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Advogado

x
“Adevogado”
Qual deles você quer ser?
Geraldo Cossalter

Advogado
x
“Adevogado”
Qual deles você quer ser?
Direção Editorial:
Marco Aurélio Lucchetti

Edição:
Marco Aurélio Lucchetti

Programação Visual:
Gabriel “Billy” Castilho

Copidesque e Revisão do Texto:


Marco Aurélio Lucchetti

Ficha catalográfica elaborada por Kamila Veronese (CRB 8/7335)

Cossalter, Geraldo Domingos


C836a Advogado x adevogado, qual deles você quer ser?
/ Geraldo Domingos Cossalter. – Ribeirão Preto :
Paradoxo Editorial, 2014.
102 p.

ISBN 978-85-917905-0-0

Inclui bibliografia

1. Direito. 2. Direito – Língua portuguesa. I.


Título.

CDU: 340
SUMÁRIO

PREFÁCIO 21
INTRODUÇÃO 23
ESCLARECIMENTO SOBRE A PRONÚNCIA
“ADVOGADO” 29
O ADVOGADO E O “ADEVOGADO” 31
O CONCEITO DA CHAVE MESTRA 35
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA 39
A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS ORAIS E ESCRITOS 43
A PRODUÇÃO DE TEXTOS 49
A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 53
O POLIGLOTA DA LÍNGUA MÃE 59
TEXTOS ÉTICOS E OBJETIVOS 63
A ORATÓRIA COLOQUIAL, CULTA E TÉCNICA 67
A ARTE DA PERSUAÇÃO ORAL E ESCRITA 73
A ANÁLISE HUMANA 77
A REFLEXÃO 81
A ALTERIDADE 85
A VOCAÇÃO 91
A HUMILDADE, A SIMPLICIDADE E A SOBERBA 95
EPÍLOGO 99
Geraldo Cossalter

HOMENAGEM

Peço licença ao caro leitor para homenagear minha querida


Nita (Tânia), pelos 33 anos de cumplicidade.
Eu amo você, Tânia; sua fidelidade me faz um homem
honrado e feliz. Obrigado pelas noites mal dormidas, pelas manhãs
de trabalho árduo, pelos dias de estudo e inúmeros finais de semana
sem lazer, quando estive debruçado sobre os livros. Obrigado por me
incentivar e por acreditar em meu trabalho!
Quero também prestar uma homenagem ao Rafael, nosso
menininho, que há 23 anos se foi.
Fruto do nosso amor, sua presença é constante em tudo o
que faço. E, por esta razão, jamais irei desistir de lutar pela vida.
Eu amo você, meu filho, anjinho que Deus nos emprestou
um pouquinho!

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Geraldo Cossalter

DEDICATÓRIA

“A humanidade quer sempre ir além de seus limites.


Isto é uma grande mentira! A grande verdade é que a
maioria dos homens teme ir além de seus limites.”
Geraldo Cossalter, 2013

Eu sempre tive o desejo de cursar Direito. E, sem que


haja uma explicação qualquer, passei pelo menos dez anos indo de
faculdade em faculdade, com a intenção de me matricular; mas,
quando chegava o momento de começar o curso, eu acabava deixando
para o ano seguinte. No momento em que definitivamente fui cursar
Direito, eu contava cinquenta anos e acabara de me aposentar.
Isto ocorreu no final do ano de 2011, quando conheci o Prof.
Alexandre Meneghin Nutti. Naquela época, o Prof. Nutti era o vice-
coordenador do curso de Direito da UNIP, Campi Vargas, Ribeirão
Preto, SP. Em 2012, quando comecei o curso, ele havia se tornado
o coordenador do curso de Direito. Voltando em 2011, tão logo o
Prof. Nutti me contou a história de seu pai, um grande advogado que
se formou com mais de quarenta anos, percebi que minha hora havia
chegado finalmente. Eu poderia ficar pelo resto da vida aposentado,
vivendo uma vida sem perspectivas, já que viver da aposentadoria

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Advogado x Adevogado

em nosso país é tarefa muito difícil. Eu também poderia ficar sem


fazer nada ou pescar vez ou outra; entretanto, não era exatamente
o que eu queria fazer. Apesar de estar aposentado, continuava a
trabalhar como administrador, mesmo assim me faltava algo. Após
experimentar muitas dúvidas, concluí que cinquenta anos não é idade
para estar apenas aposentado, pelo menos para mim, porque sei que
eu morreria pouco a pouco, se deixasse meu desejo passar em branco
por esta vida. Diante disto, decidi finalmente iniciar a realização do
maior projeto que sempre tive desde minha juventude; aliás, acabei
por descobrir que o Direito não era apenas um projeto, e sim minha
verdadeira vocação. Acabei descobrindo que o Direito é uma missão
nobre e não apenas uma profissão. Descobri que a missão social do
profissional do Direito tem relação direta com a essência humana.
E foi aí que enxerguei a razão de estar vivo, pois em vão será minha
vida, se jamais puder exercer o Direito em prol das pessoas. Quando
eu era um adolescente, a vida me levou para muitos caminhos, já
que precisava trabalhar e não podia seguir o caminho dos estudos;
porém, nunca esqueci o Direito. Todavia, antes de iniciar o curso, eu
jamais havia imaginado que pudesse encontrar uma forma de pensar
tão ampla, pois sempre enxerguei o Direito bem direito, até porque
sempre me achei direito. No entanto, chegando ao lançamento desta
obra, posso assegurar que o Direito continua direito e eu também.
Hoje, sei que nem tudo o que eu acreditava ser direito é direito.
Não apenas para o Direito, uma vez que na vida somos muitas vezes
levados a acreditar em um mundo irreal e cheio de falsas verdades.
Mas o que é realmente ser direito? Que é o Direito? Quando passei a

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Geraldo Cossalter

enxergar o Direito sob um prisma que nunca imaginei existir, pude


ver que há um conceito inicial para este mundo. Fiquei pasmo pela
sua simplicidade. Não pelo seu conteúdo, visto que este é bastante
complexo; mas exatamente por ser tão simples de enxergá-lo. Fiquei
empolgado e ao mesmo tempo preocupado. Quando cheguei para a
primeira aula, eu me sentia tranquilo, acreditando que minha idade
e experiência de vida certamente iriam contribuir muito com meu
desempenho. Ledo engano! Então, por meio das aulas e das lições
de meus mestres, a realidade humana e a abrangência do Direito,
pude ver o quanto eu preciso estudar, pois, geralmente, o assunto
principal desta obra é desprestigiado por muitos, podendo ser
calouros, veteranos e até mesmo profissionais do Direito. Olhando
sempre por este prisma, fundamentei em meus pensamentos que
existe uma matéria que conceituo como a porta de entrada para o
complexo mundo do Direito. Tal porta de entrada intitulei

“o conceito da chave mestra”; e tal


“chave mestra”

me foi apresentada pela Profª Dra. Ana Dorotéia Arantes Medeiros,


a quem dedico esta obra.

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Geraldo Cossalter

AGRADECIMENTO

Foram muitas horas de trabalho e reflexão. Estou feliz e


agradecido. A publicação desta obra de natureza muito simples foi
possível graças ao aprendizado que pude obter de meus mestres. A
influência que cada um deles exerceu em meus pensamentos é o
combustível que gerou este resultado. Minha responsabilidade é
maior de agora em diante, pois, ao reunir citações, pensamentos
e matérias que com eles aprendi, consegui dar início a uma nova
forma de pensar. Reconheço a importância de tê-los ouvido e,
principalmente, por ter absorvido a essência de seus ensinamentos.
Posto isto, tenho a honra de relacionar seus nomes em
ordem alfabética como forma de lhes render a minha eterna gratidão:

Dr. Alexandre Meneghin Nutti


Dr. André Luiz Carrenho Géia
Dra. Ana Dorotéia Arantes Medeiros
Dr. Humberto Rocha
Mestra Juliana Souza Lopes
Prof. Leandro Vila Torres
Dr. Luiz Henrique Beltramini
Dr. Luiz Vicente Ribeiro Corrêa
Dr. Marcelo Velludo Garcia de Lima
Dra. Maria Ester V. A. Monteiro de Barros

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Advogado x Adevogado

Dr. Matheus Marques Nunes


Dr. Ricardo Velasco Cunha
Dr. Rodrigo Forcenette
Dr. Samuel Nobre Sobrinho
Dra. Tríssia Maria Fortunato Paes de Barros.

Suas lições jamais serão esquecidas.

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Geraldo Cossalter

OUTRO AGRADECIMENTO

A UNIP, Campi Vargas, Ribeirão Preto, SP, me acolheu,


oferecendo estrutura, atendimento, recursos para o aprendizado e,
acima de tudo, uma equipe de profissionais exemplares em todas as
áreas. Este conjunto denota a cultura voltada para o ser humano,
razão de meu orgulho em carregar o seu nome pelo resto de minha
vida.
Na pessoa da vice-reitora Profª Melânia Dalla Torre,
agradeço e enalteço a Universidade Paulista pelas oportunidades que
aqui pude encontrar.
Obrigado, UNIP. Seu nome é o meu escudo!

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Geraldo Cossalter

ÚLTIMO AGRADECIMENTO

Há vários anos, fui indicado ao Dr. Cristiano, um jovem


e competente advogado. Na ocasião, eu necessitava de orientação
jurídica; e ele pensou que eu fosse um advogado. Com o passar dos
anos, tornamo-nos amigos; e, por diversas vezes, ele me incentivou
a cursar Direito.
Quando eu comecei a cursar Direito, tive o privilégio de ser
convidado pelo Dr. Cristiano, a participar de palestras e atividades
promovidas pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), 12ª
Subsecção de Ribeirão Preto, SP. E, por seu intermédio, conheci e
tenho conhecido pessoas que muito têm ajudado em minha trajetória
como estudante de Direito.
Tenho participado de diversos eventos. E asseguro que
estas oportunidades têm sido importantes para aprimorar o meu
conhecimento. É a Casa da Advocacia cumprindo o seu papel
social democraticamente. Penso que o aluno de Direito e o cidadão
deveriam participar dos eventos lá realizados, já que promover a
cidadania é o principal objetivo desta casa. Com certeza, a OAB já
faz parte de minha formação e continuará a fazer sempre, até porque,
lá tenho encontrado respostas para muitas dúvidas e muitas dúvidas
para novas respostas.

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Advogado x Adevogado

Na pessoa do Dr. Cristiano Jacob Shimizu (aquele


jovem advogado do início da história), da Dra.Thaís Helena
Cabral Kourrouski, da Dra. Marília Constantino Vaccari e do
atual presidente, Dr. Domingos Assad Stocco, enalteço o trabalho
e agradeço a receptividade de todos os membros da OAB, 12ª
Subsecção de Ribeirão Preto SP, casa, onde já me sinto em casa.

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Geraldo Cossalter

MENSAGEM ESPECIAL

Geraldo, especial aluno:


Percebi que você construirá pela vida de aluno, futuro
profissional, aos poucos na UNIP, lutando e vivendo cada momento,
absorvendo experiências de vida, cultura e tudo que há de melhor na
vida universitária.
Simplicidade é a sua tônica, e será sua vitória!
Obrigada por honrar a UNIP!

Melânia Dalla Torre – Vice-Reitora, Campi Vargas, Ribeirão


Preto, SP

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Geraldo Cossalter

PREFÁCIO

O bom vernáculo no exercício profissional é o tema deste


livro-manual, de autoria do admirável acadêmico do curso de Direito
da UNIP – Universidade Paulista, Campi Vargas, Ribeirão Preto,
Geraldo Cossalter. É uma obra voltada não só para o acadêmico em
Direito, mas também para todo e qualquer profissional, quer ainda
estudante ou não.
Livro bom deve ser lido por todas as pessoas. Este, do qual
tenho a honra de prefaciar, deve ser lido por todos os operadores do
Direito e especialmente pelos universitários do curso de Direito, já
que a palavra ou a boa verve é a arma de quem tudo na vida quer
fazer benfeito, isto é direito.
Embora o livro nos mostre as razões para ter uma boa
redação na atuação do estagiário de Direito e do advogado, esta obra,
pelas considerações que lhe foram dedicadas, a objetividade, síntese
e a preocupação do autor para com os universitários, bacharéis em
Direito em tempo de prestar o exame de ordem, diz respeito não
apenas à Advocacia, mas também a outras pessoas que diuturnamente
tentam a efetivação do Direito e a conquista do ideal de justiça.
Valor este buscado pelo homem de há muito e muito tempo.
Por oportuno, vivemos momentos que os cidadãos estão
exigindo vertiginosas mudanças na sociedade brasileira, que cada

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Advogado x Adevogado

vez mais se faz monossilábica nos seus relacionamentos pessoais


e eletrônicos. E o autor, com este manual, procurou mostrar a
necessidade da boa escrita. E, neste passo, este livro é um presente
para os universitários, sobretudo para aqueles que desejam ingressar
no mundo do Direito, na OAB, pois se trata, consoante dito, de
um manual de fácil compilação, entendimento e com alguns
pronunciamentos de seus professores da UNIP.
Portanto, antevejo e auguro excelente sucesso no mercado
livreiro (embora este não seja o seu objetivo) para esta obra de
autoria de Geraldo Domingos Cossalter, acadêmico que conheci na
universidade e que com ele também aprendo, respeito, admiro e de
cuja amizade tenho o privilégio de hoje usufruir.

