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ZIBECHI Brasil Potencia 1 PDF
ZIBECHI Brasil Potencia 1 PDF
Brasil potência
Entre a integração regional e um novo imperialismo
2a edição revista
CONSEQUÊNCIA
Coordenação editorial
Editora Consequência
Tradução
Carlos Walter Porto-Gonçalves
Revisão
Vinícius Loureiro Renaud
Capa, projeto gráfico e diagramação
Letra e Imagem
Foto da capa
© Alexandre Fagundes | Dreamstime.com
cip-brasil. catalogação-na-fonte
sindicato nacional dos editores de livros, rj
Apresentação..............................................................................................................7
Prefácio...................................................................................................................... 9
Prólogo......................................................................................................................13
Introdução ...............................................................................................................17
Em geral um livro vale pelas ideias que veicula, mas também pode valer
pelo que mobiliza a partir dessas ideias. É bem o caso do livro que o leitor
brasileiro ora recebe que para sua edição mobilizou amplos esforços de
um grupo de estudiosos sensibilizado pelas questões que levanta, sobre-
tudo diante do novo quadro de integração da América Latina nos marcos
da reorganização global do capitalismo. Além das ideias que o livro traz
é preciso considerar as qualidades próprias do autor, Raúl Zibechi, que
alia à consistência teórico-política uma refinada capacidade de sistemati-
zar informação e um texto escorreito que convoca todos à leitura. Mais do
que isso, que por si só já qualificaria o livro, Zibechi reúne uma qualidade
da/os velha/os intelectuais revolucionária/os que sabem que o comunismo,
mais do que uma doutrina como alguns acreditam, “é o movimento real
que suprime o estado de coisas existente” (Marx) e, como tal, é um movi-
mento aberto. Assim, mais que uma teoria sobre o mundo, o que leremos
aqui é uma reflexão tecida a partir do mundo. Raul Zibechi é desses in-
telectuais que sabem que a produção da vida, e não há produção da vida
sem processo de produção de conhecimento é, sempre, uma produção de
sentido coletivo. Assim, estamos diante de um livro tecido nos encontros
de lutas sociais onde o autor, como nos mostra logo no início do livro, nos
relata as mobilizações sociais que hoje em vários locais da América do Sul
queimam bandeiras brasileiras como ontem queimavam bandeiras esta-
dunidenses. Para entender esse fenômeno fez um mergulho profundo na
realidade brasileira trazendo uma enorme contribuição para a compreen-
são da nova configuração do capitalismo, inclusive de novas configurações
de grupos/classes sociais.
Foi a cumplicidade com as ideais aqui veiculadas nesse livro que fez
com que os pesquisadores do Lemto, do Brasil, e do Coletivo Bajo la Tierra,
do México, se dedicassem a essa empreitada certos de que é preciso en-
tender a reconfiguração geopolítica que se abre no mundo, sobretudo na
América Latina, com o deslocamento do centro geopolítico/econômico do
1
Pronunciada em 20 de novembro de 1999, foi publicada na revista Rebeldía No. 4, feve-
reiro de 2003, sob o título “¿Cuáles son las características fundamentales de la IV Guerra
Mundial?”.
Raúl Zibechi
1
Hacienda: Exploração rural agrícola ou pecuária de caráter latifundiário, levada para a
América Latina pelos espanhóis. Nas regiões de pecuária extensiva, como no Pampa, foi
uma forma de organização econômica que explorava trabalhadores em situação de aguda
dependência.(N.E.)
2
Montonera: Provém de montão. Grupos armados irregulares formados para combater um
inimigo superior, sem organização militar hierárquica. Os setores populares latino-ameri-
canos organizaram “montoneras” durante a guerra de independência contra Espanha. (N.E.)
Akal, 2001.
4
Giovanni Arrighi. Adam Smith en Pekín. Madrid: Akal, 2007.
5
Ibid., p. 375-381.
6
Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure.
7
“Brasil quer acelerar usinas em vizinhos para garantir energia”, Folha de São Paulo, 14
de fevereiro de 2012.
8
“Múltis brasileiras trazem US$ 21 bilhões das filiais”, Valor, 6 de fevereiro de 2012.
conclui a partir da atitude que já tomaram diante das rebeliões dos operá-
rios que constroem as represas e dos indígenas que são afetados por elas.
Em todo caso, o rumo que tomarem as lutas sociais e políticas no Brasil
será decisivo para a região, embora seja o país onde essas lutas mostram
um declínio mais prolongado e pronunciado.
9
Buen Vivir é a tradução ao espanhol de outros horizontes de sentido ético-políticos para
a vida e que dialoga com/contra a noção ocidental de desenvolvimento. Alguns autores
preferem a tradução Vida Plena. Trata-se de um conceito em construção que emana das
lutas dos povos originários da América Latina que vem resistindo à desterritoralização
que lhes vendo sendo imposta desde o período colonial, nas últimas décadas em nome
do desenvolvimento, quase sempre para se apropriar de suas condições de existência ma-
teriais que, para a grande maioria desses povos, são inseparáveis de suas dimensões sim-
bólicas e espirituais. Uma das principais marcas desses povos e suas propostas de buen
vivir é de outra relação com a natureza, e não de uma relação contra a natureza, como
caracterizam o paradigma hegemônico ocidental.
Raúl Zibechi
Montevidéu, março de 2012.
O retorno do subimperialismo
1
“Embaixador brasileiro mostra sua tristeza pela queima da bandeira de seu país”, La Na-
ción, Asunción, 16 de maio de 2008, em: <http://www.lanacion.com.py/articulo.php?ar-
chivo=1&edicion=1&sec=1&art=186859>. (Consulta 20/10/2011.)
2
Ronderos, ou rondas camponesas: forma de organização das comunidades indígenas e
camponesas para se defender de roubo de gado, de delinquentes ou de qualquer ameaça
exterior que ponha a comunidade em perigo.
3
“Protesta en contra de Hidroeléctrica de Inambari terminó sin resultados”, Los
Andes, Juliaca,14 de dezembro de 2009, em: <http://www.losandes.com.pe/Regio-
nal/20091214/30921.html>. (Consulta 20/10/2011.)
4
“La región Puno protesta contra hidroeléctrica del Inambari”, Los Andes, Juliaca, 5 de
março de 2010, em: <http://www.losandes.com.pe/Politica/20100305/33711.html>. (Con-
sulta 20/10/2011.)
5
Ministério de Energia e Minas do Peru, “Acuerdo para el suministro de electricidad al
Perú y exportación de excedentes al Brasil”, Lima, 16 de junho de 2010.
6
“Mayor parte de energía irá a territorio brasileño”, La Primera, Lima, 29 de maio de 2010;
“El espejismo de la integración energética”, César Campodónico, La República, Lima, 19
de junho de 2010.
7
“Disminuye la popularidad de Evo Morales”, Infobae, 29 de setembro de 2011, em:
<http://america.infobae.com/notas/34601-Disminuye-la-popularidad-de-Evo-Morales>.
(Consulta 21/10/2011.)
que vai ser construída com um crédito do BNDES, que foi congelado
durante os protestos.
Diante da ofensiva do capital e do Estado brasileiro na região sul-ame-
ricana, não é estranho que um conceito como “subimperialismo” volte a
aparecer nos debates políticos e estudos acadêmicos. Três décadas depois
da publicação do célebre texto de Ruy Mauro Marini, La acumulación ca-
pitalista mundial y el subimperialismo, 8 o conceito ganha atualidade nova-
mente. Nos últimos anos, vários trabalhos discutiram o tema e os meios de
comunicação adotaram o termo “subimperialismo”, inclusive “imperialis-
mo”, com certa frequência. A ascensão do Brasil pode ser uma das razões
desse interesse renovado. Os conflitos mantidos por grandes empresas bra-
sileiras em países vizinhos pequenos (Petrobras na Bolívia, Odebrecht no
Equador, entre outros), evidenciaram o papel do Brasil na região.
Nas páginas seguintes me proponho a debater o conceito de “subimpe-
rialismo” baseado no texto original de Marini e em alguns dos trabalhos
publicados nos últimos anos: O subimperialismo brasileiro revisitado: a po-
lítica de integração regional do governo Lula (2003-2007), de Mathias Seibel
Luce;9 A teoria do subimperialismo brasileiro: notas para uma (re)discussão
contemporânea, de Fabio Bueno e Raphael Seabra;10 O imperialismo brasi-
leiro nos séculos XX e XXI: uma discussão teórica, de Pedro Henrique Pe-
dreira Campos,11 e O Brasil e o capital-imperialismo, de Virgínia Fontes.12
Além disso, foram publicados vários artigos jornalísticos nos quais o
conceito de subimpério ou subimperialismo tem lugar destacado,13 além
8
Ruy Mauro Marini, “La acumulación capitalista mundial y el subimperialismo”, Cuader-
nos Políticos, n. 12, México, ERA, abril-junio, 1977.
9
Mathias Seibel Luce. O subimperialismo brasileiro revisitado: a política de integração
regional do governo Lula (2003-2007). Porto Alegre: Universidade Federal de Rio Grande
do Sul, 2007.
10
Fabio Bueno y Raphael Seabra, “El capitalismo brasileño en el siglo XXI: un ensayo de
interpretación”, 25 de maio de 2010, em: <http://www.rosa-blindada.info/?p=351>. (Con-
sulta 21/10/2011.)
11
Pedro Henrique Pedreira Campos, O imperialismo brasileiro nos séculos XX e XXI: uma
discussão teórica, exposição na XXI Conferência Anual da International Association for
Critical Realism, Niterói, Universidade Federal Fluminense, 23-25 julho de 2009.
12
Virginia Fontes. O Brasil e o capital-imperialismo. Rio de Janeiro: EPSJV, UFRJ, 2010.
13
Carlos Tautz, “Imperialismo brasileiro”, 11 de maio de 2005, em: <www.asc-hsa.org/
files/Imperialismo_Brasileiro.pdf> y Andrés Mora Ramírez, “¿Subimperio o potencia al-
ternativa del sur?”, 14 de setembro de 2009, em: <http://alainet.org/active/33011>. (Con-
sulta 21/10/2011.)
14
Ruy Mauro Marini, “La acumulación capitalista mundial y el subimperialismo”, Cua-
dernos Políticos, n. 12, México, ERA, abril-junho de 1977, p. 67.
15
Ruy Mauro Marini. Subdesarrollo y revolución. México: Siglo XXI, 1974. p. 26.
16
Ibid., p. 191.
17
Ibid., p. 192.
18
Ibid., p. 60.
19
Ibid., p.37.
20
Ibid., p. 54.
21
Ibid., p. 193-194.
22
Ruy Mauro Marini, “La acumulación capitalista mundial y el subimperialismo”, op. cit.
23
Ruy Mauro Marini, Subdesarrollo y revolución, op. cit., p. 76.
24
Ibid., p. 17.
25
Golbery do Couto e Silva. Geopolítica del Brasil. México: El Cid Editor, 1978. p. 8-9.
26
Ibid., p. 56-57.
27
Ibid., p. 60.
28
Ruy Mauro Marini, Subdesarrollo y revolución, op. cit., p. 74.
29
Paulo Schilling. ¿Irá Brasil a la guerra? Montevidéu: Fundación de Cultura Universita-
ria, 1973. p. 74.
30
Ibid., p. 4.
31
Ibid., p. 80.
32
James Dunkerley. Rebelión en las venas. La lucha política en Bolivia 1952-1982. La Paz:
Quipus, 1987. p. 170.
33
Ibid., p. 171.
34
Marcelo Quiroga Santa Cruz. Oleocracia o patria. México: Siglo XXI, 1982.
35
Paulo Schilling, ¿Irá Brasil a la guerra?, op. cit., p. 86.
36
James Dunkerley, Rebelión en las venas, op. cit., p. 177.
37
Marco Aurélio Garcia, “O lugar do Brasil no mundo”, em Emir Sader e Marco Aurélio
García. Brasil entre o passado e o futuro. São Paulo: Boitempo, 2010. p. 163.
38
Juan Antonio Pozzo Moreno, “Breve reseña histórica de las relaciones paraguayo brasi-
leñas”, ABC, Asunción, 28 de junio de 2008.
39
Paulo Schilling, “Itaipú: energía y geopolítica”, 1978, em: <http://www.manuelugarte.
org/modulos/biblioteca/s/shilling_expansionismo_brasilenio/expansionismo_brasile-
nio_parte3.htm>. (Consulta 20/10/2011.)
40
Ibid.
41
Juracy Magalhães, Minhas Memórias Provisórias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1982. p. 201-203, citado por Pozzo Moreno.
Por que de uma hora para outra mudaram os planos brasileiros e decidi-
ram a construção de Itaipu, 160 quilômetros mais para o sul, no próprio
rio Paraná? A única explicação para esta mudança aparentemente sem
vantagens técnicas nem econômicas poderia ser encontrada em um deta-
lhe técnico de caráter meramente geopolítico. A construção de Itaipu vai
prejudicar, pela proximidade das duas represas e pela consequente dimi-
nuição da força da corrente, a construção de Corpus pela Argentina. Os
técnicos afirmam, inclusive, que as duas hidrelétricas, assim como estão
programadas, são excludentes. A única possibilidade de viabilizar a repre-
sa de Corpus seria se os brasileiros concordassem em aumentar a altura de
Itaipu de 100 metros sobre o nível do mar (como está prevista) a 125. Pare-
ce óbvio que o governo brasileiro nem sequer vai considerar esta hipótese,
pois ela significaria a redução do potencial desta última.
Aparentemente, a manobra dos geopolíticos brasileiros teve êxito total:
garantiu ao Brasil uma potência de 12,6 milhões de kW, anexou pratica-
mente o Paraguai e prejudicou o projeto hidrelétrico mais importante da
Argentina, para o qual ela não tem, como o Brasil, alternativas exclusiva-
mente nacionais.42
42
Paulo Schilling, “Itaipu: energía y geopolítica”, op. cit.
43
Ibid.
44
Golbery do Couto e Silva citado por Paulo Schilling, ¿Irá Brasil a la guerra?, op. cit., p. 16.
45
Ruy Mauro Marini. “Dialética da dependência”, em Roberta Traspadini e João Pedro
Stédile. Ruy Mauro Marini. Vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2005. p. 138.
46
Ibid.
47
Ruy Mauro Marini, “La acumulación capitalista mundial y el subimperialismo”, op. cit.,
p. 1.
48
Ibid., p. 3.
49
Ibid., p. 8.
50
Ibid.
51
Ibid., p. 10.
52
Ibid., p. 17.
53
Ruy Mauro Marini, Subdesarrollo y revolución, op. cit., p. 57-58.
54
Ibid., p. 61.
55
Ibid., p. 71.
56
Ibid., p. 78.
Nas páginas seguintes espero poder mostrar que no Brasil existe outro
conjunto de modificações notórias: a ampliação da elite no poder, inte-
grando novos atores na aliança entre os militares e a burguesia paulista;
que essa nova elite construiu uma estratégia de poder que deve levar o Bra-
sil a se tornar uma potência mundial (já é a principal potência regional);
que o país se tornou um centro autônomo de acumulação de capital com
grandes empresas multinacionais entre as mais importantes do mundo em
vários ramos produtivos com o apoio do Estado; que está desenhando a ar-
quitetura política, econômica e de infraestrutura da região sul-americana,
transformando-a em seu quintal, seu “pátio traseiro”, com relações alta-
mente assimétricas com alguns países. Esses elementos devem ser agre-
gados a uma sólida política de fortalecimento militar, à direção da missão
militar das Nações Unidas no Haiti e ao desenho de uma estratégia capaz
de intervir em zonas conflituosas da região de modo direto ou indireto.
Certamente, este conjunto de mudanças modificam, na minha opinião,
a atualidade do conceito de “subimperialismo” para descrever o papel do
Brasil. De qualquer forma, mais importante que o conceito (creio que, com
certas reservas, podemos utilizar o de “imperialismo”) são as consequ-
ências políticas que derivam da compreensão da nova realidade para os
povos latino-americanos e, particularmente, para a ação coletiva dos mo-
vimentos sociais.
1
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Boletim do Diap, n. 243, Brasília,
outubro de 2010.
2
“Construtoras ajudam a eleger 54% dos novos congressistas”, Folha de São Paulo, 7 de
novembro de 2010.
3
Ibid.
4
Instituto Ethos e Transparency Internacional, A Responsabilidade Social das Empresas
no Processo Eleitoral. Edição 2010, São Paulo, 2010, p. 30.
A trajetória sindical
5
Ibid., p. 32.
6
A partir de Boletim do Diap, op. cit.
7
Francisco de Oliveira, Crítica à razão dualista o Ornitorrinco, São Paulo, Boitempo, 2003,
p. 146.
8
Mensalão faz referência aos pagamentos mensais que dezenas de parlamentares rece-
biam baseados em um esquema armado por dirigentes do PT e do governo federal.
9
O FAT é um fundo administrado pelo Ministério do Trabalho para financiar o seguro-
desemprego e programas de desenvolvimento social baseado em contribuições patronais
e dos trabalhadores.
10
Francisco de Oliveira. Crítica à razão dualista/O Ornitorrinco. São Paulo: Boitempo,
2003. p. 146.
11
Armando Boito Jr., “A hegemonia neoliberal no governo Lula”, Crítica Marxista, n. 17.
Rio de Janeiro: Revan, 2003. p. 4.
12
Ibid., p. 6.
13
O ABC é a região industrial da área metropolitana de São Paulo, cujo nome deriva das
iniciais das cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano, que com-
põem o núcleo da região.
14
Ibid.
15
Fabiana Scoleso, “Sindicatos dos metalúrgicos do ABC: as novas relações entre capital
e trabalho na década de 1990”, III Simpósio de Lutas Sociais na América Latina, Gepal,
Paraná, Universidade Estadual de Londrina, 24-26 de setembro de 2008.
16
Marcelo Badaró Mattos, “A CUT hoje e os dilemas da adesão à ordem”, Outubro, n. 9.
São Paulo: Instituto de Estudos Socialistas, 2003.
17
Pelego, em referência à pele do cordeiro, assimila-se à “carneiro”, fura-greves ou ama-
relo no linguajar do Rio da Prata. No Brasil, o termo “pelego” começou a se popularizar
durante o governo de Getúlio Vargas na década de 1930. Imitando a Carta do Trabalho
de Benito Mussolini, Vargas decretou a Lei de Sindicalização em 1931, submetendo os
estatutos sindicais ao Ministério do Trabalho. Pelego era o líder sindical de confiança do
governo e com vínculos com o Estado. Sob a ditadura militar instalada em 1964, pelego
passou a ser o sindicalista apoiado pelos militares.
18
Armando Boito Jr., “A hegemonia neoliberal no governo Lula”, op. cit., p. 9.
19
Ibid., p. 12.
20
“V Congreso nacional da CUT”, p. 17 en http://www.cut.org.br/documentos-oficiais/3
(Consulta 10/01/2013).
21
Marcelo Badaró Mattos, “A CUT hoje: os dilemas de adesão à ordem”, op. cit.
22
Ibid.
23
Ibid.
24
Tese sustentada, entre outros, por Boito Jr. e Mattos.
25
Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres, convertida na Confede-
ração Sindical Internacional a partir de 2006.
26
Rudá Ricci, “A CUT vai caminhando para ser a antiga CGT do século XXI”, em IHU
Online, 2 de setembro de 2008, em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/16373-`a-
cut-vai-caminhando-para-ser-a-antiga-cgt-do-seculo-xxi`--entrevista-especial-com-ru-
da-ricci>. (Consulta 22/11/2011.)
em 1992; por isso pode se afirmar que a virada foi realizada no ambiente
posterior à derrota eleitoral de Lula (1989) e nas primeiras fases do neolibe-
ralismo no Brasil, quando ocorre a reestruturação produtiva das grandes
empresas.
Por último, essa institucionalização da CUT e a sua profissionalização
dependente do Estado não deixou de influir na integração dos seus órgãos
de direção, assim como na massa afiliada. Novamente as mudanças con-
vergem no mesmo período histórico. No Congresso de 1988, os delegados
de base eram 50,8% dos congressistas, enquanto 49,2% eram dirigentes.
No Congresso de 1991, ocorre um giro fenomenal: 83% são dirigentes e
apenas 17% são delegados de base.27
27
Marcelo Badaró Mattos, “A CUT hoje: os dilemas de adesão à ordem”, op. cit.
28
Rudá Ricci, “A CUT vai caminhando para ser a antiga CGT do século XXI”, op. cit.
29
Armando Boito; Andreia Galvão y Paula Marcelino, “Brasil: o movimento sindical e
popular na década de 2000”, OSAL. Buenos Aires: Clacso, n. 26, outubre de 2009. p. 39.
30
A primeira posição em Armando Boito et al., op. cit. A segunda em Andreia Galvão, “O
movimento sindical frente ao governo Lula”, revista Outubro, n. 14. São Paulo: Instituto
de Estudos Socialistas, 2006.
31
Armando Boito; Andreia Galvão e Paula Marcelino, “Brasil: o movimento sindical e
popular na década de 2000”, op. cit., p. 37.
32
Celina Souza, “Sistema brasileño de gobierno local”, em Catia Lubambo; Denilson Ban-
deira e André Melo (comp.) Diseño institucional y participación política: experiencias en el
Brasil contemporáneo. Buenos Aires: Flacso, 2006. p. 146.
que em outros sistemas como os cartões de crédito, além do fato dos sindi-
catos obterem um rendimento de 0,5% do empréstimo.33 Este tipo de ação,
que se enquadra dentro do sindicalismo cidadão, é apresentado diante dos
afiliados como “conquistas”.
Esse sindicalismo começou a priorizar as festas sobre as mobilizações,
como sucede com os espetáculos de 1° de maio, que até o governo Lula
era realizado somente pela central conservadora, a Força Sindical. Mas
a partir de 2004, a CUT começou a contratar especialistas em marketing
para organizar a festa que inclui megaeventos com artistas populares, sor-
teios de carros e apartamentos e a prestação de serviços como cabeleireiro
e documentação. Desse modo, a crescente institucionalização e a perda
de autonomia se agregam à despolitização e até ao reforço da perspectiva
neoliberal, dos valores do mercado e da individualização dos problemas
do trabalhador.34
O governo Lula promoveu reformas na legislação sindical que permi-
tem a passagem de uma porcentagem das quotas sindicais diretamente às
centrais se cumprirem alguns requisitos como representar pelo menos 5%
dos trabalhadores e ter mais de cem sindicatos afiliados. Isso lhes permite
conseguir o reconhecimento legal e dessa forma integrar 10% das quotas
que, diga-se de passagem, são compulsórias para os trabalhadores, embora
não sejam necessariamente afiliados, representando um dia de trabalho
por ano. Isso fortalece o poder das cúpulas, e, paralelamente, tornou-se
um incentivo para a formação de novos sindicatos. Para alguns analistas,
a criação da Conlutas e da Intersindical (ambas, dissidências da esquerda
da CUT) e da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (ligada ao sistema
confederativo) estariam relacionadas, em alguma medida, com essas mu-
danças na legislação sindical, além da inconformidade da esquerda sindi-
cal com a perda da autonomia da CUT.35
A quinta questão a levar em conta é a participação de sindicalistas no
governo Lula em um grau nunca visto antes.
