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Resumo: o termo ‘global’ refere-se à capacidade da grande empresa elaborar, para si e a partir de seus
interesses, uma estratégia seletiva em nível mundial, que seja global para ela, mas integradora ou
excludente para os demais atores. O processo globalizante em curso altera os setores sociais,
acelerando a reorganização e o reordenamento sociocultural, institucional e territorial subordinados à
economia. Também erode a soberania dos Estados, observável na limitação de políticas institucionais
ao âmbito nacional enquanto as dinâmicas financeiras são mundiais. É neste contexto que a
globalização financeira toma um maior vulto e se fortalece em meio a debates calorosos sobre a
regulamentação ou não dos sistemas financeiros. Enquanto predomina a liberdade de ação no
mercado, crises internacionais assombram os países e recaem não apenas sobre especuladores, mas
principalmente sobre espaços e setores mais vulneráveis, inclusive por estarem desprotegidos.
Palavras-chave: globalização, desregulamentação, crises globais.
1. INTRODUÇÃO
Muito já se falou sobre globalização nos meios acadêmicos, nas revistas especializadas
ou não e na imprensa em geral. Também é notório o debate sobre regulação ou
desregulamentação das atividades econômicas. Neste estudo, faz-se uma breve análise do
processo globalizante em curso, inclusive de seus desdobramentos sobre os territórios. Em
seguida, apresenta-se uma síntese do debate entre os defensores da desregulamentação e os
contra. Após essas seções são apresentadas as principais características das crises financeiras
mundiais dos últimos vinte anos. Entre outros fatores, é visível que a desregulamentação tem
uma importante atuação em todos os cenários de calamidades financeiras globais. Trata-se de
pesquisa explicativa, haja vista não apenas descrever o fenômeno, mas tentar explicar as
razões de suas ocorrências. A metodologia adotada é a qualitativa. O texto está disposto em
três seções, além desta introdução e das considerações finais.
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Pós-graduada em Administração Financeira pela URCA e Docente do Departamento de Economia da URCA.
E-mail: romenia@bol.com.br
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Suas recomendações políticas para o desenvolvimento consistem em privatizações de empresas estatais, liberalização de
fluxos comerciais e financeiros internacionais, favorecimento de investimento direto estrangeiro e redução de todas as
regulamentações que limitem o funcionamento dos mercados. Para estarem em equilíbrio os mercados precisam satisfazer as
hipóteses de perfeita informação, livre mobilidade de recursos econômicos, grande número de vendedores e compradores,
homogeneidade dos produtos e a proposição de que os mercados são completos. Essa última hipótese significa a existência de
mercados para negociar tudo aquilo que se desejasse para entrega em qualquer data futura (FIANI, 2011).
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sistemas financeiros internacionais com os sistemas nacionais dependem diretamente do grau
de abertura destes últimos às operações das instituições financeiras estrangeiras em território
nacional e em termos da existência ou não de controles de capital (CARVALHO et al, 2007).
Isto é, implica que a liberalização e a desregulamentação sejam levadas a sério, que as
empresas tenham absoluta liberdade de movimentos e que todos os campos da vida social
sejam submetidos à valorização do capital privado (CHESNAIS, 1996). Com a
internacionalização do sistema financeiro dentro de espaços integrados (como a União
Europeia) abre-se a possibilidade dos agentes se beneficiarem da arbitragem regulatória. Ou
seja, propiciam a alocação de suas atividades financeiras nos países e regiões de regulação
mais benevolente.
A regulação financeira é um dos fatores determinantes da estrutura financeira à
medida que restringe as possibilidades de ação dos agentes financeiros e define as operações
que podem ser efetivadas, assim como o papel nelas exercidos pelas instituições financeiras.
Julga-se globalmente necessário supervisionar as atividades dos intermediários financeiros
para assegurar o adequado cumprimento de regras estabelecidas. A literatura disponível sobre
as razões para que se busque regular essas operações centram sua atenção sobre duas
características importantes dessa atividade: as externalidades positivas e negativas que
resultam do setor bancário; e a elevada probabilidade das transações financeiras serem
marcadas por fortes assimetrias de informação.
Dentre as externalidades positivas destaca-se a organização e administração de
sistemas de pagamentos, tais como: a construção de sistema alternativo ao da moeda emitida
pelo Banco Central e os efeitos da concessão de crédito sobre a economia como um todo.