Ribeirão Preto, agosto de 2014


Luiz Vicente Ribeiro Corrêa, advogado há 33 anos; professor
universitário há trinta anos; e ex-presidente (2001-2003) da OAB 12ª
Subsecção de Ribeirão Preto, SP

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Geraldo Cossalter

INTRODUÇÃO

“A compaixão consiste em abdicar da arrogância e


compreender que também sou imperfeito.”
Geraldo Cossalter, 2012

No mundo do Direito, o glamour é valorizado por muitos,


ou quem sabe até seja o principal motivo para grande parte daqueles
que pretendem um dia se tornar bacharel em Ciências Jurídicas e
depois advogado (a). Sim, o glamour, pois se trata de uma profissão
reconhecidamente respeitada, admirada e – por que não dizer?
incompreendida; mas glamorosa, sempre glamorosa. Afinal, a
profissão pode representar um sonho, uma tradição de família ou
pode ser uma opção para realizações financeiras. É também uma
forma de participar de concursos e se tornar um funcionário publico
com uma carreira estável. Não importa, até porque existe uma
infinidade de razões; entretanto, ter vocação para o Direito implica,
acima de tudo, dedicação, estudo e pesquisas constantes e amor pela
humanidade.
Provavelmente existam muitos outros motivos; porém,
o fato é que o caminho dos estudos e do conhecimento deve ser
percorrido de uma maneira única, já que um (a) advogado (a) mal

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Advogado x Adevogado

informado (a) e malformado (a) enfrentará dificuldades imensas.


Todo universitário precisa compreender que, para se tornar um
grande profissional do Direito, deve incorporar e assimilar muitas
etapas; aliás, são tantas etapas, que chego a me perder se for enumerá-
las uma a uma, pois não existe uma sequência lógica ou um manual
que nos leve diretamente ao ponto do total conhecimento do Direito,
uma vez que o Direito requer um aprendizado que jamais terá fim!
Não existe um caminho predeterminado que levará o estudante
ao conhecimento total e exato do Direito. Isto é impossível, razão
pela qual o legítimo profissional do Direito deve ser, antes de tudo,
um eterno estudante. O futuro profissional do Direito, a partir da
data que inicia o curso, passa a ter a necessidade permanente de
estudar. Não apenas até o quinto ano, ou até conseguir a tão sonhada
carteira da OAB; mas deverá estudar e pesquisar sempre, já que o
Direito é muito amplo. O Direito não é rígido e nem tampouco
tem as mesmas respostas ou os mesmos resultados em situações
que aparentemente são iguais. A propósito, nada no Direito é
igual, nada no Direito é constante, nada no Direito é certeza. A
única certeza que podemos ter é a necessidade da constante busca
do conhecimento e aprimoramento profissional e pessoal. Para
aquele que quer se tornar um grande profissional do Direito, para
aquele que tem vocação para o Direito, deixo aqui uma pequena,
porém valiosa dica, que poderá fazer toda a diferença durante a
vida: jamais deixe de “estudar, pesquisar, compreender e interpretar o
Direito” pelo resto de sua vida, sempre mantendo a mente preparada
para enxergar horizontes novos todos os dias, porque jamais haverá

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Geraldo Cossalter

algum tipo de tecnologia que possa substituir o pensamento e o


conhecimento. Tecnologia alguma poderá substituir a linguagem ou
a língua, tecnologia alguma irá substituir a expressão. A eficiência do
aprendizado dependerá exclusivamente de seu interesse individual
e da forma como irá progredir dia a dia, seja na sala de aula, seja
fora dela e principalmente nas relações humanas, afinal; ninguém
aprende isolado ou sozinho.
Jamais espere que tudo venha com facilidade, pois sua
responsabilidade como estudante de Direito é muito grande e tem
início desde a primeira aula. Jamais eleja os mestres como culpados
pelo seu fracasso, já que, para um mestre, o sucesso de seus discentes
é o maior prêmio que pode receber. Portanto, tenha sempre a certeza
de que você é o grande responsável pela sua trajetória e pelo sucesso
ou fracasso que atingir. Muitos, quando entram em sala de aula pela
primeira vez, ficam imaginando e pensando diversas coisas, tais como
as matérias, como são os mestres, como serão os trabalhos, a pausa
para o lanche, as paqueras, as festas, os livros mais importantes, a
formatura, a festa de formatura, enfim existem tantas dúvidas, tantas
vontades, tantas necessidades que chegam a deixar alguns confusos
e outros inseguros. Pois bem, diante do exposto, posso afirmar que
existe uma matéria que é a “chave mestra” que abre a porta para
o mundo do Direito. Quando passei a enxergar esta matéria sob
este prisma, pude começar a enxergar pelo mesmo prisma todas as
demais matérias. Obviamente que todas as matérias são de extrema
importância; mas, como tudo na vida tem um início, passei a refletir
sobre o assunto e, agora, decidi exteriorizar o “conceito da chave
mestra”.
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Advogado x Adevogado

Mas que conceito é este?


Que é a chave mestra?
Talvez as leis, os códigos?
Não seria a Filosofia?
Talvez a Psicologia?
Que tal as Instituições Judiciárias?
Direito civil, trabalhista, penal?
Direito público ou privado?
Seriam os direitos fundamentais?
Direito penal ou História do Direito?
Direito constitucional?
Direito processual civil, penal?
Sim, todas elas e muitas outras formam o conjunto que
deverá ser compreendido e assimilado, pois individualmente todas
são importantes; porém, em conjunto elas se completam, haja vista
que o Direito é um só. O Direito é subdividido para promover
uma melhor compreensão didática; todavia, é um único bloco. De
qualquer maneira, o “conceito da chave mestra” elege uma matéria
como sendo aquela que deverá receber uma atenção especial desde o
início do curso de Direito, visto que, sem o seu domínio, dificilmente
se conseguirá dominar as outras matérias. Talvez ela possa ser a mais
desprezada pelos universitários e até mesmo por muitos profissionais
do Direito; entretanto e sem qualquer dúvida, sempre será a matéria
que, desde que seja compreendida e aplicada corretamente, fará do

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Geraldo Cossalter

estudante de Direito um (a) futuro (a) advogado (a). Caso contrário,


o que acabaremos vendo será um (a) “adevogado (a)”.
Qual deles você quer ser?

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Geraldo Cossalter

ESCLARECIMENTO SOBRE A PRONÚNCIA


“ADVOGADO”

Quando se tem, em determinado vocábulo,  p+e,


pronuncia-se  pe; já  p+i  soa, logicamente,  pi.  Psozinho, todavia,
não seguido de vogal alguma na palavra, não é pe nem pi; constitui
apenas um ruído, e não um som, uma vez que este se caracteriza
pela presença de uma vogal (a, e, i, o, u).
Deve-se ter em mente essa realidade, quando se está diante
de palavras com consoantes desacompanhadas de vogais: absoluto,
administração, admirar, advogado, captar, optar, pneu, psicologia.
Tente o leitor, como exercício, pronunciar, diferenciando
pe,  pi  e simplesmente  p. Quando notar a diferença, verá, por
exemplo, que a pronúncia não será  p(i)neu  nem  p(e)neu, mas
apenas  pneu. Em seguida, tente exercitar-se na pronúncia de
outras palavras que tenham consoantes desacompanhadas de
vogais, como as da lista anterior.
Quando isso ocorrer, há de verificar, para o caso específico
da consulta, que não se pronuncia ad(e)vogado nem ad(i)vogado,
mas apenas advogado.
Acrescente-se, ainda, que a parte da Gramática que cuida da
correta pronúncia dos vocábulos chama-se ortoepia (ou ortoépia).
E Eliasar Rosa, a respeito de advogado, faz a seguinte advertência:

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Advogado x Adevogado

“É comum ouvir o barbarismo:  adevogado.”1 Epêntese


viciosa que até advogados cometem, porque não proferem
muito ligeiramente o  d, mas lhe acrescentam, na pronúncia,
um e inexistente.
Esclareça-se, por fim, que  epêntese viciosa  é a inserção
equivocada de um ou mais fonemas no meio de uma palavra,
geralmente para facilitar a pronúncia.

Cf. ROSA, Eliasar.  Os Erros Mais Comuns nas Petições.


1

9ª. ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1993, p. 23.

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Geraldo Cossalter

O ADVOGADO E O “ADEVOGADO”

“Quanto mais advogados bons, pior para você; a


concorrência será grande.”
Prof. Matheus Marques Nunes, 2012

Quando falamos do advogado, logo imaginamos um


profissional muito bem trajado, conceituado, respeitado e, acima de
tudo, bem-sucedido. Isto vale para todos os profissionais da área do
Direito, homens e mulheres, pois não estou distinguindo sexo e sim
falando do profissional.
O (a) advogado (a), para obter o título precisa ser
necessariamente bacharel em Ciências Jurídicas, ter aprovação nas
duas fases do exame da OAB, pagar uma anuidade e assim estar apto
para advogar.
Sabemos muito bem que o (a) advogado (a) necessita
passar por todas estas fases, mas e o (a) “adevogado (a)”?
Obviamente que o “adevogado (a)” não existe e é apenas
uma forma de expressão que poderá ter muitos significados. No
nosso caso, trata-se de uma forma folclórica de descrever o mal
profissional.

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Advogado x Adevogado

Obviamente que, em toda e qualquer profissão, iremos


encontrar aqueles que de alguma forma acabam se tornando
exemplos que não devem ser seguidos; porém, não pretendo falar
dele, mas do verdadeiro profissional do Direito, o (a) advogado (a).
Tal profissional do Direito tem premissas que devem fazer parte de
sua vida cotidiana, pois é um formador de opinião e, pelo fato de
conhecer as leis, tem a obrigação de ser um agente da e na sociedade.
A ética, o caráter, a civilidade, a cortesia, a boa-fé, a
integridade, as boas relações, o respeito e a verdade são alguns deveres
de todo cidadão; entretanto, o (a) advogado (a), por ser exemplo a
ser seguido e formador de opinião, tem a responsabilidade de jamais
abdicar de tais práticas. O (a) advogado (a) tem uma nobre missão
social e, por esta razão, deve carregar consigo, por toda a vida, o
compromisso de sempre cumprir deveres, antes de exigir direitos.
Como nos ensina o Prof. Luiz Henrique Beltramini,
“o (a) advogado (a) tem por obrigação ser parte da solução e não do
problema que lhe é apresentado”.
Muitos profissionais do Direito acabam por acumular erros
— seja pelo despreparo, seja pela falta de conhecimento ou até de
informação — e acabam perpetuando erros nos processos. Erros
esses que muitas vezes prejudicam o cliente e a si mesmos. Tais erros
estão ligados diretamente ao “conceito da chave mestra”.
Praticar o Direito é estudá-lo e jamais abandoná-lo, pois
está aí o cerne de todo o conhecimento jurídico. Está aí o epicentro
de todo o conhecimento que todo profissional do Direito deve ter,
pois, sem tal prática, o profissional, com certeza, estará fadado ao

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Geraldo Cossalter

fracasso perante seus pares, perante magistrados e promotores e


perante seus clientes.
O fascinante mundo do Direito deixa qualquer calouro
em estado de ansiedade desde a primeira aula, já que são muitas
dúvidas, são muitas expectativas, são muitos pensamentos que fazem
deste momento tão especial algo indescritível e ao mesmo tempo
temeroso.
Juiz ou Promotor?
Delegado ou Cartorário?
Concursos públicos?
Profissional liberal?
Consultor?
Advogado (a) especialista em que área?
São tantas oportunidades, que muitos chegam ao ponto
da incerteza até mesmo quando estão próximos de se formarem ou
até quando já estão formados.
Logo no início do curso muitos têm em mente que as
principais matérias são as relacionadas às leis. Outros acreditam que
interpretar as leis é o fator preponderante para se tornar um bom
profissional. Outros ainda acreditam que seguir a lei corretamente
bastará para se tornar um profissional exemplar.
Pense comigo:
São tantas matérias, tantos trabalhos, tantos livros, tantos
questionamentos, que muitas vezes o estudante não consegue
compreender a importância do conjunto formado pelas matérias
que se completam com o passar do tempo e do aprendizado.

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Advogado x Adevogado

Quando o aluno não consegue tal compreensão,


provavelmente deixou algo passar despercebido, deixou passar algo
de grande importância. E é aí que a compreensão do Direito acaba
ficando difícil para alguns e impossível para outros.
Muito bem, já descobriram o “conceito da chave mestra”?
Ainda não?
Pois bem. Em nosso próximo capítulo, finalmente iremos
começar a tratar deste assunto, razão desta obra. E o leitor começará
a compreender o tamanho de sua importância, haja vista que, sem
ela, e absolutamente sem ela, jamais iremos compreender todas as
demais matérias.

