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POLÍTICA ESTADUAL

DE SAÚDE MENTAL
DE PERNAMBUCO

RECIFE, JULHO 2018


“Desde o momento em que a pessoa cruza o muro do internamento,
o doente entra em uma nova dimensão de vazio emocional… ou
seja, é inserido em um espaço que foi criado originalmente, para
torná-lo inofensivo e curá-lo. Ele [o manicômio] aparece na prática
como um lugar, ironicamente, construído para a completa
aniquilação da sua individualidade, como também sua objetivação
total. Se a doença mental é, em sua própria origem, a perda da
individualidade e liberdade, no sistema asilar o paciente perde mais
do que o seu lugar…. A ausência de qualquer projeto e a perda do
futuro, faz do sujeito ser constantemente à mercê dos outros … o
seu dia a dia passa a ser ditada apenas pela realidade
organizacional – apenas como tal”

(in La distruzione dell'ospedale psichiatrico, 1964)

Franco Basaglia

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FICHA TÉCNICA:
Governador do Estado de Pernambuco
Paulo Câmara
Secretário de Saúde do Estado de Pernambuco
José Iran Costa Júnior
Coordenador de Saúde Mental do Estado de Pernambuco
João Marcelo Costa

EQUIPE TÉCNICA:
Alda Roberta Campos
Gustavo Arribas
Josieda Saraiva
Jucineide Borges
Léa Lins
Marcia Neto
Rita Acioly
Riva Karla Vieira
Sílvia Cavalcanti
Valdiza Soares

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou


total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja
utilizada para ns comerciais. Venda proibida. Distribuição gratuita.

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SUMÁRIO
1 – APRESENTAÇÃO
2 – INTRODUÇÃO
3 – POLÍTICA ESTADUAL DE SAÚDE MENTAL
2.1 Diretrizes
2.2 Objetivo geral e objetivos especí cos da Política Estadual de
Saúde Mental
2.3 Eixos de atuação da Política Estadual de Saúde Mental

EIXO I – GESTÃO DA POLITICA


CAPÍTULO I – Organização, Expansão e Fortalecimento da RAPS
CAPÍTULO II – Monitoramento e avaliação da Politica

EIXO II – GESTÃO DO CUIDADO


CAPÍTULO III – Saúde Mental na Atenção Básica
CAPÍTULO IV – Atenção psicossocial estratégica
CAPÍTULO V – Atenção psicossocial Infantojuvenil
CAPÍTULO VI – Cuidado no contexto do uso de drogas e redução de
danos
CAPÍTULO VII – Desinstitucionalização
CAPÍTULO VIII – Atenção à crise
CAPÍTULO IX-Judicialização na saúde mental
CAPÍTULO X - Outras interfaces no campo da Saúde Mental

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1. APRESENTAÇÃO
A política de Saúde Mental de Pernambuco foi construída por
muitas mãos! Entendemos que só assim podemos garantir um
cuidado que priorize a diversidade de saberes, olhares e fazeres
que contribuam para a organização e execução de uma política que
foca na complexidade da existência humana.

Foram mãos e passos firmes para legitimar uma política que


preconizasse os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde
(SUS) e da Reforma Psiquiátrica Brasileira, e para tal, teria que ser
amplamente discutida no espaço legítimo das construções das
politicas públicas, que é o espaço do controle social. Assim,
descreveremos cada passo executado para que a pessoa que leia
compreenda a sua força.

Primeiro Passo: Elaboração coletiva e revisão do texto inicial pela


equipe Técnica da Gerência Estadual de Saúde Mental; Segundo
Passo: Apresentação da proposta de texto à comissão de saúde
mental do Conselho Estadual de Saúde; Terceiro passo:
Apresentação do texto ao pleno do Conselho Estadual de Saúde;
Quarto Passo: Aprovação da política com recomendações,
adequações e/ou inserções de pontos sugeridos pelo pelo controle
social; Quinto passo: Inserção das recomendações do Conselho
Estadual de Saúde; Sexto passo: Homologação da Política Estadual
de Saúde Mental de Pernambuco e publicação em Diário Oficial;
Sétimo Passo: ampla divulgação entre os diversos atores da rede.
Essa última etapa não se esgotará em si, considerando a dinâmica
da Rede de Atenção Psicossocial e dos atores que a compõe,

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construímos a nossa Politica de Saúde Mental, onde Gestão e o
controle social uniram suas forças no processo de consolidação do
SUS no Estado de Pernambuco. A execução da política depende de
TODOS nós (gestão, trabalhadores/as, estudantes, usuários,
familiares e a sociedade), a partir de cada ação cotidiana que se
transforma em trabalho vivo. Esperamos que as gestões da política
e do cuidado sejam garantidas em nosso território.

Dessa forma, construímos a nossa Politica de Saúde Mental, onde


Gestão e o controle social uniram suas forças no processo de
consolidação do SUS no Estado de Pernambuco. A execução da
política depende de TODOS nós (gestão, trabalhadores/as,
estudantes, usuários, familiares e a sociedade), a partir de cada
ação cotidiana que se transforma em trabalho vivo. Esperamos que
as gestões da política e do cuidado sejam garantidas em nosso
território.

Contamos com sua participação nos próximos passos!

Equipe GASAM.

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2. INTRODUÇÃO
O Estado de Pernambuco ocupa um lugar de destaque no âmbito da
legislação de saúde para a área de saúde mental e politicas sobre
álcool e outras drogas, tendo se constituído como o terceiro Estado
brasileiro a promulgar uma Lei própria, a 11.064 de 16 de maio de
1994, que dispõe sobre a substituição progressiva dos hospitais
psiquiátricos por rede de atenção integral à saúde mental,
regulamenta a internação psiquiátrica involuntária e dá outras
providências.

Essa iniciativa, antecipadamente à Lei 10.216/2001, conhecida


como a da Reforma Psiquiátrica, demonstra o compromisso de
Pernambuco com a reversão do modelo de cuidado em saúde
mental substitutivo à internação psiquiátrica a ser constituída por
uma rede pública formada por pontos diversificados e territoriais
de cuidado que abrangem desde a atenção básica até a atenção
hospitalar.