33
Andreia Galvão, “O movimento sindical frente ao governo Lula”, op. cit., p. 144. Diferen-
temente da Força Sindical, a CUT não obtém dividendos, mas negocia juros mais baixos
e pode atrair mais filiados.
34
Ibid.
35
Armando Boito, Andreia Galvão e Paula Marcelino, “Brasil: o movimento sindical e
popular na década de 2000”, op. cit., p. 48.
36
Maria Celina d´Araújo, A elite dirigente do governo Lula. Rio de Janeiro: Fundação Ge-
túlio Vargas, 2009. p. 9.
37
Ibid., p. 15.
38
Ibid., p. 32-37.
39
Ibid., p. 42.
40
Ibid., p. 53.
41
Ibid., p. 60-63.
42
Ibid., p. 64.
43
Ibid., p. 78.
44
Ibid., p. 117-125.
45
Vivian Machado dos Santos, “Por dentro do FAT”, Revista do BNDES, n. 26, Rio de
Janeiro, dezembro de 2006, p. 3-14.
46
Francisco de Oliveira, Crítica à razão dualista. O ornitorrinco, op. cit., p. 146.
47
“Evolução do desembolso do BNDES”, em BNDES, <http://www.bndes.gov.br/SiteBN-
DES/bndes/bndes_pt/Institucional/Relacao_Com_Investidores/Desempenho/#desem-
bolso2010>. (Consulta 25/12/2011.)
48
“As finanças do BNDES: evolução recente em tendências”, em Revista do BNDES, Rio de
Janeiro, n. 31, junho 2009, p. 4.
49
Ibid., p. 37.
50
Datos de Pensions & Investments, em: <www.pionline.com>.
51
Maria Chaves Jardim, “Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos de pensão
em tempos do governo Lula”, Tese de Doutorado, Universidade Federal de São Carlos,
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2007, p. 60.
52
Ibid., p. 73.
53
“Fundos de pensão têm desafio de mudar cultura do brasileiro de não poupar”, Folha de
São Paulo, 17 de novembro de 2010.
54
Carlos de Paula, “O Cenário da Previdência Complementar Hoje e na Próxima Década”,
31º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, Previc (Superintendência Nacional da
Previdência Complementar, Olinda, 18 de novembro de 2010.
55
Carlos de Paula, “O Cenário da Previdência Complementar Hoje e na Próxima Década”,
op. cit.
56
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) classifica a população por grupos de renda familiar:
as Classes A e B possuíam mais de R$4.891 mensais em 2010; a Classe C entre R$1.064
e R$4.891 reais; a Classe D entre R$768 e R$1.064 reais e a Classe E menos de R$768 por
família. O salário mínimo em 2010 era de R$510 reais, ou R$300 dólares (dólar aproxi-
mado: R$1,70).
57
Revista Previ, n. 53, Rio de Janeiro, Previ, agosto de 2010.
Fonte: Petros.
*Dólares em outubro de 2011.
58
Revista Previ, n. 53, Rio de Janeiro, Previ, agosto de 2010.
59
Revista Previ, n. 51, Rio de Janeiro, Previ, junho de 2010.
60
D´Araújo, Maria Celina, A elite dirigente do governo Lula, op. cit., p. 74-76.
61
Ibid., p. 76.
62
“PT e PMDB querem manter domino em fundo de pensão”, Jornal DCI, em: <http://
www.prevhab.com.br/stPublicacoes.aspx?secao=0&item=587>. (Consulta 29/05/2011.)
63
Ibid.
64
Revista Veja, 4 de março de 2009.
65
“Estudo mostra que governo é sócio de 119 empresas”, Agencia Estado, 2 de dezembro de
2010, em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+geral,estudo-mostra-que-
governo-e-socio-de-119-empresas,45860,0.htm>. (Consulta 20/10/2011.)
66
“Fundo de pensão Previ acumulou, em 10 anos, rentabilidade de 553,35%”, Valor, 19 de
maio de 2010.
67
Diário do Grande ABC, 30 de novembro de 2010.
68
“Fundo de pensão da Petrobras vira sócio da controladora de Itaú”, Folha de São Paulo,
26 de novembro de 2010.
69
“O PT e os fundos de pensão”, revista Piauí, n. 35, agosto de 2009.
70
Maria Chaves Jardim, “Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos de pensão em
tempos do governo Lula”, op. cit., p. 172-173.
71
Ibid., p. 171-172.
72
Ibid., p. 173.
73
Ibid., p. 189.
74
Ibid,. p. 192.
75
Citados por Maria Chaves Jardim, “Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos
de pensão em tempos do governo Lula”, op. cit., p. 197.
76
Ibid., p. 237.
oriundos do setor bancário de São Paulo e que fazem parte do núcleo de-
cisório das políticas do PT; passaram pela Fundação Getúlio Vargas de
São Paulo, são de classe média, sexo masculino, brancos e heterossexu-
ais. Mulheres, negros ou índios não existem neste espaço social, onde, da
mesma forma, a regra da “boa etiqueta” não abre espaços para “posturas
desviadas” como a homossexualidade.78
77
“Dirigentes eleitos de fundos de pensão apoiam Lula” em: Associação Nacional dos Par-
ticipantes de Fundos de Pensão, <http://www.anapar.com.br/boletins/boletim_66.htm>.
(Consulta 10/01/2013).
78
Maria Chaves Jardim, “Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos de pensão em
tempos do governo Lula”, op. cit., p. 248-249.
já que nesse estado se concentram 163 dos 370 fundos de pensão, sendo tam-
bém o lugar onde surgiram a CUT e o novo sindicalismo brasileiro.
Para finalizar a descrição dessa elite, veremos brevemente algumas bio-
grafias pessoais. Antes de ser ministro de Lula, Luiz Gushiken era sócio
da empresa consultora Global Prev (ex-Gushiken & Associados), e como
deputado foi sempre a referência do PT na área das aposentadorias. For-
mou-se na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio
Vargas, junto com Ricardo Berzoini. Gushiken indicou vários nomes para
o primeiro gabinete de Lula, sendo o responsável pela nominação dos pre-
sidentes dos três maiores fundos: Previ, Petros e Funcef. São eles, respec-
tivamente, Sérgio Rosa, com quem tinha compartilhado o sindicato ban-
cário, Wagner Pinheiro, com quem, além do sindicato, dividiu a área do
programa para a candidatura de Lula em 2002 e, finalmente, Guilherme
Lacerda, que foi assessor econômico do PT desde 1998.79
Ricardo Berzoini foi deputado do PT, dirigente bancário e trabalhou
juntamente com Gushiken em campanhas e lobbies para a aprovação de
leis a favor dos fundos de pensão. No primeiro governo Lula, foi ministro
da Previdência e depois do Trabalho. Devido ao escândalo do mensalão,
deixou o cargo e passou a ocupar a Secretaria-Geral do PT. O advogado
Adacir Reis completa o trio das pessoas mais influentes sobre os fundos.
Amigo de Gushiken, liderou a Secretaria da Previdência Complementar
(fundos de pensão) durante o primeiro governo Lula e é conhecido como
“guardião” dos fundos, com grande influência sobre a associação de enti-
dades de fundos (Abrapp) e dos usuários (Anapar). Diferentemente dos
anteriores, Reis não é oriundo do meio sindical tendo feito carreira como
operador de primeiro nível dos próprios fundos.
O caso de Wagner Pinheiro é parcialmente diferente, pois procede do
Banco Santander, onde trabalhou como economista, tendo sido diretor e
presidente do fundo de pensões desse banco (Banesprev), o sétimo fundo
em volume de ativos, ascendendo a seis bilhões de dólares. Sob o governo
Lula, presidiu o fundo da Petrobras (Petros), o segundo do ranking.
Sérgio Rosa é um dos casos mais notáveis, segundo revela a pesquisa
da revista Piauí. Seu pai chegou de Portugal com 14 irmãos para trabalhar
Ibid., p. 252-254. Todos os dados a continuação sobre a elite dos fundos provêm do mes-
79
mo trabalho, p. 254-260.
80
“O PT e os fundos de pensão”, revista Piauí, n. 35, agosto de 2009.
81
Ibid., p. 266.
82
Sindicato dos Bancários: <http://www.spbancarios.com.br/profissionalcursos.asp?c=9>.
(Consulta 14/03/2011).
83
Maria Chaves Jardim, “Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos de pensão em
tempos do governo Lula”, op. cit., p. 265.
84
“Programa do Governo do PT 2002”, citado em Maria Chaves Jardim, op. cit., p. 75.
85
Valor Econômico, 29 de maio de 2003, citado em Maria Chaves Jardim, op. cit., p. 163.
86
“Seminário Internacional sobre Fundos de Pensão”, em: <http://www.anapar.com.br/
boletins.php?id=113>. (Consulta 14/03/2011.)
87
Adacir Reis, intervenção no I Seminário Internacional sobre Fundos de Pensão,
em: <http://www.ancep.org.br/imprensa/materias/semin_inter.htm#6>. (Consulta
14/03/2011.)
88
Oded Grajew, intervenção no I Seminário Internacional sobre Fundos de Pensão, em:
<http://www.ancep.org.br/imprensa/materias/semin_inter.htm#6> (Consulta 14/03/2011.)
89
Entrevista a Oded Grajew, revista GV Executivo, São Paulo, Fundação Getúlio Var-
gas, São Paulo, v. 4, n. 1, fevereiro/abril, 2005, em: <http://rae.fgv.br/gv-executivo/vol-
4-num1-2005/oded-grajew>. (Consulta 9/06/2011.)
Por outro lado, defende a proposta da inclusão social pela via do mer-
cado, na mesma direção que os gestores dos fundos de pensão e que o go-
verno do PT. Considera que foi a mobilização do terceiro setor e as ONGs,
baseadas nas orientações da responsabilidade social, que possibilitaram
avanços em matéria de direitos humanos, gênero, raça, infância e direitos
sociais por meio de “ações de solidariedade” e de “atender a emergência
social”. A responsabilidade social das empresas do setor financeiro radica
em escolher bem os investimentos: “o banco Itaú e o ABN Amro Real são
dois bons exemplos dessa nova atitude de mercado”, assegura Grajew.90
Esses pontos de vista são os que levam Jardim a considerar que o go-
verno Lula defende uma “domesticação” ou “moralização do capitalismo”,
concretizada na inclusão social via fundos de pensão:
90
Ibid.
91
Maria Chaves Jardim, “Domesticação e/ou Moralização do Capitalismo no Governo
Lula: Inclusão Social Via Mercado e Via Fundos de Pensão”, Dados, Rio de Janeiro, n. 1 ,
2009, p. 144.
92
Ibid., p. 150.
93
Ibid., p. 152.
94
Francisco de Oliveira, Crítica à razão dualista. O ornitorrinco, op. cit., p. 147-148.
95
Ibid,. p. 148.
96
Ibid., p. 147.
97
Francisco de Oliveira, “O momento Lênin”, Novos Estudos, n. 75, São Paulo, Cebrap, p.
23-47, julho 2006.
98
Ibid., p. 40-41.
99
Maria Chaves Jardim, “Entre a solidariedade e o risco: sindicatos e fundos de pensão em
tempos do governo Lula”, op. cit., p. 223.
100
Ibid., p. 214-215.
101
Ibid., p. 217.
102
João Bernardo e Luciano Pereira, Capitalismo sindical. São Paulo: Xamã, 2008. p. 13.
103
Ibid., p. 14.
104
Severino Cabral, Brasil megaestado. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004. p. 30.
105
Ibid., p. 129.
106
Ibid., p. 49.
1
Gabinete de Segurança Institucional, “Anais do VII Encontro Nacional de Estudos Estra-
tégicos”, Vol. 3, Brasília, 2008, p. 372.
no mundo pelo seu tamanho, população e riqueza: ser uma das grandes
potências globais.
Com a chegada do PT e de Lula ao governo, foi ativado o Núcleo de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República (NAE) na órbita da Se-
cretaria de Comunicação do Governo e de Gestão Estratégica. Na fase ini-
cial, o ministro foi Luiz Gushiken e o coordenador Glauco Arbix, estavam
à frente do principal centro de pesquisa (Ipea); o secretário executivo era
o coronel aposentado Oswaldo Oliva Neto. A secretaria não foi mais uma
dentro do governo, como mostrou sua evolução posterior transformando-
se em ministério, ou seja, na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) em
2008, dirigida por alguns dos mais notáveis intelectuais do país, como Ro-
berto Mangabeira Unger e Samuel Pinheiro Guimarães. A criação do NAE
sob a direção Gushiken não foi uma decisão improvisada, como se conclui
a partir da breve, mas transcendente gestão que colocou o planejamento
brasileiro em um novo patamar.
Já na metade de 2004, apenas um ano depois de estabelecido, o NAE
publicava seu primeiro caderno, que avançava no primeiro esboço de pla-
nejamento estratégico de longa duração: Projeto Brasil 3 Tempos.2 Foi a
primeira definição da nova força política que tinha chegado ao governo de
mostrar que não só procurava ocupar o Palácio do Planalto, mas mudar
a história do Brasil. A partir desse momento, o NAE (depois ministério)
converteu-se numa fábrica de ideias, propostas e iniciativas que foram se-
guidas de ações que começaram a dar forma ao projeto de país que vinha
sendo desenhado. Alguns dos projetos mais notáveis impulsionados por
essa equipe são: a Estratégia Nacional de Defesa, que está inspirando a
reorganização e rearmamento das Forças Armadas com missões precisas,
além da consolidação de uma indústria de defesa tecnologicamente autô-
noma. O Projeto Brasil 3 Tempos: 2007, 2015, 2022, é o plano diretriz que
situa o país no caminho para se converter em potência global. Além dessas
propostas, pode ser somada uma infinidade de análises estratégicas, desde
a nano e a biotecnologia até os biocombustíveis e a mudança climática, que
contribuem de forma notável a nutrir as equipes de governo de argumen-
tos para a tomada de decisões de grande audácia.
2
Núcleo de Assuntos Estratégicos, “Projeto Brasil 3 Tempos”, Cadernos NAE, n. 1, Presi-
dência da República, julho de 2004, Brasília.
3
Ibid., p. 87.
4
Alberto Moniz Bandeira, Presencia de Estados Unidos en Brasil. Buenos Aires: Corregi-
dor, 2010. p. 430.
5
Ibid., p. 431 e ss.
6
Núcleo de Assuntos Estratégicos, Cadernos NAE, n. 1, op. cit., p. 88. Alberto Moniz Ban-
deira, Presencia de Estados Unidos en Brasil, op. cit, p. 453.
7
Alberto Moniz Bandeira, Presencia de Estados Unidos en Brasil, op. cit., p. 453.
8
Ibid., p. 499.
9
Mais detalhes sobre a participação dos Estados Unidos no golpe de 1964 em Moniz Ban-
deira, op. cit., p. 501-533.
10
Núcleo de Assuntos Estratégicos, Cadernos NAE, n. 1, op. cit., p. 92.
11
Ibid., p. 93.
12
Ibid., p. 94.
13
Criada como Oficina de Pesquisa, seu nome foi modificado em 1967 para o atual Ipea.
14
Núcleo de Assuntos Estratégicos, Cadernos NAE, n. 1, op. cit., p. 95.
15
Ibid., p. 96-97.
16
Ibid., p. 103.
17
Ibid., p. 104.
18
Ibid., p.112
19
“Cenário Diadorim. Esboço de um Cenário Desejável para o Brasil. Projeto Brasil 2020”,
Revista Parcerias Estratégicas, Brasília, Secretaria de Assuntos Estratégicos, n. 6, março
de 1999, p. 35.
20
Núcleo de Assuntos Estratégicos, Cadernos NAE, n. 1, op. cit., p. 5.
21
Núcleo de Assuntos Estratégicos, “Agenda para o futuro do Brasil”, Caderno NAE, n. 8,
Brasília, maio de 2007, p. 5.
22
Leis 11.204, de 5 de dezembro de 2005, e 11.754, de 23 de julho de 2008, respectivamente.
vel da região, decisiva para o futuro do país. Nesse mesmo ano foi publica-
da a Estratégia Nacional de Defesa, que definiu uma completa reorganiza-
ção das Forças Armadas e as prioridades dos investimentos em setores que
são considerados estratégicos (nuclear, espacial, tecnologia de informação
e comunicação), e foram realizados ciclos de planejamento estratégico
com o Ipea. Em 2009, começou a elaboração do projeto Brasil 2022.
Para elaborar o primeiro projeto (Brasil 3 Tempos) e lançar o processo
de gestão estratégica a longo prazo, abriu-se uma instância no governo
que levou à criação de um “Conselho de Ministros” encarregado de co-
ordenar o projeto, comandado pelo NAE, que incluiu os ministros da
Casa Civil (José Dirceu), Secretaria-Geral da Presidência (Luiz Soares
Dulci), de Desenvolvimento Econômico e Social (Tarso Genro), de Co-
municação do Governo e Gestão Estratégica (Luiz Gushiken), todos eles
vinculados à Presidência, e o ministro de Planejamento, Orçamento e
Gestão (Guido Mantega). Esse verdadeiro “gabinete estratégico” estava
integrado por militantes do PT e por pessoas de confiança do presidente
Lula, além de ser coordenado também por Oliva Neto. Veremos que, re-
centemente, quando os projetos foram definidos com precisão, abriu- se
à participação de pessoas que não pertencem ao círculo íntimo da máxi-
ma direção do PT.
O NAE cria grupos de trabalho, realiza muitas mesas redondas e en-
contros, além de publicar cadernos e diversos projetos que balizam os ob-
jetivos traçados entre os mais diversos setores. Com grande pragmatismo,
o NAE concluiu depois de cuidadosas análises que os planos anteriores
fracassaram por causa do seu conceito estático de projeto e no seu lugar
priorizam o conceito de processo e substituem o conceito de “planejamen-
to” pelo de “gestão”, que lhes permite introduzir correções durante a im-
plementação dos objetivos traçados.23 O NAE dividiu a realidade brasileira
em várias dimensões para que especialistas fizessem estudos que foram
depois modelados pelo Núcleo baseados em amplias consultas à sociedade,
de modo tal que se combinassem os conhecimentos de especialistas com a
“vontade popular”.24 No total, participaram ao redor de 500 pesquisadores
e 50 mil pessoas que geraram um milhão e meio de dados “relacionados
23
Núcleo de Assuntos Estratégicos, Cadernos NAE, n. 1, op. cit., p. 42 e 51.
24
Núcleo de Assuntos Estratégicos, Cadernos NAE, n. 8, op. cit., p. 55.
25
Ibid.
26
Ibid., p. 16.
27
Os Cadernos do NAE até 2010 foram dedicados a: biotecnologia, mudança climática,
reforma política, cenários prospectivos, futuro do Brasil, inclusão digital, matriz de com-
bustíveis, modelo macroeconômico e nanotecnologia. Quanto aos ciclos de palestras, as
principais foram: desenvolvimento social, política exterior, cultura, educação, segurança,
institucional, minas e energia, ciência e tecnologia, saúde, desenvolvimento agrário, es-
porte, portos, planejamento, segurança social, igualdade racial e comunicação social.
28
Secretaria de Assuntos Estratégicos, Brasil 2022, Brasília, 2010, p. 5.
29
Ibid., p. 15.
30
Ibid., p. 18-19.
31
Ibid., p. 16.
32
Ibid., p. 26.
33
Ibid., p. 40.
As Metas do Centenário
34
Ibid., p. 53
35
Ibid,. p. 58
36
Secretaria de Assuntos Estratégicos, Brasil 2022, “Relações Exteriores. Importância es-
tratégica”, em <http://www.sae.gov.br/brasil2022/?p=52>. (Consulta, 10/01/2012.)
37
“Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-americanas”, em: <http://www.comuni-
dadandina.org/unasur/tratado_constitutivo.htm>.
38
“Unasul foca suas políticas de Defesa em proposta de fabricação de aviões”, EFE, Lima,
11 de novembro de 2011, em <http://www.abc.es/agencias/noticia.asp?noticia=997234>.
(Consultado em 11/01/2012.)
39 “Declaração conjunta de Puricelli e Amorim”, Ministério de Defesa da República
Argentina, 5 de setembro de 2011, em <http://www.mindef.gov.ar/prensa/comunicados.
php?notId=1969>. (Consultado 11/01/2012.)
40
“Brasil e Argentina discutem produção de blindados leves”, Valor, 6 de setembro de 2011.
Economia
+ Crescer 7% por ano.
+ Aumentar a taxa de investimentos a 25% do PIB.
+ Reduzir a dívida pública a 25% do PIB (43% em 2010).
+ Atingir a inclusão digital de 100% da população adulta.
+ Duplicar a produção e as exportações agropecuárias.
+ Aumentar a produtividade agropecuária em 50%.
+ Triplicar o investimento em pesquisa agropecuária.
+ Dobrar a produção de alimentos.
+ Multiplicar por cinco a agricultura sustentável.
+ Duplicar o consumo per capita de peixe e a pesca em 50%.
+ Quintuplicar as exportações e sextuplicar as de média e alta tecnologia.
+ Levar o investimento privado em pesquisa e desenvolvimento a 1% do
PIB.
+ Levar o gasto total em pesquisa e desenvolvimento a 2,5% do PIB.
+ Ter 450 mil pesquisadores e 5% da produção científica mundial.
41
El Mundo, Madri, 17 de maio de 2010.
42
Secretaria de Assuntos Estratégicos, Brasil 2022, op. cit.
Sociedade
+ Erradicar a extrema pobreza e o trabalho infantil.
+ Chegar a 10 milhões de universitários.
+ Incluir o Brasil entre as dez maiores potências olímpicas.