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Geraldo Cossalter

O CONCEITO DA CHAVE MESTRA

“Aconselho o universitário do curso de Direito a ter sempre


consigo um bom dicionário da Língua Portuguesa e um bom
dicionário de termos jurídicos, além de estabelecer um aprendizado
dos termos em Latim.”
Profª Ana Dorotéia Arantes Medeiros, 2012

Muitos poderão não entender hoje, mas no futuro irão


compreender o tamanho de sua importância:
Como nos ensina a Profª Ana Dorotéia Arantes Medeiros,
a Língua Portuguesa, a linguagem, a Literatura e um vocabulário rico
formam o “conceito da chave mestra”. Podemos acrescentar o Latim
como acessório importante para a profissão, e assim formamos por
completo tal conceito.
Espantado, espantada? Simples demais, não é? O incrível
é que tenho visto com muita frequência que o desconhecimento
e o desinteresse por nossa língua mãe tem sido o fator gerador de
reprovas, não só nas provas da OAB, mas também em concursos e
na seleção de candidatos às diversas áreas no mercado de trabalho.
Não é apenas no Direito, mas em muitas áreas; entretanto, para o

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Advogado x Adevogado

(a) advogado (a), isto é inconcebível, pois sem compreender a nossa


língua mãe, jamais saberemos as demais matérias do Direito. Jamais!
É preciso compreender que nossa língua mãe é a grande
porta de entrada para o Direito.
Isto é real e certo, pois imaginemos daqui a alguns anos a
diferença entre aqueles que tiverem um grande vocabulário e os que
não tiverem. Imaginemos uma petição com erros de acentuação e
de Português. Imaginemos qual será o comentário de um (a) colega
advogado (a). Imaginemos o conceito que o magistrado terá deste
profissional. Imaginemos um texto mal redigido, que servirá para
perpetuar os erros deste (a) profissional. Imaginemos o tipo de
advogado (a) que este (a) profissional será.
O “conceito da chave mestra”, a chave que abre todas as portas
para o mundo do Direito, tem na língua, na linguagem, na leitura,
no vocabulário, na interpretação de textos, na produção de textos e
na expressão oral e até corporal o seu grande segredo. E aqueles(as)
que dominarem todas estas técnicas certamente compreenderão as
outras matérias do curso, pois, além da compreensão propriamente
dita, irão esbanjar conhecimento da forma mais difícil que existe, ou
seja, “colocando no papel”, para que possa ser compreendido(a) por
quem lê.
Um profissional jamais poderá cometer erros primários,
que comprometam a sua reputação, uma vez que produzir um texto
jurídico recheado de erros será o mesmo que perpetuar a própria
incapacidade profissional, será o mesmo que perpetuar a própria
falta de conhecimento, algo inconcebível para um profissional

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Geraldo Cossalter

do Direito. Pense bem e não deixe que isto aconteça em sua vida,
porque, apesar da tecnologia que pode ser usada para corrigir textos
– leiam-se programas de correção ortográfica –, o conhecimento
sempre será insubstituível.
Segure a sua “chave mestra” e abra todas as portas do
mundo do Direito, começando por conhecer a nossa língua e a nossa
linguagem.
Desenvolva um vocabulário rico e seja um(a) profissional
admirado(a) e respeitado(a), pois o início de tudo deverá ser “a
primeira palavra dita e a primeira palavra escrita”.
E, sendo assim, “bem dita e bem escrita” farão de sua
reputação o seu maior patrimônio.
Aliás, existe ainda um componente da maior importância.
E tal componente chamamos de mestres. Sim, os nossos mestres,
pois tenham a certeza de que eles sempre estarão lá para ajudá-lo
(a), bastando criar um relacionamento honesto com cada um deles;
eles irão retribuir com lições que o (a) tornarão um (a) profissional
gabaritado (a). Quando falo em um relacionamento honesto, eu falo
de honestidade consigo mesmo (a), isto mesmo, consigo mesmo (a),
pois os mestres não são ingênuos e sabem perfeitamente quando estão
sendo enganados; porém, o (a) grande enganado (a) nesta história
será você mesmo (a), já que o resultado final, sendo ele bom ou
ruim, será destinado 100% a você. Seja honesto (a) consigo mesmo
(a) e terá para sempre os mestres. Seja honesto (a) consigo mesmo
(a) e terá para sempre seus amigos e futuros clientes. Seja honesto
(a) consigo mesmo (a) e tenha o privilégio de se tornar um exemplo

37
Advogado x Adevogado

a ser seguido. Seja honesto (a) e colha uma safra tão abundante que
você irá se surpreender com você mesmo (a). O (a) maior esperto (a)
de todos (as) é o honesto (a).

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Geraldo Cossalter

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

“Habituem-se aos termos técnicos do Direito, pois eles são


vitais para o desempenho da profissão.”
Prof. Samuel Nobre Sobrinho, 2013

Para o (a) advogado (a), ler deve ser o mesmo que respirar.
O hábito da leitura deve sempre começar na infância; porém, não é
bem isto o que ocorre na vida de muitos, pelo menos foi assim comigo.
Entretanto, ainda é possível na universidade começar a prática diária,
não importando a preferência do leitor, já que todo tipo de obra
pode ser considerada essencial para o conhecimento e gradualmente
o crescimento do vocabulário. Quando falo em leitura, falo em
bons livros, bons informativos, boas revistas e jornais. Bons livros,
além de ajudar a evoluir o vocabulário, nos abrem os horizontes,
que, de uma forma ou de outra, acabam por contribuir para o
aprimoramento da cultura e o conhecimento. Sim, o conhecimento
que acabamos adquirindo por meio da leitura muitas vezes nos leva
a viajar sem sair do lugar, o que irá resultar em mais conhecimento,
cultura e vocabulário. Criar e cultuar o hábito da leitura é ponto
fundamental para o sucesso profissional, pois, além da construção de
um vocabulário rico, o leitor poderá se tornar culto, o leitor poderá

39
Advogado x Adevogado

se tornar diferenciado; e estes diferenciais são muito procurados e


respeitados no mercado de trabalho. Imaginemos um profissional
do Direito com um vocabulário ruim, com uma escrita ruim, sem
noção de pontuação e consequentemente sem nenhuma aptidão
para interpretar ou produzir textos. Fatalmente, tal profissional
terá dificuldades que não serão poucas e nem tampouco pequenas.
Portanto, caro leitor, leia muito. Leia livros clássicos, de História,
Direito, doutrinas, romances, política, revistas e jornais. Não
importa, o importante é ler sempre e sempre ler bons assuntos. O
leitor habitual adquire confiança e oralidade, razão de se beneficiar
triplamente. Triplamente, por ser dono de um vocabulário rico,
por ser dono de uma oratória confiável e finalmente por conseguir
interpretar o que ouve e lê, já que o hábito o leva a isto. Vejamos o
que nos ensina a Profª Maria Ester Vianna Arroyo Monteiro de
Barros:
“Vocês precisam ler; quem não lê, não tem conteúdo.”
Portanto, leia, leia muito, pratique o hábito da leitura
diariamente. Pratique conhecer e compreender as palavras por meio
do dicionário ou outros meios de pesquisa. Jamais perca as boas
oportunidades, pois a leitura está disponível a todos; porém, os que se
esforçarem em praticá-la diariamente e constantemente certamente
acabarão atingindo um nível que poucos irão atingir. Não pense que
será fácil, tenha a certeza de que será uma luta árdua e constante;
mas tenha a absoluta certeza de que, quando você estiver praticando
a leitura, já terá dado um passo muito grande rumo a uma forma de
aprendizado que jamais terá fim. Jamais leia por ler, tenha sempre

40
Geraldo Cossalter

como meta uma leitura de pesquisa. Conforme lemos, devemos


pesquisar, já que ler e deixar de entender determinadas palavras de
nada adiantará. Pesquise lendo e leia pesquisando sempre. Nunca
deixe de tirar dúvidas com os mestres, visite bibliotecas, utilize a
internet como ferramenta de aprendizado, construa a sua biblioteca
a partir do primeiro livro e não tenha pressa. Leia calmamente,
serenamente, compreendendo e interpretando o texto, vivendo o
texto. “Viver o texto” significa “mergulhar” na leitura. E uma leitura
com estes ingredientes certamente trará benefícios com o passar do
tempo. O tempo é preponderante para um aprendizado consistente
e eficiente. Crie o hábito da leitura em momentos que geralmente
são desperdiçados. Faça uma análise de seu dia a dia e descubra que
existem muitos momentos que podem ser aproveitados para a leitura.
Crie um roteiro para organizar os momentos diários, semanais e até
mensais. Isto irá lhe beneficiar muito.
Ao praticar o hábito da leitura, certamente estará
perseguindo um objetivo que o (a) levará a altitudes jamais
imaginadas. E jamais pare de ler, visto que a subida é lenta e difícil,
mas a descida é muito rápida. Leia e jamais deixe de ler, pois a
leitura é gratuita e seus benefícios valem um tesouro que ladrão
algum conseguirá lhe roubar. Com o tempo, isto será perceptível;
e somente aqueles que praticarem a leitura poderão conhecer o seu
verdadeiro e incontestável valor.
Encerramos assim este capítulo, com uma técnica que
muito irá contribuir para a boa leitura. Quem nos ensina é a Profª
Ana Dorotéia Arantes Medeiros.

41
Advogado x Adevogado

Veja:
Leia e verifique se compreendeu;
Escreva perguntas sobre o texto;
Quando o texto não for compreendido, leia novamente;
Destaque as principais ideias;
Após ler, repita o texto, usando suas próprias palavras;
Grife termos desconhecidos e consulte o dicionário;
Escreva um resumo;
Consulte seu mestre sempre.
Bons estudos...

42
Geraldo Cossalter

A IMPORTÂNCIA DOS TEXTOS ORAIS E


ESCRITOS

“Não comprem uma falsa realidade. Não queiram apenas


um diploma.”
Profª Maria Ester Vianna Arroyo Monteiro de Barros, 2014

“Se eu perdesse a voz, estaria morto”, diz Lula a jornal (Portal


Terra, terça-feira, 30 de março de 2012).
Observando esta frase do ex-Presidente Luis Inácio Lula
da Silva, fica demonstrada a importância da fala dentro da sua
profissão. Ele chegou a afirmar que teve mais medo de perder a voz
do que de morrer. Por incrível que possa parecer, no caso dele, a
fala é a principal forma de expressão e comunicação. A fala o levou
a se tornar conhecido mundialmente. Existem casos como o do
também ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, um intelectual
que, apesar de dominar a fala, tem na escrita seu trunfo maior,
inclusive por ter diversos livros publicados. Sem comparações
políticas, mas comparando as diferentes formas de textos utilizados
por cada um deles, podemos afirmar que Lula é conhecido por
falar uma linguagem popular, com uma oratória envolvente, o
que o tornou conhecido no mundo todo. Observando FHC,

43
Advogado x Adevogado

vemos que é um político de intelecto refinado, bom orador e com


grande destaque como escritor desde 1969. A partir desta pequena
comparação, podemos enxergar de uma forma prática as diferenças
importantes entre um texto oral e um texto escrito, pois no nosso
dia a dia, os textos orais são corriqueiramente usados em todos os
tipos de comunicação. Como futuros profissionais do Direito, nossa
responsabilidade muda radicalmente, visto que a Língua Portuguesa
escrita passa a ser uma exigência, passa a ser uma necessidade dentro
do ambiente jurídico, uma vez que são inaceitáveis linguagens
grotescas, é inaceitável uma linguagem que leve o profissional ao
ridículo ou ao descrédito. Obviamente que se faz necessária uma
adaptação constante para cada caso, pois existem muitas diferenças
entre os inúmeros ambientes onde o profissional irá militar, haja
vista que nosso país tem dimensões continentais e não é incomum
encontrar pessoas de localidades com costumes e formas de expressão
diferentes.
É fundamental evidenciar que a linguagem se materializa
por meio de textos, tanto orais quanto escritos; entretanto, cada tipo
tem suas características próprias, pois não têm a mesma gramática
nem os mesmos recursos expressivos. Na linguagem oral, muitas
vezes usamos textos vagos, o que é próprio deste tipo de linguagem,
já que a interação entre os interlocutores da conversa produzem o
entendimento da linguagem. Isso é impossível no texto escrito, visto
que na linguagem oral ambos (emissor e receptor da mensagem)
partilham o conhecimento que possuem do assunto.

44
Geraldo Cossalter

No cotidiano, convivemos mais com textos orais. Aliás,


todos os povos são assim; e a escrita não pode reproduzir muitos
fenômenos do texto oral, na qual temos os gestos, a mímica, os
olhos e outros movimentos do corpo (na linguagem escrita, temos o
tamanho das letras e seu tipo, suas cores e pontuações diversas). Para
se ter uma ideia, se transcrevermos um texto oral de uma reunião
de cerca de trinta pessoas, provavelmente não entenderemos muita
coisa, uma vez que o diálogo é extremamente repetitivo e não tem
uma composição lógica; e, por esta razão, torna-se inapropriado para
ser transcrito. De modo geral, fala e escrita apresentam distinções
que, se forem bem interpretadas, nos fazem compreender suas
diferenças.
A fala é uma forma de texto que, completada por gestos,
mímica e movimentos do corpo, transmite ao ouvinte o seu sentido,
enquanto a escrita é um modo de comunicação textual que se
caracteriza pela sua constituição gráfica e trata-se de uma linguagem
complementar à fala. Existem muitos textos escritos próximos ao
da fala (exemplos: bilhetes curtos, cartas familiares), bem como o
inverso, quando é possível se observar textos falados que também se
aproximam do texto escrito. É comum acreditarmos que a verdadeira
linguagem é a escrita, sendo a fala muitas vezes enxergada como um
complemento da linguagem escrita. E, devido à aparente autoridade
que emana da escrita, acabamos por acreditar que a escrita é a
principal forma de linguagem. Há quem diga que devemos “falar
como escrevemos”. Ledo engano!