O compromisso do Estado de Pernambuco com a Política de Saúde


mental, álcool e outras drogas tomando por base a Lei estadual
consolidada, vem ano a ano investindo nos projetos de
desinstitucionalização. Em 2008 chegou a ocupar o terceiro lugar
entre os estados brasileiros em número de hospitais
psiquiátricos/leitos SUS por 1.000 habitantes. Atualmente
Pernambuco é um dos Estados que mais reduziu leitos hospitalares
psiquiátricos de longa permanência, com meta e decisão de
extinguir leitos desta natureza, sendo uma das referências
nacionais na reestruturação da Rede de Atenção Psicossocial

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(RAPS) por ter pactuado no Comitê Intergestor Bipartite – CIB a
modelagem da RAPS e pela clareza dos passos a serem dados, a
partir da aprovação dos desenhos regionais pactuados em todas as
regiões de saúde que compõem o Estado, rumo à implementação
dos dispositivos de cuidados necessários à assistência integral em
saúde mental no Estado.

Outro fator de reforço a essa rede, por parte da Secretaria Estadual


de Saúde, foi a publicação, no ano de 2017, de instrução normativa
comprometendo-se com a implantação de leitos hospitalares de
atenção integral para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental e com necessidades de saúde decorrentes do uso de álcool
e outras drogas no âmbito dos hospitais gerais sob gestão estadual.
É pelo compromisso com as pessoas em sofrimento psíquico e com
necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas que
firmamos uma Política de Saúde Mental no âmbito do Estado de
Pernambuco.

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3. POLÍTICA ESTADUAL DE SAÚDE MENTAL
DE PERNAMBUCO
PRINCIPAIS DIRETRIZES
- Respeito aos direitos humanos sem qualquer forma de
discriminação;

- Proteção contra qualquer forma de exploração;

- Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado


integral e assistência multiprofissional, sob a lógica
interdisciplinar;

- Diversificação das estratégias de cuidado;

- Ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com


participação e controle social dos usuários e de seus familiares;

- Organização dos serviços em rede de atenção à saúde


regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para
garantir a integralidade do cuidado;

- Desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com


transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo central a construção
do projeto terapêutico singular e a Politica de Redução de Danos;

- Garantia a reversão do modelo de cuidado hospitalar para o


territorial;

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- Respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana,
especialmente quanto à sua autonomia e sua liberdade, incluindo
pessoas com sofrimento psíquico e com problemas decorrentes do
uso de drogas;

- O reconhecimento da redução de danos como estratégia de


prevenção e de cuidado.

Para que ter uma Política Estadual de Saúde Mental?


Para garantir o acesso das
pessoas com transtornos
mentais e/ou com

?
necessidades decorrentes
do uso prejudicial de
drogas e suas famílias, ao
acolhimento e cuidado na
rede de atenção
psicossocial de base
territorial,
comprometida com os
princípios
antimanicomiais e da
redução de danos, de forma
singular e equânime em todas as
regiões do Estado.

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ALÉM DE:
- Garantir a articulação e integração dos pontos de atenção da
RAPS qualificando o cuidado por meio do acolhimento;

- Assegurar acesso e cuidados em saúde mental para populações


vulneráveis – crianças, adolescentes, idosos, LGBT, indígenas,
quilombolas, pessoas em situação de rua, população carcerária e
pessoas com deficiência.

- Formular e construir intersetorialmente estratégias de prevenção


ao uso de álcool e outras drogas;

- Promover o cuidado norteado pela redução de danos enquanto


paradigma ético, clínico e político;

- Promover a reabilitação psicossocial e a reinserção das pessoas


com transtorno mental e/ou com necessidades decorrentes do uso
de drogas, por meio do acesso ao trabalho, geração de renda e
moradia assistida;

- Promover mecanismos de educação permanente em saúde


mental para a rede de saúde e intersetorial;

- Alinhar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de Atenção


Psicossocial em todas as regiões de saúde no cuidado a pessoas
com sofrimento psíquico e usuárias de drogas;

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- Garantir a ampliação e efetivação da RAPS em todas as regiões de
saúde, considerando o ciclo de vida (infância, adolescência,
juventude, vida adulta e terceira idade) diversificada em todos os
níveis de atenção, com ênfase, na atenção básica, em dispositivos
com acolhimento e cuidado integral, através de unidades com
funcionamento 24 horas e estratégias de inserção social.
- Garantir a efetivação da Política de Saúde do(a) Trabalhador(a) no
Estado, através de ações de saúde mental com foco em cuidados
integrais voltadas para trabalhadores(as) em sofrimento psíquico,
ocasionados pelo contexto e processos relacionais do trabalho.

- Assegurar a discussão permanente da Politica de Saúde Mental


no Conselho Estadual de Saúde, Conselho Estadual de Politicas
sobre Drogas – CEPAD e demais espaços de controle social e
cogestão com objetivo de fortalecimento da mesma.

- Garantir a substituição do modelo hospitalocêntrico a partir da


reversão dos recursos financeiros do hospital psiquiátrico à rede de
atenção psicossocial.

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GESTÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL

CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 2
ORGANIZAÇÃO, QUALIFICAÇÃO,
EXPANSÃO E MONITORAMENTO E
FORTALECIMENTO AVALIAÇÃO DE
DA RAPS POLÍTICA

GESTÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL

CAPÍTULO 3 CAPÍTULO 4 CAPÍTULO 5 CAPÍTULO 6


ATENÇÃO ÁLCOOL, OUTROS
SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO INFANTO
PSICOSSOCIAL DROGAS E
ATENÇÃO BÁSICA JUVENIL
ESTRATÉGICA REDUÇÃO DE
DANOS

CAPÍTULO 7 CAPÍTULO 8 CAPÍTULO 9


JUDICIALIZAÇÃO
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
ATENÇÃO A
EM SAÚDE
CRISE
MENTAL

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EIXOS DE ATUAÇÃO:
EIXO I - GESTÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE MENTAL EM
PERNAMBUCO ORGANIZAÇÃO, EXPANSÃO E FORTALECIMENTO
DA RAPS

- Fortalecer o Grupo Condutor Estadual a partir de encontros


sistemáticos e induzir a efetivação dos Grupos Condutores em
todas as regiões de saúde.