+ Atingir autonomia na produção de insumos estratégicos.
+ Duplicar o gasto público em saúde.
+ Universalizar a seguridade social.
+ Atingir a igualdade salarial entre negros e brancos.
Infraestrutura
+ Levar a 50% a participação de energia renovável na matriz energética.
+ Elevar a 60% a utilização do potencial hidráulico (de 29% em 2007).
+ Dobrar o uso per capita de energia.
+ Instalar quatro novas usinas nucleares.
+ Aumentar o conhecimento geológico do território amazônico de 30% a
100%.
+ Reduzir em 40% o uso de combustíveis fósseis.
+ Ampliar a capacidade portuária a 1,7 bilhões de toneladas.
+ Assegurar o acesso à banda larga de 100 Mbps a todos os brasileiros.
+ Ter em órbita dois satélites geoestacionários.
Estado
+ Decuplicar os recursos do Fundo de Convergência Estrutural do Mer-
cosul.
+ Decuplicar a cooperação técnica e financeira com a África.
+ Consolidar a Unasul.
+ Consolidar a articulação política com os países em desenvolvimento.
+ Lançar ao mar o submarino nuclear.
+ Lançar o primeiro satélite construído no Brasil.
44
Samuel Pinheiro Guimarães. Desafios brasileiros na era dos gigantes. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2006. p. 259.
Esta ascensão brasileira à condição de grande potência não deve ser consi-
derada uma utopia, mas um objetivo nacional necessário, porque sua não
45
Ibid., p. 263.
46
Ibid., sublinhados no original.
47
Samuel Pinheiro Guimarães. Quinhentos anos de periferia. Rio de Janeiro: Contraponto,
1999. p. 99. Samuel Pinheiro Guimarães, Desafios brasileiros na era dos gigantes, op. cit.,
p. 265-266.
48
Samuel Pinheiro Guimarães, Desafios brasileiros na era dos gigantes, op. cit., p. 265-266.
49
Ibid., p. 268.
50
Ibid., p. 270.
51
Ibid., p. 276.
52
Ibid., p. 424-425.
53
Ibid., p. 306.
54
Ibid., p. 320.
55
Samuel Pinheiro Guimarães, “Mudança de clima e energia nuclear”, Valor, 11 de junho
de 2010, em: <http://www.sae.gov.br/site/?p=3663>. (Consulta 20/06/2010.)
56
Ibid.
57
Samuel Pinheiro Guimarães, “A América do Sul em 2022”, Carta Maior, 26 de julho
de 2010, em: <http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_
id=16822>. (Consulta 10/06/2011.)
58 Ibid.
59
Roberto Mangabeira Unger, “Pôr fim ao governo Lula”, Folha de São Paulo, 15 de no-
vembro de 2005, p. 2.
60
Richard Rorty, “Unger, Castoriadis and the romance of a national future”, em Robin
W. Lovin e Michael J. Perry (ed.). Critique and Construction: A Symposium on Roberto
Unger’s Politics. New York: Cambridge University Press, 1987. p. 30.
61
Além do texto de Rorty, pode-se consultar Perry Anderson, “Roberto Unger y las polí-
ticas de transferencia de poder”, em Campos de batalla. Bogotá: Tercer Mundo Editores,
1995. p. 209-236; Geoffrey Hawthorn, “Practical Reason an Social Democracy: Reflections
on Unger´s Passion and Politics”, em Robin W. Lovin e Michael J. Perry (ed), op. cit., p.
90-114.
62
A editora Boitempo (São Paulo) publicou até agora sete livros de Mangabeira Unger,
<www.boitempo.com>.
63
Geoffrey Hawthorn, “Practical Reason an Social Democracy: Reflections on Unger´s
Passion and Politics”, op. cit., p. 90.
64
Perry Anderson, “Roberto Unger y las políticas de transferencia de poder”, op. cit., p.
228.
65
Cui Zhiyuan, “Prefácio” a Política. La teoría contra el destino. São Paulo: Boitempo, 2001.
p. 11-22.
66
Perry Anderson, “Roberto Unger y las políticas de transferencia de poder”, op. cit., p.
212.
67
Cui Zhiyuan, “Prefacio” a Política. La teoría contra el destino, op. cit., p. 14.
68
Ibid., p. 16.
69
Perry Anderson, “Roberto Unger y las políticas de transferencia de poder”, op. cit., p. 216,
em francês no original.
70
Ibid., p. 221.
71
Cui Zhiyuan, “Prefacio” a Política. La teoría contra el destino, op. cit., p. 17.
72
Ibid., p. 19.
73
Ibid., p. 20.
74
Perry Anderson, “Roberto Unger y las políticas de transferencia de poder”, op. cit., p. 236.
75
Todas estas iniciativas fazem parte da carta de Mangabeira Unger ao presidente Lula na
qual pede sua exoneração como ministro. Ver “Carta programática ao Presidente (digita-
da)”, 29 de junho de 2009, em: <http://www.law.harvard.edu/faculty/unger/portuguese/
propostas.php>.
76
Ibid., p. 2.
77
Ibid., p. 2.
78
Ibid., p. 7.
79
Roberto Mangabeira Unger, “Uma visão de longo prazo para o Brasil”, palestra no VII
Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, em Gabinete de Segurança Institucional,
83
Ibid., p. 487.
84
Revista Isto é, “O general de Mercadante”, 20 de janeiro de 2003, em: <http://www.terra.
com.br/istoegente/181/reportagens/oswaldo_muniz.htm>. (Consulta 27/03/2011.)
85
Apresentada no ano 2001 como conclusão do curso “Política, Estratégia e Alta Ad-
ministração”, em Revista Eletrônica Brasiliano & Associados, n. 28, São Paulo, Brasilia-
no & Associados, março 2007, em: <http://www.brasiliano.com.br/revistas_anteriores.
php?PHPSESSID=68e832a68fa6162c568e1b8a4b09d4de>. (Consulta 31/03/2011.)
86
“Brasília propone una Otan sudamericana”, Agencia Periodística del Mercosur, 16 de
novembro de 2006 em: <http://lists.econ.utah.edu/pipermail/reconquista-popular/2006-
November/044587.html>. (Consulta 31/03/ 2011.)
87
Ibid.
88
“Diferencial do Brasil está no agronegócio”, em Carta Maior, 3 de julho de 2006, em:
<http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=11588>.
(Consulta 31/03/2011.)
89
Ibid.
90
Siglas de European Aeronautic Defence and Space Company (Eads), corporação euro-
peia criada em 2000 pela fusão da Aeroespacial Matra da França e da Casa da Espanha
e Daimler-Chrysler da Alemanha. Fabrica os aviões comerciais Airbus, aviões militares,
mísseis e foguetes espaciais.
91
“A volta da Engesa: O Brasil que produz armas de guerra”, Revista Isto é, 19 de agosto
de 2009, em: <http://www.istoe.com.br/reportagens/16703_A+VOLTA+DA+ENGESA>.
(Consultado 21/03/2011.)
92
“Eads Defence & Security e Organização Odebrecht unem forças no Brasil para esta-
belecer uma parceria de longo prazo”, em <http://www.odebrecht.com.br/sala-imprensa/
press-releases?id=14268>. (Consultado 21/03/2011.)
93
“Odebrecht cria empresa de gestão na área de Defesa”, 17 de setembro de 2010 em:
<http://economia.ig.com.br/empresas/industria/odebrecht+cria+empresa+de+gestao+-
na+area+de+defesa/n1237778550208.html>. (Consulta 31/03/2011.)
94
“Odebrecht adquire controle da fabricante de mísseis Mectron”, Folha de São Paulo, 25
de março de 2011, em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/893738-odebrecht-adqui-
re-controle-da-fabricante-de-misseis-mectron.shtml>. (Consulta 2/04/2011.)
95
“Odebrecht cria empresa de gestão na área de Defesa”, op. cit.
96
Foreign Policy, 7 de outubro de 2009, em: <http://rothkopf.foreignpolicy.com/
posts/2009/10/07/the_world_s_best_foreign_minister>. (Consultado 10/01/2012.)
Da estratégia de resistência à
estratégia de defesa nacional
1
Diário da Manhã, Goiânia, 10 de fevereiro de 2003. Disponível em: <http://www.achano-
ticias.com.br/noticia.kmf?noticia=2809013>. (Consulta 03/04/2011.)
2
Mario Augusto Jakobskind, “Aprendiendo de Vietnam”, em Brecha, Montevideo, 18 de
fevereiro
de 2005 e Observatório da Imprensa, 25 de janeiro de 2005. Disponível em: <http://www.
observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=313JDB003>. (Consulta 03/04/2011.)
3
Câmara dos Deputados, Departamento de Taquigrafia, “Depoimento do Comandante
Militar da Amazônia General Cláudio Barbosa de Figueiredo”, Comissão de Relações Ex-
teriores e Defesa Nacional, Brasília, 2 de outubro de 2003, p. 31.
4
Paulo Roberto Corrêa Assis, “Estratégia da resistência na defesa da Amazônia”, Núcleo
de Estudos Estratégicos Mathias de Alburquerque (Neema), Amazônia II, Rio de Janeiro,
Tauari, 2003.
5
João Roberto Martins Filho, “As Forças Armadas Brasileiras no pós Guerra Fria”. Forta-
leza, Revista Tensões Mundiais, v. 3, 2006, p.78-89.
6
Luiz Alberto Moniz Bandeira, As relações perigosas: Brasil-Estados Unidos (De Collor a
Lula, 1990-2004). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. p. 271.
7
Ibid., p. 272-274.
8
João Roberto Martins Filho, “As Forças Armadas brasileiras e o Plano Colômbia”, em
Celso Castro (coord.) Amazônia e Defesa Nacional. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Var-
gas, 2006. p. 13-30.
9
Juan Gabriel Tokatlian, “La proyección militar de Estados Unidos en la región”, Le Mon-
de Diplomatique, Buenos Aires, dezembro de 2004.
10
Luiz Alberto Moniz Bandeira, op. cit. p. 276.
11
“Os militares, o governo neoliberal e o pé americano na Amazônia”, em revista Repor-
tagem, 18 de outubro de 2000. Disponível em: <http://www.oficinainforma.com.br/inclu-
des/imprimir_pv.php?id=493>.
(Consulta 30/04/2011.)
12
Humberto Trezzi, “EUA já têm 20 guarnições na América do Sul”, Zero Hora, Porto
Alegre, 25 de março de 2001. Disponivel em: <www.oocities.org/toamazon/toaguarnicao.
html>. (Consulta 02/01/2011.)
13
Raúl Zibechi, “El nuevo militarismo en América del Sur”, Programa de las Américas,
maio de 2005, Disponivel em: <http://alainet.org/active/8346•=es>.
14
Ministério de Defesa, “Estratégia Nacional de Defesa”, Brasilia, 2008, p. 1.
15
Ibid., p. 2.
16
Ibid., p. 5.
17
Ibid., p. 6.
18
Samuel Pinheiro Guimarães, Desafios brasileiros na era dos gigantes, op. cit., p. 353.
19
Ministério de Defesa, “Estratégia Nacional de Defesa”, op. cit., p. 7.
20
Ibid., p. 8.
21
Ibid.
22
Ibid., p. 16.
23
È quando há uma grande desproporção das forças militares envolvidas no conflito ar-
mado, obrigando-as a utilizar meios de combate pensados fora da tradição militar.
24
Ibid., p. 18.
25
Ibid., p. 22.
Muitas das propostas já haviam sido postas em marcha com grande ên-
fase logo que aprovada a END, o que mostra a vontade de mudança estra-
tégica e que os projetos não se tornem meras declarações. Destacarei três
situações para ilustrá-lo. Em abril de 2010, o diário Zero Hora afirmava
que os quartéis brasileiros estavam em ebulição, já que “está em marcha a
maior modificação no tabuleiro de tropas realizadas no país desde que os
militares assumiram o poder no Brasil em 1964”.26 Porém, aponta o jornal,
não se trata de ideologia, mas sim de geopolítica: brigadas de infantaria se
movimentam do Litoral até o Planalto Central e Amazônia.
Desde então, criaram-se 28 novos postos de fronteira na Amazônia
frente aos 21 existentes, somado ao movimento de blindados do Rio Gran-
de do Sul e Paraná para a região. Para esse objetivo, só o Exército prevê
investir quase 90 milhões de dólares até 2030. Quando da finalização do
processo de relocalização e reestruturação, o Exército acrescentaria 59 mil
novos combatentes aos 210 mil existentes em 2010, e o aparelho de guerra
seria mais ágil com a incorporação de blindados de última geração. Esse
processo é parte da Estratégia Braço Forte, que inclui os programas Ama-
zônia Protegida e Sentinela da Pátria. Para se ter uma ideia da preferência
pela defesa da Amazônia, do total de novos efetivos, 40% seriam instalados
na região, quase duplicando o efetivo para 49 mil militares.
A segunda situação se refere aos submarinos. Logo após as negociações
com a França em 2009, a Marinha criou o Programa de Desenvolvimento
de Submarinos (Prosub), cujo marco se inicia em 2010, com a construção
de um enorme estaleiro em Itaguaí, Estado do Rio de Janeiro, onde serão
construídos quatro submarinos convencionais e o primeiro submarino
nuclear. Trata-se de um dos projetos mais ambiciosos, sendo a Marinha a
principal responsável em vigiar e defender as reservas petrolíferas da ca-
mada do pré-sal, para a qual os submarinos terão um papel decisivo. O
estaleiro pertencerá à Marinha, mas nos próximos vinte anos será cedido
em concessão à Odebrecht, que tem 49% da francesa DCNS que conta com
50%. O 1% restante pertence à Marinha, que terá a capacidade de vetar
decisões estratégicas da sociedade entre ambas empresas, bem como em
outras empresas estratégicas no Brasil: a Embraer, terceira maior empresa
26
“Nova cartada do Exército brasileiro”, Zero Hora, Porto Alegre, 18 de abril de 2010, Dis-
ponível em: <http://planobrasil.com/2010/04/18/nova-cartada-do-exercito-brasileiro>.
(Consulta: 02/01/2011.)
27
“Brasil planeja frota nuclear”, O Estado de São Paulo, 21 de novembro de 2010, Dis-
ponível em: <http:// www.estadao.com.br/noticias/impresso,brasil-planeja-frota-nucle-
ar,643152,0.htm>. (Consulta 02/01/2011.)
28
“Produção de helicópteros coloca Brasil entre gigantes mundiais”, em Defesanet, 13 de
abril de 2011, Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/aviacao/noticia/596/Produ-
cao-de-helicopteros-coloca-Brasil-entre-gigantes-mundiais>. (Consulta 19/04/2011.)
29
Trata-se de um helicóptero de grande autonomia, rápido e potente, capaz de transportar
29 soldados, equipamentos e dois pilotos.
30
“Brasil ganha espaço nos planos da Eurocopter”, Valor, 12 de abril de 2011, Disponí-
vel em: <http://www. investe.sp.gov.br/noticias/lenoticia.php?id=14881>. (Consulta
02/01/2011.)
Dos dois projetos firmados com a França, é o que está mais avançado. A
transferência de tecnologia pela Eurocopter irá também permitir a fabri-
cação de aeronaves para controlar e proteger as reservas petrolíferas ma-
rítimas. O projeto prevê que os EC-725 atinjam 50% de conteúdo nacional
em 2020, quando a empresa terá capacidade de projetar, desenvolver e pro-
duzir helicópteros no Brasil. Todo esse processo prevê a participação de
empresas locais junto da Eurocopter, definindo aquilo que o presidente da
empresa, Lutz Bertling, chamou de “processo de nacionalização dos heli-
cópteros”, que não se restringirá ao modelo EC-725.31
Esses três exemplos são apenas o começo das transformações que estão
sendo introduzidas pela Estratégia de Defesa Nacional. Em agosto de 2010, o
Senado aprovou a reestruturação das Forças Armadas, unificando as três ar-
mas por intermédio de um Estado-Maior Conjunto, em estreita relação com
o ministro da Defesa.32 Com essa decisão, fortalece-se a direção unificada do
Comando Maior e intensifica a centralização e coordenação das forças.
A nova Estratégia de Defesa mostrou sua força em duas ocasiões bem
diferentes: a realização da Operação Atlântico II no litoral marítimo, em
julho de 2010, antes da Cúpula da Otan em Lisboa, em novembro do mesmo
ano. Um dos eixos de defesa passa pelo Atlântico, já que o Brasil é um país
com um extenso litoral. O conceito de “Amazônia Azul” pretende dar conta
dessa realidade. Os espaços marítimos brasileiros, até as 200 milhas náuticas,
correspondem a 3,5 milhões de quilômetros quadrados, chamados de Zona
Econômica Exclusiva. Porém, o Brasil está pleiteando, na Convenção de Li-
mites da Plataforma Continental da Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito ao Mar, a extensão desses limites para 350 milhas náuticas, alegando
as peculiaridades de sua plataforma continental. Se assim for definido, os
espaços marítimos brasileiros chagarão a 4,5 milhões de quilômetros qua-
drados, uma superfície maior do que a “Amazônia Verde”.33
Defender essa enorme superfície de recursos, como o petróleo, que
assegura a autossuficiência energética, implica uma enorme mobilização
31
Ibid.
32
“Senado aprova reestruturação das Forças Armadas”, O Estado de São Paulo, 4 de agos-
to de 2010. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,senado-aprova
-reestruturacao-dasforcas-armadas,590449,0.html>. (Consulta 02/01/2011.)
33
Este é o argumento da Marinha do Brasil. Disponível em: <https://www.mar.mil.br/
menu_v/amazonia_ azul/amazonia_azul.htm>. (Consulta 28/02/2011.)
34
Marinha em Revista, Marinha de Brasil, dezembro de 2010, p. 6-10.
35
“Militares expandem simulação de ataque ao pré-sal”, em O Globo, 13 de julho de 2010.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/07/13/militares-expandem-si-
mulacao-de-ataque-aopre-sal-917139348.asp>. (Consulta 28/04/2011.)
36
Disponível em: <http://www.defesabr.com/blog/index.php/14/07/2010/militares-ex-
pandem-simulacao-deataque-ao-pre-sal>. (Consulta 28/04/2011.)
37
“Strategic Concept. For the Defence and Security of The Members of the North Atlan-
tic Treaty. Organisation”. Disponível em: <www.nato.int/lisbon2010/strategic-concept-
2010-eng.pdf>. (Consulta 28/04/2011.)
38
Pepe Escobar, “Bienvenidos a OTANstán”, em Rebelión, 21 de novembro de 2010. Dispo-
nível em: <http://www.rebelion.org/noticia.php?id=117083>. (Consulta 02/01/2011.)
39
“JOBIM – O Futuro da Comunidade Transatlântica”, em http://www.defesanet.com.
br/defesa/noticia/3381/JOBIM---O-Futuro-da-Comunidade-Transatlantica (Consulta
12/01/2013).
40
Ibid.
Zona Econômica
Exclusiva (ZEE)
Plataforma continental
(além das 200 milhas)
41
“Ministro da Defesa ataca estratégia militar de EUA e Otan para o Atlântico Sul”, Fo-
lha de São Paulo, 4 de novembro de 2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
mundo/825261-ministro-dadefesa-ataca-estrategia-militar-de-eua-e-otan-para-o-atlan-
tico-sul.shtml>. (Consulta 28/04/2011.)
42
Ibid.
43
“Brasil planeja frota nuclear”, O Estado de São Paulo, op. cit.
44
Ministério de Defesa, “Estratégia Nacional de Defesa”, op. cit., p. 28.
45
Ibid., p.26.
46
Renato Dagnino, A indústria de defesa no governo Lula. São Paulo: Expressâo Popular, 2010.
47
Ministério de Defesa, “Estratégia Nacional de Defesa”, op. cit., p. 27.
48
“Lula amplia 45% gasto com defesa em 5 anos”, O Estado de São Paulo, 25 de abril de
2010, Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,lula-amplia-45-gas-
to-com-defesa-em-5-anos,542748,0.htm>. (Consulta 02/01/2011.)
49
“Brasil deve fazer investimento militar para ter voz”, Folha de São Paulo, 8 de abril de 2011.
50
Rodrigo Fracalossi de Moraes, “Ascensão e queda das exportações brasileiras de equipa-
mentos militares”, Boletim de Economia e Política Internacional, Brasília, Ipea, n. 3, julho
de 2010, p. 60.
51
Ibid., p. 64.
52
Renato Dagnino, A Indústria de Defesa no Governo Lula, op. cit.
53
Ibid., p. 80-81.
54
Ibid., p.18.
55
Ibid., p.51-52.
Uma matéria da revista Veja56 aponta que as Forças Aéreas contam com
110 caças militares, sendo que 90% deles foram fabricados nas décadas de
1970 e 1980, e em boa medida com a vida útil já ultrapassada. Outros paí-
ses da região contam com frotas militares muito mais modernas: a Vene-
zuela adquiriu 24 Sukhoi 30, avião de combate russo considerado um dos
mais modernos do mundo, e o Chile conta com 28 caças F-16 estaduni-
denses, avião preferido dos israelenses. O programa de compra de caças
de última geração, denominado FX-2, se arrasta desde 1998. A situação é
grave, porque na década de 1970 os caças podiam detectar alvos no solo a
20 quilômetros de distância, enquanto que os atuais o fazem a 170 quilô-
metros do alvo. E a Força Aérea Brasileira é responsável pela proteção de
um território de dimensões continentais. Sob o governo Lula, chegou-se a
propor que os novos aviões fossem comprados da França, e não dos Esta-
dos Unidos, posto que os franceses se comprometeram a transferir o có-
digo fonte das aeronaves, o coração digital dos programas que controlam
os aviões e suas armas. Mas as negociações se limitaram por problemas
orçamentários (cada Rafale custa 80 milhões de dólares), já que a oferta
sueca do Gripen era mais barata, inclusive possibilitando um desenvol-
vimento conjunto, por ser um avião que ainda não se produz em série, e
provavelmente por diferenças de caráter geopolítico com a França, após a
aproximação do Brasil com o Irã (2010) e sua posição diante das revoltas
árabes (2011). O fato é que quando se conseguir desbloquear a compra dos
caças com transferência de tecnologia, o país dará um importante salto na
ampliação de seu complexo industrial-militar.
Com a aprovação da END o Brasil estará prestes a ser o décimo primei-
ro país a fabricar caças de quinta geração, ser um dos grandes fabricantes
de helicópteros e ingressará no seleto grupo de quinze países que produ-
zem submarinos nucleares. Tudo isso passa por uma nova e revitalizada
indústria militar.