45
Advogado x Adevogado

Existem razões para a supervalorização da escrita em


detrimento da oralidade, visto que os que dominam a escrita
geralmente se sobressaem exatamente pelo fato de dominar a escrita.
Texto oral é natural. Basta uma criança conviver com
familiares que aprenderá a falar, enquanto o texto escrito dependerá
de interpretação, pois uma única vírgula poderá mudar totalmente
o sentido da frase.
Os que dominam textos escritos geralmente são vistos
como intelectuais, pois passam a falsa imagem de “mais inteligentes”;
e, por esta razão, poderá ocorrer uma segregação, já que os que não
dominam este tipo de linguagem podem ser excluídos naturalmente
por não conseguirem compreender o sentido do texto.
Se concluirmos que a escrita é dominante em relação
à oratória, estaremos cometendo um equívoco, uma vez que, na
prática, não é exatamente assim. Uma boa oratória geralmente
proporciona a vantagem da rapidez para o orador frente aos ouvintes.
Discursos e sermões são exemplos de linguagem oral que identificam
e posicionam o orador. No caso dos sermões, geralmente ouvimos
explicações de textos litúrgicos que não dominamos. No caso dos
discursos, o mesmo ocorre. Quem de nós se atreveria a questionar
um determinado assunto que não domina? A mesma coisa será em
um tribunal, onde o (a) advogado (a) tem a obrigação de não apenas
dominar a escrita ou a lei, mas também a oralidade.
Por outro lado, linguagem oral sofre rápidas mudanças,
até porque novas formas de comunicação surgem geralmente
pela oralidade, enquanto na linguagem escrita isto demora algum

46
Geraldo Cossalter

tempo a ser incorporado. Refletindo, vemos que a escrita é mais


conservadora; e a fala muda, indo ao encontro de épocas, modismos
e acontecimentos, enquanto na escrita a incorporação é mais
demorada. Talvez esse seja o maior choque daqueles que se aventuram
no mundo da escrita, visto que a riqueza da linguagem falada fica
reduzida à linguagem padrão. O falante regional sempre procura
identificar-se com a língua padrão, pois é histórico que aprendemos
na escola que a língua falada é a língua errada e a escrita, a certa. Por
outro lado, quando conversamos, mudamos de assunto sem nenhum
tipo de rigidez, sendo que, ao escrever, dependemos de frases mais
longas que possam passar a devida compreensão do texto. Quando
falamos, usamos nossa linguagem corporal, diferentemente do que
acontece quando escrevemos, em que temos de expressar tudo “no
papel”. Como já foi dito, uma criança aprende a falar naturalmente,
vivendo dentro de um grupo familiar, enquanto a escrita depende de
estudo e é preciso um duro trabalho prolongado de aprendizado e de
mestres que nos ensinem.
Tais razões apresentadas até aqui confirmam a teoria
da “chave mestra”, pois para o profissional do Direito sempre será
inconcebível os textos (tanto orais quanto escritos) praticados de
forma equivocada e que irão servir apenas para contribuir para a
desvalorização do profissional.
A tarefa é árdua e constante. Mas é a partir de agora que se
inicia a maior tarefa a ser realizada; porque, além da compreensão
das demais matérias, a língua e a linguagem devem ser estudadas e
compreendidas, para que se possa estudar e compreender as demais
matérias.
47
Advogado x Adevogado

Longe de afirmar que todas as outras matérias do Direito


não são importantes, muito pelo contrário. Mas com a mais
absoluta certeza é possível afirmar que “a chave mestra” abrirá as
portas das outras matérias do Direito muito mais facilmente, muito
mais claramente, fazendo do (a) futuro (a) advogado (a) um (a)
profissional que saberá utilizar corretamente palavras, frases e textos,
bem como saberá interpretar textos, criar textos e ser compreendido
(a) por seus interlocutores. Acima de tudo, o importante é tornar-se
um profissional ímpar. Pense nisto.
Portanto, caro leitor, mãos à obra, ou melhor, olhos nos
livros, atenção nos mestres, atenção às dúvidas e estude muito, pois
um dos segredos do bom profissional do Direito está bem diante de
nossos olhos. Basta olhar para frente e para a lousa que ele estará lá. A
lousa atrás e o mestre à frente dela. Porém, vale lembrar que depender
apenas e tão somente de nossos mestres é um enorme engano, visto
que de nada valerá ser um universitário exemplar e respeitoso, que
escuta o mestre, que acompanha o raciocínio nas aulas, mas que não
tem o hábito da leitura. Ler e compreender o conteúdo das matérias
é fundamental, tanto para o aprendizado quanto para a evolução
do vocabulário, porque, além da compreensão propriamente dita
do conteúdo, aumentará as chances de o universitário se tornar um
profissional exemplar. Assim, nunca se esqueça destes ingredientes: a
lousa, os mestres, os livros, a dedicação e, acima de tudo, a vontade
de aprender. Aprender sempre, este é o verdadeiro desafio e o
verdadeiro objetivo.

48
Geraldo Cossalter

A PRODUÇÃO DE TEXTOS

“O tempo passa muito rápido. Estudem, estudar muito é


o caminho.”
Prof. Marcelo Velludo Garcia de Lima

Produzir textos que consigam exprimir ideias e que consigam


traduzir pensamentos e sentimentos são, na verdade, o resultado do
acúmulo de conhecimento obtido por meio da leitura, de pesquisas
e estudos. Qualquer texto pode-se dizer que foi produzido. Todavia,
para que possamos produzir textos com conteúdo, é necessário
praticar o conhecimento e desenvolver o talento individual que
possuímos naturalmente. Todos nós somos dotados de inteligência
e raciocínio; entretanto, desenvolver o talento se faz necessário para
a produção de textos diferenciados, o que certamente irá privilegiar
com resultados surpreendentes os que se dedicarem com afinco. No
geral, produzir textos significa ser compreendido, significa obter
entendimento por parte daqueles que irão ler e interpretar o texto.
Quando desenvolvemos uma ideia, é necessário que usemos de todo
conhecimento obtido, além do talento que é natural em todos os
seres humanos. Todos os seres humanos são diferentes uns dos outros
e, portanto, têm talentos diferentes. Pode até ser o mesmo talento;

49
Advogado x Adevogado

porém, sempre será diferente. Como assim o mesmo talento; porém,


diferente? Sim, podemos ter um determinado talento e outra pessoa
o mesmo talento, mas de forma diferente. Explicando melhor: “A”
tem talento para o desenho e “B” também tem. Mas “A” estabelece
uma forma de desenhar que acaba determinando uma espécie de
superioridade em relação ao desenho de “B”, exatamente pelo fato
de conseguir ser compreendido pelos que olham o desenho de “A”.
No caso da produção de textos é a mesma coisa, ou seja,
temos um talento que geralmente ainda não foi descoberto ou
desenvolvido. Descobrir os próprios talentos sempre será essencial
para o exercício do Direito; porém, desenvolver o talento para a
produção de textos é algo tão grandioso que chego ao extremo de
afirmar que aqueles que desenvolverem realmente este talento e, por
consequência, conseguirem colocá-lo em prática certamente serão
totalmente diferenciados perante seus pares e perante o mercado de
trabalho. Produzir textos é muito mais que simplesmente escrever.
Produzir textos significa pensar no resultado final do texto. Significa
conseguir enxergar quais resultados podem ser obtidos pela redação
do texto em questão. Produzir textos implica em conhecimento,
talento, análise, pensamento e direcionamento, pois, para cada
ocasião, temos de estudar especificamente. Produzir textos implica
em traduzir a situação em questão, de forma a ser compreendido.
Para o (a) advogado (a), produzir textos é o mesmo que usar com
precisão cirúrgica um bisturi. Em síntese, o bisturi do advogado
é o texto que irá produzir. O bisturi é a principal ferramenta do
médico, assim como o texto é a principal ferramenta do advogado.

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Geraldo Cossalter

Produzir textos corretos é o mesmo que obter cirurgia de sucesso;


portanto, não há de se falar em erros. O médico pode salvar ou não
o paciente com um bisturi, enquanto o advogado pode salvar ou
não o seu cliente com um texto. Portanto, o texto é essencial para a
prática do Direito, independentemente de ser este ou aquele cliente,
independentemente de ser esta ou aquela situação. A produção de
textos corretos é essencial para um resultado positivo e tornar o (a)
advogado (a) um profissional admirado e respeitado. Não significa
“preencher espaços vazios”, pois a quantidade de linhas e páginas
necessariamente não significa que se trata de um bom texto. Muitas
vezes um texto bem construído tem exatamente na objetividade o
seu principal fundamento. Deste modo, pensar, analisar, aplicar o
conhecimento obtido, desenvolver o talento próprio e, acima de
tudo, aplicar uma dose de filosofia certamente farão de você um
profissional que irá construir e produzir bons textos. Pense bem
e coloque em prática todo conhecimento que obter. Pense bem e
coloque-se no lugar daqueles que estão vivenciando a situação,
obviamente que sem qualquer tipo de envolvimento e de forma
a obter subsídios que facilitem a construção do texto. Pense bem,
analise caso a caso e construa textos que certamente farão de você
um profissional exemplar e admirado. Jamais deixe de aprender
e jamais se esqueça das lições da sala de aula. Pense bem nisto e
comece já a construir bons textos, provando para você mesmo que
você tem talento.

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Geraldo Cossalter

A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

“Hoje, vocês são amigos; amanhã, serão concorrentes.


Portanto, façam tudo da melhor forma, não façam mais ou menos
benfeito, pois o mercado de trabalho é exigente e você poderá se
arrepender.”
Prof. Ricardo Velasco Cunha, 2013

Que significa exatamente interpretar textos? Significa


apenas ler e compreender?
No mundo do Direito, um texto não é uma história ou
uma fábula, pois trata da realidade humana.
Na verdade, todos os textos jurídicos contêm fatos
verdadeiros, explícitos e muitas vezes implícitos. Como
profissionais, deveremos identificar sentimentos, fatos ocorridos,
verdades, inverdades e situações que jamais poderemos deixar passar
despercebidas. Tal afirmação jamais deverá ser esquecida, pois um
texto bem compreendido e acima de tudo bem interpretado garantirá
ao profissional o seu sucesso, já que pelo conteúdo do texto será
possível compreender e interpretar o sentimento e as intenções e
vontades da outra parte.

53
Advogado x Adevogado

Em uma história ou um conto, podem existir sentimentos e


fatos ocorridos, bem como verdades e inverdades. Porém, a diferença
entre um texto jurídico e uma história ou conto está no resultado
final, uma vez que uma história ou conto serve como lazer ou cultura,
diferentemente do texto de um processo, que é a realidade vivida por
uma ou mais pessoas. É verdade que histórias ou contos contribuem
para se obter conhecimento e cultura; mas jamais irão provocar um
resultado ruim ou bom, pois não envolvem a realidade de um cliente,
que é um ser humano, com expectativas e sentimentos.
Geralmente, não conseguimos obter o entendimento
de tudo o que lemos na primeira vez, razão pela qual temos a
necessidade do conhecimento aprofundado e constante da língua
e da linguagem, além de uma dose generosa de reflexão. Refletir
sobre o tema lido irá proporcionar um fator de diferenciação para o
profissional. Refletir significa analisar, significa filosofar sobre o tema.
Sem tal aprofundamento, dificilmente será possível compreender e
interpretar as verdadeiras intenções e vontades contidas no texto de
um processo.
Muitas vezes uma pontuação fará toda a diferença, outras
vezes uma palavra colocada em determinada ordem fará a diferença.
O importante é ter atenção redobrada para tais situações, já
que os que atentam para isto inevitavelmente terão grande vantagem
diante de outros que não atentam para o fato.
Analise as frases abaixo:
Sócrates bebeu a morte.
Sócrates bebeu à morte!

54
Geraldo Cossalter

Perceberam a diferença?
Temos aqui exatamente as mesmas palavras; porém,
com significados diferentes, que demonstram a necessidade da
interpretação correta, o que irá garantir sucesso na vida profissional.
O primeiro exemplo nos mostra em sentido figurado que
Sócrates ao tomar a cicuta bebeu a morte, ingeriu a morte.
O segundo exemplo nos mostra que Sócrates comemorou
a morte, tudo por conta de uma “simples crase”.
Interpretar textos é uma arte. Interpretar textos é uma
ciência que requer imaginação e, acima de tudo, um permanente
conhecimento com uma dose de filosofia. Como nos ensina o Prof.
Luiz Vicente Ribeiro Corrêa, “filosofar sobre uma determinada frase
ou um determinado texto não é exagero algum; pelo contrário, pois se
trata de uma ciência que irá expandir os horizontes”.
Quando falo em expandir horizontes, falo da forma
que devemos enxergar o que o texto nos apresenta muitas vezes
implicitamente. Pois um pequeno detalhe fará a diferença.
É muito comum comprarmos um jornal ou revista devido a
uma manchete e, ao lermos a notícia, acabamos por nos decepcionar,
já que a manchete era melhor que a notícia.
Da mesma forma, assim são os textos que iremos encontrar
em nosso dia a dia profissional.
Cuidado! Todo cuidado é pouco, porque muitas vezes
lemos o que não está escrito e entendemos o que não foi dito, ou
melhor, acabamos por entender de uma forma equivocada.

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Advogado x Adevogado

Compreender primeiro é melhor que ser compreendido por


outrem, visto que, ao compreendermos o outro lado primeiramente,
estaremos abrindo uma margem de novas possibilidades, em que
iremos aplicar o nosso entendimento do que foi compreendido.
Melhor dizendo: quando consigo compreender primeiro
o que meu interlocutor diz, consigo raciocinar e conduzir a
situação para um desfecho favorável a mim. Então, posso utilizar
meus argumentos com maior força, contra-argumentando meu
interlocutor e produzindo, com isto, resultados positivos, já que, ao
compreender o outro, consigo estar ao mesmo tempo dos dois lados.
Mas o que é estar dos dois lados?
Significa me antecipar ao pensamento de meu interlocutor,
interpretando e compreendendo o texto oral ou escrito de forma
ampla, o que somente é possível quando compreendemos o
significado das palavras e dos textos. Enfim, quando procuramos
entender exatamente o que nosso interlocutor deseja dizer.
Não basta compreender a língua e a linguagem.
Não basta compreender os textos orais e escritos.
É necessário que, além disso tudo, saibamos compreender a
essência do que iremos ler ou escrever. Devemos também saber sobre
a essência do que iremos ouvir ou falar, pois como já foi dito, falar,
ouvir, escrever ou ler é uma ciência que requer “filosofar”, imaginar
o verdadeiro significado dos sentimentos e pensamentos nossos e de
outrem.
Portanto, a teoria do aprendizado é a forma mais correta e
o caminho mais curto para se conseguir o acesso amplo ao campo

56
Geraldo Cossalter

jurídico, visto que, incorporando tais conceitos e compreendendo


a finalidade deste aprendizado, você estará “recebendo a sua chave
mestra”, aquela que abrirá todas as portas para o mundo do Direito.
Sem qualquer tipo de exagero, já tive o sentimento de que, para
muitos, falar e escrever corretamente nossa língua mãe é motivo de
“segregação” ante os grupos sociais ou “tribos” que geralmente têm
uma linguagem padrão diferente, cheia de gírias ou significados que
são normais dentro dos seus respectivos ambientes. Sem dúvida, para
a convivência de tais grupos, tudo isto é perfeitamente normal, assim
como os signos ou a linguagem da internet, o chamado “internetês”;
porém, para o profissional do Direito, isto tudo é inconcebível. Os
magistrados têm sido muito criteriosos quanto ao uso da linguagem
e da língua como sempre foram; entretanto, tenho percebido uma
mudança no volume de palavras utilizadas nos processos, ou seja, os
(as) advogados (as) que estão preparados (as) e que dominam nossa
língua e nossa linguagem precisam ir além, pois a objetividade está
em alta nos dias de hoje. Não adianta o (a) advogado (a) desprezar
a objetividade em detrimento de “rechear” páginas e páginas, que
apenas irão servir para prejudicá-lo(a) na tentativa de demonstrar
conhecimento e profissionalismo. Pensem comigo: um (a) advogado
(a) que tem domínio da língua e da linguagem e produz textos
objetivos e consistentes tem uma vantagem grande, já que passa a
ter naturalmente uma visão mais objetiva do cliente, do processo
e da outra parte por consequência. O conteúdo de nossa língua e
nossa linguagem deve ser estudado muito. Requer afinco, atenção
e, acima de tudo, paixão para compreendê-lo e dominá-lo. Aliás,

57
Advogado x Adevogado

dominar totalmente é algo grandioso demais, diria impossível, pois


a língua e a linguagem sofrem modificações com o passar do tempo;
no entanto, a paixão será o diferencial daqueles que realmente têm o
desejo de ser um profissional “ímpar”.
Nossa língua mãe tem uma infinidade de tópicos; todavia,
não tenho como objetivo ensinar tais tópicos, até porque não tenho
autoridade para tal. Mas sei que posso contribuir, alertando por
meio desta obra, que tem como objetivo único aumentar o campo
de visão do leitor, despertando-o para a verdadeira e correta forma
de entrar definitivamente no mundo do Direito.
Nos próximos capítulos, irei apresentar outros tópicos do
nosso tema central, além de garantir ao leitor a oportunidade de
refletir sobre tão vasto e complexo tema.
Vamos lá?