- Alinhar a regulação, articulação e elaboração de protocolos do


cuidado à crise na Rede de Urgência e Emergência – RUE por
macrorregional/microrregional de saúde;

- Monitorar e avaliar a qualidade dos serviços por meio de


indicadores de efetividade e resolutividade da atenção psicossocial;

- Reconhecer a Gerência de Atenção à Saúde Mental do Estado de


Pernambuco – GASAM como indutora e condutora da Politica de
Saúde Mental no âmbito do seu território em parceria com os
espaços de cogestão e controle social.

- Apurar situações de violação de direitos quando demandado pelos


órgãos competentes ou através de denúncias em parceria com os
demais entes responsáveis.

- Garantir a realização do Colegiado Estadual de Saúde Mental e


apoiar os colegiados regionais de saúde mental de forma regular.

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- Apoiar a realização bienal do Encontro de Coordenadores de
Saúde Mental de Pernambuco – ECOSAM.

- Organizar os fluxos em cada região de saúde garantindo o acesso


aos componentes da RAPS de modo que a população possa dispor
de todos os equipamentos de saúde que esta atenção pode
requerer.

- Reduzir as lacunas assistenciais através de pactuação,


planejamento e implementação da RAPS pelos governos
municipais, estadual e federal, para que a população possa acessar
a rede regional, que deve ser composta por Unidade de Saúde da
Família, Consultório na Rua, NASF, Centro de Convivência, CAPS I,
CAPS II, CAPS III, CAPS AD II, CAPS AD III, CAPSi, SAMU, UPA,
Hospital Geral, Unidade de Acolhimento Adulto (UAA), Unidade de
Acolhimento Infanto Juvenil (UAIJ), Serviço Residencial
Terapêutico, projetos culturais e de geração de renda articulados
com o campo da saúde mental.

- Induzir a instituição de referências técnicas e\ou coordenações de


saúde mental nas GERES e municípios, com atribuições exclusivas
da saúde mental.

- Apoiar os municípios de Pernambuco através do apoiador técnico


da Gerência de Atenção à Saúde Mental – GASAM, para indução,
discussão ampliada, implantação, vistoria, acompanhamento,
qualificação, monitoramento e avaliação da política de saúde
mental no nível local em articulação com as GERES e coordenações
municipais e\ou referências de saúde mental.

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- Garantir a efetivação da RAPS pactuada em CIB, através dos
instrumentos de planejamento, programação e governança do SUS
a serem executados no âmbito municipal:

- Plano Municipal de Saúde a cada quatro anos;


- Plano Plurianual de Saúde – PPS a cada quatro anos;
- Programação Anual da Saúde – PAS a cada ano;
- Relatório Anual de Gestão – RAG a cada ano e
- Relatório Quadrimestral detalhado – RQD a cada quatro
meses
- Lei Orçamentária Anual – LOA

- Promover o Fórum Estadual de Saúde Mental infantojuvenil


mensalmente, composto por usuários, trabalhadores e gestores da
rede intersetorial.

- Promover o Fórum Estadual de Desinstitucionalização


mensalmente composto por usuários, trabalhadores e gestores da
rede intersetorial.

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- Articular a rede intersetorial para atender às dimensões da vida
do sujeito, em suas diversas faixas etárias, com o sistema
judiciário, conselhos, rede de assistência social, rede de ensino,
órgãos de acesso a emprego, geração de renda, economia solidária,
setores ligados à cultura e oferta de atividades de lazer, sistema de
transporte coletivo, acesso à moradia, abrigamento provisório,
proteção a pessoas em situação de ameaça e violência, além dos
cuidados que fazem parte das politicas públicas que fazem
proteção a pessoas em situação de ameaça e violência, além dos
cuidados que fazem parte das politicas públicas que fazem
frequente interface como as politicas voltadas para a infância, as
mulheres, do idoso, da população negra, quilombola, LGBT,
indígena, do campo, em situação de rua e carcerária.

- Fortalecer o controle social de acordo com a legislação do SUS


apoiando a participação de movimentos sociais em atividades
públicas que façam a defesa da ética, dos direitos humanos, da
democracia, luta antimanicomial, redução de danos, do combate ao
racismo, da violência de gênero e violação de direitos humanos.

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QUALIFICAÇÃO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA
- Ordenar a formação de recursos humanos para a área de saúde e
incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico
e tecnológico, conforme previsto na Constituição Federal Brasileira
e na Lei nº 8.080/90, a partir da instituição de diretrizes voltadas à
celebração dos compromissos das instituições de ensino,
programas de residência em saúde e gestões municipais e
estaduais de saúde para o desenvolvimento das atividades de
ensino-aprendizagem e formação no âmbito do SUS,
especialmente nos serviços previstos por meio da Política Nacional
de Atenção Básica em vigência.

- Implementar a Política Nacional de Educação Permanente em


Saúde, no âmbito da rede de atenção psicossocial, que em seu Art.
21º ratifica que é de responsabilidade do Ministério da Saúde, as
Secretarias Estaduais e Municipais:

- Planejar a formação e a educação permanente de trabalhadores


em saúde necessários ao SUS no seu âmbito de gestão, contando
com a colaboração das Comissões de Integração Ensino Serviço;

- Estimular, acompanhar e regular a utilização dos serviços em seu


âmbito de gestão para atividades curriculares e extracurriculares
dos cursos técnicos, de graduação e pós-graduação na saúde;

- Articular, junto às Instituições de Ensino Técnico e Universitário,


mudanças em seus cursos técnicos, de graduação e pós-
graduação de acordo com as necessidades do SUS, estimulando
uma postura de corresponsabilidade sanitária;

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- Garantir a integração entre ensino, serviços e comunidade no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), em todos os
estabelecimentos de saúde da RAPS sob a responsabilidade do
gestor da área de saúde como cenário de práticas para a formação
no âmbito da graduação e da residência em saúde.