O complexo militar-industrial está passando por mudanças profundas
em muito pouco tempo: novas empresas estrangeiras se instalam no Brasil;
as empresas brasileiras mais importantes abriram um setor de defesa vi-
sando a novos investimentos na modernização de seus armamentos; gru-
56
“O fim de uma batalha aérea”, Veja, 9 de setembro de 2009. Disponível em: <http://veja.
abril.com.br/090909/fim-batalha-aerea-p-100.shtml>. (Consulta 19/04/2011.)
57
Portal IG, 17 de setembro de 2010, em: <http://economia.ig.com.br/empresas/industria/
odebrecht+ cria+empresa+de+gestao+na+area+de+defesa/n1237778550208.html>. (Con-
sulta 22/04/2011.)
58
“Odebrecht adquire controle da fabricante de mísseis Mectron”, Folha de São Paulo, 26
de março de 2011.
59
Portal IG, 17 de setembro de 2010, op. cit.
60
Embraer S.A., 9 de dezembro de 2010. Disponível em: <http://www.embraer.com/pt-BR/
ImprensaEventos/Press-releases/noticias/Paginas/EMBRAER-CRIA-UNIDADE-EM-
PRESARIAL-DEDICADA-AOMERCADO-DE.aspx>. (Consulta 22/04/2011.)
61
Embraer S.A., 15 de março de 2011. Disponível em: <http://www.embraer.com/pt-BR/Im-
prensaEventos/Press-releases/noticias/Paginas/ORBISAT.aspx>. (Consulta 22/04/2011.)
62
“Embraer compra 50% da Atech, empresa de tecnologia de defesa”, Folha de São Paulo,
12 de abril de 2011.
63
“O cargueiro militar tático”, em: <http://www.defesabr.com/Fab/fab_embraer_kc-390.
htm>. (Consulta 23/04/2011.); revista Exame, 22 de abril de 2010. O KC-390 voa a 800
quilômetros por hora (o Hércules voa a 610), tem um custo de 50 milhões (frente aos 80
milhões) e transporta 23,6 toneladas, frente a 20 do Hércules.
64
“Volta às armas. Reaparelhamento das Forças Armadas”, revista Isto é, 21 de abril de
2011, e Defesanet, 14 de abril de 2011, em: <http://www.defesanet.com.br/laad2011/no-
ticia/611/EMBRAER-Defesa-e-Seguranca-e-FAdeA-Assinam-Contrato-de-Parceria-para
-o-Programa-KC-390>. (Consulta 23/04/2011.)
65
“Exército Brasileiro e Iveco assinam contrato de produção da viatura blindada de trans-
porte de pessoal”, Iveco. Disponível em: <http://web.iveco.com/brasil/sala-de-imprensa/
Release/Pages/01_Exercito-BrasileiroeIveco.aspx.>. (Consulta 23/04/2011.)
66
“Em recuperação, Avibras poderá ser vendida ou ter a União como sócia”, Valor, 19
de abril de 2011, Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/defesa/noticia/657/
Em-recuperacao--Avibras-poderaser-vendida-ou-ter-a-Uniao-como-socia>. (Consulta
02/01/2011.)
67
Ibid.
68
“A promissora KMW”, Defesanet, 18 de abril de 2011. Disponível em: <http://www.defe-
sanet.com.br/laad2011/ noticia/631/A-Promisora-KMW>. (Consulta 24/04/2011.)
69
Ibid.
70
Valor, 18 de abril de 2011.
71
“Indústria de Defesa: Novos tempos”, em Revista da Indústria, n. 163, Defesanet, 2 de
setembro de 2010. Disponível em: <http://www.defesanet.com.br/com_def/RI_163.htm>.
(Consulta 24/04/2011.)
72
Ministério de Defesa, “Estratégia Nacional de Defesa”, op. cit., p. 49.
73
“Avanza el proyecto nuclear de Brasil”, La Nación, Buenos Aires, 9 de setembro de 2009.
Disponível em: <http://www.lanacion.com.ar/1172321-avanza-el-proyecto-nuclear-de
-brasil>. (Consulta 24/04/2011.)
74
Pedro Silva Barros e Antonio Philipe de Moura Pereira, “O Programa Nuclear Brasilei-
ro”, Boletim de Economia e Política Internacional, n. 3, Brasília, Ipea, julho de 2010, p. 71.
75
Odair Dias Gonçalves, “O Programa Nuclear Brasileiro: Passado, Presente e Futuro”,
em Anais VII Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, Brasília, Gabinete de Segurança
Institucional, v. 3, 2008, p. 85.
76
Luiz Alberto Moniz Bandeira, Presencia de Estados Unidos en Brasil, op. cit., p. 386.
77
Ibid., p. 408-409.
via exportado no ano anterior.78 O cerco foi fechando sobre Vargas e seu
incipiente programa nuclear. Na Europa, os negociadores brasileiros com
a Alemanha eram seguidos pelos serviços secretos britânicos e estaduni-
denses em julho de 1954. Em agosto, Vargas suicidou-se, o que leva alguns
especialistas a afirmar que sua morte esteve diretamente ligada à pressão
política acumulada em torno da questão nuclear.
Em 1956, o presidente Kubitschek cancelou o acordo de exportação de
minerais radioativos com os Estados Unidos, criou a Comissão Nacional
de Energia Nuclear e as centrífugas chegaram ao Brasil, mesmo com a ten-
tativa de embargo feita por Washington.79 O Estado-Maior das forças ar-
madas se pronunciou contra os acordos de exportação alegando que não
havia sido consultado pelo governo João Café Filho, que sucedeu Vargas.
Entretanto, as exportações de minerais radioativos continuaram. A des-
crição de Moniz Bandeira, com base em revistas da época, retrata um pa-
norama sombrio: “Misteriosos navios, dos quais desembarcavam homens
loiros, tocaram em portos no litoral próximo do sul da Bahia e norte do
Espírito Santo, contrabandeando o mineral”.80
Durante o regime militar as desavenças com Washington se mantive-
ram e até se aprofundaram. Em 1967, o general Costa e Silva anunciou uma
política nuclear independente, e em 1968 as potencias nucleares assinaram
o Tratado de Não Proliferação (TNP), determinando que todo urânio e
qualquer material nuclear estariam sob controle. Porém, o Brasil decidiu
não aderir ao TNP. Em 1975, sob forte ideologia nacionalista, o regime
militar firmou um Acordo de Cooperação com a Alemanha que previa
a construção de oito reatores nucleares para energia elétrica. Segundo o
físico brasileiro José Goldemberg, o acordo cobria todas as etapas da tec-
nologia nuclear e, com base nas atas do Conselho de Segurança Nacional
de 1975, garantia fins pacíficos ao projeto, “porém se mantinha em aberto a
opção militar”.81 Os Estados Unidos vetaram o acordo, e das oito centrais
nucleares somente uma pode ser construída. A crise da dívida na década
78
Ibid., p. 412.
79
Odair Dias Gonçalves, “O Programa Nuclear Brasileiro”, op. cit., p. 87.
80
Luiz Alberto Moniz Bandeíra, As relaçôes perigosas, op. cit., p. 431
81
“O Brasil quer a bomba atômica”, entrevista com José Goldemberg, em revista Época,
25 de junho de 2010. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,E-
MI150601-15518,00.html>. (Consulta 26/04/2011.)
82
Luiz Alberto Moniz Bandeira, As relações perigosas, op. cit., p. 144.
83
Odair Dias Gonçalves, “O Programa Nuclear Brasileiro”, op. cit., p. 88.
84
Luiz Alberto Moniz Bandeira, As relaçôes perigosas, op. cit., p. 144.
85
Odair Dias Gonçalves, “O Programa Nuclear Brasileiro”, op. cit., p. 89.
86
Discurso de Fernando Henrique Cardoso ao celebrar acordo com o TNP, 20 de junho de
1997, citado por Moniz Bandeira, As relações perigosas, op. cit., p. 148.
87
Odair Dias Gonçalves, “O Programa Nuclear Brasileiro”, op. cit., p. 89.
88
Ibid, p.90.
89
Ibid, p. 93.
90
“Brasil quer auto suficiência na produção de urânio até 2014”, 26 de novembro de 2009,
em Defensanet, Disponível em: <http://pbrasil.wordpress.com/2009/11/26/brasil-quer
-autosuficiencia-na-producao-de-uranio-ate-2014/>. (Consulta 27/04/2011.)
91
Ibid.
92
Ibid.
93
“Reator de submarino nuclear fica pronto em 2014 e será modelo para usinas”, Agencia
Brasil, 23 de maio de 2010, Portalnaval. Disponível em: <http://www.portalnaval.com.br/
noticia/30289/reator-desubmarino-nuclear-fica-pronto-em-2014-e-sera-modelo-para-u-
sinas>. (Consulta 27/04/2011.)
94
“Brasil negocia venda de urânio enriquecido”, O Estado de São Paulo, 7 de fevereiro de
2011. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/economia%20brasil,bra-
sil-negocia-venda-de-ranioenriquecido,53914,0.htm>. (Consulta 02/01/2011.)
95
“José Alencar defende que Brasil tenha bomba atômica”, O Estado de São Paulo, 24 de se-
tembro de 2009. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,jose-alen-
car-defende-quebrasil-tenha-bomba-atomica,440556,0.htm>. (Consulta 26/04/2011.)
96
“Is Brazil Developing the Bomb?”, Hans Rühle, Der Spiegel, 5 julho 2010. Disponível
em: <http://www. spiegel.de/international/world/0,1518,693336,00.html>. (Consulta
26/04/2011.)
97
Ibid.
Rühle não está dizendo que o Brasil vai construir uma arma atômica,
mas deixa a entender que pode fazê-la quando quiser, e afirma que o pro-
grama brasileiro está mais adiantado que o do próprio Irã. Entrevistado
por Deutsche Welle, recordou que os laboratórios de Los Alamos e Liver-
more, ambos nos Estados Unidos, asseguraram que “o Brasil, se desejar,
pode construir armas nucleares em três anos”.98
Essa parece ser a questão. O Brasil pode, a qualquer momento, ter ar-
mas nucleares. Se já as tem, ou não, é uma decisão puramente política, li-
gada aos custos e benefícios de torná-la pública.
98
“Brasil pode estar construindo bomba atômica, conjectura pesquisador alemão”, entre-
vista a Hans Rühle, Deutsche Welle, Brasilia, 11 de maio de 2011. Disponível em: <http://
www.dw-world.de/dw/ article/0,,5564374,00.html>. (Consulta 27/04/2011.)
1
“Empréstimos do BNDES crescem 23% em 2010 e chegam a R$ 168 bi”, Folha de São
Paulo, 24 de janeiro de 2011.
2
Ibid.
3
Francisco de Oliveira, em “A reorganização do capitalismo brasileiro”, IHU Online, 11
de novembro de 2009, em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/27407-conjuntura-da-
semana-especial-a-reorganizacao-do-capitalismo-brasileiro>. (Consulta 12/02/2011.)
4
Marcio Pochman, “Estado brasileiro é ativo e criativo”, entrevista de Patricia Fachin,
Revista IHU, n. 322, São Leopoldo, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 22 de março
de 2010, p. 16.
5
Ibid.
A reorganização em marcha
6
Revista Exame, 12 de maio de 2009.
7
“Relatório Anual 2009”, Previ, p. 16, em: <www.previ.com.br>. (Consulta 19/12/2010.)
8
“En 18 meses BNDES gasta R$ 5 bi para criar gigantes”, Folha de Sao Paulo, 4 de outubro
de 2009.
9
“JBS e Bertín anuncian formação de gigante de carne bovina”, Valor, 16 de setembro de
2009.
10
Ver página da empresa: <www.jbs.com.br>.
11
“Política industrial quer incentivar formação de multinacionais brasileiras”, Folha de
São Paulo, 26 de junho de 2007.
12
“Grupo Votorantim compra a Aracruz com ajuda do BNDES”, Folha de São Paulo, 21
de janeiro de 2009.
O acordo estipula que até 2014 o banco terá direito a veto em decisões
importantes. “A fusão realiza um sonho de muito tempo, que era que o
Brasil tenha um global player forte, de capital nacional, nessa área onde a
competitividade é imbatível”, comentou um dos negociadores da fusão.13
- A compra da Brasil Telecom por Oi, criando uma grande telefônica “nacio-
nal”. Em abril de 2008, o BNDES liberou grandes quantias para que a Oi
pudesse comprar a Brasil Telecom. As privatizações do governo neoliberal
de Cardoso tiveram na telefonia um capítulo especial. Em 1998, decidiu-
se dividir a estatal e monopólica Telebras em doze companhias, sendo a
maior delas a Telemar, que operava em dezesseis estados com diferentes
nomes. Em 2001, as empresas que a integravam se unificaram, criando
uma empresa única, e em 2002 a nova companhia cria a Oi, seu braço de
telefonia móvel. Em 2007, toda a empresa é batizada com o nome de Oi, na
qual o BNDES chegou a ter 25% do capital.
A Brasil Telecom foi outra das grandes empresas surgidas da priva-
tização da Telebras que foi comprada pelo banco brasileiro de investi-
mentos Opportunity e pela Telecom Italia. A nova empresa, produto da
compra da Brasil Telecom pela Oi, é líder na América Latina em telefonia
fixa, com 22 milhões de conexões, e encerrou 2011 com 45 milhões de
clientes em telefonia móvel, sendo a quarta do Brasil, com 19% de um
mercado que cresce quase 20% anualmente.14 Ainda – e isto tem sido
decisivo na hora do envolvimento do BNDES e dos fundos de pensão em
uma operação milionária – se criou uma empresa totalmente brasileira,
presente em todo o país e com capacidade de expandir-se dentro e fora
de fronteiras. De algum modo, esse processo reverte a internacionaliza-
ção produzida nas privatizações e permite ao Estado voltar a influir em
um setor estratégico. No total o BNDES investiu 2,5 bilhões de dólares
para a compra da Brasil Telecom, que tem um valor de mercado de 7,65
bilhões de dólares.15
As ações da Oi ficaram distribuídas da seguinte maneira: Andrade Gu-
tierrez e La Fonte com 20% cada uma, enquanto o fundo de pensões da
13
Ibid.
14
Agência Nacional de Telecomunicações, 16 de janeiro de 2012, em: <http://www.anatel.
gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do>. (Consulta, 02/02/2012.)
15
“Supertele ganha corpo com financiamento do BNDES”, Valor, 8 de fevereiro de 2008.
16
“Nova tele terá forte presenta do governo”, Folha de São Paulo, 20 de julho de 2008 e
“Relatório 2008”, Previ, em: <www.previ.com.br>.
17
Braskem, <www.braskem.com.br>, e “A reorganização do capitalismo brasileiro”, Revista
IHU, n. 322, São Leopoldo, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 22 de março de 2010.
18
Ibid.; Braskem, em: <http://www.braskem-ri.com.br/show.aspx?idCanal=OxIsNDdQ/
sz37EhqiG8SFA>. (Consulta 02/0272012.)
19
“As relações obscuras entre o polo petroquímico gaúcho, a Braskem e o governo fede-
ral. Entrevista especial com Carlos Eitor Rodrigues Machado”, IHU Online, 11 de maio
de 2009, em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/22099-as-relacoes-obscuras-entre
-o-polo-petroquimicogaucho-a-braskem-e-o-governo-federal-entrevista-especial-com-
carlos-eitor-rodrigues-machado>. (Consulta 15/05/2011.)
20
Efraín León Hernández, “Energía Amazónica. La frontera energética amazónica en el
tablero geopolítico latinomamericano”, Tese de Doctorado, Posgrado de Estudios Latino-
americanos, Universidad Nacional Autónoma de México, 2007, p. 123.
fundas (offshore), porque o país não tem grandes jazidas em seu território
continental. Recentemente, em 2006, com a inauguração da plataforma
P-50, a maior do país, o Brasil consegue a plena autossuficiência petrolei-
ra, com 70% da produção em águas profundas e ultraprofundas, em cuja
prospecção e exportação a Petrobras se especializou, convertendo-se na
vanguarda mundial pelas inovações tecnológicas realizadas.21 Em 2007,
pôde refinar 1 milhão e 900 mil barris diários de petróleo, o que fez com
que o país deixasse de importar nafta e outros derivados refinados, e no
final de 2010 já era capaz de extrair uma média de 2,6 milhões de barris
diários, incluindo os campos no exterior.22
No litoral dos Estados de Santa Catarina e Espírito Santo, em 2006
e 2007, a Petrobras anunciou o descobrimento de enormes reservas de
petróleo de qualidade média e alta debaixo de dois mil metros de água
e até profundidades de oito mil metros debaixo de uma densa camada
de sal de dois a quatro quilômetros de espessura (a qual se denomina
pré-sal). Os campos de Tupi, Iara e Parque das Baleias elevaram as re-
servas do Brasil de 14 a 33 bilhões de barris, mas outras fontes estimam
que suas reservas possam elevar-se até 70 bilhões de barris.23 Somente
os campos de Tupi e Iracema, batizados como Lula e Cernambi, alojam
8 bilhões de barris, sendo a maior reserva encontrada no mundo desde
2000.24 As reservas do pré-sal se encontram em uma larga faixa marí-
tima de quase mil quilômetros, entre as bacias de Santos e de Campos,
mais ou menos desde a cidade de Florianópolis (Santa Catariana) até
Vitória (Espírito Santo).
21
Ibid., p. 124.
22
“Petrobras batiza Tupi de Lula”, Folha de São Paulo, 29 de dezembro de 2010.
23
“Entenda o que é a camada pré-sal”, Folha de São Paulo, 31 de agosto de 2008; “A ex-
ploração do pré-sal e o futuro brasileiro”, Jornal da Universidade, Porto Alegre, n. 113,
Universidade Federal de Rio Grande do Sul, novembro de 2008.
24
Ibid.; “Petrobras batiza Tupi de Lula”, Folha de São Paulo, 29 de dezembro de 2010.
25
Pedro Silva Barroso e Luiz Fernando Sanná Pinto, “O Brasil do pré-sal e a Organização
dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)”, Boletim de Economia e Política Internacio-
nal, n. 4, Brasília, Ipea, out.-dez. de 2010, p. 11.
26
“Petrobras já planeja novo gasoduto e dez plataformas no pré-sal”, Valor, 27 de dezem-
bro de 2010, em: <http://www.valor.com.br/arquivo/695277/petrobras-ja-planeja-novo-
gasoduto-e-dezplataformas-no-pre-sal>.(Consulta 11/02/2011.)
27
Carlos Walter Porto-Gonçalves e Luis Enrique Ribeiro, “A luta pela reapropriação social
dos recursos naturais na América Latina: o caso da Petrobras no Ecuador”, Rede Brasilei-
ra de Justiça Ambiental, 2006, em: <http://www.justicaambiental.org.br/_justicaambien-
tal/pagina.php?id=1773>. (Consulta 10/02/2011.)
28
“La estrategia de Petrobras para convertirse en la mayor empresa de A. Latina”, 25 de
julho de 2010, em: <http://www.americaeconomia.com/negocios-industrias/la-estrate-
gia-de-petrobraspara-convertirse-en-la-mayor-empresa-de-america-latin>. (Consulta
18/02/2011.)
29
“Petrobras é a quarta maior empresa de energia do mundo”, Folha de São Paulo, 27 de
janeiro de 2009.
30
“Oferta da Petrobras soma R$ 120,360 bilhões, a maior da história”, O Globo, 23 de
setembro de 2010, em: <http://oglobo.globo.com/economia/oferta-da-petrobras-soma-
120360-bilhoesmaior-da-historia-2947969>. (Consulta 18/02/2011.)
31
O Globo, 24 de setembro de 2009, em: <http://oglobo.globo.com/economia/com-ca-
pitalizacaopetrobras-vira-segunda-maior-petrolifera-do-mundo-2947426>. (Consulta,
02/02/2012.)
32
“Entenda a capitalização da Petrobras”, Folha de São Paulo, 1 de setembro de 2010; “Go-
verno eleva a fatia na Petrobras para 48%”, Reuters, São Paulo, 24 de setembro de 2010.
33
Valor, 27 de dezembro de 2010, op. cit.
34
“Petrobras terá operação submersa no pré-sal”, Valor, 28 de dezembro de 2010, em:
<http://valor-online.jusbrasil.com.br/politica>.
35
Ibid.
36
Giorgio Romano Schutte e Pedro Silva Barros, “A geopolítica do etanol”, Boletim de
Economia e Política Internacional, n. 1, Brasília, Ipea, janeiro 2010, p. 34.
37
Ibid., p. 35.
38
União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), em: <http://www.unica.com.br/dados-
Cotacao/estatística>.
39
Giorgio Romano Schutte e Pedro Silva Barros, “A geopolítica do etanol”, op. cit., p. 35.
40
Ibid., p. 35.
41
“Biocombustíveis”, Cadernos NAE, n. 2, Brasília, Núcleo de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, outubro de 2004, p. 131.
42
Revista Época, 13 de junho de 2008, em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epo-
ca/0,EMI5865-15273.html>. (Consulta 15/02/2011.)
43
Ibid.
44
<http://www.unica.com.br/dadosCotacao/estatistica>. (Consulta 15/01/2011.)
45
O Estado de São Paulo, suplemento agrícola, fevereiro de 2007.
46
Silvia Ribeiro, “Biocombustibles y transgênicos”, La Jornada, 26 de novembro de 2006.
47
“Biocombustíveis”, Cadernos NAE, n. 2, Brasília, Núcleo de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, outubro de 2004.
48
Keiti da Roicha Gomes, “Presença estrangeira na produção de commodities: o caso da
indústria de etanol no Brasil”, Boletim de Economía e Política Internacional, n. 4, Brasilia,
Ipea, out.-dez. de 2010, p. 27.
49
Ibid.
50
Ibid., p. 19.
51
Ibid., p. 20.
52
Ibid, p. 21.
53
“Grandes grupos ocupam o espaço de famílias tradicionais nas usinas”, O Estado de
São Paulo, 1 de novembro de 2009, em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,-
grandes-gruposocupam-o-espaco-de-familias-tradicionais-nas-usinas,459503,0.htm>.
(Consulta 19/02/2011.)
54
Keiti da Roicha Gomes, “Presença estrangeira na produção de commodities: o caso da
indústria de etanol no Brasil”, op. cit., p. 24-25.