Dentre as externalidades negativas citam-se a possibilidade de crises sistêmicas em função da
interação entre instituições financeiras, servindo como correia de transmissão de choques
adversos à primeira. Esse contágio pode se dar em função da perda de confiança do público
em alguma classe de instituição. Portanto, a definição de normas regulatórias visa a
preservação das externalidades positivas e a eliminação das externalidades negativas, ou sua
atenuação.
A livre operação dos mercados é considerada eficiente quando várias condições são
cumpridas, especialmente a transparência das ações (simetria de informações). Mas, com a
percepção de que os riscos cresceram, necessitou-se de normas regulatórias para proteção do
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Essa competição provavelmente consumiria recursos reais da economia reduzindo-os para a produção. Com isso, o bem-
estar social também seria reduzido (FIANI, 2011).
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sociedade, a ação coletiva e individual, e a capacidade financeira ou poder econômico (DIAS,
2010).
Desde o início dos anos 1980, a composição da riqueza social sofre modificações:
cresce rapidamente a participação de formas financeiras de posse de riqueza. Nos países
desenvolvidos, as classes médias detêm carteiras de títulos e ações, diretamente ou através de
fundos (de investimento, de pensão e de seguros), além de imóveis e bens duráveis. Também
as empresas ampliaram a posse de seus ativos financeiros, não apenas como reserva de
capitais para futuros investimentos fixos, mas como status permanente na gestão da riqueza
capitalista.
Esse processo não ficou restrito às fronteiras nacionais: cresceu bastante a participação
cruzada de investidores estrangeiros, com a liberalização dos mercados cambiais e a
desregulamentação dos controles sobre os fluxos de capitais. A escalada do volume de riqueza
financeira a um ritmo de pelo menos 15% superou o crescimento produtivo e dos
investimentos em capital fixo. A alta de preço dos ativos financeiros criou nos seus detentores
uma percepção de enriquecimento acelerado. A certeza de sua comercialização realimentava o
circuito de valorização, induzindo parcela crescente de alguns agentes a alavancar suas
carteiras de ativos com base em dívidas tomadas junto ao sistema bancário.
O desenvolvimento de inovações financeiras associados à informatização do mercado
acelerou o volume de transações de curto e curtíssimo prazo. Tais características integradas a
alavancagem fundamentada em créditos bancários explicam o assombroso potencial de
realimentação dos processos altistas (formando bolhas) e os riscos de colapso com os
movimentos baixistas (BELLUZZO, 1999).
Ponderando acontecimentos das últimas décadas, um dos fatores que estimulou o
movimento dos mercados de ações em 1982 foi a fuga dos fluxos financeiros internacionais
dos países subdesenvolvidos. A queda dos mercados de ações mundiais em outubro de 1987
parecia ser o fim dessa história. Temia-se uma repetição da depressão de 1929 que se seguiu à
queda de Wall Street, fazendo com que as autoridades relaxassem as condições monetárias. O
A maioria das crises começa com uma bolha na qual o preço de um ativo supera seu
valor real. Muitas vezes, as bolhas de ativos são simultâneas aos acúmulos excessivos de
endividamentos, consequências de empréstimos tomados por investidores ansiosos para
participar do boom. Não por acaso, estão associadas ao crescimento exagerado da oferta de
crédito, consequência ou de uma supervisão e de uma regulamentação negligentes do sistema
financeiro. Ou de uma política fiscal expansionista do banco central. Contudo, podem se
desenvolver mesmo antes de um boom creditício, alimentadas por expectativas de aumentos
futuros de preços. Ou mesmo, devido expectativas geradas por grandes inovações
tecnológicas (criação da internet e do cartão de crédito). Muitas bolhas, embora alimentadas
por avanços tecnológicos concretos, também ganham um grande impulso devido a mudanças
na própria estrutura financeira (ROUBINI et al, 2010).
Independentemente de como um boom começa, ou dos canais usados pelos
especuladores para participarem dele, alguns ativos tornam-se foco de intenso
interesse especulativo. Pode ser qualquer coisa, embora a especulação em ações, em
construção e em bens imóveis sejam as mais comuns. Quando o preço dos ativos
dispara, otimistas tentam de forma apaixonada justificar tal supervalorização.
Quando confrontados com recessões anteriores, os otimistas alegam que “desta vez é
diferente” (Idem, pp. 25 e 26).
Referências
CARVALHO, F. J. C. de. (et al). Economia monetária e financeira: Teoria e prática. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007. 4ª reimpressão.
ROBERTS, R. Por dentro das finanças internacionais: guia prático dos mercados e das
instituições financeiras. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.