- Induzir a descentralização pedagógica do SUS, com o intuito de


garantir a ampliação qualificada da RAPS para o ensino-
aprendizagem no exercício do trabalho, junto aos dispositivos de
c u i d a d o e st ra t é g i co s , p r i o r i z a n d o a
educação/formação/qualificação dos profissionais de saúde para a
área a partir da promoção de espaços de educação permanente
(ofertados diante organização nacional, estadual e regional),
fóruns, colegiados (estadual e regionais), rodas de diálogos, dentre
outros.

- Estabelecer/firmar parcerias para os processos de qualificação


profissional, com a Escola de Saúde Pública de Pernambuco, bem
como, demais instituições acadêmicas de ensino reconhecidas
pelo Ministério da educação.

- Promover ações de educação permanente para fortalecer as


competências de cuidado em saúde mental e redução de danos
pelas equipes de Núcleos de Saúde da Família – NASF, Equipes de
Saúde da Família e Programa de Agentes Comunitários de Saúde –
PACS por todos os profissionais das equipes da atenção básica;

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- Promover atividades de alinhamento sobre a Politica de Saúde
mental diante do modelo territorial e de cuidado em liberdade, para
os Centros de Atenção psicossocial;

- Promover educação permanente para cuidadores de Serviços


Residenciais Terapêuticos.

- Potencializar e qualificar todos os pontos da RAPS para


desenvolver intervenção nas situações de urgência/emergência,
em especial nas equipes de acolhimento e classificação de risco e
no cuidado longitudinal;

- Monitorar e qualificar os registros dos procedimentos realizados


pelas equipes dos CAPS seguindo a Portaria nº 854 de 22 de agosto
de 2012;

- Assegurar o registro de notificações obrigatórias e informações


em saúde nos serviços da RAPS, tendo por base Portaria SES/PE
N°. 390, de 14 de setembro de 2016, que Acrescenta doenças,
agravos e eventos estaduais à Lista Nacional de Doenças de
Notificação Compulsória e dá outras providências;

- Estimular a Notificação permanente de casos de violência na


RAPS, em especial, as situações de violência autoprovocada e
tentativas de suicídio através de ficha específica, tendo por base
Portaria SES/PE N°. 390, de 14 de setembro de 2016, como
também, efetivação de fluxo de cuidados na rede local de saúde.

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- Monitorar as notificações de violência autoprovocadas e efetivar
cuidado de forma compartilhada com a rede local de saúde.

- Desenvolver ações de educação permanente voltadas para a


qualificação dos coordenadores municipais de saúde mental;

- Promover ações de educação permanente voltada para o cuidado


à pessoa em situação de crise;

- Fomentar a discussão de fluxos entre os componentes da RAPS e


intersetorialmente acerca do cuidado à pessoa em situação de
crise, considerando os vários elementos que perpassam pelas
dimensões da clínica, da cultura, das histórias singulares dos
sujeitos, dos recursos disponíveis no seu contexto familiar e social,
e que a atenção à crise deve estar associada prioritariamente à
oferta de um cuidado longitudinal nos contextos de vida das
pessoas.

- Nortear a organização da RAPS na perspectiva de acolher, abordar


e cuidar de pessoas em situação de crise no território;

- Promover/realizar/articular o Colegiado Estadual de Saúde


Mental composto por coordenadores de saúde mental municipais,
referências técnicas de GERES, equipe da GASAM e residentes dos
diversos programas de residência em saúde coletiva, saúde mental
e multiprofissional;

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- Garantir apoio técnico, político e financeiro aos Programas de
Residência em psiquiatria e multiprofissional em saúde mental,
diversificados na Rede de Atenção Psicossocial - RAPS.

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EIXO II – GESTÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL EM
PERNAMBUCO SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA
- Fortalecer a Atenção Básica como ordenadora do cuidado no SUS
de acordo com as linhas de cuidado especifica e a Política Estadual
de Saúde Mental;

- Promover o cuidado multidimensional orientado pela produção de


vida, produção de saúde, alívio, ressignificação do sofrimento,
potencialização de modos de estar no mundo da pessoa e
diversidade sexual e gênero, sem restringir à cura de doenças
construído junto com usuário, familiares e rede intersetorial;

- Assegurar que a atenção básica atue como ordenadora do cuidado


à saúde da pessoa em uso prejudicial de drogas de forma ampla, de
modo que o PTS possa ser construído e articulado, devendo ser
garantido que o usuário exerça o direito de participar deste seu
projeto de vida.

- Assegurar o Projeto Terapêutico Singular enquanto estratégia de


cuidado que articula um conjunto de ações resultantes da
discussão e da construção coletiva de uma equipe multidisciplinar
e leva em conta as necessidades, as expectativas, as crenças e o
contexto social da pessoa ou do coletivo para o qual está dirigido
(BRASIL, 2007).

- Atuar na perspectiva da Redução de Danos pressupondo a


utilização de tecnologias relacionais centradas no acolhimento
empático, no vínculo e na confiança;

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- Realizar o matriciamento na Atenção Básica como um conjunto de
ações que visam garantir a resolutividade do cuidado na Atenção
Básica e/ou a continuidade da atenção neste nível assistencial.

ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTO JUVENIL


- Implantar os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, de acordo
com o porte populacional e pactuação da rede regional que
assegure a cobertura assistencial à população de acordo com os
tipos de CAPS:

CAPS I – Realiza atenção psicossocial estratégica a pessoas em uso


prejudicial de drogas, vulnerados/marcadores de vulnerabilidade,
pessoas com sofrimento mental na infância, juventude, adultos e
idosos, com funcionamento diurno de segunda a sexta-feira, sendo
serviço especializado de atenção à crise, para municípios que
possuam a partir de 15.000 habitantes;

CAPS I – Realiza atenção psicossocial estratégica a crianças e


adolescentes em uso prejudicial de drogas, apresentando
sofrimento mental, com funcionamento diurno de segunda a sexta-
feira, sendo serviço especializado de atenção à crise, para
municípios que possuam a partir de 70.000 habitantes;