55
“Petrobras planeja conter ´estrangeiros´no álcool”, Folha de São Paulo, 11 de dezembro
de 2010.
56
Ibid.
57
Para mais detalhes, ver página oficial do PAC: <http://www.brasil.gov.br/pac/>.
58
<http://www.brasil.gov.br/pac/>.
Em 2010, foi lançado o PAC 2, com critérios muito similares, mas com
três vezes mais recursos: 933 bilhões de dólares, 43% do PIB para quatro
anos. Ampliam-se as obras de infraestrutura urbana para os setores popu-
lares, com o objetivo de universalizar o acesso à eletricidade e à água potá-
vel e a construção de dois milhões de habitações, a maior parte destinada
às famílias de baixa renda. Ainda que a maior parte dos programas tenha
uma forte vocação social, dois terços dos investimentos estão direcionados
à geração de energia.
59
Agência Nacional de Energia Eléctrica (Aneel), Atlas de energia elétrica do Brasil, Bra-
sília, 2008, p. 57.
*2007
**2009
Fonte: Balanço energético nacional.
60
Empresa de Pesquisa Energética, Balanço Energético Nacional 2010, Rio de Janeiro, 2010,
p.17 e 169.
61
Ibid., p. 17.
62
PAC 2, Relatório, p. 76, em: <http://www.brasil.gov.br/pac/pac-2>. (Consulta 19/01/2011.)
A represa de Belo Monte, no rio Xingu, que forma parte do PAC, será a
terceira maior do mundo depois da chinesa Três Gargantas e da brasileiro
-paraguaia Itaipu. Belo Monte se converteu em um símbolo das consequên
cias que podem vir atreladas à elevação do Brasil à categoria de potência
global, por suas consequências sociais e ambientais, o que gerou o surgi-
mento de um movimento social contra a represa. O projeto tem mais de 30
anos, foi emblema da ditadura militar, arquivado pelo protesto social e ago-
ra recuperado sob o governo Lula, porque o Brasil necessita de energia para
crescer. E a hidroeletricidade é, segundo seus defensores, energia limpa,
renovável, da qual necessita o mundo para combater o aquecimento global.
O certo é que Belo Monte é um dos projetos mais controversos das últi-
mas décadas. Está situado na Volta Grande sobre o rio Xingu, afluente do
Amazonas, e propõe desviar o curso do rio, além de abri-lo à navegação
fluvial para agilizar o trânsito das mercadorias do agronegócio em Mato
Grosso e Pará. A potência da usina será de 11.200 MW, vai intervir num
trecho de 100 quilômetros do rio e formará um lago de 516 quilômetros
quadrados. Poderá abastecer uma população de 26 milhões de habitantes e
terá um custo de 11 bilhões de dólares, ainda que os críticos estimem que o
custo final possa se duplicar.63 Como se pode observar no mapa, um muro
corta o rio, de onde saem canais que desviam o curso, formando um lago
onde estarão as turbinas. Uma seção do rio de uns cem quilômetros terá
seu leito muito reduzido, sendo regulado a partir da represa.
A história da resistência à represa tem mais de três décadas, e tem sido
liderada pelo bispo do Xingu, Erwin Kräutler, que vive há 40 anos na re-
gião situada no Estado do Pará. Em 1975, a estatal Eletronorte contratou
o Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores pra realizar um estudo
da viabilidade da usina, concluído em 1979 e batizado de Kararaô, nome
de guerra do povo kayapó, ainda que os povos da região nunca tenham
sido consultados. Em fevereiro de 1989, foi realizado em Altamira o I En-
contro das Nações Indígenas do Xingu.64 O evento congregou 600 índios
63
“Entenda a polêmica envolvendo a usina de Belo Monte”, O Globo, 19 de abril de 2010,
em: <http://oglobo.globo.com/politica/entenda-polemica-envolvendo-usina-de-belo-
monte-3020673>. (Consulta 25/03/2011.)
64
Altamira é um município de 160 mil quilômetros quadrados, a superfície aproximada
do Uruguai, tem 110 mil habitantes e está localizado a 800 quilômetros de Belém, capital
do Pará.
pintados para guerra e teve grande repercussão, porque a foto da índia Tuí-
ra, que colocou um facão no rosto de José Antonio Munis Lopes, presiden-
te da Eletronorte, deu a volta ao mundo, convertendo-se em um símbolo
de resistência à represa. Pouco depois o projeto foi arquivado.65
Ao final dos anos 1990, o projeto ressurge, mas modifica seu nome ori-
ginal para Belo Monte, provavelmente para apagar a história da resistência
indígena. Na campanha eleitoral de 2002, Lula manifestou-se claramente
contra Belo Monte, mas pouco depois começou a defender a obra, até in-
cluí-la como uma das prioridades do PAC.66 A “monstruosidade” que de-
nuncia o bispo tem um lado social: a expulsão de cerca de 50 mil pessoas
65
“Belo Monte: uma monstruosidade apocalíptica”, entrevista de Erwin Kräutler, em Re-
vista IHU, n. 337, São Leopoldo, 2 de agosto de 2010. Todos os dados sobre a resistência a
Belo Monte provém desta fonte.
66
Ibid.
67
IHU Online, 11 de fevereiro de 2011, em: <http://www.ihu.unisinos.br/index.php>.
(Consulta 12/02/2011.)
68
Jornal do Brasil, 7 de fevereiro de 2011; “Nota pública do painel de especialistas sobre
a UHE Belo Monte”, Amazônia, 4 de fevereiro de 2011, em Rio Vivos, em: <http://www.
riosvivos.org.br/canal.php?c=526&mat=17044>. (Consulta 11/02/2011.)
69
“Usina hidrelétrica de Belo Monte testa projeto energético de Lula”, em Folha de São
Paulo, 18 de abril de 2010.
70
“Belo Monte o leilão que não Houve”, Folha de São Paulo, 23 de abril de 2010; “Um
parecer oficial contra Belo Monte”, O Globo, 23 de abril de 2010; “Aneel confirma dois
consórcios na disputa por Belo Monte”, Valor, 16 de abril de 2010.
71
“Fundos de pensão estatais terão 10% da usina de Belo Monte”, O Estado de São Paulo,
15 de maio de 2010, em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fundos-de-pen-
sao-estataisterao-10-da-usina-de-belo-nte,552018,0.htm>. (Consulta 02/03/2011.)
72
“Odebrecht, Camargo e Andrade vão construir usina de Belo Monte”, O Estado de Sâo
Paulo, 15 de agosto de 2010, em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,odebre-
cht-camargo-eandrade-vao-construir-usina-de-belo-monte,595196,0.htm>. (Consulta
15/02/2011.)
73
“Amazônia é prioridade de expansão de fontes energéticas, diz Eletrobras”, Folha de São
Paulo, 10 de fevereiro de 2011.
Estado e capital
74
“Manifesto de empresários defende BNDES, mas especialistas criticam política de fo-
mento”, O Globo, 6 de agosto de 2010, em: <http://oglobo.globo.com/economia/mani-
festo-de-em158presarios-defende-bndes-mas-especialistas-criticam-politica-de-fomen-
to-2969438>. (Consulta 15/02/2011.)
75
Ibid.
76
“Doze grupos ficam com 57% de repasses do BNDES”, Folha de São Paulo, 8 de agosto
de 2010.
77
Joaquín Eloi Cirne de Toledo, em O Globo, 6 de agosto de 2010.
78
Folha de São Paulo, 2 de fevereiro de 2010.
79
Sérgio Lazzarini. Capitalismo de laços. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
80
O Globo, 5 de dezembro de 2010.
81
Sérgio Lazzarini, Capitalismo de laços, op. cit., p. 10.
82
Ibid., p. 11.
17%, a multinacional japonesa Mitsui, com 15%, e o BNDES, com 9,5% das
ações. Desse modo, mediante os fundos de pensões e do BNDES, a Vale
“privatizada” está controlada pelo Estado, ou, mais precisamente, por essa
nova camada de gestores de fundos de pensão entrelaçados com grandes
empresas brasileiras e o BNDES. Isto marca uma primeira e decisiva dife-
rença com outros processos de privatizações.
A segunda é a modalidade dos leilões. Enquanto em outros países do
Norte a tendência foi a pulverização das ações em múltiplos pequenos in-
vestidores, no Brasil a venda do controle das empresas foi feita em bloco.
“O consórcio vencedor, suportado por um acordo de acionistas definindo
os direitos e responsabilidades das partes, assumia o controle da nova em-
presa privatizada”, modalidade que permitiu a estes “blocos de controle” se
estabelecerem com 83% do valor total das privatizações.83 O interessante é
que este duplo processo se deu sob o governo neoliberal de Cardoso, com-
pelido sem dúvida por razões políticas e sociais.
Desse modo, confirmou-se uma “coligação de apoio” integrada por
grupos econômicos locais, novos investidores como os fundos de pensão
de empresas estatais e os recursos públicos, o que veio a recompensar o
escasso apoio que recebeu o processo de privatização das elites e da clas-
se política.84 Mas surge um terceiro aspecto que recém se evidencia sob
o governo Lula e se trata do crescimento exponencial do papel conjunto
do BNDES-fundos de pensão: enquanto as empresas privadas, nacionais
e estrangeiras, mantiveram um papel similar ao que vinham jogando an-
tes, a combinação citada se converte no nó-chave da economia brasileira
junto a um punhado de empresas privadas, entre as quais se destacam as
construtoras Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, os grupos
financeiros Itaú e Unibanco e o grupo Votorantim:
83
Ibid., p. 32.
84
Ibid., p. 33.
85
Ibid., p. 38.
86
Mansueto Almeida, “A concentração do investimento e da produção em poucos setores”,
entrevista, Revista IHU, n. 338, São Leopoldo, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 9
de agosto de 2010, p. 5-8.
87
“Fundo de pensão da Petrobras vira sócio da controladora do Itaú”, Folha de São Paulo,
26 de novembro de 2010.
88
Entre os coletivos mais conhecidos que integram a “Plataforma BNDES” estão: Attac
Brasil, Central Única dos Trabalhadores, Comissão Pastoral da Terra, Conselho Indige-
nista Misionero, Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Movimento de Traba-
lhadores Rurais Sem Terra e Movimento Nacional de Direitos Humanos.
89
Ver <http://www.plataformabndes.org.br/index.php/quem-somos>. (Consulta
19/02/2010.)
90
Documento completo em: <http://www.plataformabndes.org.br/index.php/pt/anali-
ses-dodesenvolvimento/45-principal/499-carta-dos-atingidos-pelo-bndes>. (Consulta
19/02/2010.)
91
Luis Fernando Novoa, “O Brasil e seu “desbordamento”: o papel central do BNDES na
expansão das empresas transnacionais brasileiras na América do Sul”, em Instituto Rosa
Luxemburg Stiftung, Empresas transnacionais brasileiras na América Latina, São Paulo,
Expressão Popular, 2009, p. 190.
92
Ibid., p. 191.
As multinacionais brasileiras
na América Latina
1
“Zé Mineiro, o patriarca da JBS, mantém os pés no chão”, Aída do Amaral Rocha, em
Valor, 8 de novembro de 2007, em: <http://www.sysrastro.com.br/sysrastro/det_noticia.
php?not_codigo=6329&PHPSESSID=7c4e84b678c10368f2607b9d94e3ce31>. (Consulta
2/01/2012.)
2
“JBS: The Story Behind The World’s Biggest Meat Producer”, Karen Blanfeld, em Forbes,
21 de abril de 2011, em: <http://blogs.forbes.com/kerenblankfeld/2011/04/21/jbs-the-sto-
ry-behind-the-worlds-biggest-meat-producer>. (Consulta 15/05/ 2011.)
3
Ibid
4
Valor, 25 de novembro de 2005.
5
Revista Época, 5 de dezembro de 2009, em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epo-
ca/1,,EMI108857-15228,00.html>.
6
“BNDES terá 35% da JBS após trocar debêntures”, Valor, 19 de maio de 2011, em: <http://
www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?cod=722581>. (Consulta
2/01/2012.)
7
Afonso Fleury, Maria Tereza Leme Fleury e Germano Glufke, “El camino se hace al
andar: La trayectoria de las multinacionales brasileñas”, em Universia Business Review,
primeiro trimestre de 2010.
8
Ver site oficial da empresa: <www.camargocorrea.com.br>.
9
<www.andradegutierrez.com.br>.
10
Pedro Henrique Pedreira Campos, “As origens da internacionalização das empresas de
engenharia brasileiras”, em Empresas transnacionais brasileiras na América Latina: um
debate necessário. São Paulo: Expressão Popular, 2009. p. 105.
11
Ibid.
12
Ibid., p. 108.
13
“Multinacionais brasileiras. A rota dos investimentos brasileiros no exterior”, KPMG,
2008, em: <www.kpmg.com.br>.
14
Pedro Henrique Pedreira Campos, “As origens da internacionalização das empresas de
engenharia brasileiras”, op. cit., p. 109.
15
Ibid., p. 111-112
*Sobre 38 empresas
Fonte: Ranking das Transnacionais Brasileiras, FDC, op. cit., p. 10.
16
Ibid., p. 112-113.
17
Fundação Dom Cabral, “Ranking das Transnacionais Brasileiras 2010”, em: <www.fdc.
org.br/pt/Documents/ranking_transnacionais_2010.pdf>. (Consulta 20/05/2011.)
18
Ibid., p. 12.
19
Roberto Iglesias, “Os interesses empresariais brasileiros na América do Sul: investimen-
tos diretos no exterior”, Brasília, CNI, 2007, p. 35.
20
Javier Santiso, “La emergencia de las multilatinas”, em Revista da Cepal, Santiago, n. 95,
agosto de 2008.
21
Ibid., p. 20.
22
Ana Claudia Alem e Carlos Eduardo Cavalcanti, “O BNDES e o apoio à internacionali-
zação das empresas brasileiras: algumas reflexões”, em Revista do BNDES, Brasília, n. 24,
dezembro de 2005.
23
Márcia Tavares, “Investimento brasileiro no exterior: panorama e considerações sobre
políticas públicas”, Santiago, Nações Unidas/Cepal, novembro de 2006, p. 16.
24
Ibid., p. 17.
25
“Pivô de crise, Odebrecht saúda cúpula e pede integração”, Folha de São Paulo, 15 de
dezembro de 2008.
26
“Boletim SOBEET”, Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da
Globalização Econômica, São Paulo, n. 77, 26 de janeiro de 2011.
27
Gustavo Bittencourt e Rosario Domingo, “Inversión extranjera directa en América La-
tina: tendencias y determinantes”, Montevideo, Facultad de Ciencias Sociales, Cuaderno
de Trabajo, n. 6, 1996, p. 60.
28
Ziga Vodusek, Inversión extranjera directa en América Latina. El papel de los inversores
europeos, Washington, Banco Interamericano de Desarrollo, 2002, p. 21.
29
Cepal, “La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe”, Nova York, Na-
ções Unidas, 2010, p. 45.
30
“Boletim SOBEET”, N. 79, São Paulo, 26 de abril de 2011 e UNCTAD, “Investment
Trend Monitor”, N. 8, Nações Unidas, Nova York , 24 de janeiro de 2012.
31
UNCTAD, “Investment Trend Monitor”, op. cit., p. 6.
32
Márcia Tavares, “Investimento brasileiro no exterior”, op. cit., p. 12; Cepal, La inversión
extranjera directa en América Latina y el Caribe. Nova York, Nações Unidas, 2009, p. 69.
por sua mentalidade de curto prazo.33 A década de 1990 não teria sido fa-
vorável para a expansão das multinacionais brasileiras, em grande parte
por dificuldades internas. Em 2003, havia apenas três empresas brasileiras
entre as 50 maiores transnacionais não financeiras de países em desenvol-
vimento (Petrobras, Vale e Gerdau).34 No entanto, nos últimos anos esta
situação tende a mudar.
Na verdade, os investimentos brasileiros no exterior deram um impor-
tante salto adiante na primeira década do século XXI, a tal ponto que em
2006 superou os investimentos estrangeiros no Brasil.35 Nesse ano o país
foi o décimo segundo investidor do mundo, à frente da Rússia e da China,
e de vários países desenvolvidos, sendo o segundo maior investidor entre
os países em desenvolvimento. O quadro 8 resume os acontecimentos da
última década na região, na qual despontam os países andinos como po-
tenciais exportadores de capital.
País 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Argentina 161 -627 774 676 1.311 2.439 1.504 1.391 710 946
Brasil 2.258 2.482 249 9.807 2.517 28.202 7.067 20.457 -10.084 11.500
Chile 1.610 343 1.606 1.563 2.183 2.171 2.573 8.040 8.061 8.744
Colômbia 16 857 938 142 4.662 1.098 913 2.254 3.088 6.504
México 4.404 891 1.253 4.432 6.474 5.758 8.256 1.157 7.019 12.694
Fonte: Cepal, “La inversión extranjera directa en América Latina y el Caribe”, 2009, p. 85; 2010, p. 75.
33
Ibid., p. 13.
34
Ibid., p. 19.
35
KPMG, “Multiancionais brasileiras”, op. cit.
36
“Capitais Brasileiros no Exterior. 2011”, em http://www4.bcb.gov.br/rex/cbe/port/cbe.
asp (Consulta 14/01/2012).
37
Fernando Ribeiro e Raquel Casado Lima, “Investimentos brasileiros na América do Sul:
desempenho, estratégias e políticas”, Rio de Janeiro, Funcex, julho de 2008, p. 36.
38
Luis Fernando Novoa, “O Brasil e seu desdobramentó: o papel do BNDES na expansão
das empresas transnacionais brasileiras na América do Sul”, em Instituto Rosa Luxem-
burg Stiftung, Empresas transnacionais brasileiras na América do Sul, op. cit., p. 189.
39
Luciano Coutinho entrevista a Agência Brasil, 29 de abril de 2008, citado por Luis Fer-
nando Novoa, op. cit., p. 193.
40
Ana Claudia Alem e Carlos Eduardo Cavalcanti, Revista do BNDES, op. cit., p. 56.
41
Ibid., p. 54.
42
Luis Fernando Novoa, “O Brasil es seu ´desdobramento´: o papel do BNDES na expan-
sâo das empresas transnacioanis brasilerias na América do Sul”, op cit. p. 197.
43
BNDES, “Política de desenvolvimento produtivo. Inovar e investir para sustentar o cres-
cimento”, BNDES, maio de 2008.
44
Ibid.
45
Ibid.
46
Ibid., p. 24.
47
Ibid., p. 28.
Empresários verde-amarelos
48
Ana Saggioro García, “Empresas transnacionais: dupla frente de luta”, Instituto Rosa
Luxemburg Sitftung, Empresas transnacionais brasileiras, op. cit., p. 14.
49
Ibid., p. 13.
50
O Estado de São Paulo, 11 de maio de 2011, em: <http://economia.estadao.com.br/no-
ticias/Economia+Brasil,dilma-instala-hoje-camara-de-politica-de-gestao,not_66426.
htm>. (Consulta 29/05/2011.)
51
Antonio Palocci teve que renunciar a seu cargo em 7 de junho de 2011 por denúncias
de enriquecimento ilícito. Foi substituído pela senadora Gleisi Hoffmann, membro do PT.
52
“Dilma corteja empresário Jorge Gerdau para seu governo”, Folha de São Paulo, 30 de
novembro de 2010.
53
Agência Brasil, 16 de maio de 2011, em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noti-
cia/2011-05-16/dilma-camara-de-politicas-de-gestao-vai-aumentar-competitividade-e
-reduzir-burocracia>. (Consulta 29/05/2011.)
54
Raúl Zibechi, “La rebelión obrera de Jirau”, La Jornada, 8 de abril de 2011; “Rebelión en
La Amazonia brasileña”, Programa das Américas, 12 de abril de 2011.
55
O Estado de São Paulo, 14 de novembro de 2010.
57
<http://www.imd.org/about/pressroom/pressreleases/Brazilian-Company-Votorantim
-Honoured-as-Top-Family-Business-in-the-World.cfm>. (Consulta 12/06/2011.)
58
Este relato que se encontra em Historianet, “Nacionalismo e imperialismo”, em: <http://
www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=717>. (Consulta 12/06/2011.)
Também em Minha Carta, “Ermírio e as seis irmãs”, na coleção “Retratos do Brasil”, Edi-
tora Política, 1985, p. 83-84. (N.T.)
59
Dados em: <http://www.odebrecht.com.br>.
60
“Marcelo Odebrecht”, Revista Isto é, 10 de dezembro de 2008, em: <http://www.istoedi-
nheiro.com.br/noticias/2547_MARCELO+ODEBRECHT>. (Consulta 07/02/2012.)
61
Ibid.
62
Moacir de Miranda Oliveira Júnior, “Transferência de conhecimento e o papel das sub-
sidiárias em corporações multinacionais brasileiras”, em Alfonso Fleury e Maria Tereza
Leme Fleury (orgs.). Internacionalização e os países emergentes. São Paulo: Atlas, 2007. p.
227.
63
Adesg, Revista da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Ed. Especial,
2011, p. 20.
1
Instituto Humanitas Unisinos, “A rebelião de Jirau”, em Conjuntura da Semana, São
Leopoldo, 28 de março de 2011, em: <http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_
noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=41771>. (Consulta 24/07/2011.)
2
Efraín León Hernández, Energía amazónica. La frontera energética amazónica en el ta-
blero geopolítico latinoamericano, Pós-graduação em Estudos Latinoamericano, México,
Unam, 2007, p. 137.
3
Ibid., p. 138.
4
Folha de São Paulo, 19 de fevereiro de 2009.
5
O Globo, 13 de março de 2009.
6
Entrevista com Maria Ozánia da Silva, IHU Online, 14 de março de 2011, em: <http://
w w w.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18& task=deta-
lhe&id=40843%20>. (Consulta 24/07/2011.)
7
“A luta por respeito e dignidade”, Leonardo Sakamoto, em: <http://www.ihu.unisinos.
br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=41526>. (Consulta
25/07/2011.)
8
Folha de São Paulo, 20 de março de 2011.
9
Leonardo Sakamoto, op. cit.
10
Instituto Humanitas Unisinos, “A rebelião de Jirau”, op. cit.
11
A Aliança está integrada por: Movimento Xingu Vivo para Sempre, Aliança Tapajós
19
Ibid.
20
Ver cap. 2.
21
Lucha Indígena, n. 59, Lima, julho de 2011, p. 2.
22
“Peru cancela hidrelétrica da OAS e da Eletrobras”, em Jornal Valor, 15 de junho de 2011.
