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Imagine que você esteja passeando num parque com um amigo, conversando
sobre qualquer assunto. Se você andar mais rápido ou mais devagar do que ele, o
diálogo se interrompe, pois um não ouvirá o que o outro diz. Assim é o crescimento
dos filhos: uma caminhada em que os dois lados precisam andar no mesmo ritmo, na
mesma sintonia.
O primeiro erro ocorre quando os pais se recusam a admitir que os filhos
estão crescendo – e emperram seu desenvolvimento através da superproteção. O
segundo é o contrário: pais que pressionam os filhos a que realizem tarefas às quais
ainda não estão preparados – como se puxassem nervosamente o filho pela mão,
enquanto este tropeça no caminho.
Em cada etapa de seu desenvolvimento, a criança necessita de um tipo
específico de habilidades dos pais. Por isso, determinados pais funcionam melhor em
uma etapa da vida dos filhos e têm dificuldades em outras.
Por exemplo, pais que estão sempre abraçados a seus filhos podem preencher
a necessidade deles enquanto recém-nascidos. Porém, à medida que eles aprendem a
engatinhar e andar, vão precisar de pais que os deixem soltos e estimulem sua
autoconfiança.
Cada fase do desenvolvimento dos filhos tem sua beleza e suas necessidades.
A seguir, algumas idéias básicas sobre elas.
Do nascimento aos seis meses – Poder de existir
Nessa primeira fase, a criança desenvolve a capacidade de estar bem
consigo mesma e com a
vida. Quer ser aceita como um ser humano.
Infelizmente, isso nem sempre acontece. Crianças podem não ser bem-vindas,
por muitas razões: crise no casamento, pais solteiros, família numerosa, problemas
financeiros. Há crianças rejeitadas até pelo fato de não serem do sexo desejado
pelos pais!
A sensação na criança de que os pais lhe fizeram um favor ao deixá-la nascer
pode ficar gravada para sempre, gerando um adulto descontente e autodestrutivo.
Mas um bebê não entende as palavras. Como demonstrar àquele pequeno e
delicado ser que ele é querido? Da maneira mais antiga do mundo: fazendo carinho.
Muito contato físico, olhares gostosos, colo. Bebês precisam de contato físico da
mesma forma que precisam de leite.
6 a 18 meses – Poder de fazer
Nessa fase, a criança aprende a explorar o mundo. Tocar as coisas, pegá-las,
engatinhar, andar,
subir, descer: nosso pequeno aventureiro quer abraçar o mundo com as mãos, mesmo
que seja apenas a sala apertada de um apartamento.
Ter a possibilidade de explorar o mundo com segurança desenvolve na criança
o sentimento de confiança na sua capacidade de fazer o que deseja.
Impedi-la de explorar o mundo por excesso de zelo (com a criança ou com os
preciosos objetos da casa) pode ser tão prejudicial quanto abandoná-la à própria
sorte. Em ambos os casos, a tendência é essa criança tornar-se uma pessoa sem
iniciativa.
As crianças dessa fase serão mais felizes e seguras se os pais a
acompanharem em suas excursões, permitirem que brinque na terra, no chão,
deixarem que elas coloquem objetos não-perigosos na boca e até que levem pequenos
tombos. Acima de tudo, é preciso toda sensibilidade para perceber o momento de
ajuda e o momento de deixá-la se virar.
18 meses a 3 anos – Poder de pensar
Nessa etapa, a criança começa a perceber a sua possibilidade de
autonomia, liberdade e
independência. Quando sua capacidade de raciocínio é valorizada, toma a consciência
de que pode pensar e decidir sobre sua vida. Nesse momento, é preciso demonstrar
confiança na capacidade do filho, paciência com os erros cometidos quando algo novo
está sendo aprendido e respeito quando o pequeno faz suas escolhas, mesmo que seja
decidir que camiseta vai vestir.
É o melhor jeito de evitar que a criança se torne um adulto dependente ou
mesmo cheio de culpas em relação aos outros.
Acima de tudo, é importante que os pais manifestem orgulho por seus filhos
começarem a assumir suas próprias vidas.
3 a 6 anos – Poder de ser
Surge a pergunta: “Quem sou eu?”. É quando a criança começa a definir sua
identidade. Percebe
que é menino (ou menina), distingue quando se sente bem ou está doente, sabe quando
está construindo ou destruindo alguma coisa.
Ela descobre que existem os outros e experimenta os relacionamentos
sociais, testando as conseqüências dos comportamentos. Se bate em outras crianças,
verifica que fica sozinha; se trata bem, aprende que gostarão dela.
É preciso não confundir essas experiências da criança com traços da sua
personalidade. Frases do tipo ”Você é briguento!” ou “Você é burro!” são
particularmente perigosas, pois tendem a fixar características que são transitórias.
Nessa fase, o mais importante é que a criança crie a idéia de que ela é
responsável pelos acontecimentos de sua própria vida.
6 a 12 anos – Poder de ter habilidades
Nessa época, a criança aprende que existem métodos para realizar seus
objetivos. Valoriza um
professor para ensiná-lo a ler, verifica que uma determinada maneira de segurar a
raquete aprimora o seu jogo de tênis. É o aprendizado das habilidades. De saber
como realizar o que deseja.
Cada nova habilidade é uma conquista, e cada conquista, uma vitória.
O que mais precisa é de pais do tipo “amigões”, que explicam como fazer as
coisas, sem fazê-las no lugar do filho, e estimulam a sua disciplina e curiosidade.
12 a 18 anos – Poder de regenerar
O adolescente revive a mesma seqüência que viveu na infância: existir,
fazer, pensar, ser,
adquirir habilidades. Desta vez, porém, tudo acontece fora de casa. E para valer.
É como se a infância tivesse sido um ensaio para sua estréia na vida “de
verdade”.
Muitas vezes esse processo é agressivo. O adolescente adota posições
radicais porque precisa livrar-se da imagem de criança. Mas, como ainda está
imaturo, sente-se perdido, confuso e solitário.
Para complicar ainda mais as coisas, aparece em cena um elemento novo: o
sexo. O adolescente questiona a própria beleza e capacidade de atração.
Com freqüência, começa aí uma tentativa de negar os pais para sentir-se
capaz de cuidar de si mesmo. Durante a infância, a criança acha que os pais é que
podem lhe dar felicidade. Na adolescência, essa responsabilidade é transferida para
o(a) namorado(a). Então dirige seus esforços para conquistar alguém que lhe garanta
um bem duradouro. Quando não consegue, põe a culpa de suas frustrações nas
atitudes presentes e passadas dos pais.
O conflito está armado. Como evitar que se transforme numa guerra ? Acima
de tudo, é preciso que os pais e filhos entendam que a adolescência é a grande
oportunidade para curar as feridas da infância e recomeçar com alma nova.
Para os pais, a melhor atitude é torcer pelo sucesso do filho e deixar claro
que continuarão disponíveis sempre que ele precisar de ajuda.
Para os jovens, trata-se de admitir que às vezes precisam de “colo”, ao mesmo
tempo em que aprendem a cuidar de si próprios.
Esse conflito só termina quando o indivíduo percebe (em geral depois dos
trinta anos) que a felicidade depende dele mesmo e de sua capacidade de
compreender a vida.
Crescer junto com seus filhos é a melhor maneira de criar uma amizade
profunda entre vocês!