CAPS II – Realiza atenção psicossocial estratégica a pessoas em


uso prejudicial de drogas, pessoas com sofrimento mental na
infância, juventude, adultos e idosos, com funcionamento diurno de
segunda a sexta-feira, podendo incluir um turno noturno até as 21h,
sendo serviço especializado de atenção à crise, para municípios
que possuam a partir de 70.000 habitantes;

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CAPS III – Realiza atenção psicossocial estratégica a pessoas em
uso prejudicial de drogas, pessoas com sofrimento mental na
infância, juventude, adultos e idosos, com funcionamento nas vinte
e quatro horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana
e feriados, sendo serviço especializado de atenção à crise, para
municípios que possuam a partir de 150.000 habitantes;

CAPS AD II – Realiza atenção psicossocial estratégica a pessoas em


uso prejudicial de drogas, pessoas com sofrimento mental na
infância, juventude, adultos e idosos, com funcionamento diurno de
segunda a sexta-feira, sendo serviço especializado de atenção à
crise, para municípios que possuam a partir de 70.000 habitantes;

CAPS AD III – Realiza atenção psicossocial estratégica a pessoas


em uso prejudicial de drogas, pessoas com sofrimento mental na
infância, juventude, adultos e idosos, com funcionamento nas vinte
e quatro horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana
e feriados, sendo serviço especializado de atenção à crise, para
municípios que possuam a partir de 150.000 habitantes;

- Assegurar que municípios que só possuam um tipo de CAPS


garantam cobertura a todas as faixas etárias e contextos de cuidado
em saúde mental;

- Assegurar o acolhimento de todas as faixas etárias e atenção às


pessoas com problemas decorrentes do uso de drogas no CAPS tipo
I e CAPS tipo II quando não houver outro CAPS no município;

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- Estabelecer o limite de atuação da população adstrita dos CAPS
municipais e que os CAPS regionais tenham seus fluxos e termos
de compromisso e acordos de convivência do equipamento
pactuados através do colegiado regional de saúde mental e grupo
condutor regional;

- Garantir que as equipes de CAPS construam atividades coletivas


no território com as famílias, usuários e comunidade;
- Promover o matriciamento realizado por equipes de CAPS junto a
equipes de atenção básica, incluindo o NASF;

- Estimular a inclusão de atividades na lógica da economia


solidária, associativismo, cooperativismo, geração de renda e/ou
inserção produtiva

- Garantir atividades de controle social, assembleias construídas


com a participação de usuário, implantação de conselho
diretor/gestor de unidades do SUS nos CAPS e a participação de
usuários da RAPS e nas conferências de saúde e da assistência
social;

- Promover a articulação intersetorial como ferramenta


imprescindível para construção do PTS;

- Incentivar a supervisão externa de equipes dos CAPS


compreendendo a complexidade do cotidiano e processo de
trabalho;

27
- Compreender o papel do CAPS enquanto local prioritário de
atenção à crise, articulado à Rede de Urgência e Emergência (RUE)
da região e atenção hospitalar em hospital geral;

- Fortalecer a relação com a rede intersetorial para construção de


projetos terapêuticos singulares.

28
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTO JUVENIL
- Nortear o cuidado psicossocial dentro do contexto de vida desta
população, com uma perspectiva intersetorial que prime pelo
envolvimento da escola, dos equipamentos de saúde, da
assistência social, dos dispositivos para juventude e especialmente
da família, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de
Saúde Mental Infantojuvenil

- Orientar que o cuidado das crianças e adolescentes se dê no


território de origem, com acompanhamento ofertado nos
diferentes pontos da RAPS, conforme possibilidades apontadas na
Portaria GM nº3088/11, incluindo as situações de uso de
psicoativos;

- Traçar estratégias, considerando o Princípio da Prioridade


Absoluta, regulamentado pela Lei Nacional nº 8.069/90, que dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e dá outras
providências, que na ausência de equipamento específico para
atenção deste público, a exemplo do CAPS I e CAPS i, seja garantido
o cuidado às crianças e adolescentes no(s) serviço(s) existente(s);

- Acolher crianças e adolescentes em sofrimento mental ou


associado ao uso de drogas de acordo com as normativas do ECA,
alicerçadas na Constituição Federal Brasileira (CF) de 1988, em
todos os serviços da RAPS que incluem a Atenção Básica, Atenção
Estratégica (CAPS I, CAPS i, CAPS II, CAPS III, CAPS AD II e CAPS AD
III), Atenção Hospitalar, e demais pontos de atenção da RAPS
instituídos no território;

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- Primar pela avaliação contextualizada e singular do sujeito e das
relações que ele estabelece para definição do seu projeto
terapêutico, priorizando sempre o cuidado no território.

- Direcionar os projetos terapêuticos para o território, articulados


com os parceiros intersetoriais e espaços de vida/espaços sociais
que as crianças e adolescentes circulam e que potencializam o
exercício de direitos naquilo que é fundamental neste ciclo de vida.

- Promover a articulação com o Conselho Tutelar no caso que


demande proteção, por existência de conflitos sociais que
coloquem em risco a vida da criança ou do adolescente;

- Assegurar o cuidado em situações de abrigamento, moradia


provisória e proteção, em parceria com outros setores de
competência, minimizando os danos decorrentes das
institucionalizações;

CUIDADO NO CONTEXTO DO USO PREJUDICIAL DE DROGAS E


REDUÇÃO DE DANOS
- Ampliar a compreensão acerca do uso prejudicial de drogas como
um problema de saúde pública multifatorial e complexo, que exige
analise pautada na ética e nos direitos humanos.

- Garantir a liberdade individual nas práticas de saúde na RAPS


observando a dimensão social, psicológica, biológica, cultural e de
diversidade sexual e de gênero, com foco na pessoa que exerce sua
autonomia e seus direitos.

30
- Nortear o cuidado à pessoa que faz uso de drogas pelo paradigma
da redução de danos enquanto política pública que atende
plenamente os princípios do Sistema Único de Saúde, a saber:
Universalização, Equidade e Integralidade.

- Ofertar cuidados de reabilitação psicossocial às pessoas que


fazem uso prejudicial de drogas de acordo com o nível de
complexidade da assistência e referência territorial.

