone é igualmente importante. Ambas as posições levaram à criação
de um grande número de testes destinados a medir as aptidões do indivíduo.
(MIOTTO, 2015)
Finalmente, é reconhecida a existência de um fator geral "G" que explica uma
grande parte, mas não toda a variância, e a presença de fatores que também
explicam uma parte significativa dessa variância. A avaliação psicométrica de
inteligência e habilidades mede o desempenho dos sujeitos em testes de distinção e
compara seus resultados com os de outros assuntos pertencentes a um grupo
regulamentar ou de referência, que consiste em pessoas do mesmo sexo e/ou idade
cronológica e/ou nível socioeconômico e/ou outros tipos de variáveis, a fim de obter
conclusões sobre as habilidades e déficits cognitivos do sujeito. Para fazer essa

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comparação, tabelas normativas são utilizadas, essas tabelas apresentam os


valores normativos para a referida população.
Os testes de inteligência e aptidão estabelecem diferenças na forma de
execução, dentro de uma dada situação ambiental, que podem ser usadas para
distinguir grupos de sujeitos (por exemplo, deficiências mentais de diferentes níveis,
não deficientes, baixa inteligência). Da mesma forma, os resultados dos testes de
inteligência e aptidão podem ser bons preditores do desempenho futuro do indivíduo
em outros contextos, como tem sido repetidamente comprovado, por exemplo, no
campo do desempenho acadêmico. Mas a tarefa avaliativa com esses testes termina
no objetivo classificatório e preditivo. (MIOTTO, 2015)

Figura 15 – Testes de inteligência

Execução Situação Distinção

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Já no início dos anos sessenta, ao falar sobre os usos e abusos de testes,


Anne Anastasi (1970) comentou que um uso incorreto comum de testes veio da
confusão da mensuração com a etiologia. Ela então se referiu à influência de fatores
ambientais nos escores dos testes, uma vez que as amostras comportamentais são
medidas e, como tais, estão sujeitas à incidência de fatores ambientais, devendo
limitar o uso dos testes para comparar diferentes grupos, antes da pergunta:
“Quanto esses grupos diferem sob as condições culturais existentes?” (MIOTTO,
2015)
Pode-se concluir, em relação à avaliação psicológica feita com instrumentos de
medida, a importância que eles têm no desempenho que é alcançado em um teste,
as condições que cercam a pessoa em um dado momento, que é independente da
real possibilidade de que ela tem em termos do que é medido.
O outro lado do modelo psicométrico são os questionários de personalidade.
Para a avaliação da personalidade, um grande número de técnicas foi projetado. Do
ponto de vista teórico, o questionamento dos testes de personalidade psicométrica

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centra-se na consistência do comportamento, em diferentes situações comparadas à


especificidade situacional da mesma.
Defensores da consistência comportamental, independentemente da situação,
explicam o comportamento baseado em disposições ou traços que já foram dados.
Cita-se algumas considerações a esse respeito: aquelas que elevam a consistência
dos traços de personalidade por características físicas da pessoa. Entre aqueles
encontram-se Sheldon e Kretschmer. Outros autores consideram a estabilidade do
comportamento baseada em variáveis fisiológicas como é o caso de Eysenck,
Claridge e Cattell, por exemplo. Eles incorporam condições ambientais quando se
fala do comportamento, mas a partir de uma posição que enquadra a endógeno ou
já é dada como característica estável na interação do processo de ambientação do
indivíduo, o que resulta, portanto, em uma forma de interrelação única para cada
sujeito. Outros autores acreditam que o comportamento é biologicamente fixo na
espécie humana, como acontece com os animais; em suma, essa posição deixa
uma margem nula ou muito estreita para o fator histórico-pessoal e sociocultural na
determinação do comportamento. (MIOTTO, 2015)
Os objetivos da avaliação com os questionários de personalidade estão
restritos à classificação e predição, como foi mencionado anteriormente, para os
testes que medem habilidades cognitivas. Os construtos utilizados nesses testes são
inferidos de forma similar, são hipotéticos, permitindo-nos apenas obter conclusões
sobre dados comparativos de grupos de pessoas, com base na norma populacional.
Esses instrumentos permitem encontrar correlações entre comportamentos, sendo
capazes de predizer o comportamento com certa probabilidade. Os traços não
possuem dimensão explicativa do comportamento das pessoas, pelo menos a
maioria das características derivadas do modelo psicométrico, e carecem de
utilidade para o tratamento. (MIOTTO, 2015)

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FIQUE ATENTO
Durante a Segunda Guerra Mundial, na União Soviética, surgiu a figura de
Alexander Luria, cujas observações de pacientes com dano cerebral focal, estendeu-
se ao conhecimento aos distúrbios da linguagem, percepção, memória e funções
executivas, dando a ideia de que a recuperação não deveria ocorrer apenas em um
nível físico, mas também dentro de um contexto social.

