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OITAVA CÂMARA CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0013273-61.2011.8.19.0000


AGRAVANTE: UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
AGRAVADO: ELIAZAR FERREIRA DE AMORIM
RELATOR: DES. ANA MARIA PEREIRA DE OLIVEIRA

Agravo de instrumento contra decisão que, em ação


proposta pelo Agravado, objetivando indenização por
dano moral que teria sofrido em decorrência de infecção
hospitalar contraída em hospital público, deferiu a
inversão do ônus da prova em seu favor. Inversão do
ônus da prova que foi apreciada em razão de
requerimento formulado na petição inicial pelo Agravado.
Relação de consumo. Código de Defesa do Consumidor
que é aplicável à prestação de serviços públicos, ainda
que prestados gratuitamente, uma vez que a referida
legislação não exige que a remuneração se dê de forma
direta. Inteligência dos artigos 2º, 3º, 6º, inciso X e 22 da
Lei 8.078/90. Precedente do TJRJ. Inversão do ônus da
prova corretamente deferida. Desprovimento do agravo
de instrumento.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos do Agravo de


Instrumento Nº 0013273-61.2011.8.19.0000 em que é Agravante, UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, e, Agravado, ELIAZAR FERREIRA DE AMORIM.
ACORDAM, por unanimidade de votos, os Desembargadores
que compõem a Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro em negar provimento ao agravo de instrumento.
Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que, em ação
proposta pelo Agravado, objetivando indenização por dano moral decorrente de ter sido
vítima de infecção hospitalar sofrida quando se submeteu a cirurgia no Hospital Pedro
Ernesto, deferiu a inversão do ônus da prova em seu favor.
Sustenta a Agravante, em resumo: que é incabível a inversão
do ônus da prova, instituto do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que a relação
de consumo se configura, necessariamente, pela prestação de serviço mediante
remuneração, o que não ocorre no caso dos hospitais públicos; que a inversão do ônus
da prova lhe transfere, indevidamente, o dever de antecipar os honorários do perito e
que, tendo sido a prova requerida por ambas as partes, deve o Agravado arcar com os
honorários do perito, e, sendo a parte beneficiária de gratuidade de justiça, o pagamento
caberá, ao final, ao vencido.
Em decisão à fl. 193, foi indeferido o efeito suspensivo.
Foram prestadas informações pelo Juízo da 5ª Vara de Fazenda
Pública da Comarca da Capital, às fls. 197/198.
O Agravado, embora regularmente intimado, não apresentou
contrarrazões, conforme se vê de fls. 193 e 199.
O Ministério Público, em promoção às fls. 200/203, disse não
ser o caso de sua intervenção.

É o Relatório.

O agravo de instrumento não merece prosperar, senão vejamos.


Examinando as peças que instruíram o recurso, verifica-se que
o Agravado propôs ação de conhecimento objetivando indenização por dano moral que
teria sofrido em decorrência de ter contraído infecção hospitalar após cirurgia realizada
no Hospital Universitário Pedro Ernesto (fls. 16/27), tendo sido deferida a inversão do
ônus da prova em seu favor (fl. 189).
Sustenta a Agravante não ser o caso de inverter o ônus da
prova, ao argumento de que não está configurada relação de consumo porque inexiste
prestação de serviço mediante remuneração em hospital público.
De início, cumpre destacar que a inversão do ônus da prova não
foi declarada, de ofício, pelo MM. Juízo a quo, pois, como assinalado na decisão
impugnada, o Agravado requerera a sua aplicação na petição inicial (fl. 12).
Nos termos do que dispõe o artigo 2º da Lei 8.078/90,
consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final, estando os serviços públicos sujeitos às regras de consumo,
uma vez que o artigo 6º, inciso X do referido diploma legal prevê ser direito básico do
consumidor a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral, bem como,
no artigo 22 da mesma lei, que os órgãos públicos, por si ou suas empresas, devem
fornecer serviços seguros, e quanto aos essenciais, contínuos.
Além disso, a definição de fornecedor contida no artigo 3º, caput
da Lei 8.078/90, refere-se a toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, e, ao
mencionar que serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, não exige que esta se dê de forma direta.

8ª Câmara Cível – Agravo de Instrumento 2


Processo nº 0013273-61.2011.8.19.0000
Com efeito, é forçoso reconhecer que os serviços públicos não
são prestados de forma totalmente gratuita, pois, ainda que não estejam sendo
diretamente remunerados pelo usuário, são os mesmos mantidos com a receita advinda
da arrecadação tributária, não se podendo, assim, afastar a incidência das regras do
Código de Defesa do Consumidor na prestação dos serviços públicos.
Nesse sentido, pode ser citado precedente deste Tribunal de
Justiça. Confira-se:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. SERVIÇO PÚBLICO.


REMUNERAÇÃO INDIRETA. RELAÇÃO DE CONSUMO.
INCIDÊNCIA DO CDC. Nenhum serviço público
pode ser considerado efetivamente
gratuito, já que todos são criados,
mantidos e oferecidos a partir da receita
advinda da arrecadação dos tributos. Há
os serviços públicos que são cobrados,
mas, ainda que não o sejam, são serviços
típicos da relação de consumo que se
instaura com o cidadão consumidor. Logo,
quer se imponha ao consumidor o pagamento
direto pelo serviço público que lhe é
prestado, quer de forma indireta, não é
esse fato que vai afastar a incidência do
CDC, pois onde a lei não distingue, não
cabe ao intérprete fazer qualquer
distinção. PROVIMENTO PARCIAL DOS
EMBARGOS. (Agravo de Instrumento
2009.002.23028, Primeira Câmara Cível,
Rel. DES. MALDONADO DE CARVALHO, julg.
25/08/2009)

Diante do exposto, nega-se provimento ao agravo de


instrumento.
Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2011.

DES. ANA MARIA PEREIRA DE OLIVEIRA


Relatora

8ª Câmara Cível – Agravo de Instrumento 3


Processo nº 0013273-61.2011.8.19.0000

Certificado por DES. ANA MARIA OLIVEIRA


A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.
Data: 13/09/2011 18:26:30Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: 0013273-61.2011.8.19.0000 - Tot. Pag.: 3

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