58
Geraldo Cossalter

O POLIGLOTA DA LÍNGUA MÃE

“A Ciência Jurídica apresenta uma constante evolução


e complexidade. Somente os que verdadeiramente se dedicarem
durante todo o curso de Direito a perseguirem contínuo e profundo
aperfeiçoamento estarão aptos para enfrentar os desafios da vida
profissional.”
Prof. Alexandre Meneghin Nutti, 2012

Certa vez, ouvi uma entrevista com o Prof. Pasquale


Cipro Neto, na qual ele afirmava que deveríamos ser “poliglotas do
Português”; então, comecei a desenvolver um raciocínio, em que
acabei por concluir que, antes de sermos poliglotas em outras línguas,
deveríamos ser “poliglotas” de nossa própria língua. Inicialmente me
parecia ser uma loucura, mas a grande verdade é que muitos não se
preocupam com a nossa língua nativa e até a desrespeitam em favor
de outras línguas.
Em meus tempos de escola nos anos 1960 e 1970, ensinava-
se o Francês e o Inglês, sendo que o primeiro foi extinto dos currículos
escolares e o segundo permanece até hoje. Vejo com imensa tristeza
a importância dada a uma segunda língua, sem que se dê a mesma
ou maior importância à nossa língua mãe. A grande verdade é que

59
Advogado x Adevogado

muitos aprendem um segundo ou até terceiro idioma, sem sequer


saber corretamente o nosso Português. Isto é realmente incrível, mas
é a mais pura verdade. É comum nos dias atuais vermos crianças,
jovens e adultos aprenderem novas línguas, enquanto praticam
o Português de forma errada e equivocada. Para a infelicidade de
muitos, saber outras línguas para o ambiente jurídico é muito bom;
porém, não dominar o Português é péssimo. A má notícia será
dada ao universitário que tem esta dificuldade no exame da OAB.
O conhecimento de outras línguas, sem dúvida, é importantíssimo
para a carreira e o currículo; no entanto, o Português deverá ser o
ponto de partida para qualquer um que queira realmente ser um
bom profissional do Direito. Ser poliglota da própria língua pode
parecer uma incoerência ou uma piada muito engraçada, mas é uma
grande verdade ou uma forma incomum de dizer o quão devemos ter
de conhecimento profundo de nossa língua mãe. Talvez até não seja
uma loucura tal afirmação, pois nossa língua é bastante complexa;
e não seria exagero algum dizer que, ao obtermos o conhecimento
abrangente, poderemos nos considerar poliglotas de nossa própria
língua; basta se lembrar do Prof. Pasquale, que é autoridade no
que diz. A grande verdade é que em nosso país existe uma grande
influência de outras línguas e uma má influência em relação ao
Português, ou seja, nossa língua muitas vezes é desprezada. Muitos
exemplos são corriqueiros, muitos exemplos acontecem no dia a dia
de qualquer brasileiro; porém, o pior de tudo é a forma como são
discriminados os que falam corretamente e escrevem corretamente
nossa língua. Incrível isto! Mas é uma triste realidade que, além

60
Geraldo Cossalter

de se tratar de um desrespeito ao nosso velho Português, se trata


também de uma forma de tentar nivelar por baixo os que falam e
escrevem corretamente. Para muitos, usar corretamente o Português
é motivo de vergonha, ou melhor dizendo, é motivo até de chacota
perante os amigos, as “tribos” ou comunidades em que vivem. As
gírias são bastante antigas; entretanto, elas não cabem no mundo
jurídico. O mundo jurídico exige conhecimento do Português e
uma prática constante, pois, diferentemente de outros profissionais,
o (a) advogado (a) talvez seja o único profissional que eterniza os
erros que comete. Principalmente com a tecnologia, que possibilita
uma acessibilidade muito maior, ou seja, até então os textos ficavam
apenas em pastas e mais pastas e hoje ficam visíveis na tela do
computador. Com a chegada da tecnologia, o profissional da área
jurídica, além de ter por obrigação o conhecimento de nossa língua
mãe, passa a ter a obrigação do conhecimento de tais tecnologias. Já
temos em muitas comarcas a implantação dos processos eletrônicos.
E, com isso, certamente haverá uma tendência de melhoria quanto
ao tempo dos processos, aliás, isto já está ocorrendo; todavia,
tenho a percepção de que mudanças rápidas e consistentes deverão
ocorrer na rotina do (a) advogado (a). Caso contrário, haverá
um comprometimento no resultado do seu trabalho. Diria até
que é iminente a necessidade de investimento em Informática e
a tecnologia apropriada. Obviamente que a Informática não irá
substituir os livros, nem tampouco o conhecimento do nosso bom
e velho Português. Entretanto, o (a) advogado (a) contemporâneo
(a) deve ser aquele (a) que aprende em sala de aula, somado àquilo

61
Advogado x Adevogado

que pratica e lê todos os dias, somado às novas tecnologias que estão


chegando e sendo implantadas. Não adianta tentar se enganar, pois
certamente aqueles que dominarem nossa língua mãe saberão usar
a tecnologia em seu proveito, pois somente a tecnologia não fará
deste o melhor profissional. Temos de somar tudo e jamais esperar
que a tecnologia substitua o conhecimento obtido. Portanto, caros
colegas, vamos à luta! O caminho é longo e árduo, mas gratificante.
Boa sorte!

62
Geraldo Cossalter

TEXTOS ÉTICOS E OBJETIVOS

“Não se deixe influenciar por ideias conturbadoras ou


negativas, faça o bem e dê o melhor de si em cada ato praticado,
pois as oportunidades aparecem a todo momento. Lembre-se: se os
seus objetivos não foram conquistados ainda, é porque o que Deus
tem guardado pra você é muito maior.”
Prof. Rodrigo Forcenette, Subcoordenador do curso de
Direito/Unip, Campus Vargas, Ribeirão Preto, SP

Um texto ético é, acima de tudo, uma forma de expressar


a essência do seu autor, pois, apesar de estar o (a) advogado (a)
interpretando e expressando a realidade de um cliente, certamente
serão as suas palavras transcritas que irão explicar o fato. Além deste
pensamento, imaginemos um (a) advogado (a) que confunde uma
expressão por outra ou que acaba por cometer o erro imperdoável
de deixar por conta de um auxiliar a digitação de um texto, sem
observar se este foi corretamente digitado, acabando por formalizar
tal texto sem ler. Imperdoável não é mesmo? Atualmente, temos os
processos eletrônicos sendo implantados pelo Brasil afora. Que dizer
de uma petição inicial postada com uma página que foi inserida

63
Advogado x Adevogado

por engano? Além de problemas operacionais deste tipo, temos


também a ética propriamente dita como causa de problemas futuros
para o autor, porque, por exemplo, nem sempre se consegue mudar
o que já foi escrito em momentos de distração. Que fazer em tal
situação? Não há o que fazer! Quando a ética é deixada de lado,
geralmente surgem problemas dos mais graves, o que implicará
no descrédito do profissional. Textos éticos denotam a verdade do
fato, já que, apesar de ser parte da solução e não do problema, o (a)
advogado (a) pode acabar sendo um problema para a solução, razão
da necessidade da ética nos textos, porque, na verdade, eles devem
descrever fria e fielmente o fato ocorrido. A forma de comunicação
com o magistrado é o texto. A oralidade também; no entanto, esta
poderá não ser considerada em determinadas situações, pois o texto
é que determina o início de toda a comunicação com o judiciário.
Podemos considerar que, na atualidade, os textos mais
“enxutos”, mais simples, mais curtos, porém bem elaborados, sempre
se usando da formalidade necessária para com o magistrado, sem
exageros e termos desnecessários, serão certamente vistos como
resultado do trabalho de um profissional competente. Com a mais
absoluta certeza, textos com tais características irão surtir efeitos mais
eficientes, haja vista que textos aéticos e principalmente recheados
de palavras e frases inúteis deixarão com certeza uma imagem ruim e
desnecessária para aqueles que irão interpretá-lo. Ética não significa
apenas utilizar palavras e termos que não ofendam o decoro. Ética
significa analisar a realidade do cliente, significa refletir, significa
filosofar sobre a questão, orientando o cliente e aplicando as palavras

64
Geraldo Cossalter

no texto, de forma a explicar ao magistrado com transparência,


de forma clara, de forma objetiva, sem a necessidade de tentar
demonstrar ao magistrado o conhecimento de artigos e leis, ou até
termos em Latim. Não estou, com isto, afirmando que jamais se use
termos, leis ou o Latim em um texto, ao contrário, digo que tudo isso
deve ser usado de maneira equilibrada. “Todo exagero é desperdício; e
todo desperdício é uma oportunidade que não se recupera.” Obviamente
que, na ocasião certa, o (a) advogado (a) competente saberá utilizar
termos, leis ou artigos, a fim de resguardar os interesses do cliente.
Um texto ético nada mais é que um texto simples, objetivo,
transparente, livre de termos complicados e desnecessários, visto que
mais vale uma palavra bem interpretada do que mil palavras bem
ditas. Mil palavras não irão garantir resultado algum, até porque um
argumento sólido não significa que tenha de ser um texto longo.
É obvio que, durante o andar de um processo, textos e mais textos
poderão aumentar o seu volume; porém, é importante assimilar que,
atualmente, a coesão e a concisão são fatores preponderantes para o
bom andamento de um processo. Há petições iniciais que chegam ao
absurdo de ter páginas e mais páginas desnecessárias, que podem até
“emperrar” de alguma maneira o seu andamento e, portanto, acabam
atrapalhando o cliente, o (a) advogado (a) e o judiciário.
Pensem bem nisto; afinal, um texto ético e conciso
certamente irá construir e consolidar uma imagem profissional, a
não ser que a ação tenha o tamanho do famoso caso Hatfields e
McCoys, que durou de 1863 a 1891. Eis aí, por sinal, uma boa
dica de filme para estudantes de Direito. A fita Hatfields e McCoys,

65
Advogado x Adevogado

produzida em 2013 e estrelada por Kevin Kostner e Bill Paxton,


tem cerca de cinco horas de duração (no Brasil, ela foi lançada em
três DVD´s) e enfoca fato verídico no qual vemos muitas facetas
do Direito inglês. Além dos princípios jurídicos, a história também
mostra a ausência da ética, já que o enredo está focado tanto na
autotutela (fazer justiça com as próprias mãos) e na busca pela justiça
nos tribunais americanos e disputas pelo poder. É uma história
ímpar, já que podemos constatar que a ausência da ética provocou
uma tragédia incomum. Também é possível traçar um comparativo
entre o Direito inglês e o Direito brasileiro, que é originário do
Direito romano-germânico.
“Por ser filha da subjetividade, a ética se materializa com
atitudes positivas.”
Portanto, caros amigos, materializar a ética por meio de
textos éticos não é uma qualidade apenas do bom profissional; mas,
antes de tudo, um dever de todo cidadão. Diria até que materializar
a ética exigirá coragem e respeito ao semelhante. Vejamos o que nos
ensina o Prof. Matheus Marques Nunes:
“A ética é a reflexão da moral.”
Boa sorte nesta empreitada, talvez uma das mais difíceis,
tendo em vista que o predomínio de nossas fraquezas induz muitas
vezes o ser humano a cometer erros irreparáveis, por conta da
ausência da ética.