Os testes psicométricos são instrumentos estruturados em que o avaliado tem


que escolher entre respostas alternativas, o que ele considera mais adequado em
seu caso particular. Miotto (2015) comenta as várias características desse modelo:
 Os testes psicométricos baseiam-se no princípio de medir a execução das
pessoas que os compõem e comparam os seus resultados com os
obtidos por outros sujeitos pertencentes ao grupo normativo ou de
referência. Grupo normativo que é constituído por pessoas do mesmo
sexo e/ou idade cronológica e/ou nível socioeconômico e/ou outro tipo de
variáveis, para obter conclusões sobre as habilidades cognitivas dos
sujeitos estudados.
 Nesse modelo, o comportamento é entendido como determinado por
atributos intrapsíquicos estáveis, de modo que a tarefa avaliativa consiste
na busca por manifestações externas (que são as respostas dadas nos
testes). Essas manifestações servem como indicadores de distúrbios
internos que não podem ser avaliados diretamente. As relações entre
atributos internos e manifestações externas são baseadas em técnicas
correlacionais.
 Os atributos internos, com base nos quais o comportamento é explicado,
são chamados de traços. Os traços são hipotéticos, construtos teóricos,
inferidos a partir da observação da covariação de comportamentos
simples.
 Técnicas psicométricas, portanto, são instrumentos para avaliar traços ou
aptidões, que em uma ou outra magnitude, conformam a estrutura básica
da personalidade em qualquer ser humano. Em sua concepção, é o

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critério da estabilidade dessas características nas pessoas, o que permite


predizer seu comportamento, uma vez medido.
 Esse modelo não leva em consideração o contexto no qual a pessoa que
responde ao teste está imersa.
As técnicas projetivas devem o seu nome ao teste de triagem, introduzido por
Freud, em 1894 e, de novo, feito em 1896, em seu livro The Neuropsicoses, trabalho
onde defende o conceito de projeção, cunhando-o como um mecanismo de defesa.
Desde então, esse conceito é compreendido como o mecanismo através do qual se
atribuiu a outros (pessoas ou objetos) sentimentos e propósitos internos emocionais
reprimidos que, se conscientizados criam ansiedade, por isso a outra pessoa,
liberando o sujeito do estado de tensão que tais emoções produziriam. (MIOTTO,
2015)
Mais tarde, em seus estudos Freud amplia novamente seu conceito de
projeção para condições não patológicas. Nessa oportunidade, ele considera a
projeção como um mecanismo pelo qual as percepções internas, provocadas por
processos conscientes ideacionais e emocionais, são projetadas no mundo externo.
Apesar da nova direção que leva à projeção a longo prazo, o conceito ainda é usado
por muitos autores como um mecanismo de defesa para liberar a ansiedade,
adjudicar outros aspectos indesejáveis de si mesmo. (MIOTTO, 2015)

SE LIGA
Reabilitação neuropsicológica pode ser definida como todas as atividades que visam
melhorar o desempenho cognitivo geral ou seus processos e/ou componentes em
pacientes com algum tipo de lesão no sistema nervoso central.

Apesar da data em que Freud introduziu a projeção, foi somente em 1939 que
as técnicas, que hoje são referidas como projetivas, receberam esse nome. O
psicólogo americano LK Frank (1939) é quem escolhe nomear “técnicas projetivas”
para esses testes, cujo estímulo é de estruturação ambígua e dá liberdade para
responder ao assunto sem que a pessoa esteja plenamente consciente do objetivo
dessa avaliação, permitindo, assim, que através da resposta, revele-se, ou projete-
se no exterior, os estilos básicos de personalidade do sujeito e estados mentais