- Promover Reabilitação Psicossocial, prevenção ao suicídio e


ações de Redução de Danos voltados a população LGBT.

- Preservar o cuidado em liberdade compreendendo-se todo o


aparato legal e produção acadêmica acerca deste tema, tanto
nacional quanto internacional, também consolidada pelas quatro
conferências nacionais de saúde mental, com ampla participação
social e reconhecimento pelas várias instâncias de controle social
do SUS.

- Ofertar cuidados na RAPS às pessoas que fazem uso prejudicial de


drogas através de escutas em cenas de uso, cuidados clínicos,
atendimentos domiciliares, cuidados referentes à dinâmica
familiar, acesso a banho, alimentação, acolhimento noturno,
internação hospitalar breve, acolhimento residencial transitório,
acesso a documentos extraviados, suporte em questões judiciais e
acesso a outras necessidades de saúde em geral.

31
- Garantir que os CAPS I, acolham, articulem e executem o cuidado
à pessoa que faz uso prejudicial de drogas, de acordo com cada
caso e contexto.

- Constituir os serviços residenciais, UA e SRT articulados ao


cuidado na rede, como locais onde habitar é a prioridade, sendo as
atividades terapêuticas desenvolvidas nos demais espaços da
RAPS de acordo com seu Projeto Terapêutico Singular - PTS.

- Monitorar o tempo de permanência do usuário residente em


serviços residenciais transitórios, compreendendo o período
máximo de até seis meses, podendo ser prorrogado por mais três
meses devendo a equipe justificar o motivo da prorrogação através
d e re l a t ó r i o c i rc u n s t a n c i a d o , e v i t a n d o a o m á x i m o a
institucionalização.

- Respeitar o direito à identidade de gênero e à diversidade sexual,


incluindo o uso do nome social e as diversas formas de expressão
destas identidades. Bem como, assegurar a despatologização das
identidades de gênero e orientações sexuais, dos usuários
acolhidos em unidades residenciais transitórias, residências
terapêuticas, CAPS ou em internação hospitalar.

- Assegurar que a pessoa acolhida em serviços residenciais, CAPS


ou em internação hospitalar, tenha acesso aos seus documentos
pessoais e cartões bancários e que será respeitada a liberdade de
administrar seus recursos financeiros, de acordo com o que estiver
pactuado em seu PTS, de acordo com a autonomia de cada pessoa.

30
- Assegurar que as Unidades de acolhimento adulto e infantojuvenil
(UA e UAIJ) sejam reguladas exclusivamente pelas equipes
multiprofissionais dos CAPS;

- São órgãos de controle social na Politica Nacional de Atenção aos


usuários de Drogas o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas
(CONAD), Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (CEPAD) e o
Conselho Municipal de Políticas Sobre Drogas.

- Direcionar/Propor/Criar/Fortalecer/Estimular/Incentivar ações
voltadas para a prevenção e promoção da saúde que visem a
prevenção primária, secundária, terciária, quaternária, indicada
alinhada aos INCLUINDO o Programa Saúde na Escola (PSE) e a
saúde da criança e do adolescente, devendo articular estas ações
com a Secretaria Estadual de Educação, Secretaria Estadual de
Politicas Sobre Drogas (SEPOD) e outros órgãos que se fizerem
pertinentes CEPAD, CONAD, CGSMAD/MS, SENAD/MJ.

- Promover ações de prevenção do uso de drogas, principalmente


para o consumo de álcool, de acordo com as metodologias
apropriadas a cada público-alvo da ação e baseados no paradigma
da Redução de Danos.

- Desenvolver mecanismos que promovam ações intersetoriais a


população com problemas decorrentes do uso danoso de drogas
que se encontram em situação de vulnerabilidade social, de forma
compartilhada do cuidado entre a rede de saúde mental e
Assistência social.

33
DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
- Garantir às pessoas com transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, em situação de
internação de longa permanência (um ano ou mais ininterruptos), o
cuidado integral por meio de estratégias substitutivas, na
perspectiva da promoção de autonomia e do exercício de cidadania
em busca de sua progressiva inclusão social.

- Estabelecer como pontos de atenção da estratégia de


Desinstitucionalização os Serviços Residenciais Terapêuticos, que
constituem-se como moradias inseridas na comunidade,
destinadas a acolher pessoas egressas de internação de longa
permanência (dois anos ou mais ininterruptos), egressas de
hospitais psiquiátricos e hospitais de custódia, entre outros; e, (2) o
Programa de Volta para Casa que provê auxílio reabilitação para
pessoas com transtorno mental, instituído pela Lei nº 10.708, de 31
de julho de 2003.

- Compreender a desinstitucionalização como um processo


complexo que envolve não apenas a desospitalização das pessoas
dos hospitais psiquiátricos, mas fundamentalmente a construção
de condições efetivas para um cuidado comunitário contínuo e
qualificado para todos os que necessitem de atenção, tratamento,
reabilitação e reinserção social.

34
- Fortalecer e ampliar o cuidado em liberdade no território;

- Programar o redirecionamento dos hospitais/leitos psiquiátricos


estaduais remanescentes para utilização para outra finalidade de
acordo com as necessidades da rede e das premissas dos direitos
humanos, tornando Pernambuco um “Estado sem Manicômios”.

- Garantir a implantação dos serviços residenciais terapêuticos


pactuados para ofertar moradia de todas as pessoas em situação
de longa permanência em hospitais psiquiátricos do Estado de
Pernambuco garantindo a reversão do modelo prevista em Lei.

- Assegurar o Projeto Terapêutico Singular como o norteador da


dinâmica e inclusão no Serviço Residencial Terapêutico,
valorizando o território de referência, os vínculos existentes e sua
relação com a habitação.

- Formular proposta intersetorial voltada para o cuidado às


pessoas com sofrimento mental em situação de conflito com a Lei,
em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico – HCTP, em
articulação com a Secretaria de Ressocialização (SERES) que
demanda compartilhamento de responsabilidades e proposta de
intervenção das diferentes esferas de governo na perspectiva de ter
a dinâmica da instituição reformulada.