23
El Comercio, Lima, 5 de abril de 2011, em: <http://elcomercio.pe/politica/738151/no-
ticia-aseso-res-brasilenos-ayudan-ollanta-humala-su-imagen_1>. (Consulta 01/08/2011.)
24
Ver cap. 1.
25
“Amazônia: a última fronteira de expansão do capitalismo”, em Conjuntura da Semana,
IHU Online, 6 de junho de 2011, em: <http://www.ihu.unisinos.br/cepat/cepat-conjun-
tura/500017-conjuntura-da-semana-amazonia-a-ultima-fronteira-de-expansao-do-capi-
talismo-brasileiro>. (Consulta 21/12/2011.)
As hidrelétricas na Amazônia
Mario Osava, “Nuevas potencias emergen sobre aguas ajenas”, IPS, abril de 2011, em:
27
28
“Governo prevê até 2020 mais 24 hidrelétricas”, O Globo, 4 de junho de 2011, em: <http://
g1.globo.com/economia/noticia/2011/06/governo-preve-ate-2020-mais-24-hidreletricas.
html>. (Consulta 02/01/20/12.)
29
Efraín León Hernández, Energía amazónica, op. cit., p. 123.
30
“Brasil estuda construir hidrelétricas em 7 países da América Latina”, Folha de São
Paulo , 11 de agosto de 2011.
31
Ibid.
32
Entrevista com Lucía Ortiz e Bruna Engel, Revista IHU, n. 342, São Leopoldo, p. 40-43.
33
“Usina-plataforma, o novo conceito em hidrelétricas”, Corrente Contínua, n. 224, Brasí-
lia, Eletronorte, janeiro de 2009.
34
Ibid ., p. 15.
35
Ibid ., p. 14.
36
“Tapajós terá 5 usinas inspiradas nas plataformas de petróleo”, IHU Online, 5 de julho
de 2009, em: <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/23686-tapajos-te-
ra-5-usinas-inspiradas-nas-plataformas-de-petroleo>. (Consulta 02/01/2012.)
37
Entrevista com Lucía Ortiz e Bruna Engel, Revista IHU, n. 342, op. cit., p. 41.
38
Entrevista com Leandro Scalabrin, Revista IHU, n. 341, op. cit., p. 16.
39
Patricia Molina, “El Proyecto de Aprovechamiento Hidroeléctrico y de Navegabilidad
del río Madera en el marco de la IIRSA y del contexto de la globalización!”, em Fobomade,
El Norte Amazónico de Bolivia y el Complejo del Río Madera, La Paz, 2007, p. 32.
40
Jorge Molina Carpio, “Análisis de los estudios de impacto del Complejo Hidroelétrico
Mapa 5. Represas sobre os rios Madeira e Beni (Santo Antônio e Jirau, em constru-
ção; Guajará Mirim e Cachuela Esperanza, em projeto)
Fonte: Fobomade.
42
“Mega represas: ¿exportar y depdredar?”, em: <http://www.ecosistemas.cl/web/noticias/
documentos/1363-megarepresas-iexportar-y-depredar-.htm l>. (Consulta 04/08/2011.)
43
“Los retos de Brasil como economía emergente”, IBCE, em: <http://www.ibce.org.bo/
principales_noticias_bolivia/29072011/noticias_ibce_bolivia.asp?id=21951>. (Consulta
04/08/2011.)
44
“Mega represas: ¿exportar o depdradar?”, op. cit.
45
Patricia Molina, “Bolivia-Brasil: Relaciones energéticas, integración y medio ambiente”,
em Fobomade, Relaciones energética Bolivia-Brasil, La Paz, 2002, p. 29.
46
Ibid .
47
Ibid., p. 30.
48
Guilherme Carvalho, La integración sudamericana y Brasil. Rio de Janeiro: Action Aid,
2006. p. 64.
rápido, sem perceber que nós não podemos, porque nós vamos cair”.49 No
mesmo discurso disse que a Alca somente se justificará quando for um
instrumento para superar os desníveis socioeconômicos das Américas. Na
reunião, em que participaram os doze presidentes sul-americanos e 350
empresários latino-americanos, Cardoso estabeleceu as bases do projeto
Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana (Ii-
rsa) e definiu o objetivo do seu país de “trabalhar juntos”, liderando sem
impor para “resolver nossos problemas internos, que são muitos”.50
O discurso de Cardoso foi quase idêntico ao que anos depois pronun-
ciaria Lula, e mostra a continuidade da política exterior brasileira a respei-
to da integração, ainda que seja evidente que a gestão do PT foi mais con-
tundente e audaz, em uma situação política regional e global pautada pela
crise hegemônica dos Estados Unidos no mundo e pelas consequências dos
atentados de 11 de setembro de 2001.
Na reunião realizada em Brasília, o Banco Interamericano de Desen-
volvimento (BID)51 apresentou, a pedido do governo brasileiro, a proposta
Plano de Ação para a Integração da Infraestrutura da América do Sul, um
ambicioso plano para a execução de projetos físicos e de mudanças nas
legislações, normas e regulamentos nacionais para facilitar o comércio re-
gional e global. O projeto Iirsa é um projeto multissetorial que pretende
desenvolver e integrar as infraestruturas de transporte, energia e teleco-
municações. Trata-se de organizar o espaço geográfico com base no de-
senvolvimento de uma infraestrutura física de transporte terrestre, aéreo
e fluvial; de oleodutos, gasodutos, hidrovias, portos marítimos e fluviais
e redes elétricas e de fibra ótica, entre os mais destacados. Essas obras se
materializam em dez eixos de integração e desenvolvimento, corredores que
concentrarão os investimentos para incrementar o comércio e criar ca-
deias produtivas conectadas com os mercados mundiais. Andrés Barreda
explica o conceito de “corredores” recorrendo a uma metáfora orgânica na
qual as redes de transporte, de comunicação e de energia se interconectam:
49
“América do Sul deve ousar mais, diz FHC”, Folha de São Paulo, 1 de setembro de 2000.
50
“FHC pede reciprocidade em abertura”, Folha de São Paulo, 2 de setembro de 2000.
51
Entre 1961 e 2002 o BID aprovou empréstimos de 18 bilhões e 823 milhões de dólares:
51% destinados a projetos de energia; 46% a transporte terrestre e 3% a telecomunicações,
transporte marítimo, fluvial e aéreo. O Brasil obteve 33% dos recursos.
52
Andrés Barreda, “Análisis geopolítico del contexto regional”, em Patricia Molina
(coord.). Geopolítica de los recursos naturales y acuerdos comerciales en Sudamérica, Fobo-
made, La Paz, 2005, p. 16.
53
Carlos Walter Porto Gonçalves, “Ou inventamos ou erramos. Encruzilhadas de Integra-
ção Regional Sulamericana”, Ipea, 2011 (inédito), p. 12.
54
Ibid., p. 12-13.
55
Em Elisangela Soldatelli, Iirsa. É esta a integração que nós queremos? , Porto Alegre,
Amigos da Terra, dezembro de 2003, op. cit., p. 4.
56
Guilherme Carvalho, La integración sudamericana y Brasil, op. cit., p. 36.
Quadro 9. Projetos Iirsa (por Eixo, setor e etapa de execução – janeiro de 2011)
Investimentos
Eixo Projetos Transporte Energia Comunicação Concluídos
US$
Andino 64 49 13 2 10 7.478,0
Capricórnio 72 68 4 0 6 9.421,4
Hidrovia 95 85 7 3 5 6.677,3
Amazonas 58 51 6 1 2 5.400,7
Escudo das Guianas 25 18 6 1 7 1.694,9
Sul 27 24 3 0 3 2.713,0
Interoc. Central 55 51 2 2 6 5.518,1
Mercosul/Chile 107 90 17 0 13 35.836,1
Peru/Brasil/Bolivia 23 17 6 0 1 21.402,3
Total 524 451 64 9 53 96.111,6
58
Instituição financeira multilateral criada em 1970. Até 1981 aprovou operações por 618
milhões de dólares, mas entre 1995 e 1999 teve uma grande expansão, aprovando opera-
ções na ordem de 12 bilhões e 325 milhões. É o maior agente de financiamento de projetos
de infraestrutura na América Latina. Tem 16 países membros, e é o primeiro financiador
dos países da Comunidade Andina das Nações, além de financiar a Iirsa e o Plano Puebla
Panamá (PPP), e pode chegar a financiar o canal Atrato-Truandó ou Atrato-Cacarica-San
Miguel, que permitirá a conexão entre a Iirsa e o PPP. Ver: <www.caf.com>.
59
Criado em 1971 para financiar projetos de integração nesta bacia. Brasil e Argentina têm
33,3% cada um, Bolívia, Paraguai e Uruguai, 11,1% cada um. Financia projetos de cerca
de um bilhão de dólares em transporte, agropecuária, indústria, exportações e saúde. Ver:
<www.fonplata.org>.
60
Elisangela Soldatelli, Iirsa. É esta a integração que nós queremos?, op. cit., p. 16.
61
“Resumen de la cartera Iirsa. Atualizado em janeiro de 2011”, em: <www.iirsa.org>.
62
Andrés Barreda, “Geopolítica, recursos estratégicos y multinacionales”, 20 de dezem-
bro de 2005, em: <http://alainet.org/active/10174&lang=pt<font%20color=>. (Consulta
10/08/2011.)
Ganhadores e perdedores
63
Ibid.
64
Ibid.
65
Silvia Molina, “El rol de Bolivia en la integración sudamericana”, em Patricia Molina
(coord.). Geopolítica de los recursos naturales y acuerdos comerciales en Sudamérica, La
Paz, Fobomade, 2005, p. 61.
prescindível para países como Brasil e Chile, que são os mais interessados
em impulsionar o comércio bioceânico. A Bolívia é objeto de intervenções
que fragmentam seu território.
O Brasil está na situação oposta. Esse tipo de integração exógena lhe
permite avançar em seu desejo de conseguir uma posição dominante na
América Latina, consequência da estratégia desenvolvida desde os anos
1980 de alcançar a liderança regional por meio da incorporação em sua
zona de influência dos países do seu entorno geográfico mais próximo: Ar-
gentina, Uruguai, Paraguai, em seguida Bolívia e Chile, posteriormente os
demais países da Comunidade Andina e logo toda América do Sul, com o
fim de fortalecer sua economia frente a Alca.66
O Brasil está em condições similares aos dos países do primeiro mundo
na hora de tirar proveito da Iirsa. De fato, tem uma relação com os demais
países sul-americanos, com parcial exceção da Argentina, similar à que
têm os países do centro com os da periferia. Em primeiro lugar, o Brasil é o
mais interessado da região em poder exportar a sua produção industrial e
do agronegócio pelo Pacífico. Em segundo lugar, são brasileiras as empre-
sas que constroem parte da infraestrutura. Em terceiro lugar, o BNDES, do
Brasil, é um dos principais financiadores da Iirsa.
Um dos fatos que revelam de modo mais transparente as relações Bra-
sil-Bolívia é o projeto de construir uma estrada que atravessa o Território
Indígena e o Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis). A zona foi declarada
como parque nacional em 1965, e foi reconhecida como território indígena
no dia 24 de setembro de 1990. Foi uma conquista da marcha indígena
pelo Território, pela Vida e pela Dignidade de 1990, quando os povos da
Amazônia boliviana confluíram em um importante processo organizativo
em torno da Cidob (Confederação dos Povos Indígenas do Oriente Boli-
viano), criada em 1982. A marcha começou no dia 16 de agosto de 1990,
com 300 indígenas que iniciaram uma caminhada desde Trinidad, em
Beni, e finalizou 4 dias depois em La Paz, com 800 pessoas. Visibilizou
dezenas de povos indígenas cujas condições de vida e cultura eram desco-
nhecidas para os bolivianos, e com ela resultou em “um grande e complexo
processo de articulação organizativa das comunidades, capitanias e povos
66
Ibid., p. 64.
67
Alvaro García Linera (coord.). Sociología de los movimientos sociales en Bolivia. La
Paz: Diakonía/Oxfam, 2004. p. 218.
68
Félix Patzi Paco. Insurgencia y sumisión. Movimientos indígeno-campesinos (1983-1998).
La Paz: Comuna, 1999. p. 162.
69
Anuario Sena, “Costos sociales y ambientales de la carretera Villa Tunari-San Ignacio
de Moxos”, Fobomade, 13 de maio de 2011, em: <http://www.fobomade.org.bo/art-116>.
(Consulta 16/08/2011.)
70
Subcentral Tipnis, “Memoria. Foro Departamental: Territorio Indígena y Parque Nacio-
nal Isiboro Sécure”, Cochabamba, Cenda/Fobomade, 2010, p. 17-18.
71
Ibid., p. 30.
72
Rosa Rojas, “Quieran o no habrá carretera”, Ojarasca, n. 172, La Jornada, agosto de 2011.
73
Anuario Sena, “Costos sociales y ambientales de la carretera Villa Tunari-San Ignacio
de Moxos”, op. cit.
74
Ibid.
75
Ibid.
76
Ibid .
77
Marcel Achkar e Ana Domínguez, Achkar, “Iirsa: Otro paso hacia la des-soberanía de
los pueblos sudamericanos”, Programa Uruguay Sustentable-Redes Amigos de la Tierra,
Montevideo, 2005, p. 18.
78
Ana Esther Ceceña, Paula Aguilar y Carlos Matto, “Territorialidad de la dominación”,
Buenos Aires, Observatorio Latinoamericano de Geopolítica, 2007, p. 12.
79
José Luis Fiori, “Brasil e América do Sul: o desafio da inserção internacional soberana”,
Brasília, Cepal/Ipea, 2011, p. 18.
80
Carlos Walter Porto-Gonçalves, “Ou inventamos ou erramos. Encruzilhadas de Inte-
gração Regional Sulamericana”, op. cit., p. 20.
81
Ibid., p. 23.
2
“Empresario deja frigorífico por cemento”, El País, Montevideo, 20 de janeiro de 2011,
em: <http://www.elpais.com.uy/110120/pecono-542094/economia/Empresario-deja-fri-
gorifico-porcemento/>. (Consulta 05/09/2011.)
3
Veja, 13 de agosto de 2008. Em: <http://veja.abril.com.br/130808/holofote.shtml>. (Con-
sulta 12/09/2011.)
4
A história de vida de Corrêa está baseada nos artigos citados na nota 1.
5
Marcelo Cervo Chelotti, “Novos territórios da reforma agrária na Campanha Gaúcha”,
Campo-Território, revista de geografia agrária, Universidade Federal de Uberlândia, n. 10,
agosto 2010, p. 214.
6
“O fim do Estado de direito II”, 7 de maio de 2002, reprodução da página de Diego Ca-
sagrande (<www.diegocasagrande.com.br>.), em: <http://www.varican.xpg.com.br/vari-
can/Bpolitico/Fimdoestadir.htm>. (Consulta 12/09/2011.)
7
Mitsue Morissawa, A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular,
2001. p. 123 e ss.
8
Marcelo Cervo Chelotti, “Novos territórios da reforma agrária na Campanha Gaúcha”,
op. cit., p. 202.
9
Marcelo Cervo Chelotti, “Agroecologia em assentamentos rurais: estratégia de reprodução
camponesa na Campanha Gaúcha”, Agrária, Revista do Laboratório de Geografia Agrária,
Universidade de São Paulo, Departamento de Geografia, n. 7, jul-dez. de 2007, p. 95.
10
Flamarion Dutra Alves et al., “Territorialização camponesa, identidade e reproduções
sociais: os assentamentos rurais na metade sul do Rio Grande do Sul”, Campo-Território,
n. 4, Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia, agosto de 2007, p. 90.
11
Flamarion Dutra Alves, “As faces do desenvolvimento rural no Sul Gaúcho: produção
agroecológica familiar e monoculturas empresariais”, Agrária, n. 7, São Paulo, Laborató-
rio de Geografia Agrária, Universidade de São Paulo, jul.-dez. de 2007, p. 43.
12
Marcelo Cervo Chelotti, “Novos territórios da reforma agrária na Campanha Gaúcha”,
op. cit., p. 212.
13
Ibid., p. 216.
14
“Fuerte empresario brasileño capitalizó al frigorífico PUL”, El País, Montevideo, 13 de
abril de 2003, em: <http://www.elpais.com.uy/03/04/12/pecono_37061.asp>. (Consulta
14/09/2011.)
15
Diego Piñeiro, “Dinámicas en el mercado de tierras en América Latina. El caso de Uru-
guay”, Santiago, FAO, setembro de 2010, mimeo.
16
“Carne uruguaya: a melhor do mundo”, El País, 26 de setembro de 2007, em: <http://www.
elpais.com.uy/Suple/Agropecuario/07/09/26/agrope_304912.asp>. (Consulta 14/09/2011.)
17
“La creciente extranjerización de la economía uruguaya”, Brecha, separata, 28 de no-
vembro de 2008; “Uruguai teme a invasão de brasileiros”, Valor, 25 de julho de 2011.
18
“Lugo se quejó de Brasil en la OEA”, La Nación, Asunción, 29 de outubro de 2008.
foi uma reação à decisão de Lugo de proibir a venda de terras aos brasilei-
ros, conhecido como brasiguaios.19
Os fatos confirmaram que realmente se tratava de uma dupla pressão.
Declarações do general José Elito Carvalho Siqueira, chefe do Comando
Militar Sul, não deixaram dúvidas: “Já passou a fase em que nós tínhamos
que esconder as coisas. Hoje, temos de mostrar que somos uma potência, e
é importante que os nossos vizinhos saibam. Não podemos deixar de exer-
citar e mostrar que somos fortes, que estamos presentes e somos capazes
de enfrentar qualquer ameaça”.20 O general disse que a barragem de Itaipu,
que abastece a indústria de São Paulo, deve ser defendida de várias ameaças,
incluindo uma eventual ação de “movimentos sociais”, em clara referência
ao movimento camponês paraguaio. Por sua vez, Kaiser Konrad, editor da
página brasileira Defesanet, especializada em questões militares, disse que
a “Operação Fronteira Sul II quer passar uma mensagem ao governo Lugo,
de que os militares brasileiros estão atentos à situação enfrentada pelos
brasiguaios, que estão sofrendo com as invasões de terras, a perseguição
e as ameaças de perder suas propriedades legalmente adquiridas”.21 No
mesmo dia, o ministro Celso Amorim, que acompanhou a operação perto
da fronteira com o general Carvalho Siqueira, pediu ao governo paraguaio,
sem rodeios, que “controle os excessos” contra os brasiguaios.22
Lugo venceu as eleições em 20 de abril e se tornou presidente em 15 de
agosto de 2008. Pela primeira vez na história do país um esquerdista tor-
nou-se presidente, ao derrotar o poderoso Partido Colorado, que governou
por 60 anos. Assim como Lula construiu sua reputação como trabalhador
e sindicalista, Lugo o fez como um bispo que apoiava os camponeses em
luta pela reforma agrária. Durante a campanha eleitoral prometeu recu-
perar a soberania energética e dar terra aos camponeses. O clima de eu-
foria popular com que chegou à presidência impulsionou uma onda de
ocupações de terra, especialmente nos departamentos fronteiriços de Ita-
púa, Alto Paraná, San Pedro, Concepción, Amambay e Canindeyú. Estes
ricos campos atapetados de soja foram redutos da agricultura familiar e
19
“Tensión por los brasiguayos”, Página 12, Buenos Aires, 25 de outubro de 2008.
20
“Un general brasileño dice que invadirá Itaipú si Lula lo ordena”, Última Hora, Asunci-
ón, 18 de outubro de 2008.
21
Ibid.
22
“Tensión por los brasiguayos”, Página 12, op. cit.
23
“No Paraguai, o rei da soja é brasileiro”, em IG, 23 de março de 2011, em: <http://econo-
mia.ig.com.br/no+paraguai+o+rei+da+soja+e+brasileiro/n1238185176716.html>. (Con-
sulta 14/09/2011.)
24
“Dominios de brasiguayos”, Página 12, Buenos Aires, 22 de novembro de 2008.
25
Marcos Glauser, Extranjerización del territorio paraguayo, Asunción, Base-IS, 2009.
26
“Cerca del Brasil, lejos de Dios”, E´A, n. 14, Asunción, jan.-fev. de 2010, p. 9-16.
27
Ibid., p. 15.
28
Marcos Glauser, Extranjerización del territorio paraguayo, op. cit., p. 30.
29
Ibid., p. 31.
30
Ibid., p. 32.
31
“Cerca del Brasil, lejos de Dios”, E´A, op. cit., p. 13.
32
“Soja em franca expansão no Paraguai”, Valor, 16 de setembro de 2011, em: <http://
www.valor.com.br/empresas/1008846/soja-em-franca-expansao-no-paraguai>. (Consul-
ta 02/01/2012.)
33
Marcos Glauser, Extranjerización del territorio paraguayo, op. cit., p. 162.
poderoso e enfraquece ainda mais o país que tem cada vez menos instru-
mentos e capacidades para defender e controlar sua riqueza.
Essa assimetria é muito visível na questão energética. A represa binacio-
nal de Itaipu tem uma capacidade instalada de 14 mil MW, dos quais a meta-
de correponde ao Paraguai, como estabelecido pelo Tratado de Itaipu. O país
consome apenas 5% da energia produzida pela barragem e deve exportar
95% para o Brasil a preço de custo. Segundo o tratado, o Paraguai recebe
cerca de 120 milhões de dólares por ano com a venda de energia, bem abaixo
do preço internacional e do custo de reposição, segundo estimativa do enge-
nheiro paraguaio Ricardo Canese, que dedicou uma vasta obra à questão.34
A construção de Itaipu foi negativa por varias razões para o Paraguai:
- Não necessitava dessa energia. Ainda hoje consome apenas 16% da capa-
cidade instalada de Itaipu e Yacyretá (a outra binacional, só que da Argen-
tina). São seus vizinhos que realmente precisavam da energia, particular-
mente o Brasil, que ainda depende de energia elétrica de Itaipu.
34
Ricardo Canese, La recuperación de la soberanía hidroeléctrica del Paraguay. Assunção:
Editorial El Ombligo del Mundo, 2007. p. 80 e ss.
35
Pablo Herrero Galisto, “Deudas binacionales: el mismo camino de dominación y sa-
queo”, Assunção, Jubileu Sul/Américas, julho de 2008.