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Geraldo Cossalter

A ORATÓRIA COLOQUIAL, CULTA E TÉCNICA

“O bom advogado jamais pode ser um comerciante, pois


lida com pessoas e não com mercadorias.”
Prof. Leandro Vila Torres, 2012

O advogado é um profissional realmente diferenciado, ou


pelo menos deve ser assim, pois às vezes será preciso ser ao mesmo
tempo vários tipos de “profissional”. Como assim, vários tipos de
profissional? Imagine, em uma sala de espera para uma audiência, o
advogado e seu cliente tendo uma conversa. Dependendo do grau de
conhecimento cultural e intelectual do cliente, o advogado certamente
irá aplicar uma linguagem coloquial. Sim, aquela linguagem simples,
aquela linguagem do povo, aquela linguagem singela que pode ser
compreendida pelo cliente em questão, visto que muitas vezes uma
linguagem culta não atingirá o efeito desejado. De nada servirá ao (à)
próprio (a) advogado (a) aplicar uma linguagem culta, que o cliente
não irá entender. Muitas vezes uma única palavra não fará sentido para
o cliente; e isto poderá colocar em risco o futuro da lide, o futuro do
processo. Imagine um advogado conversando com um cliente, que
jamais estudou o suficiente para compreender certas palavras. De

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Advogado x Adevogado

nada adiantará falar cultamente com ele. É mais fácil ser simples em
uma situação como esta, falando pouco e usando palavras coloquiais
para ser compreendido, ao invés de utilizar palavras desconhecidas
do cliente (muitas vezes até palavras do cotidiano profissional
jurídico, mas que não pertencem ao vocabulário do cliente). Vencer
uma ação poderá ter relação direta com uma situação como esta, em
que, mais que utilizar um palavreado culto com o cliente, significa
compreender o palavreado coloquial do cliente. O (a) advogado (a)
jamais poderá se colocar como alguém que não compreende tudo o
que o cliente diz e deseja, até porque isto é fundamental para se saber
quais os melhores caminhos jurídicos devem ser adotados. Como já
dizia o mestre da viola caipira Tião Carreiro na música “O Mineiro
e o Italiano”, a simplicidade e inteligência do mineiro venceram a
arrogância do italiano. Tratava-se de uma demanda de terras, em
que os personagens tinham diferenças enormes, pois o mineiro era
muito pobre e o italiano muito rico. O mineiro temia perder a ação,
e o italiano se gabava do poder financeiro que tinha e dizia que iria
ver o mineiro voltar a pé para Minas Gerais. O mineiro pensou
em pedir ao juiz que lhe desse razão na demanda e, em troca, lhe
daria de presente a única leitoa que tinha. Nesta bela música raiz de
nossa cultura interiorana, o advogado do mineiro impede que seu
cliente mande uma leitoa de presente para o juiz, já que ambos (o
advogado e o juiz) eram profissionais sérios e jamais iriam contrariar
a lei e a ética. Por sua vez, o advogado explica ao cliente mineiro o
sentido da ética em linguagem simples; e o mineiro compreende,
mas é matreiro. Prestes a perder a ação, preocupado, o advogado

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Geraldo Cossalter

do mineiro tem uma surpresa, quando chega o dia do veredicto. O


mineiro vence a ação! Perguntando ao mineiro o que havia ocorrido,
o cliente responde: “Mandei minha leitoa para o juiz em nome do
italiano.”
Esta pequena história nos mostra dois lados: o lado honesto
e ético do juiz e do advogado; e o lado “matreiro” do mineiro, que
soube compreender o fato e aproveitar-se da situação sem dizer uma
só palavra, obviamente de forma aética. Certamente que não devemos
utilizar o exemplo na vida real, até porque se trata de uma fantasia;
porém, é interessante para refletir, pois, mesmo sendo um cliente
simples, o mineiro soube compreender o sentido da ética do juiz e
assim ganhar a ação usando um artifício não recomendável. É obvio
que uma atitude destas poderá ser punida na vida real, uma vez que
o mineiro se passou pelo italiano, o que não é correto. Obviamente
que não iremos jamais utilizar isto como estratégia de trabalho, mas
é uma forma de reflexão quanto à compreensão de uma determinada
linguagem. Quanto à linguagem culta, desnecessário afirmar que ela
é obrigatória dentro das situações profissionais do (a) advogado (a),
seja com determinados clientes, seja com seus pares, seja diante do
ministério público ou diante dos magistrados. A linguagem culta irá
denotar o grau de conhecimento e, com isto, irá formar o conceito do
(a) advogado (a) em questão. O mesmo vale para a linguagem técnica,
que, sem ela, ou melhor dizendo, sem compreendê-la e sem aplicá-
la, certamente o (a) advogado (a) estará fora do rol de profissionais
qualificados e prestigiados pelo próprio meio em que milita. Um
(a) advogado (a) sem o domínio da linguagem técnica (tanto a sua

69
Advogado x Adevogado

compreensão, quanto a sua aplicação) certamente estará fadado ao


fracasso, uma vez que não compreenderá e não se fará compreendido
pelos demais profissionais e operadores do Direito. E olhe que não
estamos falando do Latim, até porque existe hoje uma corrente que
defende o uso cada vez menor de tal língua; porém, sua importância
também é grande, pois, mesmo não usado com a mesma frequência
de anos atrás, outros profissionais do Direito poderão usá-lo e será
aí que se saberá quem o domina ou não. Imagine em uma audiência
na qual um (a) advogado (a) decide aplicar uma frase em Latim. Já
pensaram se o outro advogado não consegue compreender? Ruim,
não é mesmo? Muito ruim. O mesmo pode acontecer com uma
palavra técnica, com um termo técnico; e, somente com o domínio
de tal linguajar, o (a) advogado (a) terá tranquilidade para enfrentar
situações inesperadas e inusitadas. Pense bem nisto e aja sempre da
seguinte forma:
É preciso utilizar a linguagem culta; porém, retrocedo e
uso a linguagem coloquial para compreender meu cliente. Mas,
no ambiente jurídico, jamais deixo de utilizar a linguagem culta
e técnica. Entretanto, devo sempre observar a situação para assim
me adaptar ao momento. Importante ressaltar que o correto é estar
adaptado sempre ao momento, ao cliente, ao juiz, pois assim nos
faremos compreendidos com maior facilidade.
Isto é uma arte; e os que praticarem tal arte certamente
irão garantir prestígio e credibilidade frente ao meio que milita e,
principalmente, estarão fazendo um bem para si mesmos e seus
clientes.

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Geraldo Cossalter

Boa sorte. Aprenda, pratique e seja sempre um aprendiz,


com a mente sempre aberta para as mudanças, pois elas são a única
certeza no “Mundo do Direito”.

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Geraldo Cossalter

A ARTE DA PERSUAÇÃO ORAL E ESCRITA

“O bom advogado não precisa mentir, precisa saber


argumentar.”
Prof. Luiz Henrique Beltramini, 2013

Persuadir significa convencer. Oralmente, talvez seja a


forma que mais imaginamos ser difícil. Pois falar em público é uma
tarefa bastante difícil para muitos. Falar em público é algo que chega
a ser temeroso para alguns e impossível para outros. Na profissão de
advogado, a persuação é fundamental, porque o bom profissional,
além de todo conhecimento que necessita obter, também tem por
obrigação ser um bom orador. É muito comum a oralidade entre
os pares e a comunicação com o ministério público e com os
magistrados; então, começa a nascer aí uma segunda necessidade,
que é a persuação escrita. Esta é mais difícil até que a primeira, pois
praticar a arte da persuação escrita é, sem dúvida, a forma mais
complexa de demonstrar conhecimento e ao mesmo tempo aptidão
persuasiva. O (a) bom (a) advogado (a) consegue transmitir por meio
de uma síntese escrita o que é dito oralmente em poucas palavras,
mas sintetizar no papel o que foi dito não é uma tarefa tão simples
assim. Muitas vezes uma pequena frase necessita ser dita e explicada.

73
Advogado x Adevogado

Por exemplo: uma petição, que é o meio que o (a) advogado (a) se
comunica formalmente com o magistrado, necessita muitas vezes
de explicações detalhadas, porém sintética nos dias atuais, contendo
ainda assim argumentos que possam convencer o magistrado a
aceitar a ação. Classificar um (a) advogado (a) de “bom de papo” não
significa que ele (a) seja um (a) bom (a) advogado (a), pois persuação
nada tem a ver com ser “bom de papo”. Ao contrário, o (a) bom
(a) advogado (a) persuasivo (a), que consegue o convencimento do
magistrado, está baseado em ser eficaz quanto à fundamentação
de seu pedido, sendo eficiente quanto ao texto que criou e sendo
persuasivo quanto aos argumentos que utilizou para conceber tal
texto. Um texto persuasivo ou uma fala persuasiva geralmente tem
as mesmas bases; entretanto, a diferença está no fato da ausência ou
presença do interlocutor. Ou seja, quando se fala para uma plateia,
ou até para um interlocutor apenas, temos o fator “presença”, pois
estamos diante de outras pessoas e geralmente acabamos por utilizar
a entonação, os gestos, as expressões faciais e outros meios que,
no caso da escrita, não podemos usar. Quando tratamos da forma
oral de persuação, logo nos lembramos daquele vendedor que nos
convenceu a comprar algo. Já na forma escrita, as necessidades de
uma boa persuação são muito diferentes, pois é necessário despertar
o interesse, apresentar motivos concretos, apresentar um texto ético
e, acima de tudo, convincente, além de apresentar argumentos que
irão concretizar literalmente o objetivo do texto. A arte da persuação
significa conseguir ser persuasivo sob os aspectos da ética, da
tolerância, da fundamentação no que se afirma e conhecimento do

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Geraldo Cossalter

que se fala, porque sempre iremos encontrar alguém que saberá algo
que não sabemos. Geralmente, iremos encontrar alguém que sabe
mais que nós; e isto nunca poderá ser descartado. Tanto oral quanto
escrita, a boa persuação dependerá do conhecimento linguístico,
do conhecimento filosófico, do conhecimento hermenêutico
e do conhecimento dos códigos. A arte da persuação tem nos
conhecimentos linguísticos, filosóficos, hermenêuticos, técnicos e
humanos, sob o prisma da ética, o caminho para o sucesso neste
campo tão importante do Direito. A arte da persuação não está
ligada ao campo da mentira, jamais se esqueça disto; até porque
a mentira não pode jamais estar contida na arte da persuação.
Persuadir significa convencer com propriedade, com exatidão, com
certeza, com meios lícitos que levem ao resultado pretendido. Ser um
profissional brilhante também é meta para muitos; mas poucos são
os que realmente conseguem compreender rapidamente o conceito
da persuação, já que somos levados a ser persuadidos e nunca
persuasivos. Assim é a sociedade que vivemos; entretanto, como
futuros profissionais do Direito, é preciso compreender que a arte
da persuação está para o (a) advogado (a), assim como o bisturi está
para o (a) médico (a). Digamos que a arte da persuação tem de ter
precisão cirúrgica, porque um pequeno engano poderá colocar em
xeque todo o trabalho até então desenvolvido. Portanto, é preciso
aprender e jamais esquecer que para ser persuasivo (a) é necessário
compreender suas etapas e praticá-las sempre. Tenho um amigo que
por meses a fio falava consigo mesmo diante do espelho, pois, apesar
de saber os fundamentos da boa persuação, tinha muito medo de

75
Advogado x Adevogado

falar em público. Um dia ganhou um prêmio e teve de discursar.


Ficou mudo, disse apenas “muito obrigado” e saiu quase correndo
do palco. Deste mesmo dia em diante, praticou diante do espelho
e, hoje, profere palestras nos mais diferentes lugares. Este exemplo
pode nos mostrar o quanto uma simples ideia pode modificar nossa
forma de ser, de agir. E isto é essencial para tal arte. Pratique sempre
o conhecimento, a leitura, aprenda e ponha em prática, uma vez que
o tempo se encarregará de torná-lo (a) um (a) especialista na arte da
persuação; no entanto, jamais deixe de ter coragem.
Exteriorizar o pensamento talvez possa ser a pior parte para
a grande maioria; mas, na realidade, é a melhor parte, pois falar
em público é uma arte das mais admiradas. Porém, não o faça para
ser admirado (a). Ao contrário, aprenda para ser um profissional
ímpar, que poderá de alguma forma contribuir para o crescimento
das pessoas, razão de nossa existência!

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Geraldo Cossalter

A ANÁLISE HUMANA

“Em todas as situações jurídicas, não podemos esquecer


que lidamos com vidas humanas.”
Profª Juliana Silva Lopes, 2012

A raça humana, formada por todos nós e cada um de nós,


com nossas imperfeições e vaidades, vive a maior parte do tempo
sem lembrar que é frágil e mortal. Acreditamos que somos os únicos
donos do Universo, onde tudo podemos, muitas vezes sem ética ou
moral, afrontando de forma perversa nossos semelhantes, a Natureza
e a todos os seres vivos, utilizando o privilégio do conhecimento de
forma equivocada. Do alto da arrogância corrupta da superioridade
humana, utilizamos o etnocentrismo como mestre, onde o “outro”
nunca se equipara ao “eu”.
Apesar de não termos a certeza de onde viemos, o que
somos e para onde iremos, legislamos em favor próprio ou em favor
dos grupos a que pertencemos, sem lembrar que teremos nossa vida
terrena finalizada por vermes inferiores.

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Advogado x Adevogado

Ao começar este capítulo com o texto acima, escrito por


mim em 2012, cheguei à conclusão de que a melhor forma de análise
é a autoanálise, que é no meu conceito o princípio da análise humana,
pois o nosso interior pode responder a todas as nossas perguntas, cujas
respostas procuramos equivocadamente em outras pessoas e lugares.
O estudante de Direito deve acreditar que analisar a si mesmo, é
o melhor e também o mais curto caminho de se praticar a análise
humana. Analisar a si mesmo significa encontrar erros e acertos, pois,
como humanos dotados de razão e conhecimento, esquecemos que
somos imperfeitos. Exatamente por sermos imperfeitos e ao passo
que ganhamos conhecimento, geralmente acabamos por acreditar
que tudo sabemos e tudo podemos praticar, razão de resultados
frustrantes. Na grande maioria das vezes, observamos e analisamos
outras pessoas, o que é, sem dúvida alguma, de grande importância
para se angariar conhecimento; entretanto, uma observação de nós
mesmos jamais deve ser desprezada. Isto vale para a vida toda, pois
analisar tudo e todos, incluindo nós mesmos, é a melhor maneira
de aprender a conhecer um dos maiores segredos da vida humana,
ou melhor dizendo, o nosso próprio comportamento. Observando
a natureza humana, ganhamos experiência, porque será o mesmo
que estar olhando no espelho. Sim, como se tivéssemos olhando
no espelho, pois, apesar das diferenças que temos, a essência é a
mesma, haja vista que atitudes e reações são fáceis de enxergar. O
mais importante é analisar para aprender e acumular conhecimento,
já que, analisando outrem, poderemos separar as boas atitudes e
reações daquelas que contrariam isto. Ao mesmo tempo, ao realizar

78
Geraldo Cossalter

uma autoanálise, podemos aplicar em nossa vida o que aprendemos


analisando o outro. É também importante, ao passo que se evolui
como ser humano, passar a ser exemplo a ser seguido, passar a ser
referência, com dignidade, simplicidade, humildade, capacidade de
compreender outrem e a si mesmo. Fatalmente, tudo isso contribuirá
para uma vida feliz e farta de situações empolgantes. Obviamente
que não existe uma receita única, porque cada um tem uma visão de
mundo, cada um tem uma interpretação diferente. Porém, o mais
importante é jamais deixar de analisar, é não perder oportunidades
de crescimento, de conhecimento, sempre praticando a autoanálise,
pois de nada valerá analisar o outro e nunca a nós mesmos. Se assim
não for, seremos meros analistas de outrem e deixaremos de aplicar em
nós mesmos o que foi aprendido, perdendo com isso oportunidades
únicas de crescimento interno e consequente crescimento humano
e profissional. Ao analisarmos a natureza humana, usando de
imparcialidade, usando de raciocínio lógico, coerente e com ética,
acabamos por promover uma espécie de justiça com nós mesmos,
uma vez que estaremos admitindo virtudes de outrem e erros
próprios, bem como o inverso. E, enxergando amplamente este
universo, passamos a ser críticos de nós mesmos. Ser crítico de si
mesmo não é tarefa fácil, visto que a natureza humana nos leva a crer
que sempre somos melhores que outrem, razão de eu afirmar, sem
medo, que os que são críticos de si e admiradores de outrem acabam
por realizar uma verdadeira mudança conceitual sobre tudo e todos
e, principalmente, sobre si mesmos. Isso significa ser conhecedor do
próprio ser, o que passa a ser uma larga vantagem, já que o indivíduo

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Advogado x Adevogado

consegue enxergar detalhes que podem passar despercebidos por


muitos, mas não deste que adquiriu tal vantagem. Portanto, jamais
esqueça que analisar é vital para uma vida feliz. Analisar é eficaz
para um trabalho melhor, analisar é uma das maneiras de se tornar
referência, jamais desprezando o sentido de análise de outrem e de
si mesmo, pois a humanidade tem muito a ensinar. Analisar é o
mesmo que respirar e, sem isso, a vida fica sem sentido, como se
fôssemos apenas mais um dentre muitos outros.