- Apoiar a realização do Fórum de Desinstitucionalização.

35
- Promover o acesso de pessoas que podem ser beneficiadas com o
Programa de Volta pra Casa.

- Monitorar o cadastro de beneficiários do Programa de Volta Pra


Casa no estado de Pernambuco, junto aos municípios.

- Assegurar apoio aos municípios para garantir a perenidade de


vínculos construídos entre moradores de residências terapêuticas
e cuidadores;

- Assegurar o caráter residencial das residências terapêuticas e


sua regulação pelo CAPS priorizando as pessoas
institucionalizadas egressas de internações prolongadas e
manicômios judiciários.

ATENÇÃO À CRISE
- Ofertar cuidado em saúde mental à crise, em todos os pontos de
atenção da RAPS, conforme a dinâmica de vida do sujeito,
identidade de gênero, orientação sexual e território em que habita,
bem como, nível de complexidade da unidade de saúde.

- Compreender os CAPS como pontos de atenção estratégicos no


cuidado das situações de crise e os CAPS III como responsáveis,
prioritariamente pelos casos que demandam acolhimento integral.

36
- Definir que os leitos de Saúde Mental em Hospital Geral são
componentes da RAPS, sendo necessária a discussão deste ponto
de atenção articulado aos outros pontos da rede, de forma a compor
o projeto do município ou da região de saúde, não devendo ser
jamais concebido como um ponto de atenção isolado.

- Incluir nas articulações do cuidado à pessoa em situação de crise


os componentes da Rede de Urgência e Emergência, considerando
a regulação, a atenção longitudinal e a transferência de cuidado
como dispositivos fundamentais dessa articulação, superando o
modelo asilar dos Hospitais Psiquiátricos, clínicas de internação
involuntária e comunidades terapêuticas e a lógica da internação
psiquiátrica no campo da saúde mental.

- Implantar os leitos de saúde mental em hospital geral com o


objetivo de apoiar o cuidado, de modo a conformarem-se como
pontos de atenção que garantam o acesso dos usuários à
tecnologia hospitalar, particularmente no manejo do cuidado às
intercorrências clínicas.

- Considerar a internação como último recurso, e apenas, após


esgotadas todas as intervenções territoriais, como instrumento do
Projeto Terapêutico Singular (PTS) e não como resposta a uma
situação específica, priorizando os serviços 24h da rede
substitutiva.

- Desenvolver esforços para processualmente organizar o serviço


de urgência e emergência em saúde mental dentro de hospitais
gerais no âmbito do Estado;

37
Definir diretrizes e organizar estratégias para qualificar os
atendimentos de urgência/emergência em saúde mental nas
UPAS.

- Promover ações de prevenção ao suicídio nos serviços da RAPS.

JUDICIALIZAÇÃO NA SAÚDE MENTAL

- Orientar os municípios acerca de processos de judicialização do


cuidado em saúde mental, entendendo a busca pelo judiciário como
a última alternativa para obtenção do acesso ao serviço de saúde
não disponível pela rede SUS local/regional, por motivos diversos e
após esgotados todos os outros recursos disponíveis no âmbito
local.

- Instrumentalizar com orientações adequadas as coordenações de


saúde mental dos municípios, à rede intersetorial e ao setor
judiciário sobre critérios e fluxos assistenciais e linhas de cuidado
para as ações judiciais, incluindo as internações involuntárias e
compulsórias, na área de saúde mental.

- Estabelecer diálogo entre o demandante do judiciário e a área


técnica de modo que haja uma compreensão e responsabilização
pela tomada de decisão, buscando sempre a construção de
encaminhamentos coerentes com os princípios dos Direitos
Humanos, do SUS, da Reforma Psiquiátrica e da Redução de Danos.

38
- Garantir que sejam esgotadas todas as possibilidades de cuidado
no território nos casos de maior complexidade que envolva
decisões judiciais, ao articular a rede de atenção psicossocial com o
judiciário, deliberando pela internação como sendo sempre o
último recurso a ser ofertado, e apenas, após esgotadas todas as
possibilidades de cuidado comunitário/territorial, sendo
criteriosamente indicada a internação, esta deve acontecer em
Leitos de Hospital Geral (Portaria GM nº 148/12 e nº 1.615/12) e
deve-se:

- Levantar criteriosamente a demanda para compreender os


processos e percursos que antecederam a decisão judicial,
priorizando o cuidado na rede de saúde existente, em articulação
com a rede de assistência social e educação, mesmo que essa rede
seja constituída apenas por equipamentos de atenção básica.

- Identificar os pontos de atenção envolvidos e acioná-los de modo


que haja uma responsabilização de todos com o processo de
cuidado a ser ofertado: USF, NASF, Consultório na Rua,
Consultório de Rua, Centro de Convivência, CAPS, UPA, SAMU,
Unidade de Acolhimento Adulto, Unidade de Acolhimento
Infantojuvenil, Hospital Geral, CRAS, CREAS, Escolas, Conselho
Tutelar e demais equipamentos que o território disponibilizar, para
construir o PTS com a participação de todos.

- Priorizar a realização de visitas domiciliares, preferencialmente


conjuntas, em casos complexos e/ou judicializados para ampliar a
compreensão sobre a demanda, território e contexto sociofamiliar.

39
- Articular a referência em Saúde Mental da Gerência Regional em
Saúde – GERES para fortalecer a discussão e condução
compartilhada do caso e se necessário, também envolver a
Gerência Estadual de Saúde Mental – GASAM para o suporte e
orientações necessárias.

OUTRAS INTERFACES NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL


Politica em Saúde da Pessoa Idosa
- No tocante à conquista de Direitos da Pessoa Idosa, têm-se como
marco legal Política Nacional do Idoso (Lei Federal Nº 8.842/1994),
o Estatuto do Idoso (Lei Federal Nº 10.741/2003), a Politica Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa (Portaria Nº 2.528/2006) e o
estabelecimento do Compromisso Nacional para o Envelhecimento
Ativo (Decreto Federal Nº 8.114/2013). .