36
“Notas Reversales entraron en vigencia a partir del 14 de mayo”, 16 de maio de 2011, em:
<http://www.itaipu.gov.br/es/sala-de-prensa/noticia/notas-reversales-entraron-en-vigen-
cia-partir-del-14-de-mayo>. (Consulta 17/09/2011.)
37
“Bolivia después de la tormenta”, Raúl Zibechi em Programa das Américas, 3 de feve-
reiro de 2011.
38
Andrés Soliz Rada, “Evo, ¿fin de ciclo?”, Bolpress, 15 de janeiro de 2011, em: <http://www.
bolpress.com/art.php?Cod=2011011506>. (Consulta 19/09/2011.)
39
Alejandro Almaraz, “Siete preguntas sobre hidrocarburos, carreteras y otros”, Página
Siete, La Paz, 11 de janeiro de 2011.
40
Ibid.
41
“Império brasileiro emerge na Bolívia”, Folha de São Paulo, 22 de maio de 2005, p. A18.
42
“40% de la soya estaría en manos brasileñas”, La Razón, Santa Cruz, 15 de novembro de
2010, em: <http://www.la-razon.com/version.php?ArticleId=121085&EditionId=2346>.
(Consulta 18/09/2011.)
43
Marco Gandarillas, “La extranjerización del territrorio”, em Petropress, n. 25, Cocha-
bamba, Cedib, junho 2011, p. 11.
44
“Gobierno revela reservas probadas de condensado”, Observatório Boliviano de Indus-
trias Extrativistas, 11 de setembro de 2011, em: <http://plataformaenergetica.org/obie/
content/13685>. (Consulta 19/09/2011.)
45
Pablo Villegas, “La industrialización del gas y la refundación de YPFB en 5 meses”, em
Petropress, n. 24, Cochabamba, Cedib, fevereiro de 2011, p. 36.
46
Gaceta Oficial de Bolivia, La Paz, 1 de maio de 2006.
47
Andrés Soliz Rada, “¿Hubo nacionalización?”, Bolpress, 10 de janeiro de 2011, em:
<http://www.bolpress.com/art.php?Cod=2011011005>. (Consulta 18/09/2011.)
48
Ibid.
49
Jorge Márquez Ostria, “La industrialización de los hidrocarburos. ¿Realidad o ficción?”,
Petropress, n. 21, Cochabamba, Cedib, agosto 2010, p. 31
50
Pablo Villegas, “La industrialización del gas…”, op. cit., p. 38.
Fonte: <HidrocarburosBolivia.com.>.
51
HidrocarburosBolivia, 20 de setiembre de 2011, em: <http://www.hidrocarburosboli-
via.com/nuestro-contenido/noticias/45950-petrobras-adjudico-a-technip-y-haldor-top-
soe-la-ingenieria-basica-para-la-fabrica-de-fertilizantes-que-industrializara-gas-natu-
ral-boliviano-en-uberaba.html>. (Consulta 20/09/2011.)
52
Pablo Villegas, “La industrialización del gas…”, op. cit., p. 51.
53
Petropress, n. 25, Cochabamba, Cedib, maio de 2011, p. 3.
54
Franz Chavez, “Brasil mantiene poderío en producción de gas boliviano”, IPS, 13 de ja-
neiro de 2011, em: <http://ipsnoticias.net/nota.asp?idnews=96978>. (Consulta 19/09/2011.)
55
Ibid.
56
Patricia Molina, “Petrobras en Bolivia: petróleo, gas y medio ambiente”, em Jean Pierre Le-
roy e Juliana Malerba (orgs.). Petrobras, ¿integración o explotación?. Rio de Janeiro: Fase, 2005.
57
Efraín León Hernández, Energía amazónica, op. cit., p. 156-157.
58
Eduardo Tamayo, “Las deudas se pagan, las estafas no”, Alai, 20 de novembro de 2008,
em: <www.alainet.org/active/27559>. (Consulta 25/09/2011.)
59
Natalia Landivar, “Os padrões de comportamento das “transbrasileiras” no Equador:
extraterritorializando a responsabilidade do Estado Brasileiro”, em Instituto Rosa Lu-
xemburg Stiftung, Empresas transnacionais brasileiras na América Latina, op. cit., p. 119.
tação foi irregular, mas o que o CAIC detectou foi que, além dos três con-
tratos iniciais financiados pelo Banco do Brasil, firmaram-se 13 contratos
adicionais em 15 anos. Os novos contratos modificaram os iniciais, preju-
dicando o Equador, com obras sem qualquer utilidade e danos adicionais
por obras mal executadas.
A represa de São Francisco foi financiada pelo BNDES com um emprés-
timo de 243 milhões de dólares em março de 2000. O contrato foi firmado
entre Odebrecht e Hidropastaza com a modalidade “mão na chave” (tur-
nkey), que permite à empresa construtora realizar mudanças sem aprova-
ção do Estado. Nos anos seguintes alterações foram feitas em 10 adendos
ilegais que “blindaram juridicamente o consórcio construtor de qualquer
responsabilidade pos danos futuros”, e que elevaram os custos da represa
a 357 milhões de dólares, mas o prejuízo total para o Estado por obras não
realizadas superou os 123 milhões.60
A Odebrecht instalou turbinas diferentes das previstas que deixaram
de funcionar por sedimentos transportados pela água e deslizamentos de
terra no túnel de 11 quilômetros que leva as águas do rio Pastaza, já que
não teve revestimentos adequados.61 A represa começou a funcionar com
253 problemas identificados a poucos dias de sua inauguração. A verdade é
que ela não funciona, mas o Estado deverá pagar até o ano de 2018 a dívida
contraída com o BNDES, que eleva o custo total, acrescido dos juros, a 600
milhões de dólares.62
A dívida é uma questão à parte. Os empréstimos do BNDES estão “con-
dicionados a utilização de bens de serviços de origem brasileira e que a
transferência dos fundos de crédito sejam realizados diretamente para a
empresa construtora”.63 Ou seja, o Estado equatoriano nunca teve acesso
a um empréstimo que está obrigado a pagar, por uma obra que não lhe
serve. Não é estranho, então, que o governo de Correa decidiu expulsar
a Odebrecht em 23 de setembro de 2008 e por termo aos quatros projetos
em andamento, por cerca de 670 milhões de dólares, que passaram a ser
finalizados pelo Estado e por empresas privadas.
60
Christian Zurita, “Norberto Odebrecht: monumento a la vergüenza”, em Villavicencio,
Fernando et al., El discreto encanto de la revolucón ciudadana, Quito, 2010, p. 239.
61
Ibid., p. 244
62
Ibid., p. 231.
63
Natalia Landivar, “Os padrões de comportamento das “transbrasileiras” no Equador”,
op. cit., p. 122.
64
Christian Zurita, “Norberto Odebrecht: monumento a la vergüenza”, op. cit., p. 229.
65
Ibid., p. 230
66
“Empreiteiras recebem R$ 8,5 por cada real doado a campanha de políticos”, O Globo, 7
de maio de 2011, em: <http://oglobo.globo.com/economia/empreiteiras-recebem-85-por-
cada-realdoado-campanha-de-politicos-2773154>. (Consulta 02/01/2012.)
67
Napoleón Saltos, Fernando Villavicencio y Comisión Especial Caso Petrobras, Ecuador:
peaje global. ¿De la hegemonía de USA a la hegemonía de Brasil?, Quito, PH Ediciones,
2007, p. 43. Para la historia de Petrobras en Ecuador además: Natalia Landivar y Enéas da
Rosa, “Obligaciones extraterritoriales del Estado Brasileño: una breve mirada a las activi-
dades de Petrobras en Ecuador”, em Jean Pierre Leroy y Julianna Malerba, Petrobras: ¿in-
tegración o explotación?, op. cit., p. 49-54; Alexandra Almeida, “A Petrobras no Equador”,
em Instituto Rosa Luxemburg Stiftung, Empresas transnacionais brasileiras na América
70
Alexandra Almeida, “Petrobras no Equador”, op. cit., 32.
71
Ibid., p. 40; Fernando Villavicencio, “Correa, Petrobras y los Isaías”, op. cit., p. 187.
72
El Universal, Quito, 15 de julho de 2011.
73
Diario Hoy, Quito, 25 de setembro de 2011, em <http://www.hoy.com.ec/noticias-e-
cuador/laproduccion-de-petroleras-privadas-disminuyo-502077.html>. (Consulta
25/09/2011.)
74
Proyecto Yasuní-ITT, em: <http://yasuni-itt.gob.ec/¿que-es-la-iniciativa-yasuni-itt>.
(Consulta 02/01/2012.)
75
Robert Evan Ellis, “El impacto de China en Ecuador y América Latina”, Bogotá, Univer-
sidad Jorge Tadeo Lozano, 2008.
76
Agência Andes, “Cooperación Ecuador-China se fortalece en sectores estratégicos”, 14
de setembro de 2011, em: <http://andes.info.ec/tema-del-dia/cooperacion-ecuador-china-
Temos visto que o Brasil decidiu construir uma aliança estratégica com a
Argentina, como forma de arrastar toda a região em seus projetos de inte-
gração e de fortalecimento de sua hegemonia. Na década de 2000, também
definiu como prioridade estabelecer uma sólida aliança com a Venezuela,
que, para além das diferenças com o caso argentino, supõe a aposta a longo
prazo de afiançar o processo bolivariano.
Em torno da crise argentina de 2001, que destruiu boa parte de seu aparato
produtivo, algumas multinacionais brasileiras ficaram com importantes se-
80
Claudio Scaletta, “La retirada de la burguesía nacional”, Página 12, 14 de novembro de
2005.
81
Carlos Bianco, Pablo Moldovan e Fernando Porta, “La internacionalización de las em-
presas brasileñas em Argentina”, Santiago, Cepal, 2008, p. 33..
82
Ibid., p. 34
83
Ibid., p. 44.
84
Ibid., p. 48.
- A Friboi comprou a Swift por 200 milhões de dólares, com o que a Ar-
gentina passa a representar um quarto da produção da maior empresa de
carne do mundo e consegue ter acesso a um dos maiores mercados.
85
Energía del Sur, 10 de fevereiro de 2011, em: <http://energíadelsur.blogspot.com/2011/02/
cristobal-lopez-dueno-del-grupo-casino.html>. (Consulta 30/09/2011.)
86
Petrobras Argentina, em: <www.petrobras.com.ar>.
87
Carlos Bianco, Pablo Moldovan e Fernando Porta, op. cit.
88
Cronista Comercial, Buenos Aires, 1 de fevereiro de 2011.
89
“Mayor inversión de Brasil en Argentina”, Clarín, Buenos Aires, 28 de setembro de 2011.
90
“Anunciaron una millonaria inversión brasileña en una planta siderúrgica”, La Nación,
Buenos Aires, 11 de setembro de 2008.
91
“A integração de infraestrutura Brasil-Venezuela: A IIRSA o eixo Amazõnia-Orinoco”,
Relatório de Pesquisa, IPEA, Brasília, 11 de maio de 2011.
92
Ibid.
93
Ibid.
94
Agencia Brasil, 6 de junho de 2011.
95
Ipea, “Região Norte do Brasil e Sul da Venezuela: Esforço binacional para a Integração
das cadeias produtivas”, 11 de maio de 2011, Brasília, p. 6.
97
Golbery do Couto e Silva. Geopolítica del Brasil. México: El Cid, 1978.
98
Ibid., p. 59-62.
99
Paulo Schilling e Luzia Rodrigues, “Além das fronteiras”, Teoria e Debate, São Paulo,
Fundação Perseu Abramo, abril de 1989.
o poder regional vizinho e que não têm outra opção a não ser seguir o seu
curso. Nesse sentido, podem ser interpretadas as declarações do presidente
uruguaio José Mujica, quando depois de uma visita de Lula em Montevi-
déu declarou que o Uruguai deve “viajar no estribo do Brasil”.100
O editorial da Defesanet assegura que a aprovação do Decreto 6.952
supõe uma clara mensagem aos países vizinhos: “Uma agressão ou perse-
guição aos cidadãos brasileiros residentes no Paraguai, assim como na re-
gião do Pando, na Bolívia, e uma nova ameaça de corte de fornecimento de
gás e a tomada das instalações e empresas brasileiras operando em outros
países, caracterizarão a partir de agora agressões externas e uma resposta
militar do Brasil passa a ter um amparo legal”.101
Toda vez que acontece uma crise política em países sensíveis para o
Brasil, a diplomacia atua e pressiona. Um dos casos mais claros foi a inter-
ferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Bolívia para defender
os interesses da Petrobras, quando estava por realizar um referendo sobre
os hidrocarbonetos em 2004. Nessa ocasião, Lula firmou com o presidente
Carlos Mesa, a nove dias do referendo, uma declaração em que ambos os
mandatários esperavam que “os resultados do referendo sobre a política
energética da Bolívia e a futura nova lei para o setor de hidrocarbonetos
do país permitam a continuidade da cooperação bilateral”.102 Foi um forte
apoio para Mesa e um balde de água fria no movimento social, uma parte
do qual pedia um boicote ao referendo.
Em situações de crises, a diplomacia brasileira interveio na Bolívia por
intermédio do assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, “para
avaliar a situação no diálogo com várias forças políticas”.103 No Equador
ocorreu algo similar. Em 7 de julho de 2005, o ministro de Meio Ambien-
te do Equador paralisou as obras da Petrobras no Parque Nacional Ya-
suní. No dia 26 de julho, Lula enviou uma carta ao presidente do Equador:
100
Em: <http://www.espectador.com/1v4_contenido.php?id=181101&sts=1>. (Consulta
01/10/2011.)
101
“Governo brasileiro emite alerta ao continente”, Defesanet, 8 de outubro de 2008.
102
“Declaración Conjunta de los Presidentes de la República de Bolivia, Carlos D. Mesa
Gisbert, y de la República Federativa del Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva”, Nota n. 350, 8
de julho de 2004, Embaixada do Brasil na Bolívia, em: <http://www.brasil.org.bo/n287es.
htm>. (Consulta 01/10/2011.)
103
Mario Osava, “Dilema del gas y de la integración”¨, IPS, 27 de maio de 2005, em: <http://
ipsnoticias.net/print.asp?idnews=33999>. (Consulta 30/12/2011.)
104
Kintto Lucas, “Disputa geopolítica Brasil-Estados Unidos”, Brecha, Montevideo, 19 de
agosto de 2005.
105
Prensa Latina, Quito, 16 de agosto de 2005.
106
Eleonora Gosman, “El espionaje de Brasil se expande en Latinoamérica”, Clarín, Bue-
nos Aires, 7 de maio de 2005.
107
“En Brasil, la ocupación de tierras de los colonos genera preocupación”, ABC Color,
Asunción, 2 de julho de 2011, em: <http://www.abc.com.py/nota/en-brasil-la-ocupacion-
de-tierras-delos-colonos-genera-preocupacion/>. (Consulta 02/01/2012.)
Entre outros, David Harvey. El nuevo imperialismo. Madrid: Akal, 2004; Giovanni Arri-
1
ghi. El largo siglo XX. Madrid: Akal, 1999. Immanuel Wallerstein. Después del liberalismo.
México: Século XXI, 1996.
2
Giovanni Arrighi e Beverly Silver. Caos y orden el sistema-mundo moderno. Madrid:
Akal, 2001. p. 219.
3
Ruy Mauro Marini, “La acumulación capitalista mundial y el subimperialismo”, op. cit.,
p. 1.
que são chamados a deslocar as antigas potências. Entre 2009 e 2011, hou-
ve algumas mudanças notáveis: a China deslocou os Estados Unidos como
o maior parceiro comercial do Brasil, lugar que ocupava desde o início do
século XX; a China também ultrapassou o Japão e se colocou como o se-
gundo PIB mundial, e se estima que em 2020 poderá destronar os Estados
Unidos como principal potência econômica do mundo (o FMI prevê que
vai acontecer em 2016).4
É evidente que a hegemonia dos Estados Unidos se viu erodida a extre-
mos antes da crise econômica e financeira de 2008. Esse declínio acelerou-
se com as guerras fracassadas no Iraque e no Afeganistão, que abriram
espaços para a construção de diferentes realidades regionais. A criação da
Unasur e do Conselho de Defesa Sul-americano tem mobilizado o desen-
gajamento político da região em relação aos Estados Unidos. Por intermé-
dio da Iirsa e do BNDES, gerou-se um dinamismo regional que pode levar
à criação de uma moeda regional para os intercâmbios comerciais e uma
nova arquitetura financeira que seria apoiada pelo Banco do Sul, criado
em 2009 como um banco de desenvolvimento. Em poucos anos a região
adquiriu peso e personalidade própria no cenário mundial.
4
La Vanguardia, Barcelona, 24 de abril de 2011, em: <http://www.lavanguardia.com/eco-
nomia/20110426/ 54144915718/el-fmi-vaticina-que-la-economia-china-superara-a-lade
-ee-uu-en-2016.html>. (Consulta 17/ 06/2011.)
5
César Benjamín et al. A opção brasileira. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998. p. 188.
6
Ricardo Paes de Barros et al., “Desigualdade e pobreza no Brasil: retrato de uma estabili-
dade inaceitável”, Texto para discussão n. 800, Brasília, Ipea, 2000, p. 3.
7
O Estado de São Paulo, 3 de maio de 2011.
8
Ver capítulo 1.
9
Ipea, “O Brasil em 4 décadas”, Brasília, Ipea, 2010, p. 10.
10
Banco Central do Brasil, “Nota de imprensa”, 25 de outubro de 2010, em: <http://www.
bcb.gov.br/>. (Consulta 12/11/2012.)
11
Ipea, “O Brasil em 4 décadas”, op. cit., p. 12.
12
Ipea, “Monitor da Percepção Internacional do Brasil”, n. 5, agosto de 2011.
13
Revista Fundos de Pensão, Abrapp, São Paulo, n. 374, outubro de 2011.
14
Alexandra Cardoso, “Estudo global de ativos dos Fundos de Pensão 2011”, Towers Wat-
son, 2011, em: <http://www.funcef.com.br/files/Port_TW%20GPAS_2011_20Mai11_final.
pdf>.
15
“Previ é o 24º maior fundo de pensão do mundo”, IG, 6 de setembro de 2011, em: <http://
colunistas.ig. com.br/guilhermebarros/2011/09/06/previ-e-o-24º-maior-fundo-de-pen-
sao-do-mundo>. (Consulta 02/01/2012.)
16
Rodrigo Maschion Alves, “O investimento externo direto brasileiro: a América do Sul
enquanto destino estratégico”, Meridiano 47, Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Rela-
ções Internacionais, v. 12, n. 127, set.-out. de 2011, p. 28.
17
“Capitais brasileiros no exterior”, Banco Central do Brasil, 23 de agosto de 2011, em:
http://www4.bcb.gov.br /rex/cbe/port/ResultadoCBE2010.asp>. (Consulta 12/11/2011.)
18
Folha de São Paulo, 18 de setembro de 2011.
19
“Brasil terá investimentos de R$ 3,3 trilhões”, O Globo, 28 de fevereiro de 2011, em:
<http: //oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/02/28/pais-recebera-3-3-trilhoes-e-
minvestimentosate2014-diz-bndes-366034.asp>. (Consulta 02/01/2012.)
20
“Presença de empreiteiras se multiplica no exterior”, Folha de São Paulo, 18 de setembro
de 2011.
21
“BNDES bate recorde de desembolsos à AL”, Folha de São Paulo, 8 de março de 2010.
22
“Investimentos brasileiros na Argentina disparam nos últimos seis anos”, Portal Brasil, 2
de agosto de 2011, em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/08/02/investimen
tos-brasileiros-na-argentina-disparam-nos-ultimos-seis-anos>. (Consulta 12/11/2011.)
23
Ibid.
Debates em curso
A maior parte dos analistas e intelectuais críticos têm optado por continu-
ar a usar o termo “subimperialismo” para dar conta das tendências expan-
sionistas do Brasil. No entanto, começam a surgir outras orientações que
consideram por diferentes motivos que a ascensão do Brasil à categoria de
potência mundial tem um caráter imperialista. Os trabalhos mais abran-
gentes e profundos feitos nos últimos anos chegam a conclusões diferentes:
Mathias Luce Seibel defende a validade da tese de Marini;26 mas Fontes
argumenta que no mundo atual todo capital é “capital-imperialismo”;27 por
último, João Bernardo coincide a partir de um ângulo diferente, sobre o
24
“Multinacionais brasileiras dinamizam a economia”, Valor, 20 de outubro de 2011, em:
<http://www.valor.com.br/opiniao/1060138/multinacionais-brasileiras-dinamizam-eco-
nomia>. (Consulta 02/01/2012.)
25
Virgínia Fontes, O Brasil e o capital-imperialismo, op. cit., p. 359.
26
Mathias Seibel Luce, “O subimperialismo brasileiro revisitado: a política de integração
regional do governo Lula (2003-2007), op. cit.
27
Virgínia Fontes, O Brasil e o capital-imperialismo, op. cit.
28
“Brasil hoje a amanhã”, set.-out. de 2011, em: <http://passapalavra.info>.
29
Mathias Luce, “O subimperialismo brasileiro revisitado”, op. cit., p. 20.
30
Ibid., p. 43.
31
Ibid., p. 44.
32
Ibid., p. 37.
33
Ibid., p. 116.
34
Virgínia Fontes, O Brasil e o capital-imperialismo, op. cit., p. 149.
35
Ibid., p. 209.
36
“O imperialismo brasileiro está nascendo?”, entrevista com Virgínia Fontes, em IHU
Online, 7 de maio de 2010, em: <http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_no-
ticias&Itemid=&task=detalhe&id=31982>. (Consulta 12/11/2011.)
37
Ibid.
38
João Bernardo “Brasil hoje e amanhã: 6) transnacionalização tardia”, 16 de setembro de
2011, em: <http://passapalavra.info/?p=43992>. (Consulta 12/11/2011.)
39
João Bernardo, “A viagem do Brasil da periferia para o centro: 2) o novo horizonte”, 1 de
maio de 2011, em: <http://passapalavra.info/?p=38693>. (Consulta 12/11/2011.)
40
Ibid.
41
Renè Dreifuss. A conquista do Estado: ação política, poder e golpe de classe. Rio de
Janeiro: Petrópolis, 1981. p. 80.
42
João Bernardo, “Brasil hoje e amanhã: 5) capitalismo burocrático”, 9 de setembro de
2011, em: <http://passapalavra.info/?p=43953>. (Consulta 12/11/2011.)
43
Ibid.