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Geraldo Cossalter

A REFLEXÃO

“Se você não tiver disciplina e educação, não chegará a


lugar algum.”
Prof. Luiz Vicente Ribeiro Côrrea, 2014

UM ANJO CHAMADO SILÊNCIO


Ele paira como se não existisse. Ele está presente em
todo canto, em todo tempo, em todo lugar; mas a maioria não
consegue enxergá-lo ou sequer lembrar-se dele. Os grandes mestres
o consideram um grande protetor, um grande aliado, pois, com ele,
muitas vezes deixamos de mostrar nossa imperfeição humana.
Ele é um anjo que muitas vezes nos deixa com aparência
de fortes, porque deixamos de proferir palavras em vão, deixamos
de ofender, deixamos de culpar, deixamos de maliciar, deixamos
de acusar, deixamos de marcar a vida de nossos pares, como se
tivéssemos marcando a nossa própria vida. Os que conhecem o seu
verdadeiro significado hão de reconhecer nele um aliado, já que
silenciar muitas vezes significa proteger, significa apreciar os nossos
semelhantes, significa assentir ou não. Nem sempre a vida é como
gostaríamos que fosse; porém, o silêncio nos remete a uma reflexão.

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Advogado x Adevogado

O silêncio é nosso anjo protetor, pois nos faz meditar, nos


faz viajar sem sair do lugar e nos transfere para momentos ímpares
que jamais imaginaríamos que pudéssemos viver, pois o silêncio
jamais deixará de existir!
Em Português, “SILÊNCIO”, que vem Latim, “SILENTIU”,
também significa “SIGILO”, “SEGREDO”. O silêncio já diz por si
mesmo o seu verdadeiro significado...

Começo este capítulo com um texto escrito por mim em


2012. Esse texto, “Um Anjo Chamado Silêncio”, é útil para o (a)
advogado (a), pois enfoca coisas que devem ser praticadas sempre.
A primeira delas é, sem dúvida, a reflexão, pois não nos basta
ler, compreender e não refletir. Quando o profissional do Direito
elabora um texto, seja propondo uma ação ou defendendo um cliente,
a reflexão se fará necessária sempre, já que nem sempre se acerta na
primeira vez, o que significa que, antes, durante e na revisão de um
texto, a reflexão deverá ser obrigatória. Refletir significa “filosofar”
sobre o assunto, até porque, quando não refletimos, geralmente
damos margens ao acerto à outra parte e acabamos por dar margens
de erros para nós mesmos. Refletir sobre um caso, refletir sobre uma
situação, refletir sobre um parágrafo é fundamental e essencial para
o sucesso profissional. Quando refletimos, estamos analisando os
fatos, estamos enxergando o caso com uma visão mais abrangente e
mais aguda. Quando não refletimos, muita coisa passa despercebida,
por mais que tenhamos cuidado. Portanto, refletir é fundamental.

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Geraldo Cossalter

Nunca deixe de refletir e analisar. Jamais deixe de considerar todas as


possibilidades, pois a mais remota delas poderá significar o sucesso
e muitas vezes a menos remota poderá determinar a derrota. Os
sábios da antiguidade, os monges, os filósofos gregos, os pensadores
romanos e alemães, dentre tantos outros, sempre tiveram na reflexão
o ponto alto de suas teorias.
Por sua vez, o silêncio deve ser utilizado por dois motivos
diferentes. Primeiramente, ele deve ser o irmão inseparável da
reflexão, uma vez que, sem o silêncio, tal técnica se torna inviável e
impossível. Imagine como seria tentar refletir em meio ao trânsito
das dezoito horas, em plena volta do trabalho, ou ao meio dia,
em pleno movimento de pessoas, automóveis e barulho intenso.
Pode até ser possível refletir diante desse barulho todo; porém, o
silêncio é o fundamento da reflexão. Em um ambiente barulhento,
fica impossível refletir, pois o silêncio é vital para a reflexão. Em
segundo lugar, o silêncio sempre será o anjo protetor do profissional
do Direito, em virtude do sigilo que a profissão exige. Silenciar,
escutar mais que falar, falar no momento certo, utilizando palavras
certas e suficientes para a situação, certamente irá trazer benefícios
para o profissional. O silêncio deve ser utilizado de forma racional.
Portanto, até para proferir uma palavra ou para silenciar, devemos
refletir.
Vejam só a importância destes dois conceitos:
“Reflito para falar e para falar eu reflito.”
“Silencio para refletir e reflito para silenciar.”
Traduzindo para a realidade universitária, é essencial que

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Advogado x Adevogado

você comece a refletir desde o primeiro dia de aula, pois em cada


matéria estão contidas implicitamente e explicitamente lições que
não podem ser perdidas. Quando silenciamos para refletir, estamos
fixando na memória a lição. Entretanto, mais que fixar uma lição,
refletir significa principalmente criar um senso crítico, criar opinião
própria. Somente dessa forma você terá sucesso na universidade e
futuramente como profissional do Direito. Jamais esqueça que
a reflexão é fundamental para formar cidadãos, para praticar a
cidadania e, acima de tudo, para formar uma sociedade que uma
nação forte culturalmente precisa ter. Pratique desde já e torne-se
um universitário e futuro profissional respeitado e admirado, mas
não se esqueça:
“Jamais silencie diante das injustiças, porque esta é a única
ocasião em que jamais devemos silenciar.”

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Geraldo Cossalter

A ALTERIDADE

“Não tome atalhos, não tenha curiosidade para o mal; não


tome decisões em momentos de ira, raiva ou ódio.”
Prof. Humberto Rocha, 2014

Você sabe o que é alteridade? Pois é, eu ainda não compreendi


perfeitamente o seu verdadeiro significado, e talvez até o final de
minha vida eu deva ter dúvidas sobre o seu real sentido. Mesmo
assim, quero tentar passar minha compreensão sobre este tema tão
complexo e importante para nossa vida. Peço que entendam que
não sou um especialista e nem tampouco um filósofo; porém, ousei
escrever sobre a alteridade, graças às conversas que pude ter com o
Prof. Matheus Marques Nunes e o amigo Pe. Leandro Carlos dos
Santos Pupin, aos quais agradeço a ajuda.
Alteridade é um substantivo feminino não muito comum
em nosso cotidiano; entretanto, é incomum apenas como substantivo,
porque está presente em nossa vida, aliás por toda nossa vida, já que
somos humanos e a alteridade está presente na essência humana. Na
abordagem feita pela Filosofia e pela Antropologia vemos:
A alteridade expressa qualidade ou estado do que é “outro”
ou do que é “diferente.”

85
Advogado x Adevogado

A alteridade está fundamentada no princípio de que o


homem tem uma relação de interação e dependência com o “outro”,
razão do “eu” poder existir individualmente somente a partir de um
contato com o “outro”.
A alteridade não tem por objetivo anular ou extinguir uma
cultura em detrimento de outra cultura, porque alteridade implica
que o “eu” seja capaz de se colocar no lugar do “outro”, desenvolvendo-
se, assim, uma relação baseada no diálogo e na valorização das
diferenças existentes.
No contexto filosófico, Platão vê um atributo do “ser”
na multiplicidade das ideias, formando com isto um conceito da
alteridade recíproca, da alteridade de “mão dupla”, em que há o “ir”
e “vir”.
Já para Hegel, a alteridade está conceituada em uma relação
negativa do “eu” com o “outro”, razão da limitação humana. Todavia,
há a possibilidade do “eu” poder se tornar o “outro”, por intermédio
das mudanças das próprias qualidades.
A Antropologia é a ciência da alteridade, porque se dedica
ao estudo da plenitude humana e dos fenômenos que a envolvem.
Como a alteridade é o estudo das diferenças, podemos
dizer que tem grande importância para o (a) advogado (a), já que
ele (a) tem na essência humana os fundamentos de sua atividade
profissional.
Já na visão literária, alteridade significa dizer que a mudança
é constante, em virtude das mudanças que ocorrem com aquele que
pratica a Literatura.

86
Geraldo Cossalter

Observe a frase a seguir:


“Aquele que escreveu esta obra já não sou mais eu.”
Podemos ainda afirmar que:
“A cada dia que passa, já não sou mais o mesmo. Se eu fosse
escrever agora este texto, certamente eu já seria outro e não aquele que
naquele momento escreveu este texto.”
Assim, para a Literatura, o indivíduo que escreve está
praticando a alteridade, já que acaba por se modificar com o
transcorrer do texto ou da obra. Assim são os textos criados pelo
profissional do Direito, já que as mudanças são certeza. Entretanto,
cabe ao profissional analisar, de forma que passe a compreender as
suas próprias mudanças.
Em uma “relação de sociabilidade”, existe uma enorme
diferença entre “os indivíduos”. Juntos, eles formam o “conjunto de
indivíduos” e “cada indivíduo”. “O conjunto de indivíduos” e “cada
indivíduo” dependem do “outro”, para que assim se possa formar “um
ao outro”. Para se constituir uma individualidade, é necessário um
coletivo, já que “eu” existo apenas a partir da visão do “outro.” Isto
permite compreender o mundo a partir de um olhar “crítico” e não
mais apenas de um olhar “comum”. Um olhar “crítico” é o ponto
inicial da compreensão de que a existência depende de “um e do
outro”, partindo, portanto, do conceito do diferente quanto a mim
mesmo. Alteridade é um estado, é a qualidade daquilo que é outro,
é antônimo de identidade, não é único. A dinâmica nas relações
sociais promove a efetivação da vida em sociedade. Como existe uma
relação entre o elemento pensante (eu) e o elemento pensado (o não

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Advogado x Adevogado

eu), logo, alteridade significa olhar nossos semelhantes a partir de


nós mesmos, enxergando as diferenças, o que é na verdade a essência
humana da evolução (o que não ocorre na natureza), provocando
assim a interdependência. A diferença é o combustível das tensões
e conflitos sociais, gerando com isso a certeza de que ela é a base da
vida social. Imagine se tudo fosse igual. Imagine se fôssemos iguais,
se vivêssemos todos os dias da mesma forma.
Com o passar do tempo e aos poucos, passamos a nos
olhar e a nos notar. E passamos a perceber que muitas atitudes e
gestos, muitas reações e posturas nada têm em comum com nossos
semelhantes. Passamos, então, a ser críticos de nós mesmos. Pelo
menos é assim que deveríamos agir, pois passamos a perceber que é
necessário enfrentar mudanças, já que não somos os únicos e muito
menos o modelo definitivo ou correto. Aliás, o que é definitivo e
correto? Resposta difícil, afinal não há até hoje uma resposta definitiva!
Interdependência é fator gerador de compreensão da alteridade, haja
vista que é necessária a relação entre o “eu e o coletivo”. Não há de
se falar em único, não há de se falar em unidade apenas. Sei que
aquele que iniciou este texto já não é mais o mesmo, até porque
estamos nos relacionando por meio dele, estamos mantendo contato
por meio dele; e você, caro (a) leitor (a), também já deixou de ser o
(a) mesmo (a). Pode até ser que você venha a não compreender isto
de imediato, porque é um tanto complexo; mas esta é a virtude das
diferenças, esta é a vantagem de sermos diferentes. Já não sou mais
o mesmo de algumas linhas atrás e já não serei mais o mesmo no
final desta obra. Sei que você também já não é mais o (a) mesmo

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Geraldo Cossalter

(a), e isto é muito bom. O ideal é viver intensamente as diferenças


com um olhar “diferente”, com coragem de manter contato todos os
dias de nossas curtas vidas. Vamos nos modificar, assim; e, a cada
pequena modificação que promovermos em nós mesmos, estaremos
aos poucos promovendo as modificações que nossa sociedade tão
exclusivista necessita. Quero deixar registrado que não quero tratar
da alteridade no campo do Direito, até porque a alteridade para os
diversos ramos do Direito tem definições bem distintas. Por ainda
ser um estudante, não tenho autoridade para tratar da alteridade
no campo do Direito, mas espero poder estar compartilhando com
vocês um pouco dos meus pensamentos sobre a alteridade, pois,
como já disse, ousei escrever um pouco sobre o tema, já que tem
ele sido muito importante para a “descoberta de mim mesmo”. Tenho
a absoluta certeza de que o tema também irá contribuir para o
crescimento pessoal de cada um de vocês, uma vez que a alteridade
vem ao encontro dos anseios relacionados ao autoconhecimento e à
integração social, tão importantes em nossas vidas.
Peço, então, que pensem na alteridade como uma forma de
“filosofar a própria vida”, já que ela é uma das formas de integração e
conhecimento de si mesmo.
Somos seres humanos e, por sermos humanos, temos o
privilégio de poder conhecer e desenvolver o princípio básico da
alteridade, porque sociabilizar é o princípio e crescer aprendendo
com nossas diferenças é o objetivo maior.
Deixo aqui, neste final, um texto escrito por mim em 2012.
É um texto um tanto quanto maluco, mas que busca provocar uma
reflexão sobre nós mesmos:
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Advogado x Adevogado

Quando “eu” se depara com “outro” e “outro” se depara com


“eu”, ambos ficam sem saber onde foram parar; pois, queiram ou
não, “eu” se esconde do “outro” e “outro” se esconde do “eu”, ambos
com medo de que “eu” seja melhor que “outro” e “outro” seja melhor
que “eu”.