A Politica Nacional de Saúde da Pessoa Idosa – PNSPI tem por


finalidade primordial a recuperação, manutenção e promoção da
autonomia e da independência dos indivíduos idosos, por meio do
direcionamento de medidas coletivas e individuais de saúde para
esse fim, em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema
Único de Saúde. A PNSPI orienta para o aproveitamento de
oportunidades, para a promoção de ações grupais integradoras
com inserção de avaliação, diagnóstico e tratamento da saúde
mental da pessoa idosa. Desta forma, atenção especial deve ser
dada às pessoas idosas e àquelas que estão envelhecendo com
transtornos mentais, sendo fundamental incorporar no cuidado da
saúde mental, através de uma rede de saúde local qualificada e
diversificada, a compreensão sobre o processo de envelhecimento.

40
Portanto, é imprescindível: :

- Garantir acompanhamento a saúde mental da pessoa idosa,


buscando promover cuidados fundamentados essencialmente, na
perspectiva não “patologizantes” da vida e que favoreçam a
ampliação de vínculos sociais e familiares dos mesmos. O objetivo é
continuar fortalecendo as capacidades físicas e mentais das
pessoas, fomentando e mantendo os níveis de capacidade funcional
pelo maior tempo possível. .

- Promover ações de sensibilização e inclusão social da pessoa com


transtorno mental das pessoas idosas, através de medidas de
promoção e cuidados compartilhados em saúde em sua rede local,
na perspectiva integral. .

Política do Campo, das Florestas e das Águas

A Política do Campo da Floresta e das


Águas, através de uma perspectiva
transversal, tem como objetivo, melhorar
o nível de saúde dessas populações por
meio de iniciativas de redução de riscos à
saúde, decorrentes dos processos de
trabalho. Neste sentido, se faz necessário:

41
- Propor ações de promoção e prevenção em saúde mental voltada
para as populações do campo, das florestas e das águas, em
situação de vulnerabilidade social.

- Promover ações voltadas para a população do campo, das


florestas e das águas com sofrimentos decorrentes do uso de
agrotóxicos.

42
REFERÊNCIAS:
AMARANTE. P. (org) Loucos pela Vida: A trajetória da Reforma
Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1995.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Caminhos para uma política de saúde mental infantojuvenil.
Brasília, 2005.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.


Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas em Saúde.
Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. In:
CONFERÊNCIA REGIONAL DE REFORMA DOS SERVIÇOS DE
SAÚDE MENTAL: 15 anos depois de Caracas. Brasília: OPAS,
Ministério da Saúde, 2005.

_________. Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 que dispõe sobre


as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências Brasília, 1990.

_________. Lei nº 10.216, 06 de abril de 2001. Dispõe sobre a


proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Brasília, 2012.

_________. Portaria nº 4.279/GM/MS de 30 de dezembro de 2010,


que estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à
Saúde no âmbito do SUS

43
_________. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 3.088 de 23 de
dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para
pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no âmbito do
Sistema Único de Saúde. Brasília, 2011.

_________. Ministério da Saúde. Portaria MS/GM nº 3.090 de 23 de


dezembro de 2011. Estabelece que os serviços residenciais
terapeuticos, sejam definidos em tipo I e II, destina recursos
financeiros para incentivo e custeio dos SRT, e dá outras
providências. Brasília, 2011.

DELEUZE, G. Foucault. São Paulo: Editora Brasiliense, 2005.


LANCETTI, A. Clínica Peripatética. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 2008.
(Saúde Loucura, v. 20; Série Políticas do Desejo).
PERNAMBUCO. Lei nº Estadual 11.064 de 16 de maio de 1994 que
dispõe sobre a substituição progressiva dos Hospitais Psiquiátricos
por rede de atenção integral à saúde mental, regulamenta a
internação psiquiátrica involuntária e dá outras providências
Recife, 1994.

Resolução CIB nº 1944 de 07 de maio de 2012 que aprova as


diretrizes para remodelagem da Rede de Atenção Psicossocial em
Pernambuco. Recife, 2012.

44
RESOLUÇÃO Nº 747 DE 11 DE JULHO DE 2018.
O SECRETÁRIO ESTADUAL DE SAÚDE, nomeado pelo Ato nº 004 de
01 de janeiro de 2015 (DOE/PE de 01/01/2015), no uso das
atribuições que lhes são conferidas pelo Art. 42 da Constituição do
Estado de Pernambuco, e considerando:

1. A Lei nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 que dispõe sobre as


condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências;

2. A Lei nº Estadual 11.064 de 16 de maio de 1994 que dispõe sobre a


substituição progressiva dos Hospitais Psiquiátricos por rede de
atenção integral à saúde mental, regulamenta a internação
psiquiátrica involuntária e dá outras providências;

3. A Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 que dispõe sobre a proteção


e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental;

4. A Portaria nº 4.279/GM/MS, de 30 de dezembro de 2010, que


estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à
Saúde no âmbito do SUS;

5. O Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei


Nº- 8.080, de 19 de setembro e 1990, e dispõe sobre a organização
do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a
assistência à saúde e a articulação interfederativa, especialmente o

45
disposto no Art. 13, que assegura ao usuário/usuária o acesso
universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde do
SUS;

6. A Portaria nº 3.088 de 23 de dezembro de 2011 que Institui a Rede


de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS);

7. A Resolução CIB nº 1944 de 07 de maio de 2012 que a prova as


diretrizes para remodelagem da Rede de Atenção Psicossocial em
Pernambuco, resolve:

Art. 1º Resolve, no uso de suas atribuições, Aprovar a Política


Estadual de Saúde Mental, álcool, crack e outras drogas no Âmbito
da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco nos termos
constantes no Anexo Único da presente Portaria.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor a partir da data de sua
publicação.
Recife, 11 de julho de 2018

JOSÉ IRAN COSTA JUNIOR


Presidente do Conselho Estadual de Saúde de Pernambuco – CES/PE

Homologo a resolução CES/PE nº 747 de 11 de julho de 2018.

JOSÉ IRAN COSTA JUNIOR


Secretário de Saúde do Estado de Pernambuco

46

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