Um cenário aberto
Nos capítulos anteriores mostrei, com base em estudos realizados por vá-
rios autores brasileiros, que na primeira década do século XXI se confor-
mou uma tendência que se havia manifestado com força durante o regime
militar, que foi abandonada para florescer com toda sua intensidade com
o governo Lula. Essa tendência, lentamente amadurecida, é a vontade de
transformar o Brasil em uma potência global, em uma das quatro nações
emergentes que estão mudando a relação de poder em escala mundial. Na
América Latina, excetuando-se e o Brasil, não existem potências interme-
44
Ipea, “Sistema de indicadores de Percepção Social. Defesa Nacional”, Parte I, Brasília, 15
de fevereiro de 2011, p. 5-6.
45
Ibid., p. 8-9.
46
Ipea, “Sistema de indicadores de Percepção Social. Defesa Nacional”, Parte II, Brasília,
26 de janeiro de 2012, p. 5.
47
Ibid., p. 15.
48
Luiz Alberto Moniz Bandeira, “A importância Geopolítica da América do Sul na Es-
tratégia dos Estados Unidos”, Revista da Escola Superior de Guerra, n. 50, Rio de Janeiro,
jul.-dez., 2008, p. 12.
49
Ibid., p. 23.
50
Ibid., p. 28.
51
Ibid., p. 35.
52
Guilherme Sandoval Góes, “Por onde andará a Grande Estratégia Brasileira?”, Revista
da Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, jul.-dez., 2008, p. 60.
53
Ibid., p. 61.
54
José Luis Fiori, “Brasil e América do Sul: o desafio da inserção internacional soberana”,
op. cit.
55
Ibid., p. 16.
56
Ricardo Sennes, “Brasil na América do Sul: internacionalização da economia, acordos
seletivos e estratégia de hub-and-spokes”, Revista Tempo do Mundo, Brasília, Ipea, v. 2, n.
3, dezembro de 2010, p. 114.
57
Ibid., p. 115.
58
José Luis Fiori, “Brasil e América do Sul”, op. cit., p. 19.
59
Ricardo Sennes, “Brasil na América do Sul”, op. cit., p. 117.
60
Ibid., p. 132.
61
José Luis Fiori, op. cit. p. 19.
62
Luciana Acioly, Eduardo Costa Pinto e Marcos Antonio Macedo Cintra, “As relaçôes bi-
laterais Brasil-China: a ascensâo da China no sistema mundial e os desafios para o Brasil”,
Brasília, Grupo de Trabalho sobre a China, Ipea, 2011, p. 50.
63
Ibid., p. 50-52.
64
José Luis Fiori, “Brasil e América do Sul”, op. cit., p. 22.
65
José Luis Fiori, “Brasil e América do Sul”, op. cit., p. 23.
Em primeiro lugar, terá que definir o seu projeto mundial e sua especifi-
cidade em relação aos valores, diagnósticos e posições dos europeu e dos
norte-americanos, em relação aos grandes temas e conflitos da agenda in-
ternacional. E, em segundo lugar, o Brasil terá que decidir se aceita ou não
a condição militar de aliado estratégico dos EUA, Grã-Bretanha e França,
com o direito de acesso à tecnologia de ponta, como a Turquia e Israel, mas
mantendo-se em sua zona de influência, proteção e decisão estratégica e
militar dos Estados Unidos e seus principais aliados europeus. Ou seja, o
Brasil vai decidir o seu lugar no mundo.66
66
Ibid., p. 32.
67
Sofía Jarrin, “Otro modelo financiero ya está en marcha en América Latina”, 14 de ou-
tubro, em: <http://www.bolpress.com/art.php?Cod=2011101404>. (Consulta 24/11/2011.)
gional que desacople do dólar não será obra das empresas transnacionais,
mas dos Estados. Ainda não está claro se a nova elite no poder, em que se
inseriram os quadros do PT e do sindicalismo mergulhado nos fundos de
pensão, terá a coragem política e o necessário discernimento para condu-
zir esse processo em um momento em que o mundo entra em um período
de caos sistêmico.
Para os povos e os pequenos países da região, abrem-se novas oportu-
nidades e desafios maiores. Será necessário colocar limites ao expansio-
nismo imperialista da burguesia brasileira e de seu Estado, assim como foi
feito pelos indígenas bolivianos, impor condições, negociar para impedir
que se repita a história colonial, para que as maiorias não voltem a ser pe-
riferias de um novo centro, agora regional, especializado em acumulação
de capital apropriando-se dos bens comuns. É possível, porque as maio-
rias sul-americanas, incluindo a maior parte do povo brasileiro, sofrem
a mesma tendência modernizadora. Nesse sentido, aqueles que no Brasil
resistem à construção de Belo Monte, à transposição do Rio São Francisco
e às megaobras como Jirau e Santo Antônio podem e devem formar um
bloco de proteção do meio ambiente e da soberania dos povos com os que
defendem o Tipnis na Bolívia, opõem-se às represas de Inambari no Peru
e resistem ao agronegócio no Paraguai.
Os movimentos antissistêmicos
no Brasil Potência
“Belo Monte: coerção nos canteiros de obras”. Entrevista especial com Ruy Sposato, IHU
1
2
Ibid.
3
Ibid.
dizer que ela pode voltar a qualquer momento. Daqui para frente sempre
haverá duas disputas: a dos trabalhadores, que querem melhorias, e a do
sindicato, governo e empresa, que forma um bloco pelo fim da greve”.4
O que acontece em Belo Monte é, por certo, muito similar ao que aconte-
ceu em Jirau e Santo Antônio, mas também em outras obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC) e em outras obras para a Copa do Mundo
de 2014. Durante todo o ano de 2011 houve grandes conflitos em todas essas
obras, destacando-se os quase 80 mil grevistas dos primeiros meses do ano
em obras do PAC. O tripé da aliança entre sindicato, empresa e governo, que
já havíamos detectado em Jirau, tem sua razão de ser no caso de Belo Monte.
Não se trata de cooptação dos sindicatos ou de que os dirigentes estejam
traindo os operários. A questão é mais complexa. A composição acionária
da empresa Norte Energia, encarregada da construção da represa de Belo
Monte, revela a existência de complexos interesses sindicais.
Acionista Porcentagem
Eletrobras 15,00%
Chesf 15,00%
Eletronorte 19,98%
Funcef 10,00%
Petros 5,00%
Caixa Fip Cevix 5,00%
Neoenergia S.A. 10,00%
Amazônia Cemig 9,77%
Outros 0,25%
4
Ibid.
5
“Sindicalistas detêm 43% da elite dos cargos de confiança no governo Dilma”, Folha de
São Paulo, 27 de dezembro de 2010.
6
<www.xinguvivo.org.br/participe/>.
7
Friedrich Engels. Prefácio à segunda edição alemã de 1892. A situação da classe trabalha-
dora na Inglaterra. Obras Escolhidas, t. III. Moscou: Progresso, 1974.
8
Vladimir I. Lenin. O imperialismo, etapa superior do capitalismo. Obras Completas, t.
XXII. Madrid: Akal, 1977. p. 404.
9
Ibid., p. 405.
10
João Bernardo e Luciano Pereira, Capitalismo sindical, op. cit., p. 13.
Essa é uma mudança qualitativa que não deve ser deixada de lado e que se
manifesta quando aparecem conflitos sérios como Jirau e Belo Monte. Não
é casualidade, nem erro nem cooptação que trabalhem junto com o Estado
e às empresas para evitar greves ou para aniquilá-las.
Os festejos do Primeiro de Maio geralmente são financiados por empre-
sas estatais e privadas. As duas festas que ocorreram no 1º de Maio de 2011
em São Paulo, a da CUT e de outras cinco centrais, que celebraram separa-
damente, tiveram um custo de 2,8 milhões de dólares. A Petrobras contri-
buiu com 350 mil dólares, enquanto a Caixa Econômica Federal, o Banco do
Brasil e a Eletrobras aportaram entre 90 e 120 mil dólares cada uma. As em-
presas privadas também apoiaram. Brahma, Casas Bahia, Carrefour, Pão de
Açúcar, BMG e os grandes bancos Bradesco e Itaú oscilaram entre 50 e 120
mil. As duas festas tiveram espetáculos populares e sortearam 20 carros.11
O ponto que quero destacar é que estamos ante uma nova realidade,
uma ruptura das velhas tendências burocráticas das direções sindicais,
para uma sobre a qual ainda não temos elaborados os conceitos necessá-
rios. Não é, por certo, o único caso, como assinala o sociólogo Francisco de
Oliveira quando aponta em referência aos novos modos de dominação, que
estamos “ante uma revolução epistemológica para a qual ainda não temos
a ferramenta teórica adequada”.12
11
“Estatais financiam 1º de Maio das centrais sindicais”. Folha de São Paulo, 24 de maio
de 2011.
12
Francisco Oliveira. “Hegemonia às avessas: decifra-me ou te devoro!”, em Francisco
Oliveira, Ruy Braga e Cibele Rizek. Hegemonia às avessas. São Paulo: Boitempo, 2007. p.
21-28.
greves no Brasil,13 sendo esse o ponto mais alto de uma década de grandes
e massivas lutas operárias. Já em 1992 as greves haviam caído até 554, e
esse número cairia para a metade nos anos seguintes. A década de 2000 co-
nheceu cifras ainda mais baixas: 420 em 2001, 304 em 2002, para descer a
299 em 2005 e chegar a 411 em 2008.14 Vê-se que, nos oito anos de governo
Lula, houve menos greves que em 1989.
Houve outros caminhos mais significativos. A Força Sindical conver-
teu-se, de forma similar à CUT, em base de apoio do governo Lula e depois
de Dilma Roussef. Nenhuma das manifestações convocadas nesses anos,
com exceção das festas de Primeiro de Maio, congregaram mais que 25
mil trabalhadores, e a maior parte de suas demandas se focalizaram em
defender o crescimento econômico como forma de aumentar as taxas de
emprego e dos salários.15 Desde 2003, houve sucessivas rupturas na CUT
que deram origem à Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) e à Inter-
sindical. Em 2011, os dois setores do movimento sindical, o vinculado ao
governo por meio de cinco centrais e o opositor ou classista, realizaram
encontros para afirmar seus espaços. Vale destacar que os dois encontros
mais importantes, a Assembleia Nacional de Movimentos Sociais, de 31 de
maio de 2010, em São Paulo, e a Conclat16, celebrada em 1º de junho pela
CUT, Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central, contaram com a presença
do MST, que geralmente se mobiliza com setores opositores e classistas.
A Conclat convocada pelos setores classistas se realizou nos dias 5 e 6
de junho de 2010 em Santos, e contou com o apoio de Conlutas, Intersindi-
cal, MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), MAS (Movimento
Avançado Sindical), MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade) e a
Pastoral Operária de São Paulo. No evento participaram 3.115 delegados,
800 observadores e mais de cem convidados de 25 países.17 O Congresso
13
Marcelo Baradró Matos. Trabalhadores e sindicatos no Brasil. Rio de Janeiro: Vicio de
Leitura, 2002.
14
Roberto Leher et al., “O rumos das lutas sociais no período 2000 –2010”, Osal, Buenos
Aires, Clacso, n. 28, nov. de 2010.
15
Ibid., p. 56.
16
A CONCLAT (Conferencia Nacional da Classe Trabalhadora) foi realizada em 1981 du-
rante o processo de democratização do país e de reorganização do movimento sindical.
Em 2011, tanto oficialistas como opositores ao governo Lula organizaram seus encontros
com essas siglas históricas.
17
Roberto Leher et al. Projetos em disputa, eleições e dilemas da reorganização das lutas
sociais. Osal, Buenos Airess, Clacso, n. 29, maio de 2011.
18
Roberto Leher et al, “Os rumos das lutas sociais no período 2000-2010”, op. cit. p. 65.
19
“Brazil Foods é multada em quase R$ 5 milhões por descumprir decisão da Justiça que
impõe pausas”. CUT, 13 de dezembro de 2011, em: <http://www.cut.org.br/destaque-cen-
tral/46884/brasil-foods-e-multada-em-quase-r-5-milhoes-por-descumprir-decisao-da-
justica-que-impoepausas>. (Consulta 02/01/2012.)
20
Ibid.
21
A “moderna” indústria brasileira da carne. Produção a custa da saúde e da vida dos
trabalhadores. IHU Online, 23 de setembro de 2011, em: <http://www.ihu.unisinos.br/
entrevistas/500466-a-moderna-industria-brasileira-da-carne-producao-a-custa-da-sau-
de-e-da-vida-dos-trabalhadores-entrevista-especial-com-siderlei-de-oliveira>. (Consulta
02/01/2012.)
Os mais de baixo, os trabalhadores sem teto, sem terra, sem trabalho, sem di-
reitos, os mais pobres do Brasil, são os que necessitam organizar-se para pro-
mover mudanças. Esse setor social pôs em pé um dos mais consistentes movi-
mentos antissistêmicos da América Latina, o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra. Não somente é o movimento mais importante do Brasil,
mas, com sua potente cultura política, foi capaz de transbordar os marcos
organizativos do movimento para converter-se em referência obrigatória de
outros movimentos no Brasil e em outros países da região. Os sem teto e os
desempregados têm estilos de ação, formas e organização inspiradas no MST.
22
Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa. Megaeventos e violações de dire-
tos humanos no Brasil, 2011, p. 34.
23
Ibid., p. 98.
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Conflitos 366 495 659 752 777 761 615 459 528 638 805
Ocupações 194 184 391 496 437 384 364 252 290 180 200
Acampamentos 65 64 285 150 90 67 48 40 36 35 30
em 2010 esse número foi para 559 mil, e, nos nove primeiros meses de 2011,
somente 342 mil pessoas.24 Ao longo da década os conflitos por terra caí-
ram pela metade, as ocupações são apenas um terço das que ocorreram em
2004 e 2005, e os acampamentos caíram entre cinco e oito vezes.
Há várias razões que explicam esse descenso. A primeira é que as grandes
obras de infraestrutura atraem trabalhadores pobres que vivem nos acam-
pamentos ou estavam interessados em organizar-se para ocupar terras.25
A segunda é a lentidão da reforma agrária, que experimentou um freio
radical na entrega de terras durante o governo Lula, o que desmotiva os
camponeses a ocupar e resistir durante anos em barracos de lonas. No Rio
Grande do Sul, por exemplo, foram entregues 130 mil hectares entre 1995
e 2002, frente a somente 36 mil entre 2003 e 2010.26 A terceira razão se re-
laciona com as políticas sociais. João Pedro Stédile, coordenador do MST,
assinalou que o Bolsa Família melhorou a situação de muitas famílias e
contribuiu para afastá-las da luta pela terra.27
A quarta razão desse declive, provavelmente a fundamental, tem a ver
com as mudanças estruturais registradas no campo. Entre 2003 e 2009,
nas áreas rurais a desigualdade retrocedeu 8% (mais que nas cidades, onde
o fez em 6,5%), a renda média rural cresceu 42% e a pobreza caiu de 35
para 20% da população.28 A transferência de renda das políticas sociais, o
crescimento do emprego e do salário mínimo explicam estas mudanças
que podem se resumir em uma significativa ascensão social das famílias
camponesas. Com essas mudanças, a pressão dos de baixo sobre as terras
diminuiu, e passam a ocupar um lugar central outras demandas, como
educação, saúde, melhoria das estradas e crédito para a produção.
Por outro lado, o extraordinário avanço do agronegócio, apoiado fer-
vorosamente pelos governos Lula e Dilma, fez com que entrasse em crise a
24
Todos os dados da CPT podem ser consultados em: <http://www.cptnacional.org.br>.
25
MST vive crise e vê cair número de acampados. Veja, 28 de março de 2011, em: <http://
veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/mst-vive-crise-e-ve-cair-numero-de-acampados/>.
(Consulta 02/01/2012.)
26
Cidades de lona encolhem no RS. IHU Online, 3 de abril de 2011, em: <http://www.ihu.
unisinos.br/noticias/42037-cidades-de-lona-encolhem-no-rs>. (Consulta 02/01/2012.)
27
Stédile diz que Bolsa Família esvazia MST. IHU Online, 8 de abril de 2011, em: <http://
www.ihu.unisinos.br/noticias/42211-stedile-diz-que-bolsa-familia-esvazia-mst>. (Con-
sulta 02/01/2012.)
28
Renda sobe e classe média vira maioria no campo. Valor, 21 de dezembro de 2010.
29
Bernardo Mançano Fernández, “O MST não está em crise, mas, sim, os pequenos agri-
cultores”, IHU Online, 18 de abril de 2011, em: <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/
42460-omst-nao-esta-em-crise-mas-sim-os-pequenos-agricultores-entrevista-especial-
com-bernardomancano-fernandes>. (Consulta 02/01/2012.)
30
Ibid.
31
Marcel Gomes. “MST aposta em assentados para reforçar a sua base”, Alai, 20 de de-
zembro de 2011, em: <http://alainet.org/active/51705&lang=es>. (Consulta 02/01/2012.)
32
Mitsue Morissawa. A história da luta pela terra e o MST. São Paulo: Expressão Popular,
2001.
a luta pela terra em luta pela Terra, que é a “casa comum dos diferentes
povos e culturas do planeta”.33 Uma das características principais deste pe-
ríodo é o aumento significativo da violência dos poderes privados à me-
dida que decai o movimento e avança o agronegócio. Uma análise minu-
ciosa da violência no campo em 2010 permite concluir que 96% dos casos
foram protagonizados por fazendeiros, empresários e proprietários ilegais
(grileiros), que são definidos como “segmentos históricos do poder domi-
nante no país”, e com os quais agora se somam as empresas mineradoras.
As vítimas são as populações que sobrevivem fazendo uso tradicional da
terra, de lagos, rios, manguezais e bosques, ou seja, indígenas, pescadores,
coletores, populações ribeirinhas, incluindo assentados da reforma agrá-
ria. Um dado central é que entre os 604 conflitos rurais ocorridos em 2010,
nos quais foi possível identificar seus protagonistas, 57% envolveram “po-
pulações tradicionais”, como as assinaladas acima, e 43% são setores que
tradicionalmente vivem protagonizando a luta pela reforma agrária, como
os sem-terra e os assentados”.34
Estamos diante de uma virada provocada pelo aprofundamento do ca-
pitalismo que converteu em poucos anos os “povos tradicionais” em sujei-
tos da resistência ao modelo. Essa virada impõe repensar a centralidade do
conflito entre a estrutura latifundiária de monocultivos exportadores e o
campesinato com ou sem terra. Impõe-se, portanto, refletir sobre a centra-
lidade da reforma agrária tradicional entendida como repartição de terras.
Nesta nova conjuntura, mais importante que o pedaço de terra são “as con-
dições materiais de reprodução com sinais que afirmam suas diferenças”,35
a luta pelo território como o fazem povos dos diferentes ecossistemas e
seus modos de vida: desde os afrodescendentes, que reivindicam seus qui-
lombos até os produtores de látex, camponeses de comunidades e do sertão,
extrativistas de coco, de castanhas e praticantes das mais diversas formas
de vida. Considerá-los sujeitos supõe ir além de um certo economicismo
que entende os povos, e a vida, apenas como “relações de produção”.
33
Carlos Walter Porto-Gonçales e Paulo Roberto Raposo Alentejano, “A reconfiguração
da questão agrária e a questão das territorialidades”, Alai, 4 de julho de 2011, p. 6, em:
<http://alainet.org/active/47807&lang=es>. (Consulta 02/01/2012.)
34
Ibid., p. 4.
35
Ibid., p. 6.
36
Ibid., p. 7.
37
Carta de saída das nossas organizações (MST, MTD, Consulta Popular e Via Campesi-
na) e do projeto estratégico defendido por elas, em:<http://passapalavra.info/?p=48866>.
(Consulta 27/11/2012.)
38
Abordei este problema no capítulo 2 de Política y Miseria. Buenos Aires: Lavaca, 2011.
39
Francisco de Oliveira. “El Brasil lulista: una hegemonía al revés”, Osal, Buenos Aires,
Clacso, n. 30, nov. 2011, p. 71.
40
“MST não dá trégua a Dilma e faz 70 Invasões no Abril Vermelho”, IG, 30 de abril de
2011, em:<http://falario.com.br/2011/04/30/mst-nao-da-tregua-a-dilma-e-faz-70-invaso-
es-no-abril-vermelho/>. (Consulta 02/01/2012.)
41
Marcel Gomes, “MST aposta em assentados para reforçar a sua base”, Alai, 20 de dezem-
bro de 2011, em: <http://alainet.org/active/51705&lang=es>. (Consulta 02/01/2012.)
Lista de siglas
Aliados do PT
Partidos de oposição
Outros partidos
Principais empresas
Itaú S.A.: Holding que controla o Itaú Unibanco (terceiro banco privado
do país) e diversas empresas financeiras, químicas e eletrônicas. É o maior
conglomerado privado do país, controlado por famílias. Tem 127 mil em-
pregados, e obteve 66 bilhões de dólares de vendas em 2010.
Jornais brasileiros
Outros jornais
Revistas
Outras publicações
Quadros
Quadro 1: Evolução das classes de renda (2003-2014) 67
Quadro 2: Dez principais fundos de pensão em 2010 68
Quadro 3: Investimentos do PAC 2 176
Quadro 4: Matriz energética no mundo e no Brasil 177
Quadro 5: Internacionalização das empresas brasileiras 193
Quadro 6: Localização das subsidiárias das empresas brasileiras 196
Quadro 7: Investimento estrangeiro direto em países
da América do Sul e no México 200
Quadro 8: Investimentos diretos no exterior
de países da América Latina 202
Quadro 9: Projetos da Iirsa 235
Quadro 10: Composição acionária da Norte Energia (2011) 308
Quadro 11: Conflitos por terra 2001-2011 316
Mapas
Mapa 1: Amazônia Azul 139
Mapa 2: Bacias petrolíferas de Santos e Campos 166
Mapa 3: Campo de Tupi 167
Mapa 4: Projeto hidroelétrico de Belo Monte 179
Mapa 5: Represas sobre os rios Madeira e Beni 227
Mapa 6: Eixos Multimodais da Iirsa 234
Mapa 7: Áreas ocupadas por brasileiros no Paraguai 256
Mapa 8: Petroquímicas brasileiras processarão gás boliviano 264
Figuras
Figura 1: Avião Militar KC-390 (Embraer) 146
Figura 2: Helicóptero EC-750, fabricado por Helibras 147