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Geraldo Cossalter

A VOCAÇÃO

“Faça na sua vida profissional aquilo que te dá prazer e não


somente aquilo que te dá dinheiro.”
Prof. André Luiz Carrenho Géia, 2014

A vocação para o Direito é algo inexplicável e aparentemente


difícil de ser compreendida, porque para alguns a realização
profissional está apenas focada em um futuro financeiro muito
confortável. Isso é um tremendo engano, pois o grande segredo que
norteia a profissão é a vocação. Aliás, não só a profissão de advogado;
mas todas elas. Vocação para ser um advogado é algo profundo, já que
a base é a paixão pelo ser humano. Sim, a paixão pelo ser humano. A
história da humanidade deve ser tratada como base sólida da profissão,
assim como a atual realidade da humanidade, tendo em vista que o
presente, apesar de muito diferente do passado, sempre irá encontrar
respostas importantes e atuais nas origens da humanidade. Assim
como a humanidade, o Direito moderno tem raízes no passado,
na sua história e muitos resultados modernos são encontrados na
História. A Filosofia, por exemplo, é um caminho importantíssimo
para o mundo do Direito, pois filosofar é primordial para o bom
profissional do Direito. A vocação de todo aquele (a) que lida com

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Advogado x Adevogado

o Direito está diretamente atrelada à história da humanidade. Isso


porque operar com o Direito nada mais é que lidar com pessoas, com
seres humanos que têm vontades, necessidades, anseios, frustrações
e sentimentos dos mais diversos. E exatamente pelo fato de os seres
humanos serem diferentes uns dos outros é que temos a necessidade
de aprimorar a vocação para o Direito. Valorizar a vocação é essencial
para uma boa trajetória profissional, uma vez que seu sentido é o
mais puro e verdadeiro para os que se dedicam à profissão como
um chamado, independentemente do resultado financeiro. Quem
de nós nunca fez a seguinte pergunta, ao fazer alguma coisa:
Foi por vontade própria ou por dinheiro?
Quando se percebe prazer ao realizar uma tarefa, isto é
vocação, pois assim ela é!
Como nos ensina o Prof. Humberto Rocha:
“Situação insuportável é a daqueles que se formam e iniciam
um caminho doloroso e triste, já que não sentem prazer em realizar o
trabalho, não sentem prazer em lidar com pessoas e passam as horas
pensando no final do dia para voltar a suas casas.”
Isto acaba se tornando uma doença sem cura, porque, fazer
algo apenas pelo dinheiro, trará consequências muitas vezes sem
solução. Tal dinheiro será certamente gasto um dia com remédios e
tratamentos médicos. A vocação não é “rude”; ao contrário, a vocação
é “carinhosa”, porque nos dá prazer como um afago. A vocação
tampouco é “intempestiva”; ao contrário, é sólida e condizente com
a felicidade de ser o que se quer ser de verdade. A vocação não é
“alegórica”, porque não pode ser interpretada como se fosse um

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Geraldo Cossalter

personagem; e não há de se falar em vocação com estes e outros


ingredientes, porque a vocação de verdade é livre de preceitos que
prendem o profissional a um cotidiano de incertezas e infelicidade.
Aliás, a vocação está ligada à felicidade. Sim, a felicidade e a vocação
andam juntas, são irmãs de sangue, pois a felicidade está na jornada
diária de nossa vida e jamais em algum lugar distante. E, sendo assim,
é o resultado de um trabalho realizado pela vocação. Toda realização
profissional depende da vocação. Caso contrário, o acúmulo
financeiro será apenas uma poupança para uma vida confortável e
sem prazer. Quando descobrimos nossa verdadeira vocação, nossa
vida passa a ter sentido. Não apenas na esfera profissional; mas
também em nossa vida pessoal, já que naturalmente acabamos por
nos tornar fonte de alegria e felicidade contagiante. Falar de algo
que detestamos é muito ruim, praticá-lo diariamente é pior. Praticá-
lo por uma vida inteira é ainda pior, razão, portanto, de buscar
sempre a verdadeira vocação, uma vez que, buscando a vocação,
certamente se encontrará a fórmula de uma vida saudável e feliz.
Vocação é sinônimo de felicidade, saúde e paz interior. Por isso,
procure e encontre dentro do Direito a sua verdadeira vocação,
jamais esquecendo que a verdadeira felicidade está na jornada diária
e jamais em um futuro que nunca chegará. A decisão é sua e só sua.
Não deixe que decidam por você. Busque na vocação a realização de
uma vida que jamais imaginou ter. Não existe nada mais agradável
que viver pela vocação.
Vocação, em Latim “vocare”, significa chamar.
E, então, você tem vocação para o Direito?

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Geraldo Cossalter

A HUMILDADE, A SIMPLICIDADE E A SOBERBA

“Hoje, vocês iniciam uma nova fase em suas vidas. O colégio


acabou; e a universidade chegou juntamente com a responsabilidade,
que, a partir de agora, é muito maior que antes, principalmente por
terem escolhido o Direito.”
Profª Tríssia Maria Fortunato Paes de Barros, 2012

Em 2012, logo no início do curso de Direito, a Profª


Tríssia Maria Fortunato Paes de Barros incentivou-me a escrever
e publicar meus textos. Passados dois anos, jamais imaginei que
poderia estar publicando um livro. Posso assegurar que este capítulo
trata de duas qualidades que a Profª Tríssia possui: a simplicidade
e a humildade.
Obrigado por acreditar em mim, professora.

A humildade, apesar de seu enorme valor para a boa


convivência, é muitas vezes um tabu para muitos, até porque ser
humilde não é fácil. Pelo contrário, é bastante difícil, pois requer
abdicar da soberba, consiste em abdicar da arrogância, consiste em
abrir mão de muitos sentimentos que geralmente são intrínsecos

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Advogado x Adevogado

ao ser humano. Todavia, não podemos confundir humildade com


simplicidade, porque ambos são distintos e muito diferentes. Muitos
podem ser pessoas simples e, ao mesmo tempo, não ter humildade.
É exatamente nesta lacuna que surge a soberba. Existem também
os que não são simples, mas têm humildade. Soberba é o mesmo
que excesso de orgulho, elevação, altivez, arrogância. Humildade é
demonstração de respeito, submissão, reconhecimento dos próprios
erros, defeitos ou limitações. Esta equação é muito interessante e
consistente, já que é possível ser humilde e simples. É possível ser
simples e não ser humilde, fazendo surgir aí a soberba. Por fim, ser
humilde e não ser simples não significa ter soberba, já que humildade
é qualidade e simplicidade pode ser exemplo de um estilo de vida,
ou pode estar relacionado às origens da pessoa. Ter gosto refinado,
ter gosto diferenciado, optar por uma vida menos simples ou mais
luxuosa e, mesmo assim, ser humilde sem ser soberbo é perfeitamente
possível. O ruim é não ter gosto refinado, não ser humilde e, por
consequência, ter a soberba. Ruim também é ser simples, sem
humildade e ter a soberba. Não que a soberba deva acompanhar o
simples ou o sofisticado. Ou a humildade. Até porque fica difícil a
humildade conviver com a soberba. Diria até impossível, pois são
exatamente opostas. A soberba é a “doença” da humildade e também
se apresenta muitas vezes como uma “grave doença” da humanidade;
e aquele que a tem em excesso estará fadado a uma espécie de
reclusão própria, pois muitas vezes impossível se torna a convivência
pacífica com pessoas com tal estilo de vida. A humildade é a melhor
forma, é o melhor caminho para se ter boas relações e conseguir

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Geraldo Cossalter

boas amizades. Ser humilde não significa deixar de ser alguém com
conhecimento e cultura. Ao contrário, os que detêm conhecimento
e cultura devem ser humildes, uma vez que este é o princípio da
sabedoria. Ser simples não tem qualquer relação com a forma de se
vestir. Ao contrário, a simplicidade está na forma de se portar, de se
dirigir às pessoas; está na forma de compreender os semelhantes. Ser
simples é ser acessível, é ser alguém de fácil compreensão, de fácil
comunicação. Ser simples é compreender que somos imperfeitos
e sabermos que esta é a única igualdade entre todos os humanos.
Ser humilde e simples é ter generosidade, é ter compaixão e saber
reconhecer em outrem as deficiências de si mesmo.
Como diz o Prof. Luiz Henrique Beltramini:
“Ser humilde e simples é bom demais, pois a vida fica prática,
serena, fica mais amena e menos dura.”
Enfim, combata a soberba com humildade e simplicidade.
Combata a soberba, que é própria da essência humana. Combata
a soberba e seja um profissional respeitado; porém, seja sempre e,
simplesmente, humano, simples e humilde, já que, quando não mais
estivermos nesta vida, certamente o que aprendemos e praticamos
para o bem passará de alguma forma a fazer parte de nossa essência.
Humildade e simplicidade sempre, soberba jamais!

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Geraldo Cossalter

EPÍLOGO

“O tempo presente e o tempo passado


Estão ambos talvez presentes no tempo futuro;
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente,
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstração,
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
O que podia ter sido e o que não foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória,
Ao longo do corredor que não seguimos,
Em direcção à porta que nunca abrimos.
(...)
O tempo passado e o tempo futuro
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um fim, que é sempre presente.”
T. S. Eliot

Ao chegarmos juntos até aqui, significa que esta obra tem


algum valor para o leitor. E isto muito me emociona e muito me
enobrece, porque esta obra tem por finalidade incentivar aqueles
que queiram enriquecer o conhecimento por meio da “chave mestra”.
Sinto-me agradecido em poder compartilhar minhas ideias,
porque, acima de tudo e por sermos mortais e passageiros, nossa vida
ficará sem sentido se nada fizermos em prol de outrem. Sendo assim,
esta obra é uma semente que planto no coração de cada um dos
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Advogado x Adevogado

leitores, desejando que cada um de vocês, independentemente do


ramo do Direito que queiram seguir, consigam atingir as expectativas
que os mantêm ativos nos estudos. Não importa se for advogado,
juiz, promotor, funcionário público ou até mesmo consultor na área
jurídica, uma vez o que importa é estar sempre estudando, refletindo,
filosofando, lendo e interpretando a vida. Jamais deixem de estudar,
jamais abdiquem da leitura, jamais esqueçam que o que iremos
levar desta vida tão breve será o conhecimento e as boas ações que
praticarmos por aqui. A entrega aos estudos deve ser condizente com
a complexidade do Direito, sendo fundamental reconhecer que este
é apenas o início de tudo, já que jamais será possível obter-se o ponto
exato de todo o conhecimento, mesmo porque tal ponto inexiste.
O diploma será um mero documento, se nada for feito em prol do
verdadeiro conhecimento. É imprescindível a busca incansável do
aprendizado, pois, a cada etapa superada, se pode ter uma visão um
pouco mais ampla, apenas um pouco mais ampla, já que as etapas
jamais terão fim. E assim é o Direito!
Antes de encerrar, quero deixar um texto que escrevi em
maio de 2012, com o objetivo de despertar a reflexão, pois o assunto
abordado é muito interessante e, com certeza, será mais uma forma
de poder compartilhar meus pensamentos. Encerro assim, desejando
que o texto a seguir, bem como esta obra, possa inspirá-los em suas
jornadas de eternos estudantes.
Recebam o meu abraço fraterno, recebam minha gratidão
e, principalmente, a minha promessa de ser um eterno aprendiz. Boa
sorte e muito sucesso em suas jornadas!

100
Geraldo Cossalter

O TEMPO, AMIGO OU CARRASCO?

O tempo é engraçado. Ao mesmo tempo que cura, também


machuca. O tempo tem mais de um tempo, talvez dois, três, quatro,
cinco... O tempo tempera ou destempera... endurece ou amolece... O
tempo é rápido ou demorado, tudo vai depender das circunstâncias.
O tempo, velho amigo, que também pode ser um carrasco. O
tempo para quem não tem tempo, para os que não veem o tempo
passar, para os que aproveitam o tempo, para os que sofrem com o
tempo, para os que são felizes com o tempo. O tempo, invisível e
tão visível, leve e pesado, amável e cruel, assim ele é. Cada um de
nós faz suas escolhas na vida; e o tempo, de uma forma ou de outra,
estará lá, cobrando ou pagando. Pagando com momentos felizes; e
cobrando com tristezas, saudades, arrependimentos. Porque ele é o
tempo e jamais voltará atrás. O tempo passado, presente, futuro.
Não importa! Nossas escolhas fazem dele um amigo ou um carrasco.
Portanto, ter cuidado com as escolhas fará de nossa vida presente ou
futura aquilo que escolhemos no passado. Pois o passado não volta; e
ontem já deixou de ser hoje e já virou passado; e amanhã já será hoje
e deixou de ser futuro.
Não podemos perder o tempo do tempo, pois podemos
transformá-lo em amigo ou carrasco. Tudo depende de nós.
Paradoxo...

101
Este livro foi impresso pela São Francisco Gráfica e
Editora Ltda., de Ribeirão Preto.
Para saber mais sobre a Editoria Paradoxo e quiser
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