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transitórios por onde passa. É importante notar que Frank utiliza o termo "projeção"
no sentido amplo do conceito dado por Freud. (MIOTTO, 2015)
Para a data em que Frank chama esse tipo de evidência como “técnicas
projetivas” já eram conhecidas algumas, cujas características se encaixam nessas
descrições:
 Técnica de associação de palavras ,de Jung, que aparece em 1905.
 Manchas de tinta do teste de Rorschach Hemann, em 1921.
 Teste de Apercepção, do renomado TAT Murray de 1938. (MIOTTO,
2015)
Quando o conceito de projeção é usado, fala-se da externalização de um
mecanismo de defesa. Frank define o que se entende por projeção: "Todos têm um
mundo privado, que é estruturado de acordo com os princípios organizacionais da
sua personalidade, e os testes projetivos estudam esses princípios organizacionais,
induzindo o assunto para explicá-los, utilizando um material não-estruturado que o
assunto incorpora em seu mundo privado ".(MIOTTO, 2015)
As técnicas projetivas baseiam-se no pressuposto de que:
 Existe uma estrutura de personalidade básica e estável. Tal estrutura
consiste em certas características ou dimensões que estão organizados
idiossincraticamente. As respostas dos sujeitos a essas técnicas permite
explorar essa estrutura.
 Facilitam alcançar diferentes níveis de profundidade na análise da
estrutura da personalidade.
 Permitem uma relação entre o produto e a execução dos testes e não
observação da estrutura. A análise de estrutura de personalidade assim
obtida permite prever o comportamento.
 Qualquer resposta ao material projetivo não é acidental, mas é
significativo e será entendido como um sinal de personalidade do sujeito.
 Os estímulos mais ambíguos são uma técnica projetiva, na qual as
respostas mais o sujeito refletem a personalidade do mesmo.
 A análise que são submetidas as respostas dos sujeitos a técnicas
projetivas deve ser fundamentalmente qualitativa e global.
As técnicas projetivas apresentam alguns problemas não resolvidos, como:

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 Ausência de um quadro teórico homogêneo. A psicanálise tem sido o


arcabouço teórico de maior influência no uso dessas técnicas.
 Falta de digitação dos slogans do aplicativo, os procedimentos de
qualificação, correção e interpretação.
 Necessidade de treinamento intenso e extensivo para trabalhar no
processo de interpretá-los. (MIOTTO, 2015)

IMPORTANTE
A reabilitação neuropsicológica consistiria, portanto, em combinar todos os métodos,
técnicas e instrumentos necessários para reduzir a incapacidade subjacente,
permitindo que os pacientes atinjam um nível ideal de integração social.

Nunca testes projetivos podem ser usados como meios exclusivos para o
diagnóstico. As informações fornecidas por essas técnicas são hipóteses que
precisam ser corroboradas por outros testes quantificáveis, tais como testes de
inteligência e personalidade e, claro, através de entrevistas com o paciente e as
pessoas próximas a ele. Uma característica de personalidade obtida em qualquer
teste será levada em conta se tiver consistência estatística, isto é, se estiver
presente em vários testes. (MIOTTO, 2015)
As técnicas projetivas são classificadas como:
Estruturais: são aquelas técnicas que apresentam o assunto com um material
visual de escassa estruturação e o paciente deve estruturar esse material, dizendo
"o que ele vê", por exemplo o Rorschach.
Tópicos: são técnicas que apresentam o assunto com material visual com
diferentes graus de estruturação de conteúdo humano ou parahumano e o sujeito
deve narrar uma história estruturando o conteúdo desse material dessa forma.
Exemplo de técnica temática é o TAT de Murray.
Construtivas: são técnicas nas quais o material da construção é dado ao
sujeito, ele deve organizá-lo e construir algo.
Expressiva: técnicas nas quais o sujeito recebe um slogan verbal ou escrito
para desenhar uma figura. Exemplos são o teste da figura humana e o teste da
família.

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Associativo: técnicas em que o assunto é dado em um slogan, verbal ou


escrito. O sujeito deve expressar, verbalmente ou por escrito, suas associações com
palavras, frases ou histórias, um exemplo das quais são as sentenças incompletas
de Rotter. (MIOTTO, 2015)
Os testes de inteligência e aptidão estabelecem diferenças na forma de
execução, dentro de uma determinada situação ambiental, que podem ser usadas
para distinguir grupos de sujeitos, por exemplo, deficientes mentais de diferentes
níveis; não deficiente; baixa inteligência etc.
Da mesma forma, os resultados de testes de inteligência e aptidões podem ser
bons preditores do desempenho futuro do indivíduo, mas é sempre necessário
integrar esse resultado com a informação geral que está disponível para a pessoa
antes de tomar a decisão final, como Já foi comentado anteriormente que esses
resultados podem ser permeados por outros aspectos não relacionados às
possibilidades reais que um sujeito tem individualmente. (MIOTTO, 2015)
Esses instrumentos são uma maneira de obter uma medida "objetiva" dos
traços que são estudados em um assunto em um dado momento, o que permite a
criação de hipóteses de trabalho para o pesquisador.
Desse modo, os testes são um meio auxiliar para o diagnóstico individual e
diferencial da personalidade. Esses instrumentos são fáceis de aplicar e, na maior
parte, também são fáceis de se qualificar. (MIOTTO, 2015)

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